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josé oiticica: itinerários de um militante anarquista - Universidade ...

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experimentais do mo<strong>de</strong>rnismo. 133<br />

Mesmo sem abrir mão da importância da forma <strong>de</strong><br />

escrita para obter o sucesso da transmissão <strong>de</strong> conceitos, no segundo poema ele<br />

<strong>de</strong>monstra o peso que a teoria <strong>anarquista</strong> trouxe às suas produções. Assim, Oiticica<br />

apresenta suas críticas, <strong>de</strong> forma mais direta e direcionadas ao âmago da questão. Nas<br />

palavras <strong>de</strong> Hardman, neste poema, escrito na década <strong>de</strong> 1930, encontramos <strong>um</strong>a ―sátira<br />

política bem ao gosto do labéu <strong>anarquista</strong>, apesar <strong>de</strong> ainda prisioneira da forma <strong>de</strong><br />

soneto‖ 134 :<br />

Viva o chefe do trabalho!<br />

Pessoal, dê <strong>um</strong>a ―viva‖ ao chefe do trabalho!<br />

Collor merece manifestação:<br />

Deu-vos brida, selim, chincha e vergalho<br />

E <strong>um</strong>a alfada legal a prestação<br />

Viva ―iô-iô‖ Lindolfo e seu esgalho:<br />

O Evaristo, o Agripino e o Pimentão!<br />

Eles vos levam, águias, para o talho,<br />

Bem amarrados à legislação<br />

Gritai, ovacionai, enchei <strong>de</strong> vento<br />

A empáfia do Lindolfo safardana<br />

Ex-bernardista que vos perseguiu!<br />

Gritai, com vosso grito uno e violento,<br />

Mandando o claque vil que vos engana<br />

À grandíssima pata que os pariu! 135<br />

No primeiro poema, ao valorizar seu pensamento e por isso ressaltar a forma <strong>de</strong><br />

escrevê-lo, Oiticica tenta revelar a inutilida<strong>de</strong> das novas correntes intelectuais. Hardman<br />

afirma que, como antimo<strong>de</strong>rnista convicto, ele era apegado ao padrão discursivo mais<br />

convencional. 136<br />

Tais informações po<strong>de</strong>m ser relevantes se observarmos o contexto que<br />

movimentava as idéias das ―classes pensantes‖, caso contrário fica difícil notar qual a<br />

direção da crítica <strong>de</strong> Oiticica. Já no segundo poema, influenciado pelo anarquismo, ele<br />

revela claramente a quem quer atingir. Esta análise po<strong>de</strong> vir a corroborar a idéia que<br />

sustento <strong>de</strong> transformação <strong>de</strong> pensamentos. Sem negar suas influências, pois, como disse,<br />

ainda prezava o valor da escrita, Oiticica, após conhecer o anarquismo, incorpora em seus<br />

escritos e pensamentos a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> revelar diretamente suas críticas.<br />

133 HARDMAN, Francisco Foot. Nem Pátria, nem patrão. 3° Ed. São Paulo. Unesp. 2002, p.136.<br />

134 HARDMAN, Francisco Foot, op. cit, p.137.<br />

135 OITICICA, José. ‗Viva o chefe do trabalho‘‘ APUD. HARDMAN I<strong>de</strong>m, p.137.<br />

136 HARDMAN, Francisco Foot, op. cit, p.136.<br />

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