EVANDRO RITT - Universidade Estadual de Londrina
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A referida picada surpreen<strong>de</strong>u a todos, pois após meses na mata, construindo um<br />
caminho que ligasse a região <strong>de</strong> Guarapuava à foz do rio Iguaçu <strong>de</strong>parando-se somente<br />
com animais e índios <strong>de</strong>pararam-se com um acampamento que, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> verificado,<br />
concluíram ser <strong>de</strong> ervateiros paraguaios. O grupo do Tenente Firmino alcançou os<br />
trabalhadores das matas e os questionou sobre o lugar on<strong>de</strong> se encontravam e eles:<br />
[...] informaram que o rio Paraná estava perto, facto que o pessoal da<br />
turma, inclusive o chefe, ignorava; que a costa brasileira era habitada<br />
por cerca <strong>de</strong> mil almas, etc. esta última informação verificou-se mais<br />
tar<strong>de</strong> ser exagerada! 202<br />
Ao chegarem à foz do rio Iguaçu, José Maria <strong>de</strong> Brito nos relata o primeiro<br />
censo da localida<strong>de</strong>: “Por ocasião da <strong>de</strong>scoberta da Foz do Iguaçu, o território brasileiro<br />
já era habitado. Existiam ali no mesmo 324 almas, assim <strong>de</strong>scriptas: brasileiros, 9;<br />
franceses, 5; hespanhoes, 2; argentinos, 95; paraguayos, 212; inglez, 1.” 203 Notamos que<br />
o território que os militares julgavam ser brasileiro estava ocupado por pessoas dos<br />
países vizinhos, Paraguai e Argentina, bem como por outros indivíduos, como<br />
espanhóis, franceses e inclusive um indivíduo <strong>de</strong> nacionalida<strong>de</strong> inglesa. 204<br />
Outro fator que nos chama a atenção é o “esquecimento” <strong>de</strong> José Maria <strong>de</strong> Brito<br />
sobre a nominação das populações indígenas, sendo que o Sargento, <strong>de</strong>ntro da estrutura<br />
da Colônia Militar, era responsável pela catequização <strong>de</strong>ssa população, sem contar que<br />
ele mesmo se casou com uma indígena. Essa atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> José Maria <strong>de</strong> Brito nos remete<br />
ao pensamento que os militares faziam das populações indígenas, como sendo uma<br />
população cuja memória e forma <strong>de</strong> vida não <strong>de</strong>veriam ser consi<strong>de</strong>radas no processo <strong>de</strong><br />
ocupação e construção do espaço, ou seja, <strong>de</strong>veria ser esquecida e daquele momento em<br />
diante <strong>de</strong>veria ter como referência a memória da nação e do Estado brasileiro. A<br />
negação, por parte dos militares em fazer prevalecer suas ações administrativas escon<strong>de</strong><br />
os conflitos gerados entre militares e populações indígenas pelo <strong>de</strong>senvolvimento e<br />
forma <strong>de</strong> vida <strong>de</strong>ssas populações.<br />
202 I<strong>de</strong>m. p. 59.<br />
203 I<strong>de</strong>m. p. 60.<br />
204 Nos intriga a presença <strong>de</strong>sses estrangeiros nessas terras nesse período, como nossa pesquisa <strong>de</strong>monstra<br />
grupos <strong>de</strong> comerciantes argentinos, os obrageros, já exploravam as matas <strong>de</strong>ssa região, a erva mate era<br />
praticamente toda consumida no mercado platino, no entanto a ma<strong>de</strong>ira também era levada para Buenos<br />
Aires, mas acreditamos que boa parte <strong>de</strong>ssa ma<strong>de</strong>ira possa ter ido parar no mercado europeu. Dessa forma<br />
enten<strong>de</strong>mos que esses estrangeiros europeus po<strong>de</strong>riam estar realizando um trabalho <strong>de</strong> controle <strong>de</strong><br />
qualida<strong>de</strong> da ma<strong>de</strong>ira extraída das matas da região.<br />
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