josé oiticica: itinerários de um militante anarquista - Universidade ...
josé oiticica: itinerários de um militante anarquista - Universidade ...
josé oiticica: itinerários de um militante anarquista - Universidade ...
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
intelectual e social do homem, visto que, logo ao iniciar sua militância no anarquismo,<br />
tornou-se <strong>um</strong> dos principais palestrantes <strong>de</strong> <strong>um</strong> grupo <strong>de</strong> teatro libertário. Possivelmente, a<br />
convivência <strong>de</strong> seus filhos <strong>de</strong>s<strong>de</strong> cedo com o mundo das artes, também por intermédio da<br />
militância <strong>de</strong> seu pai, os influenciou nas escolhas <strong>de</strong> suas carreiras ou hobbies.<br />
Oiticica possivelmente conheceu sua esposa ainda quando criança, aos 7 anos <strong>de</strong><br />
ida<strong>de</strong>, pois esta entrevista foi realizada quando ele estava por completar 71. Francisca<br />
Bulhões era sua prima e, talvez por isso mesmo, seu amor tenha sido, em <strong>um</strong> primeiro<br />
momento, censurado por seu pai. Oiticica contou com o apoio <strong>de</strong> seu irmão, Chiquinho,<br />
para que o casamento se realizasse com o consentimento <strong>de</strong> sua família. 293<br />
Ao revelar que, acima <strong>de</strong> seus filhos, estava somente sua esposa, Oiticica<br />
<strong>de</strong>monstra gran<strong>de</strong> carinho e admiração pela companheira, carinho este que me parece<br />
recíproco ao observar o trecho <strong>de</strong> <strong>um</strong>a carta enviado por Francisca à Oiticica, no período<br />
em que ele esteve preso, entre os anos <strong>de</strong> 1924 a 1925. Assim escreveu ela ao marido:<br />
Oiticica: Aqui esperarei que os gran<strong>de</strong>s pensem e vejam a injustiça que<br />
estão praticando, embora sujeita a toda sorte <strong>de</strong> trabalhos e sacrifícios!<br />
Daqui não me arredo por consi<strong>de</strong>ração alg<strong>um</strong>a, não há conforto capaz <strong>de</strong><br />
me fazer <strong>de</strong>ixar-te preso e longe <strong>de</strong> qualquer comunicação! Bem sabes que<br />
por tí sou capaz <strong>de</strong> vencer aos maiores obstáculos! Quando souber que<br />
ainda terás <strong>um</strong> ano ou mais <strong>de</strong> prisão, procurarei me manter aqui mesmo, e<br />
sem nos endividarmos. Para isso conto com minha coragem e resignação.<br />
(Rio, 21-11-1924) 294<br />
Mesmo o marido sendo preso por <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r suas causas políticas, Francisca afirma<br />
a injustiça que o Estado estava cometendo ao mantê-lo em cárcere, assim po<strong>de</strong>mos<br />
acreditar que se sua esposa não militava na causa, ao menos era tolerante com o marido<br />
em sua <strong>de</strong>fesa das teorias <strong>anarquista</strong>s. Em outra carta escrita por ela, fica mais clara a<br />
<strong>de</strong>monstração do orgulho que tinha em relação às posições políticas <strong>de</strong> seu marido, pois<br />
ele havia negado recebê-la em <strong>um</strong>a visita por ter sido conseguida por meio <strong>de</strong> relações<br />
políticas, então recusou este benefício cedido. Mesmo querendo ver seu marido, Francisca<br />
afirma em carta que, apesar <strong>de</strong> não po<strong>de</strong>r tê-lo visto, estava <strong>de</strong> acordo com suas idéias.<br />
Assim escreve,<br />
293 LAURIS JUNIOR, Renato Luis, op. cit p.38.<br />
294 Em: Rodrigues, E. Os libertários. Rio <strong>de</strong> Janeiro: VJR, 1993, p.162 APUD LAURIS JUNIOR,<br />
Renato Luis, op, cit, p.42.<br />
122