josé oiticica: itinerários de um militante anarquista - Universidade ...
josé oiticica: itinerários de um militante anarquista - Universidade ...
josé oiticica: itinerários de um militante anarquista - Universidade ...
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
interessa o que o Regimento diz. Eu preciso viver‖. Após isto larguei o<br />
direito 129<br />
As duas informações são cedidas por José Oiticica ao ser indagado sobre ―como<br />
veio a ser <strong>anarquista</strong>‖. A transcrição <strong>de</strong>las aqui não satisfaz a nossa interrogação, posto<br />
que o personagem acaba tentando transmitir a idéia <strong>de</strong> que o anarquismo sempre esteve<br />
presente ―em seu sangue‖, fato corriqueiro em entrevistas nas quais os personagens<br />
acabam, mesmo inconscientemente, acreditando na idéia <strong>de</strong> pre<strong>de</strong>stinação ou <strong>de</strong> ter<br />
sempre consciência do caminho que <strong>de</strong>viam seguir. Baseando-me apenas nestas<br />
informações corro o risco <strong>de</strong> cair em <strong>um</strong>a biografia teleológica e acabar incidindo no erro<br />
da ―busca por origens‖. 130<br />
As transformações <strong>de</strong> pensamentos são constantes na vida da maioria dos homens,<br />
assim como <strong>de</strong> nosso personagem, e po<strong>de</strong>m ser notadas ao observarmos dois poemas <strong>de</strong><br />
Oiticica, escritos em épocas e com temáticas diferentes. O primeiro, segundo Hardman, é<br />
escrito no início da década <strong>de</strong> 1910 e <strong>de</strong>monstra bem a influência que pairava sobre os<br />
intelectuais daquele período. 131<br />
antimo<strong>de</strong>rnistas. Vejamos:<br />
Com seu estilo Parnasiano, Oiticica transmite suas idéias<br />
Meu Pensamento<br />
Meu pensamento é nobre e aristocrata...<br />
Sonha palácios, torres, Melisan<strong>de</strong>s;<br />
Ama o plinto, <strong>um</strong> minueto, <strong>um</strong>a balata.<br />
É D. Quixote e aplau<strong>de</strong> os feitos gran<strong>de</strong>s.<br />
Preza a arte extrema, on<strong>de</strong> algo se <strong>de</strong>lata<br />
Do homem, do Fim, do Amor, <strong>de</strong> Orion, do An<strong>de</strong>s.<br />
Detesta o plebeísmo, a bombachata<br />
De cubismo, foxtrotes e jazban<strong>de</strong>s.<br />
Quer ver a idéia sã na forma pura,<br />
A linha, o tom, o acor<strong>de</strong>, o estilo, a rima,<br />
On<strong>de</strong> a emoção, zainfe irial, fulgura<br />
E, como intenta erguer-se a <strong>um</strong>a Obra-Prima<br />
Des<strong>de</strong>nha as fatochadas da Impostura,<br />
E sobe, sobe sempre, ao mais acima. 132<br />
Po<strong>de</strong>mos notar o valor que Oiticica dá à forma <strong>de</strong> escrita. Neste poema<br />
encontramos <strong>um</strong> Oiticica ―purista formal e parnasiano‖. Logo, critica as formas<br />
129 CAMARINA, Mario. Confissões <strong>de</strong> <strong>um</strong> <strong>anarquista</strong> Emérito. Revista O Cruzeiro, 23/05/1953,<br />
Ano XXV, N.32.<br />
130 XAVIER, Regina Célia Lima. ―O <strong>de</strong>safio do trabalho biográfico‖. In: GUAZELLI. op. cit, p.166.<br />
131 HARDMAN, Francisco Foot. Nem Pátria, nem patrão. 3° Ed. São Paulo. Unesp. 2002, p.136.<br />
132 OITICICA, José. ―Meu Pensamento‖ APUD. HARDMAN, I<strong>de</strong>m, p.136.<br />
59