josé oiticica: itinerários de um militante anarquista - Universidade ...
josé oiticica: itinerários de um militante anarquista - Universidade ...
josé oiticica: itinerários de um militante anarquista - Universidade ...
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
sendo <strong>um</strong> homem e cinco mulheres, e fundou em 1906, juntamente com sua esposa e com<br />
a ajuda financeira <strong>de</strong> seus pais, o Colégio Latino-Americano. Nele procurou aplicar suas<br />
perspectivas filosóficas, que, segundo Samis, ainda traziam alguns rasgos das i<strong>de</strong>ologias<br />
republicanas.<br />
Era ainda <strong>um</strong> Oiticica patriota, mesmo liberal, que <strong>de</strong>fendia a adoção da livre<br />
iniciativa e a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>um</strong> caráter empreen<strong>de</strong>dor para o povo brasileiro. Afirmava<br />
que a incapacida<strong>de</strong> do cidadão nacional advinha, <strong>de</strong> resto, do ―atraso <strong>de</strong> nossa educação,<br />
infundida nos hábitos pela tradição portuguesa e hoje alimentada pelos sistemas<br />
pedagógicos da França‖. Elegendo as qualida<strong>de</strong>s da energia, da tenacida<strong>de</strong> e do<br />
―equilíbrio prático e teórico‖, apontava o espírito norte-americano como aquele necessário<br />
aos ―embotados‖ americanos do sul. Criticando ―os males <strong>de</strong> origem‖ e aqueles que diziam<br />
ser o brasileiro <strong>um</strong>a ―raça perdida‖, apontava a disciplina das escolas, inclusive os castigos,<br />
como responsáveis pela falta <strong>de</strong> criativida<strong>de</strong> dos brasileiros diante das enormes tarefas da<br />
produção industrial e da prática comercial 51 . Preocupado com a questão social, Oiticica<br />
então acreditava que os problemas advinham dos sistemas normativos das instituições<br />
educacionais, que acabavam por limitar a capacida<strong>de</strong> competitiva e a capacitação técnica<br />
dos brasileiros (os quais seriam o caminho para emancipação do povo e da nação).<br />
A política educacional brasileira, que no período colonial era <strong>de</strong>terminada quase<br />
que exclusivamente pela Igreja Católica, passou a integrar a Constituição Nacional em<br />
1824. No entanto, o número reduzido <strong>de</strong> escolas públicas criadas no período imperial<br />
<strong>de</strong>monstra a distância existente entre a lei constitucional e a ação efetiva do Estado em<br />
relação à educação. Sendo assim, a instrução escolar ainda estava nas mãos das<br />
instituições privadas, o que acabava por reproduzir a estrutura das classes sociais<br />
brasileiras. A possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> receber o ensino escolar básico estava ligada à condição<br />
econômica. Segundo Jorge Nagle, foi na Primeira República que apareceram os primeiros<br />
―grupos escolares‖, por meio dos quais se preten<strong>de</strong>u assegurar o acesso universal e a<br />
gratuida<strong>de</strong> da escola, mas a falta <strong>de</strong> vagas e a inexistência <strong>de</strong> escolas para aten<strong>de</strong>r toda a<br />
<strong>de</strong>manda para o ensino ainda mantinha a lei constitucional longe da realida<strong>de</strong> nacional. 52<br />
Po<strong>de</strong>mos notar então que a organização do sistema educacional não recebia, por<br />
51 SAMIS, Alexandre, op. cit, loc. cit.<br />
52 NAGLE, Carlos Jorge. Educação e Socieda<strong>de</strong> na Primeira República, EPU-MEC, 1976, p.27.<br />
29