14.10.2014 Views

EVANDRO RITT - Universidade Estadual de Londrina

EVANDRO RITT - Universidade Estadual de Londrina

EVANDRO RITT - Universidade Estadual de Londrina

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

sua fundação, o que explica o fato da Colônia Militar ficar totalmente <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte dos<br />

produtos estrangeiros, especialmente dos comerciantes argentinos? Será que as galinhas<br />

não se reproduziam na região? As terras eram inférteis para produzir feijão, milho?<br />

Os documentos analisados provam que não produziam-se alimentos, criavam-se<br />

animais, ou seja, a Colônia Militar produzia os meios necessários para <strong>de</strong>senvolver a<br />

vida nessa região. Portanto, por que não se produzia?<br />

Candido Ferreira <strong>de</strong> Abreu nos forneceu uma resposta, ao dizer que todos os<br />

oficiais da Colônia Militar eram negociantes, seja <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira ou <strong>de</strong> erva mate. Sendo<br />

assim, reproduzir o sistema social que os obrageros <strong>de</strong>senvolviam na região também<br />

colaborava com os negócios dos militares. Quem nos fornece dados sobre esse sistema<br />

obragero é Ruy Cristovam Wachovicz.<br />

[...] Nas barrancas do rio Paraná, a agricultura era terminantemente<br />

proibida no interior das obrages. O mensu, ou a mulher <strong>de</strong>ste, estavam<br />

proibidos <strong>de</strong> plantar para si. Nem criar galinhas. Não podia plantar.<br />

Para isso tinha o armazém. Se a família do mensu plantasse milho ou<br />

mandioca, diminuiria o lucro do armazém, e ele mais facilmente<br />

po<strong>de</strong>ria libertar-se da opressão <strong>de</strong> sua corrente [...]. 297<br />

Os trabalhadores das obrages, segundo Wachovicz, além do a<strong>de</strong>lanto recebiam<br />

crédito no armazém da obrage para produtos <strong>de</strong> primeira necessida<strong>de</strong>. Esse armazém era<br />

<strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong> do obragero, ou seja, ele ganhava com o trabalho e com a venda dos<br />

gêneros alimentícios, que eram vendidos por um valor bem mais alto do praticado no<br />

mercado. 298<br />

Os militares na região da Colônia Militar também podiam realizar essa prática,<br />

pois não permitindo que os colonos produzissem alimentos para serem comercializados,<br />

colaboravam com os obrageros e sua dominação. Como também não davam liberda<strong>de</strong><br />

agrícola aos colonos, que tornavam-se <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes dos militares que, por sua vez,<br />

po<strong>de</strong>riam não permitir a entrada <strong>de</strong>sses alimentos na Colônia Militar, sendo uma forma<br />

<strong>de</strong> dominação sobre esses trabalhadores. Nesse sentido, tanto os administradores da<br />

Colônia Militar quanto os oficiais <strong>de</strong>senvolveram com os comerciantes obrageros,<br />

vínculos <strong>de</strong> dominação sobre os colonos e mensús.<br />

297 WACHOWICZ, Ruy Cristovam. Obrageros, Mensus e Colonos... Op. Cit. p. 50.<br />

298 I<strong>de</strong>m. p. 50.<br />

123

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!