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josé oiticica: itinerários de um militante anarquista - Universidade ...

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Não fiquei zangada por não teres querido ver-me domingo, fiquei triste, mas<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> que soube da razão senti-me ainda mais orgulhosa <strong>de</strong> ti. Estou <strong>de</strong><br />

acordo contigo e se antes tivesse sabido, não teria aceitado o oferecimento<br />

do dr. Soares Brandão que foi quem falou ao Ministro. (Rio, 12-8-1924) 295<br />

As profissões seguidas pelos seus filhos, as cartas trocadas com sua esposa no<br />

período em que estava preso, po<strong>de</strong>m <strong>de</strong>monstrar que Oiticica não <strong>de</strong>marcava <strong>um</strong> espaço<br />

<strong>de</strong> militância, on<strong>de</strong> trataria <strong>de</strong> suas teorias <strong>anarquista</strong>s, e <strong>um</strong> espaço familiar, on<strong>de</strong> sua<br />

postura seria apenas <strong>de</strong> pai e arrimo <strong>de</strong> família. A não <strong>de</strong>marcação po<strong>de</strong> ser melhor<br />

entendida ao lembrarmos que sua própria residência foi local <strong>de</strong> reuniões para a<br />

organização da tentativa do levante <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1918. Sua casa era ainda o local<br />

on<strong>de</strong> recebia vários <strong>militante</strong>s, entre eles Maria Lacerda <strong>de</strong> Moura, feminista libertária; o<br />

romeno Eugen Relgis; o alemão Augustin Souchy, os uruguaios Carlos Rama, Luiz Aldão e<br />

Ricardo Romero, o sueco Helmut Ru<strong>de</strong>r, entre outros, além do <strong>militante</strong>s <strong>anarquista</strong>s que<br />

viviam no Rio <strong>de</strong> Janeiro, como Antonia Bernardo Canellas, que, após ser acolhido por<br />

Oiticica em seu sítio na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Caramujo, <strong>de</strong>sejou casar-se com <strong>um</strong>a das filhas do<br />

professor 296 . Sônia Oiticica, relembrando as memórias do tempo em que vivia com os pais,<br />

relatou:<br />

[...] ora refugiados políticos, ora parentes que chegavam <strong>de</strong> Alagoas, [...] A<br />

hora do almoço ou do jantar era maravilhosa, com o pessoal tudo em volta<br />

da mesa, em longas conversas, que nem sempre entendíamos bem, enfim<br />

era casa <strong>de</strong> brincar e morar. 297<br />

Assim, é possível notar que relação da militância com a vida familiar acabava<br />

sendo construída em espaços comuns, sem <strong>de</strong>limitações <strong>de</strong> on<strong>de</strong> iniciava <strong>um</strong>a ou<br />

terminava outra. Esta prática <strong>de</strong> espaço com<strong>um</strong> na relação entre militância e família<br />

parece-me não ser singular à Oiticica, visto que, ao escrever sobre o anarquismo e a<br />

família <strong>de</strong> Zenon <strong>de</strong> Almeida, Bilhão afirma que:<br />

A transmissão da i<strong>de</strong>ologia não ocorre apenas <strong>de</strong> maneira formal, durante<br />

greves e agitações, tampouco ocorre apenas nos espaços sindicais ou nas<br />

fe<strong>de</strong>rações. A organização operária encontra espaço fértil também em volta<br />

das mesas <strong>de</strong> bares, dos cafés, no interior das casas e das pensões, da<br />

mesma maneira que a educação dos filhos, o convencimento dos novos<br />

participantes, transborda <strong>de</strong> afetivida<strong>de</strong>. [...]. A organização <strong>de</strong> estratégias e<br />

<strong>de</strong> agitações, e mesmo dos textos que serão publicados nos jornais<br />

295 Em: Rodrigues, E. Os libertários. Rio <strong>de</strong> Janeiro: VJR, 1993, p.60.<br />

296 Entrevista <strong>de</strong> Sônia Oiticica concedida a Maria Thereza Vargas. Conferir em: LAURIS JUNIOR,<br />

Renato Luis,I<strong>de</strong>m p.38.<br />

297 LAURIS JUNIOR, Renato Luis, op. cit, p.39.<br />

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