14.10.2014 Views

josé oiticica: itinerários de um militante anarquista - Universidade ...

josé oiticica: itinerários de um militante anarquista - Universidade ...

josé oiticica: itinerários de um militante anarquista - Universidade ...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

vonta<strong>de</strong>s presentes no <strong>de</strong>correr <strong>de</strong> sua vida. Suas experiências, emoções, incertezas,<br />

frustrações, relações pessoais foram influenciando sua formação como homem erudito.<br />

Segundo Samis, foi em <strong>um</strong>a conversa informal sobre a política nacional, as quais Oiticica<br />

mantinha com frequência com seu primo Il<strong>de</strong>fonso Falcão, jornalista, escritor e professor,<br />

que ele, expondo suas idéias, começou a ter contato com leituras <strong>anarquista</strong>s. Seu primo,<br />

ao ouvir o ponto <strong>de</strong> vista <strong>de</strong> José Oiticica sobre a socieda<strong>de</strong>, teria afirmado que aquilo<br />

eram teorias <strong>anarquista</strong>s 61 . Devido ao fato <strong>de</strong> Oiticica ter relutado contra essa idéia, pois<br />

pensava que anarquismo era <strong>um</strong>a espécie <strong>de</strong> seita que preten<strong>de</strong>sse reformar o mundo<br />

<strong>de</strong>struindo-o à bomba, Il<strong>de</strong>fonso, para provar sua afirmação, lhe apresentou alguns jornais<br />

<strong>anarquista</strong>s <strong>de</strong> outros países, para que Oiticica pu<strong>de</strong>sse enten<strong>de</strong>r melhor o que <strong>de</strong>fendia<br />

esta i<strong>de</strong>ologia. 62<br />

Tal <strong>de</strong>scoberta não passaria incól<strong>um</strong>e à sua ânsia pela busca <strong>de</strong> conhecimentos e,<br />

refletindo sobre as idéias <strong>anarquista</strong>s, Oiticica entrou em contato com <strong>militante</strong>s <strong>de</strong>sta<br />

doutrina. Os escritores Elói Pontes e Elysio Carvalho teriam sido os primeiros com quem<br />

conversou, sendo, em seguida, possível encontrar artigos, cursos e palestras <strong>de</strong>stinados à<br />

causa libertária, contendo sua assinatura. As idéias <strong>anarquista</strong>s passaram a compor suas<br />

produções, artigos, poemas, textos teatrais, em tudo se po<strong>de</strong> notar suas ―novas teorias‖,<br />

ou teorias que traziam agora <strong>um</strong>a ―carga anárquica‖. Quanto mais se envolvia com o<br />

anarquismo mais tentava propagá-lo. Segundo Rodrigues, ―subordinando todos os<br />

assuntos abordados aos princípios e métodos <strong>anarquista</strong>s‖ 63 .<br />

Maran escreve que ―[...] daí por diante, <strong>de</strong>dicou à causa suas habilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

orador público, polemista, poeta, teatrólogo e filólogo‖ 64 . Até mesmo em suas aulas <strong>de</strong><br />

Português, ministradas no Colégio Pedro II, José Oiticica buscava ensinar a doutrina<br />

61 Segundo George Woodcock em seu livro História das Idéias e Movimentos Anarquistas, ―o<br />

anarquismo é <strong>um</strong>a doutrina critica à socieda<strong>de</strong> vigente; <strong>um</strong>a visão da socieda<strong>de</strong> i<strong>de</strong>al do futuro e<br />

dos meios <strong>de</strong> passar <strong>de</strong> <strong>um</strong>a para outra‖. Sendo assim, o <strong>anarquista</strong> ―[...] procura romper com tudo,<br />

voltar às raízes e basear qualquer tipo <strong>de</strong> organização que se torne necessária – para usar <strong>um</strong>a das<br />

frases favoritas dos <strong>anarquista</strong>s – na ‗questão da produção‘. A dissolução da autorida<strong>de</strong> e do<br />

Estado, a <strong>de</strong>scentralização da responsabilida<strong>de</strong>, a substituição dos governos e <strong>de</strong> outras<br />

organizações monolíticas semelhantes por <strong>um</strong> fe<strong>de</strong>ralismo que permitirá que a soberania retorne às<br />

unida<strong>de</strong>s essenciais básicas da socieda<strong>de</strong>.‖ Ver: WOODCOCK, George, História das Idéias e<br />

Movimentos Anarquistas. Porto Alegre: L&PM, 2002, p. 29.<br />

62 SAMIS, Alexandre, op. cit, p.98.<br />

63 RODRIGUES, Edgar. Os Libertários. Rio <strong>de</strong> Janeiro, VRJ, 1993, p. 33.<br />

64 MARAM, Sheldon Leslie. Anarquistas, imigrantes e o movimento operário brasileiro:<br />

1890-1920. Trad: José Eduardo Ribeiro Moretzsohn, Rio <strong>de</strong> Janeiro, Paz e Terra, 1979, p.87.<br />

33

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!