josé oiticica: itinerários de um militante anarquista - Universidade ...
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Na madrugada, após a última reunião, Ajus encontrou-se com a alta cúpula do<br />
Exército e <strong>de</strong>nunciou todo o plano. Assim, as forças militares pren<strong>de</strong>ram, por volta das<br />
duas horas da tar<strong>de</strong>, do dia 18 <strong>de</strong> novembro, no lugar em que estava marcado para ser<br />
realizado o exame do levante, Oiticica e ―os cabeças‖ do movimento. Entre estes estavam,<br />
Astrojildo Pereira, Manuel Campos, Carlos Dias, Álvaro Palmeira, José Elias da Silva, João<br />
Pimenta e Agripino Nazaré. 284 Ricardo fora preso nas imediações do lugar marcado. Sem<br />
a organização e direcionamento dos principais representantes do levante, os<br />
trabalhadores que entraram em greve iniciaram o conflito com as Forças Armadas no<br />
Campo <strong>de</strong> São Cristóvão, mas a peleja se <strong>de</strong>u <strong>de</strong> forma <strong>de</strong>sorganizada, sendo facilmente<br />
vencida pelos militares. As greves continuaram, mas já no fim <strong>de</strong> novembro os<br />
trabalhadores, em sua maioria metalúrgicos e tecelões, retornaram às fábricas. 285<br />
A análise <strong>de</strong> autos criminais requer alguns cuidados, pois certamente em seu<br />
<strong>de</strong>poimento o Tenente Ajus (valorizando sua importância nos acontecimentos) buscava<br />
<strong>de</strong>monstrar que a vonta<strong>de</strong> real <strong>de</strong> Oiticica e seus camaradas era a <strong>de</strong> implantar no Brasil o<br />
mesmo governo que havia sido implantado na Rússia em final <strong>de</strong> 1917. Mas é bem<br />
provável que o intuito <strong>de</strong>sse levante grevista realmente ultrapassasse as barreiras das<br />
causas econômicas e operárias. Visto que, como já foi mencionado, havia gran<strong>de</strong><br />
admiração, por partes dos <strong>militante</strong>s envolvidos, pelo novo sistema implantado pelos<br />
soviets. Jornais dos quais eram diretores, ou artigos que publicavam em outros periódicos,<br />
sempre mostravam a admiração e a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se <strong>de</strong>rrubar o sistema capitalista.<br />
Como também já vimos, havia <strong>um</strong>a crença <strong>de</strong> que aquele contexto era propício para a<br />
implantação <strong>de</strong> <strong>um</strong> novo sistema, que não sobrevivesse da exploração do homem.<br />
Astojildo Pereira, em suas Crônicas Subversivas, já havia afirmado que a única solução<br />
para os problemas sociais seria ―a solução anárquica‖ 286 , ou seja, a implantação das<br />
teorias <strong>anarquista</strong>s, e estas, como é sabido, prezam pela <strong>de</strong>struição do governo. O próprio<br />
José Oiticica, após voltar <strong>de</strong> seu <strong>de</strong>sterro em Alagoas, ao ser entrevistado pela reportagem<br />
da revista Gil Blas e perguntado se a solução para os problemas sociais seria resolvido<br />
com <strong>um</strong>a Revolução Russa, afirma:<br />
A Revolução Russa não será a solução <strong>de</strong> todos os problemas; será no<br />
284 ADDOR, Carlos Augusto, op. cit, p.126.<br />
285 DULLES, John W. Foster. Anarquistas e Comunistas no Brasil: 1900-1933, op. cit, p.71.<br />
286 ADDOR, Carlos Augusto. A insurreição <strong>anarquista</strong> no Rio <strong>de</strong> Janeiro, op. cit, p.108.<br />
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