josé oiticica: itinerários de um militante anarquista - Universidade ...
josé oiticica: itinerários de um militante anarquista - Universidade ...
josé oiticica: itinerários de um militante anarquista - Universidade ...
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
em que Leuenroth lançou quarenta e cinco edições adicionais 71 . Esse veículo buscava<br />
combater a Igreja e seus componentes, trazendo artigos como ―O Nosso<br />
Anticlericalismo‖ 72 , nos quais alertava a socieda<strong>de</strong> sobre como as contradições <strong>de</strong> vida dos<br />
padres, com sua doutrina , tornavam o sacerdócio <strong>um</strong>a profissão. Seguindo, incitava o<br />
operariado a lutar contra a Igreja, pregando que <strong>de</strong>tendo <strong>um</strong> po<strong>de</strong>r político e econômico<br />
ela funcionava como <strong>um</strong>a empresa, auxiliando o capitalismo e dividindo o operariado,<br />
ainda muito preso às suas ligações espirituais.<br />
A Liga Anticlerical e, consequentemente, A Lanterna, lutavam contra as bases da<br />
Igreja, seus mitos e seus dogmas. No trabalho <strong>de</strong> Eduardo Valadares, observamos que as<br />
Ligas Anticlericais acusavam a Igreja <strong>de</strong> anular completamente a responsabilida<strong>de</strong><br />
individual, ―pela submissão da consciência no interior <strong>de</strong> <strong>um</strong> bloco coletivo, on<strong>de</strong> ela se<br />
dissolve.‖ 73 A instituição religiosa, com seu discurso totalizante, acabaria por escon<strong>de</strong>r as<br />
diferenças internas existentes nas comunida<strong>de</strong>s, gerando <strong>um</strong> conformismo e retirando a<br />
―razão‖ dos homens. Embevecidos por esta cultura religiosa, e este sentimento <strong>de</strong> ser<br />
parte integrante <strong>de</strong> <strong>um</strong>a comunida<strong>de</strong>, os homens não enxergariam as diferenças internas<br />
existentes <strong>de</strong>ntro do espaço social.<br />
No Brasil, foi no período da Primeira República que o anticlericalismo ass<strong>um</strong>iu<br />
ares <strong>de</strong> militância política e, como afirma Maria Conceição Pinto Goés, era com<strong>um</strong> a<br />
participação dos libertários na Ligas Anticlericais 74 . Os <strong>anarquista</strong>s viam o Estado, a Igreja<br />
e o Capital como parte do mesmo processo <strong>de</strong> dominação e <strong>de</strong> exploração do homem.<br />
Juntamente com as Ligas Anticlericais, acusavam estas instituições <strong>de</strong> serem<br />
responsáveis ―pela vida miserável dos trabalhadores‖.<br />
Possivelmente, foi nesta época que José Oiticica conheceu Edgard Leuenroth,<br />
então diretor d‘A Lanterna. Leuenroth a<strong>de</strong>riu ao movimento <strong>anarquista</strong> no ano <strong>de</strong> 1904,<br />
<strong>de</strong>pois <strong>de</strong> conhecer o poeta Ricardo Gonçalves. Assim como Oiticica, ele também é<br />
consi<strong>de</strong>rado <strong>um</strong> dos gran<strong>de</strong>s <strong>militante</strong>s da causa <strong>anarquista</strong> no Brasil, atuando com mais<br />
71 DULLES, John W. Foster. Anarquistas e Comunistas no Brasil: 1900-1933. Trad. César<br />
Parreiras, Rio <strong>de</strong> Janeiro, Nova Fronteira, 1977, p. 25.<br />
72 ―O nosso Anticlericalismo‖. A Lanterna, ano XII ,N°191, ano XII, mar. 1913.<br />
73 VALLADARES, Eduardo. Anarquismo e Anticlericalismo. São Paulo, Imaginário, 2000, p.10.<br />
74 GÓES, Maria Conceição Pinto. A Formação da Classe Trabalhadora: Movimento <strong>anarquista</strong><br />
no Rio <strong>de</strong> Janeiro, 1888-1911. Rio <strong>de</strong> Janeiro, Jorge Zahar, 1988, p. 74.<br />
36