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josé oiticica: itinerários de um militante anarquista - Universidade ...

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ainda seria para Oiticica <strong>um</strong> veículo que lhe possibilitaria auxiliar na reforma social, mas<br />

agora seria por ele utilizado como mais <strong>um</strong> meio <strong>de</strong> propagação da idéia libertária. Pois,<br />

como veremos a seguir, ele tentava doutrinar seus alunos com as idéias <strong>anarquista</strong>s,<br />

fazendo que estas transpusessem as barreiras <strong>de</strong> instituição governamental.<br />

Como já foi dito, nos concursos anteriores, José Oiticica havia sido preterido<br />

mesmo alcançando as maiores notas. Nesse não seria diferente: além do fato <strong>de</strong> <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r<br />

<strong>um</strong>a tese em que <strong>de</strong>monstrava os erros contidos nos livros <strong>de</strong> alguns <strong>de</strong> seus<br />

examinadores, ainda trazia consigo seus antece<strong>de</strong>ntes <strong>anarquista</strong>s.<br />

Após cinco tentativas, Oiticica, possivelmente usando <strong>de</strong> contatos adquiridos por<br />

frequentar os meios intelectuais da capital fe<strong>de</strong>ral, convidou, para assistir as provas,<br />

Carlos Maximiliano, a quem estavam, naquela época, afetas as questões do ensino. 111<br />

Maximiliano era formado em Direito e foi ministro da Justiça e Negócios Interiores no<br />

governo Wenceslau Brás, durante a Primeira Guerra Mundial. Organizou, entre vários<br />

serviços, o alistamento militar, o processo eleitoral, o ensino secundário e superior e<br />

incentivou a criação do Código Civil Brasileiro. Sua participação na organização do ensino<br />

secundário e superior <strong>de</strong>ve-se ao fato <strong>de</strong>, durante gran<strong>de</strong> parte do período da Primeira<br />

República, os assuntos sobre educação escolar estarem sob tutela do Ministério da<br />

Justiça.<br />

O convite <strong>de</strong> Oiticica nos suscita alg<strong>um</strong>as interrogações. Possivelmente, ele<br />

solicitou o comparecimento <strong>de</strong> Maximiliano <strong>de</strong>vido ao cargo que este ocupava no governo.<br />

Sendo assim, po<strong>de</strong>mos pres<strong>um</strong>ir que o intuito do convite foi intimidar a banca <strong>de</strong> avaliação,<br />

a qual já o tinha reprovado alg<strong>um</strong>as vezes mesmo alcançando as melhores notas. Talvez,<br />

apoiado em suas experiências quanto aos concursos estatais prestados anteriormente,<br />

―carregando‖ <strong>um</strong> sentimento <strong>de</strong> que ―este estado oligárquico contratava a partir <strong>de</strong> seus<br />

interesses e não pelo conhecimento‖, Oiticica achou melhor buscar auxílio <strong>de</strong> <strong>um</strong><br />

representante do Estado para conseguir sua aprovação. Mas tal atitu<strong>de</strong> não seria<br />

incoerente com suas posições políticas? O próprio fato <strong>de</strong> querer ingressar em <strong>um</strong> colégio<br />

estatal também não seria da mesma forma incoerente? O que levou o <strong>anarquista</strong> a buscar<br />

auxílio nos ―mecanismos estatais‖? As respostas a estas perguntas ou suas análises<br />

po<strong>de</strong>m nos levar à h<strong>um</strong>anização do personagem aqui biografado.<br />

111 ANDRADE, Teófilo <strong>de</strong>. ―Oiticica e os Aglossói‖. O Jornal ,Rio <strong>de</strong> Janeiro, 2-3 nov. 1957.<br />

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