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PORTAL DO SERVIDOR.indb - Universidade Estadual de Londrina

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Reitora<br />

Vice-Reitora<br />

Nádina Aparecida Moreno<br />

Berenice Quinzani Jordão<br />

Grupo <strong>de</strong> Estudos com Servidores Aposentados da UEL:<br />

novos olhares sobre a <strong>Universida<strong>de</strong></strong>, projeto cadastrado<br />

na Pró-Reitoria <strong>de</strong> Extensão - PROEX.


Maria Aparecida Vivan <strong>de</strong> Carvalho<br />

Fabiano Ferrari Ribeiro<br />

Rosane da Silva Borges<br />

(Organizadores)<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL:<br />

tempo <strong>de</strong> recordar<br />

<strong>Londrina</strong><br />

2011


Catalogação elaborada pela Divisão <strong>de</strong> Processos Técnicos<br />

da Biblioteca Central da <strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>Estadual</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>.<br />

Dados Internacionais <strong>de</strong> Catalogação-na-Publicação (CIP)<br />

P842<br />

Portal do servidor aposentado da UEL : tempo <strong>de</strong> recordar/<br />

Maria Aparecida Vivan <strong>de</strong> Carvalho, Fabiano Ferrari<br />

Ribeiro, Rosane da Silva Borges, organizadores. –<br />

<strong>Londrina</strong> : UEL, 2011.<br />

331 p. : il.<br />

Projeto Portal do Servidor Aposentado.<br />

ISBN 978-85-7846-009-9<br />

1. <strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>Estadual</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> – Servidores<br />

aposentados – Hístória. 2. Comunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> aposentados<br />

– Entrevistas. I. Carvalho, Maria Aparecida Vivan <strong>de</strong>. II.<br />

Ribeiro, Fabiano Ferrari. III. Borges, Rosane da Silva.<br />

CDU 378.4-057.75UEL<br />

Direitos reservados à<br />

Editora da <strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>Estadual</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong><br />

Campus Universitário<br />

Caixa Postal 6001<br />

Fone/Fax: (43) 3371-4674<br />

86051-990 <strong>Londrina</strong> – PR<br />

E-mail: eduel@uel.br<br />

www.uel.br/editora<br />

Impresso no Brasil / Printed in Brazil<br />

Depósito Legal na Biblioteca Nacional<br />

2011


Dedicatória<br />

A todos os servidores aposentados da UEL


Agra<strong>de</strong>cimentos<br />

Agra<strong>de</strong>cimento ao Departamento <strong>de</strong> Comunicação do Centro <strong>de</strong><br />

Educação, Comunicação e Artes pela parceria e incentivo.<br />

Aos estagiários, estudantes do curso <strong>de</strong> Comunicação Social -<br />

Jornalismo, pela disposição, alegria e entusiasmo com os quais<br />

mantiveram acesas as luzes <strong>de</strong>ssas inúmeras histórias <strong>de</strong> vida.<br />

Agra<strong>de</strong>cimento aos servidores da Divisão Central <strong>de</strong> Estágios e<br />

Intercâmbios da Pró-Reitoria <strong>de</strong> Graduação pelo apoio.<br />

Aos servidores aposentados e aos seus familiares que abriram as portas<br />

<strong>de</strong> seus corações para contar um pouco <strong>de</strong> si mesmos e da <strong>Universida<strong>de</strong></strong>.


Sumário<br />

Prefácio ......................................................................................................................xiii<br />

Apresentação ..............................................................................................................xv<br />

Servidores Aposentados<br />

A<strong>de</strong>mário Ferreira dos Santos e Ana Pereira dos Santos .........................................1<br />

Alci<strong>de</strong>s Vitor <strong>de</strong> Carvalho ...........................................................................................4<br />

Alice Messias da Silva Oliveira ..................................................................................7<br />

Alípio Rodrigues <strong>de</strong> Oliveira ......................................................................................9<br />

Almerinda Ferreira Duarte .........................................................................................11<br />

Altino Bispo <strong>de</strong> Oliveira .............................................................................................13<br />

Ama<strong>de</strong>u Artur .............................................................................................................15<br />

Ana Carolina Santini Betancurt <strong>de</strong> Abreo ..................................................................17<br />

Ana da Silva Stuqui ....................................................................................................20<br />

Ana Irma Rodrigues ...................................................................................................21<br />

Ana Maria <strong>de</strong> Arruda Ribeiro .....................................................................................28<br />

Angelina Silva Gonçalves Baggio ...............................................................................31<br />

Anna Regina Jordão Ciuvalschi Maia ........................................................................33<br />

Antonio Carlos Moraes Neto ......................................................................................36<br />

Antonio José Miceli ....................................................................................................38<br />

Antonio Nerez ............................................................................................................45<br />

Arlinda Rodrigues Oliveira Barbosa ..........................................................................47<br />

Ascêncio Garcia Lopes ................................................................................................48<br />

Benedita <strong>de</strong> Oliveira Bruno ........................................................................................58<br />

Carmen Garcia <strong>de</strong> Almeida ........................................................................................61<br />

Casemiro Framil Sobrinho .........................................................................................65<br />

Cleusa Maria Lopes <strong>de</strong> Oliveira ..................................................................................66<br />

David Roberto do Carmo ............................................................................................68<br />

David Valentim da Silva Filho ....................................................................................71<br />

Delícia Marcelino Ferreira .........................................................................................73<br />

Denise Hernan<strong>de</strong>s Tinoco ..........................................................................................75<br />

Djalmira <strong>de</strong> Sá Almeida ..............................................................................................77<br />

Domingos Dias da Silva ..............................................................................................79


Donato Parisotto.........................................................................................................81<br />

Durval Adolar Weigert................................................................................................83<br />

Durvali Emilio Fregonezi............................................................................................85<br />

Edina Regina Pugas Panichi.......................................................................................90<br />

Edison Lúcio Ferreira Fava.........................................................................................93<br />

Eliane Cristina Palaoro Pereira...................................................................................97<br />

Elisabete Abelha Lisboa..............................................................................................103<br />

Erlei Odino Gusso.......................................................................................................105<br />

Ernani Lauriano Rodrigues........................................................................................108<br />

Estela Okabayashi Fuzii..............................................................................................109<br />

Eucli<strong>de</strong>s Francisco Salmento......................................................................................115<br />

Francisca Soares Felizardo.........................................................................................117<br />

Francisco Alves Pereira...............................................................................................119<br />

Geir Rodrigues da Silva...............................................................................................123<br />

Genival Ross................................................................................................................126<br />

Georfrávia Montoza Alvarenga ..................................................................................128<br />

Geraldo Carreira Polvora (in memorian)...................................................................132<br />

Hélio Corrente.............................................................................................................133<br />

Hélio Paula Vieira.......................................................................................................138<br />

Henrique Alves Pereira Júnior...................................................................................140<br />

Hi<strong>de</strong>o Nakayama.........................................................................................................143<br />

Ines Buranello Vigna<strong>de</strong>lli............................................................................................146<br />

Ingracia <strong>de</strong> Oliveira.....................................................................................................148<br />

Iraci Tutida..................................................................................................................150<br />

Ivan Giacomo Piza.......................................................................................................153<br />

Jacira Pereira da Silva.................................................................................................155<br />

Jayme Nalim Duarte Leal ..........................................................................................157<br />

Joana <strong>de</strong> Souza Nogueira............................................................................................160<br />

Joana Sampar..............................................................................................................163<br />

Joaquim Scarpin.........................................................................................................165<br />

João Antônio Leite Ramos..........................................................................................167<br />

João Luiz Sperandio....................................................................................................171<br />

João Paulino da Silva Filho.........................................................................................174<br />

José Aloyseo Bzuneck.................................................................................................178<br />

José Aparecido Fi<strong>de</strong>lis ...............................................................................................181<br />

José Leocádio da Silva................................................................................................187


Kleber <strong>de</strong> Cássio Ferreira Arantes..............................................................................189<br />

Laerte Matias...............................................................................................................190<br />

Lauro Gomes da Veiga Pessoa Filho...........................................................................193<br />

Leange Severo Alves e Ubiratan <strong>de</strong> Oliveira Alves ....................................................196<br />

Ledvina Piccelli ..........................................................................................................200<br />

Leonel Martins Machado............................................................................................204<br />

Leonilda <strong>de</strong> Souza e Silva............................................................................................206<br />

Leslie Voigt Cosentino do Valle Rego.........................................................................208<br />

Licéia Cianca Fortes e Waldyr Gutiérrez Fortes ........................................................209<br />

Linda Bulik..................................................................................................................212<br />

Liogi Suzuk..................................................................................................................214<br />

Lourival da Silva .........................................................................................................215<br />

Luiz Abdon Pereira......................................................................................................216<br />

Luiz Antonio Felix ......................................................................................................219<br />

Luiz <strong>de</strong> Melo Santos ...................................................................................................222<br />

Luzia Mitsue Yamashita Deliberador ........................................................................224<br />

Manoel Barros <strong>de</strong> Azevedo..........................................................................................225<br />

Manoel Palma..............................................................................................................228<br />

Maria Bernardo da Costa............................................................................................229<br />

Maria Castro da Silveira..............................................................................................231<br />

Maria Darci Moura Lombardi.....................................................................................234<br />

Maria <strong>de</strong> Lour<strong>de</strong>s Mosseli ..........................................................................................236<br />

Maria Elvira Alves Nunes............................................................................................237<br />

Maria Helena Kley Vazzi.............................................................................................240<br />

Maria Luiza Baccarin..................................................................................................242<br />

Maria Pontes <strong>de</strong> Oliveira.............................................................................................244<br />

Maria Regina Clivati Capelo.......................................................................................246<br />

Marina Zuleika Scalassara..........................................................................................248<br />

Martha Augusta Correa e Castro Gonçalves...............................................................251<br />

Mazília Almeida Rocha Zemuner...............................................................................256<br />

Mirza <strong>de</strong> Carvalho Ferreira.........................................................................................258<br />

Nelson Dacio Tomazi .................................................................................................260<br />

Nelza Maria <strong>de</strong> Souza..................................................................................................262<br />

Nilza Aparecida Freres Stipp......................................................................................263<br />

Olga Ribeiro <strong>de</strong> Aquino...............................................................................................266<br />

Oswaldo Rubens Canizares.........................................................................................268


Otávio <strong>de</strong> Paula Nascimento.......................................................................................272<br />

Paulo Roca...................................................................................................................276<br />

Pedro Aloísio Kreling..................................................................................................278<br />

Raimundo Nonato Teixeira.........................................................................................282<br />

Raul Santos <strong>de</strong> Sá........................................................................................................286<br />

Reginaldo Batista <strong>de</strong> Souza.........................................................................................289<br />

Romilda Aparecida Cardioli dos Santos ....................................................................291<br />

Rosa Magalhães <strong>de</strong> Me<strong>de</strong>iros......................................................................................294<br />

Rubens Ferreira Dias Júnior.......................................................................................299<br />

Sadi Chaiben................................................................................................................301<br />

Sebastiana Pereira.......................................................................................................303<br />

Silza Maria Pasello Valente.........................................................................................310<br />

Toshihiko Tan..............................................................................................................313<br />

Valmir <strong>de</strong> França ........................................................................................................314<br />

Vera Lúcia Lemos Basto Echenique...........................................................................316<br />

Vera Lúcia Resen<strong>de</strong> Faria...........................................................................................317<br />

Yoshiriro Okano..........................................................................................................323<br />

Zenshi Heshiki............................................................................................................327<br />

Zita Kiel Baggio...........................................................................................................328


Prefácio<br />

Aos que ajudaram a construir a UEL, o nosso eterno agra<strong>de</strong>cimento<br />

É com satisfação e imensa alegria que escrevo este simples texto, para<br />

servir <strong>de</strong> abertura a um livro tão significativo. Planejar, construir, administrar,<br />

colocar e manter em funcionamento uma universida<strong>de</strong> pública é obra coletiva<br />

das mais grandiosas e gratificantes que existem. Os personagens principais<br />

<strong>de</strong>ste livro, os servidores aposentados, participaram durante as últimas<br />

décadas da construção conjunta da <strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>Estadual</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> (UEL).<br />

A UEL completará, dia 7 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 2011, quarenta anos <strong>de</strong> pleno<br />

funcionamento reconhecido pelo Ministério da Educação (MEC). Ao longo<br />

<strong>de</strong>ste período, ela tornou-se a maior e mais importante escola <strong>de</strong> ensino<br />

superior do interior do Paraná. E isto só foi possível graças ao empenho,<br />

trabalho e <strong>de</strong>dicação <strong>de</strong> estudantes, funcionários e professores que por aqui<br />

passaram nestas quase quatro décadas.<br />

Ensino, pesquisa e extensão <strong>de</strong> boa qualida<strong>de</strong> sempre foram, ao longo<br />

<strong>de</strong>ste tempo, o objetivo principal <strong>de</strong> nossa Instituição; em gran<strong>de</strong> parte<br />

alcançado com base no esforço, carinho e mérito dos ex-servidores, agora na<br />

condição <strong>de</strong> aposentados da UEL. Aos aposentados <strong>de</strong>vemos ainda participação<br />

efetiva na formação <strong>de</strong> milhares <strong>de</strong> profissionais – capacitados, competentes<br />

e cidadãos – que nossos cursos <strong>de</strong> graduação e pós-graduação já colocaram<br />

no mercado <strong>de</strong> trabalho. Por isto, os ex-servidores estão <strong>de</strong> parabéns. Assim<br />

sendo, a todos e a cada um a nossa mais sincera e eterna gratidão.<br />

Este agra<strong>de</strong>cimento é extensivo à professora Maria Aparecida Vivan<br />

<strong>de</strong> Carvalho – i<strong>de</strong>alizadora e coor<strong>de</strong>nadora do projeto Portal do Servidor<br />

Aposentado, embrião que germinou este livro – e a sua equipe inteira;<br />

notadamente ao técnico em informática e internet Fabiano Ferrari Ribeiro,<br />

que <strong>de</strong>senvolveu e viabilizou o portal no site da <strong>Universida<strong>de</strong></strong>, e à professora<br />

Rosane da Silva Borges, orientadora dos estudantes <strong>de</strong> Jornalismo que atuam<br />

no projeto.<br />

Nádina Aparecida Moreno<br />

Reitora da UEL<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

xiii


Apresentação<br />

Este livro apresenta o Portal do Servidor Aposentado da <strong>Universida<strong>de</strong></strong><br />

<strong>Estadual</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - UEL, como iniciativa inédita <strong>de</strong>stinada a valorizar os<br />

servidores aposentados da Instituição sem per<strong>de</strong>r as perspectivas do resgate<br />

<strong>de</strong> histórias <strong>de</strong> vida <strong>de</strong>sses personagens centrais cujas práticas catalisaram<br />

fluidos bons que alavancaram a <strong>Universida<strong>de</strong></strong> nestes 40 anos <strong>de</strong> existência.<br />

Trata-se, portanto, <strong>de</strong> um livro <strong>de</strong> perfis que po<strong>de</strong> ser visto sob vários<br />

olhares. Esses perfis representam uma realida<strong>de</strong> vivida e ainda viva na<br />

memória <strong>de</strong> cada servidor aposentado.<br />

Cada vez mais convencidos da necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> mostrar às novas e futuras<br />

gerações quem foram as pessoas que atuaram na <strong>Universida<strong>de</strong></strong> e dignificálas<br />

por meio <strong>de</strong> um expediente efetivo e palpável, sentimo-nos motivados a<br />

concretizar esta publicação, na intenção <strong>de</strong> contribuir com a construção da<br />

história da <strong>Universida<strong>de</strong></strong>.<br />

Os perfis dos servidores aposentados que constam <strong>de</strong>ste livro foram<br />

os primeiros a serem publicados no Portal do Servidor Aposentado da UEL,<br />

criado em 22 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 2008 e i<strong>de</strong>alizado pela professora Maria Aparecida<br />

Vivan <strong>de</strong> Carvalho, à época, pró-reitora <strong>de</strong> graduação da UEL, com a finalida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> homenagear os aposentados durante as comemorações dos 37 anos da<br />

<strong>Universida<strong>de</strong></strong>.<br />

Todas as informações são extremamente valiosas quando há a<br />

premissa <strong>de</strong> recuperar a memória <strong>de</strong> uma caminhada que se revela especial,<br />

consi<strong>de</strong>rando que cada um <strong>de</strong> nós guarda retratos <strong>de</strong> uma vida junto a esta<br />

<strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> concretização <strong>de</strong> sonhos, conquistas e realização <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ais.<br />

O Portal permite à comunida<strong>de</strong> acompanhar as informações sobre nossos<br />

servidores, bem como fortalece as relações entre os servidores que continuam<br />

em ativida<strong>de</strong> na Instituição e os servidores aposentados, com visibilida<strong>de</strong><br />

oportuna dos professores e funcionários que <strong>de</strong>ram sustentabilida<strong>de</strong> às<br />

diversas ações empreendidas na UEL, o que possibilitou a sua consolidação<br />

como uma das melhores instituições <strong>de</strong> ensino superior do país. O empenho<br />

e trabalho <strong>de</strong> cada servidor justificam o sucesso da <strong>Universida<strong>de</strong></strong> ao longo dos<br />

anos.<br />

As i<strong>de</strong>ias para a criação do Portal ganharam vida nas mãos do servidor<br />

Fabiano Ferrari Ribeiro e aos poucos se materializaram com robustez a partir<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

xv


da inserção <strong>de</strong> estudantes estagiários e docentes do curso <strong>de</strong> Comunicação<br />

Social - Jornalismo do Centro <strong>de</strong> Educação, Comunicação e Artes da UEL.<br />

As entrevistas começaram a ser agendadas, inicialmente com um<br />

professor <strong>de</strong> cada um dos nove centros <strong>de</strong> estudos, e servidores <strong>de</strong> diferentes<br />

locais e profissões, como museu e creche, vigilantes, jardineiros, auxiliares <strong>de</strong><br />

enfermagem e, até mesmo, o primeiro reitor.<br />

No Portal do Servidor Aposentado da UEL os perfis são o carro-chefe,<br />

entretanto, inovações foram sendo incorporadas, a exemplo, a apresentação<br />

<strong>de</strong> serviços <strong>de</strong> direito na <strong>Universida<strong>de</strong></strong>, como o uso <strong>de</strong> biblioteca, restaurante,<br />

e-mail institucional, entre outros, bem como houve a introdução <strong>de</strong> matérias<br />

sobre saú<strong>de</strong> e direitos dos aposentados.<br />

Algumas matérias foram divulgadas na forma <strong>de</strong> <strong>de</strong>staques com título<br />

específico; outras trazem as informações postadas pelo servidor aposentado<br />

que acessou o site e compôs a sua história, sendo que neste último caso não há<br />

registro do nome <strong>de</strong> estagiários, pois o autor foi o próprio aposentado.<br />

A inserção <strong>de</strong> hobbies e <strong>de</strong> uma ficha técnica com dados específicos dos<br />

aposentados, como naturalida<strong>de</strong>, ano <strong>de</strong> aposentadoria, entre outros, veio a<br />

incrementar e enriquecer as publicações do Portal, além <strong>de</strong> que postamos um<br />

item inovador <strong>de</strong>nominado ‘serviço’ que traduz informações e ou mostra a<br />

<strong>de</strong>finição <strong>de</strong> palavras cujo significado foge à rotina <strong>de</strong> parte dos servidores.<br />

Esperamos que as ativida<strong>de</strong>s previstas para o <strong>de</strong>senvolvimento do Portal<br />

possam ser intensificadas, no intuito <strong>de</strong> aprimorar o exercício <strong>de</strong> resgatar<br />

fatos tão marcantes na vida das pessoas e transformá-los em mensagens<br />

que expressem as vivências e as emoções em texto. Será questão <strong>de</strong> tempo e<br />

paciência obter a regularida<strong>de</strong> na cobertura das aposentadorias pela equipe<br />

do Portal.<br />

Cabe <strong>de</strong>stacar os estagiários - protagonistas das entrevistas do Portal:<br />

Poliana Lisboa <strong>de</strong> Almeida, Léia Dias Sabóia, Janaina Assis <strong>de</strong> Castro Gomes,<br />

Luiz Gustavo Ticiane <strong>de</strong> Oliveira e Rosane Mioto dos Santos, todos sob a<br />

orientação cuidadosa e o olhar atento da professora Rosane da Silva Borges.<br />

Durante as entrevistas com os servidores aposentados, as perguntas não<br />

obe<strong>de</strong>ceram a um roteiro, mas tinham o objetivo <strong>de</strong> captar uma história ainda<br />

não contada e não registrada. Para nós foi um exercício espetacular <strong>de</strong> dar<br />

ouvido aos servidores aposentados e dar palavra aos estudantes que, na flor <strong>de</strong><br />

sua juventu<strong>de</strong>, souberam apreen<strong>de</strong>r as mensagens, buscar a sensibilida<strong>de</strong> nas<br />

falas e dar voz, com uma precisão inigualável, aos que em gestos manifestavam<br />

seus sentimentos.<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

xvi


Ainda é preciso ressaltar que os estudantes, <strong>de</strong> forma brilhante,<br />

souberam traduzir encantos e <strong>de</strong>sencantos, perdas e ganhos, conquistas e<br />

<strong>de</strong>cepções. Segredos foram <strong>de</strong>svelados e apontaram caminhos percorridos na<br />

certeza e na dúvida, com resultados acertados e outros que exigiram repensar<br />

a trilha.<br />

Solicitamos aos nossos ex-estagiários do Portal um <strong>de</strong>poimento sobre o<br />

que significou para eles o exercício da profissão ainda enquanto estudantes e<br />

recebemos as mensagens que transcrevemos a seguir.<br />

“Estagiar no Portal do Servidor Aposentado foi uma experiência acima<br />

<strong>de</strong> tudo gratificante.<br />

Além da oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> praticar a profissão que eu amo, pu<strong>de</strong><br />

conhecer e ouvir pessoas maravilhosas. As entrevistas com os aposentados<br />

foram sem dúvida a melhor parte do trabalho. As histórias <strong>de</strong> vida que ouvi<br />

são lições que vou levar comigo para sempre. Cada conversa foi emocionante<br />

e não posso <strong>de</strong>screver o que sentia ao ver pessoas tão incríveis, que <strong>de</strong>dicaram<br />

suas vidas à UEL, chegarem às lágrimas com as lembranças.<br />

Um aprendizado sem igual e sem preço, que agora po<strong>de</strong> ser<br />

compartilhado com mais pessoas. Recomendo muito a leitura <strong>de</strong>ste livro e<br />

tenho certeza <strong>de</strong> que em suas páginas encontrarão a emoção, o amor, a força<br />

daqueles que construíram a UEL quase do nada, e fizeram <strong>de</strong>la a Instituição<br />

sólida e respeitável que é hoje.<br />

Participar <strong>de</strong>ssa produção me enche <strong>de</strong> orgulho e só tenho a agra<strong>de</strong>cer à<br />

professora Cidinha (Maria Aparecida Vivan <strong>de</strong> Carvalho), que um dia imaginou<br />

este projeto, colocou-o em prática e me <strong>de</strong>u a satisfação <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r integrá-lo.”<br />

Janaína Castro<br />

Jornalista, estagiária do Portal do Servidor Aposentado<br />

<strong>de</strong> março a <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2009<br />

“Que a UEL hoje é reconhecidamente gran<strong>de</strong>, ninguém discute. O que<br />

poucos sabem, porém, é o trabalho que muitos - alguns anonimamente -<br />

<strong>de</strong>senvolveram para que ela atingisse tamanha notorieda<strong>de</strong>.<br />

A vida da instituição não está apenas nos belos gramados e jardins,<br />

nem mesmo na fauna que também reconhece naquele lugar algo especial.<br />

Não está apenas nos muitos alunos que, munidos do conhecimento, saem<br />

da universida<strong>de</strong> para ganhar o mundo. Ela está essencialmente naqueles<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

xvii


servidores, que, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> quando aquela região ainda era um perobal, ajudaram,<br />

cada um à sua maneira, tornar a instituição em uma das mais respeitadas no<br />

Brasil e no exterior.<br />

Trabalhar no Portal do Aposentado, que agora vira merecidamente<br />

livro, foi uma das mais gratificantes experiências que o jornalismo pô<strong>de</strong> me<br />

proporcionar. Algo que vou levar com carinho para a vida toda.<br />

Viver cada história foi <strong>de</strong>scobrir tudo isso. Certamente, é o que você,<br />

leitor, vai também <strong>de</strong>scobrir nas próximas páginas.”<br />

Gustavo Ticiane<br />

Jornalista, estagiário do Portal do Servidor Aposentado<br />

<strong>de</strong> abril a <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2009<br />

“Ter a chance <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r um pouco mais sobre a profissão que escolhi<br />

e, ao mesmo tempo, conhecer a história <strong>de</strong> minha cida<strong>de</strong> por meio dos<br />

<strong>de</strong>poimentos dos aposentados que entrevistei foram as melhores experiências<br />

que o estágio no Portal do Aposentado po<strong>de</strong>riam me proporcionar.<br />

Perceber que a história <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> e da <strong>Universida<strong>de</strong></strong> foi escrita com o<br />

trabalho <strong>de</strong>stas pessoas, vindas <strong>de</strong> vários cantos do país, é também reconhecer<br />

que as gran<strong>de</strong>s conquistas se fazem nos pequenos gestos cotidianos.<br />

O que levo <strong>de</strong>sta experiência é a satisfação <strong>de</strong> <strong>de</strong>scobrir que minha<br />

cida<strong>de</strong> natal e a <strong>Universida<strong>de</strong></strong> também são obras <strong>de</strong>sta gente anônima, que<br />

meu trabalho no Portal ajudou a revelar.”<br />

Rosane Mioto<br />

Jornalista, estagiária do Portal do Servidor Aposentado<br />

<strong>de</strong> março a <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2009<br />

“Aproximadamente 20 mil pessoas circulam todos os dias pela<br />

<strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>Estadual</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>. No entanto, pouquíssimas conhecem<br />

verda<strong>de</strong>iramente a história dos muitos servidores e i<strong>de</strong>alizadores valentes,<br />

que juntos edificaram - nos vários sentidos da palavra - a instituição. Não é<br />

exagero dizer que muitos <strong>de</strong>sses servidores aposentados amavam e se doavam<br />

completamente ao trabalho, à UEL.<br />

Os relatos <strong>de</strong> um começo difícil, sem muitos recursos, precário às<br />

vezes, parece não condizer com a atual gran<strong>de</strong>za <strong>de</strong>ssa universida<strong>de</strong>. Mas é<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

xviii


fato. Esses momentos realmente existiram. Assim como pu<strong>de</strong> comprovar na<br />

condição <strong>de</strong> estagiária.<br />

Para uma aspirante a jornalista, jovem e inexperiente com um velho<br />

sonho bobo <strong>de</strong> mudar o mundo, conhecer esses simpáticos senhores significou<br />

muito. Pessoas agradáveis, receptivas, prontas para compartilhar momentos<br />

tão singulares com uma ‘<strong>de</strong>sconhecida’.<br />

Suas histórias são repletas <strong>de</strong> conselhos, <strong>de</strong> otimismo. Elas são marcadas<br />

pela perseverança e a esperança em um futuro melhor e maior. A sabedoria<br />

que contém nestes textos não se encontra armazenada em bibliotecas. Mas, é<br />

resultado <strong>de</strong> uma vida inteira <strong>de</strong> lutas, quedas e conquistas. Enfim, gran<strong>de</strong>s<br />

lições.”<br />

Léia Dias Sabóia<br />

Jornalista, estagiária do Portal do Servidor Aposentado<br />

<strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 2008 a janeiro <strong>de</strong> 2009<br />

Algumas entrevistas foram realizadas na UEL, mas a maioria aconteceu<br />

na casa dos servidores aposentados, que acolheram nossa equipe com muito<br />

carinho e aproveitaram a ocasião para mostrar fotos e recordações da época<br />

<strong>de</strong> trabalho na UEL. Após a transcrição das fitas <strong>de</strong> gravação da entrevista,<br />

organização da redação, correção dos textos e divulgação no Portal, as<br />

entrevistas eram impressas, versão colorida, em papel couchê e entregues<br />

pessoalmente por membros da equipe do Portal para o servidor aposentado<br />

guardar <strong>de</strong> recordação.<br />

Não foram poucas as vezes que nos pegamos com lágrimas nos olhos ao<br />

ler as entrevistas dos servidores aposentados, sentindo a emoção nas linhas e<br />

nas entrelinhas, a sauda<strong>de</strong> batendo forte no peito, a lembrança <strong>de</strong> um tempo<br />

que não volta mais. Saudosismo e um imenso orgulho é o que sentimos por<br />

ver tantas vidas voltadas a um objetivo comum - o bem da nossa <strong>Universida<strong>de</strong></strong>.<br />

Os servidores aposentados abordaram, em suas falas, dimensões<br />

<strong>de</strong> âmbitos pessoais e profissionais, bem como suas próprias reflexões<br />

permitem enten<strong>de</strong>r as relações e nos levam a pensar sobre alguns <strong>de</strong> nossos<br />

questionamentos a respeito do mundo universitário. Esteve sempre presente a<br />

forma como viveram intensamente a <strong>Universida<strong>de</strong></strong>, a importância do trabalho<br />

e das ativida<strong>de</strong>s ali <strong>de</strong>sempenhadas, do plantio e cultivo <strong>de</strong> flores ao exercício<br />

da docência.<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

xix


Acreditamos que o momento da entrevista tenha se caracterizado como<br />

uma oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> manifestar o olhar sobre si mesmo e sobre a vida, bem<br />

como sobre a <strong>Universida<strong>de</strong></strong>.<br />

Nem todo o esforço dos servidores pô<strong>de</strong> ser contemplado pela<br />

Instituição, por fatores diversos. Houve boa vonta<strong>de</strong> e criativida<strong>de</strong>, mas nem<br />

todas as i<strong>de</strong>ias foram aproveitadas. Afinal, a <strong>Universida<strong>de</strong></strong> passou, ao longo <strong>de</strong><br />

décadas, por muitas transformações para respon<strong>de</strong>r aos <strong>de</strong>safios peculiares<br />

a cada período histórico, com flexibilização <strong>de</strong> fronteiras do conhecimento,<br />

superação <strong>de</strong> crises, influência <strong>de</strong> modismos, diversas abordagens da educação,<br />

mudanças na forma <strong>de</strong> pensar e <strong>de</strong> agir. Consi<strong>de</strong>rando-se, por outro lado, as<br />

ações e intenções <strong>de</strong>monstraram comprometimento com o fazer universitário.<br />

Os servidores aposentados mostraram exemplos bons <strong>de</strong> busca<br />

e <strong>de</strong> encontro <strong>de</strong> novas ativida<strong>de</strong>s para serem <strong>de</strong>senvolvidas durante a<br />

aposentadoria, a <strong>de</strong>speito <strong>de</strong> terem que superar, muitas vezes, problemas<br />

físicos, psicológicos e emocionais, além dos financeiros. Não mediram esforços<br />

para <strong>de</strong>rrubarem barreiras no intuito <strong>de</strong> atingir um objetivo maior, conquistar<br />

um novo sonho.<br />

Sob diferentes visões, a aposentadoria manifestou-se <strong>de</strong> um período <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>scanso e tranquilida<strong>de</strong> a um período <strong>de</strong> intensa produtivida<strong>de</strong>, um período<br />

<strong>de</strong> viver sonhos e <strong>de</strong>sejos, mas também, <strong>de</strong> forma divergente, esse período se<br />

caracterizou por árduo trabalho para a manutenção do sustento da família.<br />

A leitura <strong>de</strong>ste livro proporcionará reflexões que aproximarão os leitores<br />

das histórias <strong>de</strong> vida e dos amigos servidores aposentados. É fato que, <strong>de</strong>pois<br />

das entrevistas, alguns já <strong>de</strong>ixaram este mundo e outros que nem chegaram a<br />

ser entrevistados abriram uma lacuna ainda maior em nossos corações.<br />

Desejamos que os servidores aposentados cultivem sempre hábitos<br />

saudáveis, retirem energia <strong>de</strong> coisas boas e acreditem, sobretudo, que a<br />

juventu<strong>de</strong> está no coração das pessoas, portanto, a importância <strong>de</strong> dar sentido<br />

à vida está na tría<strong>de</strong>: estar ativo, cultivar amigos e se sentir útil.<br />

Cá para nós, há necessida<strong>de</strong> permanente <strong>de</strong> conhecimento e<br />

reconhecimento dos significados do espaço universitário e <strong>de</strong>senhá-los por<br />

meio do resgate das memórias dos servidores aposentados é uma maneira <strong>de</strong><br />

restituir a eles o sentido da vida.<br />

As lições do passado têm muito a nos ensinar, e reiteramos que sonhar<br />

com uma instituição universitária que conhece e reconhece o trabalho e<br />

a <strong>de</strong>dicação <strong>de</strong> seus servidores, valorizando-os enquanto aposentados,<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

xx


<strong>de</strong>monstra o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> ter e ver um mundo mais humano. Desejamos<br />

também um futuro brilhante para a UEL, numa busca ininterrupta <strong>de</strong> relação<br />

<strong>de</strong>mocrática, possibilitando aos seus servidores serem livres e iguais.<br />

Finalmente, <strong>de</strong>sejamos que o significado da trajetória dos servidores<br />

aposentados possa servir <strong>de</strong> exemplo aos nossos jovens para o alcance e o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> seus projetos <strong>de</strong> vida.<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

xxi


Um casal <strong>de</strong> funcionários da <strong>Universida<strong>de</strong></strong><br />

Ana Pereira dos Santos e A<strong>de</strong>mário Ferreira dos Santos,<br />

zeladora e pedreiro. O casal <strong>de</strong>dicou ao todo quarenta e cinco anos <strong>de</strong><br />

trabalho à <strong>Universida<strong>de</strong></strong><br />

Não foi na UEL que eles se<br />

conheceram. Aliás, foi um pouco<br />

mais longe. A<strong>de</strong>mário e Ana dos<br />

Santos são baianos <strong>de</strong> Piritiba,<br />

perto <strong>de</strong> Feira <strong>de</strong> Santana.<br />

Eles eram vizinhos e quando<br />

A<strong>de</strong>mário veio para <strong>Londrina</strong>,<br />

on<strong>de</strong> o tio já morava, o casal<br />

conversava e namorava por meio<br />

<strong>de</strong> cartas.<br />

Com o casamento, Ana também<br />

veio para o sul. Aqui eles tiveram a primeira filha e quando tentaram<br />

voltar, dois anos e meio <strong>de</strong>pois, não se acostumaram com os salários<br />

baixos do nor<strong>de</strong>ste. O segundo filho nasceu na Bahia, mas o casal veio<br />

para <strong>Londrina</strong> em seguida. Agora, Bahia só nos finais <strong>de</strong> ano, quando<br />

eles chegam a ficar até um mês na casa <strong>de</strong> parentes passeando.<br />

Uma vizinha avisou Ana que a <strong>Universida<strong>de</strong></strong> estava contratando.<br />

Ela lembra que foi simples e após uma ficha preenchida ficou<br />

combinado. Era 1977, seu primeiro emprego registrado, e no segundo<br />

mês ela estava ganhando mais do que o inicial, conta a funcionária com<br />

orgulho.<br />

Ana dos Santos trabalhou na zeladoria do CEFE - Centro <strong>de</strong><br />

Educação Física e Esporte <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o começo até a sua aposentadoria<br />

<strong>de</strong>pois <strong>de</strong> 28 anos <strong>de</strong> trabalho no fim <strong>de</strong> 2004. Ela trabalhava com a<br />

limpeza e fazia o café.<br />

Quando teve o quarto filho precisou da ajuda da filha mais velha.<br />

Ana tinha uma hora para amamentar e fazia questão <strong>de</strong> voltar na hora<br />

<strong>de</strong> sua janta para amamentar uma segunda vez. Mas, para ela o esforço<br />

foi válido.<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

1


Os turnos em que trabalhou mudaram conforme os anos. Às<br />

vezes, quando Ana entrava <strong>de</strong> manhã, ela, que mora em Cambé perto<br />

da <strong>Universida<strong>de</strong></strong>, aproveitava e ia com uma amiga a pé para o trabalho.<br />

“Dá meia hora caminhando sem pressa, e eu fazia exercício”.<br />

A<strong>de</strong>mário, esposo <strong>de</strong> Ana, trabalhou muitos anos sem registro em<br />

carteira aqui em <strong>Londrina</strong>. Em 1963 ele começou a trabalhar em uma<br />

firma como servente na construção civil. Com os anos foi adquirindo<br />

experiência e crescendo na empresa, orientando o trabalho junto com<br />

o mestre <strong>de</strong> obras. Quando quiseram levá-lo para outra cida<strong>de</strong> ele<br />

trocou <strong>de</strong> emprego.<br />

Ficou pouco mais <strong>de</strong> um ano em outra empresa, quando surgiu<br />

uma vaga <strong>de</strong> pedreiro na UEL. A<strong>de</strong>mário conta que conversou com os<br />

patrões antes <strong>de</strong> sair, “sempre gostei <strong>de</strong> fazer as coisas direito, (...) no<br />

outro dia comecei na <strong>Universida<strong>de</strong></strong>.”<br />

Com quatorze meses na UEL o contrato havia acabado e estava<br />

acontecendo um corte <strong>de</strong> funcionários. Ele se lembra da entrevista que<br />

enfrentou com psicólogos, em que perguntaram qual era o melhor prego<br />

para pedreiro, e ele respon<strong>de</strong>u que era a água, que ligava o cimento,<br />

já que quem prega mesmo é o carpinteiro. O funcionário estava com<br />

medo <strong>de</strong> ser <strong>de</strong>mitido, ainda mais <strong>de</strong>pois da resposta ousada.<br />

A<strong>de</strong>mário continuou trabalhando na UEL, mas com<br />

aproximadamente três anos <strong>de</strong> pedreiro sua profissão passou para<br />

graniteiro. Apesar <strong>de</strong> mais perigosa, a função nova não constou na<br />

carteira e nem no salário do funcionário, que ficou por mais quatorze<br />

anos na <strong>Universida<strong>de</strong></strong>.<br />

Ele se lembra <strong>de</strong> ter participado da construção <strong>de</strong> parte do Centro<br />

<strong>de</strong> Ciências Biológicas, Departamento <strong>de</strong> Tecnologia <strong>de</strong> Alimentos,<br />

reitoria, banheiros, isolamento do pavilhão do meio do Hospital<br />

Veterinário e Hospital Universitário, on<strong>de</strong>, <strong>de</strong> acordo com A<strong>de</strong>mário,<br />

a equipe <strong>de</strong> graniteiros da <strong>Universida<strong>de</strong></strong> assumiu as obras junto com<br />

funcionários <strong>de</strong> uma empreiteira contratada para concluí-las no prazo.<br />

O funcionário sofreu um aci<strong>de</strong>nte no Laboratório <strong>de</strong><br />

Medicamentos da UEL, durante um trabalho por colocar a máquina<br />

em uma tomada com voltagem diferente da que fora avisada a ele.<br />

Ele se machucou e a máquina estragou, mas ele conta que <strong>de</strong>pois o<br />

problema foi superado.<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

2


A<strong>de</strong>mário aposentou-se em 1997. Ana confirma que o marido<br />

não para. Depois <strong>de</strong> construir quatro casas, duas no terreno antigo e<br />

duas no que moram agora, ele continua a trabalhar quando algum dos<br />

quatro filhos ou sobrinha precisa. E ele fala que Ana ajudou sempre.<br />

“Eu nunca paguei pedreiro, usava o fim <strong>de</strong> semana para construir”.<br />

Como a UEL foi o primeiro e único emprego registrado <strong>de</strong><br />

Ana, ela ficou até <strong>de</strong>pois que o marido saiu. Trabalhou por 28 anos e<br />

esperaria completar trinta, mas em 2004 ela teve um AVC (aci<strong>de</strong>nte<br />

vascular cerebral) enquanto trabalhava no CEFE.<br />

A funcionária <strong>de</strong>screveu a dor que sentiu e contou que por mais<br />

<strong>de</strong> um ano continuou sentindo a cabeça muito pesada e uma sensação<br />

estranha ao caminhar. Depois do período <strong>de</strong> licença, Ana pediu<br />

aposentadoria.<br />

Ela brinca, “eu não faço nada agora, só o serviço <strong>de</strong> casa”, e<br />

quando o marido não está trabalhando eles costumam caminhar. “Eu<br />

não gosto <strong>de</strong> caminhar sozinha, gosto <strong>de</strong> andar junto com ele. É bom<br />

para a saú<strong>de</strong> e ren<strong>de</strong> uma boa conversa.”<br />

Poliana Lisboa <strong>de</strong> Almeida<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

3


Entre uvas, letras e histórias<br />

Aca<strong>de</strong>mia e política se misturam na vida <strong>de</strong> Alci<strong>de</strong>s Vitor <strong>de</strong><br />

Carvalho, professor <strong>de</strong> letras da <strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>Estadual</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong><br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> sua fundação<br />

Na garagem <strong>de</strong> Alci<strong>de</strong>s Vitor<br />

<strong>de</strong> Carvalho alguns galões com<br />

aproximadamente 35 litros <strong>de</strong><br />

vinho cada um aguardam o<br />

seu “período <strong>de</strong> gestação”: são<br />

nove meses <strong>de</strong> espera até que<br />

ele fique pronto. O cheiro do<br />

álcool fica no ar neste canto da<br />

casa do professor aposentado<br />

da <strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>Estadual</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Londrina</strong>. Plantar uva e fazer vinhos é um prazer para o professor, que<br />

só o faz para a família e amigos.<br />

Alci<strong>de</strong>s, mineiro <strong>de</strong> Carvalhópolis, veio para <strong>Londrina</strong> após<br />

passar pelo Rio Gran<strong>de</strong> do Sul, on<strong>de</strong> estudou por 12 anos; Adamantina,<br />

interior <strong>de</strong> São Paulo, e Arapongas, on<strong>de</strong> trabalhou. Na cida<strong>de</strong> começou<br />

a fazer o curso <strong>de</strong> Letras na Faculda<strong>de</strong> <strong>Estadual</strong> <strong>de</strong> Filosofia, Ciências<br />

e Letras <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>.<br />

Em 1971 a UEL foi reconhecida pelo governador da época, Paulo<br />

Pimentel. Cinco instituições da cida<strong>de</strong> se uniram para formar a UEL,<br />

a Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Filosofia, Ciências e Letras; Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Direito;<br />

Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Odontologia; Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina e Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Ciências Econômicas.<br />

Alci<strong>de</strong>s havia assumido como professor na Faculda<strong>de</strong> assim<br />

que se formou. Com a criação da <strong>Universida<strong>de</strong></strong> ele ajudou a criar o<br />

Departamento <strong>de</strong> Letras no Centro <strong>de</strong> Letras e Ciências Humanas, o<br />

CLCH.<br />

A época era <strong>de</strong> Ditadura Militar e Alci<strong>de</strong>s participava da política.<br />

No ano <strong>de</strong> 1968 o professor esteve no 30º Congresso Nacional da<br />

União Nacional dos Estudantes em Ibiúna, representando <strong>Londrina</strong>.<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

4


O Congresso acabou com a prisão <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> 800 estudantes. Alci<strong>de</strong>s<br />

estava entre eles.<br />

“Fiquei no presídio Tira<strong>de</strong>ntes por muito tempo. Aí numa<br />

perseguição política posterior <strong>de</strong> não po<strong>de</strong>r trabalhar, uma espécie <strong>de</strong><br />

vigilância muito <strong>de</strong> cima, (...) eu estava numa situação complicada e<br />

em 1973 eu fui para fora (França) e aproveitei para fazer o mestrado”,<br />

relembra.<br />

O professor recebeu uma bolsa do governo francês para cursar<br />

mestrado e doutorado em literatura popular brasileira, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que<br />

continuasse vinculado à UEL. Após três anos fora, Alci<strong>de</strong>s voltou para<br />

o Brasil. Como a sua pesquisa <strong>de</strong> doutorado era sobre literatura <strong>de</strong><br />

cor<strong>de</strong>l, ele viajou pelo país recolhendo material.<br />

Alci<strong>de</strong>s não voltou para a França para <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r sua tese e doou<br />

parte do material para a UEL. Hoje a <strong>Universida<strong>de</strong></strong> tem um acervo com<br />

cerca <strong>de</strong> 3.500 folhetos <strong>de</strong> literatura <strong>de</strong> cor<strong>de</strong>l. A coleção, que fica na<br />

Biblioteca Central, po<strong>de</strong> ser consultada por todos e possui o nome do<br />

professor.<br />

Em 1979, Alci<strong>de</strong>s foi um dos fundadores do Sindiprol (Sindicato<br />

dos Professores <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>) e presidiu a entida<strong>de</strong> <strong>de</strong> 1982 até 1985.<br />

No início, o sindicato reunia professores e servidores <strong>de</strong> outras<br />

instituições superiores da região, não apenas da UEL. Alci<strong>de</strong>s estima<br />

que o Sindiprol chegou a ter dois mil filiados na época.<br />

Como ex-presi<strong>de</strong>nte do sindicato, o professor relembra da greve<br />

<strong>de</strong> 45 dias que aconteceu em 1984, pedindo aumento <strong>de</strong> 150% em<br />

alguns casos. O governador, José Richa (1982-1986) cortou o salário<br />

dos servidores, que organizavam feiras em frente ao Centro <strong>de</strong> Ciências<br />

Biológicas para aguentar a situação. Com isto o governo acabou<br />

ce<strong>de</strong>ndo às exigências.<br />

Alci<strong>de</strong>s aposentou-se na <strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>Estadual</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong><br />

em 1993, quando assumiu a Secretaria <strong>de</strong> Cultura <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> na<br />

gestão do prefeito Luiz Eduardo Cheida (PT), <strong>de</strong> 1993 a 1997. Depois<br />

da secretaria, Carvalho assumiu por quatro anos a Casa da Cultura da<br />

UEL, responsável pelo Festival Internacional <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>, pelo Festival<br />

<strong>de</strong> Música, pelo Teatro Ouro Ver<strong>de</strong> e pela Orquestra Sinfônica da UEL.<br />

Depois <strong>de</strong> um ano sem dar aulas, ele voltou a lecionar na<br />

Faculda<strong>de</strong> Pitágoras nos cursos <strong>de</strong> comunicação. Alci<strong>de</strong>s conta um<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

5


pouco <strong>de</strong>ste encanto que o levou <strong>de</strong> volta às salas <strong>de</strong> aula, “(...) ser<br />

professor é bom porque a cada semestre renova a turma, você tem que<br />

se preparar <strong>de</strong> novo, enriquece a gente, quero dar aula até os 80, 90,<br />

até 100 (...) enquanto <strong>de</strong>r.”<br />

Poliana Lisboa <strong>de</strong> Almeida<br />

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6


Alice Messias da Silva Oliveira<br />

“Tudo o que eu tenho eu agra<strong>de</strong>ço à<br />

UEL, porque eu sou aposentada, tenho<br />

o meu salário... Eu amo lá <strong>de</strong> coração,<br />

eu gosto muito da UEL”, conclui a<br />

aposentada Alice Messias Oliveira,<br />

que trabalhou na <strong>Universida<strong>de</strong></strong><br />

durante quase duas décadas. Período<br />

<strong>de</strong> muitas alegrias, foi também nestes<br />

18 anos <strong>de</strong> serviço que o talento <strong>de</strong><br />

Alice para a escultura se revelou.<br />

Mineira <strong>de</strong> Guaranésia, veio para o<br />

Paraná ainda pequena junto com a<br />

família, que arriscou a sorte mudandose<br />

para este estado sem conhecer ninguém, atraída pela propaganda<br />

que promovia o norte-paranaense. Chegaram em Cornélio Procópio<br />

e <strong>de</strong>pois foram para Uraí, cida<strong>de</strong> on<strong>de</strong> Alice casou-se e teve os cinco<br />

filhos. No final da década <strong>de</strong> 1960, mudou-se para <strong>Londrina</strong>.<br />

Trabalhando como doméstica, recebeu uma proposta para<br />

trabalhar na <strong>Universida<strong>de</strong></strong>, indicada por uma amiga <strong>de</strong> Uraí.<br />

Contratada em 11 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1975, Alice sempre esteve a serviço<br />

do Centro <strong>de</strong> Educação, Comunicação e Artes (CECA) e serviu muitos<br />

cafezinhos para os professores dos <strong>de</strong>partamentos <strong>de</strong> Ciência da<br />

Informação, Comunicação, Educação... “Ele [o professor Mário Salles,<br />

do Departamento <strong>de</strong> Comunicação] chegava lá na copa, que eu fazia<br />

café <strong>de</strong> manhã [e dizia]: ‘aí colega – porque lá eles me chamam <strong>de</strong> colega<br />

– eu quero o primeiro cafezinho do saco’, que ia caindo do coador e ele<br />

colocava a xícara lá, tomava e dava risada! (...) São amigos da gente, a<br />

gente brincava muito!”, diverte-se a aposentada.<br />

Nas pausas para o almoço, Alice <strong>de</strong>scobriu seu dom para a<br />

escultura em argila. Foi nas instalações do Departamento <strong>de</strong> Artes, nos<br />

prédios <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira ao lado do Centro <strong>de</strong> Letras e Ciências Humanas<br />

(CLCH). “Na hora do almoço a gente corria para lá. Almoçava às vezes<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

7


até um pouquinho antes para ren<strong>de</strong>r o serviço, corria para lá, montava<br />

as peças e às vezes trazia um bom pedaço <strong>de</strong> argila e fazia em casa<br />

também”. Nesta ativida<strong>de</strong>, Alice e outros funcionários do campus eram<br />

orientados pela professora Ruth Moraes Sant’anna Correa. Suas peças<br />

eram tão boas que foram expostas em São Paulo (SP).<br />

Mas as pausas para a arte eram apenas momentos <strong>de</strong> distração<br />

<strong>de</strong> uma rotina não menos divertida. A aposentada relembra com alegria<br />

e satisfação os dias que trabalhou na UEL, on<strong>de</strong> também colecionou<br />

muitas amiza<strong>de</strong>s. “Pra nós trabalhar era festa! Chegava no terminal [<strong>de</strong><br />

ônibus], encontrava todas as colegas, ia tudo pr’um lugar só... era muito<br />

bom!”, relembra sorri<strong>de</strong>nte. No ambiente <strong>de</strong> trabalho, as relações com<br />

os outros funcionários também eram boas. “Não tinha briga, não tinha<br />

converseiro, precisava ver! Era muito legal!”.<br />

Não foi à toa que a aposentadoria <strong>de</strong>ixou sauda<strong>de</strong>s. Durante 18<br />

anos, Alice trabalhou todos os dias, das 6h30 às 15h, na companhia<br />

<strong>de</strong> vários amigos. Hoje, viúva, mora com uma filha e, apesar <strong>de</strong><br />

fazer algumas ativida<strong>de</strong>s – limitadas pela osteoporose, que ela trata<br />

no Hospital <strong>de</strong> Clínicas da <strong>Universida<strong>de</strong></strong> –, sente falta do trabalho.<br />

“Naquela época a gente não ficava doente, (...) a gente andava em cima<br />

<strong>de</strong> geada, <strong>de</strong> chuva e não ficava doente. (...) Trabalhar é muito bom, a<br />

gente não tinha tempo para pensar em doença, em morte, nada não.<br />

Para nós era só alegria!”<br />

Para Alice, que precisou criar sozinha os filhos <strong>de</strong>pois que o<br />

marido a abandonou, a UEL tem um significado especial e até hoje<br />

ocupa um lugarzinho em sua vida. “A UEL para mim foi a minha mãe,<br />

meu marido, criei meus filhos tudo lá. Eu só tenho que elogiar a UEL<br />

e amo <strong>de</strong> coração, gosto muito <strong>de</strong>la (...). Eu fico com o radinho aqui<br />

sempre ligado na rádio da UEL”.<br />

Rosane Mioto<br />

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8


Alípio Rodrigues <strong>de</strong> Oliveira<br />

Alípio Rodrigues <strong>de</strong> Oliveira é mineiro,<br />

nascido em Teófilo Otoni. Mas, foi<br />

criado no Paraná. Chegou aqui muito<br />

pequeno, aos três anos, por isso, não<br />

tem lembranças <strong>de</strong> sua cida<strong>de</strong> natal.<br />

Segundo ele, os pais vieram em busca <strong>de</strong><br />

melhorar a vida. Primeiro a família <strong>de</strong><br />

Alípio morou em pequenas cida<strong>de</strong>zinhas<br />

no interior da Paraná; Fênix é uma <strong>de</strong>las.<br />

Passados alguns anos, a família veio para<br />

<strong>Londrina</strong>. Em 1970, os pais <strong>de</strong>cidiram<br />

voltar para o interior. Alípio tinha 15<br />

anos e resolveu ficar na cida<strong>de</strong>.<br />

A princípio, morou com os tios. Depois, resolveu que já era<br />

in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte o suficiente para viver só. E mudou-se para um<br />

pensionato. Morou sozinho, trabalhava com uns amigos. Morando no<br />

centro, Alípio divertia-se muito nos fins <strong>de</strong> semana. Ele conta, saudoso,<br />

que não havia nem meta<strong>de</strong> dos perigos <strong>de</strong> hoje. Podia caminhar nas<br />

ruas até tar<strong>de</strong>: “Não tinha violência, a gente andava tranquilo”. Porém,<br />

ele conta que, se era bom viver sozinho, sair com os amigos e divertirse<br />

muito, havia o outro lado: Alípio não tinha muito controle sobre o<br />

dinheiro que ganhava e muito menos como o gastava. “Era boa a vida<br />

<strong>de</strong> solteiro. Mas, não tinha futuro nenhum. Tudo que você pegava,<br />

gastava”. Ele assume que era menos responsável. A maturida<strong>de</strong> e<br />

estabilida<strong>de</strong> vieram quando, aos 22 anos, Alípio casou-se.<br />

Antes <strong>de</strong> se casar, Alípio já tinha encontrado sua profissão. Aos<br />

15 anos começou como autônomo. “Eu fazia <strong>de</strong> tudo um pouco”, conta.<br />

Ele fala que naquela época não tinha problema um menino <strong>de</strong> 15 anos<br />

trabalhar ou mesmo morar sozinho: “As coisas eram diferentes”.<br />

Trabalhando como autônomo teve a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> conhecer a<br />

profissão <strong>de</strong> encanador. Assim, começou na ativida<strong>de</strong> que exerceu por<br />

muitos anos.<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

9


Antes <strong>de</strong> trabalhar na UEL, Alípio já tinha trabalhado em outras<br />

empresas <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>, o que facilitou sua aprovação no concurso<br />

para trabalhar na <strong>Universida<strong>de</strong></strong>, em 1990. Prova teórica e prática, foi<br />

aprovado e começou a exercer a sua função.<br />

Nos primeiros anos trabalhou sem problemas. Com o tempo<br />

vieram as dores, muitas dores. “Eu não aguentava andar. A minha<br />

perna (esquerda) ficou mais curta que a outra. E eu não conseguia mais<br />

esticar. Os pés inchavam”. Alípio conta que faltavam os equipamentos<br />

<strong>de</strong> proteção e, em <strong>de</strong>corrência <strong>de</strong>sse fato, adquiriu uma doença<br />

chamada artrite crônica. Como as dores eram muitas, Alípio não<br />

podia mais trabalhar como encanador. Então, passou a trabalhar na<br />

área burocrática: “Eu mexia com orçamento, com as papeladas. Fazia<br />

orçamentos, solicitações. Distribuía serviço quando o chefe não estava.<br />

E acompanhava a execução <strong>de</strong> algumas tarefas no campus”. Alípio conta<br />

que mesmo esses serviços mais leves lhe causavam muito sofrimento.<br />

Ainda assim, trabalhou por oito anos, até se aposentar. “Foi uma vida<br />

muito difícil até o médico enten<strong>de</strong>r que eu não tinha mais condição <strong>de</strong><br />

trabalhar. Eu travava tudo, os ombros, as mãos, os pés”.<br />

Alípio está aposentado há três anos, por invali<strong>de</strong>z. Já passou<br />

por cirurgias e internações. Esteve por um tempo impossibilitado <strong>de</strong><br />

andar e por pouco não entrou em coma. Hoje está melhor. E vive com<br />

restrições impostas pela doença. “A vida nunca mais vai ser normal”.<br />

Os remédios têm um preço alto, mas são garantidos pelo governo.<br />

Um alívio, já que não po<strong>de</strong> ficar sem eles. Ele fala que nem sempre foi<br />

assim, já gastou muito com remédios.<br />

Alípio tem muitas lições para ensinar. Apesar das dificulda<strong>de</strong>s,<br />

não per<strong>de</strong>u a alegria <strong>de</strong> viver. E como disse um sábio: “Quem canta os<br />

males espanta”. Alípio conta. No tempo em que era moço e se divertia<br />

nas noites londrinenses, Alípio cantava nos bares. Hoje, alegra os<br />

ambientes que frequenta, mas cantar mesmo só para os amigos. “Só<br />

quando morrer eu vou parar”, afirma.<br />

Léia Dias Sabóia<br />

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Almerinda Ferreira Duarte<br />

“Eu estava me arrumando para ir viajar<br />

para a praia quando me chamaram.<br />

Minha nora falou: ‘A senhora não vai para<br />

a praia mais não. A universida<strong>de</strong> falou<br />

para a senhora estar lá amanhã, às nove<br />

horas’. Era para eu estar às nove horas do<br />

dia nove <strong>de</strong> março e eu fui, muito feliz.”<br />

Assim, em 1994, começava, na UEL, a<br />

história <strong>de</strong> Almerinda Duarte. Os doze<br />

últimos anos em um emprego registrado,<br />

antes da aposentadoria, encerram um ciclo<br />

<strong>de</strong> muito trabalho e <strong>de</strong>dicação à família.<br />

Nascida em Sapucaia, no Rio <strong>de</strong> Janeiro, Almerinda mudou-se<br />

para Além Paraíba, em Minas Gerais, com 11 anos. Nove anos mais<br />

tar<strong>de</strong> chegou à <strong>Londrina</strong>. Aqui ela criou os filhos, trabalhando muito<br />

em gran<strong>de</strong>s hotéis e lojas <strong>de</strong> roupas. Olhando para trás, Almerinda<br />

acredita que naquela época era mais fácil encontrar trabalho. “Ganhei<br />

meu filho; criei ele trabalhando, mas era difícil financeiramente. A<br />

gente trabalhava muito e ganhava pouco”, relembra.<br />

Atraída pela estabilida<strong>de</strong> do emprego público e incentivada pelos<br />

filhos, Almerinda prestou um concurso para trabalhar na UEL como<br />

auxiliar <strong>de</strong> serviços gerais. No dia 23 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1994 começou a<br />

trabalhar no Hospital <strong>de</strong> Clínicas (HC) da <strong>Universida<strong>de</strong></strong>, inaugurado<br />

em 18 <strong>de</strong> maio do mesmo ano. “Eu entrei lá e o HC não tinha nada, era<br />

novinho. Nós que lavamos para inaugurar”, explica.<br />

No hospital, Almerinda trabalhou durante oito anos na clínica<br />

<strong>de</strong> oftalmologia e, posteriormente, no Setor 4, on<strong>de</strong> passou a contar<br />

com um ajudante, por causa <strong>de</strong> problemas na coluna. Após quase treze<br />

anos trabalhando para a <strong>Universida<strong>de</strong></strong>, precisou se aposentar por causa<br />

<strong>de</strong>ste problema <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>. Além disso, Almerinda já havia completado<br />

65 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> e 30 <strong>de</strong> carteira assinada. O dia 10 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong><br />

2006 marca o seu último dia <strong>de</strong> trabalho na UEL. “Eu chorei muito<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

11


quando saí, sofri muito, fiquei doente, quase entrei em <strong>de</strong>pressão. Pedi<br />

para voltar, mas a minha chefia falou que não, que quem aposentou<br />

tem que sair, não po<strong>de</strong> voltar. Mas agora já acostumei, graças a Deus<br />

estou bem”, relembra.<br />

Assim que saiu da <strong>Universida<strong>de</strong></strong>, Almerinda pensou em buscar<br />

um novo emprego, mas não levou a i<strong>de</strong>ia adiante. Hoje, após 46 anos<br />

<strong>de</strong> trabalho, <strong>de</strong>dica-se ao serviço doméstico e principalmente à família,<br />

“muito unida e muito bonita”. Almerinda se separou do marido quando<br />

os filhos ainda eram bem pequenos e trabalhou muito para criá-los<br />

sozinha. Aos 14 anos todos começaram a trabalhar para ajudar nas<br />

<strong>de</strong>spesas. A família cresceu e hoje Almerinda tem quatro filhos, cinco<br />

netos e dois bisnetos.<br />

Nesta vida marcada por lutas e conquistas, a UEL tem um lugar<br />

especial. Almerinda mantém contato com os colegas <strong>de</strong> trabalho, que,<br />

como muitos outros amigos <strong>de</strong> outros empregos, já fazem parte <strong>de</strong> sua<br />

história. “Com meus colegas <strong>de</strong> trabalho eu nunca tive problema. Até<br />

hoje nós nos damos muito bem, nós nos falamos por telefone, toda vez<br />

que nos encontramos a gente se abraça, adoro minhas amigas, gosto <strong>de</strong><br />

todos lá, não tenho queixa <strong>de</strong> nada, nunca tive”. Com o mesmo carinho<br />

que reserva aos amigos, Almerinda emociona-se ao expressar o que o<br />

emprego na UEL representou em sua vida. “Eu sou muito feliz, graças a<br />

Deus. Eu passei muita tristeza financeiramente quando eu cheguei em<br />

<strong>Londrina</strong>, com meus filhos pequenos, mas eu tive muitas recompensas.<br />

Deus foi maravilhoso para mim e me <strong>de</strong>u essa benção <strong>de</strong>sse emprego.<br />

Então eu sou muito feliz, muito feliz mesmo”.<br />

Rosane Mioto<br />

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Altino Bispo <strong>de</strong> Oliveira<br />

“Com a mudança das leis, a <strong>Universida<strong>de</strong></strong><br />

se transformou em uma instituição que não<br />

po<strong>de</strong> ficar com funcionários sem estudos.<br />

Essa oportunida<strong>de</strong> que a UEL oferece vem<br />

nos tirar do buraco. Acredito que vai chegar<br />

um tempo em que para trabalhar aqui se<br />

precisará ter pelo menos um grauzinho <strong>de</strong><br />

estudo”.<br />

O <strong>de</strong>poimento do pedreiro Altino Bispo<br />

<strong>de</strong> Oliveira ficou registrado no livro do<br />

Programa <strong>de</strong> Ação Educativa para Adultos,<br />

publicado pela UEL e cujo título, “Um<br />

Grauzinho <strong>de</strong> Estudo”, nasceu <strong>de</strong> seu texto. Analfabeto, Altino não<br />

se conformava por não po<strong>de</strong>r receber o pagamento com a assinatura<br />

do nome, mas carimbando o polegar no papel - situação <strong>de</strong> outros<br />

colegas também. Quando a universida<strong>de</strong> disponibilizou uma classe<br />

<strong>de</strong> alfabetização para seus funcionários, Altino teve a chance <strong>de</strong><br />

apren<strong>de</strong>r a ler e escrever. Infelizmente, o glaucoma não permitiu que<br />

ele continuasse.<br />

Apesar disso, Altino não per<strong>de</strong>u o bom humor e foi entre muitos<br />

sorrisos que nos contou sua história. Nascido em Ruy Barbosa, na<br />

Bahia, chegou à <strong>Londrina</strong> em 1951. Sempre exercendo a ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

pedreiro, Altino trabalhou em duas construtoras até chegar à UEL. Em<br />

novembro <strong>de</strong> 1980 começava uma história que <strong>de</strong>ixou muitas obras – e<br />

muitas amiza<strong>de</strong>s – espalhadas pelo campus.<br />

Contratado por indicação <strong>de</strong> colegas dos outros empregos pelos<br />

quais havia passado, Altino sempre se empenhou muito - e muito bem.<br />

Ajudou a construir vários prédios no campus, como a se<strong>de</strong> do TAM -<br />

o antigo Departamento <strong>de</strong> Tecnologia <strong>de</strong> Alimentos e Medicamentos.<br />

Certa vez, a equipe <strong>de</strong> obras da universida<strong>de</strong> foi convocada para<br />

construir um prédio <strong>de</strong> dois pavimentos - próximo ao TAM -, porque<br />

nenhuma construtora aceitava a obra, por causa do apertado prazo <strong>de</strong><br />

entrega <strong>de</strong> 55 dias. Junto com a equipe, Altino trabalhou dia e noite<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

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e, assim, conseguiram entregar o prédio antes do prazo final. “Eles [a<br />

equipe da UEL] davam janta para nós e levavam todo mundo em casa<br />

para dormir umas duas horas e voltar no outro dia. Às oito, nove horas<br />

tinha que estar lá”, recorda.<br />

Em dias normais, quando não havia um curto prazo <strong>de</strong> entrega,<br />

Altino trabalhava das oito da manhã às cinco da tar<strong>de</strong>, <strong>de</strong> segunda a<br />

sexta. Por causa do capricho, era muito requisitado para os serviços<br />

que eram solicitados na prefeitura do campus. “Só dava eu! Às vezes<br />

mandavam outro e ‘não, não quero fulano não, quero o seu Altino’”,<br />

diverte-se. A esposa A<strong>de</strong>mália explica: “Ele era muito obediente. Os<br />

serviços que os outros que já estavam lá há mais tempo não queriam<br />

fazer ele fazia”. Tanta <strong>de</strong>dicação fez com que Altino <strong>de</strong>ixasse a UEL como<br />

um funcionário exemplar. “Dos anos que eu trabalhei na universida<strong>de</strong><br />

eu não tive nenhuma falha, nem me aci<strong>de</strong>ntei. E não teve uma pequena<br />

reclamação <strong>de</strong> mim lá <strong>de</strong>ntro da UEL. Eu tirei nota cem!”, relembra,<br />

sempre sorri<strong>de</strong>nte. Aposentou-se em 1997.<br />

O relacionamento com todos que frequentavam o campus<br />

sempre foi bom. Para Altino, os estudantes e professores são sempre<br />

“bacanas”. Além disso, a aposentadoria não o separou dos colegas <strong>de</strong><br />

trabalho, que até hoje ele visita. Mas Altino explica: “Se eu for com<br />

pressa nem preciso ir, porque eles não <strong>de</strong>ixam eu sair. Graças a Deus<br />

eu <strong>de</strong>ixei muitas amiza<strong>de</strong>s lá”. Então foi bom trabalhar na UEL, seu<br />

Altino? “Uma beleza! Dos três empregos que eu tive aqui nenhum tem<br />

<strong>de</strong>feito, mas em primeiro lugar eu fico com a universida<strong>de</strong>”.<br />

Rosane Mioto<br />

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Ama<strong>de</strong>u Artur<br />

Em 1971, ano em que a <strong>Universida<strong>de</strong></strong><br />

<strong>Estadual</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> foi reconhecida,<br />

Ama<strong>de</strong>u Artur começou a trabalhar<br />

como servente no antigo Hospital<br />

Universitário. Depois, o funcionário<br />

passou para a construção civil na<br />

UEL. Neste setor ajudou a construir a<br />

reitoria e o centro esportivo.<br />

Quando veio para a construção do<br />

prédio que seria a reitoria, lembra<br />

Artur, só havia a clareira, ou melhor,<br />

ainda não havia nada. No lugar<br />

eles chegaram a cultivar milho, por<br />

exemplo.<br />

O funcionário não se esquece do dia em que recebeu o primeiro<br />

pagamento. O salário veio em cheque e ele recebeu em uma escada<br />

no Centro <strong>de</strong> Ciências Biológicas (CCB), perto da antiga CAE<br />

(Coor<strong>de</strong>nadoria <strong>de</strong> Assuntos Estudantis).<br />

Do tempo em que trabalhou na <strong>Universida<strong>de</strong></strong>, o funcionário<br />

guarda muitas recordações, como <strong>de</strong> quando, para construir o CEFE<br />

(Centro <strong>de</strong> Educação Física e Esporte), tiveram que puxar uma<br />

mangueira como aquelas <strong>de</strong> quintal <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o CCB.<br />

Para resolver o problema da falta d’água no centro esportivo,<br />

os pedreiros da <strong>Universida<strong>de</strong></strong> cavaram um poço artesiano <strong>de</strong> quatro<br />

metros <strong>de</strong> diâmetro. Cavaram até encontrar água, mas logo <strong>de</strong>pois o<br />

abastecimento da UEL <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> ser dos poços e passou a ser <strong>de</strong> água<br />

do rio Tibagi – que fica armazenada na caixa d’água perto do calçadão<br />

na altura do CECA <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira.<br />

Em 1974 a CAE estava precisando <strong>de</strong> um auxiliar <strong>de</strong> serviços<br />

gerais. “Então o mestre <strong>de</strong> obras, o Zezito, me mandou para lá. Era<br />

para ser por alguns meses, acabei ficando três anos”, lamenta. Naquela<br />

época, tinha que trabalhar também aos sábados.<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

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Artur conseguiu “com muito custo” que o mandassem fazer o<br />

mesmo serviço em uma obra na prefeitura do campus. Mais tar<strong>de</strong> o<br />

funcionário ocupou-se <strong>de</strong> outra forma: fazendo ferramenta para os<br />

pedreiros da UEL.<br />

Naquele tempo a <strong>Universida<strong>de</strong></strong> fornecia as ferramentas para os<br />

pedreiros e Ama<strong>de</strong>u ficou responsável pela confecção, para que eles<br />

sempre tivessem os instrumentos <strong>de</strong> trabalho a<strong>de</strong>quados.<br />

Na oficina ele também tinha a função <strong>de</strong> fazer telas. As telas,<br />

confeccionadas em uma máquina própria, eram utilizadas nas<br />

lixeiras, no Hospital Veterinário e até hoje po<strong>de</strong>m ser encontradas nos<br />

alambrados do Centro <strong>de</strong> Educação Física e nas divisas da UEL.<br />

A experiência na construção ajudou-o a trabalhar no mutirão <strong>de</strong><br />

construção <strong>de</strong> casas do bairro em que mora e lá conseguiu uma casa.<br />

Neste mutirão acabou conhecendo a esposa com quem está há 16 anos<br />

e que também trabalha na UEL.<br />

Ama<strong>de</strong>u se aposentou da UEL em 1998. Agora, ele conta que ajuda<br />

em casa. “Eu lavo roupa, faço janta”, diz o funcionário aposentado.<br />

Poliana Lisboa <strong>de</strong> Almeida<br />

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Ana Carolina Santini<br />

O sotaque <strong>de</strong>nuncia logo no primeiro<br />

contato que Ana Carolina Santini<br />

não é brasileira. Mais uns minutos<br />

<strong>de</strong> conversa e já é possível i<strong>de</strong>ntificar<br />

o jeitinho brasileiro <strong>de</strong> falar. No<br />

entanto, em alguns momentos, as<br />

línguas se misturam. E o português<br />

não dá conta <strong>de</strong> traduzir todas as<br />

informações. Aí vem uma série <strong>de</strong><br />

palavras resultantes da combinação<br />

<strong>de</strong> dois idiomas, aos leigos, parecidos<br />

entre si, mas que na realida<strong>de</strong>,<br />

guardam muitas diferenças. O importante mesmo é saber que o produto<br />

final é totalmente compreensível ao interlocutor.<br />

Ana Carolina é natural do Uruguai. Nasceu na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Taquarembó, a 100 km da cida<strong>de</strong> brasileira Santana do Livramento,<br />

na fronteira do país. A menina camponesa, como ela mesma se <strong>de</strong>fine,<br />

viveu a infância com a família no meio rural. Foi essa fase <strong>de</strong> sua vida<br />

que <strong>de</strong>terminou o seu futuro profissional.<br />

Ana Carolina começou a fazer o curso <strong>de</strong> Serviço Social na capital<br />

<strong>de</strong> seu país, Montevidéu. Simultaneamente cursava Belas Artes.<br />

“Chegou o terceiro ano, e Serviço Social <strong>de</strong>mandava muito, tive que<br />

optar por uma das duas profissões. Optei por Serviço Social, achava<br />

que eu me <strong>de</strong>via mais a população, a melhoria e o bem-estar, lutar um<br />

pouco pelos direitos que a parte do belo, do artístico”.<br />

Depois <strong>de</strong> concluir o curso, prestou concurso público, trabalhou<br />

no Ministério do Trabalho e na <strong>Universida<strong>de</strong></strong>. Ainda no Uruguai fez<br />

mestrado. Ela conta que os anos 1960 foram complicados politicamente:<br />

“De fato havia intervenção dos órgãos públicos e o Serviço Social,<br />

principalmente, era muito perseguido”, relembra.<br />

Duas décadas se passaram e Ana Carolina veio para o Brasil,<br />

em 1979. O primeiro lugar on<strong>de</strong> esteve foi no interior do estado <strong>de</strong><br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

17


São Paulo. Não se passou muito tempo até ser convidada para vir a<br />

<strong>Londrina</strong>: “Eu achei a cida<strong>de</strong> fantástica”.<br />

Em 1981 começou a trabalhar na UEL. “Entrei para o Departamento<br />

<strong>de</strong> Serviço Social. Como eu havia atuado muito no Uruguai com<br />

populações rurais, trabalhei com projeto <strong>de</strong> extensão por seis anos”. O<br />

projeto era realizado nos distritos <strong>de</strong> Paiquerê e Guaravera. O objetivo<br />

era criar um canal <strong>de</strong> comunicação entre os conhecimentos produzidos<br />

na <strong>Universida<strong>de</strong></strong> e a população. Sempre respeitando a cultura e os<br />

valores da comunida<strong>de</strong>. Uma gran<strong>de</strong> equipe interdisciplinar promovia<br />

ações <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento social e trabalhava conceitos <strong>de</strong> cidadania,<br />

com o método <strong>de</strong> Paulo Freire.<br />

Dentro do projeto existiam outros subprojetos, como o que era<br />

realizado com os boias-frias em Guaravera, cujo um dos objetivos era<br />

abrir caminho para o agrônomo: “Para que não parecesse ‘o menino<br />

da cida<strong>de</strong> que vem com seus conhecimentos para uma pessoa que não<br />

sabe nada’”.<br />

Esse cuidado especial que Ana Carolina tem com a população<br />

rural foi herdado dos tempos da infância. “Nasci no meio rural. Eu via<br />

as dificulda<strong>de</strong>s. Por isso me <strong>de</strong>diquei a essa parte do campesinato, o<br />

universo rural para mim era muito conhecido. Eu queria compartilhar<br />

os conhecimentos”. Ela relembra que aqui no Brasil também foi difícil<br />

trabalhar com o método <strong>de</strong> Paulo Freire, justamente, por questões<br />

políticas. O país ainda estava em processo <strong>de</strong> re<strong>de</strong>mocratização. “Tudo<br />

era aos poucos, <strong>de</strong>vagar, tinha que tomar cuidado”.<br />

Depois, Ana Carolina fez doutorado na USP. O tema <strong>de</strong> sua<br />

tese veio da própria experiência no projeto. “Eu havia percebido, nos<br />

últimos tempos, que a gente competia muito com a televisão. As pessoas<br />

não queriam vir nas reuniões por causa da novela, se falava mais em<br />

novela”. Ana Carolina analisou, por meio da Semiótica, a influência que<br />

a mídia exercia sobre a população rural. Fez pós-doutorado, escreveu<br />

um livro, ganhou bolsa <strong>de</strong> pesquisa no CNPq (Conselho Nacional <strong>de</strong><br />

Desenvolvimento Científico e Tecnológico).<br />

Os anos passados na <strong>Universida<strong>de</strong></strong> faz Ana Carolina refletir: “A<br />

UEL era uma pequena comunida<strong>de</strong>. As relações eram diferentes entre<br />

os professores. O café era comum. Depois foi crescendo, crescendo (...)<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

18


Hoje é uma gran<strong>de</strong> cida<strong>de</strong> e não se conhece mais. Tudo é individualizado.<br />

É a mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>, mas, isso cria uma <strong>Universida<strong>de</strong></strong> mais fria”.<br />

Aposentou-se há menos <strong>de</strong> um ano. “Estou <strong>de</strong> férias”, brinca.<br />

Mas isso não significa não fazer nada. Pelo contrário. Embora tenha<br />

<strong>de</strong>ixado o curso <strong>de</strong> Artes, Ana Carolina nunca abandonou a área.<br />

Continuava pintando e esculpindo. E o hobby, por acaso, tornou-se sua<br />

nova profissão.<br />

De posse <strong>de</strong> uma câmera fotográfica digital, em frente a belas<br />

flores e com muita sensibilida<strong>de</strong>, ela <strong>de</strong>scobriu uma nova forma <strong>de</strong><br />

fazer arte. Com a ajuda <strong>de</strong> um programa <strong>de</strong> computador, as flores<br />

são transformadas em mandalas. “A mandala é o átomo. O átomo<br />

tem essa forma e se você separa (...) é a própria unida<strong>de</strong>. E tem lei<br />

matemática, física”, explica. Posteriormente, essas imagens artísticas<br />

são emolduradas e transformam-se em quadros, bolsas e luminárias.<br />

“Eu admiro a flor, porque a flor nasceu <strong>de</strong> uma semente, que você<br />

tem que esperar, passa por tantas situações, nasce do próprio estrume<br />

e <strong>de</strong>pois nasce aquela coisa maravilhosa”, fala, orgulhosa da matériaprima<br />

<strong>de</strong> seu trabalho. E faz com que cada um seja único: “A flor não<br />

será a mesma, o ângulo <strong>de</strong> sol não será igual, a cor também não”.<br />

Léia Dias Sabóia<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

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Ana da Silva Stuqui<br />

Ana da Silva Stuqui entrou para a zeladoria<br />

do CCE dia 14 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1982. Antes, ela<br />

costurava e trabalhara um ano em uma fábrica.<br />

Já tinha pensado em prestar o concurso na<br />

UEL, mas contaram para ela que tinha que<br />

ficar sem roupa para o exame médico, o que<br />

levou Ana a adiar a <strong>de</strong>cisão. Na verda<strong>de</strong> ela<br />

não precisou ficar nua na frente do médico e<br />

entre 115 mulheres foi escolhida.<br />

Ela conta que seus anos na <strong>Universida<strong>de</strong></strong><br />

foram maravilhosos, que os professores do<br />

Departamento <strong>de</strong> Física, em que trabalhou<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> o terceiro ano, sempre gostaram <strong>de</strong>la.<br />

Mas Ana trabalhou muito. Limpava os banheiros duas vezes ao<br />

dia, o corredor, fazia o café duas vezes e fazia pão <strong>de</strong> leite, bolo e bolacha<br />

para os professores. E os alunos passavam e comentavam “hum... mais<br />

que cheiro tia”.<br />

Ela é natural <strong>de</strong> João Ramalho (SP), e veio para Urai com seis<br />

anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>. Também morou em Rancho Alegre antes <strong>de</strong> se mudar<br />

com o marido para <strong>Londrina</strong>. Eles sempre moraram no Jardim Tókio e<br />

<strong>de</strong> lá Ana caminhava para a UEL antes do expediente.<br />

Quando ela entrava ao meio-dia, passava a manhã costurando<br />

para complementar o orçamento. Depois começou trabalhar <strong>de</strong> manhã.<br />

Vinte e dois anos na UEL quando ela se aposentou. A coluna doía<br />

e assim que parou começou a cuidar do marido, o porteiro aposentado<br />

Hermes Stuqui. O casal tem três filhos, um <strong>de</strong> criação.<br />

Depois da aposentadoria, além <strong>de</strong> ficar com o marido, Ana cuida<br />

da casa, dos netos e do jardim. A funcionária também aproveita para<br />

ler, ativida<strong>de</strong> que sempre gostou. “Eu não estu<strong>de</strong>i muito, mas sou<br />

sensível e guardo as matérias que gosto”.<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

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Enfermagem: uma paixão<br />

A enfermeira e professora Ana Irma Rodrigues ainda <strong>de</strong>monstra,<br />

aos 71 anos, a força e o amor que a impulsionaram para estudar,<br />

praticar e ensinar sua gran<strong>de</strong> paixão: a enfermagem<br />

No final da década <strong>de</strong> 1930, nascia em<br />

Sertanópolis uma menina que no futuro<br />

mudaria os rumos da enfermagem no<br />

cenário nacional. Des<strong>de</strong> a infância, Ana<br />

Irma Rodrigues chamava atenção pela<br />

inteligência e aplicação nos estudos<br />

e, por isso, fez nascer em seu pai o<br />

sonho <strong>de</strong> vê-la formada em medicina.<br />

Durante muito tempo, o veemente<br />

incentivo não a <strong>de</strong>ixou imaginar outro<br />

ofício. Entretanto, após a mudança para Curitiba em busca <strong>de</strong> realizar<br />

este <strong>de</strong>sejo, um encontro inusitado <strong>de</strong>sviou o caminho da jovem<br />

estudante que se tornaria a primeira enfermeira formada do norte do<br />

Paraná e uma das responsáveis pela criação do curso <strong>de</strong> enfermagem da<br />

<strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>Estadual</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>, pioneiro na região. Sua atuação na<br />

área da saú<strong>de</strong> é extensa, assim como sua batalha pela humanização dos<br />

serviços prestados aos pacientes. Se, por um lado, a carreira escolhida<br />

não foi a estimulada pelo pai, o orgulho proporcionado, sem dúvidas<br />

não foi menor.<br />

A simpática senhora que nos recebe na ampla e aconchegante<br />

sala <strong>de</strong> estar do apartamento on<strong>de</strong> vive hoje ao lado da mãe marcou<br />

para sempre seu nome na história da saú<strong>de</strong> do Brasil. Sem <strong>de</strong>ixar o<br />

sorriso cativante se apagar <strong>de</strong> seu rosto, nos conta como tudo começou:<br />

“Éramos <strong>de</strong>z irmãos, cinco homens e cinco mulheres. Nosso primeiro<br />

lar foi numa casa <strong>de</strong> palmito e teto <strong>de</strong> tabuinhas. Iniciamos os estudos<br />

na escola rural, mas meu pai fez questão que estudássemos na cida<strong>de</strong><br />

para ter uma melhor formação. A partir do quarto ano primário, viemos<br />

estudar no Colégio Londrinense em regime <strong>de</strong> internato”.<br />

Ao encerrar o curso científico (ensino médio) no tradicional<br />

colégio <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>, foi para Curitiba, on<strong>de</strong> se encontrou, por acaso<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

21


com uma colega da escola. Pensativa, ela explica que esta coincidência<br />

mudou seus planos, às vésperas do vestibular: “Esta colega já estava<br />

fazendo enfermagem e me convidou para fazer também. Não sei bem<br />

por que, mas acabei aceitando o convite. Fiz o vestibular, passei e<br />

gostei”. A princípio, a notícia causou nos familiares um espanto do qual<br />

jamais irá se esquecer: “Ninguém entendia porque eu tinha escolhido<br />

aquela profissão <strong>de</strong>sconhecida, sem status nenhum e carregada <strong>de</strong><br />

preconceito”.<br />

Felizmente, a jovem aspirante a enfermeira não se <strong>de</strong>ixou<br />

influenciar pela <strong>de</strong>sconfiança inicial. Dedicou-se ao máximo à<br />

formação e já se <strong>de</strong>stacava em sua turma na Escola <strong>de</strong> Enfermagem<br />

Madre Léonie, da <strong>Universida<strong>de</strong></strong> Católica do Paraná, única a oferecer o<br />

curso <strong>de</strong>ntro do estado à época. Neste período encontrou a afinida<strong>de</strong><br />

com área <strong>de</strong> cirurgia, que permearia toda sua carreira profissional.<br />

Os primeiros passos<br />

Recém-formada, regressou a <strong>Londrina</strong> já com emprego<br />

assegurado, garantia que o diploma favoreceu. “Comecei a trabalhar<br />

no Hospital Mo<strong>de</strong>lo, que ainda era pequeno, mas tinha a pretensão <strong>de</strong><br />

crescer. Fui contratada para organizar o centro cirúrgico <strong>de</strong>les”.<br />

Em meio à realida<strong>de</strong> bastante precária comum aos hospitais<br />

naquele tempo, a enfermeira não teve <strong>de</strong>scanso nos primeiros anos <strong>de</strong><br />

profissão: “a assistência <strong>de</strong> enfermagem era mais <strong>de</strong> 90% exercida por<br />

‘práticos’ <strong>de</strong> enfermagem [pessoas sem qualquer formação na área].<br />

Essa situação obrigava as irmãs e a mim a cumprir longas jornadas <strong>de</strong><br />

trabalho, pois não havia a quem <strong>de</strong>legar tarefas <strong>de</strong> maior complexida<strong>de</strong>”,<br />

explana. As irmãs estavam locadas na Santa Casa [Hospital Santa Casa<br />

<strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>] e Ana Irma, no Hospital Mo<strong>de</strong>lo, e posteriormente no<br />

Hospital Evangélico [<strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>].<br />

A carência <strong>de</strong> profissionais qualificados era problema constante<br />

nestes tempos. Ana Irma comenta que o panorama só começou a se<br />

modificar a partir da fundação da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina do Norte do<br />

Paraná, que aumentou a <strong>de</strong>manda por enfermeiras. No mesmo ano em<br />

que a instituição começou a funcionar, ela foi contemplada com uma<br />

bolsa da CAPES (Coor<strong>de</strong>nação <strong>de</strong> Aperfeiçoamento <strong>de</strong> Pessoal <strong>de</strong> Nível<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

22


Superior) e cursou na USP (<strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> São Paulo) a especialização<br />

em chefia e assistência <strong>de</strong> enfermagem na unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> centro cirúrgico.<br />

Ao longo do curso, começou a <strong>de</strong>senvolver <strong>de</strong>spretensiosamente suas<br />

habilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> professora. Por já possuir alguns anos <strong>de</strong> prática,<br />

auxiliava os mestres na orientação das colegas que não possuíam a<br />

mesma vivência.<br />

Com o título <strong>de</strong> especialista, retornou a <strong>Londrina</strong> e foi contratada<br />

pela Santa Casa para chefiar, ao lado da irmã Sílvia Esteves, companheira<br />

da especialização, o centro cirúrgico do hospital e ministrar aulas no<br />

curso <strong>de</strong> auxiliares <strong>de</strong> enfermagem da Instituição, seu primeiro emprego<br />

como professora. Ana Irma ainda não sabia que o magistério seria uma<br />

das muitas missões <strong>de</strong> sua vida e fala com carinho do início nas salas <strong>de</strong><br />

aula: “Foi muito bom, porque, até o curso <strong>de</strong> especialização, eu nunca<br />

tinha pensado em dar aula, achava que não tinha jeito para isso”.<br />

Antes <strong>de</strong> mergulhar <strong>de</strong> cabeça na vida acadêmica por meio da UEL,<br />

a enfermeira ainda atuou no Hospital Evangélico, on<strong>de</strong> participou <strong>de</strong><br />

momentos importantes da medicina <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>. Em 1969, integrava<br />

a equipe que realizou a primeira cirurgia cardíaca extracorpórea da<br />

região. “Vencemos as <strong>de</strong>ficiências <strong>de</strong> pessoal e material e organizamos<br />

a assistência <strong>de</strong> enfermagem capaz <strong>de</strong> sustentar o êxito <strong>de</strong>ssa cirurgia.<br />

Ainda não existiam as unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> terapia intensiva (UTI), portanto,<br />

eu improvisei num quarto o ambiente próprio para a recuperação do<br />

paciente”, gaba-se.<br />

O curso <strong>de</strong> enfermagem na UEL<br />

No início dos anos 1970, com quase <strong>de</strong>z anos <strong>de</strong> carreira<br />

profissional, a enfermeira recebeu mais um convite importante.<br />

Conhecida por sua ampla e competente atuação nos principais<br />

hospitais da cida<strong>de</strong>, Ana Irma já havia conquistado a confiança<br />

da maioria dos médicos com quem trabalhou. Um <strong>de</strong>les, o doutor<br />

Ascêncio Garcia Lopes, primeiro reitor da recém-fundada UEL. Foi<br />

ele que fez a “convocação” para ela organizar o curso <strong>de</strong> enfermagem<br />

na <strong>Universida<strong>de</strong></strong>. Com um semblante que certamente lembra a sua<br />

surpresa à época, Ana Irma se recorda: “Eu não imaginava dar aula na<br />

<strong>Universida<strong>de</strong></strong>, muito menos organizar o curso! Mas aqueles médicos<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

23


que me conheciam, principalmente os cirurgiões, como o doutor<br />

Ascêncio, me chamaram. Eu e mais uma colega, a Diva Cristóffoli,<br />

fizemos a entrevista com ele e fomos contratadas imediatamente”.<br />

O contrato foi sinônimo <strong>de</strong> muito trabalho, o que não <strong>de</strong>sanimou<br />

a brava enfermeira, acostumada a vencer <strong>de</strong>safios. A lembrança é<br />

certamente agradável: “Foi bárbaro! A gente trabalhava sábado,<br />

domingo, <strong>de</strong> dia e à noite. Éramos só nós duas para fazer tudo, mas era<br />

bom”. Para assumir tamanha responsabilida<strong>de</strong>, ela passou a se <strong>de</strong>dicar<br />

exclusivamente à UEL, tanto como docente quanto como profissional,<br />

no Hospital Universitário da instituição (HU), chefiando o centro<br />

cirúrgico.<br />

Inicialmente ocupadas com as questões administrativas para<br />

implantação do curso, as duas enfermeiras eram também as únicas<br />

professoras da Instituição a princípio. De acordo com o avanço da<br />

primeira turma <strong>de</strong> enfermagem para as séries seguintes da graduação,<br />

novos professores foram contratados gradativamente. Mas Ana Irma,<br />

que também lecionou para o curso <strong>de</strong> medicina, não <strong>de</strong>ixou mais as<br />

salas <strong>de</strong> aulas até se aposentar. Gran<strong>de</strong> parte dos alunos tornava-se<br />

colegas <strong>de</strong> trabalho posteriormente e, assim, mantinha o vínculo com<br />

a maioria <strong>de</strong>les. “O relacionamento com os alunos era ótimo. Eles<br />

eram muito próximos, procuravam a gente, pediam ajuda, sabiam que<br />

estávamos ali o tempo todo à disposição. Muitas vezes nós passávamos<br />

a tar<strong>de</strong> inteira estudando juntos, ensinando algum aluno que tinha que<br />

instrumentar no dia seguinte, por exemplo. Era um ambiente que eu<br />

gostava muito e sinto falta”, recorda-se.<br />

O mestrado – a cirurgia no Brasil antes e <strong>de</strong>pois <strong>de</strong><br />

uma tese<br />

Sempre preocupada em aprimorar sua formação, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong><br />

ingressar na UEL, Ana Irma conseguiu outra bolsa <strong>de</strong> estudo da CAPES,<br />

<strong>de</strong>sta vez para realizar seu mestrado na USP. “Graças à oportunida<strong>de</strong><br />

dada pela UEL e a CAPES, tive o privilégio <strong>de</strong> ser aluna do primeiro<br />

curso <strong>de</strong> mestrado do Brasil e a primeira mestre em enfermagem no<br />

Paraná”, diz com gratidão.<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

24


A pesquisa foi a contribuição mais expressiva da mestra para<br />

a área <strong>de</strong> enfermagem. O objetivo <strong>de</strong> Ana Irmã era contribuir para<br />

melhorar a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> atendimento aos pacientes no período<br />

trans-operatório, como ela própria elucida: “A minha tese era sobre a<br />

percepção e opiniões dos pacientes durante o transoperatório, ou seja,<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> quando entram no centro cirúrgico até o momento em que saem.<br />

Como eles se sentiam naquele ambiente? Como ouviam o que era falado?<br />

Isso tudo eles me contaram. Entrevistei mais <strong>de</strong> 400 pacientes”. Para<br />

realizar o estudo, ela entrou em contato com anestesistas dos Hospitais<br />

Evangélico, Santa Casa e HU e pedia que eles não aplicassem anestesia<br />

geral nos pacientes. Acordados, mantinham a percepção durante toda<br />

a cirurgia e, assim, tinham condições <strong>de</strong> relatá-la posteriormente.<br />

Os resultados, surpreen<strong>de</strong>ntes para as equipes médicas da época<br />

que não se atentavam à percepção do paciente durante a cirurgia,<br />

revolucionaram a assistência aos pacientes nos centros cirúrgicos do<br />

país. “A minha dissertação, graças a Deus, fez muito sucesso, porque<br />

antes não existia nenhum estudo nessa área. Hoje, toda a assistência<br />

no centro cirúrgico é mais humanizada: os anestesistas, por exemplo,<br />

começaram a fazer as visitas pré-anestésicas, que não faziam antes.<br />

Este trabalho foi um marco, muito citado em bibliografia não ficou só<br />

aqui no Paraná, foi para todo o Brasil”, orgulha-se.<br />

O maior amor<br />

Durante os 35 anos no exercício da profissão, Ana Irma passou<br />

seus melhores momentos. Graças a ela conquistou tudo o que tem e é<br />

a pessoa feliz com quem conversamos hoje, que <strong>de</strong>clara satisfeita: “Eu<br />

não me realizaria em outra profissão. Trabalhei, ensinei, vivi e respirei<br />

enfermagem”.<br />

O casamento e filhos, que nunca vieram, foram os hospitais,<br />

uniformes, instrumentos, plantões, cirurgias, pacientes, livros,<br />

laboratórios e alunos. E preencheram com toda a proprieda<strong>de</strong> o espaço<br />

em seu coração. “Eu trabalhei muito, mas tinha tempo para me divertir,<br />

não me faltou nada: fui a bailes, festas, dancei e tive vários amores, que<br />

me alegraram, mas ficaram no passado. Não me casar foi uma opção:<br />

eu não quis e não me arrependo, escolhi minha carreira profissional”,<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

25


afirma contun<strong>de</strong>nte. A alegria radiante e sincera que vem <strong>de</strong> seu rosto<br />

não permite duvidar.<br />

A vida familiar, contudo, nunca <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> ser importante<br />

para Ana Irma. Ela faz questão <strong>de</strong> <strong>de</strong>stacar a presença constante e<br />

fundamental dos pais, irmãos e mais tar<strong>de</strong> sobrinhos e sobrinhosnetos.<br />

É fácil constatar o forte elo que mantém com os familiares ao<br />

observar a estante da sala repleta <strong>de</strong> fotografias <strong>de</strong>stas pessoas especiais<br />

em sua vida. “Eu sempre falo dos meus pais com muito respeito. Eles<br />

tinham pouco estudo, mas não mediram esforços para que os <strong>de</strong>z<br />

filhos estudassem e escolhessem suas profissões. Serei eternamente<br />

grata a eles. Meus irmãos foram companheiros e hoje me alegro com<br />

os sobrinhos e sobrinhos-netos”, emociona-se.<br />

A rotina agitada e atarefada foi amenizada em 1995, quando<br />

<strong>de</strong>cidiu se aposentar, apesar dos apelos contrários <strong>de</strong> seus colegas da<br />

UEL, como explica: “Resolvi parar porque percebi que havia chegado<br />

a hora. Eu não tinha mais o vigor <strong>de</strong> antes, não conseguia mais<br />

trabalhar com a mesma energia. Além disso, sentia que os tempos<br />

haviam mudado. As coisas não eram mais como no começo, quando<br />

todos se <strong>de</strong>dicavam mais, com mais amor e entrega pelo trabalho.<br />

Muitos colegas pediram para eu ficar, mas sabia que o melhor era me<br />

aposentar”. Depois do afastamento ainda retornou ao HU no ano 2000,<br />

para organizar o laboratório para o novo currículo do curso <strong>de</strong> medicina<br />

e acabou esten<strong>de</strong>ndo a ativida<strong>de</strong> por mais três anos, quando <strong>de</strong>ixou o<br />

trabalho novamente. Hoje não per<strong>de</strong>u o vínculo com o pessoal da UEL:<br />

eventualmente dá palestras sobre a profissão, é convidada frequente<br />

das festas realizadas e visita o HU para passear e rever os amigos.<br />

E o que fazer para preencher todo o tempo que passava na UEL?<br />

“Isso aqui”, respon<strong>de</strong>, apontando para os diversos quadros nas pare<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> sua casa. “Eu sempre tive vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> pintar, mas não sobrava tempo.<br />

Depois que me aposentei, conversei com uma professora <strong>de</strong> pintura<br />

numa exposição em um shopping e comecei a ter aulas com ela. Nunca<br />

mais parei, é ótimo, uma terapia para mim”, garante. O talento para<br />

as artes é encantador e a enfermeira revela que já é antigo: “Fiz teatro<br />

durante muito tempo, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> criança na escola até os primeiros anos<br />

<strong>de</strong> profissão. Às vezes penso em voltar, mas acho que não saberia mais<br />

<strong>de</strong>corar os textos”, diz entre risos.<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

26


Se é possível esperar mais vitórias e realizações na vida, Ana Irma<br />

espera. A enfermeira que <strong>de</strong>dicou a vida a ajudar as pessoas com seu<br />

trabalho planeja participar <strong>de</strong> projetos sociais para prosseguir nesta<br />

missão. E esbanjando saú<strong>de</strong> e vitalida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>sfruta com gran<strong>de</strong> prazer<br />

a sua nova rotina entre telas, pincéis, a companhia da mãe e visitas<br />

animadas dos sobrinhos-netos. Serena, tranquila e, acima <strong>de</strong> tudo,<br />

feliz, muito feliz!<br />

“O Portal do Servidor Aposentado da UEL é uma oportunida<strong>de</strong><br />

para que, como enfermeira e professora aposentada <strong>de</strong>sta Instituição,<br />

eu possa <strong>de</strong>ixar parte <strong>de</strong> minha história registrada nas páginas da<br />

<strong>Universida<strong>de</strong></strong>. Quando escolhi a enfermagem, não fazia i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> sua<br />

gran<strong>de</strong>za. Não consi<strong>de</strong>rava a profissão um sacerdócio, e sim a busca<br />

<strong>de</strong> um meio legítimo e gratificante <strong>de</strong> ganhar a vida, e o anseio <strong>de</strong><br />

ser útil. Exerci a enfermagem com a certeza <strong>de</strong> que não po<strong>de</strong>ria me<br />

realizar na profissão se não buscasse constante aprimoramento. Por<br />

isso fiz os cursos <strong>de</strong> pós-graduação ofertados na época. E me extasiava<br />

com as novas metodologias <strong>de</strong> ensino e assistência <strong>de</strong> enfermagem.<br />

Trago no coração professores como a saudosa enfermeira doutora<br />

Wanda <strong>de</strong> Aguiar Horta, que me ensinou que “enfermagem é gente que<br />

cuida <strong>de</strong> gente”. Faz parte <strong>de</strong> minha vida, a lembrança <strong>de</strong> excelentes<br />

profissionais, médicos e médicas, que partilharam comigo saber,<br />

amiza<strong>de</strong> e respeito profissional. Na profissão conquistei verda<strong>de</strong>iras<br />

amiza<strong>de</strong>s. Vários colegas marcaram in<strong>de</strong>lével minha vida, entre os<br />

quais tomo a liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> citar: Vanda Jouclas, Vilma Valielo, Diva<br />

Aparecida Cristóffoli, Sonia <strong>de</strong> La Torre Salzano, Circe <strong>de</strong> Melo<br />

Ribeiro, irmã Sílvia Esteves, Zoé Maria Lima, Lucilia Monti Magalhães,<br />

Oswaldo Yokota, entre outros e tantos!”<br />

Janaína Castro<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

27


Ana Maria <strong>de</strong> Arruda Ribeiro<br />

Ana Maria <strong>de</strong> Arruda Ribeiro é natural <strong>de</strong><br />

Campinas (SP). O pai era bancário e por<br />

conta do trabalho mudou-se várias vezes <strong>de</strong><br />

cida<strong>de</strong>. No entanto, a transferência para a<br />

cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo foi a que mais <strong>de</strong>ixou<br />

recordações para Ana Maria.<br />

O ano era 1960, São Paulo era uma cida<strong>de</strong><br />

tranquila. “Logo que meu pai comprou o<br />

primeiro carro, ele dormia na rua. O local<br />

on<strong>de</strong> a gente morava foi um dos primeiros<br />

prédios <strong>de</strong> apartamento. Naquela época<br />

nem se pensava em ter garagem. Lembro<br />

que o nosso primeiro carro foi um fusca que, logicamente, ficava lá em<br />

baixo, na rua. E não tinha problema. Hoje falar isso é inacreditável.<br />

Morei lá até 1970 e nunca aconteceu nada.”<br />

Para Ana Maria esses anos foram inesquecíveis, pois presenciou<br />

a história <strong>de</strong> uma geração. “Vivenciei a época da jovem-guarda, passear<br />

na Rua Augusta. Eu tive essa oportunida<strong>de</strong>. Convivi com Sérgio Reis,<br />

estudávamos na mesma escola. Os Vips, a Silvinha, Eduardo Araujo”,<br />

relata, saudosa.<br />

Da nostalgia dos tempos idos, a conversa ganha outro enfoque.<br />

Ana Maria fala com amor da profissão que escolheu para si. “Sempre<br />

quis ser professora. Des<strong>de</strong> quando terminei o ginásio (hoje ensino<br />

fundamental). E eu gostava <strong>de</strong> exatas, então pensava sempre em me<br />

direcionar para essa área, porque eu queria ensinar. Quando estava<br />

no científico (hoje ensino médio), já dava aulas <strong>de</strong> matemática,<br />

física. Depois comecei a fazer Agronomia e continuei dando aulas<br />

particulares”.<br />

O maior orgulho <strong>de</strong> Ana Maria é ter colaborado com a formação<br />

<strong>de</strong> milhares <strong>de</strong> pessoas. Experiência, sensação que <strong>de</strong>screve como<br />

“fascinante e gratificante”. Ela conta que sempre valorizou muito o<br />

diálogo em sala <strong>de</strong> aula e que procurava ensinar não apenas o conteúdo.<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

28


Tentava passar aos seus alunos lições <strong>de</strong> vida: “Tem que ter humilda<strong>de</strong><br />

para reconhecer os erros; o respeito precisa existir em qualquer relação<br />

humana”. Ela relata que sua sala sempre estava cheia: “Procurei ser<br />

muito amiga dos meus alunos; aqueles que <strong>de</strong>ixavam, porque têm os<br />

que são mais reservados e nós temos que respeitar”. Em consequência<br />

<strong>de</strong>ssa atitu<strong>de</strong>, Ana Maria não era mais só professora, passou a ser<br />

amiga e conselheira: “Eles vinham falar comigo até sobre assuntos<br />

particulares”, revela.<br />

A professora conta que passou por situações difíceis com alguns<br />

alunos. “Em alguns momentos você se <strong>de</strong>cepciona. Mas, sempre parti<br />

do seguinte princípio: a gente precisa guardar só os bons momentos”.<br />

Os vários anos <strong>de</strong> profissão permitem que Ana Maria tenha um<br />

olhar mais crítico sobre os alunos e jovens <strong>de</strong> hoje. Segundo ela, a<br />

maturida<strong>de</strong> está chegando cada vez mais tar<strong>de</strong>. E a razões são as mais<br />

diversas: “Talvez a palavra certa esteja com os pedagogos, psicólogos,<br />

mas eu leio muito sobre o assunto. Os jovens são pouco cobrados<br />

em relação à responsabilida<strong>de</strong>. Os pais, preocupados em prover, se<br />

<strong>de</strong>dicam excessivamente ao trabalho e se esquecem da orientação. Não<br />

é só dar o vestuário, a alimentação e o transporte, tem que conversar”.<br />

Seguindo esse raciocínio Ana Maria educou sua única filha, da qual fala<br />

com imenso orgulho.<br />

Outra preocupação que ela diz ter é o fato <strong>de</strong> que o “bichinho<br />

da imaturida<strong>de</strong>” está acompanhando os alunos até mesmo na pósgraduação.<br />

Segundo ela, a pressão do sistema, dos pais, e a falta <strong>de</strong><br />

estrutura pessoal fazem com que alguns tomem rumos diferentes do<br />

que pretendia para agradar outrem. E a consequência são profissionais<br />

<strong>de</strong>smotivados: “Ou mesmo que seja um bom profissional, por <strong>de</strong>ntro<br />

não vai estar satisfeito. Quem vive no mundo <strong>de</strong> pesquisas e leituras,<br />

imagina que não há nada além disso no mundo”, afirma.<br />

Segundo ela, atualmente muitos veem a universida<strong>de</strong> como a<br />

única entrada para o mercado <strong>de</strong> trabalho. “Nada impe<strong>de</strong> que alguém<br />

que não tenha esse perfil faça um curso técnico e se dê muito bem na<br />

vida, ame sua profissão e seja um profissional com <strong>de</strong>staque”, garante.<br />

Ana Maria foi a primeira mulher a obter o título <strong>de</strong> mestre em<br />

Agro-Meteorologia no Brasil. Ela se formou na Escola Superior <strong>de</strong><br />

Agricultura Luiz <strong>de</strong> Queiroz (ESALQ), em 1982. De posse do título foi<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

29


convidada a fundar o curso <strong>de</strong> Agronomia no estado do Amazonas. Lá<br />

a paulista morou por seis anos. Depois <strong>de</strong> consolidado o curso e por<br />

estar muito longe da família, com colegas que já trabalhavam na UEL,<br />

veio a <strong>Londrina</strong> prestar o concurso.<br />

Ana Maria faz questão <strong>de</strong> enfatizar o orgulho que sente da<br />

<strong>Universida<strong>de</strong></strong>. “Na UEL foi muito fascinante o trabalho. Em 1986 o curso<br />

era relativamente novo. Os profissionais eram escassos. Foram 21 anos<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>dicação”. Quando a UEL implantou o curso <strong>de</strong> pós-graduação,<br />

Ana Maria fez doutorado na Unesp. “Voltei e ainda colaborei com o<br />

curso, lecionando, até a aposentadoria”.<br />

Aposentada há apenas um ano, Ana Maria está aproveitando o<br />

tempo livre. “Falei para a minha filha que, por um ano, só faço o que me<br />

<strong>de</strong>r vonta<strong>de</strong>, ou seja, como quando tenho fome, durmo quando tenho<br />

sono, passeio quando tenho vonta<strong>de</strong>”, conta, dizendo que vai prorrogar<br />

o prazo que vencerá em alguns dias.<br />

Ana Maria preten<strong>de</strong>, mais tar<strong>de</strong>, <strong>de</strong>dicar suas horas livres aos<br />

idosos. “As crianças são merecedoras, pois elas são o futuro. Mas,<br />

na condição <strong>de</strong> aposentada, vejo o quanto o idoso é <strong>de</strong>srespeitado e<br />

esquecido”.<br />

Ela também quer continuar fazendo artesanato. E não para<br />

por aí: “Outra paixão é a leitura, agora com todo o tempo do mundo.<br />

Quando eu era menina, minha paixão pela leitura era tão gran<strong>de</strong>, que<br />

quando não tínhamos condições para comprar livros novos, ou já tinha<br />

lido todos os livros da escola, meu livro <strong>de</strong> cabeceira era o dicionário,<br />

ficava horas e horas lendo”.<br />

Léia Dias Sabóia<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

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Auxiliar do HU<br />

A auxiliar <strong>de</strong> enfermagem Angelina Silva Gonçalves Baggio veio<br />

para <strong>Londrina</strong> em busca <strong>de</strong> uma vida melhor, trocou um hospital<br />

particular pelo Hospital Universitário e trabalhou lá até a<br />

aposentadoria em 2003<br />

Angelina é <strong>de</strong> Cruzeiro do Oeste,<br />

norte novo do Paraná. “Lá não havia<br />

opção <strong>de</strong> trabalho, minha irmã<br />

trabalhava no hospital e a gente<br />

aprendia fazendo”, lembra. Foi <strong>de</strong>ssa<br />

forma que começou a apren<strong>de</strong>r como<br />

se trabalhava em hospital, e chegou<br />

a ser empregada na cida<strong>de</strong> vizinha,<br />

Umuarama.<br />

Em <strong>Londrina</strong>, Angelina fez cursos <strong>de</strong> auxiliar <strong>de</strong> enfermagem em<br />

1984, no Colégio Londrinense, e <strong>de</strong> instrumentação cirúrgica no Senac.<br />

Depois <strong>de</strong> atuar em um consultório <strong>de</strong> um cirurgião vascular, ela<br />

começou a trabalhar no Mater Dei. “Eu era instrumentadora cirúrgica,<br />

dava os materiais na mão do médico, conhecia todas as cirurgias”.<br />

Com uma jornada noturna, foi possível prestar concurso para o<br />

período matutino no Hospital Universitário em 1991. Depois <strong>de</strong> dois<br />

anos, sobrecarregada com dois empregos, Angelina resolveu abrir mão<br />

<strong>de</strong> um.<br />

No HU, ela trabalhava na UTI 2, em que ficavam os pacientes com<br />

mais riscos <strong>de</strong> contaminação. Angelina gostou da mudança na rotina.<br />

Também havia sido implantada a jornada <strong>de</strong> 36 horas e 40 horas, como<br />

ela fazia no outro hospital. Tudo isto levou a funcionária a optar por<br />

continuar na UEL.<br />

Ela passou a trabalhar à noite. A cada 12 horas cumpridas,<br />

<strong>de</strong>scanso <strong>de</strong> 36, e as folgas também podiam ser emendadas, dando até<br />

para fazer algumas viagens. Em 2003, ela aposentou-se.<br />

Até 2006, ela ajudava o marido a ven<strong>de</strong>r lanches. “Era muito<br />

cansativo, mas era gostoso”. Angelina também começou a cursar<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

31


história na Unopar Virtual e teve que parar. Agora, terminou um curso<br />

<strong>de</strong> seis meses <strong>de</strong> costura no Senai. Ela até recusou um emprego porque<br />

a jornada era <strong>de</strong> oito horas diárias, incluindo os sábados. Mas ela<br />

preten<strong>de</strong> aproveitar o que apren<strong>de</strong>u no curso.<br />

Poliana Lisboa <strong>de</strong> Almeida<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

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O gosto por dar aulas<br />

Anna Regina Jordão Ciuvalschi Maia, professora <strong>de</strong><br />

Administração da UEL, hoje usa seu conhecimento pedagógico na<br />

ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> evangelização<br />

Na década <strong>de</strong> 1980 a carioca Anna Regina<br />

Maia já pensava em <strong>de</strong>ixar o Rio <strong>de</strong><br />

Janeiro. Era formada em Administração<br />

pela Fundação Getúlio Vargas, trabalhara<br />

nove anos como professora primária e há<br />

15 estava atuando em empresas, a última<br />

a Embratel. Na cida<strong>de</strong> gran<strong>de</strong> em que<br />

tudo era longe; ela costumava sair às 7<br />

da manhã e voltar às 7 da noite.<br />

Quando chegava estava muito cansada<br />

para brincar com suas filhas pequenas,<br />

com seis e três anos. Encostada na ca<strong>de</strong>ira e abrindo os braços Anna<br />

simula como fazia com as filhas. “Eu só falava, vem cá ficar quietinha<br />

com a mamãe. Eu estava tão cansada que só queria ficar quieta.”<br />

Numa visita à irmã que morava em <strong>Londrina</strong>, Anna conheceu<br />

a cida<strong>de</strong>, e resolveu morar aqui. Ela <strong>de</strong>cidiu na hora em que chegou.<br />

“Tinha gente que falava que eu ia sair do Rio para viver no meio do<br />

mato, mas <strong>Londrina</strong> tinha tudo que eu precisava”.<br />

O marido e o cunhado abriram uma mercearia, perto do Hospital<br />

Mater Dei. Anna esperou as férias das filhas para vir. Quando chegou,<br />

o cunhado não queria que as mulheres trabalhassem no negócio.<br />

Resolvida a procurar um emprego, ela teve dificulda<strong>de</strong> por ser<br />

mulher. Anna conta que alguns se entusiasmavam por seu currículo,<br />

que incluía até um curso <strong>de</strong> mestrado – sem título, porque ela resolveu<br />

não <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r a tese: “coisa <strong>de</strong> jovem” – mas o fato <strong>de</strong> uma mulher<br />

estar à frente <strong>de</strong> uma empresa mandando em homens era visto<br />

com preconceito em <strong>Londrina</strong>. Com a experiência <strong>de</strong> magistério, foi<br />

dar aulas no Senac. E lá ficou sabendo da <strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>Estadual</strong> <strong>de</strong><br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

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<strong>Londrina</strong>. “No Senac me falaram, porque você não vai na UEL, você<br />

tem até mestrado, experiência. E eu fiz o concurso”.<br />

Em 1982, Anna Regina Maia começou a lecionar na UEL. O então<br />

reitor, lembrava-se <strong>de</strong>la porque cursaram mestrado na FGV. Como a<br />

professora, além <strong>de</strong> aluna, substituiu professores quando preciso e<br />

chegou a trabalhar na Instituição, José Carlos Pinotti ofereceu para ela<br />

a Diretoria <strong>de</strong> Pagamento na Coor<strong>de</strong>nadoria <strong>de</strong> Recursos Humanos,<br />

atual PRORH.<br />

Mantendo uma disciplina no Departamento <strong>de</strong> Administração,<br />

ela assumiu o cargo. Apesar da experiência anterior em administração,<br />

Anna afirma que em empresas privadas tudo é muito diferente do que<br />

é nos órgãos públicos. “Na primeira folha <strong>de</strong> pagamento que saiu, veio<br />

meta<strong>de</strong> da <strong>Universida<strong>de</strong></strong> na minha sala reclamar”.<br />

A professora conta que os 25 funcionários da Diretoria eram<br />

responsáveis por verificar as folhas <strong>de</strong> horário <strong>de</strong> cada um dos mais <strong>de</strong><br />

mil professores da <strong>Universida<strong>de</strong></strong>. Às vezes os professores <strong>de</strong>ixavam <strong>de</strong><br />

assinar a folha. “Era um trabalho muito primário.”<br />

A solução foi o controle por exceção, do qual Anna Maia fala com<br />

orgulho, em que os funcionários do <strong>de</strong>partamento eram responsáveis<br />

por marcar, com códigos criados para cada situação, apenas o que estava<br />

irregular: faltas, viagens, dispensa, por exemplo. Os <strong>de</strong>partamentos<br />

faziam isto e encaminhavam para a Diretoria. Segundo a professora<br />

este mo<strong>de</strong>lo ficou por aproximadamente 10 anos em vigência na<br />

<strong>Universida<strong>de</strong></strong>.<br />

Assim que a administração da UEL mudou, Anna per<strong>de</strong>u o cargo<br />

<strong>de</strong> confiança e voltou para o <strong>de</strong>partamento. A professora conta que foi a<br />

primeira a ser substituída e atribui isto ao fato <strong>de</strong> não ter sido afilhada<br />

política <strong>de</strong> ninguém na <strong>Universida<strong>de</strong></strong>. “O Pinotti só tinha me oferecido<br />

o cargo porque me conhecia profissionalmente.”<br />

No <strong>de</strong>partamento a professora continuou a dar aulas até 1993,<br />

quando completou 25 anos <strong>de</strong> serviço, o tempo exigido na época<br />

para a aposentadoria. O divórcio, três anos antes fez com que Anna<br />

ficasse meio <strong>de</strong>sgostosa. “Não é fácil para ninguém” e ela resolveu<br />

que precisava <strong>de</strong> tempo livre para se <strong>de</strong>dicar às ativida<strong>de</strong>s da Igreja<br />

Católica, evangelizando.<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

34


Anna Regina com seu sotaque <strong>de</strong> carioca faz piadas com o<br />

magistério, comparando-o à cachaça, “se você tem vocação e começa<br />

não quer mais parar”. E assim ela continuou dando palestras na Igreja,<br />

usando aquilo o que ela apren<strong>de</strong>u na prática ao longo dos anos.<br />

Em 1996 começou a implantar a pastoral dos divorciados e casais<br />

<strong>de</strong> segunda união em sua paróquia, “minha experiência valeu para<br />

ajudar muitos outros”. E ela foi a outras cida<strong>de</strong>s implantar a pastoral,<br />

até ao interior <strong>de</strong> São Paulo.<br />

A professora gosta da liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> ser aposentada. Com a maioria<br />

da família no Rio <strong>de</strong> Janeiro, ela po<strong>de</strong> ir e ficar o quanto quiser. Uma<br />

vez, lembra, foi em <strong>de</strong>zembro e voltou apenas em fevereiro.<br />

O <strong>de</strong>partamento da UEL chamava a professora aposentada<br />

para fazer concursos ou entrar como substituta. Numa <strong>de</strong>stas vezes<br />

ela indicou a sua filha mais velha, que fora sua aluna na graduação<br />

e que começou a dar aulas <strong>de</strong> Administração para o curso <strong>de</strong> Serviço<br />

Social. Anna lembra que a filha foi homenageada pelos alunos, mesmo<br />

não sendo do <strong>de</strong>partamento <strong>de</strong>les e que agora leciona na Faculda<strong>de</strong><br />

Pitágoras. Sua outra filha, engenheira civil, também se formou na UEL.<br />

“Minhas filhas são muito <strong>de</strong>dicadas, elas sempre me viram trabalhando,<br />

acho que eu passei isto para ela”, diz Anna orgulhosa.<br />

Até 2003 a professora assumiu alguns cursos no Sebrae, mas<br />

resolveu sair porque seus exemplos “já estavam ficando velhos”. Há<br />

dois anos Anna Regina começou a ajudar o irmão que tem uma empresa<br />

<strong>de</strong> fundações em Salvador. Ele envia os dados por computador e ela<br />

fica trabalhando. “Esse é o meu joguinho <strong>de</strong> computador”.<br />

De 2000 a 2002 a professora frequentou o Curso <strong>de</strong> Assessores<br />

Bíblicos em Curitiba e assim preparou-se melhor para a ativida<strong>de</strong> que<br />

escolheu após a sua aposentadoria. Des<strong>de</strong> então continua ministrando<br />

cursos <strong>de</strong> evangelização em várias Paróquias da Diocese <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> e<br />

na Escola Santo André.<br />

Poliana Lisboa <strong>de</strong> Almeida<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

35


Antonio Carlos Moraes Neto<br />

“Eu adorava meu trabalho. É uma pena<br />

que agora não posso trabalhar mais”. A<br />

<strong>de</strong>claração é <strong>de</strong> Antonio Carlos Moraes<br />

Neto. A profissão: técnico em radiologia.<br />

Muitos não sabem nem o que faz um<br />

técnico em radiologia. Então vamos<br />

explicar e <strong>de</strong>pois enten<strong>de</strong>r porque Antonio<br />

gostava tanto. Técnico em radiologia faz<br />

Raio-X nos hospitais e clínicas. Lembra<br />

do moço ou da moça que diz: “Respira<br />

fundo e segura; espera um pouco; agora<br />

po<strong>de</strong> soltar”? Essa pessoa certamente é<br />

um técnico em radiologia como Antonio.<br />

Aos 19 anos, quando ainda morava na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Cornélio<br />

Procópio, ele recebeu um convite <strong>de</strong> um amigo para trabalhar no<br />

Raio-X. Uma ótima oportunida<strong>de</strong> para quem estava iniciando a vida<br />

profissional. Sendo assim, não recusou. Depois <strong>de</strong> efetivado, foi para<br />

Curitiba fazer o curso e aprimorar-se mais: “Peguei o diploma e tudo”.<br />

Com o certificado em mãos, voltou para Cornélio e lá trabalhou ainda<br />

11 anos. E então se mudou para <strong>Londrina</strong>.<br />

Antonio conta que adorava sua ativida<strong>de</strong>. Então nada mais lógico<br />

do que lutar por melhorias na profissão, para ele e para a categoria.<br />

Outra oportunida<strong>de</strong> surgiu: “eu fui o primeiro presi<strong>de</strong>nte do Sindicato<br />

dos Técnicos <strong>de</strong> Radiologia <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>”, conta, orgulhoso. Em função<br />

da nova “empreitada” não podia mais exercer a profissão. Durante cinco<br />

anos, período em que atuou no sindicato, ficou afastado da prática.<br />

Esses cinco anos foram “barra”. “Mas eu <strong>de</strong>ixei muita coisa boa,<br />

muita gente se efetivou na profissão, teve curso, muita gente arrumou<br />

emprego através do sindicato”, revela. E conta mais: “Eu lutei pelas 24<br />

horas semanais e 96 horas mensais”, diz, em tom <strong>de</strong> discurso político<br />

vitorioso.<br />

Na UEL, Antonio começou a trabalhar em 1984. Dessa vez<br />

ele também recebeu um convite. A diferença é que o trabalho seria<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

36


temporário. Antonio iria trabalhar por alguns meses no lugar <strong>de</strong><br />

uma terceira pessoa que logo retornaria. Passaram-se os meses e ela<br />

não retornou: “Daí foram obrigados a me efetivar”. Trabalhou por<br />

alguns meses no Hospital Veterinário e foi transferido para o Hospital<br />

<strong>de</strong> Clínicas. Quando se aposentou estava trabalhando no Hospital<br />

Universitário.<br />

Da UEL ele diz que sente sauda<strong>de</strong>s, principalmente dos amigos e<br />

do setor <strong>de</strong> Radiologia. Faz três anos que Antonio se aposentou. Agora<br />

ele faz caminhada e pesca sempre que po<strong>de</strong>, para se distrair. “A minha<br />

vida foi Raio-X”, afirma Antonio, <strong>de</strong>monstrando mais uma vez a paixão<br />

que tem pela profissão.<br />

Léia Dias Sabóia<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

37


Um músico allegro<br />

Na vida do músico Antônio Miceli há espaço para a música, a<br />

bioquímica, a família e até para a sauda<strong>de</strong> dos bons tempos vividos.<br />

Só não há espaço para a tristeza<br />

Abertura<br />

“Sem música, a vida seria um erro”,<br />

diz a frase atribuída ao filósofo<br />

alemão Friedrich Nietzsche (1844-<br />

1900). E, talvez, sem música, esse<br />

perfil nunca existisse. Para contar<br />

a história do músico Antônio José<br />

Miceli, é necessário fazer uma viagem<br />

no tempo e visitar os anos dourados,<br />

o que nos fornece um período <strong>de</strong> mais<br />

<strong>de</strong> 50 anos <strong>de</strong> (boa) música.<br />

Natural <strong>de</strong> Nova Europa (SP), foi nesta cida<strong>de</strong> que Antônio teve<br />

o primeiro contato com a música. O pai e os tios tocavam na Banda<br />

Municipal, em uma época em que as retretas – apresentações <strong>de</strong> bandas<br />

nos coretos das praças – ainda eram comuns, enquanto a mãe cantava<br />

no coro da igreja. Mesmo com tantos parentes no ramo, Antônio teve<br />

aulas com o único professor <strong>de</strong> música <strong>de</strong> Nova Europa, mas sem<br />

<strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> seguir os passos do pai, que era clarinetista. “Eu comecei<br />

tocando clarinete porque meu pai tocava e eu já tinha o instrumento<br />

em casa. Tinha outro tio que tocava trombone, mas trombone <strong>de</strong> chave,<br />

o irmão <strong>de</strong>le tocava bombardino, também instrumento <strong>de</strong> sopro. Os<br />

instrumentos que eu mais conhecia eram aqueles ali”, recorda.<br />

Quando o professor <strong>de</strong>ixou a cida<strong>de</strong>, Antônio ficou sem ter<br />

quem lhe ensinasse a tocar. Seu pai era alfaiate e, trabalhando muito,<br />

não tinha tempo para ensiná-lo. Mas a situação <strong>de</strong> Antônio mudou<br />

quando sua família <strong>de</strong>ixou Nova Europa e mudou-se para uma jovem e<br />

promissora cida<strong>de</strong>: <strong>Londrina</strong>.<br />

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1º Movimento - Molto vivace [O Progresso]<br />

Quando a família Miceli chegou à <strong>Londrina</strong>, por volta <strong>de</strong><br />

1950, a cida<strong>de</strong> estava em pleno <strong>de</strong>senvolvimento, impulsionada,<br />

principalmente, pela produção <strong>de</strong> café, o nosso “ouro ver<strong>de</strong>”. Apesar<br />

do progresso, a zona urbana da cida<strong>de</strong> era pequena. Os limites <strong>de</strong><br />

<strong>Londrina</strong> no final da década <strong>de</strong> 1940, nas lembranças <strong>de</strong> Antônio,<br />

eram a Vila Nova, o Cemitério São Pedro e a avenida Duque <strong>de</strong> Caxias.<br />

A década seguinte, os anos dourados, assistiriam a mo<strong>de</strong>rnização da<br />

cida<strong>de</strong>, capital mundial do café.<br />

O progresso inseria a todos no mercado <strong>de</strong> trabalho, e com<br />

Antônio não foi diferente. Com cerca <strong>de</strong> 13 anos, começou a trabalhar<br />

como protético, e, mesmo trabalhando e estudando, ainda encontrava<br />

tempo para a música, embora as circunstâncias o tenham levado a<br />

escolher outro instrumento.<br />

Na fanfarra do Ginásio <strong>Estadual</strong> – on<strong>de</strong> hoje funciona o colégio<br />

Marcelino Champagnat –, não havia lugar para o clarinete, mas, na<br />

primeira oportunida<strong>de</strong>, Antônio encontrou o seu lugar. “Eu entrei na<br />

fanfarra do colégio tocando a corneta <strong>de</strong> um cara que brigou com o<br />

regente lá e saiu; e eu estava do lado do cara quando ele saiu (...) eu<br />

passei a mão na corneta, entrei na formação e comecei a tocar; comecei<br />

tocando corneta, aí <strong>de</strong>pois eu passei para o trombone”.<br />

E foi com este último instrumento – o mesmo que o levaria à<br />

Orquestra Sinfônica da UEL anos mais tar<strong>de</strong> – que ele participou do<br />

<strong>de</strong>sfile <strong>de</strong> 7 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1960, no Calçadão <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>. Outra<br />

apresentação marcante foi na inauguração da Concha Acústica, em<br />

1957, quando os professores <strong>de</strong> música da cida<strong>de</strong> reuniram seus alunos<br />

e formaram um conjunto para animar a festa.<br />

Antônio levava uma vida simples, mas bastante agitada:<br />

estudava pela manhã, trabalhava à tar<strong>de</strong> e, nos finais <strong>de</strong> semana,<br />

tocava no conjunto Continental, junto com o irmão e outros amigos.<br />

Apresentavam-se nos bailes <strong>de</strong> sábado – das 22h às 4h – e nas<br />

matinês <strong>de</strong> domingo, das 15h às 18, na se<strong>de</strong> da União Londrinense<br />

dos Estudantes (ULE), on<strong>de</strong> hoje está localizado o edifício Palácio do<br />

Comércio. “O programa da juventu<strong>de</strong> era o baile da ULE e a matinê<br />

da tar<strong>de</strong>”, explica. No repertório, samba, bolero, cha-cha-cha e música<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

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americana. “Mas não tinha nada <strong>de</strong>ssa zoeira que tem hoje, era<br />

música <strong>de</strong>cente”, ressalta. Nessa época, a Orquestra do Gervásio fazia<br />

sucesso na cida<strong>de</strong>. Porém, com a formatura no colegial, era necessário<br />

abandonar a cida<strong>de</strong> e começar uma nova etapa: a universida<strong>de</strong>.<br />

2º Movimento – Allegro Vivace [A Faculda<strong>de</strong>]<br />

Em 1960, <strong>Londrina</strong> ainda não contava com o curso superior em<br />

Odontologia, que viria ser instalado na cida<strong>de</strong> em 1962. Por causa<br />

disso, Antônio precisou ir para Curitiba continuar seus estudos. Com<br />

gran<strong>de</strong> experiência na área <strong>de</strong> próteses <strong>de</strong>ntárias, <strong>de</strong>sejava se tornar<br />

<strong>de</strong>ntista. Não aprovado no primeiro vestibular, arriscou a bioquímica<br />

no segundo e tornou-se aluno da <strong>Universida<strong>de</strong></strong> Fe<strong>de</strong>ral do Paraná<br />

(UFPR).<br />

Na capital do estado, novas oportunida<strong>de</strong>s no campo da música<br />

começaram a surgir. Antônio foi convidado a tocar na Orquestra<br />

Sinfônica da UFPR (hoje Filarmônica), recentemente criada – embora<br />

a Orquestra da Casa do Estudante, que <strong>de</strong>u origem à Sinfônica, já<br />

existisse <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a década <strong>de</strong> 1940. Paralela a essa ativida<strong>de</strong>, fundou<br />

um novo conjunto e continuou animando os bailes e matinês – agora<br />

chamadas <strong>de</strong> “saraus” – em Curitiba, o que o ajudou a se manter longe<br />

<strong>de</strong> casa, já que a profissão <strong>de</strong> protético ocuparia um tempo precioso<br />

dos estudos. E já que era o conjunto que o sustentava, toda a semana<br />

precisavam encontrar um lugar para se apresentarem. “Durante a<br />

semana a gente ligava pra um, ligava pra outro... Eu morava na Casa do<br />

Estudante Universitário, então tinha a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ir até o telefone<br />

da casa e os contatos eram feitos por telefone ou, quando não podia, a<br />

gente tinha que ir nos clubes, que eram um longe do outro. Durante<br />

a semana você tinha que se bater, tinha que arranjar serviço. E toda<br />

semana tinha que tocar”, relembra.<br />

“Miceli e seu conjunto” fazia sucesso naquela cida<strong>de</strong>, tocando os<br />

mesmos ritmos do antigo conjunto londrinense, mas incorporando a<br />

bossa nova, sucesso naquele momento. Para tocar nos bailes, algumas<br />

regras precisavam ser seguidas. “Tinha seleções <strong>de</strong> músicas durante<br />

o baile. A gente começava normalmente com músicas mais agitadas<br />

para empolgar, que normalmente era uma seleção <strong>de</strong> sambas. A gente<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

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tocava quatro, cinco, seis sambas, parava, dava um intervalozinho e<br />

aí começava a seleção <strong>de</strong> boleros. Tocava 3, 4, 5, 6 boleros, parava, aí<br />

mudava para cha-cha-cha. Quem gostava <strong>de</strong> dançar samba já ficava<br />

esperando, então você podia escolher o ritmo que você queria”, explica.<br />

E se existiam normas para tocar, também existiam normas para<br />

ouvir. Em um dos cartazes que anunciam a apresentação <strong>de</strong> “Miceli e<br />

seu conjunto”, além da hora e local, o traje a ser usado pelos convidados:<br />

“passeio completo”. E a regra era seguida à risca. “Não estava vestido<br />

<strong>de</strong>centemente, não entrava, simplesmente voltava para casa”, explica.<br />

Ou seja, falar daqueles anos é falar <strong>de</strong> um tempo muito mais distante<br />

culturalmente, do ponto <strong>de</strong> vista dos costumes, do que temporalmente.<br />

Terminada a faculda<strong>de</strong>, Antônio ainda cumpriu um ano <strong>de</strong><br />

residência em Curitiba até voltar para <strong>Londrina</strong>. “Miceli e seu conjunto”<br />

ficava para trás e era hora <strong>de</strong> iniciar mais uma fase.<br />

3º Movimento - Allegro maestoso [A Orquestra]<br />

De volta à <strong>Londrina</strong>, Antônio começou a trabalhar na área em que<br />

havia se formado, a bioquímica. Junto com alguns sócios, montou dois<br />

laboratórios <strong>de</strong> análises clínicas, mas, com o tempo, a socieda<strong>de</strong> foi se<br />

<strong>de</strong>sgastando e ele preferiu <strong>de</strong>ixar a bioquímica e <strong>de</strong>dicar-se inteiramente<br />

à música. Por essa época, Antônio já havia feito o concurso para entrar<br />

na Orquestra Sinfônica da UEL. Aprovado, começava oficialmente no<br />

dia 1º <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 1986 a trabalhar para a <strong>Universida<strong>de</strong></strong>.<br />

Mas Antônio esteve com a OSUEL <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início, em 1984. A<br />

Orquestra da UEL foi criada a partir do Conjunto Música, <strong>de</strong> 1978,<br />

formado pelo maestro Othônio Benvenuto, que havia chegado à<br />

<strong>Londrina</strong> dois anos antes com a tarefa <strong>de</strong> reativar o coral da <strong>Universida<strong>de</strong></strong><br />

e criar a orquestra. Foi este mesmo maestro quem convidou Antônio<br />

a se juntar à OSUEL, que durante os primeiros anos ainda não era<br />

“oficial”.<br />

De acordo com Antônio, que foi contratado em 1986, pouco mais<br />

<strong>de</strong> um ano <strong>de</strong>pois do primeiro concerto da orquestra – realizado no<br />

dia 4 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1984 –, no começo os músicos tocavam “só por<br />

prazer”. “Antes, no dia que você não podia, você não ia, então para<br />

que tivesse essa obrigatorieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> ensaiar, tivesse compromisso e<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

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esponsabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ensaiar, tinha que fazer alguma coisa que pu<strong>de</strong>sse<br />

dar um retorno, então ele [Benvenuto] achou o jeito <strong>de</strong> formar a<br />

orquestra, com o pessoal participando como funcionário”, explica.<br />

Portanto, após a contratação dos músicos aprovados em concurso<br />

começavam a valer os direitos e <strong>de</strong>veres <strong>de</strong> qualquer funcionário<br />

contratado pela Instituição.<br />

Além da ausência <strong>de</strong> uma rotina <strong>de</strong> trabalho oficial, nos primeiros<br />

anos, a Orquestra Sinfônica da UEL contava com jovens músicos, que,<br />

com a realização do concurso, não foram aprovados porque, segundo<br />

Antônio, não tinham nível técnico suficiente para integrar a orquestra.<br />

Para ele, trabalhar na OSUEL representou “quase tudo” em matéria <strong>de</strong><br />

música. Acostumado a tocar nos conjuntos que formou e também “na<br />

noite”, on<strong>de</strong> tocava outros instrumentos e também cantava, o músico<br />

precisou adaptar-se ao rigor das partituras da música clássica. E o<br />

esforço para acompanhar a orquestra era ampliado pela complexida<strong>de</strong><br />

do instrumento. “[O trombone <strong>de</strong> vara] É um dos instrumentos <strong>de</strong><br />

técnica mais difíceis que tem, porque todos os outros são com os<br />

<strong>de</strong>dos. (...) Você tem muito mais agilida<strong>de</strong> nos <strong>de</strong>dos do que no braço”,<br />

esclarece e, orgulhoso, reflete sobre a sua principal profissão: “Não é<br />

fácil ser músico não (...). Não cansa como o serviço braçal, mas cansa<br />

mentalmente. Estressa. Você pega um trecho <strong>de</strong> uma música que você<br />

não está conseguindo tocar [e] você tem que se rachar para sair, porque<br />

na hora do concerto a tua parte tem que sair. (...) Às vezes a gente vai<br />

para o ensaio [e] tem uma peça que tem pouca interferência do meu<br />

instrumento, por exemplo. Tem lá no terceiro movimento um trechinho<br />

que toca três notas, mas as três notas têm que sair. (...) Se tiver uma<br />

nota, você tem que tocar aquela nota exatamente como ela é”.<br />

Sempre muito <strong>de</strong>dicado aos estudos da música, Antônio<br />

permaneceu com a OSUEL até o dia que a aposentadoria – por ida<strong>de</strong><br />

e por tempo <strong>de</strong> serviço – chegou. Com a orquestra, viajou para muitos<br />

lugares e nessas viagens, que não ultrapassavam uma semana, a<br />

OSUEL <strong>de</strong>slocava todos seus músicos, instrumentos, partituras...<br />

“Tem que chegar, <strong>de</strong>scansar, ensaiar, preparar o local. Nós fomos tocar<br />

em Florianópolis, Itajaí, e é uma senhora viagem. Até que <strong>de</strong>scarrega<br />

todo aquele material, que monta tudo, que você vai conseguir ensaiar...<br />

Então não podia ser menos <strong>de</strong> cinco, seis dias [<strong>de</strong> viagem]”, explica.<br />

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O trombonista Antônio José Miceli <strong>de</strong>ixou a Orquestra Sinfônica<br />

da UEL oficialmente no dia 1º <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 2008, mas ainda sente<br />

falta daquela rotina. “Vinte e cinco anos, toda manhã lá [nos ensaios],<br />

mesmo que fosse para ir só por ir. De segunda a sexta era sagrado o<br />

período da manhã”.<br />

Além da experiência musical, a OSUEL lhe proporcionou boas<br />

amiza<strong>de</strong>s, que permanecem até hoje. “De vez em quando aparece um<br />

[músico da OSUEL] lá em casa.<br />

Quando não aparece, alguém liga perguntando como é que eu<br />

estou. Quando eu chego [nos ensaios da orquestra] vem todo mundo<br />

me abraçar. Eu nunca briguei com ninguém, sempre me <strong>de</strong>i bem com<br />

todo mundo”, explica.<br />

4º Movimento - Andante com moto [Aposentadoria:<br />

a vida continua]<br />

“Eu sou um cara que posso me consi<strong>de</strong>rar feliz, porque vivi<br />

épocas boas, épocas gostosas, crescimento <strong>de</strong> cida<strong>de</strong>s, <strong>de</strong>senvolvimento<br />

da música, aparecimento <strong>de</strong> novas propostas <strong>de</strong> música, participei<br />

bastante... Eu posso me consi<strong>de</strong>rar um cara feliz.”<br />

Apesar do otimismo ao olhar o passado, Antônio não escon<strong>de</strong> a<br />

<strong>de</strong>cepção com os rumos tomados pela música e pela socieda<strong>de</strong>. Para<br />

quem viveu uma época em que valores como o trabalho, os estudos,<br />

o bem falar e o bem vestir eram respeitados pela juventu<strong>de</strong>, é difícil<br />

acompanhar o empobrecimento cultural <strong>de</strong> nossos dias. “Quantas<br />

escolas ensinam música? (...) Para a cultura não tem dinheiro.<br />

Acham que é besteira investir, é preferível <strong>de</strong>ixar a molecada na rua,<br />

apren<strong>de</strong>ndo coisa que não presta, do que incentivar”, <strong>de</strong>sabafa.<br />

O <strong>de</strong>scaso com a cultura se reflete na falta <strong>de</strong> investimentos na<br />

Orquestra Sinfônica da UEL, que hoje tem um <strong>de</strong>sfalque <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> 17<br />

músicos. Depois que Antônio <strong>de</strong>ixou a OSUEL, ninguém assumiu sua<br />

vaga.<br />

Apesar <strong>de</strong> ter enfrentado sérios problemas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, que inclusive<br />

o prejudicaram na hora <strong>de</strong> tocar trombone, Antônio é um cara feliz.<br />

Divorciado <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1987, criou as quatro filhas com a ajuda da mãe e<br />

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hoje uma <strong>de</strong>las segue os passos do pai na Orquestra Sinfônica da UEL.<br />

Distante da rigorosa rotina <strong>de</strong> ensaios da orquestra, Antônio agora<br />

tem mais tempo para se <strong>de</strong>dicar à família – inclusive à primeira neta,<br />

que chegou há pouco tempo – e aos amigos. Antônio continua a ter<br />

tempo para a música, companheira <strong>de</strong> toda a vida, afinal, nas palavras<br />

atribuídas ao músico norte-americano Louis Armstrong (1901-1971),<br />

“os músicos não se aposentam - param quando não há mais música em<br />

seu interior”.<br />

Rosane Mioto<br />

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Trabalho nos campos da UEL<br />

O funcionário Antonio Nerez ajudou a plantar o gramado e a<br />

preservar o jardim do campus por quase 30 anos<br />

Antonio com a mulher Carmelita Rosa Alves Nerez<br />

Imagine a extensão do gramado da<br />

UEL. Agora pense em um grupo <strong>de</strong><br />

pessoas semeando esta grama. A<br />

<strong>Universida<strong>de</strong></strong> era uma fazenda <strong>de</strong><br />

café. Depois <strong>de</strong> retirada a plantação<br />

foram necessárias muitas mãos<br />

para jardinar o campus como<br />

conhecemos.<br />

Antonio Nerez começou a trabalhar<br />

na UEL em 1976, como jardineiro<br />

servente. Na época eram poucos prédios e ele conta que plantavam<br />

milho e vassoura no lugar do mato. A vassoura era para uso na<br />

<strong>Universida<strong>de</strong></strong> e o milho, colhido, <strong>de</strong>bulhado e ensacado, era vendido<br />

para ajudar nos custos da Fundação.<br />

O funcionário, <strong>de</strong> São Gonçalves do Campo (BA), veio para a<br />

região em 1952. A tentação era a proposta <strong>de</strong> trabalhar em um lugar<br />

on<strong>de</strong> “se dava dinheiro <strong>de</strong> rastelo”. Depois <strong>de</strong> trabalhar em Ivaiporã,<br />

Paranavaí e Colorado, ele passou 18 anos na Fazenda Santa Helena,<br />

on<strong>de</strong> conheceu a esposa e trabalhou 14 anos como fiscal.<br />

Antonio soube da vaga na <strong>Universida<strong>de</strong></strong> por um compadre. Num<br />

sábado – havia expediente aos sábados - ele foi conversar com o chefe<br />

que lhe disse para voltar na segunda-feira, com a “boia”, para começar<br />

a trabalhar. A jornada era <strong>de</strong> 48 horas semanais.<br />

O funcionário, que não tinha o curso primário quando entrou<br />

na UEL, estudou até a 7ª série enquanto trabalhava. Ele era liberado<br />

duas horas mais cedo. “A <strong>Universida<strong>de</strong></strong> dá chances, e eu já tinha ida<strong>de</strong><br />

avançada.”<br />

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As árvores do calçadão já estavam lá quando ele chegou, mas<br />

Nerez ajudou a plantar as 480 mudas <strong>de</strong> peroba-rosa, árvore típica,<br />

pelo campus. Ele conta que as perobas nativas sofriam com os raios e<br />

às vezes precisavam ser cortadas por segurança. Das mudas <strong>de</strong> peroba,<br />

o funcionário lembra que muitas estavam on<strong>de</strong> hoje ficam o CECA, o<br />

CTU, o CCA, o CESA. E foram tiradas para a construção <strong>de</strong>les.<br />

Depois <strong>de</strong> servente <strong>de</strong> jardineiro e <strong>de</strong> <strong>de</strong>z anos como jardineiro,<br />

Nerez trabalhou como encarregado especial e como chefe da<br />

jardinagem. Ele, que se aposentou em 2005, conta que nos últimos<br />

tempos o trabalho se tornou mais fácil <strong>de</strong> ser executado com a ajuda <strong>de</strong><br />

máquinas da UEL. Segundo Nerez, o serviço <strong>de</strong> um dia que antes era<br />

feito por quatro ou cinco pessoas passou a ser feito por apenas uma, no<br />

mesmo período <strong>de</strong> tempo.<br />

Um dia, na hora do almoço, o aposentado conta que escorregou<br />

o pé da carroceria do caminhão carregado <strong>de</strong> grama. Ele caiu <strong>de</strong><br />

ponta-cabeça e ficou <strong>de</strong>sacordado. O médico do Núcleo do Bem-<br />

Estar à Comunida<strong>de</strong> (NUBEC, hoje SEBEC) mandou-o ao Hospital<br />

Universitário, on<strong>de</strong> ficou 24 horas em observação.<br />

O aci<strong>de</strong>nte não causou nenhum problema para ele, apenas a<br />

lembrança das 24 horas sem comer. “Quando cheguei em casa, a<br />

primeira coisa que fiz foi almoçar”.<br />

Casado há mais <strong>de</strong> 52 anos com Carmelita Rosa Alves Nerez,<br />

também baiana, ele aproveita a aposentadoria ficando em casa, já<br />

que não gosta <strong>de</strong> sair muito. O funcionário também avisa que, por ter<br />

trabalhado muito com jardinagem, ele se cansou. A casa <strong>de</strong>les não tem<br />

jardim, mas na varanda da casa há alguns vasos <strong>de</strong> flor. E quem plantou<br />

estas flores? Nerez confessa: “Fui eu, <strong>de</strong> flores eu gosto!”<br />

Poliana Lisboa <strong>de</strong> Almeida<br />

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Arlinda Rodrigues Oliveira Barbosa<br />

Entrou na UEL em 11/10/75, na Reitoria como<br />

servente. Quase todo o tempo em que trabalhou na<br />

UEL, fez cafezinho para o pessoal que trabalhava<br />

para as coor<strong>de</strong>nadorias da Reitoria, para a turma<br />

da jardinagem e do material.<br />

Quando começou a trabalhar aqui na UEL vinha<br />

do Jardim Tókio até a Reitoria a pé, saia <strong>de</strong> casa<br />

às 5h, enfrentava barro e chuva e até geada: “a<br />

UEL mandou fazer até uma pinguela para<br />

gente passar”.<br />

Trazia bolo e salgadinho para ven<strong>de</strong>r para os<br />

funcionários da Reitoria porque aqui não tinha cantina.<br />

Não tem queixa nenhuma do pessoal daqui da <strong>Universida<strong>de</strong></strong>,<br />

“para mim são todos bons, inclusive me ajudaram muito”. Trabalhar<br />

na UEL foi tudo <strong>de</strong> bom para mim. “Se não fosse o emprego na UEL,<br />

não po<strong>de</strong>ria criar meus filhos”.<br />

Em 1998, como estava passando mal do joelho e das pernas foi<br />

transferida para a Central <strong>de</strong> Salas para fazer cafezinho, pois o serviço<br />

lá era menor e não prejudicava tanto a sua saú<strong>de</strong>.<br />

Em 2002, sua filha não tinha com quem <strong>de</strong>ixar os filhos quando<br />

ia para o trabalho, então Arlinda pediu aposentadoria da UEL.<br />

Disse que, se fosse mais nova, voltava a trabalhar na <strong>Universida<strong>de</strong></strong>,<br />

pois “o dia passava e a gente nem via, o duro mesmo era só chegar<br />

aqui”.<br />

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O homem que começou a UEL<br />

Ascêncio Garcia Lopes, primeiro reitor, fala sobre fatos<br />

que antece<strong>de</strong>ram à criação da <strong>Universida<strong>de</strong></strong> e que não <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong><br />

acompanhar o que ocorre <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>la<br />

A Medicina estava em sua vida<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> quando a mãe <strong>de</strong>cidira<br />

que Ascêncio Garcia Lopes seria<br />

médico. Exercendo a profissão,<br />

<strong>de</strong>parou-se com o <strong>de</strong>safio<br />

<strong>de</strong> implantar em <strong>Londrina</strong> a<br />

Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina, e, à sua<br />

frente, começou a <strong>de</strong>dicar-se<br />

a ativida<strong>de</strong>s que o levariam ao<br />

posto <strong>de</strong> reitor da <strong>Universida<strong>de</strong></strong><br />

<strong>Estadual</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>.<br />

Hoje, com mais <strong>de</strong> 80 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> e a “longevida<strong>de</strong> útil”<br />

daqueles que não param <strong>de</strong> trabalhar, Ascêncio relembra sua trajetória<br />

pela <strong>Universida<strong>de</strong></strong>. Com muitas críticas, <strong>de</strong>monstra que não <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong><br />

acompanhar o que se passa na UEL.<br />

Criação da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina<br />

Quando eu era presi<strong>de</strong>nte da Associação Médica <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>,<br />

em 1966, nós falamos em fazer uma faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> medicina aqui em<br />

<strong>Londrina</strong>. Porque os jornais, as entida<strong>de</strong>s como o Rotary, o Lions,<br />

discutiam: precisa mais faculda<strong>de</strong>s, os alunos daqui vão para São<br />

Paulo, Curitiba. Alguma coisa tinha que ser feita. Então nós, da<br />

Associação, tínhamos um compromisso. Atitu<strong>de</strong> primeira, o que fazer<br />

e como fazer? Por coincidência, estava no Hotel Bourbon, um senhor<br />

que era pai <strong>de</strong> um médico do Rio <strong>de</strong> Janeiro, que tinha acabado <strong>de</strong><br />

fazer medicina na <strong>Universida<strong>de</strong></strong> Gama Filho. Eu morava em uma casa<br />

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atrás da Catedral, on<strong>de</strong> hoje é um restaurante. E este senhor viu no<br />

jornal que queríamos criar a Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina, e ele atravessou<br />

a avenida, bateu na minha casa e falou: “Eu sou pai do doutor José<br />

Roberto Ferreira que é especialista, médico formado na Gama Filho,<br />

e eu tenho certeza absoluta <strong>de</strong> que se vocês o convidarem, ele viria até<br />

<strong>Londrina</strong>, para trocar idéias com vocês.”<br />

Ele veio para cá, ficou uma semana conosco, discutimos e<br />

<strong>de</strong>cidimos que para a Faculda<strong>de</strong> não íamos fazer nada <strong>de</strong> governo,<br />

mas uma Fundação, autogovernada. E esta Fundação, mantida pelo<br />

Estado, seguiria o conselho <strong>de</strong>sta Fundação, e esta Fundação iria criar<br />

e manter a Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina. E iria manter outras faculda<strong>de</strong>s<br />

também. Fizemos um <strong>de</strong>creto, <strong>de</strong> como o governo do Estado <strong>de</strong>veria<br />

fazer isto – a criação da Fundação – e saímos com o curso <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong><br />

pronto. Era uma revolução, porque professor não é funcionário público,<br />

funcionários não eram funcionários públicos, todos regidos pela CLT.<br />

Se for bom fica, se não for bom não fica.<br />

Segundo, a Fundação tinha autonomia. Ela é que escolhia<br />

o diretor da medicina, ou <strong>de</strong> outra faculda<strong>de</strong>. Não era o governo.<br />

O conselho tinha dois representantes do governo estadual, dois<br />

representantes da prefeitura, dois representantes da Associação<br />

Médica. Seis representantes compunham o conselho. E este conselho<br />

é que mandava na Faculda<strong>de</strong>, é como se fosse um governo autônomo.<br />

Fomos ao governador do Estado, Ney Braga, apresentamos o<br />

projeto, ele gostou, chamou o secretário da Educação, que também<br />

gostou e falou que iria estudar. Em um mês estava a lei pronta. A<br />

Assembléia também aceitou, estava criada a Fundação e a verba do<br />

Estado, liberada. E começou assim a Faculda<strong>de</strong>.<br />

Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina<br />

O conselho me escolheu para diretor da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina,<br />

porque eu vivi todo o problema na Associação Médica. Eu falei que<br />

não queria, que era médico e tinha que trabalhar, mas eu podia<br />

continuar trabalhando como médico, então fazia meio-período e noites<br />

<strong>de</strong> consultório e <strong>de</strong> cirurgia, e a tar<strong>de</strong> toda eu ficava na Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Medicina.<br />

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A odontologia nos emprestou laboratórios, que já estavam<br />

prontos, <strong>de</strong> Anatomia e Histologia. E eu tinha que arrumar professores.<br />

Eu não chamei médicos <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>. Fiz concurso nacional. E para<br />

estes concursos eu ia convidar em São Paulo, quase sempre em São<br />

Paulo, professores possíveis para participar. E assim fui à faculda<strong>de</strong> em<br />

que me formei, a Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina da USP em São Paulo, e falei<br />

com os professores <strong>de</strong> Histologia e Anatomia, que são disciplinas dos<br />

primeiros anos: “Doutor, você teria alguém para me indicar, entre os<br />

seus auxiliares e estagiários? E me indicou o doutor Lauro Beltrão, que<br />

tinha interesse. O professor <strong>de</strong> Histologia não tinha ninguém disponível,<br />

mas ficou responsável por montar todas as lâminas, nos ven<strong>de</strong>r, e enviar<br />

o auxiliar para montar o curso todinho. Foi maravilhoso. O catedrático<br />

veio aqui, as primeiras aulas foi ele quem <strong>de</strong>u.<br />

Campus<br />

No segundo ano tinha as disciplinas <strong>de</strong> Fisiologia, Patologia e<br />

precisávamos <strong>de</strong> um local. O conselho reuniu-se, <strong>de</strong>cidimos construir.<br />

Neste momento dois londrinenses que estavam no Governo <strong>de</strong> Paulo<br />

Pimentel influenciaram: Dalton Fonseca Paranaguá, que foi secretário<br />

da Saú<strong>de</strong>, e Orlando Mayrink Góes, que foi secretário da Fazenda. Eles<br />

andaram toda a cida<strong>de</strong> e escolheram aquele campus que está lá. Aquela<br />

área <strong>de</strong> 49 alqueires maravilhosos, para o campus da Fesulon.<br />

Delimitamos a área, que era uma fazenda <strong>de</strong> café, e aqui<br />

na fazenda morava um peão administrador da fazenda (Fazenda<br />

Santana). Ele me <strong>de</strong>u o en<strong>de</strong>reço do proprietário, que morava em São<br />

Paulo, família Gonzaga. Fui para São Paulo, e disse que gostamos da<br />

área para a <strong>Universida<strong>de</strong></strong>, e eles tiveram uma pequena resistência. Aí<br />

eu falei que a terra seria <strong>de</strong>sapropriada caso eles não nos ven<strong>de</strong>ssem.<br />

Eles enten<strong>de</strong>ram, mas na hora <strong>de</strong> falar em valores ficou sugerido que<br />

se colocasse um valor maior por alqueire, que somasse o mesmo valor<br />

total, que o resto a família doava. Então para nós do Estado era a<br />

mesma coisa. O valor total era o mesmo.<br />

A família concordou, e começamos a fazer o planejamento <strong>de</strong><br />

implantação da <strong>Universida<strong>de</strong></strong> naquela área. Nós ainda não tínhamos<br />

outros cursos, era só medicina, então pensei em ocupar o canto, por isto<br />

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a medicina está naquele cantinho <strong>de</strong> lá. A Fesulon chamou os arquitetos<br />

Sérgio Bopp e Luis César da Silva. Fizemos então a implantação do<br />

primeiro pavilhão, <strong>de</strong> ciências morfológicas, <strong>de</strong>pois fizemos o segundo<br />

pavilhão, o da ciências fisiológicas, construímos e no ano seguinte nós<br />

transferimos para lá as disciplinas básicas todas, em 1968.<br />

Hospital Universitário<br />

A Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina saiu da (área da) Odontologia e passou<br />

para lá. Quando já havia turmas do terceiro e quarto anos <strong>de</strong> medicina,<br />

surgiu a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um local para as ca<strong>de</strong>iras clínicas. Fui à Santa<br />

Casa <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> e fiz um contrato com eles para os meus médicos<br />

ensinarem os meus alunos lá <strong>de</strong>ntro. Ela me ce<strong>de</strong>u uma sala no<br />

porão, e esses professores contratados em clínica médica e cirúrgica,<br />

começaram a trabalhar na Santa Casa. E lá foi dado o curso, um ano<br />

ou dois.<br />

Depois, veio uma gran<strong>de</strong> solução. O Hospital Evangélico, que<br />

era ali on<strong>de</strong> está a Cohab, na rua Pernambuco, estava mudando. Nós<br />

fizemos uma coisa muito simples. Fomos lá e pedimos emprestado.<br />

E, sem pagar nada, eles emprestaram o prédio. Nós fizemos uma<br />

adaptação, antes tinha 40 leitos, nós passamos para quase 100 leitos, e<br />

começamos a parte clínica. Contratamos, ao mesmo tempo, o sanatório<br />

<strong>de</strong> tuberculosos, que hoje é o HU, para trabalhar as disciplinas <strong>de</strong><br />

moléstias infecciosas.<br />

Fundação <strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>Estadual</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong><br />

Estávamos ótimos, com essas entida<strong>de</strong>s todas. Estávamos com<br />

tudo implantado, eis que a cida<strong>de</strong> queria uma <strong>Universida<strong>de</strong></strong>. Todo<br />

mundo. Com toda esta solicitação o governador Paulo Pimentel resolveu<br />

fazer a <strong>Universida<strong>de</strong></strong>. Fez três ao mesmo tempo: <strong>Londrina</strong>, Maringá e<br />

Ponta Grossa. Mas fez todas como fundação, da mesma maneira como<br />

era nossa Fundação, a Fesulon, com conselhos, Estado participando,<br />

aluno pagando – porque na nossa Fundação o aluno pagava mais ou<br />

menos 20% do que seria o curso normal. O pagamento não afetava<br />

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ninguém, mas para a Fesulon era ótimo, era um dinheiro que entrava,<br />

essa é a vantagem da Fundação.<br />

O governo do Estado fez neste <strong>de</strong>creto em que ele criou a<br />

<strong>Universida<strong>de</strong></strong>, que uma das funções dos que tinham participado das<br />

faculda<strong>de</strong>s antigas era que cada uma indicasse dois professores para<br />

comporem uma comissão – tinha 12 membros – responsável por redigir<br />

o estatuto da <strong>Universida<strong>de</strong></strong> e fazer uma lista sêxtupla para encaminhar<br />

ao governo do Estado para a escolha do reitor (Os nomes tinham que<br />

sair <strong>de</strong>ntre os 12 da comissão).<br />

Fizemos o estatuto, mandamos ao governo, foi aprovado. Então<br />

a <strong>Universida<strong>de</strong></strong> estava institucionalizada através <strong>de</strong>sses documentos.<br />

Na lista sêxtupla eu entrei em sexto lugar <strong>de</strong> votos. Porque eram mais<br />

representantes das faculda<strong>de</strong>s isoladas e nós éramos menos: medicina<br />

e economia. As faculda<strong>de</strong>s isoladas eram odontologia, direito e filosofia.<br />

Por acaso eu entrei em sexto e o Paulo Pimentel resolveu me escolher.<br />

Por causa do meu relacionamento com Orlando Mayrink Góes e com<br />

Dalton Paranaguá.<br />

Reitoria<br />

Eu peguei o papel com o <strong>de</strong>creto (risos)... Eu não imaginava, nem<br />

queria, eu queria continuar com a medicina. E como reitor não podia<br />

ser mais médico, porque era uma função <strong>de</strong> <strong>de</strong>dicação exclusiva. Peguei<br />

o papel e me perguntei: “E agora, Ascêncio?” O <strong>de</strong>creto mandava juntar<br />

todas as faculda<strong>de</strong>s, para isto era preciso extinguir todas e eu as criaria<br />

como Centro da <strong>Universida<strong>de</strong></strong>. Centros básicos – humanas, biológicas<br />

e exatas – e Centros Aplicados – direito, medicina, todos os outros.<br />

Eu aluguei duas salas no Ipolon, e claro que eu já tinha autorida<strong>de</strong><br />

para pegar a Fesulon – que tinha dinheiro, as outras não tinham, mas<br />

a Fesulon tinha autonomia, tinha dinheiro. Aí eu peguei funcionários<br />

<strong>de</strong>la e levei para estas salas. Peguei funcionários que eram da Fesulon e<br />

os recursos da Fesulon para eu começar. E, vamos começar.<br />

Eu visitei todas as faculda<strong>de</strong>s, marquei com os reitores para<br />

reunir a congregação (o grupo que mandava na faculda<strong>de</strong>). Fui lá na<br />

congregação e disse: “Olha, aqui está o <strong>de</strong>creto, eu vou extinguir a<br />

faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> vocês, vou transferir todos para uma outra entida<strong>de</strong> que<br />

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são os centros básicos, e vocês passarão a contar com todos os direitos,<br />

mas temos que dissolver a sua faculda<strong>de</strong>, o seu diretor, o seu secretário<br />

e a sua congregação”. Fui em todas e falei isto. Eu comecei e tinha que<br />

arrumar um lugar para a reitoria, porque eu estava no Ipolon.<br />

A Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina tinha feito, on<strong>de</strong> é a reitoria hoje, o<br />

que seria um hospital psiquiátrico. Transformei ali e mu<strong>de</strong>i para lá. E<br />

comecei. Contratei três professores <strong>de</strong> São Paulo – um <strong>de</strong> área biológicas,<br />

um <strong>de</strong> exatas, um <strong>de</strong> humanas –, durante o tempo necessário, para<br />

que eles transformassem todos os professores com as titulações que<br />

eles tinham para o novo estatuto da <strong>Universida<strong>de</strong></strong>. Professor titular,<br />

professor associado, professor assistente, professor auxiliar <strong>de</strong> estudo.<br />

Porque aqui nas faculda<strong>de</strong>s não tinham essas classificações, então<br />

tinha que ver a titulação <strong>de</strong> cada um para ver como enquadrar na nova<br />

divisão, no novo estatuto. Tinha gente, por exemplo, que era professor<br />

contratado da odontologia.<br />

E esses professores fizeram isto durante um mês. Conversaram<br />

com todos, entrevistaram, viam a categoria, titulação. Tudo por escrito,<br />

fiz uma resolução transferindo todos os professores com as titulações<br />

<strong>de</strong>vidas. Extingui os diretores, os secretários e convoquei todos os<br />

professores para eleger os diretores <strong>de</strong> cada Centro. Foram feitas<br />

eleições, eu <strong>de</strong>i posse. Nesse momento, a <strong>Universida<strong>de</strong></strong> começou a<br />

funcionar no novo estatuto.<br />

Mesmo sem espaço físico, já era a <strong>Universida<strong>de</strong></strong>, já era Centro,<br />

tudo certo. Então, nós alugamos a custo zero – <strong>de</strong>ram <strong>de</strong> graça para<br />

nós – on<strong>de</strong> hoje é a Unifil, o teatro que estava vazio. Transferimos<br />

para lá o pessoal <strong>de</strong> direito, ciências econômicas e administração até<br />

a construção no campus. Então aqui no centro da cida<strong>de</strong> ficaram a<br />

odontologia e a filosofia. Mas todos funcionando como Centros, com<br />

conselhos <strong>de</strong> cada um. Como é hoje. Com os diretores escolhidos.<br />

Automaticamente estavam criados o Conselho <strong>de</strong> Administração<br />

da <strong>Universida<strong>de</strong></strong>, formado pelos diretores dos Centros; o Conselho<br />

<strong>de</strong> Ensino e Pesquisa, em que haveria eleição para constituí-lo com<br />

representantes do colegiado, para que tivessem representantes <strong>de</strong><br />

todos os cursos; e o Conselho Universitário, constituído por todos os<br />

diretores, mais representantes da cida<strong>de</strong>.<br />

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Instituída a <strong>Universida<strong>de</strong></strong>, progressivamente, nós começamos<br />

a construir lá mais coisas. Primeiro fiz um concurso nacional para<br />

arquitetos, que fizessem planejamento do campus – nós chamamos<br />

implantação da UEL, como ela ia se implantar naquela área retangular<br />

que é o campus. Ganhou uma firma <strong>de</strong> São Paulo, especialista em<br />

campus, e nós contratamos. Era responsável pelo sistema viário e<br />

on<strong>de</strong> se localizariam os centros, porque não tínhamos dinheiro para o<br />

projeto dos Centros; mas como o campus era retangular, e a medicina<br />

estava no canto, o projeto <strong>de</strong>terminou, aqui será a área da biológicas,<br />

aqui será o centro <strong>de</strong> exatas, aqui <strong>de</strong> humanas, e aqui terá uma rua que<br />

vai ligar os três centros. Está lá, não está? E atrás serão os centros <strong>de</strong><br />

ciências aplicadas, engenharia, direito,...<br />

Então nós tínhamos uma orientação obrigatória <strong>de</strong> implantação<br />

física do campus. E tínhamos que construir pelo menos os centros<br />

básicos. Lógico, como vai ter uma <strong>Universida<strong>de</strong></strong> sem centros básicos?<br />

Conseguimos todo o dinheiro do Estado, o orçamento estourava.<br />

Construímos mais um pouco da biológica, o prédio da exatas, ao lado<br />

da rua, e fizemos os dois prédios das humanas. Aí com quatro anos<br />

eu tinha feito, a básica da biológicas, a básica da exatas, a básica da<br />

humanas, a rua <strong>de</strong> integração total, o sistema elétrico total, o sistema<br />

<strong>de</strong> água e <strong>de</strong> esgoto total. A reitoria ficou daquele jeito, fiz também a<br />

parte da CAE. Aí vieram os outros reitores, fazendo os pormenores.<br />

Último dia da gestão<br />

Não fui professor da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina, só fui diretor.<br />

Porque <strong>de</strong>pois nos últimos anos, quando vem a Cirurgia [especialida<strong>de</strong>]<br />

eu já era reitor. E reitor era tempo integral <strong>de</strong> <strong>de</strong>dicação exclusiva,<br />

então quando chegou a fase <strong>de</strong> cirurgia eu já não participei <strong>de</strong> nenhum<br />

concurso.<br />

Quanto a meus últimos dias na UEL, eu sou muito ortodoxo.<br />

Quando foi para acabar meu mandato, o governo do Estado tinha que<br />

indicar o reitor da lista sêxtupla que nós mandaríamos para ele. O<br />

conselho se reuniu e, infelizmente, entrou o genro do Ney Braga, Oscar<br />

Alves que não tinha nenhuma condição, ele era auxiliar <strong>de</strong> ensino. Eu<br />

não tinha nenhum candidato. A política universitária é que tinha que<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

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saber quais eram os melhores candidatos. Não participei, estava lá,<br />

mas achava que não tinha direito, a instituição tem que saber quais são<br />

os melhores. Totalmente fora <strong>de</strong>sta esbórnia que é agora, com votação<br />

dos alunos. Então eu achava que cada centro, cada diretor, traria nomes<br />

que achavam os melhores possíveis da <strong>Universida<strong>de</strong></strong>, isto é o que eu<br />

chamo política universitária, não política partidária, como está agora.<br />

No dia em que venceu o meu mandato, o governo não tinha<br />

indicado um reitor ainda, eu convoquei o vice-reitor e <strong>de</strong>i posse a ele.<br />

Falavam-me: “Continua”, mas no dia em que venceu, eu saí. E não<br />

voltei mais, eu não tinha mais nada, não era professor.<br />

Eu fui para São Paulo, fiquei oito meses para refazer a minha<br />

medicina, porque se você fica fora da medicina, você fica fora mesmo.<br />

Fiquei refazendo tudo e quando eu vi que estava bom outra vez, vim<br />

para <strong>Londrina</strong>, abri outro consultório e comecei a trabalhar.<br />

E aí está a história. Uma <strong>Universida<strong>de</strong></strong> bem iniciada, os alunos<br />

pagavam, era 20%, mas ajudava a instituição. Aquele centro <strong>de</strong><br />

educação física, a gente fez com o dinheiro dos alunos, <strong>de</strong>pois da<br />

medicina, porque a lei obrigava ter educação física para os alunos<br />

<strong>de</strong> ensino superior. Como reitor, o primeiro prédio foi o <strong>de</strong> educação<br />

física. E assim fomos construindo.<br />

Secretaria <strong>de</strong> Ciência, Tecnologia e Ensino Superior<br />

O Álvaro Dias me convidou para ser secretário <strong>de</strong> Ciência e<br />

Tecnologia, em 1984, quando ele assumiu o governo. Eu falei que<br />

só aceitava se ele transformasse em Ciência, Tecnologia e Ensino<br />

Superior, porque todo o ensino superior do Estado não tinha o controle<br />

do Estado.<br />

Eu não inventei isto, <strong>de</strong> leitura eu sabia que São Paulo estava<br />

criando uma Secretaria <strong>de</strong> Ciência, Tecnologia e Ensino Superior,<br />

passando todas as universida<strong>de</strong>s, da Secretaria <strong>de</strong> Educação, para esta<br />

nova secretaria. Eu falei para o Álvaro Dias tirar da Educação todo o<br />

ensino superior que, criando esta nova Secretaria, totalmente ligada,<br />

eu aceitaria. O problema era que o secretário da Educação já estava<br />

convidado. Falei com o secretário da Educação, na hora ele aceitou, e<br />

ficou então a pasta da Educação com ensino primário e médio.<br />

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Quando nós fomos para Curitiba, falei: “O que eu vou fazer pelas<br />

universida<strong>de</strong>s?” A <strong>de</strong> Maringá precisava <strong>de</strong> uma biblioteca, em <strong>Londrina</strong><br />

eu pensei em comprar uma área para agronomia e veterinária, que eram<br />

dois cursos teóricos, não tinha fazenda experimental – um absurdo. Eu<br />

queria comprar uma área toda para uma fazenda experimental, porque<br />

tínhamos perdido a reserva da área lá atrás do campus como utilida<strong>de</strong><br />

pública.<br />

Como secretário, levantei uma nova área, por sorte, quando<br />

reitor, tinha comprado aquele sítio do lado da educação física, que<br />

chegava no córrego, que por ele a gente chegava na água e atrás, on<strong>de</strong><br />

não estava mais loteado. Levantei documentos, escrituras, falei com<br />

Álvaro Dias e com Washington <strong>de</strong> Novaes, aqui em <strong>Londrina</strong>, para<br />

salvar 100 alqueires para a fazenda experimental. O Álvaro e o prefeito<br />

concordaram em <strong>de</strong>sapropriar 100 alqueires para a fazenda.<br />

No terceiro ano <strong>de</strong> governo, o Estado falava que não tinha<br />

dinheiro para comprar aquela área. Fiquei quieto. Acabei saindo do<br />

governo por um pormenor no mesmo ano. Saí e chamei o secretário <strong>de</strong><br />

Washington <strong>de</strong> Novaes e falei para comprar 50 alqueires pelo menos. E<br />

ele comprou a meta<strong>de</strong> que havia prometido e <strong>de</strong>u para a <strong>Universida<strong>de</strong></strong>,<br />

são aqueles 50 alqueires que hoje é a fazenda experimental.<br />

A <strong>Universida<strong>de</strong></strong> hoje<br />

A <strong>Universida<strong>de</strong></strong> hoje per<strong>de</strong>u o entusiasmo. Nós queríamos fazer<br />

coisas diferentes. Os médicos eram todos <strong>de</strong> fora, imagina chegar para<br />

eles em São Paulo. Dezenas <strong>de</strong> professores vieram para cá, casaram.<br />

Deficiências tinham, mas íamos corrigindo. A <strong>Universida<strong>de</strong></strong> hoje<br />

per<strong>de</strong>u aquela áurea. A medicina, por exemplo, era a quarta do Brasil,<br />

hoje não entra em uma lista. Era uma escola <strong>de</strong> primeiríssima.<br />

A UEL está mal institucionalizada, algumas mudanças apenas<br />

prejudicaram: a escolha do reitor por eleição entre estudantes,<br />

servidores e professores, porque a <strong>Universida<strong>de</strong></strong> não é lugar <strong>de</strong><br />

i<strong>de</strong>ologias e nem <strong>de</strong> política partidária, mas <strong>de</strong> política universitária; a<br />

transformação dos funcionários em funcionários públicos e a retirada<br />

do pagamento da taxa <strong>de</strong> 20% do aluno.<br />

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Ascêncio: Médico, Fazen<strong>de</strong>iro, Pai<br />

Paralelamente com estas ativida<strong>de</strong>s, fui fazen<strong>de</strong>iro. Quando<br />

comecei a ganhar dinheiro como médico em <strong>Londrina</strong>, comecei a<br />

comprar terras e sempre tomei conta. Quando retornei da Secretaria<br />

<strong>de</strong> Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, teria que voltar a estudar<br />

medicina. Sou cirurgião gastro e as técnicas estavam mudando naquele<br />

período. Eu teria que apren<strong>de</strong>r novamente, então parei com a cirurgia.<br />

Mas continuei a tomar conta <strong>de</strong> terras.<br />

O homem não po<strong>de</strong> parar <strong>de</strong> trabalhar, este é o meu segredo <strong>de</strong><br />

longevida<strong>de</strong> útil. Também tenho um dos meus quatro filhos que fez<br />

medicina. Falei para o meu filho que é necessário fazer algo para se<br />

sentir bem também, e ele é professor da UEL. Eu me sinto continuado<br />

por ele, porque ele é muito bom, capaz.<br />

Poliana Lisboa <strong>de</strong> Almeida<br />

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Benedita <strong>de</strong> Oliveira Bruno<br />

“A senhora é <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>?”, pergunto<br />

à simpática senhora Benedita, atenta à<br />

minha frente. A resposta é imediata: “Sim”.<br />

Depois pensa mais um pouco e completa:<br />

“Eu nasci em Minas, mas vim para cá com<br />

dois anos só. Não voltei mais!”. A mineira<br />

virou uma londrinense autêntica que viveu<br />

uma das fases áureas da cida<strong>de</strong>. Seus pais<br />

vieram na década <strong>de</strong> 1940, para trabalhar<br />

nas lavouras <strong>de</strong> café. Ela cresceu em meio<br />

ao nosso ouro ver<strong>de</strong> e também chegou a<br />

trabalhar na roça e nas colheitas. Por isso não pô<strong>de</strong> estudar muito, o<br />

que não a impediu <strong>de</strong> participar da história da <strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>Estadual</strong><br />

<strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>.<br />

<strong>Universida<strong>de</strong></strong> que ela conheceu antes <strong>de</strong> existir: passou os<br />

primeiros anos <strong>de</strong> casada morando e trabalhando com a lavoura do<br />

café na Fazenda Santana, on<strong>de</strong> hoje fica o campus da UEL.<br />

Depois foi para a cida<strong>de</strong>, mais especificamente o Jardim Tókio,<br />

on<strong>de</strong> mora até hoje. Trabalhou como diarista, sem registro em carteira,<br />

até que soube da vaga <strong>de</strong> zeladora aberta para trabalhar no CEFE.<br />

Veio para preencher a ficha e já foi contratada. “Fiz a entrevista com o<br />

Guaraci, que era o diretor na época”, recorda.<br />

Assim começa uma história <strong>de</strong> 31 anos e meio <strong>de</strong> muito trabalho,<br />

principalmente no começo. “Passava o dia inteiro na UEL. Em casa era<br />

só para dormir mesmo. Saia cedo, entrava às <strong>de</strong>z da manhã e saía <strong>de</strong>z<br />

da noite. Fazia muita hora extra, porque estava faltando funcionário.<br />

Era eu e mais duas senhoras só! Chegava em casa onze horas”. Para<br />

isso, precisava <strong>de</strong>ixar as duas filhas pequenas em casa. As meninas<br />

iam para a escola, voltavam e esperavam. Cresceram testemunhando<br />

o esforço incansável da mãe. “Agora já estão casadas. Ficamos só eu e<br />

meu marido”, conta.<br />

A simpática zeladora viu a estrutura que hoje existe no CEFE<br />

– com várias quadras, pista <strong>de</strong> atletismo e piscinas – ser erguida do<br />

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zero. Quando ela chegou, havia apenas um prédio no centro e o resto<br />

era uma imensidão <strong>de</strong> terra vermelha. “Nossa, era muita terra! Dava<br />

um trabalho danado pra fazer a faxina. Vinha aquele vento forte, daí a<br />

poeira subia. Aquela pista mesmo, antes <strong>de</strong> emborrachar era só terra.<br />

Quando ventava, a gente tinha acabado <strong>de</strong> limpar as salas e<br />

empoeirava tudo <strong>de</strong> novo”. Com chuva o esforço era maior, para dar<br />

conta <strong>de</strong> limpar o rastro <strong>de</strong> lama que se formava pelos corredores.<br />

Pouco a pouco o CEFE foi construído sob o olhar atento <strong>de</strong><br />

Benedita. Ela se lembra <strong>de</strong> cada obra e do espaço <strong>de</strong> trabalho que nunca<br />

parou <strong>de</strong> aumentar. “Eu limpava tudo lá: salas, corredores, quadras e<br />

até piscinas”.<br />

Mas o local em que passou a maior parte do tempo foi a copa.<br />

Os estudantes e funcionários a procuravam sempre por lá para pedir<br />

aquele cafezinho incomparável. Sem falar das outras guloseimas que<br />

ela preparava: “Estourava pipoca e fazia bolinho <strong>de</strong> chuva para eles.<br />

Até hoje encontro as pessoas e elas pe<strong>de</strong>m para eu voltar para fazer os<br />

bolinhos”, comenta sorri<strong>de</strong>nte.<br />

E não é só pelos quitutes que Dona Benedita <strong>de</strong>ixa sauda<strong>de</strong>s.<br />

Ela conta com muita satisfação que sempre foi querida por todos no<br />

CEFE. “Eu conheci muita gente lá. Professores, funcionários, alunos...<br />

gente que aposentou antes <strong>de</strong> mim, outros que faleceram... e sempre<br />

fui muito bem tratada por todo mundo. Graças a Deus!”<br />

Uma das <strong>de</strong>monstrações <strong>de</strong> reconhecimento por seu trabalho<br />

veio dois meses <strong>de</strong>pois da aposentadoria. Benedita foi chamada para<br />

uma reunião importante no CEFE, mas quando chegou era uma<br />

homenagem: recebeu presentes, e agra<strong>de</strong>cimentos por tudo que fez.<br />

Por isso mesmo, que, em julho <strong>de</strong> 2007, aos 64 anos, a <strong>de</strong>spedida<br />

não foi fácil. Benedita conta que ninguém queria que ela se aposentasse.<br />

Ouviu muitos pedidos para continuar no trabalho até o limite dos 70<br />

anos. Mas <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> três décadas <strong>de</strong> completa <strong>de</strong>dicação – até doente<br />

trabalhava para não ter faltas – o corpo sentiu o cansaço e era a hora<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>scansar. Com problemas <strong>de</strong> artrose já não possuía o vigor <strong>de</strong> anos<br />

atrás. Mas ao falar do tempo <strong>de</strong> serviço transparece emoção: “Foi uma<br />

vida que passei <strong>de</strong>ntro da UEL, sinto muita sauda<strong>de</strong> da época em que<br />

trabalhava”.<br />

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Sauda<strong>de</strong> que nem fica tão gran<strong>de</strong> assim, pois Dona Benedita não<br />

<strong>de</strong>u a<strong>de</strong>us ao palco do seu trabalho. Depois <strong>de</strong> anos como zeladora do<br />

CEFE, hoje ela usufrui o centro que ajudou a construir. Toda semana<br />

- duas vezes -, ela frequenta as aulas <strong>de</strong> hidroginástica do Programa<br />

NAFI. Momento para passear pelos queridos corredores e reencontrar<br />

os velhos amigos. “Toda vez que o pessoal me vê por lá fica muito<br />

contente e vem me abraçar!”, orgulha-se. E alguns continuam pedindo:<br />

“Ê tia, volta aqui para o CEFE!”, comenta.<br />

Ela volta sim: “Ah, enquanto eu for viva eu venho!”, garante.<br />

Volte mesmo, Dona Benedita, pois será sempre bem-vinda como foi<br />

até hoje.<br />

Janaína Castro<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

60


Qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida em primeiro lugar<br />

Professora Carmen Garcia <strong>de</strong> Almeida conta um pouco dos seus<br />

mais <strong>de</strong> 25 anos <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s na UEL, on<strong>de</strong> foi muito mais que uma<br />

docente<br />

“Melhorar a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida das<br />

pessoas”. Assim a professora aposentada<br />

Carmen Garcia <strong>de</strong> Almeida <strong>de</strong>fine a<br />

psicologia. Fala com a autorida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

um pós-doutorado na <strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong><br />

São Paulo (USP) e mais <strong>de</strong> 25 anos <strong>de</strong><br />

serviços prestados à UEL. Somam-se a<br />

essa conta nove projetos <strong>de</strong> pesquisa,<br />

oito artigos publicados, dois livros<br />

escritos e participação em outros <strong>de</strong>z.<br />

Tais resultados só vieram <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> muito esforço: noites<br />

maldormidas e muitos quilômetros percorridos nas nem sempre<br />

aconchegantes poltronas <strong>de</strong> ônibus foram uma constante na vida<br />

da professora. Mas ela também guarda um carinho especial a quem<br />

a ajudou muito nessa escalada: a UEL. “A <strong>Universida<strong>de</strong></strong> contribuiu<br />

muito não só com o meu <strong>de</strong>senvolvimento profissional, pois eu tive a<br />

oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fazer todas as minhas pós-graduações, como pessoal<br />

também”, reconhece.<br />

Recém-graduada em psicologia pela Fundação Educacional<br />

<strong>de</strong> Bauru em 1974, Carmen veio da cida<strong>de</strong> do interior paulista para<br />

<strong>Londrina</strong> no ano seguinte. Tomou coragem <strong>de</strong> sair da casa dos pais e vir<br />

morar com o irmão no norte do Paraná <strong>de</strong>pois que soube do concurso<br />

para a UEL. “Eu e mais duas colegas soubemos que abriria um concurso<br />

para docentes. Era gran<strong>de</strong> o ânimo! Eu era jovem, com toda energia,<br />

com o potencial todo. Estava bastante disposta a arregaçar as mangas,<br />

a vestir a camisa da instituição. Então fui à luta!”, lembra.<br />

O talento para a psicologia e a vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> lecionar vieram <strong>de</strong><br />

berço, já que o avô materno e a mãe tiveram experiência na área.<br />

Carmen também percebeu que fez a escolha certa quando, ainda em<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

61


Bauru, teve a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> trabalhar em uma escola <strong>de</strong> periferia. Os<br />

meninos e meninas assistiam a brigas dos pais em casa. Eles eram filhos<br />

<strong>de</strong> famílias “<strong>de</strong>sestruturadas”, crianças que apresentavam dificulda<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> comportamento na escola. “Daí veio o interesse pela psicologia, pela<br />

docência e a atuação profissional, no sentido <strong>de</strong> enten<strong>de</strong>r melhor essa<br />

dinâmica”, diz.<br />

Na UEL, o começo também foi cheio <strong>de</strong> <strong>de</strong>safios, principalmente<br />

por uma rotina praticamente nôma<strong>de</strong> que a professora teve <strong>de</strong> adotar<br />

no começo da carreira. “Era difícil, pois eu ia <strong>de</strong> ônibus para a faculda<strong>de</strong>.<br />

Quando chovia, pegava barro assim que eu <strong>de</strong>scia no ponto <strong>de</strong> ônibus no<br />

campus e precisava caminhar até o <strong>de</strong>partamento, recém-construído.<br />

Era aquela terrona vermelha!”, recorda-se com bom humor. Também<br />

se lembra da fase em que a <strong>Universida<strong>de</strong></strong> ainda se estruturava com<br />

relação aos cursos <strong>de</strong> especialização.<br />

“Hoje, nós temos bons cursos <strong>de</strong> pós-graduação na UEL, um<br />

mestrado em educação, do qual eu já participei e lecionei. Temos ainda<br />

os cursos <strong>de</strong> especialização e mestrado no <strong>de</strong>partamento <strong>de</strong> psicologia,<br />

mas, naquela época, nós não tínhamos nada disso”, recorda-se. “No<br />

meu doutorado [na USP, em São Paulo], por exemplo, estava grávida.<br />

Eu me lembro que terminava a aula meio-dia na segunda-feira e<br />

esperava para ter uma disciplina na quarta, às duas horas da tar<strong>de</strong>.<br />

Vinha pra <strong>Londrina</strong> e dava aula na quinta e sexta e voltava pra São<br />

Paulo no domingo novamente. Foi bastante sacrifício, mas acho que<br />

valeu a pena”, pon<strong>de</strong>ra.<br />

Na sala <strong>de</strong> aula, mais que formar profissionais e disseminar<br />

conhecimento, Carmen fez verda<strong>de</strong>iros amigos e, por vezes, até o papel<br />

<strong>de</strong> mãe. Ela fala <strong>de</strong> quando lançava mão do que ela chama <strong>de</strong> “a terapia<br />

do terapeuta”, exercício no qual o estudante <strong>de</strong> psicologia é que ia para<br />

o divã. “É importante. Os alunos têm <strong>de</strong> ter uma oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fazer<br />

uma terapia”, recomenda. “Como nem todos tinham essa chance, eu é<br />

que tinha <strong>de</strong> trabalhar com as dificulda<strong>de</strong>s, as limitações pessoais <strong>de</strong>les<br />

em sala <strong>de</strong> aula. Isso facilitava o autoconhecimento, o <strong>de</strong>senvolvimento<br />

pessoal e o aprimoramento da formação profissional <strong>de</strong>les. Também<br />

se transformou numa forma <strong>de</strong> aproximação maior do professor com<br />

o aluno. Eu acabava me tornando amiga e até fazia um pouco o papel<br />

<strong>de</strong> mãe, porque eles estavam longe <strong>de</strong> casa, distantes da família e, em<br />

alguns casos, vivendo dificulda<strong>de</strong>s”, justifica.<br />

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62


Amiga sim, mas não menos exigente. Carmen ressalta que<br />

fazia questão <strong>de</strong> os seus estudantes capricharem no levantamento<br />

bibliográfico e seguir as normas da Associação Brasileira <strong>de</strong> Normas<br />

Técnicas (ABNT) nos relatórios clínicos e <strong>de</strong> pesquisa. “Se você<br />

não fizer um bom levantamento, <strong>de</strong> literatura, por exemplo, você<br />

não vai estar bem fundamentado e não vai saber nem por que usou<br />

<strong>de</strong>terminados procedimentos e estratégias em <strong>de</strong>terminadas análises<br />

com os seus clientes. Com essa atitu<strong>de</strong>, acho que eu contribuí para<br />

muitos <strong>de</strong>slancharem não só na carreira acadêmica, mas também na<br />

parte clínica”, comenta.<br />

O resultado <strong>de</strong>sse trabalho e <strong>de</strong>voção pela profissão que escolheu<br />

é facilmente notado quando ela novamente está em contato com os<br />

estudantes egressos, para os quais <strong>de</strong>u aula. Aliás, ainda que sem <strong>de</strong>ixar<br />

<strong>de</strong> lado o sorriso e a simpatia que lhe são característicos, a lembrança<br />

<strong>de</strong> cada reencontro faz a professora ficar com os olhos marejados. “O<br />

que me marcou muito na UEL foi a gratidão <strong>de</strong> ex-alunos. Há uns três<br />

ou quatro anos, recebi um cartão <strong>de</strong> final <strong>de</strong> ano <strong>de</strong> uma ex-aluna e<br />

lá ela me dizia: ‘Professora, eu sou uma profissional bem-sucedida<br />

hoje e agra<strong>de</strong>ço muito a tudo que você me ensinou’. Uma outra aluna,<br />

que hoje está atuando na área clínica, certa vez me disse: ‘Professora,<br />

cada atendimento que faço, cada alta que dou para os meus clientes é<br />

a sua presença que está ali, constantemente do meu lado. É a maneira<br />

como você me ensinou, na teoria e na prática, no mo<strong>de</strong>lo que você me<br />

<strong>de</strong>u, tudo isso foi muito importante’. Isso me emociona, porque você<br />

percebe o quanto você po<strong>de</strong> contribuir”, relata com emoção.<br />

A aposentadoria e o <strong>de</strong>pois<br />

O tempo passou e com ele veio a hora da aposentadoria em<br />

2001. Carmen sentia a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se <strong>de</strong>dicar mais à família,<br />

principalmente à mãe que passou a precisar ainda mais da companhia<br />

<strong>de</strong>la para tratamento médico. Hoje, a professora também faz questão<br />

<strong>de</strong> vivenciar experiências singelas, como os corriqueiros encontros com<br />

os amigos e as viagens que faz com a filha que trabalha em um navio<br />

cruzeiro. “Faço caminhadas diárias, pratico hidroginástica, gosto <strong>de</strong><br />

sair, <strong>de</strong> tomar cerveja com meus amigos, gosto <strong>de</strong> dançar... Acho que<br />

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63


tudo isso <strong>de</strong>ve fazer parte do repertório <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> um aposentado,<br />

porque fisicamente e psicologicamente é muito importante, para você<br />

não se estressar, não entrar em <strong>de</strong>pressão”, explica.<br />

Mesmo aposentada, as ativida<strong>de</strong>s da professora Carmem não<br />

pararam. “Eu ainda continuo dando aulas em pós-graduação, quando<br />

eventualmente sou convidada, e aten<strong>de</strong>ndo em consultório”, afirma.<br />

“Acho que não se <strong>de</strong>ve abandonar tudo. Eu recebi muito em termos <strong>de</strong><br />

conhecimento e reuni experiência muito gran<strong>de</strong>, então posso e <strong>de</strong>vo<br />

continuar a repassar isso.<br />

Quando se tem esse contato com os alunos, é uma coisa que<br />

rejuvenesce”, enfatiza. Mas também consi<strong>de</strong>ra que vive uma fase<br />

em que é necessário ter o “equilíbrio” certo entre os compromissos<br />

profissionais e o lazer. “Tenho colegas que se aposentaram e continuam<br />

trabalhando num ritmo alucinante! Eu acho que isso não é bom. Nessa<br />

ida<strong>de</strong>, mais do que nunca, é o momento <strong>de</strong> equilibrar a balança. O<br />

meu lema é: ‘o que se leva da vida é a vida que a gente leva’, então,<br />

se hoje a gente tem a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ter um pouco mais <strong>de</strong> lazer, <strong>de</strong><br />

participação social, a gente <strong>de</strong>ve aproveitar. Não <strong>de</strong>ixar mais para a<br />

frente, quando você vai ter menos condições e mais limitações físicas”,<br />

aconselha.<br />

Descanso mais que merecido <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> anos <strong>de</strong> <strong>de</strong>dicação à<br />

instituição, à psicologia e à socieda<strong>de</strong>. “A sensação que fica hoje <strong>de</strong>pois<br />

<strong>de</strong> todos esses anos é <strong>de</strong> ter <strong>de</strong>dicado uma vida em prol do bem comum,<br />

da comunida<strong>de</strong>, da comunida<strong>de</strong> científica, do ponto <strong>de</strong> vista do aluno,<br />

<strong>de</strong> formação profissional, ter contribuído para o <strong>de</strong>senvolvimento e<br />

aprimoramento <strong>de</strong>les. Com os meus clientes, sempre busquei diminuir<br />

esse sofrimento, essa dor emocional que muitas vezes eles trazem, no<br />

sentido <strong>de</strong> melhorar a qualida<strong>de</strong> das pessoas. Esse é o ponto alto da<br />

psicologia, melhorar a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida”, encerra.<br />

Em nome da UEL, nosso muito obrigado, Professora Carmen.<br />

Gustavo Ticiane<br />

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Casemiro Framil Sobrinho<br />

Fui professor dos Departamentos <strong>de</strong><br />

Economia, Matemática e Matemática<br />

Aplicada, hoje, <strong>de</strong>nominado Departamento<br />

<strong>de</strong> Estatística.<br />

O meu ingresso na UEL ocorreu em Março<br />

<strong>de</strong> 1974 através <strong>de</strong> aprovações em concursos<br />

públicos para os Departamentos <strong>de</strong><br />

Economia e Matemática, tendo, inicialmente,<br />

ministrado aulas nos dois <strong>de</strong>partamentos.<br />

Acompanhei passo a passo o crescimento da UEL nos trinta e<br />

três anos em que tive a honra <strong>de</strong> serví-la com a minha humil<strong>de</strong><br />

e mo<strong>de</strong>sta contribuição funcional ao seu <strong>de</strong>senvolvimento. Procurei<br />

sempre ofertar à UEL a minha total <strong>de</strong>dicação e amor ao meu trabalho,<br />

quer seja como docente ou nas funções administrativas que me<br />

foram <strong>de</strong>legadas, tais como, representante do CCE no Conselho<br />

Universitário e CEPE, chefia do Departamento <strong>de</strong> Matemática, como<br />

representante dos referidos Departamentos em diversos Colegiados<br />

<strong>de</strong> Cursos, membro <strong>de</strong> Comissões criadas pela Reitoria para criação<br />

e implantação <strong>de</strong> novos cursos acadêmicos na UEL, diretorias, etc.<br />

Para mim foi uma gran<strong>de</strong> honra e um maravilhoso aprendizado<br />

ter servido e participado do crescimento da UEL nestes mais <strong>de</strong> 30<br />

anos <strong>de</strong> vida pública.<br />

A UEL é uma gran<strong>de</strong> família e, sinceramente, gostaria <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r<br />

voltar a serví-la com a mesma <strong>de</strong>dicação e amor que lhe <strong>de</strong>diquei em<br />

toda a minha juventu<strong>de</strong>.<br />

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Dedicação e carinho pela UEL<br />

A funcionária e aluna Cleusa Maria Lopes <strong>de</strong> Oliveira trabalhou<br />

por 24 anos na antiga CAEG (Prograd), estudou pedagogia e agora<br />

cursa matemática na <strong>Universida<strong>de</strong></strong><br />

Os 24 anos que Cleusa Maria<br />

Lopes <strong>de</strong> Oliveira trabalhou na<br />

Coor<strong>de</strong>nadoria <strong>de</strong> Assuntos <strong>de</strong><br />

Ensino <strong>de</strong> Graduação (CAEG)<br />

da UEL, hoje intitulada e<br />

conhecida como Prograd (Pró-<br />

Reitoria <strong>de</strong> Graduação) são<br />

lembrados pela funcionária com<br />

muito carinho. Por muitas vezes<br />

ela ainda chama o lugar em que<br />

trabalhou <strong>de</strong> CAE.<br />

Cleusa Maria <strong>de</strong> Oliveira<br />

começou a trabalhar na UEL em<br />

1979 com contrato temporário. Durante todos os anos em que esteve<br />

na <strong>Universida<strong>de</strong></strong>, a funcionária trabalhou na parte administrativa. “Eu<br />

sempre gostei mais <strong>de</strong> trabalhar na retaguarda, não importava dia, não<br />

importava horário, eu fazia horas extras.”<br />

Quando as matrículas eram por créditos, Cleusa conta que a<br />

CAE se transferia para o CEFE (Centro <strong>de</strong> Educação Física e Esporte),<br />

os funcionários ficavam em guichês. “A CAE passava janeiro e<br />

fevereiro e julho inteirinho lá fazendo as matrículas com aquelas filas<br />

quilométricas.”<br />

Os problemas que Cleusa <strong>de</strong>screve <strong>de</strong>ste tempo <strong>de</strong> atendimento<br />

ao público são <strong>de</strong> ofensa e <strong>de</strong>srespeito pela sua função <strong>de</strong> funcionária.<br />

Mesmo assim, ela conta que conseguia dosar as situações.<br />

Ela também foi chefe da divisão do colegiado na época da<br />

mudança do sistema <strong>de</strong> crédito para o regime seriado, na década <strong>de</strong><br />

1980. “As reuniões <strong>de</strong> colegiado eram feitas todas lá na Prograd, então<br />

tinha dia com até seis reuniões, e para cada reunião tinha que escrever<br />

ata, era cansativo.”<br />

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Em 1993, a funcionária saiu <strong>de</strong> licença e ficou um ano no Mato<br />

Grosso. Quando voltou, começou em algumas tarefas que consi<strong>de</strong>rou<br />

<strong>de</strong>safios. Primeiro, trabalhou no reconhecimento <strong>de</strong> alguns cursos.<br />

Depois, na organização dos catálogos dos cursos <strong>de</strong> graduação.<br />

Nos catálogos, que hoje estão disponíveis na Internet, estão todos<br />

os dados do curso – reconhecimento, dados <strong>de</strong> implantação, atos legais,<br />

perfil do aluno, objetivos, carga horária, matriz curricular, ementas.<br />

Para editar os catálogos, Cleusa Maria teve que usar o programa <strong>de</strong><br />

editoração Adobe PageMaker. “Na época eu não sabia nem mexer<br />

no Word. E aprendi os recursos do Word e pensei, se tem aqui tem que<br />

ter no Adobe PageMaker.”<br />

A funcionária que trabalhou até 2003 na Prograd, também foi<br />

aluna <strong>de</strong> Pedagogia quando esteve na chefia da Divisão <strong>de</strong> Colegiado.<br />

Sobre ser aluna, Cleusa conta que “acho que foi tão bom que eu sou<br />

aluna outra vez. Eu fiz minha matrícula no curso <strong>de</strong> Matemática, mas<br />

como eu entrei 30 dias <strong>de</strong>pois do início das aulas eu não <strong>de</strong>i conta <strong>de</strong><br />

acompanhar, mas a minha i<strong>de</strong>ia é renovar a matrícula e ano que vem<br />

estar lá no primeiro dia <strong>de</strong> aula.”<br />

Londrinense, Cleusa morou no Mato Grosso durante um ano e<br />

após a aposentadoria mudou-se para Rondônia, on<strong>de</strong> trabalhou em<br />

uma faculda<strong>de</strong>. Ela teve que voltar para <strong>Londrina</strong>, mas ainda preten<strong>de</strong><br />

morar no norte do país. “Pelo menos uma viagem <strong>de</strong> barco <strong>de</strong> Porto<br />

Velho a Manaus eu quero fazer. Tem gente que vai achar estranho, mas<br />

eu gosto.”<br />

Poliana Lisboa <strong>de</strong> Almeida<br />

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Enfermeiro do HU e professor da <strong>Universida<strong>de</strong></strong><br />

pela segunda vez<br />

Mesmo <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> aposentado, David do Carmo voltou para a<br />

<strong>Universida<strong>de</strong></strong> como professor<br />

David do Carmo, natural <strong>de</strong><br />

Cambé, estava na primeira turma<br />

<strong>de</strong> Enfermagem da <strong>Universida<strong>de</strong></strong><br />

<strong>Estadual</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>. Como a região<br />

precisava <strong>de</strong> profissionais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>,<br />

Carmo conta que o curso era dado em<br />

<strong>de</strong>z horas diárias, para que os alunos<br />

se formassem rápido.<br />

Nesta época, o Hospital Universitário<br />

(HU) funcionava no centro da cida<strong>de</strong>,<br />

na esquina das ruas Pernambuco e<br />

Alagoas. Os alunos tinham aulas no campus e no centro, on<strong>de</strong> hoje<br />

funciona a Clínica <strong>de</strong> Odontologia.<br />

Ele lembra do campus da UEL, ainda sem asfalto, “em dias <strong>de</strong><br />

chuva o ônibus não ia até a <strong>Universida<strong>de</strong></strong>. (...) Quantas vezes nós não<br />

colocamos sacos plásticos no pé para chegar até o CCB.”<br />

David do Carmo morava em Arapongas e ia todos os dias para as<br />

aulas. Ele também <strong>de</strong>u aulas em um cursinho <strong>de</strong> Apucarana e trabalhou<br />

um período na Santa Casa <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>.<br />

Depois <strong>de</strong> formado, foi contratado pelo HU, que o mandou<br />

fazer um estágio <strong>de</strong> aperfeiçoamento na área <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> mental na<br />

<strong>Universida<strong>de</strong></strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Santa Catarina (UFSC). Era 1975 e ele se<br />

interessara pela área ainda na faculda<strong>de</strong>.<br />

Após um semestre em Florianópolis, Carmo voltou como<br />

professor e funcionário do Hospital. “E eu voltei dando aula para a<br />

segunda turma <strong>de</strong> Enfermagem”, relembra. No HU, foi supervisor dos<br />

seis enfermeiros que trabalhavam lá na época.<br />

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Em 1976 o professor prestou o concurso e assumiu como docente<br />

na <strong>Universida<strong>de</strong></strong>. Dois anos <strong>de</strong>pois, foi dispensado das aulas para fazer<br />

o Mestrado em Enfermagem Psiquiátrica na USP <strong>de</strong> Ribeirão Preto.<br />

O professor esperou até que a <strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> São Paulo abrisse<br />

um doutorado na área <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> mental para fazê-lo. E apenas em 2002<br />

ele conclui o curso.<br />

A saú<strong>de</strong> mental a qual o professor faz referência está ligada a<br />

pessoas e fatores <strong>de</strong> risco <strong>de</strong> adoecimento mental e a aqueles que já<br />

sofrem com ele. David <strong>de</strong>staca que na área <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> mental a equipe<br />

<strong>de</strong>ve ser interdisciplinar, médico psiquiatra, enfermeiro e assistente<br />

social. Todos <strong>de</strong>vem ser qualificados para lidar com estes pacientes.<br />

Assim que <strong>de</strong>scobriu que teria que trabalhar mais alguns anos<br />

por não ter a nova ida<strong>de</strong> mínima (65 anos para homem) para a<br />

aposentadoria, David resolveu entrar na justiça para conseguir seu<br />

direito. O professor ganhou a causa, aposentou-se, mas com 57 anos<br />

está <strong>de</strong> volta à ativa. “Hoje um Doutor custa muito caro para o país, eu<br />

não me sentiria bem ficando em casa”.<br />

Em 1994, o professor coor<strong>de</strong>nou o projeto <strong>de</strong> extensão no<br />

Hospital <strong>de</strong> Clínicas da UEL, o PAARE. O projeto visava o tratamento<br />

do alcoolismo, principalmente <strong>de</strong>ntro da <strong>Universida<strong>de</strong></strong>, e começou<br />

pressionando a Instituição para que aplicasse a restrição ao consumo<br />

<strong>de</strong> bebidas alcoólicas <strong>de</strong>ntro do campus.<br />

David do Carmo conta que, além dos alunos, que po<strong>de</strong>riam<br />

fazer uso excessivo da bebida, mas que normalmente ainda não eram<br />

alcoólatras, havia funcionários e professores que sofriam do problema.<br />

Ele também alerta que a maioria das pessoas incentiva o consumo,<br />

nas confraternizações <strong>de</strong> trabalho, por exemplo, mas “ninguém aceita<br />

quando a pessoa se torna <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte”.<br />

Na época em que alunos pediam a liberação da venda <strong>de</strong> bebidas<br />

nas cantinas, e faziam festas <strong>de</strong>ntro do campus, Carmo acredita que<br />

a proibição foi uma vitória. Ele ficou na coor<strong>de</strong>nadoria do projeto até<br />

2001 e conta que agora o projeto é um serviço à comunida<strong>de</strong>.<br />

Agora, nos mesmos mol<strong>de</strong>s, ele fala que surgiu o combate<br />

ao tabagismo. Desta vez o professor não participa, mas sabe que a<br />

metodologia implantada é a do Ministério da Saú<strong>de</strong>, que fornece<br />

material para o tratamento, como chicletes e a<strong>de</strong>sivos <strong>de</strong> nicotina.<br />

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69


O professor também é docente do curso <strong>de</strong> Especialização em<br />

Saú<strong>de</strong> Mental. A especialização está em sua quarta turma e também foi<br />

um dos motivos <strong>de</strong>le voltar a dar aulas. A área precisava <strong>de</strong> mais gente<br />

especializada e ele po<strong>de</strong>ria auxiliar.<br />

David ainda brinca que faltavam alguns anos para a sua mulher,<br />

que trabalha na mesma área, aposentar-se, então não quis ficar<br />

sozinho em casa. Seja para não ficar sozinho, seja por querer continuar<br />

a repassar o conhecimento adquirido, David do Carmo <strong>de</strong>monstra um<br />

carinho muito gran<strong>de</strong> pela <strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>Estadual</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>.<br />

Ele, que começou ainda na primeira turma <strong>de</strong> Enfermagem e que<br />

agora observa o Hospital Universitário da janela <strong>de</strong> sua sala, revela<br />

“a UEL é reconhecida como séria, ela te dá condições para exercer<br />

a profissão muito bem”. Garante o professor que cresceu pessoal e<br />

profissionalmente na <strong>Universida<strong>de</strong></strong>.<br />

Poliana Lisboa <strong>de</strong> Almeida<br />

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David Valentim da Silva Filho<br />

Por um erro <strong>de</strong> cartório em Macaúba, na<br />

Bahia, Davi virou David Valentim da Silva<br />

Filho. Ele se acostumou. Quando David<br />

tinha apenas três anos, a família mudou-se<br />

para São Paulo. Moraram em várias cida<strong>de</strong>s<br />

do interior. A última parada foi Andradina.<br />

Depois, vieram para o Paraná. A cida<strong>de</strong><br />

escolhida pela família <strong>de</strong> agricultores<br />

foi Assaí. “Naquele tempo tinha muitas<br />

plantações <strong>de</strong> algodão”.<br />

Em 1969, David já tinha constituído a<br />

sua própria família e <strong>de</strong>cidiu morar em<br />

<strong>Londrina</strong>. “Eu estava cansado da lavoura”.<br />

Aqui, David encontrou o primeiro emprego em uma cervejaria. Depois<br />

<strong>de</strong> três anos, foi trabalhar em uma empresa <strong>de</strong> café solúvel. Lá apren<strong>de</strong>u<br />

a profissão <strong>de</strong> jardinagem. “Eu cuidava dos jardins e gostava”. Ficou<br />

três anos nesta empresa. “Eu trabalhei em outros lugares, mas, às<br />

vezes não pagavam, enrolavam a gente. Sei que o único lugar em que<br />

eu trabalhei durante muito tempo foi a UEL”, conta.<br />

Foram 20 anos cuidando dos jardins da UEL. O filho <strong>de</strong> David,<br />

muito jovem, já trabalhava <strong>de</strong> office boy e incentivou o pai a ingressar<br />

na <strong>Universida<strong>de</strong></strong>. “Naquele tempo não tinha muita gente concorrendo.<br />

E ainda um <strong>de</strong>les não entendia nada <strong>de</strong> jardim, e eu já tinha trabalhado<br />

com isso”.<br />

Para cuidar <strong>de</strong> jardins, segundo David, paciência é imprescindível.<br />

E isso ele tem <strong>de</strong> sobra: fala pouco, pausadamente e só o necessário. Mas,<br />

fica chateado quando alguém joga lixo, pisa na grama e não respeita o<br />

trabalho artesanal do jardineiro. “Geralmente jardim <strong>de</strong> firma você faz,<br />

<strong>de</strong>ixa tudo bonitinho. Daí um pouco tem gente que joga um papel e<br />

outras coisas. E aí tem que limpar <strong>de</strong> novo. E quando termina, e <strong>de</strong>ixa<br />

bonitinho, todo mundo fica <strong>de</strong> olho”.<br />

No início, David trabalhou no campus. Depois foi transferido<br />

para Hospital Universitário. “Eu gostava muito <strong>de</strong> trabalhar na UEL,<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

71


principalmente no meu setor. Nós temos muita amiza<strong>de</strong>. Até hoje<br />

nós nos encontramos para bater papo”, revela. Ele lembra que um dia<br />

encontrou cinco cruzados no jardim, mas só uma vez...<br />

David está aposentado há cinco anos. Faz ginástica duas vezes<br />

por semanas e se exercita todas as manhãs. “Quando eu levanto a<br />

primeira coisa que faço são os exercícios que o médico me ensinou”.<br />

Para não ficar parado, planta mandioca em algumas datas próximas a<br />

sua residência. David gosta mesmo é <strong>de</strong> lidar com a terra.<br />

Léia Dias Sabóia<br />

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Câmara escura<br />

Depois seis anos como zeladora do Hospital Universitário, Delicia<br />

Marcelino Ferreira trabalhou como operadora no raio-x até se<br />

aposentar, em 2005<br />

Depois <strong>de</strong> <strong>de</strong>z anos fazendo a limpeza<br />

em diversas empresas, como a<br />

Caixa Econômica, Banco Mercantil<br />

do Estado <strong>de</strong> São Paulo, Copel,<br />

Telepar e Embratel, na década <strong>de</strong><br />

1970, para uma firma terceirizada,<br />

Delicia Marcelino Ferreira começou<br />

a trabalhar na UEL. Era 1981, e o<br />

ingresso na <strong>Universida<strong>de</strong></strong> não era<br />

feito por concursos. Ela foi contratada<br />

indiretamente pela Fundação <strong>de</strong><br />

Saú<strong>de</strong> Caetano Munhoz da Rocha.<br />

Delicia continuou com a zeladoria, responsável pelo raio-x, do<br />

qual, segundo ela, ninguém gostava. “Quando eu coloquei tudo em dia,<br />

aí todo mundo quis. No começo eram dois funcionários, <strong>de</strong>pois fiquei<br />

sozinha.” E, sozinha, ela era a responsável pela área. “Só <strong>de</strong> banheiro,<br />

tinha cinco”, conta.<br />

Durante os seis anos na zeladoria, Delicia conta que às vezes<br />

auxiliava a funcionária do raio-x, e ia apren<strong>de</strong>ndo. Quando surgiu<br />

a vaga na câmara escura, por causa <strong>de</strong> um aci<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> trabalho, a<br />

funcionária ajudava quando precisavam <strong>de</strong> revelações e estava muito<br />

apurado.<br />

Quando surgiu concurso interno para preencher a vaga, Delicia<br />

não podia participar por ser funcionária da Fundação. Como nenhum<br />

candidato foi classificado para a parte prática, ela acabou sendo<br />

contratada como operadora <strong>de</strong> câmara escura. Delicia explica que havia<br />

duas processadoras, cinco tipos <strong>de</strong> filme, muita química e barulho.<br />

Era comum, naquele tempo, faltar máscaras, ou ter uma única para<br />

todos os operadores. Hoje, ela diz ter dificulda<strong>de</strong>s para sentir cheiro e<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

73


sabores das coisas, e não sabe se está relacionado com o contato com<br />

os produtos químicos.<br />

Como operadora, ela conta que sempre gostou muito dos<br />

pacientes do Hospital Universitário, principalmente os mais humil<strong>de</strong>s,<br />

idosos e crianças. E no raio-x, ajudava como podia.<br />

Em 2005, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> muitas amiza<strong>de</strong>s feitas no trabalho, Delicia<br />

aposentou-se. Tinha 23 anos <strong>de</strong> UEL, mas uma queda alguns anos<br />

antes prejudicou a sua coluna e a funcionária sentia muita dor.<br />

Ela e o marido têm uma chácara, on<strong>de</strong> gostam <strong>de</strong> ficar. Delicia<br />

lembra quando os colegas do trabalho apareceram lá na época <strong>de</strong> sua<br />

aposentadoria. Mas quando não está na chácara, a funcionária tem o<br />

seu cantinho <strong>de</strong> terra no jardim para aproveitar e cuidar, com árvores<br />

frutíferas, ervas, temperos e flores.<br />

Poliana Lisboa <strong>de</strong> Almeida<br />

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74


Um lado <strong>de</strong> Denise<br />

Estudante e professora da <strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>Estadual</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>, Denise<br />

Hernan<strong>de</strong>s Tinoco estava na segunda turma <strong>de</strong> Psicologia e ficou<br />

até 2006<br />

Na praia <strong>de</strong> Santos (SP), Denise Hernan<strong>de</strong>s<br />

Tinoco <strong>de</strong>scobriu a sua vocação. Era<br />

anterior a sua vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> trabalhar com o<br />

sofrimento humano, com o emocional, mas,<br />

com o pai e a mãe médicos ela pensava em<br />

fazer medicina e <strong>de</strong>pois cursar psiquiatria.<br />

Foi quando, conversando com uma amiga<br />

na praia, aos 13 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, uma<br />

professora <strong>de</strong> Psicologia da USP ouviu a<br />

pretensão da menina e contou a ela sobre<br />

este curso novo.<br />

A Psicologia no Brasil surgiu em 1962, na USP e na PUC-SP, com<br />

abordagens bastante amplas e várias correntes. Com a ditadura militar,<br />

em 1964, Denise lembra que os cursos <strong>de</strong> ciências humanas sofreram<br />

com a conversão para o técnico. O importante era fazer, mas sem muito<br />

pensar, sem muito questionar.<br />

Nessa tendência, o curso <strong>de</strong> Psicologia da UEL, da década<br />

<strong>de</strong> 1970, seguia os mol<strong>de</strong>s impostos pela ditadura, privilegiando o<br />

behaviorismo. Denise estava na segunda turma do curso e percebeu<br />

que faltava a visão humanista e a psicanálise em sua formação.<br />

Em 1977, Denise se formou e começou a fazer Especialização em<br />

Análise Transacional, que conhecera com um professor contratado<br />

durante a graduação. Em 1978 o Departamento <strong>de</strong> Psicologia, querendo<br />

mudar a vertente <strong>de</strong> estudo, chamou alguns ex-alunos e professores<br />

que se interessavam por outras abordagens, e Denise começou a dar<br />

aulas na UEL.<br />

Com 22 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, ela já era professora da <strong>Universida<strong>de</strong></strong>.<br />

Para compensar os anos <strong>de</strong> curso em que faltou o aspecto humano,<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

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Denise fez mais três especializações antes do mestrado. “Eu estava<br />

praticamente refazendo a faculda<strong>de</strong>”, diz.<br />

Em 1979, a professora começou a clinicar, só interrompendo<br />

durante quatro anos quando passou a ser vice-chefe e chefe <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>partamento (na década <strong>de</strong> 1990) e estar mais envolvida com a UEL.<br />

Depois, voltou à clínica.<br />

No ano <strong>de</strong> 1987, Denise começou o Mestrado em Psicologia Clínica<br />

na PUC-SP e teve a sua tese “Afetivida<strong>de</strong> e Aprendizagem” publicada<br />

em livro pela Editora da UEL (Eduel). Em 1990, o <strong>de</strong>partamento foi<br />

dividido em três. Ela foi para o Departamento <strong>de</strong> Fundamentos <strong>de</strong><br />

Psicologia e Psicanálise, on<strong>de</strong> teve cargos <strong>de</strong> chefia.<br />

Denise tinha a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> tirar uma licença para pesquisa<br />

(licença sabática) e aproveitou para fazer o seu doutorado, também na<br />

PUC (1999-2003).<br />

Em 2005 a professora pediu a aposentadoria e ficou afastada<br />

esperando. No ano seguinte, quando a aposentadoria saiu, ela já havia<br />

sido chamada para ser coor<strong>de</strong>nadora do curso <strong>de</strong> Psicologia da Unifil,<br />

on<strong>de</strong> está até hoje.<br />

Denise esteve dos 17 aos 51 anos na UEL. “É uma vida”, <strong>de</strong>staca.<br />

A professora diz que gostou muito <strong>de</strong> trabalhar na UEL, mas que foi<br />

até banca <strong>de</strong> concurso para preencher a sua vaga e não preten<strong>de</strong> voltar.<br />

Poliana Lisboa <strong>de</strong> Almeida<br />

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76


Djalmira <strong>de</strong> Sá Almeida<br />

De muito longe, Djalmira <strong>de</strong> Sá<br />

Almeida utiliza o e-mail para contar<br />

com carinho a sua passagem <strong>de</strong> sete<br />

anos pela UEL. A pernambucana, <strong>de</strong><br />

Terra Nova, fez primário e ginásio<br />

na cida<strong>de</strong> próxima, Parnamirim.<br />

Com a mudança da família para o<br />

Paraná, em 1972, Djalmira concluiu<br />

o magistério, atual ensino médio,<br />

em Corbélia no ano seguinte.<br />

Após cursar Letras em Cascavel,<br />

Djalmira teve um primeiro<br />

contato com a <strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>Estadual</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>, quando fez aqui<br />

uma especialização em 1980. Após o curso, começou a trabalhar em<br />

Marechal Cândido Rondon como inspetora auxiliar. “Fui vice-diretora<br />

da Escola Eron Domingues - 2º Grau naquela cida<strong>de</strong>. Fui a primeira<br />

professora <strong>de</strong> linguística e <strong>de</strong> língua portuguesa do curso <strong>de</strong> Letras da<br />

antiga FACIMAR - Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Ciências e Letras <strong>de</strong> Marechal Cândido<br />

Rondon, hoje campus da Unioeste”, conta a professora.<br />

Em <strong>Londrina</strong>, Djalmira trabalhou para o 4º Núcleo Regional<br />

<strong>de</strong> Educação: “trabalhei <strong>de</strong> 1984 a 1994, primeiro como auxiliar<br />

administrativo do setor <strong>de</strong> processos; <strong>de</strong>pois passei a compor a equipe<br />

pedagógica ministrando palestras e cursos para capacitação docente em<br />

todos os municípios da região (Jaguapitã, Cambé, Rolândia, Alvorada<br />

do Sul, Porecatu, Sertanópolis, Pitangueiras, Astorga, Primeiro <strong>de</strong><br />

Maio, etc.) jurisdicionados ao 4º NRE.” A professora também passou<br />

por algumas escolas estaduais da cida<strong>de</strong> nestes anos: Nilo Peçanha,<br />

Jácomo Violin, Merce<strong>de</strong>s Madureira, Rui Barbosa e Vicente Rijo.<br />

De 1987 a 1997 a professora lecionou língua portuguesa a todos<br />

os cursos do Centro Universitário <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> (Cesulon): “quando<br />

fui aprovada no concurso da UEL com <strong>de</strong>dicação exclusiva, aí tive<br />

que sair”, conta Djalmira. Na UEL, no Departamento <strong>de</strong> Letras<br />

Vernáculas e Clássicas, ela <strong>de</strong>u aulas para diversos cursos: “Letras<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

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(Língua Portuguesa, Produção Textual, Leitura e Recepção <strong>de</strong><br />

Textos e Morfossintaxe do Português); História (Leitura e Produção<br />

<strong>de</strong> Textos); Administração (Língua Portuguesa); Ciências Sociais<br />

(Produção Textual); Jornalismo (Teoria Literária e Análise Literária) e<br />

em Secretariado Executivo (História da Língua Portuguesa e Redação<br />

Comercial)”, lembra.<br />

Deste período, a professora Djalmira dá o seguinte <strong>de</strong>poimento:<br />

“muito feliz para mim. Aprendi muito e também aju<strong>de</strong>i muita gente.”<br />

Com os alunos a professora teve um ótimo relacionamento: “Os alunos<br />

e alunas eram muito bons e <strong>de</strong>monstravam gostar muito <strong>de</strong> mim.”<br />

Djalmira <strong>de</strong>clara que esta amiza<strong>de</strong> chegou a ser vista com maus olhos<br />

por alguns colegas <strong>de</strong> profissão, que a criticavam: “segundo eles era<br />

‘um absurdo professora se misturar com alunos’”.<br />

Em 2002, antevendo que a lei aumentasse para 30 anos o tempo<br />

<strong>de</strong> aposentadoria, a professora, que já tinha 25 anos <strong>de</strong> prestação <strong>de</strong><br />

serviço, <strong>de</strong>cidiu parar <strong>de</strong> trabalhar. “Também fui convidada por meus<br />

irmãos para morar no Pará e abrir uma faculda<strong>de</strong> lá”, conta.<br />

Hoje, na Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Itaituba, Djalmira além <strong>de</strong> sócia, dirigente,<br />

orientadora <strong>de</strong> TCC, às vezes ainda ministra aulas quando falta<br />

professor, “pois isto aqui é comum, em virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong> chuvas, enchentes,<br />

dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> transporte e comunicação. Afinal, estamos no oeste do<br />

Pará, uma das regiões alagadas da Amazônia Legal.”<br />

Mesmo geograficamente distante, a professora nos escreve com<br />

<strong>de</strong>dicação por estar falando para pessoas da UEL e, principalmente, <strong>de</strong><br />

<strong>Londrina</strong>, cida<strong>de</strong> que Djalmira revela: “adoro”.<br />

Poliana Lisboa <strong>de</strong> Almeida<br />

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O vigia que gosta <strong>de</strong> terra<br />

Domingos Dias da Silva trabalhou por 22 anos na <strong>Universida<strong>de</strong></strong> e<br />

esteve em vários postos <strong>de</strong>la<br />

Ele é baiano e foi agente <strong>de</strong> segurança<br />

da <strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>Estadual</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>.<br />

Por duas vezes. Com sete anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>,<br />

Domingos Dias da Silva saiu <strong>de</strong> Morro<br />

do Chapéu, na Bahia, com o pai, mãe<br />

e <strong>de</strong>z irmãos. Eles vinham trabalhar<br />

como colonos nas fazendas na região<br />

<strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>. Domingos conta que parte<br />

da viagem foi feita <strong>de</strong> caminhão, outra<br />

<strong>de</strong> vapor, mas ele se lembra <strong>de</strong>la muito<br />

pouco. Apenas como um sonho distante.<br />

Aos 17 anos ele <strong>de</strong>ixou o campo para procurar trabalho na cida<strong>de</strong>.<br />

Em 1971, começou a trabalhar na UEL. Durante os próximos cinco<br />

anos, Domingos ficaria entre a portaria do Hospital Universitário, na<br />

esquina das ruas Pernambuco com a Alagoas, e o Colégio Aplicação,<br />

como inspetor <strong>de</strong> alunos.<br />

Quando Domingos seria transferido para trabalhar no campus da<br />

<strong>Universida<strong>de</strong></strong>, resolveu que era a hora <strong>de</strong> sair. Ficaria muito caro pagar<br />

duas passagens <strong>de</strong> ônibus a mais por dia – não havia integração entre<br />

os ônibus e ele precisaria pegar dois para ir e dois para voltar da UEL.<br />

Neste tempo, trabalhou em portarias <strong>de</strong> prédios, como cobrador<br />

<strong>de</strong> ônibus e na empresa <strong>de</strong> Café Iguaçu. Em 1989, prestou um concurso<br />

para vigias no campus. Em julho, Domingos voltou a trabalhar na<br />

<strong>Universida<strong>de</strong></strong>.<br />

Até 2007 o funcionário esteve presente em vários postos <strong>de</strong><br />

vigia: Reitoria, Setor <strong>de</strong> Material, Fazenda-Escola, Granja, Laboratório<br />

<strong>de</strong> Medicamentos, nos Centros, Hospital Veterinário... “Eu trabalhei<br />

bastante substituindo outros vigias. Alguns não gostavam, mas eu não<br />

achava ruim”, conta Domingos.<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

79


O gran<strong>de</strong> problema <strong>de</strong> segurança no campus da UEL, segundo<br />

o funcionário, é a localização: um campo aberto. Mas Domingos, que<br />

sempre trabalhou às noites, uma sim, uma não, conta que nunca flagrou<br />

nenhuma irregularida<strong>de</strong>. Ele, que entrou na <strong>Universida<strong>de</strong></strong> quando os<br />

vigias passaram a andar <strong>de</strong>sarmados, fala também que o segurança<br />

<strong>de</strong>ve estar muito bem preparado para usar uma arma.<br />

Com anos <strong>de</strong> experiência na segurança, o funcionário respon<strong>de</strong><br />

que acredita que o problema <strong>de</strong> segurança na UEL vem mais <strong>de</strong> pessoas<br />

externas à <strong>Universida<strong>de</strong></strong>. “Po<strong>de</strong> até ocorrer alunos fazendo coisa errada<br />

lá <strong>de</strong>ntro, mas acredito que a maioria são pessoas <strong>de</strong> fora.” Por isto<br />

ele consi<strong>de</strong>ra importante a proibição <strong>de</strong> festas e consumo <strong>de</strong> bebidas<br />

alcoólicas no campus, “na época <strong>de</strong> festas nos preocupávamos muito”.<br />

Domingos mora com a esposa Iracema Amorim Dias da Silva,<br />

que trabalha como cozinheira, e seus dois filhos, André e An<strong>de</strong>rson.<br />

An<strong>de</strong>rson está no segundo ano <strong>de</strong> Química na UEL, “eu acho bom, peço<br />

a Deus que ele tenha força e inteligência porque o curso não é fácil”, diz<br />

o pai.<br />

O aposentado também se <strong>de</strong>dica há mais <strong>de</strong> 16 anos a cuidar <strong>de</strong><br />

um terreno em frente a sua casa. “Eu planto um pouco, môo cana.”<br />

Domingos lembra que Deus criou o homem a partir da terra e que<br />

muitos a chamam <strong>de</strong> mãe. “Só o cheiro da terra me faz bem. Eu trabalho,<br />

trabalho e saio com o corpo leve.”<br />

Poliana Lisboa <strong>de</strong> Almeida<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

80


Homem <strong>de</strong> Letras<br />

Des<strong>de</strong> a sua vinda a <strong>Londrina</strong>, Donato Parisotto esteve ligado ao<br />

ensino. O professor nos recebeu em sua casa e contou sobre seus anos<br />

na UEL<br />

Donato Parisotto trabalhava como<br />

jornalista em São Paulo quando<br />

veio ao norte do Paraná fazer uma<br />

reportagem especial sobre o café,<br />

nos anos 1960. Resolveu visitar o<br />

Colégio Londrinense, referência <strong>de</strong><br />

ensino na época. Recém-formado<br />

em letras, ele estava no hotel<br />

quando Zaqueu <strong>de</strong> Melo apareceu<br />

lá. Queria que Donato ficasse na<br />

cida<strong>de</strong>.<br />

Parisotto começou a dar aulas <strong>de</strong><br />

línguas no colégio <strong>de</strong> Zaqueu <strong>de</strong><br />

Melo. Posteriormente, na Faculda<strong>de</strong> <strong>Estadual</strong> <strong>de</strong> Filosofia, Ciências e<br />

Letras <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>, que funcionava nas instalações do Colégio Hugo<br />

Simas.<br />

No começo, a <strong>Universida<strong>de</strong></strong> foi dividida em Centros <strong>de</strong> Estudos.<br />

O Centro <strong>de</strong> Letras e Ciências Humanas (CLCH), o Centro <strong>de</strong> Ciências<br />

Biológicas (CCB), o Centro <strong>de</strong> Ciências Exatas (CCE), o Centro <strong>de</strong><br />

Ciências da Saú<strong>de</strong> (CCS), o Centro <strong>de</strong> Ciências Sociais Aplicadas<br />

(CESA) e o Centro <strong>de</strong> Educação (CE). Hoje, além dos seis iniciais a UEL<br />

tem mais três centros, o CEFE, <strong>de</strong> Educação Física, CCA, <strong>de</strong> Ciências<br />

Agrárias e o CTU, <strong>de</strong> Tecnologia e Urbanismo.<br />

O CLCH foi o primeiro a ser transferido para o campus. O prédio,<br />

o mesmo <strong>de</strong> hoje, ainda estava inacabado. Donato Parisotto lembra<br />

a visita do cônsul português ao prédio. O prédio não acabara <strong>de</strong> ser<br />

construído e os alunos já estavam tendo aulas lá. A estrada que ligava<br />

a cida<strong>de</strong> ao campus não era asfaltada. Parisotto gastou um carro novo<br />

nela, mas lembra com carinho <strong>de</strong>ste começo, quando também foi<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

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diretor do Centro <strong>de</strong> Letras e Ciências Humanas, <strong>de</strong> 1971 a 1976 e <strong>de</strong><br />

1983 a 1984.<br />

Ele conta alguns episódios, como quando permitia a entrada<br />

<strong>de</strong> alunos sujos <strong>de</strong> terra em sua aula. O prédio do CLCH ficava no<br />

gramado e não tinha passarela ou nenhum caminho que o ligasse às<br />

ruas do campus por conta da estética. Era comum alunos caírem. O<br />

professor pegou um pouco <strong>de</strong> cimento da <strong>Universida<strong>de</strong></strong> para construir<br />

uma passarela e teve que respon<strong>de</strong>r por isto. Mas não se arrepen<strong>de</strong>.<br />

Donato acredita que a o caminho serviu para o bem-estar dos alunos.<br />

O professor, que se aposentou em 1993, continua a dar aulas<br />

particulares. São tar<strong>de</strong>s e noites exercendo o ofício, e é com orgulho que<br />

Donato diz que está sempre ocupado. Parisotto é membro da Aca<strong>de</strong>mia<br />

<strong>de</strong> Ciências e Letras <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>. Na estante <strong>de</strong> seu escritório, além <strong>de</strong><br />

instrumentos <strong>de</strong> trabalho <strong>de</strong> seus antepassados italianos, ele guarda<br />

uma coleção <strong>de</strong> corujas em miniatura. “Elas representam a sabedoria.<br />

Sempre que eu encontro uma, eu compro.”<br />

Poliana Lisboa <strong>de</strong> Almeida<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

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Sem parar<br />

O professor Durval Adolar Weigert foi um dos fundadores do<br />

curso <strong>de</strong> Educação Física e trabalhou no CEFE até os 70 anos<br />

Com 76 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, o professor<br />

aposentado da UEL Durval Adolar<br />

Weigert chega ao Centro <strong>de</strong> Educação<br />

Física e Esporte on<strong>de</strong> todos o conhecem.<br />

Ele nomeia os atuais professores do curso,<br />

muitos <strong>de</strong>les foram seus alunos, lembra<br />

Weigert.<br />

O professor chegou em <strong>Londrina</strong> em<br />

1971 para ajudar na criação do curso <strong>de</strong><br />

Educação Física, naquela que ainda era a<br />

Fundação <strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>Estadual</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> 10 anos <strong>de</strong><br />

trabalho em Assaí.<br />

O curitibano mudou-se para Assaí, no interior, em busca <strong>de</strong> mais<br />

aulas. Weigert formara-se na UFPR (<strong>Universida<strong>de</strong></strong> Fe<strong>de</strong>ral do Paraná)<br />

em 1960, fora atleta do Clube Atlético Paranaense <strong>de</strong> basquetebol e,<br />

ainda durante o curso, fora professor no Colégio Militar da capital. A<br />

aventura no interior ren<strong>de</strong>u para ele um emprego no Colégio <strong>Estadual</strong><br />

Conselheiro Carrão, na Escola Normal Duque <strong>de</strong> Caxias e o casamento<br />

com Maria da Conceição dos Santos Weigert.<br />

Em <strong>Londrina</strong>, ele começou a dar aulas no Colégio <strong>Estadual</strong><br />

Vicente Rijo, on<strong>de</strong> ficou até aposentar-se em 1998, enquanto lecionava<br />

na UEL. Weigert lembra que chegou a dar aulas até no banheiro do<br />

Santa Teresinha. “A parte prática era no campo, mas a projeção eu<br />

precisava fazer no banheiro.”<br />

Também houve aulas no atual Colégio <strong>de</strong> Aplicação. Weigert,<br />

que fala que o campus mesmo era só cafezal, <strong>de</strong>u aulas nas salas da<br />

Anatomia, no meio dos cadáveres.<br />

Além do curso <strong>de</strong> graduação, ele fez cursos <strong>de</strong> técnica em<br />

basquete e vôlei, especialização em basquete e cursos internacionais<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

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<strong>de</strong> aperfeiçoamento em educação física e <strong>de</strong>sportos no Brasil e na<br />

Argentina.<br />

As disciplinas ministradas por Weigert eram <strong>de</strong> prática em vôlei,<br />

basquete, futebol, ginástica e han<strong>de</strong>bol. No curso <strong>de</strong> licenciatura, o<br />

professor dava Introdução ao Estudo da Educação Física – ele tem um<br />

livro não publicado sobre este assunto – , mas hoje o curso não tem<br />

mais a disciplina.<br />

O professor conta que sempre foi festeiro e que gostava <strong>de</strong> fazer<br />

algo a mais para os alunos, já que muitos vinham <strong>de</strong> outras cida<strong>de</strong>s e<br />

estavam distantes da família. Ele acredita que seus alunos produziam<br />

mais <strong>de</strong>sta forma e que ainda se lembram <strong>de</strong> sua matéria e do professor<br />

como um amigo.<br />

Para ele, é importante a socialização do aluno e a convivência<br />

com os <strong>de</strong>mais. Por isto gostava <strong>de</strong> dar exemplos e brincar com eles,<br />

uma vez que no futuro os estudantes estariam na frente <strong>de</strong> uma turma<br />

<strong>de</strong> crianças e teriam que fazer o mesmo.<br />

Weigert lembra da construção do Centro <strong>de</strong> Educação Física e<br />

Esporte. “O primeiro a ser construído foi o ginásio, mas sem salas <strong>de</strong><br />

aula.” Depois vieram as piscinas internas, que eram aquecidas à lenha.<br />

“E formava aquela pilha <strong>de</strong> lenha ali.” As quadras externas, os campos,<br />

a piscina externa, o outro ginásio, a secretaria. Assim ele viu o CEFE<br />

nascer e crescer.<br />

O professor conta que gosta do trabalho e que, em 42 anos <strong>de</strong><br />

aulas, nunca faltou a nenhuma. Ele também gosta do local <strong>de</strong> trabalho.<br />

Weigert volta à <strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> vez em quando e chega até a sonhar<br />

que está ensinando.<br />

Em 2002, ele se aposentou pela UEL, e já acumulava duas outras<br />

aposentadorias da época do Vicente Rijo. Apesar <strong>de</strong> ter uma das três<br />

aposentadorias cortadas e <strong>de</strong> afirmar que o salário anda <strong>de</strong>fasado, ele<br />

não <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> aproveitar o tempo livre. Além <strong>de</strong> cuidar dos netos e <strong>de</strong><br />

pescar, Durval Adolar Weigert gosta <strong>de</strong> cozinhar e diz que o almoço <strong>de</strong><br />

domingo é ele quem faz.<br />

Poliana Lisboa <strong>de</strong> Almeida<br />

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Camarada feliz<br />

Satisfeito com tudo o que fez, Durvali Emilio Fregonezi afirma<br />

ter encontrado a felicida<strong>de</strong> e não tem medo <strong>de</strong> continuar vivendo e<br />

superando <strong>de</strong>safios<br />

“Eu sou um camarada bastante feliz”.<br />

Assim se <strong>de</strong>fine o cambeense Durvali<br />

Emilio Fregonezi, nascido na época em<br />

que a região ainda era o antigo distrito<br />

<strong>de</strong> Nova Dantzig. O largo sorriso em<br />

seu rosto e o ritmo pacato <strong>de</strong> sua fala<br />

revelam a alegria tranquila <strong>de</strong> quem<br />

soube aproveitar o melhor da vida e<br />

segue confiante em sua jornada. “A vida<br />

é um eterno aprendizado, a gente nunca<br />

fica pronto, segue sempre aprimorando<br />

e há sempre o que se <strong>de</strong>scobrir. Felizmente: o bom da vida são os<br />

problemas que se apresentam como um <strong>de</strong>safio a ser vencido, é o que<br />

nos alavanca”, avalia.<br />

Impulsionado pelos <strong>de</strong>safios postos pela vida, aos 66 anos,<br />

Durvali trabalhou e estudou o máximo que pô<strong>de</strong>. Lecionou para<br />

crianças e adultos, fez mestrado, doutorado, ganhou bolsas para cursos<br />

no exterior, publicou livros, participou <strong>de</strong> seminários e passou 30 anos<br />

na UEL. Mas ainda carrega consigo o menino da zona rural que nunca<br />

<strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> ser. Não se esquece do tempo em que gostava <strong>de</strong> viajar<br />

<strong>de</strong> carroça ao lado pai e tomar guaraná com o in<strong>de</strong>fectível “sabor <strong>de</strong><br />

infância”, como <strong>de</strong>finiu, certa vez, um amigo seu.<br />

Recorda-se, também, <strong>de</strong> quando aos 12 anos viu aflorar o <strong>de</strong>sejo<br />

<strong>de</strong> ser professor, pela experiência precoce proporcionada por uma<br />

prima. “Ela morava na nossa casa e trabalhava como professora.<br />

Costumava me levar para a escola para ajudar em suas ativida<strong>de</strong>s.<br />

Eram muitos alunos, <strong>de</strong> várias séries, e quando ela precisava se <strong>de</strong>dicar<br />

a um grupo, eu auxiliava dando aula para os <strong>de</strong>mais. Fiz isso várias<br />

vezes e gostava bastante”, afirma. A convicção vocacional não <strong>de</strong>morou<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

85


a se consolidar, e após formar-se em letras na Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Filosofia<br />

e Ciências <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>, Durvali, começou a dar aulas em Cambé, no<br />

Ginásio <strong>Estadual</strong> <strong>de</strong> Cambé (5ª a 8ª séries do ensino fundamental)<br />

e na Escola Normal Grau Colegial Gabriela Mistral (formação <strong>de</strong><br />

professores).<br />

Na sala <strong>de</strong> aula, conviveu com os mais variados alunos e sabia,<br />

astutamente, o que cada um tinha <strong>de</strong> melhor. “Os alunos <strong>de</strong> antigamente<br />

eram diferentes, iam para a universida<strong>de</strong> mais velhos e maduros e o<br />

relacionamento era mais respeitoso. Hoje possuem uma liberda<strong>de</strong> que<br />

às vezes po<strong>de</strong> levá-los a exce<strong>de</strong>r os limites, mas por outro lado, são<br />

mais espontâneos, o que colabora para o aprendizado. Não há melhor<br />

ou pior, é preciso valorizar os aspectos <strong>de</strong> cada época”, pon<strong>de</strong>ra.<br />

O primeiro trabalho no ensino superior veio alguns anos mais<br />

tar<strong>de</strong> na Faculda<strong>de</strong> <strong>Estadual</strong> <strong>de</strong> Filosofia, Ciências e Letras <strong>de</strong> Cornélio<br />

Procópio. E, tão logo foi fundada a UEL, Durvali passou a compor o<br />

corpo docente da instituição. Aprovado no primeiro concurso público<br />

para a <strong>Universida<strong>de</strong></strong>, iniciou o ciclo que levaria três décadas para se<br />

encerrar no ano <strong>de</strong> 2000.<br />

O caminho inicial, porém, foi repleto <strong>de</strong> “ramificações”. Os<br />

primeiros professores contratados pela UEL raramente possuíam<br />

contratos para 40 horas-aula. Com Durvali não foi diferente. Casado, e<br />

já com filhos, o professor complementava a renda da família prestando<br />

serviços em outras instituições da região norte do Paraná. “Eu <strong>de</strong>i aula<br />

simultaneamente em faculda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Cornélio Procópio, Arapongas,<br />

Jandaia do Sul, Mandaguari e na UEL. Mas em todos esses lugares<br />

tinha uma carga horária muito pequena, uma disciplina só, por<br />

exemplo. As viagens eram muito cansativas, mas necessárias”, recorda.<br />

Somente <strong>de</strong>pois da efetivação <strong>de</strong> seu contrato para 40 horas aula na<br />

UEL, Durvali pô<strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar os <strong>de</strong>mais estabelecimentos para <strong>de</strong>dicar-se<br />

exclusivamente à <strong>Universida<strong>de</strong></strong>.<br />

Mas a poeira das estradas ainda acompanhou Durvali por mais<br />

tempo, durante seus cursos <strong>de</strong> pós-graduação. Sem licença remunerada<br />

para afastar-se da UEL, teve que fazer o mestrado nos meses <strong>de</strong> férias:<br />

janeiro, fevereiro e julho. “Não tinha <strong>de</strong>scanso: trabalhava o ano letivo<br />

inteiro e <strong>de</strong>pois viajava para Porto Alegre, on<strong>de</strong> cursava o mestrado<br />

na PUC [Pontifícia <strong>Universida<strong>de</strong></strong> Católica]. E ainda precisava pagar,<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

86


porque a UEL não dava ajuda <strong>de</strong> custo. Mas valeu a pena”, diz sem<br />

arrependimento.<br />

O doutorado igualmente foi realizado distante da UEL, na<br />

<strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>Estadual</strong> Paulista (Unesp), porém <strong>de</strong> modo mais<br />

tranquilo e confortável: Durvali conseguiu o afastamento e uma bolsa<br />

<strong>de</strong> estudos para dirigir-se a Araraquara, interior <strong>de</strong> São Paulo, on<strong>de</strong><br />

fica o campus <strong>de</strong> letras da instituição. Desta vez pô<strong>de</strong> até levar a família<br />

para acompanhá-lo durante os dois anos <strong>de</strong> estudo.<br />

Orgulhoso da experiência que adquiriu ao longo do tempo,<br />

o professor <strong>de</strong>staca a sua participação na implantação do curso <strong>de</strong><br />

mestrado em estudos da linguagem, a primeira pós-graduação “stricto<br />

sensu” a funcionar no Centro <strong>de</strong> Ciências Humanas (CCH). Além <strong>de</strong><br />

cofundador do curso, Durvali lecionou para o mestrado, teve muitos<br />

orientandos e, em seus últimos anos <strong>de</strong> UEL, <strong>de</strong>dicou-se quase que<br />

exclusivamente a este trabalho. “Muitos <strong>de</strong>stes meus alunos hoje<br />

são professores do <strong>de</strong>partamento <strong>de</strong> letras da UEL. Como resultado<br />

das minhas orientações <strong>de</strong> mestrado, foram publicados alguns livros<br />

na área <strong>de</strong> ensino da língua portuguesa. Isso foi muito importante”,<br />

<strong>de</strong>clara.<br />

Sempre atento às oportunida<strong>de</strong>s que pu<strong>de</strong>ssem surgir, Durvali<br />

conseguiu <strong>de</strong> maneira imprevista a primeira chance <strong>de</strong> estudar no<br />

exterior: “Eu li num jornal que o governo da Bélgica estava oferecendo<br />

bolsas <strong>de</strong> estudos para estudantes brasileiros e resolvi tentar. Fiz o<br />

projeto e fui contemplado. Eu e minha família fomos para a cida<strong>de</strong><br />

Liége e passamos um ano e meio lá. Foi uma experiência muito rica”.<br />

Anos mais tar<strong>de</strong>, conseguiu uma nova bolsa, <strong>de</strong>sta vez da<br />

Fundação Calouste Gulbenkian <strong>de</strong> Portugal, que lhe proporcionou<br />

um semestre <strong>de</strong> estudos sobre o ensino da língua portuguesa em seu<br />

país <strong>de</strong> origem, um dos focos <strong>de</strong> seu trabalho acadêmico. A respeito,<br />

o professor explica: “O meu objetivo era verificar como se dá o ensino<br />

da língua materna, pois já estudava esta área. Foi uma excelente<br />

oportunida<strong>de</strong>”.<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

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Um novo caminho<br />

Durante o tempo em que esteve na UEL, Durvali ocupou cargos<br />

administrativos <strong>de</strong>ntro do CCH, mas não escon<strong>de</strong> que sua maior paixão<br />

era a sala <strong>de</strong> aula. “Eu gosto muito <strong>de</strong> dar aulas e me realizei como<br />

professor”, assegura entusiasticamente.<br />

A <strong>de</strong>claração é sincera e po<strong>de</strong> ser comprovada nas atuais<br />

ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Durvali, que mesmo aposentado não <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> trabalhar:<br />

“Quando chegou a época da aposentadoria não foi muito bom, não. Eu<br />

já estava acostumado com a rotina, principalmente com o mestrado,<br />

que exige bastante da gente. Mas essa sensação ruim foi minimizada<br />

porque eu não me afastei por completo da minha profissão. Não houve<br />

uma ruptura brusca, logo que <strong>de</strong>ixei a UEL recebi convites <strong>de</strong> outras<br />

universida<strong>de</strong>s do Paraná e não cheguei a ficar parado”.<br />

Hoje, continua lecionando em cursos <strong>de</strong> especialização e, além<br />

disso, trabalha como avaliador do Sistema Nacional <strong>de</strong> Avaliação da<br />

Educação Superior (Sinaes) do Ministério da Educação (MEC).<br />

Visivelmente satisfeito com mais essa função, Durvali nos relata<br />

a sua nova rotina: “É um trabalho muito interessante. Todos os cursos<br />

do ensino superior passam por uma avaliação periódica e eu faço<br />

parte do grupo <strong>de</strong> avaliação na área <strong>de</strong> letras. É mais uma realização<br />

profissional, porque posso conhecer outras realida<strong>de</strong>s culturais e<br />

educacionais. No ano passado, por exemplo, estive em uma instituição<br />

em Macapá (AP), norte do Brasil, no primeiro semestre e três meses<br />

<strong>de</strong>pois fui <strong>de</strong>signado para avaliar um curso em Rio Gran<strong>de</strong> (RS) que<br />

fica bem no sul. São contextos totalmente diferentes e é gratificante<br />

para mim, ter esta oportunida<strong>de</strong>”.<br />

Dos tempos <strong>de</strong> UEL, confessa sentir sauda<strong>de</strong>s do convívio<br />

com colegas <strong>de</strong> profissão da <strong>Universida<strong>de</strong></strong> e <strong>de</strong> outras instituições,<br />

conhecidos nos congressos e eventos da área. Mas afirma, “é um ciclo<br />

que se fecha e outro começa, novos caminhos surgem. Agora eu estou<br />

numa fase com mais tempo para me <strong>de</strong>dicar à família. Meus quatro<br />

filhos são casados e tenho seis netos. Então eu posso conviver mais com<br />

eles, isso é muito bom”, diz animado. O tempo também é preenchido<br />

por leitura e viagens.<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

88


E assim, realizado por completo, Durvali continua em sua<br />

trajetória, aceitando o <strong>de</strong>safio <strong>de</strong> percorrer as novas estradas<br />

<strong>de</strong>sbravadas pela vida. “As viagens e a companhia constante <strong>de</strong> Nilséia,<br />

minha esposa, os encontros com as famílias dos filhos, os passeios com<br />

os netos são os responsáveis pela luz especial que ilumina minha vida.<br />

Representam o porto seguro no mar agitado da existência. E como diz<br />

Guimarães Rosa, ‘o mais importante e bonito do mundo é isto: que as<br />

pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas – mas<br />

que elas vão sempre mudando’. O homem ainda continua mudando,<br />

amadurecendo, agora diante <strong>de</strong> nova realida<strong>de</strong>, em novo caminho com<br />

outro tipo <strong>de</strong> relacionamento, enfim vivendo”, conclui.<br />

A citação do gran<strong>de</strong> mestre das letras, Guimarães Rosa, não<br />

po<strong>de</strong>ria ser mais acertada. Durvali, afinal, se encaixa perfeitamente na<br />

<strong>de</strong>finição do escritor. Que a experiência cotidiana permaneça na sua<br />

interminável tarefa <strong>de</strong> moldar a pessoa que o senhor é e <strong>de</strong> quem a UEL<br />

sente muitas sauda<strong>de</strong>s.<br />

Janaína Castro<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

89


Na obra <strong>de</strong> Pedro Nava<br />

Edina Panichi, professora sênior da UEL, <strong>de</strong>dicou suas pósgraduações<br />

a estudar e escrever sobre o autor, o que lhe ren<strong>de</strong>u<br />

inclusive uma indicação ao Prêmio Jabuti (2004)<br />

Uma carta do médico e<br />

romancista Pedro Nava<br />

abriu para a professora<br />

Edina Panichi uma carreira<br />

na <strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>Estadual</strong><br />

<strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>. O mesmo<br />

motivo a fez continuar, como<br />

professora sênior, mesmo<br />

<strong>de</strong>pois da aposentadoria.<br />

Edina Panichi graduou-se<br />

em letras anglo-portuguesas<br />

em 1974 pela PUC <strong>de</strong> Curitiba e mudou-se no para <strong>Londrina</strong> após<br />

seu casamento. Em 1982, Edina ingressou na UEL como aluna <strong>de</strong><br />

Especialização em Língua Portuguesa.<br />

Para a monografia do curso, Edina estava <strong>de</strong>cidida a trabalhar<br />

estilística na obra <strong>de</strong> um autor que estivesse vivo na época. Com<br />

indicação <strong>de</strong> Sebastião Querubim, seu orientador, Edina escolheu a<br />

obra do mineiro Pedro Nava, médico e escritor <strong>de</strong> memórias que já<br />

havia ganhado o Prêmio Jabuti e o Prêmio da Associação Paulista <strong>de</strong><br />

Críticos <strong>de</strong> Arte (APCA).<br />

Depois <strong>de</strong> aprovado, Edina enviou o trabalho - Estilística léxica<br />

em Baú <strong>de</strong> Ossos <strong>de</strong> Pedro Nava - para o autor, e recebeu a resposta<br />

com as observações sobre o trabalho e um pedido para conhecê-la.<br />

No final, “Sou como os ingleses, I insist, (eu insisto) <strong>de</strong>sejo que outros<br />

livros meus mereçam outros trabalhos seus.”<br />

Edina esteve com o escritor seis vezes, “(...) nestas conversas<br />

ele me mostrou o processo criativo <strong>de</strong>le. Ele anotava em fichas tudo<br />

o que tivesse possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uso e guardava. Na hora <strong>de</strong> esboçar os<br />

capítulos ele pegava todas aquelas fichas e fazia o que ele chamava <strong>de</strong><br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

90


oneco, que era um sumário, on<strong>de</strong> ele ia colocando todas aquelas fichas<br />

selecionadas para <strong>de</strong>pois fazer os originais (...). Para cada livro <strong>de</strong> 600<br />

páginas ele tinha mais <strong>de</strong> três mil fichas, algumas com caricaturas.”<br />

Em 1984, após aten<strong>de</strong>r um telefonema e falar para Antonieta,<br />

sua mulher, que nunca havia ouvido nada tão obsceno em toda a sua<br />

vida, Nava saiu <strong>de</strong> casa e cometeu suicídio. Edina, que já era professora<br />

da <strong>Universida<strong>de</strong></strong> e estava estudando a obra do autor em seu mestrado,<br />

acreditou ter perdido o contato com todo o material <strong>de</strong> Nava, e com ele<br />

a sua pesquisa.<br />

Foi quando a professora recebeu uma carta do jornalista<br />

Joaquim Inojosa, que escrevia no Jornal do Comércio e frequentava o<br />

“sabadoyle” -uma reunião <strong>de</strong> intelectuais na casa <strong>de</strong> Plínio Doyle no Rio<br />

<strong>de</strong> Janeiro. Pedro Nava levara a monografia <strong>de</strong> Edina à reunião em um<br />

sábado e o jornalista que ficou com o material convidou a professora<br />

para visitá-los.<br />

“E eu fui ao `sabadoyle´ várias vezes. O Plínio Doyle que era o<br />

anfitrião, era o presi<strong>de</strong>nte da Fundação Casa <strong>de</strong> Rui Barbosa, on<strong>de</strong><br />

estavam os arquivos <strong>de</strong> Pedro Nava. Mas estava muito oneroso ir ao<br />

Rio <strong>de</strong> Janeiro sempre e aí eu quis fazer cópias, conversei com a mulher<br />

do Pedro Nava, e ela me lembrou da carta em que ele dizia que eu<br />

continuasse trabalhando com a obra <strong>de</strong>le.”<br />

Com a cópia registrada da carta <strong>de</strong> Pedro Nava em mãos a<br />

professora Edina conseguiu copiar todo o acervo do professor. Des<strong>de</strong><br />

então ela vem coor<strong>de</strong>nando projetos <strong>de</strong> pesquisa sobre o autor.<br />

O projeto que resultou no livro “Pedro Nava e a Construção do<br />

Texto”, com coautoria do professor Miguel Contani foi o único livro<br />

da <strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>Estadual</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> indicado ao Prêmio Jabuti –<br />

um dos prêmios que Pedro Nava ganhou. A categoria em que o livro<br />

concorreu foi teoria/crítica literária. No ano em que a indicação<br />

aconteceu, 2004, a professora já era sênior, ou seja, apesar dos vínculos<br />

com a <strong>Universida<strong>de</strong></strong>, não recebe para isto.<br />

A professora Edina Panichi, além <strong>de</strong> chefe do Departamento<br />

<strong>de</strong> Letras Vernáculas e Clássicas, coor<strong>de</strong>nadora da Especialização em<br />

Língua Portuguesa, foi uma das i<strong>de</strong>alizadoras e trabalhou no Disque-<br />

Gramática da UEL por <strong>de</strong>z anos.<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

91


A i<strong>de</strong>ia era <strong>de</strong> fazer um serviço para a comunida<strong>de</strong> acadêmica.<br />

Mas acabou extrapolando. Ela se lembra da época em que uma re<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> supermercados da cida<strong>de</strong> só veiculava suas propagandas <strong>de</strong>pois <strong>de</strong><br />

passar pelo serviço.<br />

Edina Panichi comenta que sempre teve muita curiosida<strong>de</strong> pela<br />

língua portuguesa, por isto a vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> trabalhar com livros, estilística<br />

e gramática. A professora diz que não <strong>de</strong>scarta a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

escrever um livro literário. Por enquanto a certeza é <strong>de</strong> continuar<br />

dando aula nos programas <strong>de</strong> mestrado e doutorado, como ela diz, “Eu<br />

me orgulho muito <strong>de</strong> dizer que sou da UEL, faço questão <strong>de</strong> registrar<br />

que sou da UEL e continuo sendo enquanto me aguentarem.”<br />

Poliana Lisboa <strong>de</strong> Almeida<br />

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Pioneiro da Odontologia<br />

Edison Lúcio Ferreira Fava foi pioneiro da criação da Faculda<strong>de</strong><br />

<strong>Estadual</strong> <strong>de</strong> Odontologia <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>, uma das que formaram a UEL<br />

Paulista da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Lins, Edison<br />

Lúcio Ferreira Fava chegou a<br />

<strong>Londrina</strong> aos quatro anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>,<br />

em 1939. Sua família mudou-se<br />

para o Paraná para a fazenda do avô<br />

que já morava aqui antes.<br />

Aqui, o menino Edison completou<br />

os estudos até o antigo ginásio<br />

(atual ensino fundamental). Depois,<br />

foi para a capital <strong>de</strong> São Paulo estudar no Colégio Arquidiocesano, dos<br />

Irmãos Marista, on<strong>de</strong> completou o científico (atual ensino médio).<br />

Em seguida retornou a <strong>Londrina</strong> para fazer um curso <strong>de</strong> química,<br />

relacionado a laboratório. Após encerrar o curso, prestou o vestibular<br />

e em 1956 iniciou o curso <strong>de</strong> Odontologia na <strong>Universida<strong>de</strong></strong> Católica <strong>de</strong><br />

Campinas.<br />

Já graduado, Edison conseguiu através <strong>de</strong> contatos com familiares<br />

que já trabalhavam na área <strong>de</strong> Odontologia na USP, entrar em uma<br />

especialização na <strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> São Paulo, em que se aprimorou em<br />

periodontia.<br />

Em 1961, voltou para <strong>Londrina</strong> e abriu seu primeiro consultório<br />

no Edifício Júlio Fuganti, que fica na Rua Senador Souza Naves, centro<br />

da cida<strong>de</strong>. Des<strong>de</strong> então, Edison e os colegas <strong>de</strong> profissão da cida<strong>de</strong>,<br />

comandados pela Associação Odontológica, iniciaram um movimento<br />

em prol da expansão da Odontologia e região. O grupo <strong>de</strong> <strong>de</strong>ntistas se<br />

uniu para forçar politicamente a criação <strong>de</strong> uma faculda<strong>de</strong> estadual <strong>de</strong><br />

Odontologia. “Queríamos uma escola em que ninguém precisasse pagar<br />

mensalida<strong>de</strong>. Nós criamos um espírito <strong>de</strong> evolução na Odontologia<br />

londrinense. Foi uma briga boa, gostosa”, lembra.<br />

E em 1963 foi fundada a Faculda<strong>de</strong> <strong>Estadual</strong> <strong>de</strong> Odontologia <strong>de</strong><br />

<strong>Londrina</strong> (FEOL), pioneira no norte do estado. “O nosso pioneirismo<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

93


na odontologia no norte do Paraná foi gran<strong>de</strong>. Tanto é verda<strong>de</strong> que<br />

logo em seguida já nasceram as faculda<strong>de</strong>s em Maringá e Ponta Grossa.<br />

E também foi a nossa Faculda<strong>de</strong> foi quem <strong>de</strong>u o pontapé inicial para a<br />

formação da <strong>Universida<strong>de</strong></strong>”, garante.<br />

Edison conta que não foi fácil e não faltou oposição ao projeto<br />

dos <strong>de</strong>ntistas. “Até a Associação Médica era contra. Não queriam que<br />

tivesse a Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Odontologia antes da <strong>de</strong> Medicina. Mas nós<br />

fizemos. A <strong>de</strong> medicina foi criada <strong>de</strong>pois e usou os prédios que eram da<br />

Odontologia,” comenta.<br />

Edison foi efetivado como professor da FEOL em 1965, dois anos<br />

<strong>de</strong>pois da inauguração da faculda<strong>de</strong>. Ele revela que os salários iniciais<br />

eram bastante pequenos e que todos trabalhavam mais pelo amor que<br />

sentiam. “O ‘status’ que a gente tinha <strong>de</strong> professor era o suficiente para<br />

a gente”, afirma.<br />

Além disso, todo o trabalho na faculda<strong>de</strong> era realizado<br />

simultaneamente às ativida<strong>de</strong>s nos consultórios particulares dos<br />

<strong>de</strong>ntistas. “Tudo foi feito ao mesmo tempo. A gente tinha que trabalhar<br />

nos consultórios, mas muitas vezes até <strong>de</strong>ixávamos nossos pacientes<br />

para aten<strong>de</strong>r à escola”, recorda. Apesar da sobrecarga <strong>de</strong> trabalho,<br />

o professor garante que não fazia nem ouvia reclamações. “A gente<br />

gostava, éramos muito animados. Houve um entrosamento, uma união<br />

muito gran<strong>de</strong> naquela época”, lembra com saudosismo.<br />

Em 1971, a FEOL foi uma das faculda<strong>de</strong>s que formaram a<br />

<strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>Estadual</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>. A partir daí, as turmas <strong>de</strong><br />

Odontologia começaram a receber mais estudantes. “No início eram<br />

20 ou 30 alunos. Depois que foi para a UEL a turma ficou com 60. Veio<br />

uma ‘enchente’ <strong>de</strong> odontólogos para <strong>Londrina</strong>”, comenta sorri<strong>de</strong>nte.<br />

Edison começou a lecionar <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o começo da <strong>Universida<strong>de</strong></strong>.<br />

Foram mais 34 anos <strong>de</strong> <strong>de</strong>dicação ao ensino da Odontologia. Além <strong>de</strong><br />

professor, Edison chegou a ser chefe da disciplina <strong>de</strong> clínica integrada,<br />

a partir <strong>de</strong> 1985. Deixou o cargo em 1995, após uma <strong>de</strong>terminação do<br />

MEC <strong>de</strong> que os dirigentes <strong>de</strong> disciplinas <strong>de</strong>veriam ter mestrado ou<br />

doutorado, e ele tinha apenas especialização.<br />

O aprendizado do dia a dia na sala <strong>de</strong> aula foi constante em toda<br />

a sua carreira, principalmente no início: “A gente apren<strong>de</strong>u a lidar<br />

com o aluno na prática. A didática, o plano <strong>de</strong> aula... Qual a melhor<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

94


forma para o entendimento do aluno... assim a gente ia aprimorando o<br />

método <strong>de</strong> ensino”, explica.<br />

O <strong>de</strong>ntista e professor acompanhou muitos anos <strong>de</strong> evolução na<br />

Odontologia, dos quais também participou. Sempre atento às novida<strong>de</strong>s,<br />

conferências e preocupado em levar tudo isso para a sala <strong>de</strong> aula. Por<br />

este motivo, orgulha-se <strong>de</strong> ter integrado o curso <strong>de</strong> Odontologia que<br />

durante muito tempo formou alunos mais bem preparados que os <strong>de</strong><br />

outras universida<strong>de</strong>s tradicionais. “Os nossos alunos eram os mais<br />

procurados. Porque aqui a prática era mais intensa até do que a USP.<br />

Formamos bons profissionais e tínhamos consciência <strong>de</strong>sta qualida<strong>de</strong>”,<br />

garante.<br />

Ao tocar neste assunto, Edison <strong>de</strong>monstra uma certa preocupação<br />

com a responsabilida<strong>de</strong> do professor <strong>de</strong> transmitir os valores da futura<br />

profissão aos alunos. “Muitas vezes os alunos saem da escola e prestam<br />

o vestibular pensando no dinheiro que vão ganhar e não para usar com<br />

amor aquilo que ele vai apren<strong>de</strong>r. Eles vão para a Odontologia porque<br />

ganha dinheiro... mas não é assim, tem que ter o carinho, a vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

apren<strong>de</strong>r! Isso a gente também tem que ensinar”, afirma.<br />

O relacionamento com os alunos também foi sempre agradável.<br />

E as amiza<strong>de</strong>s extravasaram as pare<strong>de</strong>s das salas <strong>de</strong> aula. “Uh! Até hoje<br />

os alunos vêm me abraçar! E têm muitos que cresceram na profissão,<br />

hoje são bem-sucedidos, dão até conferência!”, diz com orgulho.<br />

A aposentadoria entrou gradativamente na vida do professor.<br />

Primeiro, em 1992, ele <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> clinicar e passou a <strong>de</strong>dicar-se apenas<br />

as aulas na UEL. Assim foi possível se acostumar com um ritmo menos<br />

intenso <strong>de</strong> trabalho, até que em 2006 chegou a hora <strong>de</strong> se <strong>de</strong>spedir<br />

também dos alunos. “Aí o ‘baque’ foi maior. Às vezes eu tinha até<br />

insônia... sinto muita falta!”, diz emocionado. O professor não consegue<br />

nem conter as lágrimas diante das lembranças do seu trabalho na UEL.<br />

“Ah, sempre tem a sauda<strong>de</strong>, né? Eu fico aqui em casa, sem consultório,<br />

sem dar assistência aos alunos, sem ter os alunos em volta, os colegas<br />

também... dá muita sauda<strong>de</strong>!”, comenta.<br />

Mas, para aliviar esta sauda<strong>de</strong>, Edison tem a receita: “Ah <strong>de</strong> vez<br />

em quando eu dou ‘um chego’ lá na escola, dou uma volta, cumprimento<br />

todo mundo, converso com o pessoal... e volto! Não acho ruim a<br />

aposentadoria... Estou bem!”, garante.<br />

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95


Com o tempo todo livre em casa a vida passou por gran<strong>de</strong>s<br />

mudanças. Além <strong>de</strong> aproveitar mais a família, especialmente os onze<br />

netos, Edison comenta como se reestruturou e ficou mais atento à<br />

saú<strong>de</strong>: “Eu faço ginástica e cuido da alimentação, porque há quatro<br />

anos <strong>de</strong>scobri que sou diabético. E agora consigo controlar o peso. Já<br />

faz dois anos que estou com 80kg. Antes não tinha essa regularida<strong>de</strong>”.<br />

E é assim, comentando os benefícios do merecido <strong>de</strong>scanso<br />

sem <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> transparecer a sauda<strong>de</strong>, que o atencioso professor me<br />

agra<strong>de</strong>ce com entusiasmo pela entrevista que acaba <strong>de</strong> me conce<strong>de</strong>r:<br />

“Muito obrigado por se lembrar <strong>de</strong> um simples aposentado como eu!”.<br />

Surpresa com a <strong>de</strong>monstração <strong>de</strong> gratidão do professor, não me resta<br />

nada a respon<strong>de</strong>r a não ser: “nós é que agra<strong>de</strong>cemos professor Edison,<br />

eu e a UEL”.<br />

Janaína Castro<br />

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96


Uma gaúcha <strong>de</strong> opinião<br />

Gaúcha, <strong>de</strong>cidida, brava e competente, Eliane Cristina Palaoro<br />

Pereira <strong>de</strong>dicou-se <strong>de</strong> corpo e alma ao seu trabalho na UEL<br />

“Eu sempre fui muito <strong>de</strong>cidida”. Ao ouvir<br />

a história <strong>de</strong> vida <strong>de</strong>sta gaúcha <strong>de</strong> Porto<br />

Alegre (RS), não há como duvidar da pronta<br />

afirmação. Com apenas sete anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>,<br />

a pequena Eliane já sabia o que queria ser<br />

quando crescesse: veterinária. Dez anos<br />

<strong>de</strong>pois, precisou superar a oposição do pai,<br />

que preferia um curso mais ‘feminino’ para<br />

a época. E conseguiu: “Fiz o vestibular para<br />

veterinária escondida. Ele pensava que eu<br />

estava prestando para pedagogia”, lembra.<br />

Em 1970, Eliane ingressou no curso <strong>de</strong> medicina veterinária da<br />

<strong>Universida<strong>de</strong></strong> Fe<strong>de</strong>ral do Rio Gran<strong>de</strong> do Sul (UFRGS). Foi lá também<br />

que conheceu Nabor Augusto Pereira, seu atual marido. Os dois<br />

estudaram na mesma turma, mas só começaram o namoro <strong>de</strong>pois <strong>de</strong><br />

formados.<br />

Recém-formada, Eliane saiu pela primeira vez do Rio Gran<strong>de</strong> do<br />

Sul para fazer estágio na fábrica <strong>de</strong> leite em pó da Nestlé em Araçatuba,<br />

interior <strong>de</strong> São Paulo. Lá, a médica veterinária trabalhou durante oito<br />

meses com inspeção e tecnologia <strong>de</strong> leite. A experiência foi <strong>de</strong>cisiva<br />

para seu posterior ingresso na UEL.<br />

Encerrado o estágio, Eliane, que já estava noiva, voltou para<br />

Porto Alegre com a intenção <strong>de</strong> casar. Mas Nabor, ainda estava<br />

fazendo residência na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Botucatu, em São Paulo. Foi quando<br />

o <strong>de</strong>stino direcionou suas vidas para o interior do Paraná. A convite<br />

<strong>de</strong> um colega <strong>de</strong> turma, Nabor fez em <strong>Londrina</strong> uma prova para o<br />

Instituto Agronômico do Paraná (Iapar). Aprovado, mudou-se para cá<br />

e gostou da cida<strong>de</strong>. Pouco tempo <strong>de</strong>pois veio o casamento e o casal<br />

fixou residência na “Pequena Londres”. “Eu vim para cá com 15 dias<br />

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97


<strong>de</strong> casada. Uma semana <strong>de</strong>pois saiu um edital <strong>de</strong> convocação da UEL<br />

para professores <strong>de</strong> veterinária e fui tentar. Quando o professor Müller<br />

viu o estágio da Nestlé no meu currículo, me indicou para dar aula <strong>de</strong><br />

inspeção e tecnologia <strong>de</strong> leite, carne, ovos e pescado. O contrato inicial<br />

era <strong>de</strong> apenas 12 horas-aulas, mas eu aceitei e voltei para casa feliz da<br />

vida!”, comemora. Assim, no dia 23 <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 1976, iniciou-se o<br />

trabalho da professora Eliane na <strong>Universida<strong>de</strong></strong>.<br />

Como não tinha experiência em dar aulas, o começo foi um <strong>de</strong>safio<br />

para Eliane. Para enfrentá-lo, ela recorreu a seus antigos professores da<br />

UFRGS, que “ajudaram muito”, ressalta a com veemência. Os <strong>de</strong>safios<br />

enfrentados por ela ultrapassaram a busca por formação qualificada.<br />

A jovem professora teve que encontrar coragem, como ela bem se<br />

recorda: “A primeira vez que entrei numa sala <strong>de</strong> aula levei um susto.<br />

Eu tinha 23 anos e a maioria dos alunos era homem e mais velha do<br />

que eu. Eu me senti um passarinho fora da gaiola cheio <strong>de</strong> gavião para<br />

pegar! Eu era magrinha, com estes olhos claros [aponta para o próprio<br />

rosto], não era uma ‘Gisele Bündchen’, mas não era feia! Senti uma<br />

necessida<strong>de</strong> muito gran<strong>de</strong> <strong>de</strong> ser respeitada na sala <strong>de</strong> aula, para não<br />

per<strong>de</strong>r o controle da situação. Por isso, eu era muito brava, não dava<br />

nem um sorriso!”. Mas, explica que tanta agressivida<strong>de</strong> era “muito<br />

mais <strong>de</strong>fesa do que ataque”.<br />

Hoje, Eliane acha graça da fama que conquistou por este<br />

comportamento que manteve durante todos os anos em que esteve na<br />

UEL. “Quando chegavam alunos novos, os mais velhos já diziam ‘cuidado<br />

com a professora Eliane!’. Eles tremiam quando se aproximavam <strong>de</strong><br />

mim. Depois viam que não era tudo isso que o pessoal falava. Eu era<br />

exigente e brava, mas nunca chamei a atenção sem ter necessida<strong>de</strong> e<br />

jamais ridicularizei um aluno em público. Mas foi a fama que eu tive,<br />

eu era a ‘gaúcha <strong>de</strong> faca na bota, com essa gaúcha não dá pra brincar!’”,<br />

comenta com bom-humor.<br />

Em agosto <strong>de</strong> 1979, Eliane saiu <strong>de</strong> licença para fazer mestrado na<br />

UFRGS. A gran<strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> direcionar seu trabalho para a área<br />

que sempre quis, como ela mesma conta: “Todo mundo preferia que<br />

eu fizesse na área <strong>de</strong> tecnologia, pois era a minha disciplina, mas eu<br />

queria clínica veterinária <strong>de</strong> pequenos animais. Essa era a chance <strong>de</strong> eu<br />

mudar <strong>de</strong> área. Por isso assumi o risco e mu<strong>de</strong>i. Fui para Porto Alegre<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

98


com meu marido, on<strong>de</strong> ele fez mestrado na mesma época, e ficamos lá<br />

entre 1979 e 1981”.<br />

Ao retornar a <strong>Londrina</strong>, no segundo semestre <strong>de</strong> 1981, Eliane,<br />

então mestre em clínica médica veterinária, estava preparada para ter<br />

que voltar para a disciplina <strong>de</strong> tecnologia, que havia <strong>de</strong>ixado. Mas,o<br />

<strong>de</strong>stino reservou-lhe a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> assumir a disciplina que<br />

<strong>de</strong>sejava: “A professora titular <strong>de</strong> clínica médica estava no segundo<br />

ano <strong>de</strong> mestrado, na UFRGS também, e <strong>de</strong>cidiu não voltar para a UEL.<br />

Como eu cheguei com o mestrado na área, a disciplina foi atribuída a<br />

mim”, conta.<br />

A partir daí, a professora pô<strong>de</strong> trabalhar com o que realmente<br />

gostava e não parou mais. “Eu não saí da <strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong>s<strong>de</strong> então.<br />

Todo mundo que passou pela veterinária foi meu aluno. Em um<br />

momento comecei a dar aula para duas gerações, porque os filhos<br />

dos meus ex-alunos fizeram veterinária também! O atual reitor da<br />

<strong>Universida<strong>de</strong></strong> (2008), só não foi meu aluno porque ele fez a minha<br />

disciplina na época do mestrado. Só esse pessoal da turma <strong>de</strong>le não<br />

estudou comigo, do resto que se formou na UEL, eu <strong>de</strong>i aula para todo<br />

mundo”, orgulha-se.<br />

A <strong>de</strong>dicação incondicional ao trabalho não fez com que Eliane<br />

<strong>de</strong>ixasse a convivência e as preocupações com a família <strong>de</strong> lado. Mãe<br />

<strong>de</strong> dois filhos, a veterinária abdicou da chance <strong>de</strong> fazer doutorado para<br />

ficar ao lado <strong>de</strong>les. “Meus dois filhos eram pequenos e eu não tinha<br />

ninguém da família por perto para ajudar, como mãe ou irmã... e não<br />

existiam tantas creches com preços acessíveis como hoje: eram poucas<br />

e muito caras. Então eu optei pela família. Quando chegava a minha<br />

vez <strong>de</strong> sair para o doutorado eu cedia para um colega. Eu dizia ‘Vai tu e<br />

eu fico, vai tu e eu fico’ e foi assim até a aposentadoria”, comenta.<br />

Eliane não se arrepen<strong>de</strong>u <strong>de</strong> permanecer todos estes anos na<br />

<strong>Universida<strong>de</strong></strong> e sempre trabalhou com muito e empenho e satisfação.<br />

Especializou-se em <strong>de</strong>rmatologia animal e, além das aulas, atuou<br />

como profissional no Hospital Veterinário da UEL (HV), on<strong>de</strong> <strong>de</strong>ixou<br />

sua marca registrada: ajudar aqueles que precisassem. “O HV sempre<br />

aten<strong>de</strong>u uma parcela mais carente da população. Para conseguir<br />

consultas sem custos, as pessoas tinham <strong>de</strong> preencher uma ficha<br />

<strong>de</strong>clarando ser pobre. Cada professor do hospital tinha uma cota por<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

99


mês para usar como ‘interesse didático’, que funcionava assim: aquela<br />

consulta era usada para dar aula. Então era muito mais <strong>de</strong>morada,<br />

todos os alunos mexiam no animal, faziam perguntas e por isso a gente<br />

não cobrava. Eu sempre estourava a cota, porque não tinha coragem <strong>de</strong><br />

cobrar <strong>de</strong> pessoas que eu via que não tinham dinheiro”, confessa.<br />

Movida por este espírito altruísta, Eliane fazia mais do que apenas<br />

aten<strong>de</strong>r aos necessitados. Ao receber os representantes <strong>de</strong> laboratório<br />

que iam ao HV ven<strong>de</strong>r seus produtos, ela fazia uma exigência básica:<br />

a “cota dos pobres”. “Quando eles chegavam, eu avisava que para ter<br />

minha atenção tinha que <strong>de</strong>ixar a ‘sacolinha dos pobres’. Eu tinha um<br />

armário gran<strong>de</strong> que era lotado <strong>de</strong> amostra grátis <strong>de</strong>ixada por eles.<br />

Então, quando eu via que a pessoa gostava do seu animal, mas não<br />

tinha dinheiro, eu não tinha cara <strong>de</strong> cobrar. Remédio para cachorro<br />

é muito caro! Aí eu dava: a pessoa saía com o remédio, a ração e até o<br />

xampu para dar banho”, conta.<br />

Em troca das ‘contribuições’ para os pobres, Eliane ‘vestia a<br />

camisa’ dos produtos e fazia propaganda <strong>de</strong>les tanto em seu dia-a-dia,<br />

quanto nas palestras que ministrava: “Os laboratórios sabiam o que eu<br />

falava e que tinha repercussão. E eu nunca cobrei nada para mim: era<br />

só a ‘cota dos pobres’ mesmo”, garante. A professora consi<strong>de</strong>ra este<br />

trabalho como uma <strong>de</strong> suas missões na UEL e lamenta que não tenha<br />

conseguido <strong>de</strong>ixar nenhum continuador <strong>de</strong>sta obra: “Quando eu me<br />

aposentei acabou! Agora tem até uma norma da direção do HV que<br />

proibiu os professores <strong>de</strong> terem amostras grátis em suas salas. Eu não<br />

sei porquê! Dizem que foi para controlar o uso <strong>de</strong> psicotrópicos, mas no<br />

meu armário eu só tinha remédios comuns: antibióticos, vermífugos,<br />

xampus...”.<br />

O coração foi certamente o ‘guia-mor’ na vida <strong>de</strong> Eliane. Ela fala<br />

com orgulho e saudosismo <strong>de</strong> um tempo em que “a UEL era diferente.<br />

As coisas não eram tão corridas. Quando chegava um colega novo<br />

eu literalmente adotava. Viravam meus filhos queridos e assim nós<br />

vivíamos como uma gran<strong>de</strong> família no HV. Ficávamos no hospital até<br />

12 horas por dia, porque era prazeroso. E <strong>de</strong>pois eu trazia o pessoal<br />

para minha casa, fazia comida para todo mundo. Era a ‘casa da mãe’,<br />

alguns me chamam <strong>de</strong> ‘mãezona’ até hoje. Eles vinham aqui até para<br />

enrolar briga<strong>de</strong>iro nos aniversários dos meus filhos. Foi a época em<br />

que fomos mais felizes, mas infelizmente passou”, lastima.<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

100


Aposentadoria, um novo começo<br />

Nesses anos todos <strong>de</strong>dicados à UEL, a única lamentação <strong>de</strong><br />

Eliana é com relação ao que ela chama <strong>de</strong> “mudanças” que consi<strong>de</strong>ra<br />

ter acontecido na <strong>Universida<strong>de</strong></strong> ao longo dos anos. Sem entrar em<br />

<strong>de</strong>talhes, alega que “algumas pessoas” da UEL com quem trabalhava<br />

haviam perdido um pouco o espírito <strong>de</strong> família, comum à instituição.<br />

“Pessoas lá <strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro se comportaram <strong>de</strong> uma maneira que eu não<br />

concordava e por isso preferi me afastar”. Mas tão logo releva: “Eu não<br />

tenho nada contra a UEL. A <strong>Universida<strong>de</strong></strong> me <strong>de</strong>u a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

ser tudo o que eu sou hoje. Se eu não conseguisse esse emprego assim<br />

que cheguei à cida<strong>de</strong>, não sei o que teria sido <strong>de</strong> mim”, encerra.<br />

Os conflitos <strong>de</strong> consciência não foram os únicos reflexos do<br />

momento difícil pelo qual Eliane passou. Gradativamente sua saú<strong>de</strong><br />

também começou a <strong>de</strong>monstrar sinais <strong>de</strong> fraqueza. Dois anos antes da<br />

aposentadoria a professora foi acometida por uma úlcera no duo<strong>de</strong>no<br />

e uma gastrite aguda difusa. O alerta máximo não <strong>de</strong>morou muito<br />

a chegar: um AVC (aci<strong>de</strong>nte vascular cerebral). “O médico que me<br />

aten<strong>de</strong>u avisou a meu marido que este AVC foi apenas um aviso e<br />

não <strong>de</strong>ixaria sequelas graves. Mas que o próximo eu não aguentaria”,<br />

enfatiza.<br />

Era <strong>de</strong>finitivamente a hora <strong>de</strong> parar. Em 2005 Eliane solicitou sua<br />

aposentadoria por tempo <strong>de</strong> trabalho. Emendou duas licenças-prêmio<br />

e férias vencidas que possuía. Afastada em <strong>de</strong>finitivo, <strong>de</strong>u sequência ao<br />

tratamento.<br />

A recuperação <strong>de</strong>ste quadro é claramente perceptível. Eliane<br />

não aparenta nenhuma sequela do episódio do AVC. A professora<br />

<strong>de</strong>monstra ser a mesma pessoa alegre, <strong>de</strong>cidida e “inquieta” <strong>de</strong> sempre.<br />

Ainda com muita disposição, expressa o que é fácil perceber: “Eu sou<br />

muito agitada. Quando vi que estava em casa sem fazer nada, não<br />

aguentei e fui procurar as clínicas dos meus ex-alunos”. Hoje, trabalha<br />

como uma espécie <strong>de</strong> assessora para os casos mais graves na área <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>rmatologia que é sua especialida<strong>de</strong>. Aten<strong>de</strong> em quatro clínicas <strong>de</strong> exalunos<br />

no período da tar<strong>de</strong> e garante: “todo dia tem um caso para mim.<br />

Sempre tem o que fazer”.<br />

Apesar <strong>de</strong> continuar trabalhando, Eliane ressalta a liberda<strong>de</strong> e<br />

tranquilida<strong>de</strong> das quais po<strong>de</strong> <strong>de</strong>sfrutar. “Posso viajar quando preciso<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

101


e tenho mais tempo para estudar outras áreas que me interessam<br />

como comportamento animal, que já até comecei a aplicar nas minhas<br />

consultas”.<br />

Além da atuação nas clínicas, a professora também participou<br />

<strong>de</strong> um projeto <strong>de</strong> extensão, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> aposentada: “Conhecer e<br />

Respeitar”. Ao lado <strong>de</strong> colegas das áreas <strong>de</strong> educação artística e artes<br />

cênicas, visitava as creches do Hospital Universitário e do campus para<br />

apresentar um animal às crianças <strong>de</strong> até seis anos. “A gente escolhia<br />

um animal, montava a apresentação que podia ser teatro ou fantoches,<br />

por exemplo, e mostrava para as crianças as características <strong>de</strong>le: ‘Quem<br />

é? O que come? Para que serve? Como está inserido na natureza? Por<br />

que cuidar? Por que respeitar?’. No final, eu levava o animal vivo para<br />

elas verem e tocarem. Era muito divertido”, lembra.<br />

A versatilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Eliane alcançou até mesmo as frequências<br />

do rádio. A convite do amigo José Makiolke (Zezão), que apresenta<br />

o “Programa do Zezão” na Rádio Paiquerê AM, Eliane participou do<br />

quadro “Mundo Animal”, em que respondia a perguntas <strong>de</strong> ouvintes<br />

sobre seus animais <strong>de</strong> estimação. “O Zezão é um gran<strong>de</strong> amigo meu. Eu<br />

me diverti muito neste programa. E tinha bastante audiência”, afirma<br />

entre risos.<br />

Eliane também não <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> frequentar os congressos <strong>de</strong><br />

veterinária uma vez por ano, apesar do hábito causar surpresa em<br />

seus colegas. “Quando me encontram, as pessoas me perguntam o<br />

que estou fazendo em um congresso. Ora, estou aposentada, mas não<br />

estou morta! Tem gente que pensa que quando se aposenta a pessoa<br />

fica só fazendo tricô e pensando na vida... Não! Foi uma etapa muito<br />

importante, mas que passou. Foi um ciclo que se fechou e outro que<br />

começou!”, discursa.<br />

E <strong>de</strong> on<strong>de</strong> vem energia para fazer tanta coisa, professora? A<br />

resposta é tão rápida e objetiva quanto Eliane <strong>de</strong>monstra ser: “Quando<br />

você faz o que gosta, sempre acha tempo!”. Sábias palavras, professora.<br />

Por elas e por todos os anos <strong>de</strong>dicados <strong>de</strong> “corpo e alma” à instituição,<br />

agra<strong>de</strong>cemos em nome da UEL. A torcida é para que essa mestra siga<br />

fazendo o que gosta, ainda por muito tempo.<br />

Janaína Castro<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

102


Elisabete Abelha Lisboa<br />

Elisabete Abelha exerceu durante 23<br />

anos a função <strong>de</strong> secretária. Sua atenção<br />

era disputada por alunos, professores e<br />

telefones. Uma rotina difícil e cansativa, no<br />

entanto, muito apreciada por Elisabete. A<br />

cobrança diária, principalmente dos alunos,<br />

era saudável: “Eu tinha que me manter<br />

informada e sempre atualizada. Porque<br />

eles perguntavam mesmo, e queriam<br />

respostas”. Elisabete não gostava <strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar<br />

pergunta sem resposta. Enquanto buscava<br />

informações para esclarecer os alunos, aprendia muito e <strong>de</strong> tudo um<br />

pouco.<br />

Certa vez a prática <strong>de</strong> Elisabete causou uma enorme confusão.<br />

Transferida recentemente da secretaria do curso <strong>de</strong> Veterinária para<br />

a Engenharia Elétrica, ela recebeu um pedido <strong>de</strong> compra <strong>de</strong> mercúrio.<br />

“Achei estranho um professor <strong>de</strong> Engenharia Elétrica pedir mercúrio<br />

cromo, mas man<strong>de</strong>i comprar”. Pronto, estava feita a confusão. O<br />

professor não especificou no pedido <strong>de</strong> qual mercúrio iria precisar.<br />

Elisabete, acostumada na veterinária, pediu o medicamento mercúrio.<br />

Ela conta que o professor chegou aos gritos na secretaria, indignado<br />

com o erro. “Ele era um japonês bravo e eu fiquei muito envergonhada”.<br />

A confusão ren<strong>de</strong>u muitas risadas e uma amiza<strong>de</strong> sincera entre o<br />

professor e Elisabete. “Ele dizia que eu era muito boa no vernáculo. E<br />

era eu que datilografava todos os trabalhos <strong>de</strong>le e consertava algumas<br />

coisinhas. Ele era japonês e tinha dificulda<strong>de</strong> com a nossa língua”.<br />

Como secretária, Elisabete acompanhou e participou ativamente<br />

da criação <strong>de</strong> alguns cursos: Agronomia, Arquitetura e Urbanismo,<br />

Engenharia Elétrica. Segundo Elisabete, implantar um curso é um<br />

processo lento e trabalhoso. É necessário que a instituição tenha<br />

infraestrutura, livros, professores com especialização e atenda a uma<br />

série <strong>de</strong> outros requisitos.<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

103


Elisabete é paulista. Quando ainda morava no interior <strong>de</strong> São<br />

Paulo, cursou o magistério e lecionou por alguns anos. Ela veio para<br />

<strong>Londrina</strong> em 1970, com a família. Assim que chegou se encantou com a<br />

cida<strong>de</strong>. Entretanto, ela revela que estranhou a terra vermelha. “Quando<br />

chovia era barro, quando tinha sol era poeira”. E, para piorar, o bairro<br />

on<strong>de</strong> morava não era asfaltado.<br />

Tempos complicados aqueles, afirma Elisabete. “Não tinha<br />

acesso para a <strong>Universida<strong>de</strong></strong>. Eu morava no Orion, era mais perto ir<br />

a pé. O ônibus <strong>de</strong>morava uma hora, a pé era rapidinho”. Entretanto,<br />

no caminho <strong>de</strong> casa até a UEL ela só encontrava mato. “Era uma<br />

<strong>de</strong>sbravadora”, conta, risonha.<br />

Para Elisabete, o trabalho na <strong>Universida<strong>de</strong></strong> foi o gran<strong>de</strong><br />

responsável por seu crescimento intelectual, estava sempre<br />

apren<strong>de</strong>ndo. Além disso, foi pelo trabalho que ela <strong>de</strong>cidiu cursar<br />

Educação Artística. “Para assumir o cargo <strong>de</strong> secretária executiva era<br />

preciso ter registro em carteira e ensino superior. Mesmo estando no<br />

cargo, não achei justo não ter o ensino superior. Então, <strong>de</strong>cidi fazer”.<br />

Elisabete gostava <strong>de</strong> artes, já tinha experiência no magistério e, por<br />

isso, optou por Educação Artística. Mas, nunca exerceu. “Gostei muito<br />

<strong>de</strong> estudar Educação Artística. E sempre é muito bom apren<strong>de</strong>r”.<br />

Léia Dias Sabóia<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

104


Nas Notas do Saxofone<br />

Erlei Odino Gusso começou a lecionar na UEL pouco antes da<br />

primeira aposentadoria. Agora o professor aproveita o tempo livre<br />

para apren<strong>de</strong>r e se <strong>de</strong>dicar à música<br />

A música e a religião fazem parte<br />

do cotidiano do auditor e professor<br />

aposentado. Há dois anos, Erlei Odino<br />

Gusso toca saxofone e agora está fazendo<br />

curso <strong>de</strong> flauta doce. Mas sua história<br />

<strong>de</strong> carinho com a música é antiga, <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />

a época <strong>de</strong> menino, quando o professor<br />

começou os estudos para ser um irmão<br />

Marista como seu tio – or<strong>de</strong>m que valoriza<br />

esta arte.<br />

O menino Erlei tinha apenas 10 anos e não sabia bem o que era<br />

<strong>de</strong>dicar-se a vida religiosa. De Colombo – região metropolitana <strong>de</strong><br />

Curitiba – foi para Men<strong>de</strong>s (RJ) estudar nesta or<strong>de</strong>m. O professor conta<br />

que “do levantar, até a hora <strong>de</strong> dormir, tudo era falado em francês” –<br />

língua do patrono Marcelino Champagnat. Foi nos Maristas que ele<br />

começou a lecionar latim e francês, nos colégios dos irmãos em Franca<br />

(SP) e na capital paulista.<br />

O trabalho pedagógico dos irmãos e a or<strong>de</strong>nação não eram o que<br />

Gusso imaginava para o seu futuro, por isto ele saiu. Mas, <strong>de</strong>pois da<br />

aposentadoria na UEL, o professor retomou seus estudos religiosos e<br />

cursou Teologia no seminário João VI, que na época não tinha um curso<br />

voltado para leigos. Com mais este curso superior, po<strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>r<br />

as razões da fé e outras questões que não estudou na base que teve com<br />

os maristas, afinal, lá ainda não era uma faculda<strong>de</strong>.<br />

O trabalho em favor da religião católica continuou principalmente<br />

em torno daquilo que ele mais gosta: a ativida<strong>de</strong> missionária. Gusso<br />

é secretário do Comire - Conselho Missionário Regional da CNBB<br />

(Confe<strong>de</strong>ração Nacional dos Bispos do Brasil) que tem como missão<br />

“<strong>de</strong>spertar o ardor missionário das paróquias”, explica. Para tanto,<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

105


ele lembra que é preciso manter-se atualizado e saber o que está<br />

acontecendo ao redor do mundo. Destaca também que além da ajuda<br />

em oração e comunicação, é imprescindível “por a mão do bolso” para<br />

ajudar povos mais necessitados.<br />

Experiência e opinião caracterizam este professor que começou<br />

a dar aulas no ensino superior apenas dois anos antes <strong>de</strong> sua primeira<br />

aposentadoria no serviço público. “Percebi que todo mundo se<br />

aposentava e morria, então eu resolvi fazer outra coisa”, revela Gusso.<br />

A experiência <strong>de</strong>u certo para ele e, com certeza, para a <strong>Universida<strong>de</strong></strong><br />

<strong>Estadual</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>.<br />

Gusso havia trabalhado como tributador na prefeitura <strong>de</strong><br />

Curitiba e no Tribunal <strong>de</strong> Contas estadual quando, em 1961, houve um<br />

concurso para escrivão <strong>de</strong> coletorias fe<strong>de</strong>rais, taxas que, ele explica,<br />

hoje são pagas em agências bancárias e antes eram pagas diretamente<br />

aos órgãos públicos. Em 1970, por meio <strong>de</strong> outro concurso que exigia<br />

diploma superior, passou a técnico <strong>de</strong> tributação, até este se tornar<br />

auditor fe<strong>de</strong>ral.<br />

Pela Receita Fe<strong>de</strong>ral, Gusso trabalhou em Cornélio Procópio, em<br />

Paranaguá (no porto), em Curitiba, até vir para <strong>Londrina</strong>. O primeiro<br />

curso superior, inclusive, acompanhou as mudanças: os quatro<br />

primeiros anos foram cursados na <strong>Universida<strong>de</strong></strong> Fe<strong>de</strong>ral do Paraná e o<br />

último na Faculda<strong>de</strong> <strong>Estadual</strong> <strong>de</strong> Direito <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>. Nesta época, ele<br />

morava em Cornélio Procópio e vinha todas as noites para a faculda<strong>de</strong>,<br />

no prédio do Grupo Escolar Hugo Simas.<br />

Mas, acabado o curso <strong>de</strong> Direito, sentindo que os contadores<br />

o enganavam - ou como ele diz, o “logravam” - e que precisava dos<br />

conhecimentos <strong>de</strong> Ciências Contábeis, Gusso partiu para a segunda<br />

graduação, esta já na UEL. Ele lembra que nesta época a receita<br />

também oferecia muitos cursos a seus funcionários, apesar <strong>de</strong> ser muito<br />

específico: “A gente está sempre aprimorado, mas só para aquilo.”<br />

Apesar do salário bom, Gusso sabia que a visão do auditor para o<br />

mundo ficava restrita e via a aposentadoria chegar, por isto comentou<br />

com o também contador e professor da UEL, Joaquim Scarpin, que<br />

gostaria <strong>de</strong> assumir algumas aulas. Assim, Gusso conseguiu aulas na<br />

Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Administração e Ciências Contábeis <strong>de</strong> Arapongas.<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

106


Em 1986, o professor prestou concurso para a UEL e assumiu<br />

novas aulas no Departamento <strong>de</strong> Ciências Contábeis. No começo, ele<br />

lembra, “eu era muito rígido”, mas a Especialização em Metodologia<br />

<strong>de</strong> Ensino Superior ajudou-o tanto que o professor diz que a turma que<br />

esteve com ele naqueles dois anos sentiu a diferença. A especialização,<br />

apesar <strong>de</strong> ser na Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Arapongas, era ministrada por<br />

professores da UEL que tinham o mesmo curso em <strong>Londrina</strong>.<br />

Apesar <strong>de</strong> ter dado aula no tempo do “giz, saliva e da<br />

transparência”, o professor conta que pegou dois ou três anos <strong>de</strong><br />

implantação da informática. E brinca: “como sofri”.<br />

Como as primeiras aulas eram só à noite e mesmo com algumas<br />

<strong>de</strong> manhã o professor continuou com algum tempo livre, Gusso foi se<br />

acostumando com a aposentadoria. Após <strong>de</strong>ixar a UEL em 2003, ele<br />

foi o responsável pela implantação do curso <strong>de</strong> Ciências Contábeis da<br />

Faculda<strong>de</strong> Inesul e ficou dois anos lá. Depois <strong>de</strong> um tempo, readaptaram<br />

todo o currículo, em outra experiência em que, além <strong>de</strong> valiosa, ele<br />

per<strong>de</strong>u “o resto dos cabelos”.<br />

Há três anos se <strong>de</strong>dicando à música e à religião, Gusso também<br />

procura ir à aca<strong>de</strong>mia <strong>de</strong> ginástica todos os dias. Tudo porque sabe que<br />

“não po<strong>de</strong> ficar parado, por o pijama”.<br />

Depois <strong>de</strong> tantos exemplos e histórias, o professor revela em tom<br />

<strong>de</strong> confidência que é transplantado. Por três vezes, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1980, ele se<br />

submeteu a cirurgias para substituir as córneas doentes. A primeira foi<br />

rejeitada e teve que aguardar mais um ano na fila. Em 1995 foi o último<br />

transplante, estava com menos <strong>de</strong> 10% da visão em um olho.<br />

Apesar <strong>de</strong> nunca ter ficado cego <strong>de</strong> ambos os olhos ao mesmo<br />

tempo, Gusso, que acabou <strong>de</strong> operar <strong>de</strong> catarata – o que po<strong>de</strong> ser<br />

perigoso para um transplantado –, sabe valorizar o sentido da visão<br />

nas coisas mais simples, como a leitura cotidiana. Para quem já esteve<br />

em situação diferente, a saú<strong>de</strong> é um dom dos mais importantes para se<br />

agra<strong>de</strong>cer.<br />

Poliana Lisboa <strong>de</strong> Almeida<br />

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107


Ernani Lauriano Rodrigues<br />

Ernani Lauriano Rodrigues nasceu<br />

em Sertanópolis. Mas, ainda recémnascido<br />

foi morar em Centenário do Sul.<br />

Ele é filho <strong>de</strong> pequenos agricultores.<br />

Contrariando a tendência da época, seus<br />

pais o incentivaram a estudar e ter outra<br />

profissão. E lá, na cida<strong>de</strong> interiorana,<br />

Ernani começou a dar os primeiros passos<br />

rumo a outro <strong>de</strong>stino, diferente daquele <strong>de</strong> seus pais. Ernani ingressou<br />

cedo na vida profissional, trabalhando em um escritório em Centenário<br />

do Sul. Neste momento que percebeu a vocação e o interesse pelos<br />

negócios, pela economia.<br />

Em 1967, foi para Curitiba prestar o serviço militar. Lá continuou<br />

para cursar Economia. Ernani é filho mais velho e, como fez os pais,<br />

incentivou seus irmãos a estudar e ter uma profissão.<br />

Chegou a <strong>Londrina</strong>, em 1978. Resolveu cursar Direito e em<br />

1983, formou-se. Nunca exerceu a segunda ativida<strong>de</strong>, no entanto, ele<br />

acha extremamente importante para sua vida profissional, conhecer a<br />

legislação. É que além <strong>de</strong> professor, Ernani também é empresário.<br />

Em 1985, prestou concurso na UEL. Sempre conciliou o trabalho<br />

<strong>de</strong> professor com o trabalho em empresas particulares. Ele afirma que<br />

essa é uma maneira interessante <strong>de</strong> unir prática a teoria, e, assim,<br />

proporcionar experiências mais concretas a seus alunos.<br />

Enquanto lecionava, Ernani foi convidado para ser Secretário<br />

Municipal <strong>de</strong> Planejamento <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>, durante a gestão do ex-prefeito<br />

Wilson Moreira. A experiência, Ernani classifica como gratificante.<br />

Sempre ofereceu consultoria. Em 1994, passou a ser sócio <strong>de</strong><br />

uma empresa em <strong>Londrina</strong>.<br />

Ernani é casado há 32 anos, pai <strong>de</strong> três filhas, das quais fala com<br />

muito orgulho.<br />

Aposentou-se em 1996. Hoje ainda dá aulas, em uma faculda<strong>de</strong><br />

particular <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>.<br />

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108


Um elo entre Brasil e Japão<br />

A professora Estela Okabayashi Fuzii herdou da mãe a missão <strong>de</strong><br />

favorecer e consolidar as trocas entre os dois povos e até hoje trabalha<br />

incansavelmente para isso<br />

A primeira filha <strong>de</strong> japoneses nascida em<br />

<strong>Londrina</strong>, antes mesmo da emancipação<br />

da cida<strong>de</strong>. Estela Okabayashi Fuzii,<br />

professora <strong>de</strong> Pedagogia aposentada pela<br />

UEL, e sua família assistiram à fundação<br />

e crescimento do município: “Meus pais<br />

vieram <strong>de</strong> São Paulo para cá e abriram<br />

uma casa <strong>de</strong> comércio on<strong>de</strong> hoje é a Rua<br />

Professor João Cândido. Acompanharam<br />

todo o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>, e eu<br />

também a partir do momento em que me tornei mais consciente das<br />

coisas. Só saí <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> para fazer a faculda<strong>de</strong> em Curitiba, porque<br />

aqui ainda não tinha ensino superior”, conta.<br />

Diferente da maioria das famílias da colônia japonesa, os pais <strong>de</strong><br />

Estela motivaram as filhas para o aprendizado da língua portuguesa.<br />

“A minha mãe falava fluente e corretamente o português. Com ela<br />

nós falávamos em português e com o meu pai em japonês, e <strong>de</strong>vido<br />

a isso, nós ficamos com os dois idiomas. Isso ajudou também a não<br />

ter o sotaque, que muita gente da minha época tem, porque só falava<br />

japonês em casa”, explica.<br />

Estudiosa e <strong>de</strong>dicada, ao ingressar no colegial (ensino médio),<br />

Estela optou pela escola normal, - que formava professores na época<br />

-, pois acreditava que ao concluir os estudos já teria uma profissão.<br />

Durante o curso <strong>de</strong>scobriu sua afinida<strong>de</strong> pela área da educação, como<br />

ela mesma recorda: “À medida que fui apren<strong>de</strong>ndo, passava a gostar<br />

muito <strong>de</strong> todo o conteúdo. E quando já estava para me formar, comecei<br />

a pensar que não queria parar por ali e sim me aprofundar mais”.<br />

Para aten<strong>de</strong>r ao <strong>de</strong>sejo da filha <strong>de</strong> ingressar em uma universida<strong>de</strong>,<br />

os pais <strong>de</strong> Estela quebraram um tabu inominável (para a socieda<strong>de</strong><br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

109


machista era impensável uma moça sair <strong>de</strong> casa para estudar) e<br />

permitiram que ela fosse para Curitiba, on<strong>de</strong> ingressou no curso <strong>de</strong><br />

Pedagogia da <strong>Universida<strong>de</strong></strong> Fe<strong>de</strong>ral do Paraná (UFPR). A professora<br />

lembra que alguns vizinhos foram até sua casa aconselhar seus pais a<br />

não permitirem a mudança. “Eles diziam que não podia mandar uma<br />

mulher para fora <strong>de</strong> casa! Mulher era para casar, a escola normal já<br />

estava ótimo, não precisava estudar mais!”.<br />

Após se formar, Estela retornou a <strong>Londrina</strong> e assim que chegou<br />

recebeu “por acaso” a primeira proposta <strong>de</strong> emprego <strong>de</strong> sua vida. “Eu<br />

fui ao Colégio Mãe <strong>de</strong> Deus levar um recado <strong>de</strong> Curitiba para a escola<br />

e a diretora me convidou para dar aulas na escola normal. Eu fiquei<br />

meio na dúvida por causa da vaida<strong>de</strong> <strong>de</strong> moça... lá não se usa calça<br />

comprida, roupa sem manga, ainda mais naquela época, e eu sempre<br />

usei! Mas resolvi aceitar e tive que me adaptar”, comenta. Foram 14<br />

anos <strong>de</strong> magistério no tradicional colégio <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>. A professora<br />

só <strong>de</strong>ixou a escola quando se casou para ter mais tempo <strong>de</strong> <strong>de</strong>dicação<br />

à família.<br />

No Mãe <strong>de</strong> Deus, além <strong>de</strong> ministrar as disciplinas <strong>de</strong> Pedagogia,<br />

Estela tornou-se uma importante aliada das alunas para resolver<br />

impasses relacionados com as tradições da escola. “Como eu era a<br />

única professora leiga lá <strong>de</strong>ntro, elas recorriam muito a mim. E eu<br />

tentava ajudar como podia. Elas pediam, por exemplo, permissão para<br />

usar calça comprida durante as excursões que faziam. E eu fazia as<br />

propostas nas reuniões dos professores”, relembra.<br />

Durante este tempo a professora garante que apren<strong>de</strong>u muito<br />

com as freiras e cultivou um gran<strong>de</strong> respeito pela instituição. Tanto que<br />

fez questão <strong>de</strong> seus filhos estudarem lá (o filho cursou o ensino infantil,<br />

o que era permitido para meninos; as meninas permaneceram nos<br />

outros níveis). “Eu acho muito importante a criança ter uma educação<br />

religiosa. Por isso meus filhos estudaram lá e se pu<strong>de</strong>sse o menino teria<br />

continuado até se formar!”, diz com convicção.<br />

Na década <strong>de</strong> 1950, Estela participou da fundação da Faculda<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> Filosofia, Ciências e Letras, primeiro estabelecimento <strong>de</strong> ensino<br />

superior da cida<strong>de</strong>, e, em 1962, do Curso <strong>de</strong> Pedagogia na mesma<br />

instituição. Anos <strong>de</strong>pois, em 1971, foi cofundadora da <strong>Universida<strong>de</strong></strong><br />

<strong>Estadual</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>. “Eu acompanhei toda a história inicial. Faço<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

110


parte <strong>de</strong>sta história do ensino superior na cida<strong>de</strong> e na UEL”, diz com<br />

satisfação.<br />

Professora da área <strong>de</strong> Pedagogia <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início, o trabalho <strong>de</strong><br />

Estela na UEL foi além das salas <strong>de</strong> aula. Ocupou cargos administrativos<br />

como chefia do Departamento <strong>de</strong> Educação, direção do Centro<br />

<strong>de</strong> Comunicação, Educação e Artes (CECA), direção do Núcleo <strong>de</strong><br />

Tecnologia Educacional (NTE – atual Labted) e sempre esteve muito<br />

próxima <strong>de</strong> todos os reitores. “Eu tive esta felicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> conviver com<br />

todos os reitores. No começo, os chefes <strong>de</strong> <strong>de</strong>partamento dialogavam<br />

direto com o reitor, não tinha a burocracia <strong>de</strong> hoje. E todos os reitores<br />

que passaram sempre me chamavam para dar um apoio quando vinha<br />

visita do Japão ou para alguma coisa relacionada com o país, como o<br />

intercâmbio, por exemplo”, explica.<br />

Por causa das constantes “convocações” para assessorar a reitoria<br />

nos assuntos relacionados ao país <strong>de</strong> seus ancestrais, a professora<br />

i<strong>de</strong>alizou a criação <strong>de</strong> um órgão que organizasse e se responsabilizasse<br />

por essas ativida<strong>de</strong>s. Esta foi a semente para a criação do atual Núcleo<br />

<strong>de</strong> Estudos da Cultura Japonesa (NECJ), do qual Estela é a atual<br />

diretora. Ela redigiu pessoalmente o projeto, mas a implantação não<br />

foi imediata, pois a gestão do reitor da época estava no fim e não<br />

houve tempo hábil para a i<strong>de</strong>ia ganhar materialida<strong>de</strong>. “O reitor [Jorge<br />

Bounassar Filho] me pediu para escrever o projeto, mas logo <strong>de</strong>pois<br />

ele saiu. A administração seguinte não assumiu e eu tive que esperar a<br />

próxima gestão. Quando o novo reitor [Jackson Proença Testa] tomou<br />

posse, eu fui correndo mostrar o projeto. Na hora ele aceitou, achou<br />

muito importante e prometeu implantar. E realmente, foi rápido! Em<br />

alguns meses foi implantado num evento com mais <strong>de</strong> 500 pessoas e a<br />

presença do cônsul <strong>de</strong> Curitiba”, comemora.<br />

Inicialmente sem um prédio para funcionar, o NECJ foi<br />

instalado numa “salinha” improvisada <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> uma sala <strong>de</strong> projeção<br />

do NTE. “Era muito pequena! Os intercambistas ficavam muito mal<br />

acomodados”, lamenta. A solução veio da terra do sol nascente: em<br />

uma viagem ao Japão para conhecer o sistema educacional do país,<br />

Estela comentou a situação com o reitor da <strong>Universida<strong>de</strong></strong> Meio, da<br />

cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Nago (província <strong>de</strong> Okinawa), conveniada à UEL. O reitor<br />

planejou um encontro com o prefeito da cida<strong>de</strong>, que encaminhou à<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

111


Câmara <strong>de</strong> Vereadores a proposta <strong>de</strong> uma verba <strong>de</strong> 50 mil dólares para<br />

a construção <strong>de</strong> uma se<strong>de</strong> para o órgão. “Eu nem acreditei!”, comemora<br />

sorri<strong>de</strong>nte.<br />

Com a verba aprovada, foi construído o prédio temático, com as<br />

cores e a ban<strong>de</strong>ira do Japão, localizado no calçadão do campus próximo<br />

ao Departamento <strong>de</strong> Física. Infelizmente a inauguração veio somente<br />

<strong>de</strong>pois da aposentadoria da professora, em janeiro <strong>de</strong> 2006, e ela não<br />

esteve presente na cerimônia. “Eu não sabia que ia ser naquele dia e<br />

estava viajando. Vim <strong>de</strong>pois para conhecer”, comenta.<br />

Para além do seu reconhecido trabalho na UEL, Estela atuou,<br />

ainda, fora dos muros acadêmicos. Quando assumiu a direção do<br />

CECA, em 1978, ela coor<strong>de</strong>nou um curso no Ministério da Educação<br />

para a capacitação didático-pedagógica <strong>de</strong> professores dos ensinos<br />

fundamental e médio. Seu projeto foi um dos <strong>de</strong>z escolhidos pelo<br />

Ministério entre todas as universida<strong>de</strong>s do Brasil. Ela ministrou o<br />

curso também fora da UEL. “O MEC viu que o trabalho meu e da minha<br />

equipe estava dando resultado aqui e pediu que nós <strong>de</strong>slocássemos<br />

para outras universida<strong>de</strong>s. Isto me enriqueceu muito”, afirma.<br />

Outra atuação externa <strong>de</strong> Estela, foi a coor<strong>de</strong>nação <strong>de</strong> um<br />

programa latino-americano em parceria com universida<strong>de</strong>s da América<br />

Latina, uma “semente para a educação a distância”, conta. Na vigência<br />

do programa viajou para vários países, relata satisfeita.<br />

Mesmo com tantas ativida<strong>de</strong>s, Estela nunca <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> ser uma<br />

agente ativa no processo <strong>de</strong> intercâmbio entre Brasil e Japão. Ainda<br />

na UEL realizou uma pesquisa sobre o movimento <strong>de</strong>kassegui (filhos<br />

<strong>de</strong> japoneses que vão trabalhar no Japão), cujos resultados foram<br />

solicitados pelo Centro <strong>de</strong> Informação e Apoio ao Trabalhador no<br />

Exterior, com se<strong>de</strong> em São Paulo. Graças a este trabalho, a londrinense<br />

foi convidada a integrar o conselho acadêmico do órgão, on<strong>de</strong><br />

permanece como membro até hoje.<br />

Encerrado o exercício da função <strong>de</strong> professora na UEL, em<br />

2004, Estela foi convidada para trabalhar na Aliança Cultural Brasil<br />

Japão, on<strong>de</strong> criou o Departamento do Dekassegui e do qual se tornou<br />

a primeira diretora. O Departamento foi um dos principais legados<br />

<strong>de</strong> Estela para o órgão e a cida<strong>de</strong>: “Eles [<strong>de</strong>kasseguis] passam por<br />

muitas dificulda<strong>de</strong>s e eu sempre fiz tudo o que podia para resolver<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

112


os problemas”, afirma. A passagem para o novo posto <strong>de</strong> trabalho foi<br />

imediata: Estela nem chegou a vivenciar a experiência <strong>de</strong> aposentada<br />

e migrou, com muita satisfação, para a Aliança Cultural. “Não fiquei<br />

parada nem um dia sequer”, lembra.<br />

Estela atua até hoje na Aliança Cultural, on<strong>de</strong> também acumula o<br />

cargo <strong>de</strong> Assessora Internacional. E as tarefas são tantas que ela admite:<br />

“Lá eu trabalhava mais que na UEL”. As ativida<strong>de</strong>s só foram <strong>de</strong>ixadas<br />

em parte – sob os cuidados <strong>de</strong> uma <strong>de</strong> suas filhas -, após o convite<br />

que a professora recebeu em 2007, para retornar à <strong>Universida<strong>de</strong></strong>,<br />

<strong>de</strong>sta vez como diretora do NECJ. Cargo mais do que oportuno, já que<br />

o núcleo foi i<strong>de</strong>alizado por ela. Aceito o convite, Estela assumiu mais<br />

uma montanha <strong>de</strong> serviço e compromissos. Hoje é a responsável pelo<br />

setor <strong>de</strong> intercâmbios e recebe pessoalmente todos os intercambistas<br />

e <strong>de</strong>mais visitantes da terra <strong>de</strong> seus pais. “Eu me preocupo muito<br />

com a imagem que vamos passar da UEL. Qualquer coisa que é mal<br />

feita aqui, ou se eles não são bem tratados, voltam com uma imagem<br />

péssima! Então eu tomo um cuidado enorme, faço tudo o que pu<strong>de</strong>r...<br />

já paguei muitas recepções do meu próprio bolso. E não cobro <strong>de</strong> volta<br />

nem me arrependo: faço pensando não em mim, mas na imagem da<br />

Instituição”, ressalta.<br />

Toda uma vida <strong>de</strong> <strong>de</strong>dicação ren<strong>de</strong>u muitas homenagens a esta<br />

londrinense. A mais expressiva foi o recebimento da “Comenda do<br />

Tesouro Sagrado Raios <strong>de</strong> Ouro com Roseta”, entregue pelo imperador<br />

do Japão. Honra com qual sua mãe já havia sido contemplada anos<br />

antes, em reconhecimento ao seu não menor empenho em ajudar as<br />

duas nações. Uma rarida<strong>de</strong>: a maioria dos con<strong>de</strong>corados é composta por<br />

homens e dificilmente <strong>de</strong> gerações seguidas da mesma família. “Essa<br />

homenagem me <strong>de</strong>ixou muito honrada e agra<strong>de</strong>cida, mas nem acho<br />

que sou merecedora...”, diz humil<strong>de</strong>mente.<br />

E em meio a tantas ativida<strong>de</strong>s sobrava tempo para a família?<br />

“Claro que sim. Sempre me preocupei em garantir a qualida<strong>de</strong> do<br />

tempo que passava com meu marido e meus filhos. Gostávamos muito<br />

<strong>de</strong> passear, ir para locais com muito espaço e ver<strong>de</strong>...”, respon<strong>de</strong>.<br />

Estela permanece com sua agenda repleta <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s. Aguarda<br />

o fim da atual gestão da <strong>Universida<strong>de</strong></strong> para entregar o cargo, exercido<br />

com muita <strong>de</strong>dicação e empenho. Mas, adverte, não planeja ficar<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

113


parada: “Eu acho que não vou parar não! Enquanto eu ainda estiver<br />

bem, com condições <strong>de</strong> trabalho eu continuo! Só mesmo quando<br />

alguém disser ou eu mesma perceber que minha cabeça não está mais<br />

funcionando...”, diz entre risos.<br />

Pelo visto, o livro sobre a saga <strong>de</strong>ssa nissei, que já se tornou<br />

patrimônio vivo da história <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>, ainda tem muitas páginas a<br />

serem escritas. Que as próximas páginas sejam tão belas e produtivas<br />

quanto as que a professora Estela escreveu e que eu tive, aqui, o prazer<br />

<strong>de</strong> reescrever.<br />

Janaína Castro<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

114


Eucli<strong>de</strong>s Francisco Salmento<br />

“Em 17 anos trabalhando na <strong>Universida<strong>de</strong></strong>,<br />

só me atrasei cinco minutos. Sabe o que<br />

é isso?” Assim se inicia a conversa com<br />

Eucli<strong>de</strong>s Francisco Salmento. Já é possível<br />

perceber o imenso orgulho e <strong>de</strong>dicação<br />

que ele tem pelo trabalho. Na verda<strong>de</strong>, as<br />

palavras não são tão necessárias diante da<br />

imagem <strong>de</strong> seo Eucli<strong>de</strong>s; basta um olhar<br />

mais atento: curvado pelos anos, as mãos<br />

bastante calejadas, a pele sofrida e o carrinho<br />

<strong>de</strong> papelão estacionado na varanda.<br />

Aos 82 anos, com muita disposição, sai todas as manhãs<br />

na esperança <strong>de</strong> um “dinheirinho a mais”. No entanto, não é só a<br />

necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> complementar a renda. Seo Eucli<strong>de</strong>s precisa trabalhar,<br />

fazer algo: “Se eu paro eu morro, eu adoeço, duro pouco”. Em função<br />

do trabalho viveu e vive ainda. Começa a narrar sua história omitindo<br />

a infância e a adolescência. Como se ela realmente começasse com<br />

o primeiro emprego. Fala com tanto orgulho dos anos <strong>de</strong>dicados à<br />

<strong>Universida<strong>de</strong></strong> e a outras ocupações que até emociona.<br />

Seo Eucli<strong>de</strong>s repete a história <strong>de</strong> vida <strong>de</strong> muitos nor<strong>de</strong>stinos: em<br />

1953, quando “era moço”, veio sozinho para o sul em busca <strong>de</strong> melhores<br />

oportunida<strong>de</strong>s. “Lá não era ruim, mas todo mundo dizia que aqui era<br />

melhor. E é. Aqui nunca me faltou nada, criei meus oito filhos tudo<br />

aqui”, relata.<br />

Começou a trabalhar na UEL porque ouviu falar que na<br />

<strong>Universida<strong>de</strong></strong> tinha serviço. Seo Eucli<strong>de</strong>s não rejeita serviço e não se<br />

incomoda em perguntar para quê. Mostrou-se interessado pela vaga<br />

e foi “ajustado”. Quase não conseguiu, não queriam contratar pessoas<br />

que não soubessem ler e escrever. Mas, seo Eucli<strong>de</strong>s teve sorte,<br />

acabou sendo “ajustado” mesmo sem os requisitos e por uma única<br />

razão: “Eu trabalho, tudo que manda fazer, faço”. Sendo assim, no<br />

dia 27 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1980 começou a trabalhar na UEL. A princípio<br />

como jardineiro, <strong>de</strong>pois tomando conta das estufas: “plantei toda<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

115


sementinha, até <strong>de</strong> carrapicho. Eram seis estufas, e eu nunca <strong>de</strong>ixei<br />

morrer um pezinho <strong>de</strong> árvore <strong>de</strong> jeito nenhum. Porque se eu <strong>de</strong>ixasse<br />

morrer um ou dois pezinhos, a professora perdia quase um mês <strong>de</strong><br />

estudo”, diz, enfático. Seo Eucli<strong>de</strong>s plantava, cuidava e carregava água<br />

em lata, nas costas, para preservar as plantas.<br />

Ele conta orgulhoso que insistiu na prefeitura do campus para<br />

instalar água perto das estufas: “Tudo foi eu que pedi, tudo que<br />

precisava lá eu fazia, nunca teve <strong>de</strong>feito”.<br />

Histórias é que não faltam... sobre trabalho. Conta que quando foi<br />

se aposentar o gerente do “banco do calçadão” perguntou a ele se sabia<br />

quantos dias havia “perdido” ou faltado na universida<strong>de</strong>. Seo Eucli<strong>de</strong>s<br />

respon<strong>de</strong>u humil<strong>de</strong>mente que não per<strong>de</strong>u nenhum. “Eu trabalhava <strong>de</strong><br />

dia e <strong>de</strong> noite. Não tinha guardas (no período diurno), nem nada, eu<br />

ficava até oito horas, enquanto não chegavam os guardas (noturnos)<br />

eu não saía <strong>de</strong> lá. Trabalhei dia <strong>de</strong> domingo e em todo canto”. Até<br />

domingo, porque era preciso por “sentido” nos passarinhos, cuidar<br />

para que eles não comessem as plantinhas e <strong>de</strong>struíssem os trabalhos<br />

dos professores.<br />

“Eu guardava tudinho. A meta<strong>de</strong> da limpeza da <strong>Universida<strong>de</strong></strong>,<br />

quando ela comprou a fazenda, passou tudo por essas mãos, eu fiz tudo<br />

aquela curva <strong>de</strong> nível do lado <strong>de</strong> lá, eu fazia, com a enxada”.<br />

Hoje, só um motivo faz com que Seo Eucli<strong>de</strong>s fique em casa:<br />

“Papai não gosta <strong>de</strong> chuva”, confi<strong>de</strong>nciou o primogênito. Será por<br />

quê? Na ativida<strong>de</strong> atual do seo Eucli<strong>de</strong>s é difícil trabalhar com chuva.<br />

Existe outra possibilida<strong>de</strong>. Foi ela que causou o atraso, aquele <strong>de</strong> cinco<br />

minutos: “eu saí daqui na carreira, na hora tava chovendo muito e eu<br />

parei no ponto <strong>de</strong> ônibus e me atrasei”.<br />

Mas, <strong>de</strong>ixando as tristezas <strong>de</strong> lado ele confessa: “Eu tô bem<br />

contente, eu quero bem a menina, o menino, o homem, a mulher.<br />

Nunca <strong>de</strong>sejei mal a ninguém. E <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> velho tô mais bem do que<br />

quando eu era moço”.<br />

Léia Dias Sabóia<br />

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Francisca Soares Felizardo<br />

Os 22 anos <strong>de</strong> trabalho na <strong>Universida<strong>de</strong></strong><br />

foram cuidadosamente arquivados.<br />

Certificados, portarias, cartões <strong>de</strong><br />

aniversário e outros atestados comprovam<br />

uma vida <strong>de</strong>dicada à UEL. Com 82 anos e<br />

muita energia, Francisca Soares Felizardo<br />

recorre a essas provas reais para contar a<br />

sua história.<br />

Francisca nasceu em Taubaté (SP). Morou<br />

em Sorocaba, na Penha, em Primeiro <strong>de</strong><br />

Maio e Sertanópolis. De Sertanópolis, Francisca, o esposo e as três<br />

filhas pequenas mudaram-se para <strong>Londrina</strong>. O ano era 1952.<br />

Francisca já lecionava. Ela foi nomeada professora do Estado em<br />

1945. “Naquele tempo não precisava ter curso normal para lecionar,<br />

um pouquinho que soubesse já era suficiente. Não tinha professor”.<br />

Mas, em <strong>Londrina</strong>, concluiu os estudos. Francisca lecionou no terceiro<br />

grupo escolar, hoje Escola <strong>Estadual</strong> Evaristo da Veiga: “Eu gostava<br />

muito <strong>de</strong> lecionar”, confessa.<br />

Antes <strong>de</strong> começar a trabalhar na UEL, Francisca foi requisitada<br />

para o serviço eleitoral. E, tempos <strong>de</strong>pois, foi novamente requisitada<br />

para trabalhar na Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Direito. “Ainda não era universida<strong>de</strong>.<br />

Funcionava no Hugo Simas. O Dr. Nilo (Nilo Ferraz <strong>de</strong> Carvalho) era<br />

o diretor da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Direito, tinha a Leslie. E <strong>de</strong>pois foi criada a<br />

<strong>Universida<strong>de</strong></strong>”, relembra. “A Leslie foi transferida para o campus, e eu<br />

fiquei como substituta <strong>de</strong>la. Aí quando me aposentei como professora<br />

do Estado, o Dr. Ascêncio Garcia Lopes me nomeou como secretária”.<br />

“Nós fomos para o campus. No CESA só tinha um pavilhão, e<br />

ainda era incompleto”. Enquanto a obra era terminada, ela trabalhava<br />

na secretaria: “Era uma barulheira; às vezes, era difícil trabalhar”.<br />

O cargo <strong>de</strong> Francisca era <strong>de</strong> confiança, e sempre que havia novas<br />

administrações, ela o colocava à disposição. “Mas, nunca aceitavam e<br />

até me aposentar fiquei lá”, conta, orgulhosa.<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

117


O caminho para chegar à <strong>Universida<strong>de</strong></strong>, segundo Francisca, era<br />

literalmente tortuoso. “Daqui até o campus era só poeira, não tinha<br />

rua. Você tinha que dar uma volta enorme. Tinha uns professores<br />

que atravessavam as fazendas para chegar à <strong>Universida<strong>de</strong></strong>. Passavam<br />

aperto para chegar lá, nas fazendas tinha gado, imagina”.<br />

Superar todas as dificulda<strong>de</strong>s é motivo <strong>de</strong> orgulho para Francisca.<br />

E se alguém ousa falar mal da <strong>Universida<strong>de</strong></strong>, ela já se põe na <strong>de</strong>fesa:<br />

“Eles não conheceram o início da <strong>Universida<strong>de</strong></strong>. Eu acho que o Dr.<br />

Ascêncio foi um herói. Quando ele foi para lá a sala <strong>de</strong>le era <strong>de</strong> chão<br />

batido, um armarinho e uma mesa simples. Ele lutou até conseguir<br />

tudo”.<br />

Trabalhar naquela época também era muito diferente. Internet<br />

e computadores não existiam, a máquina <strong>de</strong> escrever é que auxiliava<br />

as secretárias. “Os mapas <strong>de</strong> notas, aquele movimento <strong>de</strong> secretaria,<br />

era tudo feito manualmente. Tudo, tudo. Nós passávamos a nota,<br />

passávamos a presença”. As médias dos alunos eram calculadas pelas<br />

secretárias, uma por uma, manualmente. “Hoje é uma maravilha a<br />

UEL, os computadores e a Internet”.<br />

Outro fato marcante na história <strong>de</strong> Francisca foi sua participação<br />

no projeto <strong>Universida<strong>de</strong></strong> Aberta à Terceira Ida<strong>de</strong>, o Unati. Foi aluna<br />

da primeira turma. O projeto tinha como objetivo proporcionar<br />

condições favoráveis à comunida<strong>de</strong> universitária da UEL: docente,<br />

discente e população idosa <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> e região, para a construção<br />

<strong>de</strong> conhecimentos aprofundados sobre o idoso na socieda<strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rna<br />

e em nossa realida<strong>de</strong> brasileira. Ela estudou <strong>de</strong> 22 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong><br />

1994 a 04 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1996. “Foi um curso muito bom. Uma turma<br />

bem gran<strong>de</strong>. E nós tínhamos muitas matérias, <strong>de</strong> diferentes cursos”.<br />

Francisca está aposentada <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1992. Atualmente, faz trabalhos<br />

voluntários e participa <strong>de</strong> reuniões com as amigas.<br />

Léia Dias Sabóia<br />

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Direto do Ceará<br />

Francisco Alves Pereira veio do interior do Ceará para<br />

ajudar a construir a UEL. Entre idas e vindas, três períodos <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>dicação à <strong>Universida<strong>de</strong></strong> e a satisfação <strong>de</strong> se aposentar aqui<br />

Nascido na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Crato, interior do<br />

Ceará, o motorista Francisco Pereira já<br />

era casado e tinha três filhos quando<br />

resolveu tentar a vida no Paraná, em 1964.<br />

“Vim no pau-<strong>de</strong>-arara: a carroceria <strong>de</strong> um<br />

caminhão com uma lona em cima, cheia<br />

<strong>de</strong> gente... <strong>de</strong>morou <strong>de</strong>z dias pra chegar”,<br />

lembra. Quem o trouxe para o sul do país<br />

foi um antigo patrão que tinha família<br />

por aqui. Depois o patrão voltou para o<br />

nor<strong>de</strong>ste, mas Francisco não quis retornar do mesmo jeito que chegou<br />

e resolveu ficar.<br />

O primeiro local em que morou foi o distrito <strong>de</strong> Guaravera. Foi<br />

um tempo difícil, pois não havia emprego para motorista. “Tive que<br />

trabalhar na roça, mesmo sem saber! Fiquei um tempo na lavoura do<br />

café, mas toda semana arranjava um ‘troquinho’ para ir pra <strong>Londrina</strong><br />

procurar emprego”, explica.<br />

A primeira oportunida<strong>de</strong> veio graças a uma coincidência.<br />

Francisco encontrou em <strong>Londrina</strong> o médico Dalton Fonseca Paranaguá,<br />

secretário do Hospital <strong>de</strong> Tuberculose e candidato à prefeitura da<br />

cida<strong>de</strong>. “Eu conhecia a família <strong>de</strong>le lá do Piauí, aí fui conversar com ele<br />

e consegui uma vaga <strong>de</strong> motorista <strong>de</strong> ambulância no hospital”.<br />

“Foi em 1969, meu primeiro emprego com carteira assinada aqui<br />

no estado”. Em 1971, o antigo Hospital da Tuberculose <strong>de</strong>u lugar ao<br />

Hospital Universitário, inaugurado em 1º <strong>de</strong> agosto. Este foi o primeiro<br />

vínculo <strong>de</strong> Francisco com a UEL.<br />

A chegada ao campus universitário foi em 1975, quando muito<br />

da atual estrutura ainda não existia. “Quando cheguei aqui, não tinha<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

119


isso tudo não. Era só o prédio pequeno da Reitoria, o banco do lado<br />

(Banestado) e o CCB. O resto era só mato, cafezal e terra”, afirma.<br />

E aqui começa a participação <strong>de</strong>ste cearense na construção <strong>de</strong><br />

gran<strong>de</strong> parte dos prédios que hoje compõem a UEL. Francisco dirigia<br />

o único caminhão que a <strong>Universida<strong>de</strong></strong> possuía na época e trouxe<br />

toda a areia para os novos prédios do campus. “Eu também tinha<br />

que <strong>de</strong>scarregar a areia com a enxada. Não tinha esses caminhões <strong>de</strong><br />

hoje que <strong>de</strong>rrubam tudo para o chão. Era no braço, com muito suor.<br />

Aju<strong>de</strong>i a levantar o CCE, CCH, setor <strong>de</strong> transporte, almoxarifado,<br />

Hospital Veterinário, CTU, CEFE... Tudo!”, orgulha-se. O motorista<br />

trazia também tambores <strong>de</strong> água para misturar a massa com a areia e<br />

o cimento.<br />

Depois do trabalho nas obras, Francisco iniciou um período <strong>de</strong><br />

“idas e voltas” da UEL. Primeiro recebeu uma proposta da Empresa<br />

Transportes Coletivos Gran<strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> para receber um salário<br />

maior e aceitou. Mas logo se arrepen<strong>de</strong>u, pois não gostou do trabalho<br />

na empresa. “Pedi para voltar para a UEL e me aceitaram. Naquele<br />

tempo, ainda não tinha concurso público, era ‘apadrinhamento’. Então<br />

eu consegui a vaga”, conta. Mas, o motorista sairia novamente, <strong>de</strong>sta<br />

vez para trabalhar na Viação Garcia. “Na Garcia, foi ruim porque eu<br />

tinha que trabalhar à noite e não conseguia dormir <strong>de</strong> dia. Aí eu ficava<br />

muito cansado. Saí <strong>de</strong> lá e tentei abrir um negócio com minha esposa,<br />

uma fábrica <strong>de</strong> lingerie, mas não <strong>de</strong>u certo”, conta.<br />

Foi quando surgiu o concurso público para preencher as vagas<br />

na UEL. Francisco, já estava com 60 anos, mas conseguiu passar no<br />

concurso e voltou a ser motorista da <strong>Universida<strong>de</strong></strong>. Desta vez não quis<br />

sair mais. “Trabalhei mais 10 anos. Pegava ônibus, caminhão, viajava.<br />

Durante a semana entregava malote <strong>de</strong>ntro da UEL e nos setores<br />

fora também (Casa <strong>de</strong> Cultura, Museu Histórico, Colégio Aplicação)”,<br />

comenta. E não fugia do trabalho, como ele mesmo conta: “Tinha<br />

motorista que sumia na sexta-feira à noite para não pegar serviço no<br />

fim <strong>de</strong> semana. Eu era diferente: perguntava se alguém ia precisar <strong>de</strong><br />

mim! E queria que precisasse!”, garante.<br />

Quando fez 65 anos, Francisco foi “convidado” a se aposentar<br />

pelo tempo <strong>de</strong> serviço. Mas o bem-disposto cearense não queria parar<br />

<strong>de</strong> trabalhar e continuou até o limite dos 70 anos, em 2006. Aí, não<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

120


teve jeito, apesar da vonta<strong>de</strong>, Francisco não pô<strong>de</strong> continuar. “Eu pedi<br />

muito pra ficar. Dizia ‘estou tão bem <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, <strong>de</strong>ixa eu continuar, não<br />

quero ficar em casa à toa!’. Mas não adianta, <strong>de</strong>pois dos 70 não dá!”,<br />

lamenta.<br />

Mas não foi a aposentadoria compulsória que <strong>de</strong>ixou o animado<br />

Francisco <strong>de</strong>socupado. Ele ainda tinha uma “carta na manga”: “Fiquei<br />

bem porque sou músico e logo consegui um contrato com a Prefeitura<br />

<strong>de</strong> Cambé pra tocar pro pessoal da terceira ida<strong>de</strong>”. E qual instrumento<br />

ele toca? A lista é gran<strong>de</strong>: “Lá eu toco cavaco, violão e sou o vocalista.<br />

Mas também sei tocar pan<strong>de</strong>iro, triângulo, sanfona, bumbo... po<strong>de</strong><br />

trazer que eu toco!”, <strong>de</strong>safia.<br />

Os companheiros <strong>de</strong> trabalho dos tempos <strong>de</strong> UEL também<br />

conheceram os dotes musicais <strong>de</strong> Francisco. Ele sempre trazia um violão<br />

ou cavaquinho e fazia a festa na hora do almoço. Era convidado certo<br />

para tocar nas festas <strong>de</strong> fim <strong>de</strong> ano dos setores da <strong>Universida<strong>de</strong></strong>. Um<br />

<strong>de</strong>talhe que ele faz questão <strong>de</strong> ressaltar é que nunca teve um professor<br />

<strong>de</strong> música. “Aprendi a tocar ainda menino lá no Ceará. Tinha uns nove<br />

anos e olhava os músicos tocando. Ficava observando e quando chegava<br />

em casa fazia igual!”. A história ren<strong>de</strong>u até reportagem <strong>de</strong> TV. Na época<br />

do Festival <strong>de</strong> Música, Francisco participou <strong>de</strong> um <strong>de</strong>safio: foi chamado<br />

para tocar junto com um estudante do curso <strong>de</strong> Música da UEL. E ele<br />

não per<strong>de</strong>u a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> mostrar seu talento: “O pessoal da TV<br />

foi lá e eu toquei tudo que levaram. Depois quando perguntaram para<br />

o rapaz o que ele achava, ele disse: ‘Eu já tô com cinco anos <strong>de</strong> estudo<br />

e não faço o que ele faz!’, aí eu fiquei todo cheio <strong>de</strong> razão”, comemora.<br />

Hoje, para alegria <strong>de</strong> Francisco, o antigo hobby virou trabalho:<br />

“É uma coisa que eu gosto, acho que se eu não tocar eu fico doente!<br />

Eu não paro: no fim <strong>de</strong> semana toco em aniversário, casamento, festa<br />

<strong>de</strong> criança, on<strong>de</strong> me chamarem. Eu cobro mais barato porque não sou<br />

profissional, então a concorrência per<strong>de</strong>!”, revela.<br />

Mas a sauda<strong>de</strong> da UEL é gran<strong>de</strong> e Francisco nem tenta escon<strong>de</strong>r:<br />

“Fiz muitos amigos aqui. Por isso já <strong>de</strong>ixei minhas contas aqui e venho<br />

receber na UEL já para ter um ‘pézinho’... todo mês pelo menos um dia<br />

venho aqui! Sempre chego na hora do almoço pra encontrar o pessoal<br />

do transporte e jogar ‘snooker’ com eles, igual quando eu trabalhava”,<br />

diz empolgado.<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

121


A sauda<strong>de</strong> é digna <strong>de</strong> quem ajudou a construir muitos prédios,<br />

passou tantos anos dirigindo <strong>de</strong> um lado a outro do campus, e que se<br />

pu<strong>de</strong>sse, mesmo aos 72 anos, não pensaria duas vezes antes <strong>de</strong> voltar:<br />

“Aqui é minha casa! É um lugar que a gente não esquece, o melhor<br />

emprego que eu já tive. Me arrependo das vezes que eu saí, mas tive a<br />

sorte <strong>de</strong> começar e terminar aqui. Gosto tanto que até hoje se me <strong>de</strong>sse<br />

serviço eu trabalhava com todo o prazer!”, diz, ainda com esperança<br />

<strong>de</strong> po<strong>de</strong>r retornar aos dias <strong>de</strong> trabalho por aqui. Infelizmente não é<br />

possível, mas somos todos gratos pelos anos que o senhor já trabalhou<br />

e que são parte da história da UEL.<br />

Janaína Castro<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

122


Professor nor<strong>de</strong>stino<br />

Geir Rodrigues, professor do Departamento <strong>de</strong> Educação<br />

do CECA, chegou com a família na cida<strong>de</strong> no começo <strong>de</strong><br />

<strong>Londrina</strong> e lecionou na <strong>Universida<strong>de</strong></strong> até completar 70 anos<br />

Sergipano, Geir Rodrigues é uma pessoa<br />

do tipo que gosta <strong>de</strong> conversar e tem<br />

muita história a contar. Da mudança<br />

para o sul do Brasil, - quando tinha seis<br />

anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> - para Ourinhos (SP) e em<br />

seguida para <strong>Londrina</strong>, o professor ainda<br />

tem recordações. A família era <strong>de</strong> Propriá,<br />

Sergipe, e teve que sair fugida do bando <strong>de</strong><br />

Lampião. A viagem, na época <strong>de</strong> poucas<br />

estradas no interior do país, foi <strong>de</strong> navio,<br />

todo equipado, é claro, com re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> dormir.<br />

Como pioneiro <strong>de</strong>sta nova terra, o pai da família teve que começar<br />

outro emprego para sustentar os seis filhos, dos quais Geir é o quarto,<br />

consertando trens. Geir, apesar da pouca ida<strong>de</strong>, lembra <strong>de</strong> como era<br />

a região <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> quando chegou, com muitas árvores e ícones,<br />

como o sino da igreja: um triângulo feito <strong>de</strong> trilhos <strong>de</strong> trem que está no<br />

Museu Histórico <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> Padre Carlos Weiss.<br />

Geir teve a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> receber o diploma do primário pelo<br />

Colégio Mãe <strong>de</strong> Deus em 1944, apenas um ano antes do colégio passar a<br />

aceitar apenas meninas. Da época, ele ainda conserva fotos das turmas<br />

reunidas em frente às escadarias da escola. O ginásio também foi em<br />

outro tradicional colégio da época, o Vicente Rijo, que se localizava<br />

on<strong>de</strong> hoje é o Colégio <strong>Estadual</strong> Marcelino Champagnat.<br />

Durante os últimos anos do ensino fundamental, Geir e colegas<br />

jogavam pingue-pongue no salão da Igreja Matriz <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>. As<br />

aulas acabavam e eles iam para lá, on<strong>de</strong> os laços com a religião católica<br />

se estreitaram até que em 1955 ele entrou para o seminário.<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

123


Foram anos <strong>de</strong> seminário. Geir cursou Filosofia e Teologia em<br />

Curitiba e foi or<strong>de</strong>nado padre. O trabalho o levou da gran<strong>de</strong> São Paulo<br />

a Santa Catarina, até que, a vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> se casar, fez com que ele saísse,<br />

embora nunca abandonasse a religião e os trabalhos. Tanto que,<br />

quando voltou a <strong>Londrina</strong> foi responsável pela missa universitária e<br />

participou do movimento religioso para construção da capela na UEL.<br />

Quando <strong>de</strong>ixou o sacerdócio, começou o ofício <strong>de</strong> professor pelo<br />

estado do Paraná. Em Marumbi lecionou Língua Portuguesa e Educação<br />

Moral e Cívica, enquanto em Arapongas e em <strong>Londrina</strong> assumiu aulas<br />

<strong>de</strong> Filosofia e <strong>de</strong> Estudos <strong>de</strong> Problemas Brasileiros no ensino superior.<br />

Para estes alunos, Geir gostava <strong>de</strong> apresentar instituições <strong>de</strong> ensino<br />

técnico, como o Ipolon, o Senai e a extinta escola técnica da empresa<br />

Carambeí. Também foi com alunos 14 vezes à Usina Hidroelétrica <strong>de</strong><br />

Itaipú.<br />

Na UEL foi lotado no Departamento <strong>de</strong> Educação - CECA. Ele<br />

relembra da participação no projeto Rondon em Limoeiro do Norte<br />

(CE): “Era uma boa experiência, os alunos cruzavam o Brasil para ir<br />

para os campi avançados.” Assim como o dia do pioneiro promovido no<br />

mês <strong>de</strong> agosto, do qual Geir foi coor<strong>de</strong>nador em parceria com o Museu<br />

Histórico.<br />

Para Geir a <strong>Universida<strong>de</strong></strong> não era apenas sala <strong>de</strong> aula, mas um<br />

meio para se conhecer pessoas. “O que eu conheci <strong>de</strong> pessoas por<br />

meio da UEL...”, recorda. E, com certeza, parte <strong>de</strong>stas o professor<br />

conheceu graças ao coral da UEL, do qual participou por 25 anos. Com<br />

o coral vieram as viagens, entre elas a apresentação - com quase 90<br />

participantes - na sala Cecília Meirelles no Rio <strong>de</strong> Janeiro, que ren<strong>de</strong>u<br />

ao grupo o segundo lugar na classificação.<br />

E <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> tantas histórias vividas na <strong>Universida<strong>de</strong></strong> e carinho<br />

sentido por ela, o professor foi obrigado a se aposentar quando<br />

completou 70 anos no ano 2000. Por um tempo Geir ainda continuou<br />

lecionando em outras instituições até achar que está “esquecediço”<br />

para o ofício. Se fosse antes, ele diz com convicção, “eu continuaria<br />

sim, nós temos muitos aposentados, muitos intelectuais à <strong>de</strong>riva. No<br />

apogeu do seu conhecimento você é convidado a se retirar”.<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

124


Hoje, o professor que chegou quando a cida<strong>de</strong> começava a se<br />

formar, relembra a tranquilida<strong>de</strong> do povo em: “uma cida<strong>de</strong> pequena,<br />

mas com pessoas <strong>de</strong> coração gran<strong>de</strong>.” Geir acredita que o Hino <strong>de</strong><br />

<strong>Londrina</strong> consegue transmitir bem o que ela era. Da UEL, a gran<strong>de</strong><br />

recordação é <strong>de</strong> uma família, com todos aqueles que lutaram para a<br />

implantação da <strong>Universida<strong>de</strong></strong>.<br />

Poliana Lisboa <strong>de</strong> Almeida<br />

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125


Genival Ross<br />

O professor Genival Ross começou<br />

a lecionar logo após concluir o curso<br />

superior <strong>de</strong> Economia na <strong>Universida<strong>de</strong></strong><br />

Fe<strong>de</strong>ral do Paraná (UFPR). Era 1964 e,<br />

juntamente com outros três formandos,<br />

assumiu turmas no norte do estado.<br />

Ele conta que o <strong>de</strong>creto que o nomeou<br />

estava assinado pelo ex-governador<br />

Ney Braga. Dois professores foram para<br />

a <strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>Estadual</strong> <strong>de</strong> Maringá<br />

(UEM); ele e outro colega foram para a<br />

Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Ciências Econômicas <strong>de</strong> Apucarana (Fecea). Os novos<br />

professores estavam assumindo novas disciplinas criadas com a<br />

reformulação do currículo dos cursos.<br />

Ross morava em Apucarana e dava aulas na Fecea quando, em<br />

1971, o diretor da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Ciências Econômicas <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>,<br />

Odésio Franciscon, convidou-o para prestar o concurso para a<br />

faculda<strong>de</strong>. Ele lembra que quando começou a dar aulas em <strong>Londrina</strong><br />

“a Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Ciências Econômicas funcionava no teatro da Unifil”.<br />

As faculda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> se unificaram e formaram a<br />

<strong>Universida<strong>de</strong></strong> no final <strong>de</strong> 1971. Com o tempo, o curso <strong>de</strong> Ciências<br />

Econômicas foi para o Centro <strong>de</strong> Estudos Sociais Aplicados (CESA)<br />

– já no campus da UEL - e o professor Ross continuava no percurso<br />

Apucarana – <strong>Londrina</strong>.<br />

Na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Apucarana estava gran<strong>de</strong> parte da vida do professor.<br />

Além do trabalho na Fecea - como professor e três vezes chefe <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>partamento -, lá Ross trabalhou em cargos <strong>de</strong> confiança na política<br />

durante três mandatos <strong>de</strong> diferentes prefeitos, sendo secretário <strong>de</strong><br />

planejamento e secretário <strong>de</strong> administração. Foi também na Cida<strong>de</strong><br />

Alta que o professor se casou no ano <strong>de</strong> 1968.<br />

Atuando nas duas cida<strong>de</strong>s, Ross acredita que a <strong>Universida<strong>de</strong></strong><br />

<strong>Estadual</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> se sobressai a <strong>de</strong> Apucarana em sua área por<br />

causa dos professores mais jovens e mais qualificados. Era comum um<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

126


professor daqui dar aulas lá, ele foi um dos poucos que fez a trajetória<br />

inversa.<br />

Mas no início da década <strong>de</strong> 1990 Ross se aposentou na Fecea<br />

e, como continuava a dar aulas na UEL, mudou-se para <strong>Londrina</strong>.<br />

A mudança diminuiu os riscos a que o professor estava exposto nas<br />

estradas da região, que antes eram estreitas, on<strong>de</strong> ele já enfrentou<br />

tempesta<strong>de</strong>s e outros perigos.<br />

Em 1995 o professor aposentou-se na UEL, mas prestou concurso<br />

em seguida e voltou a dar aulas na <strong>Universida<strong>de</strong></strong>. Ross lecionou<br />

Economia nos cursos <strong>de</strong> Direito da Unopar e da Uninorte. Porque<br />

“toda a vida gostei, me encontrei dando aula e sou disciplinado para a<br />

preparação <strong>de</strong>las”, afirma.<br />

Des<strong>de</strong> 2007, Genival Ross é “só aposentado”, como ele diz.<br />

Faltava um ano para o professor completar 70 anos e então teria que<br />

parar. “Já cumpri a minha função, agora tenho que <strong>de</strong>ixar para os mais<br />

jovens. Temos que ter um limite, saí satisteito”. A vida <strong>de</strong> aposentado<br />

<strong>de</strong> Ross é ocupada com os seus cinco netos (dos três filhos que teve) e<br />

também com ativida<strong>de</strong>s da igreja. “Dá para preencher o tempo”, brinca<br />

o professor.<br />

Poliana Lisboa <strong>de</strong> Almeida<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

127


Georfrávia Montoza Alvarenga<br />

Era <strong>de</strong> 1949 e eu, segunda <strong>de</strong> quatro filhos, nascia<br />

em <strong>Londrina</strong>, no tempo da terra vermelha sem<br />

asfalto, filha <strong>de</strong> um pequeno agropecuarista, classe<br />

média <strong>de</strong> postura educacional rígida. Família<br />

pequena, a segunda, irmã <strong>de</strong> duas mulheres e um<br />

homem.<br />

Até os sete anos criada na zona rural em contato<br />

com a natureza, assumindo pequenas tarefas<br />

<strong>de</strong>terminadas por meu pai ou minha mãe, o que<br />

me fez valorizar <strong>de</strong>s<strong>de</strong> cedo o trabalho. Aprendi as<br />

primeiras letras e números com a minha mãe que<br />

com paciência fazia da sala <strong>de</strong> jantar um “jardim <strong>de</strong> infância” composto<br />

também por árvores e flores que ro<strong>de</strong>avam a casa.<br />

A i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> produtivida<strong>de</strong> veio da força <strong>de</strong> ambos, meu pai e<br />

minha mãe. Ele na “lida” com a terra, ela na “lida” com a casa, filhos,<br />

alimentação...<br />

O trabalho era a fonte da produção e mesmo os afazeres domésticos<br />

eram valorizados como se cada um <strong>de</strong> nós fosse um elemento <strong>de</strong> uma<br />

equipe.<br />

Aos sete anos fui para a escola. Escola religiosa, professora brava,<br />

seção A. Sim, pois quem entrava em abril como eu, começava na seção<br />

A, dos fracos. À medida que tivesse boas notas passava a seção B.<br />

Posteriormente à seção C dos “sabidos”.<br />

Durante os quatro primeiros anos <strong>de</strong> escola fui aluna regular, mas<br />

lia maravilhosamente em voz alta quando da solicitação da professora.<br />

Acho que isso me valeu ser escolhida como oradora da turma na<br />

formatura.<br />

Este evento fez nascer uma nova Geo, que ruborizava e morria <strong>de</strong><br />

vergonha, mas vestia uma armadura e ia...<br />

Aprendi cedo ser estudiosa ou aparentar ser. Boa parte das vezes<br />

havia um gibi no meio do livro que eu “estudava”. Estratégia para<br />

escapar da vigilância da minha mãe que <strong>de</strong>terminava tempo para as<br />

tarefas escolares. De tanto fingir, acabei gostando dos livros. Não <strong>de</strong><br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

128


Matemática, não <strong>de</strong> Ciências. Dos gibis para fotonovelas e daí para<br />

literatura. Foi natural a “passagem”.<br />

Isto me diferenciava. Na visão dos outros, não na minha.<br />

Continuava achando que a profundida<strong>de</strong> <strong>de</strong> conhecimento <strong>de</strong> alguns<br />

colegas era majestosamente maior que a minha.<br />

Passei por todas as experiências escolares: castigo, cola,<br />

suspensão, solidarieda<strong>de</strong> dos colegas, premiação...<br />

Na juventu<strong>de</strong> minha opção pela Escola Normal como curso <strong>de</strong><br />

Ensino Médio ao terminar o ginásio foi natural. O <strong>de</strong>stino da maioria<br />

das garotas da época era preparar-se para o magistério. Durante o curso<br />

que durou três anos fui adquirindo <strong>de</strong> verda<strong>de</strong> o gosto por ensinar, ler<br />

ainda mais, pesquisar ou bisbilhotar que era o máximo que conseguia<br />

fazer na época.<br />

Prestei meu primeiro vestibular para o curso <strong>de</strong> Pedagogia.<br />

Fui aprovada. Curso diurno. Durante os quatro anos frequentei com<br />

empenho e prazer. Neste tempo fui presi<strong>de</strong>nte do Centro <strong>de</strong> Estudos<br />

Pedagógico e aluna razoável, embora estudasse muito. Prestei concurso<br />

para o magistério <strong>de</strong> primeiro grau, hoje ensino básico e fui aprovada.<br />

Meu batismo <strong>de</strong> fogo foi uma sala com quarenta alunos <strong>de</strong> 1ª<br />

série. Devo fazer justiça ao afirmar que ninguém está preparado para o<br />

real combate ao sair do Ensino Superior. Eu “era” uma alfabetizadora e<br />

nem sabia direito o que tinha que fazer. No entanto, ser professora aos<br />

18 anos ensinou-me a ter autoconfiança e o po<strong>de</strong>r extraordinário <strong>de</strong> lidar<br />

com a diversida<strong>de</strong>. Além disso, ensinou-me participar efetivamente da<br />

construção da cidadania e o respeito ao outro no saber que traz consigo<br />

ao ingressar no sistema formal.<br />

No espaço <strong>Universida<strong>de</strong></strong>, enquanto aluna, ampliei minha praia.<br />

O Campus parecia ser o mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> comunida<strong>de</strong> sonhado pela minha<br />

fantasia, on<strong>de</strong> os gran<strong>de</strong>s heróis eram aqueles que se <strong>de</strong>stacavam<br />

intelectualmente. Discutir “2001 – uma odisséia no espaço”, “Laranja<br />

mecânica”, guerra do Vietnã, discurso <strong>de</strong> Martin Luther King, tudo era<br />

levado a sério. As discussões, no Diretório Acadêmico eram ar<strong>de</strong>ntes<br />

e utópicas (aprendi esta palavra, neste período – utopia). Era “in,”<br />

ler Herman Hesse, Kristnamurth, Huxley, Orwell, Sartre, Simone <strong>de</strong><br />

Beauvoir, Virginia Woolf, Thomas Mann, Heminguay. Ouvir Gil, Chico,<br />

Caetano, Tom Jobim, Vinícius <strong>de</strong> Morais, Secos e Molhados (meu pai<br />

odiava). Assim foram quatro anos. E ao final eu era Pedagoga.<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

129


Fui então, convidada para assumir algumas aulas como<br />

substituta <strong>de</strong> uma professora que entrara em licença na <strong>Universida<strong>de</strong></strong><br />

<strong>Estadual</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> em 1972. Este sim era o maior <strong>de</strong>safio (os outros,<br />

eu havia superado e não eram mais tão importantes). “Dar aula” para<br />

meninas que “até esses dias atrás” eram minhas colegas. Sim, por que<br />

a disciplina era Metodologia do Ensino e a turma era o 3º ano do curso<br />

<strong>de</strong> Pedagogia. Eu tinha 20 anos e muitas das minhas alunas eram mais<br />

velhas e experientes que eu.<br />

Logo <strong>de</strong>scobri que o “saber” que eu dominava era ínfimo e eu<br />

ainda não dava conta da extraordinária i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> juntar a experiência <strong>de</strong><br />

sala <strong>de</strong> aula, dos quatro anos <strong>de</strong> formação, com aquele mundo real ao<br />

qual estava in<strong>de</strong>levelmente ligada. O problema era o saber fazer.<br />

Aquele pouco tempo em sala <strong>de</strong> aula mostrou-me mais do que os<br />

quatro anos do curso e aguçou o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> ir correndo para o Mestrado.<br />

E anos <strong>de</strong>pois ao Doutorado... E Pós-Doutorado. E não parei mais <strong>de</strong><br />

estudar.<br />

Posso dizer sem medo <strong>de</strong> errar, que boa parte do meu sucesso<br />

profissional <strong>de</strong>veu-se a uma boa formação acadêmica, tanto na<br />

graduação como <strong>de</strong> pós-graduação. Se com meus pais aprendi os<br />

conceitos e valores que me acompanharam por toda a vida: serieda<strong>de</strong>,<br />

austerida<strong>de</strong>, firmeza e <strong>de</strong>terminação, na escola adquiri uma fé inabalável<br />

na formação teórica e técnico-científica, respeito pela importância da<br />

educação no <strong>de</strong>senvolvimento do caráter e da personalida<strong>de</strong> além da<br />

obtenção da minha formação profissional.<br />

Perceber muito cedo que existe um sem número <strong>de</strong> variáveis,<br />

incluindo competência, compromisso social e político, re<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

relacionamentos, mudou a minha maneira <strong>de</strong> ser enquanto aprendiz e<br />

enquanto professora.<br />

Empenhei-me arduamente no <strong>de</strong>sempenho da tarefa <strong>de</strong> ser<br />

professora. E para isso <strong>de</strong>senvolvi ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> ensino, pesquisa<br />

e extensão e trabalhei muito no sentido <strong>de</strong> produzir textos para<br />

publicações, fruto <strong>de</strong> reflexões <strong>de</strong>ste meu momento <strong>de</strong> “ensinante” e<br />

aprendiz.<br />

Estive durante trinta e cinco anos no Ensino Superior, maior<br />

parte do tempo na UEL. Uma vida inteira <strong>de</strong>dicada à causa <strong>de</strong> ensinar.<br />

E ensinar bem. Tive tempo e condições para consolidar o que aprendi<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

130


sobre educação e me promovi à “fase gerativa”, na qual continuo<br />

apren<strong>de</strong>ndo, talvez mais sabiamente. Tenho gran<strong>de</strong> satisfação em<br />

escrever, relatar minha experiência além <strong>de</strong> continuar dando parcela<br />

<strong>de</strong> contribuição à formação <strong>de</strong> futuros educadores nas mais diversas<br />

áreas. Durante este tempo todo, não sei quantas vezes me reinventei<br />

para compor novos momentos <strong>de</strong> vida. Enfrentei gran<strong>de</strong>s <strong>de</strong>safios.<br />

Os dois últimos anos foram utilizados para repensar, <strong>de</strong>sconstruir,<br />

reconstruir a mim mesma e as minhas perspectivas profissionais.<br />

Porque continuo trabalhando. Mas fiz uma renovação absoluta! Hoje<br />

tenho priorida<strong>de</strong>s diferentes das que tive aos 20, 30, 40 anos. Antigas<br />

ansieda<strong>de</strong>s <strong>de</strong>sapareceram e <strong>de</strong>ram lugar a uma espécie <strong>de</strong> calma mesmo<br />

nos momentos mais turbulentos. Hoje como ontem e antes <strong>de</strong> ontem<br />

se afirma em mim cada vez mais a certeza que a minha gran<strong>de</strong> glória foi<br />

ter gerado e educado dois filhos maravilhosos, Mariane e Fernando, e<br />

adotado outros tantos, emocionalmente e profissionalmente.<br />

O sucesso pessoal e profissional que obtive até agora me bastam.<br />

Mas continuo na luta pela Educação.<br />

Minha peleja aguerrida envolve outros <strong>de</strong>sejos. Além <strong>de</strong> vida<br />

produtiva contínua, sem cobranças histéricas, sem ansieda<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong>snecessárias, me empenho cada vez mais na busca <strong>de</strong> crescimento<br />

interior, especialmente no que tange a ser mais “generosa” e viver em<br />

PAZ comigo mesma.<br />

Se no futuro eu for lembrada pelos que me conheceram e fizeram<br />

parte da minha vida pessoal e profissional como uma pessoa íntegra e<br />

<strong>de</strong>cente, ficarei extremamente sensibilizada e orgulhosa.<br />

Possui graduação em Pedagogia pela <strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>Estadual</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Londrina</strong> (1971), mestrado em Educação pela Pontifícia <strong>Universida<strong>de</strong></strong><br />

Católica do Rio <strong>de</strong> Janeiro (1979) e doutorado em Doutorado em<br />

Educação pela <strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> São Paulo (1989). Pós-doutorado em<br />

Psicologia da Educação pela PUC <strong>de</strong> São Paulo.<br />

Atualmente é professora associada aposentada da <strong>Universida<strong>de</strong></strong><br />

<strong>Estadual</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>. Tem experiência na área <strong>de</strong> Educação, com<br />

ênfase em Avaliação <strong>de</strong> Sistemas, Instituições, Planos e Programas<br />

Educacionais, atuando principalmente nos seguintes temas: avaliação,<br />

portfólio, avaliação formativa, classes especiais e formação <strong>de</strong><br />

professores.<br />

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131


Geraldo Carreira Polvora (in memorian)<br />

Nascido em 26/11/1921 - na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Cambará<br />

- PR. Quando adolescente, empregou-se como<br />

ajudante <strong>de</strong> cozinheiro na obra <strong>de</strong> construção<br />

da Ferrovia que vinha do Estado <strong>de</strong> São Paulo<br />

em direção a então promissora região do Norte<br />

do Paraná e a também constituída cida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Londrina</strong>.<br />

Naquela época era comum preparar refeições com<br />

carne <strong>de</strong> animais silvestres como: paca, cotia,<br />

veado, capivara, pois havia muita caça.<br />

Era uma época on<strong>de</strong> tudo estava por fazer: abrir ruas, formar<br />

bairros, enfim, sentia-se o enfervecer <strong>de</strong> uma cida<strong>de</strong> que brotava para<br />

o Brasil e para o mundo.<br />

O tempo passava, e a cida<strong>de</strong> crescia e Geraldo chegava aos 18<br />

anos indo prestar serviço militar na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Ponta Grossa.<br />

Foi soldado do exército por um ano, sendo inclusive, sido<br />

convocado para ir à guerra, o que não aconteceu. Possivelmente, a<br />

pedido <strong>de</strong> sua mãe, Adriana.<br />

Em Ponta Grossa conheceu Izaura, moça <strong>de</strong> Quatiguá, no norte<br />

do Paraná, com quem retornou para <strong>Londrina</strong>. Casaram-se, tiveram<br />

sete filhos, <strong>de</strong>zoito netos e vinte e dois bisnetos.<br />

Em fevereiro <strong>de</strong> 1972, começou a trabalhar na <strong>Universida<strong>de</strong></strong><br />

<strong>Estadual</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>. Aposentou-se em setembro <strong>de</strong> 1986, mas<br />

continuou a trabalhar pela UEL até completar setenta anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>,<br />

quando foi aposentado compulsoriamente por ida<strong>de</strong>.<br />

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132


Hélio Corrente<br />

Quem conhece o campus da <strong>Universida<strong>de</strong></strong><br />

<strong>Estadual</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>, com uma área <strong>de</strong><br />

2.355.731,81 m², sabe da distância entre alguns<br />

lugares. Quando se está no CECA e precisase<br />

ir até a reitoria, por exemplo, muita gente<br />

sente falta <strong>de</strong> um transporte. E para aten<strong>de</strong>r<br />

às inúmeras necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> uma Instituição<br />

do porte da UEL, é necessário que as trocas <strong>de</strong><br />

informações sejam rápidas não só no mundo<br />

virtual, mas também no mundo “físico”. Por<br />

isso, o transporte <strong>de</strong> documentos, livros, móveis, eletrônicos, pessoas,<br />

entre outras tantas coisas, dos centros para os setores administrativos<br />

ou vice-versa, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da rapi<strong>de</strong>z dos automóveis e, consequentemente,<br />

do bom trabalho dos motoristas da <strong>Universida<strong>de</strong></strong>. Quem nos conta<br />

um pouco mais <strong>de</strong>ste trabalho tão fundamental é o aposentado Hélio<br />

Corrente, motorista da UEL durante 26 anos.<br />

Natural <strong>de</strong> Parnaso, distrito <strong>de</strong> Tupã, no estado <strong>de</strong> São Paulo,<br />

Hélio chegou em <strong>Londrina</strong> com a família por volta <strong>de</strong> 1945. Seu pai,<br />

que trabalhava nas lavouras <strong>de</strong> café do interior paulista, ao mudar-se<br />

para o norte do Paraná, acabou fazendo o caminho inverso <strong>de</strong> muitos<br />

migrantes que chegavam ao estado atraídos pela riqueza do “ouro<br />

ver<strong>de</strong>”. O pai <strong>de</strong> Hélio, ao chegar em <strong>Londrina</strong>, foi trabalhar nas olarias<br />

da cida<strong>de</strong>, na fabricação <strong>de</strong> tijolos. E alguns <strong>de</strong>les, <strong>de</strong> acordo com o<br />

aposentado, ainda sustentam as pare<strong>de</strong>s do Cine Teatro Ouro Ver<strong>de</strong>,<br />

no centro da cida<strong>de</strong>.<br />

Nestes primeiros anos vivendo em <strong>Londrina</strong>, a família <strong>de</strong> Hélio<br />

morou nos arredores da cida<strong>de</strong>, que iniciava a expansão <strong>de</strong> sua zona<br />

urbana. As coisas estavam mudando, a família crescia e, assim, o pai<br />

<strong>de</strong> Hélio <strong>de</strong>ixou as olarias e voltou a trabalhar nas plantações <strong>de</strong> café,<br />

mudando-se para o distrito <strong>de</strong> Lerroville, on<strong>de</strong> trabalhou no sistema<br />

<strong>de</strong> porcentagem – quando o empregado cuida da lavoura e recebe<br />

parte <strong>de</strong>la como pagamento. Depois <strong>de</strong> alguns anos e muito esforço,<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

133


conseguiram comprar um sítio na região. Passado um tempo, foi a vez<br />

<strong>de</strong> Hélio adquirir sua própria chácara ali por perto, no ano <strong>de</strong> 1961.<br />

Primeiros quilômetros<br />

Foi nesta proprieda<strong>de</strong> que o aposentado apren<strong>de</strong>u a dirigir. A<br />

partir das instruções dos irmãos, que já possuíam automóveis, Hélio<br />

aproveitava o sossego das estradas rurais para praticar a direção. Após<br />

obter a habilitação, comprou seu primeiro carro, um “Volks 62” – ou<br />

seja, um Fusca, ano 1962 –, muito útil em uma região afastada dos<br />

gran<strong>de</strong>s centros. “Minha mulher, mais duas ou três vizinhas queriam<br />

apren<strong>de</strong>r corte e costura. E lá em Lerroville tinha corte e costura, aí eu<br />

colocava elas <strong>de</strong>ntro do volksinho e levava lá em Lerroville”, relembra.<br />

Nesta época, Hélio não imaginava que futuramente iria fazer da<br />

condução o seu ofício.<br />

Apesar da mobilida<strong>de</strong> oferecida pelo automóvel, o aposentado<br />

precisou voltar para a cida<strong>de</strong> quando os seus três filhos concluíram o<br />

ensino primário na escola rural. “Naquele tempo não tinha o ônibus<br />

que tem hoje, que passa pegando os alunos e leva tudo para Tamarana<br />

e <strong>de</strong>pois traz tudo <strong>de</strong> novo”, explica. Para que as crianças continuassem<br />

os estudos, Hélio e a esposa <strong>de</strong>cidiram voltar para a zona urbana e<br />

foram morar no Jardim do Sol, on<strong>de</strong> ainda vivem.<br />

Embora não tenha vendido o sítio, que mantém até hoje, o<br />

aposentado precisava <strong>de</strong> uma fonte <strong>de</strong> renda extra <strong>de</strong>pois que <strong>de</strong>ixou o<br />

campo. Assim, Hélio passou a procurar emprego e logo foi contratado<br />

para trabalhar em uma moveleira. Após ser dispensado <strong>de</strong>ste serviço,<br />

tentou trabalhar como cobrador <strong>de</strong> uma empresa <strong>de</strong> transporte coletivo<br />

da cida<strong>de</strong>, mas ainda durante a fase <strong>de</strong> testes foi indicado para uma<br />

vaga em uma fábrica <strong>de</strong> móveis <strong>de</strong> aço. Na proposta, o empregador<br />

disse-lhe: “Daqui uns dias vão comprar um caminhãozinho e eu<br />

passo ele pro senhor”, relembra o aposentado. E foi exatamente o<br />

que aconteceu. Depois <strong>de</strong> trabalhar um período <strong>de</strong>ntro da fábrica,<br />

Hélio passou a dirigir o Merce<strong>de</strong>s 608 adquirido pela empresa, com a<br />

responsabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fazer as entregas. Até que uma nova proposta fez<br />

com que a <strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>Estadual</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> entrasse em sua vida.<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

134


Vencendo distâncias<br />

Por meio <strong>de</strong> um vizinho, ele ficou sabendo que a UEL iria<br />

contratar motoristas e não <strong>de</strong>ixou a oportunida<strong>de</strong> passar. Foi até a<br />

Instituição, levou os documentos, fez os testes e foi aprovado. “A moça<br />

falou pra mim ‘Seu Hélio, o senhor está contratado 99,9%’”, diverte-se<br />

o aposentado. Era apenas o início <strong>de</strong> uma carreira não menos brilhante,<br />

em que nunca houve reclamações <strong>de</strong> ambos os lados – da UEL ou do<br />

motorista.<br />

Inicialmente trabalhando para a Prefeitura do Campus, o<br />

serviço consistia em aten<strong>de</strong>r o almoxarifado pela manhã, distribuindo<br />

os materiais pelos centros, e a marcenaria à tar<strong>de</strong>, que, segundo<br />

ele, era “buscar móveis quebrados e levar móveis que eles faziam,<br />

reformavam e <strong>de</strong>volviam <strong>de</strong> novo”, nos <strong>de</strong>partamentos espalhados pela<br />

<strong>Universida<strong>de</strong></strong>. Estas eram suas funções cotidianas, mas muitas vezes<br />

surgiam outros serviços, como buscar animais nas localida<strong>de</strong>s vizinhas<br />

para serem tratados pelo Hospital Veterinário ou transportar materiais<br />

e equipamentos durante os festivais <strong>de</strong> música e teatro, dos quais a<br />

UEL, por meio da Casa <strong>de</strong> Cultura, participa ativamente. Outra função<br />

muito importante dos motoristas da <strong>Universida<strong>de</strong></strong> era buscar as provas<br />

dos vestibulares – quando estas eram preparadas por uma instituição<br />

<strong>de</strong> São Paulo – e distribuí-las nos locais <strong>de</strong> aplicação.<br />

Já nos finais <strong>de</strong> semana, Hélio e os <strong>de</strong>mais motoristas<br />

transportavam professores e alunos para outras regiões. Eram<br />

estudantes <strong>de</strong> Geografia, Agronomia, Medicina Veterinária, Educação<br />

Física, que viajavam nos finais <strong>de</strong> semana, nos ônibus da <strong>Universida<strong>de</strong></strong>,<br />

para conhecerem diversas formações geológicas, plantações, doenças,<br />

ou para competirem em jogos universitários. Todas estas ativida<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong>pendiam dos motoristas da UEL. Realizando estas viagens, o<br />

aposentado se impressionou com o trabalho da Instituição. “A UEL é<br />

tão gran<strong>de</strong>, ela é tão bonita, que faz pesquisa <strong>de</strong> tudo! Do que você<br />

pensar eles fazem pesquisa lá <strong>de</strong>ntro”, comenta maravilhado.<br />

Mesmo estando satisfeito com o serviço da Prefeitura do Campus<br />

– “Era muito bom ali, eu gostava <strong>de</strong>mais, gostava <strong>de</strong>mais...” –, Hélio<br />

pediu transferência para trabalhar no Hospital <strong>de</strong> Clínicas (HC)<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

135


da <strong>Universida<strong>de</strong></strong>, on<strong>de</strong> dirigiu ambulâncias e furgões, que faziam o<br />

transporte <strong>de</strong> pacientes e roupas e prontuários, respectivamente. “O<br />

HC é uma extensão do HU [Hospital Universitário, também da UEL],<br />

então a gente tinha que levar roupa suja dali para o HU e eles lavavam<br />

e a gente buscava no outro dia. Esses Fiorinos [os furgões usados pela<br />

universida<strong>de</strong>] eram para isso. Os prontuários também, tinha que levar<br />

todo dia e buscar todo dia”, explica o aposentado. É importante <strong>de</strong>stacar<br />

que a distância entre o Hospital <strong>de</strong> Clínicas e o Hospital Universitário<br />

é <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> 10 km.<br />

Hora <strong>de</strong> estacionar<br />

Foram 26 anos vencendo estas distâncias, até que, enfim, chegou<br />

a aposentadoria. Ao completar 70 anos, Hélio precisou <strong>de</strong>ixar mais do<br />

que o emprego na <strong>Universida<strong>de</strong></strong>. O aposentado <strong>de</strong>ixou para trás sua<br />

segunda casa e sua segunda família. “Vinte e seis anos que eu trabalhei<br />

lá eu agra<strong>de</strong>ço a Deus até hoje. Eu <strong>de</strong>ixei uma amiza<strong>de</strong> tão gran<strong>de</strong> lá<br />

<strong>de</strong>ntro! Eu nunca tive problema mais sério, nunca tive intriga”, avalia.<br />

E como gran<strong>de</strong> parte dos aposentados, Hélio só tem elogios para a UEL.<br />

“Ninguém te aborrecia, se trabalhava direitinho não tinha problema<br />

nenhum. Era muito bom!”.<br />

Além da gran<strong>de</strong> varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> pesquisas realizadas pela<br />

Instituição, Hélio se encantou com a socialização <strong>de</strong>ntro do Restaurante<br />

Universitário, on<strong>de</strong> todo o campus se encontra na hora do almoço. “Ali<br />

no restaurante da UEL era muito gostoso. Uma comida boa... Vinha<br />

todo o pessoal ali para almoçar e a gente se encontrava lá, sentava nas<br />

mesas e batia aquele papo gostoso. Eu achei muito interessante aquilo<br />

ali, pra mim foi muito legal!”.<br />

Atualmente, o aposentado se <strong>de</strong>dica a família e ao seu sítio em<br />

Lerroville, que ele <strong>de</strong>fine como “uma área <strong>de</strong> lazer”. Da <strong>Universida<strong>de</strong></strong>,<br />

Hélio preserva boas amiza<strong>de</strong>s e lembranças e guarda, carinhosamente,<br />

o reconhecimento da UEL por seus 26 anos <strong>de</strong> trabalho, representado<br />

em uma homenagem prestada por colegas <strong>de</strong> trabalho. Na placa<br />

que Hélio exibe orgulhosamente se lê: “A Direção do Hospital<br />

Universitário e a Gerência do Ambulatório do Hospital <strong>de</strong> Clínicas<br />

agra<strong>de</strong>cem e reconhecem sua conduta exemplar, <strong>de</strong>stacando seu<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

136


senso <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>dicação e respeito aos colegas. Com<br />

votos <strong>de</strong> felicida<strong>de</strong> em sua vida profissional e familiar”.<br />

Rosane Mioto<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

137


Hélio Paula Vieira<br />

Religião e educação são assuntos<br />

que fascinavam Hélio Paula Vieira.<br />

O menino natural <strong>de</strong> Castro era<br />

muito comunicativo e tinha prazer<br />

em ouvir e aconselhar. Quem<br />

conta é Laudiceia Paula Vieira.<br />

Hoje ela é a memória do esposo<br />

que está <strong>de</strong>bilitado por uma<br />

doença. Os anos <strong>de</strong> vida conjunta<br />

lhe proporcionam este direito.<br />

Hélio morou em Castro até os<br />

11 anos. Ele estudava no Instituto Cristão <strong>de</strong> Castro. Depois morou<br />

com a família em Nova Dantzig, atual cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Cambé. E estudava<br />

em <strong>Londrina</strong>, no Colégio Vicente Rijo. Concluiu o ginásio e foi para<br />

Campinas. “Ele fez o curso <strong>de</strong> Teologia, por cinco anos. Depois voltou<br />

para o Paraná e pegou (para dirigir) uma igreja em Jaguapitã. Essa foi<br />

a primeira igreja que ele foi pastor”.<br />

Na volta ao Paraná, Laudiceia e Hélio já estavam casados. “Nos<br />

casamos no dia 28 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1959”. Em 1962, vieram para <strong>Londrina</strong>:<br />

“Eu morava na rua Borba Gato, on<strong>de</strong> hoje é o Zerão. Naquele tempo<br />

era do lado do Pito Aceso. Era uma favela, que tinha esse nome”.<br />

Alguns anos <strong>de</strong>pois, o casal foi morar próximo à avenida Ban<strong>de</strong>irantes.<br />

“Naquela época só tinha mato, não tinha o hospital. Fomos os primeiros<br />

a comprar data lá”, relembra.<br />

Logo que se mudou para <strong>Londrina</strong>, Hélio resolveu estudar. Fez<br />

História na Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Filosofia. “Ele foi colega <strong>de</strong> Álvaro Dias”,<br />

conta a esposa. Em seguida, Hélio teve a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ingressar na<br />

ESG - Escola Superior <strong>de</strong> Guerra. Ele foi aprovado em primeiro lugar e<br />

passou a ser pastor representante da Igreja Presbiteriana do Brasil na<br />

ESG. “Ele ficou um ano morando no Rio <strong>de</strong> Janeiro, estudando lá. Eles<br />

viajavam o Brasil inteiro conhecendo as capitais e as cida<strong>de</strong>s principais,<br />

naqueles aviões da FAB (Força Aérea Brasileira). Era uma turma<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

138


gran<strong>de</strong> e boa. Cada pessoa representava um item, <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>terminada<br />

instituição”.<br />

Assim que voltou do Rio <strong>de</strong> Janeiro, em 1977, Hélio teve outra<br />

oportunida<strong>de</strong> importante: um convite para lecionar na UEL a disciplina<br />

<strong>de</strong> Estudos dos Problemas Brasileiros (EPB). Hélio não recusou: “Ele<br />

sempre gostou muito da UEL. Os alunos eram bem comportados e<br />

gostavam da matéria. Apesar <strong>de</strong> ser uma época <strong>de</strong> ditadura, ele sempre<br />

dava a oportunida<strong>de</strong> para todos os alunos falarem. Ele sempre foi uma<br />

pessoa muito aberta”.<br />

A esposa se lembra da UEL e das dificulda<strong>de</strong>s do início. “Era<br />

longe, tinha aquele monte <strong>de</strong> árvore, era bonito, mas tinha muito<br />

mato”.<br />

Hélio também foi atuante e <strong>de</strong>dicado a sua religião. “Ele foi 14<br />

vezes presi<strong>de</strong>nte do Presbitério <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>. Tomou conta <strong>de</strong> igrejas,<br />

construiu doze templos”. E também foi um dos fundadores do curso<br />

<strong>de</strong> História em Mandaguari. “Ele trabalhou na Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Filosofia,<br />

Ciências e Medicina <strong>de</strong> Mandaguari”. Lecionou por 30 anos. “Fazia<br />

essa viagem <strong>de</strong> ida e volta três vezes por semana”.<br />

Hélio está aposentado <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1996. As muitas ativida<strong>de</strong>s que<br />

tinha acabaram se encerrando no mesmo período. Hoje, <strong>de</strong>vido a um<br />

problema <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, ele não se recorda mais <strong>de</strong>las.<br />

Léia Dias Sabóia<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

139


Henrique Alves Pereira Junior<br />

Os 81 anos <strong>de</strong> Henrique Alves Pereira<br />

são marcados por experiências bem<br />

diversificadas. A memória não falha.<br />

E ele relata com gran<strong>de</strong> riqueza <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>talhes a sua longa jornada. Henrique<br />

é mineiro, natural <strong>de</strong> Mirai. O pai era<br />

médico na cida<strong>de</strong>zinha. E boa parte da<br />

família também. “Eu pertenço a uma<br />

família <strong>de</strong> médicos”. Só por essa razão<br />

já fica fácil saber qual seria a profissão<br />

adotada por ele. Não bastasse toda esta<br />

influência, a mãe também contribuía:<br />

“Eu ouvia ela dizer que queria que todos<br />

os filhos homens fossem médicos”. E que assim seja, não sem antes<br />

duvidar: “Pensei em fazer Odontologia ou Química”.<br />

A dúvida não persistiu e, certo do que queria, Henrique partiu<br />

para o Rio <strong>de</strong> Janeiro para estudar Medicina. “Saí <strong>de</strong> Juiz <strong>de</strong> Fora e fui<br />

fazer vestibular no Rio, naquela época era a cida<strong>de</strong>-referência para os<br />

mineiros daquela região”. Foi aprovado no ano <strong>de</strong> 1948 na Faculda<strong>de</strong><br />

Nacional <strong>de</strong> Medicina. “Eu costumo dizer que se eu não fosse médico,<br />

eu seria o homem mais frustrado do mundo. Não me vejo fazendo outra<br />

coisa. Sinto prazer em ser médico”, conta, orgulhoso.<br />

Quando Henrique estudava Medicina as coisas eram bem<br />

diferentes: “Não existia residência médica. Antigamente, durante o seu<br />

próprio curso você fazia sua prática profissional. Eu saí da faculda<strong>de</strong><br />

sabendo tudo que eu sei: sabia operar, sabia fazer parto, pediatria. O<br />

que necessitava para o atendimento da população eu sabia fazer”.<br />

Henrique é contrário à tendência atual <strong>de</strong> especializar-se: “O<br />

gran<strong>de</strong> erro da Medicina é este. O médico bem-formado tem condições<br />

<strong>de</strong> resolver, pelo menos, 85% das necessida<strong>de</strong>s básicas do atendimento<br />

médico da população”. Para ele, no Brasil, acontece errado. “Estamos<br />

formando especialistas para não ter o médico geral, por isso temos<br />

esses problemas todos”.<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

140


Mas, apesar da critica, Henrique consi<strong>de</strong>ra fundamental a<br />

existência <strong>de</strong> especialistas. “O problema é que eles têm <strong>de</strong>ixado <strong>de</strong><br />

ser especialistas para aten<strong>de</strong>r os problemas gerais. Vão acumulando,<br />

você vê um monte <strong>de</strong> gente aqui no neurologista, sem precisar <strong>de</strong><br />

neurologista”.<br />

Enquanto Henrique estudava no Rio <strong>de</strong> Janeiro, a família veio<br />

para o interior do Paraná, em Ibiporã. E, assim que se formou, ele<br />

também <strong>de</strong>cidiu viver no estado paranaense. Henrique conta que<br />

em Ibiporã já tinha muitos médicos. Então, seguiu para o nortenovíssimo<br />

do estado. “Jussara concentrou todo este movimento do<br />

norte-novíssimo. E <strong>de</strong>pois começou a aparecer Cianorte, Terra Boa,<br />

Umuarama. E eu fiquei naquela região”.<br />

Foi na cida<strong>de</strong>zinha <strong>de</strong> Terra Boa, que Henrique tornou-se político.<br />

“Sempre fui homem <strong>de</strong> opinião política, talvez pela minha condição,<br />

ou pela minha profissão”. Terra Boa era formada, segundo Henrique,<br />

por mais <strong>de</strong> mil pequenas proprieda<strong>de</strong>s rurais. “Eu e o meu irmão<br />

trabalhávamos dia e noite para dar conta <strong>de</strong> aten<strong>de</strong>r toda a população”.<br />

Ser prefeito nunca tinha sido cogitado por Henrique. “Fizeram<br />

uma pressão muito gran<strong>de</strong> para eu ser político, estávamos passando<br />

por um momento <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> politização”. Henrique foi eleito em 1963,<br />

e seu mandato foi prorrogado até 1969. Ele brinca dizendo que <strong>de</strong>ve<br />

ter feito um bom trabalho, já que foi homenageado pela cida<strong>de</strong> com os<br />

títulos <strong>de</strong> cidadão honorário e benemérito. “Depois que eu fui prefeito,<br />

isso não só me alicerçou na profissão, como também expandiu minha<br />

visão <strong>de</strong> uma maneira extraordinária”, afirma.<br />

Depois que terminou o mandato, recebeu propostas para<br />

prosseguir na política. Mas, ele queria era exercer a Medicina. Surge<br />

então outra gran<strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong>: lecionar. “Estava no consultório,<br />

peguei o jornal e vi que a <strong>Universida<strong>de</strong></strong> estava se instalando em<br />

<strong>Londrina</strong>. Resolvi prestar concurso”. Passou em primeiro lugar, revela,<br />

mo<strong>de</strong>sto.<br />

Henrique também nunca havia pensado na possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

ser docente. “Nunca imaginei, eu queria ser só médico”. Vida atuante<br />

também na <strong>Universida<strong>de</strong></strong>: em 1982, foi coor<strong>de</strong>nador da Comissão<br />

<strong>de</strong> Reforma Curricular do Curso <strong>de</strong> Medicina (comissão constituída<br />

também por docentes da área médica; comissão pedagógica da<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

141


eforma formada pelo Prof. Tomasi, Prof. Dorival Perez e Profa. Vera<br />

Echenique); presi<strong>de</strong>nte da Comissão <strong>de</strong> Ética do Hospital Universitário<br />

(HU) por várias gestões; i<strong>de</strong>alizador e coautor do código <strong>de</strong> ética do<br />

estudante <strong>de</strong> Medicina; coor<strong>de</strong>nador e organizador das disciplinas <strong>de</strong><br />

Semiologia e Clínica Médica, por vários anos; e médico perito do HU.<br />

De 1970 até 1994, ano em que se aposentou, todos os médicos foram<br />

seus alunos.<br />

Henrique é orgulhoso quanto à profissão e pelo fato <strong>de</strong> ser médico<br />

<strong>de</strong> formação completa: clínica médica, cirurgia geral, obstetrícia e<br />

medicina legal. Relata que o Código <strong>de</strong> Ética do Estudante <strong>de</strong> Medicina<br />

da UEL é oficial e foi aprovado por uma Resolução <strong>de</strong> 09 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong><br />

1992. Aposentado há 14 anos, tem a agenda sempre cheia. E continua<br />

fazendo o que mais gosta: Medicina.<br />

Léia Dias Sabóia<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

142


Hi<strong>de</strong>o Nakayama<br />

“Meu sonho era ser hippie e conhecer o<br />

mundo. Fui covar<strong>de</strong> o suficiente para não<br />

realizar”. O professor Hi<strong>de</strong>o Nakayama,<br />

que gosta <strong>de</strong> discutir a economia do<br />

país e questões políticas, surpreen<strong>de</strong><br />

com a <strong>de</strong>claração. Professor <strong>de</strong> Ciências<br />

Contábeis, aposentado há <strong>de</strong>z anos, é<br />

assim: surpreen<strong>de</strong>nte. Ele conta que<br />

lecionou por 22 anos, mas que não se<br />

sente nada bem ao falar em público, e esse<br />

é ainda seu maior medo. É contraditório.<br />

Entretanto, ele tem um motivo: “Era um <strong>de</strong>safio pra mim, eu me<br />

<strong>de</strong>diquei ao máximo. Na realida<strong>de</strong>, era para me superar. Por isso, <strong>de</strong>i<br />

aula <strong>de</strong> 15 matérias diferentes. Apostei <strong>de</strong> todos os jeitos para tentar ser<br />

um bom professor”.<br />

Hi<strong>de</strong>o morou em São Paulo por cinco anos. Todavia, é<br />

paranaense, nascido em Rolândia. Com um ano <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> mudou-se<br />

com a família para São Paulo. Da experiência ele não guarda nenhuma<br />

recordação: “Eu era muito menino”. Já a infância vivida em <strong>Londrina</strong><br />

está bem presente na memória, lembra-se com exatidão das ruas on<strong>de</strong><br />

morou, do caminho que percorria para chegar à escola, dos amigos<br />

e das brinca<strong>de</strong>iras. As ruas, na cida<strong>de</strong> dos fins da década <strong>de</strong> 1940,<br />

não possuíam calçadas: “Era tudo barro. Calçada era só no centro da<br />

cida<strong>de</strong>, e ainda era <strong>de</strong> paralelepípedo. Não tinha esgoto. A água era<br />

meio encanada, só <strong>de</strong>pois fizeram tudo certo. Eu acompanhei a vida <strong>de</strong><br />

<strong>Londrina</strong>.”<br />

Com seis anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, Hi<strong>de</strong>o começou a estudar na escola<br />

Japonesa, campo da ACEL, a primeira escola nipônica <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>.<br />

Segundo ele, para chegar até lá era preciso atravessar um pasto. Na<br />

escola japonesa, Hi<strong>de</strong>o aprendia a língua e a cultura <strong>de</strong> seus ancestrais.<br />

Em 1951, entrou para o grupo escolar, o primário (1ª a 4ª), do Colégio<br />

Hugo Simas. “Meu pai tinha uma quitanda, nós levávamos frutas para<br />

a escola. Dividia com os colegas e, às vezes, até tentava comprar a<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

143


amiza<strong>de</strong> <strong>de</strong>les, acontecia isso”, relata, divertindo-se com os próprios<br />

pensamentos infantis. Depois <strong>de</strong> ser aprovado no exame <strong>de</strong> admissão,<br />

cursou no Vicente Rijo o ginásio (5ª a 8ª). A próxima etapa foi a escola<br />

técnica ou colegial (ensino médio), no Colégio Londrinense. Ali Hi<strong>de</strong>o<br />

começou a apren<strong>de</strong>r contabilida<strong>de</strong>. Na verda<strong>de</strong>, algumas coisas ele<br />

já vivenciava no escritório comercial, on<strong>de</strong> foi contratado, antes <strong>de</strong><br />

começar o curso técnico. Hi<strong>de</strong>o começou na função <strong>de</strong> “boyzinho”, e<br />

logo apren<strong>de</strong>u a fazer escrituração fiscal e escriturações contábeis.<br />

Por dois anos trabalhou no escritório. Depois, na Viação Garcia,<br />

on<strong>de</strong> ele afirma que realmente apren<strong>de</strong>u contabilida<strong>de</strong>. Aos 19 anos foi<br />

chefe <strong>de</strong> escritório do Armarinho Paulista. Em seguida, subgerente em<br />

uma cervejaria. Em 1964, quando já estava formado no curso técnico,<br />

foi contador <strong>de</strong> um gran<strong>de</strong> grupo, a segunda maior empresa do Paraná.<br />

Ainda trabalhou como auditor externo e interno.<br />

O professor conta com <strong>de</strong>talhes a função <strong>de</strong>sempenhada enquanto<br />

assessor e auditor interno do grupo Paulo Pimentel: “Fui contratado<br />

para assumir e receber a TV Coroados, em 1963. A experiência foi boa,<br />

eu nunca tinha visto uma televisão por <strong>de</strong>ntro.” Ele lamenta o término<br />

dos programas ao vivo. “A TV Coroados tinha, por exemplo, o palhaço<br />

Picolino. Para economizar, financeiramente, foram tirados do ar.”<br />

O espaço, Hi<strong>de</strong>o conta que foi ocupado com as fitas estrangeiras, os<br />

enlatados, no jargão jornalístico. Aliás, o campo do jornalismo é velho<br />

conhecido <strong>de</strong> Hi<strong>de</strong>o. Outra experiência importante foi a inauguração<br />

do jornal Panorama, <strong>de</strong> vida curta, apenas 10 meses, formado por um<br />

grupo <strong>de</strong> excelentes e renomados jornalistas. Segundo Hi<strong>de</strong>o, o jornal<br />

não resistiu às contas e por motivos financeiros faliu. “O prédio, on<strong>de</strong><br />

hoje fica o Banco do Brasil, na Tira<strong>de</strong>ntes, foi construído para abrigar<br />

as instalações do jornal”. Ele afirma que foi a primeira pessoa a abrir o<br />

jornal, na inauguração, e <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> pouco tempo teve a difícil tarefa <strong>de</strong><br />

fechar as portas.<br />

A experiência profissional <strong>de</strong> Hi<strong>de</strong>o é extensa. Atuou como<br />

contador em diferentes áreas. E a própria profissão lhe proporcionou<br />

ou o incentivou a aprofundar-se em outros meios: hotelaria, arquivos,<br />

rádios, televisão, jornal. Todas essas ativida<strong>de</strong>s, Hi<strong>de</strong>o conciliava com<br />

a carreira <strong>de</strong> professor na UEL. “Eu comecei a dar aula por acaso. Eu<br />

tinha um amigo que me pediu para que eu o substituísse, ele iria viajar.<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

144


Isso foi em 1973. Eu preparei a matéria e fui. Em 1976, entrei por<br />

concurso e fiquei até 1998”. Quando começou a lecionar em Contábeis,<br />

o curso era recém-inaugurado. Hi<strong>de</strong>o conta que trouxe mais <strong>de</strong> 20<br />

autores renomados para dar palestras na UEL e em <strong>Londrina</strong>. Também<br />

ajudou a implantar a especialização – conta, reforçando que não gosta<br />

<strong>de</strong> “aparecer”.<br />

Didático como é, Hi<strong>de</strong>o elenca os cursos que fez: técnico,<br />

Economia, Ciências Contábeis, especializações, mestrado. E surpreen<strong>de</strong><br />

mais uma vez: “Semestre passado terminei o curso <strong>de</strong> Direito (ICES)”.<br />

Já <strong>de</strong>u para perceber que Hi<strong>de</strong>o não vai parar tão cedo. Até hoje<br />

ele continua suas pesquisas. Estuda a inflação no país, há cinco anos.<br />

E a natureza também lhe <strong>de</strong>sperta interesse. Paralelamente, pesquisa<br />

sobre plantas medicinais. Diz que ainda não está se aposentando “<strong>de</strong><br />

vez”, apenas diminuindo o ritmo. “Eu tenho outras opções: <strong>de</strong> pesca,<br />

<strong>de</strong> passeio”. Mas, continua trabalhando no escritório particular. Agora,<br />

imagina se Hi<strong>de</strong>o Nakayama tivesse mesmo virado hippie?<br />

Léia Dias Sabóia<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

145


Da família <strong>Universida<strong>de</strong></strong><br />

Os 22 anos <strong>de</strong> Ines Buranello Vigna<strong>de</strong>lli foram marcados por<br />

amiza<strong>de</strong>s e aprendizado<br />

Dezoito anos, curso técnico em<br />

contabilida<strong>de</strong> comercial, e o terceiro<br />

emprego, concursado. Era 17 <strong>de</strong> setembro<br />

<strong>de</strong> 1973 quando Ines Buranello Vigna<strong>de</strong>lli<br />

começou a trabalhar na UEL no cargo <strong>de</strong><br />

escriturária-datilógrafa.<br />

Ficou ali até 1995. O nome e os cargos é que<br />

mudaram. Antes era a Divisão <strong>de</strong> Pessoal<br />

da CAG (Coor<strong>de</strong>nadoria <strong>de</strong> Administração<br />

Geral), <strong>de</strong>pois Diretoria <strong>de</strong> Pessoal,<br />

também da CAG. Ainda na década <strong>de</strong><br />

1970 a diretoria passou a ser a Coor<strong>de</strong>nadoria <strong>de</strong> Recursos Humanos,<br />

até poucos anos atrás. Agora é PRORH, Pró-Reitoria <strong>de</strong> Recursos<br />

Humanos.<br />

Ines conta, que no começo, as únicas situações <strong>de</strong>sagradáveis<br />

que aconteceram foi quando precisou dar a notícia <strong>de</strong> <strong>de</strong>missão a<br />

trabalhadores. Mas ela era apenas uma funcionária e sabe que, até<br />

quem recebia o aviso, entendia sua função <strong>de</strong> portadora.<br />

A partir <strong>de</strong> 1975, ela começou a trabalhar com legislação, época<br />

em que a <strong>Universida<strong>de</strong></strong> trabalhava com o INSS e a CLT (Consolidação<br />

das Leis <strong>de</strong> Trabalho). Teve que apren<strong>de</strong>r tudo isto e ainda lidar com a<br />

máquina <strong>de</strong> escrever manual, para o controle do fundo <strong>de</strong> garantia dos<br />

funcionários, por exemplo.<br />

Ela afirma que teve muitas oportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> crescer na profissão<br />

<strong>de</strong>ntro da UEL. Para passar nos concursos internos, ela lembra que<br />

dormia com a CLT no colo. Em 1979 foi chefe da Divisão <strong>de</strong> Registro e<br />

Legislação; em 1980, secretária executiva; e, três anos <strong>de</strong>pois, assessora<br />

técnica.<br />

Em 1984 ingressou na Divisão <strong>de</strong> Concurso <strong>de</strong> Docentes, outra<br />

função <strong>de</strong> que gostou muito porque, apesar <strong>de</strong> todo o trabalho para<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

146


preparar os editais, era bom aten<strong>de</strong>r as pessoas, os professores <strong>de</strong> fora<br />

ligando, perguntando da cida<strong>de</strong>. E Ines percebeu o quanto era bom<br />

trabalhar em uma empresa pública, porque, como ela exemplifica, “se<br />

você diz não a alguém, é porque tem uma regra que não permite, você<br />

tem uma base, e uma empresa pública é boa por isto”.<br />

Uma das coisas <strong>de</strong> que sente falta da <strong>Universida<strong>de</strong></strong> é o ambiente<br />

cheio <strong>de</strong> opinião. Ela diz que trabalhar na UEL abre a mente das pessoas<br />

e que todos só têm a ganhar convivendo com pessoas inteligentes.<br />

A funcionária é formada em Administração pela Faccar<br />

(Rolândia). Ela já trabalhava na <strong>Universida<strong>de</strong></strong> e cursou a faculda<strong>de</strong><br />

junto com o marido. Depois da aposentadoria chegou a ajudá-lo em<br />

sua empresa e ainda ajuda, mas só quando ele precisa.<br />

Ines se aposentou proporcionalmente na UEL em 1995. Ela<br />

lembra que os filhos eram adolescentes e que ela queria passar mais<br />

tempo com eles. Ela sente falta dos amigos que fez quando estava na<br />

<strong>Universida<strong>de</strong></strong>, pois eles, escolhidos, acabavam sendo mais do que uma<br />

família.<br />

Poliana Lisboa <strong>de</strong> Almeida<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

147


Ingracia <strong>de</strong> Oliveira<br />

Apesar <strong>de</strong> aposentada há mais <strong>de</strong> 10 anos,<br />

Ingracia <strong>de</strong> Oliveira lembra muita coisa<br />

<strong>de</strong> seu primeiro, único e bom trabalho.<br />

Um ano <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> o marido falecer,<br />

Ingracia começou a trabalhar no Hospital<br />

Universitário, que se localizava na rua<br />

Alagoas. “O HU inaugurou em agosto e eu<br />

entrei em outubro”, conta.<br />

Segundo a funcionária, naquela época, por<br />

ser um hospital-escola, era um lugar <strong>de</strong><br />

aprendizado. As profissões relacionadas<br />

com a área eram aprendidas no HU. Assim, Ingracia, que não conhecia<br />

a profissão, apren<strong>de</strong>u a ser lactária.<br />

O lactário é o local on<strong>de</strong> se produz leite para bebês e alimentos<br />

para os que se alimentam por sonda. Ela apren<strong>de</strong>u a fazer todos os<br />

tipos <strong>de</strong> leite: <strong>de</strong> carne, <strong>de</strong> soja... “Não tinha pó para fazer e você ficava<br />

sozinho ali <strong>de</strong>ntro, porque era tudo esterilizado, então era tudo da sua<br />

responsabilida<strong>de</strong>.”<br />

O HU era muito pequeno e Ingracia diz que a falta <strong>de</strong> pessoal<br />

qualificado levava à contratação <strong>de</strong> profissionais sem qualificação<br />

nenhuma, como ela. Mesmo assim, o companheirismo predominava,<br />

os chefes ensinavam os funcionários. “Foi muito bom”.<br />

A funcionária chegou a fazer o curso <strong>de</strong> Enfermagem na Santa<br />

Casa <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>, mas não quis abandonar o lactário, <strong>de</strong> que gostava<br />

tanto.<br />

Depois que o Hospital Universitário foi transferido para o antigo<br />

sanatório <strong>de</strong> tuberculosos, ela diz ter aumentado o serviço. Ingracia<br />

foi percebendo outras mudanças com o tempo. Antes, lembra, os<br />

estudantes internos <strong>de</strong> Medicina vinham perguntar como era feito<br />

o leite para passar orientações para os pacientes, sentavam com ela.<br />

“Acho que não tem mais este coleguismo, isto foi mudando conforme<br />

eu estava lá”.<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

148


Com o tempo, o serviço também foi se tornando cansativo. “Se<br />

eu tivesse estudado, teria ido para outros setores, mudava <strong>de</strong> serviço.<br />

Quando aposentei estava cansada”, lembra. Depois <strong>de</strong> 25 anos, pediu<br />

aposentadoria proporcional.<br />

E a aposentadoria também veio <strong>de</strong> um <strong>de</strong>sejo novo: o <strong>de</strong> cuidar<br />

do neto, que já havia nascido, e estar livre para cuidar da neta que viria<br />

<strong>de</strong>pois. O acordo foi feito com a filha única, que também trabalhava no<br />

HU. Ela fez Serviço Social na UEL e estágios no hospital.<br />

Apesar <strong>de</strong> gostar muito do trabalho que teve, nunca mais voltou,<br />

por achar que o HU não é um lugar para passeio. Aposentada, ela diz<br />

que a sua vida é ótima, porque faz o que quer e o que gosta.<br />

Poliana Lisboa <strong>de</strong> Almeida<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

149


Patchwork: é hora <strong>de</strong> sair da rotina<br />

Iraci Tutida e outras seis aposentadas da UEL se reúnem para<br />

trabalhar com os retalhos, relembrar os velhos tempos e firmar os<br />

laços <strong>de</strong> amiza<strong>de</strong><br />

Duas horas. Diva Merce<strong>de</strong>s Imperatriz<br />

foi a primeira a chegar. Agora ela e<br />

Marilena Uratani conversam, esperando<br />

pelas <strong>de</strong>mais. Não <strong>de</strong>mora muito e a<br />

campainha toca: é a professora e mais<br />

duas alunas. Aos poucos o grupo <strong>de</strong><br />

sete mulheres aposentadas, seis <strong>de</strong>las<br />

docentes da UEL, está completo. Antes<br />

<strong>de</strong> começar, elas exibem orgulhosas o<br />

resultado da aula anterior.<br />

“É que não dá tempo <strong>de</strong> terminar tudo aqui, aí elas levam para<br />

casa e dão o acabamento”, explica a professora. Na aula passada, elas<br />

apren<strong>de</strong>ram a confeccionar uma sacola, muito discreta, para trazer<br />

as compras do mercado. Quando não está em uso, ela é tão pequena<br />

que cabe na palma da mão. Mas, não se engane: quando aberta ela<br />

comporta uma quantida<strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rável <strong>de</strong> itens. Tudo para facilitar a<br />

vida, confessam.<br />

A professora do grupo é Iraci Tutida. Funcionária aposentada<br />

da <strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>Estadual</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>. Iraci fez parte da terceira<br />

turma <strong>de</strong> Enfermagem da UEL. Assim que se formou, ela foi trabalhar<br />

no ICL (Instituto <strong>de</strong> Câncer <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>) – antigo Hospital Antonio<br />

Pru<strong>de</strong>nte. “Eu era muito nova ainda. Tinha 23 anos”. Iraci conta que<br />

não era nada fácil conviver diariamente com tanto sofrimento, mesmo<br />

assim, trabalhou quase dois anos. No entanto, a experiência que<br />

adquiriu vivenciando essas situações foi <strong>de</strong> extrema importância para<br />

a sua vida profissional e pessoal. Ela revela que apren<strong>de</strong>u a conviver<br />

com pessoas <strong>de</strong> todas as classes sociais e <strong>de</strong> diferentes personalida<strong>de</strong>s.<br />

Para Iraci, o curso <strong>de</strong> Enfermagem faz que o estudante reflita<br />

muito sobre o valor da vida, pois está sempre em contato com situações<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

150


que o obrigam a isso. “Eu acho que os alunos <strong>de</strong> Enfermagem entram<br />

bem imaturos, mas <strong>de</strong>pois do terceiro ano eles já estão muito mais<br />

maduros do que alunos <strong>de</strong> outros cursos. Quando se formam são<br />

pessoas diferentes”, afirma. A segunda e última experiência profissional<br />

<strong>de</strong> Iraci foi trabalhar no Hospital Universitário. Em 1978, ela prestou<br />

concurso, em 2004, Iraci se aposentou.<br />

É aí começa outro capítulo importante. Assim que se aposentou,<br />

<strong>de</strong>cidiu procurar uma nova ocupação. Conheceu o patchwork e se<br />

apaixonou pelo artesanato, no início era só passatempo, hoje o hobby<br />

gera lucro – Iraci dá aulas <strong>de</strong> patchwork. Patchwork significa trabalho<br />

com retalhos, é uma técnica muito antiga que une tecidos <strong>de</strong> diferentes<br />

formas e combinações.<br />

A i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> formar um grupo <strong>de</strong> aposentadas e ensinar o patchwork<br />

surgiu durante um jantar, que reúne professores e funcionários<br />

aposentados do Departamento <strong>de</strong> Enfermagem. No início, eram<br />

apenas três: Marilena, Iraci e Nair Miyamoto Mussi. Aos poucos elas<br />

foram convidando as amigas, que gostaram da i<strong>de</strong>ia, e terminaram <strong>de</strong><br />

completar o grupo, que está junto há três anos. Laura Masako Obilcawa<br />

Kyosen é a caçula: “Faz um ano que participo”. Antes, se reuniam com<br />

mais frequência. Esse ano, as reuniões são quinzenais. No entanto,<br />

elas não ficam paradas. A professora Iraci sempre se encarrega <strong>de</strong><br />

passar uma tarefa. Elas também são criativas e produzem peças para<br />

presentear amigos ou para o uso próprio.<br />

“Na aula <strong>de</strong> hoje, nós vamos apren<strong>de</strong>r a confeccionar maçãs para<br />

enfeitar guardanapos”, diz Iraci, mostrando um exemplo do que elas<br />

vão produzir. Ela repassa a lista <strong>de</strong> materiais que vão ser utilizados<br />

e: “mãos à obra”! Pouco tempo <strong>de</strong>pois, a mesa fica toda coberta <strong>de</strong><br />

retalhos, tesouras, mol<strong>de</strong>s (para as maçãs), pano <strong>de</strong> prato. E entre<br />

conversas e risadas começam a aparecer os primeiros resultados.<br />

Para Laura, a reunião é sinônimo <strong>de</strong> integração entre as antigas<br />

colegas. “Não é por obrigação que estamos aqui. É pelo prazer. É sempre<br />

uma nova <strong>de</strong>scoberta, um momento <strong>de</strong> sair da rotina”. Enquanto<br />

produzem, conversam sobre absolutamente tudo. Relembram os<br />

velhos tempos, falam dos esposos, dos filhos, dos netos, <strong>de</strong> política, da<br />

profissão, da saú<strong>de</strong> e até <strong>de</strong> carros.<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

151


Depois <strong>de</strong> algumas horas produzindo: pausa para o lanche.<br />

Marilena, que é a anfitriã da vez, preparou uma mesa farta. Saciada a<br />

fome, elas <strong>de</strong>ci<strong>de</strong>m que nos próximos encontros não vão exagerar no<br />

lanche, todas estão preocupadas com a saú<strong>de</strong>. Terminado a merenda, é<br />

hora <strong>de</strong> retomar a ativida<strong>de</strong>.<br />

Logo, elas começam a exibir as produções. Surgem maçãs <strong>de</strong> todas<br />

as cores, ou melhor, <strong>de</strong> vários tipos <strong>de</strong> estampas: vermelhas, xadrez,<br />

ver<strong>de</strong>s, floridas. Iraci ajuda a finalizar o trabalho, ela é a mais orgulhosa<br />

<strong>de</strong> todas. Iraci confessa que fica muito satisfeita em compartilhar um<br />

pouco do seu conhecimento – ela não cobra para ensiná-las –, para ela,<br />

o que vale mais é o progresso e o carinho que recebe em troca <strong>de</strong> excolegas<br />

<strong>de</strong> trabalho e agora amigas fiéis.<br />

Léia Dias Sabóia<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

152


Por uma <strong>Universida<strong>de</strong></strong> melhor<br />

Formado em Odontologia na Faculda<strong>de</strong> <strong>Estadual</strong> <strong>de</strong> Odontologia<br />

<strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> Ivan Piza narra uma parte da evolução do Centro <strong>de</strong><br />

Ciências Biológicas da UEL<br />

No início era tudo poeira e barro... mas<br />

era muito bom. Assim Ivan Piza começou<br />

a contar sobre os anos que passou na<br />

<strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>Estadual</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>, como<br />

aluno e professor. Ele nasceu no bairro do<br />

Bexiga em São Paulo. “Aquele do Adoniran<br />

Barbosa”, cantarola. Não passou muito<br />

tempo na capital paulista; logo sua família<br />

mudou-se para Uraí, norte do Paraná.<br />

Para concluir os estudos, Ivan Piza foi para Curitiba. Voltou para<br />

cursar a Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Odontologia <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>, a terceira criada na<br />

cida<strong>de</strong>, em 1962. Newton Expedito <strong>de</strong> Moraes era o diretor do curso<br />

que só começou a funcionar em 1965 nos porões da Catedral e no<br />

Colégio Hugo Simas.<br />

Ivan Piza começou a ser monitor: ajudava os professores nos<br />

laboratórios e assim foi <strong>de</strong>senvolvendo laços com os coor<strong>de</strong>nadores da<br />

disciplinas. Segundo ele, para seguir como professor das disciplinas<br />

básicas você tem que optar entre o consultório ou a <strong>Universida<strong>de</strong></strong>,<br />

porque é difícil <strong>de</strong> conciliar os dois.<br />

Ele ainda tinha seis meses <strong>de</strong> curso pela frente quando o<br />

professor <strong>de</strong> Histologia <strong>de</strong>ixou a faculda<strong>de</strong>. Seu orientador achou<br />

que Ivan po<strong>de</strong>ria dar as aulas. “Eu era muito orgulhoso e fui. Acho<br />

que meu professor quis me testar, parece que <strong>de</strong>u certo.” Depois <strong>de</strong><br />

concluir a Odontologia, Ivan Piza, estava envolvido “até a raiz” com a<br />

<strong>Universida<strong>de</strong></strong>. Em 1968, o professor foi para São Paulo fazer doutorado<br />

na USP.<br />

Ivan lembra com sauda<strong>de</strong> do tempo em que todos os professores<br />

do Departamento <strong>de</strong> Histologia trabalhavam tempo integral e com<br />

<strong>de</strong>dicação exclusiva à <strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>Estadual</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>. “Vivíamos a<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

153


<strong>Universida<strong>de</strong></strong>, não tinha horário. Nenhum aluno podia falar que ficou<br />

sem aula <strong>de</strong> Histologia, se faltava professor outro <strong>de</strong>scia dar aula no<br />

lugar.”<br />

Histologia é o estudo dos tecidos que compõem o corpo,<br />

animal ou vegetal. O Departamento <strong>de</strong> Histologia da UEL é restrito à<br />

Histologia animal, usado nas áreas da saú<strong>de</strong> e biológica. Na época em<br />

que Piza esteve no Centro <strong>de</strong> Ciências Biológicas o <strong>de</strong>partamento tinha<br />

12 professores.<br />

Do apartamento que divi<strong>de</strong> com a mulher, a também professora<br />

<strong>de</strong> Histologia aposentada da UEL, Ana Maria, Ivan Piza fala do<br />

achatamento salarial dos professores e o reflexo na educação: “Nós<br />

comprávamos livros do nosso próprio bolso, porque podia. Chegou lá<br />

pelas tantas, a gente não podia mais. Tínhamos recursos próprios para<br />

produzir, para ensinar bem.”<br />

A Especialização em Histologia, <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong> do<br />

<strong>de</strong>partamento chegou a ser convertida em mestrado, mas durou quatro<br />

turmas. O professor fala que não foi possível superar tanta dificulda<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> uma vez, e que era preferível encerrar o curso a continuá-lo com<br />

uma qualida<strong>de</strong> ruim.<br />

Com a mudança da legislação perto do período em que Piza<br />

estaria para se aposentar, o professor teve que trabalhar mais cinco<br />

anos. Mas ele ressalta que suas críticas são em favor da Instituição. “A<br />

minha vida profissional foi muito boa”.<br />

Poliana Lisboa <strong>de</strong> Almeida<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

154


Zelando pelo CCE<br />

Jacira da Silva trabalhou no Centro <strong>de</strong> Ciências Exatas durante<br />

todos os anos em que esteve na <strong>Universida<strong>de</strong></strong><br />

Na hora <strong>de</strong> procurar um emprego que<br />

oferecesse estabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um cargo<br />

público para cuidar da filha, Jacira<br />

Pereira da Silva prestou concurso na<br />

UEL. Após ter trabalhado 15 anos como<br />

diarista para os mesmos patrões e até<br />

mudar-se para o Rio <strong>de</strong> Janeiro com<br />

eles, ela estava <strong>de</strong> volta a <strong>Londrina</strong> e<br />

queria um emprego melhor.<br />

Jacira começou a trabalhar no Centro<br />

<strong>de</strong> Ciências Exatas, em 1978, como<br />

servente. Quando saiu era zeladora do centro. Ela fazia café, limpava<br />

o prédio e os banheiros. Durante estes anos a funcionária esteve<br />

em contato com todos os <strong>de</strong>partamentos que compõem o Centro:<br />

Matemática, Física, Química e Geociências.<br />

Os cursos no CCE duram cerca <strong>de</strong> quatro anos. Jacira da Silva,<br />

que acompanhou muitas turmas entrando e <strong>de</strong>ixando a <strong>Universida<strong>de</strong></strong>,<br />

<strong>de</strong> vez em quando reconhece alguns ex-alunos na rua.<br />

O posto <strong>de</strong> funcionária e o fato <strong>de</strong> ser negra nunca foram motivos<br />

para que Jacira sofresse nenhum tipo <strong>de</strong> preconceito <strong>de</strong>ntro da UEL.<br />

Ela conta que preconceito mesmo só <strong>de</strong> fora da <strong>Universida<strong>de</strong></strong>, e por ser<br />

pobre.<br />

Uma das gran<strong>de</strong>s alegrias da funcionária foi ter a filha formada<br />

em Agronomia na UEL. Sua filha também fez mestrado em Agronomia<br />

e aguarda para entrar no doutorado. Jacira lembra que na sua época<br />

não podia estudar tanto, começou a cuidar <strong>de</strong> sua mãe e a trabalhar<br />

cedo. Por isto parou os estudos na 7ª série, mas gostaria <strong>de</strong> ter sido<br />

professora.<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

155


Uma vonta<strong>de</strong> que tem é <strong>de</strong> fazer comida, salgados ou marmita<br />

para ven<strong>de</strong>r. Além da cozinha e dos afazeres da casa, a funcionária<br />

ainda cuida da mãe, que mora em uma casa nos fundos da sua, e não<br />

po<strong>de</strong> se <strong>de</strong>dicar a estas ativida<strong>de</strong>s.<br />

Dois anos antes da aposentadoria Jacira fez um curso na<br />

<strong>Universida<strong>de</strong></strong> sobre a aposentadoria. Ela já fazia musculação na<br />

aca<strong>de</strong>mia do Centro <strong>de</strong> Educação Física e Esporte e continua para não<br />

ficar completamente parada. Já são cinco anos frequentando o CEFE.<br />

Em casa, ela pega o jornal e avisa: “eu já tenho 64 anos, então tenho<br />

que ler bastante, ativar a mente”.<br />

Poliana Lisboa <strong>de</strong> Almeida<br />

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156


Jayme Nalim Duarte Leal<br />

Jayme Nalim Duarte Leal foi um<br />

funcionário <strong>de</strong>dicado: “Dei meu sangue<br />

à <strong>Universida<strong>de</strong></strong>”. Não se arrepen<strong>de</strong>.<br />

Pelo contrário, as lembranças dos<br />

dias difíceis e das conquistas chegam<br />

a emocioná-lo. Jayme testemunhou<br />

o crescimento da <strong>Universida<strong>de</strong></strong>. “Em<br />

cada vestibular o número <strong>de</strong> alunos<br />

aumentava. Assim a UEL foi crescendo,<br />

crescendo assustadoramente. Hoje tem<br />

reconhecimento internacional”, afirma Jayme, que sempre acreditou<br />

no <strong>de</strong>senvolvimento da <strong>Universida<strong>de</strong></strong>.<br />

Conforme aumentava o número <strong>de</strong> inscritos no vestibular,<br />

aumentava o trabalho na CAE (Coor<strong>de</strong>nadoria <strong>de</strong> Assuntos <strong>de</strong><br />

Educação). Jayme era o chefe da divisão <strong>de</strong> programação acadêmica:<br />

“Era aquele sufoco: vestibular, matrícula, transferência interna,<br />

externa. Era trabalhoso. A primeira matrícula era fácil, difícil é<br />

quando a pessoa reprovava em alguma matéria. Aí tinha que montar<br />

um horário diferente. Tudo era feito no cartão, cada matéria tinha<br />

um cartão perfurado com todos os alunos que faziam aquela matéria.<br />

Agora, imagine mais <strong>de</strong> 20 cursos?”.<br />

O aumento no número <strong>de</strong> candidatos inscritos no vestibular fazia<br />

com que o número <strong>de</strong> provas que Jayme buscava em São Paulo, na<br />

Fundação Carlos Chagas, também aumentasse. “Depois que os alunos<br />

acabavam as provas, eu e o João Sperandio colocávamos no carro e<br />

íamos a São Paulo, na Fundação, levar as provas para a correção”,<br />

conta. O relatório com os nomes dos aprovados chegava tempos <strong>de</strong>pois.<br />

Naquela época, segundo Jayme, transportar as provas <strong>de</strong> carro<br />

não causava preocupações. Mas, havia imprevistos: “Uma vez nós fomos<br />

<strong>de</strong> caminhão, e estragou no meio do caminho. E nós não podíamos nem<br />

mexer nas caixas <strong>de</strong> prova. Então, nós contratamos outro caminhão e o<br />

nosso veio em cima”, revela, ressaltando que não houve atraso.<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

157


Não foi só na administração da CAE que Jayme atuou. Em<br />

parceria com a Pontifícia <strong>Universida<strong>de</strong></strong> Católica do Paraná (PUC-<br />

PR), a UEL passou a realizar o exame psicotécnico, para habilitação<br />

<strong>de</strong> novos motoristas. Jayme participou ativamente <strong>de</strong>ste processo. Do<br />

ano ele não se lembra exatamente, mas fica satisfeito porque sabe que<br />

a mudança só trouxe facilida<strong>de</strong>s.<br />

Facilida<strong>de</strong>, naquela época, era uma palavra que os funcionários<br />

da <strong>Universida<strong>de</strong></strong> pouco conheciam. Jayme diz que o acesso à UEL<br />

era muito complicado. A estrada <strong>de</strong> chão e as pedras danificavam os<br />

veículos. Contudo, não faltava vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> ajudar. Jayme se recorda<br />

<strong>de</strong> que no primeiro dia <strong>de</strong> aula no campus o pessoal ficou servindo<br />

<strong>de</strong> guarda <strong>de</strong> trânsito para orientar os alunos. “Até o reitor, que era<br />

o Ascêncio, estava <strong>de</strong> guarda <strong>de</strong> trânsito, indicando o lugar certo.<br />

Imagine no meio da noite, aquela poeira toda...”.<br />

Durante sua trajetória na <strong>Universida<strong>de</strong></strong>, Jayme <strong>de</strong>sempenhou<br />

diversas funções. Ele é formado em Educação Física, mas não exerceu<br />

a profissão. “Quando assumi a diretoria <strong>de</strong> programação acadêmica,<br />

um dos requisitos era curso superior”. Jayme foi o primeiro diretor<br />

<strong>de</strong> patrimônio. Foi coor<strong>de</strong>nador <strong>de</strong> extensão à comunida<strong>de</strong>. Foi o<br />

primeiro diretor administrativo do campus avançado no Ceará, no<br />

Projeto Rondon. Jayme também foi o primeiro diretor da APUEL.<br />

Foram muitas as ocupações, oficiais e não-oficiais. Segundo Jayme,<br />

naquela época as ativida<strong>de</strong>s não eram restritas apenas à função.<br />

Outro fato igualmente importante na trajetória <strong>de</strong> Jayme foi a<br />

criação da APUEL. A idéia <strong>de</strong> uma associação para funcionários surgiu<br />

das conversas entre Jayme, João Molinari, João Gilberto Martins e Raul<br />

Lazarine. “A UEL já tinha muitos funcionários, por que não fazer uma<br />

associação? No começo foi difícil, ninguém queria se associar”. Mas,<br />

aos poucos, o número <strong>de</strong> associados aumentou e a APUEL começou<br />

a crescer. “Eu lembro o dia que a gente estava concretando a piscina,<br />

tinha que ser feito tudo no mesmo dia. Nossa, quando acabamos nos<br />

abraçamos e choramos <strong>de</strong> felicida<strong>de</strong>”, conta o emocionado e orgulhoso<br />

Jayme. “A APUEL começou com a gente”.<br />

Quando Jayme voltou do Ceará, foi “emprestado” para a Secretaria<br />

<strong>de</strong> Educação em Curitiba. “Eu fui emprestado, mas com o salário que<br />

eu já ganhava aqui. A mudança eu paguei com o meu dinheiro. Cheguei<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

158


lá, paguei aluguel. E aqui eu tinha uma casa”. Jayme ficou emprestado<br />

para o Estado até se aposentar. Ainda mora em Curitiba e tem um cargo<br />

comissionado: é chefe <strong>de</strong> gabinete do diretor-presi<strong>de</strong>nte do Instituto<br />

<strong>de</strong> Previdência do Município.<br />

Léia Dias Sabóia<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

159


Joana <strong>de</strong> Souza Nogueira<br />

Paulista <strong>de</strong> Palmital, cida<strong>de</strong> que faz divisa<br />

com o norte do Paraná, Joana veio ainda<br />

pequena com a família para o Paraná, para<br />

a cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Itambaracá, a 419 quilômetros<br />

<strong>de</strong> Curitiba. Em <strong>Londrina</strong>, chegou aos 15<br />

anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, na década <strong>de</strong> 1960. Seus pais<br />

vieram procurar emprego na lavoura <strong>de</strong> café<br />

e ela mesma chegou a trabalhar na catação<br />

do conhecido “ouro ver<strong>de</strong>”, - que trouxe<br />

muita riqueza para a região na época – as<br />

máquinas que selecionavam os frutos para<br />

serem industrializados.<br />

Depois trabalhou como doméstica alguns anos, sem registro. O<br />

último emprego foi pela Indústria <strong>de</strong> Cerâmica Florença. Ela trabalhava<br />

na casa do patrão em Curitiba, o dono da empresa, pela qual possuía<br />

o registro em carteira. Ficou lá durante seis anos e quando voltou já<br />

começou na <strong>Universida<strong>de</strong></strong>. “O Doutor Marco Antônio Fiori era o Reitor<br />

da UEL. E por coincidência ele era cunhado da minha patroa. Naquele<br />

tempo não tinha concurso, era por indicação. Aí ela conversou com ele<br />

e conseguiu a vaga para mim na lavan<strong>de</strong>ria do HU. Comecei no dia 08<br />

<strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1985 e fiquei até agosto do ano passado (2008)”, lembra.<br />

Quando chegou, a lavan<strong>de</strong>ria do Hospital Universitário era bem<br />

diferente, como ela mesma relembra: “Era muito pequeno. Depois teve<br />

a reforma e aumentou o espaço. No começo as roupas ainda secavam<br />

lá fora, no sol. Eu cheguei a levar roupa para o varal. A gente estendia<br />

<strong>de</strong>pois levava para passar na calandra”. E o que é calandra? “É uma<br />

máquina para passar lençol. São quatro rolos enormes, a temperatura<br />

chega a 100ºC. Na última em que eu trabalhei a roupa podia ir direto da<br />

centrífuga para a calandra, sem secar. Duas pessoas colocam o lençol<br />

molhado <strong>de</strong> um lado e ele sai sequinho do outro”, explica.<br />

No início da atual gestão do governo estadual, a lavan<strong>de</strong>ria<br />

ganhou uma calandra nova, mais mo<strong>de</strong>rna. Mas Joana não chegou a<br />

vê-la em funcionamento. “Chegou a calandra nova, porque a antiga<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

160


quebrou. Mas nunca funcionou. Quando saí, ainda estava lá <strong>de</strong>sativada”,<br />

lamenta. Pela falta do equipamento as roupas não são mais passadas,<br />

saem direto do secador, que atinge 90ºC <strong>de</strong> temperatura, para a dobra.<br />

Apesar <strong>de</strong> trabalhar numa lavan<strong>de</strong>ria, Joana nunca lavou roupas.<br />

O setor em que passou mais tempo foi o <strong>de</strong> pacotes para o centro<br />

cirúrgico. Seu serviço começava após as lavagens, nos processos para<br />

secar, passar e dobrar. Um trabalho minucioso do qual Joana se recorda<br />

perfeitamente: “A gente tem a técnica <strong>de</strong> dobrar, não é <strong>de</strong> qualquer<br />

jeito não. Tem que ser certinho por causa da hora <strong>de</strong> abrir o pacote.<br />

Tem a dobrada simples, a dobrada dupla. E tem a quantida<strong>de</strong> certa<br />

para colocar em cada pacote. Se for errado eles reclamam e mandam<br />

<strong>de</strong> volta para quem fez o pacote”, afirma.<br />

E não faltou trabalho. Joana atuou em vários horários diferentes.<br />

Na época em que se aposentou, exercia uma carga horária <strong>de</strong> oito horas<br />

diárias, que começava às sete da manhã e terminava só às 16 horas,<br />

com folga aos sábados e domingos. Os pedidos <strong>de</strong> pacote chegavam<br />

em gran<strong>de</strong> quantida<strong>de</strong>. Uma lista pela manhã e outra pela tar<strong>de</strong>. “Era<br />

muito corrido. Às vezes faltava material e eles reclamavam com a gente,<br />

achavam que a culpa era nossa. Outras vezes tinha que fazer hora extra<br />

para dar conta. Ainda mais porque reduziu o pessoal!”, justifica.<br />

Além <strong>de</strong> trabalhar, Joana também passou a experiência adquirida<br />

para os novos companheiros que chegaram. “Eu ensinei... prestava<br />

atenção, porque às vezes a pessoa apren<strong>de</strong>, mas <strong>de</strong>pois fica distraída<br />

e erra!”. Caprichosa no seu trabalho, a aposentada que hoje leva uma<br />

vida mais tranquila no Jardim das Palmeiras, zona norte <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>,<br />

era exigente: “Eu falava: ‘ó, não é assim...’ pra ajudar porque não podia<br />

<strong>de</strong>ixar errar!”, lembra.<br />

Após tantos anos <strong>de</strong> trabalho, Joana não achou tão ruim a i<strong>de</strong>ia<br />

<strong>de</strong> se aposentar. “Ah foi bom... eu estava muito cansada! Mas <strong>de</strong>pois<br />

que aposentei... eu acho que queria ter ficado mais um pouco. Eu sinto<br />

muita falta!”, comenta entre risos. Para matar a sauda<strong>de</strong>, <strong>de</strong> vez em<br />

quando Joana retorna à lavan<strong>de</strong>ria do hospital. Durante os passeios<br />

revê os amigos que cultivou: “Dentro da lavan<strong>de</strong>ria é uma família!<br />

A gente ‘morava’ mais no trabalho do que em casa... Até hoje tenho<br />

contato com elas. Telefono sempre pra elas!”, revela.<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

161


A UEL agra<strong>de</strong>ce tamanha <strong>de</strong>dicação, Joana, mas agora é hora<br />

<strong>de</strong> aproveitar a “boa ida<strong>de</strong>” e o merecido <strong>de</strong>scanso para curtir a vida.<br />

Além das amiza<strong>de</strong>s e do <strong>de</strong>scanso, Joana também encontrou outra<br />

forma <strong>de</strong> usar o tempo livre: duas vezes por semana frequenta aulas <strong>de</strong><br />

hidroginástica, no bairro on<strong>de</strong> mora. A princípio, a ativida<strong>de</strong> foi uma<br />

indicação médica, mas hoje ela confessa que gosta: “É um horário que<br />

eu tenho para mim, né!”.<br />

Janaína Castro<br />

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162


Os caminhos <strong>de</strong> Joana<br />

Joana Sampar passou a juventu<strong>de</strong> nos cafezais que <strong>de</strong>ram<br />

lugar ao campus, on<strong>de</strong> também trabalhou até a aposentadoria<br />

Filha <strong>de</strong> trabalhadores rurais, Joana Sampar,<br />

nascida em Araguaçu (SP), veio ao Paraná<br />

ainda criança. No norte do estado, ela conta<br />

que, sempre lidando com plantações – café,<br />

arroz, milho, feijão -, morou nas cida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

Uraí, Ban<strong>de</strong>irantes e Sertaneja antes <strong>de</strong> chegar<br />

em <strong>Londrina</strong>.<br />

Aqui, Joana acredita estar na faixa dos 20<br />

anos quando a família começou a trabalhar<br />

na Fazenda Santana, on<strong>de</strong> hoje está localizado<br />

o campus da <strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>Estadual</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>. Do lugar, ela tem<br />

muitas recordações boas na memória.<br />

Os colonos moravam nas proximida<strong>de</strong>s e as festas – católicas em<br />

sua maioria – eram animadas. Aos domingos, além <strong>de</strong> ir à missa na<br />

catedral no centro da cida<strong>de</strong>, o campo para os jogos <strong>de</strong> futebol era um<br />

espaço <strong>de</strong> lazer.<br />

Joana trabalhava na fazenda com os pais e mais quatro irmãos.<br />

Todos acordavam bem cedo e carpiam café “para <strong>de</strong>ixar a terra limpa”,<br />

explica. A vida era difícil, mas ela lembra que tinham tudo o que<br />

precisavam com fartura.<br />

Nesta época, o ônibus da cida<strong>de</strong> só ia até a esquina da avenida<br />

Higienópolis com a rua Humaitá, “na farmácia do Seo Toninho”,<br />

recorda Joana. Dali até o perobal, só seguindo à pé. Enfrentando muita<br />

poeira e barro nos dias <strong>de</strong> chuva.<br />

Quando a Fazenda Santana foi <strong>de</strong>sapropriada para a criação da<br />

UEL, Joana e a família, mais uma vez, mudaram <strong>de</strong> cida<strong>de</strong>. Trabalharam<br />

em Apucarana, mas acabaram voltando para <strong>Londrina</strong>, on<strong>de</strong> moraram<br />

no Conjunto Avelino Vieira e mais tar<strong>de</strong> no Novo Ban<strong>de</strong>irantes, ainda<br />

pouco povoado.<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

163


Depois <strong>de</strong> trabalhar alguns anos como diarista, um primo <strong>de</strong><br />

Joana a indicou para uma vaga como zeladora na <strong>Universida<strong>de</strong></strong>. E,<br />

em 1977, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> ter vivido na fazenda <strong>de</strong> café, como muitos outros,<br />

ela retornava para fazer exames físicos no Núcleo <strong>de</strong> Bem-Estar à<br />

Comunida<strong>de</strong> (antigo Nubec) do campus.<br />

Acabados os exames, avisaram à Joana que ela estava contratada<br />

e que po<strong>de</strong>ria começar naquele instante. Mas, sem imaginar que a<br />

contratação po<strong>de</strong>ria ser imediata, nem almoço ela tinha levado. Então,<br />

outras zeladoras que Joana conhecia da época da Fazenda Santana<br />

acabaram repartindo suas refeições com a nova colega.<br />

O começo na UEL foi difícil para a funcionária. No Biotério<br />

Central do CCB, ela tinha que lavar as toalhas veterinárias. Joana<br />

lembra que a veterana no serviço a ajudou muito, mas acredita que era<br />

para ficar livre do afazer. Com o tempo, Joana começou a trabalhar em<br />

outros setores do centro, limpando o chão, os corredores inteiros e,<br />

eventualmente, substituindo algum funcionário que faltava.<br />

Do Centro <strong>de</strong> Ciências Biológicas, a funcionária se lembra<br />

especialmente das colegas e amigas: Dona Sebastiana, Maria Pontes,<br />

Maria Erça, Maria Bernardo, Maria Meire e Maria Campos.<br />

Durante a maioria dos 20 anos em que esteve trabalhando na<br />

UEL, a funcionária continuou trabalhando como doméstica. Inclusive<br />

<strong>de</strong>pois da aposentadoria em 1997.<br />

Joana, que vive sozinha, não abre mão <strong>de</strong> algumas ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

lazer para preencher seu tempo. Ela participa <strong>de</strong> um grupo <strong>de</strong> terceira<br />

ida<strong>de</strong> que se reúne uma vez na semana para dançar forró e dos diversos<br />

tipos <strong>de</strong> bordado “só não sei o ponto-cruz”, avisa.<br />

Poliana Lisboa <strong>de</strong> Almeida<br />

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164


Datas, certificados, empregos<br />

O professor <strong>de</strong> Ciências Contábeis Joaquim Scarpin trabalhou em<br />

faculda<strong>de</strong>s particulares, foi funcionário da prefeitura <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> e<br />

tem o seu próprio escritório há 41 anos<br />

Entre o barulho da impressora matricial,<br />

as folhas ligadas umas às outras, com<br />

aqueles furinhos na borda <strong>de</strong>stacável,<br />

vão se acumulando embaixo da primeira<br />

mesa no escritório <strong>de</strong> contabilida<strong>de</strong>.<br />

Homens e mulheres trabalhando,<br />

Joaquim Scarpin está para chegar.<br />

Em 1966, ele conclui o curso técnico em<br />

contabilida<strong>de</strong> no Colégio Comercial e<br />

<strong>Estadual</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>. Na época, lembra<br />

Scarpin, ele optou pelo curso que substituía o ensino médio e abriu o<br />

escritório assim que pegou o certificado.<br />

Joaquim Scarpin apesar <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r ter o seu próprio escritório<br />

com o diploma técnico, só podia fazer pequenas contabilida<strong>de</strong>s. Deste<br />

modo, em 1975 ele resolveu cursar Ciências Contábeis na <strong>Universida<strong>de</strong></strong><br />

<strong>Estadual</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>, assim como muitos outros contadores.<br />

Ele conta que até o meio do seu curso, o Centro <strong>de</strong> Estudos Sociais<br />

Aplicados (CESA) funcionava no colégio Londrinense, on<strong>de</strong> hoje é a<br />

Unifil. Algumas aulas também eram dadas no Colégio Hugo Simas.<br />

Quando o Centro <strong>de</strong> Estudos foi para o campus, o asfalto só chegava<br />

até a avenida Maringá, <strong>de</strong>pois era estrada <strong>de</strong> terra.<br />

Mesmo com a falta <strong>de</strong> asfalto nas ruas externas e internas, as<br />

poucas salas <strong>de</strong> aula para os muitos alunos e outros eventuais <strong>de</strong>feitos,<br />

quando questionado sobre o que lembra <strong>de</strong> sua época <strong>de</strong> estudante na<br />

<strong>Universida<strong>de</strong></strong> ele revela, “eu lembro <strong>de</strong> tudo, tudo era bom”.<br />

Quando entrou na UEL, Scarpin já era casado e tinha filhos.<br />

Maria Aparecida Scarpin, sua mulher, o ajudava <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o começo no<br />

escritório, quando ainda era técnico. Ela formou-se em Psicologia,<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

165


mas resolveu estudar contabilida<strong>de</strong> também. E foi assim que Scarpin,<br />

professor na <strong>Universida<strong>de</strong></strong> a partir <strong>de</strong> 1980, <strong>de</strong>u aula a sua esposa.<br />

Dois <strong>de</strong> seus três filhos também seguiram a carreira. Maria<br />

Aparecida tornou-se professora da UEL também e hoje é chefe do<br />

Departamento <strong>de</strong> Ciências Contábeis.<br />

Enquanto Joaquim Scarpin contava sobre a sua carreira<br />

profissional, foram algumas as vezes que precisou retirar a pasta <strong>de</strong><br />

plástico do armário com os certificados e diplomas para conferir as<br />

datas. Ele <strong>de</strong>ixou claro que não conseguia recordar todas as datas sem<br />

aquele recurso. E que “catatau” <strong>de</strong> certificados.<br />

Entre eles o da especialização nas Faculda<strong>de</strong>s Integradas <strong>de</strong><br />

Marília, <strong>de</strong> 1983-1984. O professor comenta que antes não eram<br />

muitos os professores que faziam mestrado ou doutorado. Ele optou<br />

pela especialização.<br />

Além <strong>de</strong> professor na UEL por 17 anos, <strong>de</strong> 1980 até 1997, quando<br />

se aposentou, Scarpin trabalhou em outras faculda<strong>de</strong>s. Na Faccar, <strong>de</strong><br />

Rolândia, e na Unopar, on<strong>de</strong> criou e coor<strong>de</strong>nou o curso <strong>de</strong> Ciências<br />

Contábeis <strong>de</strong> 1994 a 2002. O esforço, ele diz, era para melhorar o<br />

salário.<br />

O professor foi funcionário da prefeitura <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> por 28 anos<br />

e é aposentado também como funcionário municipal. Na gestão do<br />

prefeito Wilson Moreira (1983-1988), Joaquim Scarpin foi Secretário<br />

<strong>de</strong> Auditoria.<br />

Entre tantas ativida<strong>de</strong>s já executadas, em um edifício comercial<br />

no centro da cida<strong>de</strong>, a sala do contador fica no fundo, em um andar<br />

médio. Porta à esquerda, meia pare<strong>de</strong> <strong>de</strong> vidro. Embaixo do vidro da<br />

mesa fotos da família entre fotos <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> ainda em preto e branco.<br />

Nesta sala Joaquim conta <strong>de</strong> seu começo na contabilida<strong>de</strong> e que mesmo<br />

<strong>de</strong>pois <strong>de</strong> duas aposentadorias continua: o escritório, agora com 41<br />

anos.<br />

Poliana Lisboa <strong>de</strong> Almeida<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

166


Professor por vocação<br />

João Antônio Leite Ramos dá aulas <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o primeiro ano do curso<br />

<strong>de</strong> Letras e não pensa duas vezes antes <strong>de</strong> afirmar que lecionar é o seu<br />

maior prazer<br />

O paulista João Antônio Leite Ramos veio<br />

para o norte do Paraná com a família em<br />

1952, com apenas dois anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>.<br />

Passou os primeiros anos na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Sertaneja – a pouco mais <strong>de</strong> 80 km <strong>de</strong><br />

<strong>Londrina</strong> – on<strong>de</strong> seus pais ainda moram.<br />

Em 1958 foi para Assis, interior <strong>de</strong> São<br />

Paulo, cida<strong>de</strong> em que estudou até concluir<br />

o curso clássico (atual ensino médio).<br />

No ano <strong>de</strong> 1967 ingressou no Curso <strong>de</strong><br />

Letras da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Filosofia (FAFE) <strong>de</strong> Cornélio Procópio. “Já no<br />

primeiro ano eu comecei a dar aulas numa escola do estado, porque<br />

havia necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> professores. Quem entrava na faculda<strong>de</strong> já estava<br />

à frente dos outros professores que só o tinham o 2º grau (ensino<br />

médio) e cursos <strong>de</strong> capacitação”, explica. Mas não foi um começo fácil.<br />

O calouro <strong>de</strong> Letras ainda não podia lecionar nas disciplinas <strong>de</strong> sua<br />

área. Começou ministrando aulas <strong>de</strong> geografia, ciências, educação<br />

física e matemática. “Não dava para pegar língua portuguesa e o inglês,<br />

porque os outros professores escolhiam primeiro e eu pegava só as<br />

sobras, que eram das áreas que não tinham curso superior na cida<strong>de</strong>”,<br />

lembra.<br />

O <strong>de</strong>safio tornou-se mais simples em virtu<strong>de</strong> da afinida<strong>de</strong> que<br />

João tinha com a área <strong>de</strong> exatas. “Eu gosto <strong>de</strong> Matemática. Tanto que<br />

dou aulas particulares até hoje... no começo eu queria fazer faculda<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> Matemática, só não fiz porque não tinha aqui perto”, esclarece.<br />

Apesar disso, o apreço pelas Letras não era menor: “Eu tinha uma<br />

base boa <strong>de</strong> línguas do meu curso clássico (ensino médio), estu<strong>de</strong>i<br />

português, francês, inglês, italiano, grego e latim. Eu gostava muito,<br />

por isso escolhi Letras”, afirma.<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

167


Após concluir a graduação, o professor assumiu as disciplinas <strong>de</strong><br />

português e inglês na mesma escola em que já trabalhava e permaneceu<br />

lá por mais onze anos. No ano <strong>de</strong> 1974, fez sua primeira pós-graduação:<br />

uma especialização em língua latina na Unesp em Assis.<br />

Em 1983, novamente voltou ao norte pioneiro paranaense quando<br />

passou em um concurso público para o Banco do Brasil. Foi para a<br />

cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Santa Mariana – aproximadamente 80 km <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>.<br />

Com a nova função, não teve jeito: precisou <strong>de</strong>ixar a escola em que<br />

trabalhava. No banco trabalhou como escriturário e fiscal do setor <strong>de</strong><br />

operações até 1995.<br />

O trabalho no banco tinha remuneração mais atrativa, porém a<br />

sauda<strong>de</strong> das salas <strong>de</strong> aula fez João assumir uma jornada dupla a partir<br />

<strong>de</strong> 1986. “Recebi um convite <strong>de</strong> um antigo professor meu, para dar<br />

aulas <strong>de</strong> latim na UEL, on<strong>de</strong> foi lotado no Departamento <strong>de</strong> Letras<br />

Vernáculas e Clássicas. Foi a primeira oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> trabalhar<br />

como professor efetivo em uma universida<strong>de</strong>. Aceitei, mas não <strong>de</strong>ixei<br />

o trabalho no banco. Foram quatro anos <strong>de</strong> viagens <strong>de</strong> Santa Mariana<br />

para <strong>Londrina</strong>. Eu trabalhava no banco <strong>de</strong> dia e a noite eu vinha para<br />

cá. Chegava em casa perto da meia-noite, era cansativo, mas eu sempre<br />

gostei <strong>de</strong> dar aula, para mim é algo prazeroso”, garante. O sentido das<br />

viagens foi invertido em 1990, quando João veio morar em <strong>Londrina</strong><br />

com a família.<br />

O cansaço e <strong>de</strong>sgaste das viagens levaram o professor a abandonar<br />

o emprego no banco em 1995 e a continuar somente com o trabalho na<br />

UEL. “Nos anos que eu fiquei só no banco, senti muita falta da escola,<br />

tanto que voltei correndo quando me chamaram. Inclusive no banco eu<br />

falava assim, ‘aqui eu faço o meu serviço o melhor que eu posso... mas<br />

eu não gosto’”, revela.<br />

Logo no ano seguinte, João retomou sua pós-graduação.<br />

Começou o mestrado também na área <strong>de</strong> língua latina, com o mesmo<br />

orientador da sua especialização na Unesp <strong>de</strong> Assis. E, em seguida, fez<br />

o doutorado, dando continuida<strong>de</strong> aos estudos <strong>de</strong> latim. O professor<br />

conta que esta última etapa foi feita sem bolsa nem licença. “Quando<br />

comecei o doutorado eu já tinha tempo para aposentar... logo <strong>de</strong>pois<br />

me aposentei. Então eu fiz na raça, dando aula e tudo. Só tinha direito<br />

a um dia para viajar”, comenta.<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

168


Em 2004, João aposentou-se. Mas não por muito tempo. O<br />

professor não chegou a ficar nem um mês parado. “Eu peguei algumas<br />

aulas particulares e recebi uma proposta do coor<strong>de</strong>nador do curso <strong>de</strong><br />

Letras da Faccar, em Rolândia. Eles estavam precisando <strong>de</strong> professores<br />

e fui dar aulas lá. Viajava duas noites por semana. Fiquei o resto <strong>de</strong><br />

2004 e todo o ano <strong>de</strong> 2005. Aí me dispensaram”, lembra. Mas no dia<br />

seguinte, João foi contratado pela Unopar para ministrar aulas no<br />

programa <strong>de</strong> ensino a distância da <strong>Universida<strong>de</strong></strong>. “Eu aceitei porque<br />

era uma experiência nova para mim, dar aula para a câmera, era uma<br />

coisa diferente, e também era aqui na cida<strong>de</strong>”, afirma.<br />

João trabalhou na Unopar até 2007, quando foi convidado para<br />

retornar à UEL. “A Esther [Gomes <strong>de</strong> Oliveira] coor<strong>de</strong>nadora <strong>de</strong> Letras<br />

na época, me chamou porque precisavam <strong>de</strong> um professor <strong>de</strong> latim e<br />

ninguém passava no teste. Como os alunos corriam o risco <strong>de</strong> per<strong>de</strong>r o<br />

ano eu resolvi voltar e continuo até hoje. Vou parar <strong>de</strong> vez no fim <strong>de</strong>ste<br />

ano”, conta.<br />

Dos momentos que passou no seu lugar preferido, à frente<br />

dos alunos, João guarda lembranças especiais e verda<strong>de</strong>iros amigos.<br />

Os alunos o solicitavam inclusive para pedir conselhos pessoais.<br />

“Eu tive também esse papel <strong>de</strong> orientador, amigo... E sempre tive o<br />

reconhecimento e carinho dos alunos. Até hoje eles me cumprimentam,<br />

conversam, abraçam”. Os reencontros com ex-alunos são sempre<br />

carregados <strong>de</strong> emoção, como ele mesmo explica com os olhos brilhando:<br />

“Uma vez encontrei um ex-aluno meu, numa padaria com a mulher e<br />

os dois filhos. Hoje ele é <strong>de</strong>ntista. E neste dia o filho <strong>de</strong>le me disse que<br />

se chamava João Antônio. Eu fiquei olhando para ele, e ele me disse:<br />

‘É por causa do senhor mesmo. O senhor para mim foi um exemplo<br />

<strong>de</strong> professor e <strong>de</strong> vida. Eu quis fazer uma homenagem’. Aquele foi o<br />

maior prêmio da minha ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> professor... ter alguém com o meu<br />

nome!”, emociona-se.<br />

E não faltaram prêmios e homenagens para este <strong>de</strong>dicado<br />

profissional. Seus ex-alunos <strong>de</strong> Sertaneja incentivaram o governo<br />

da cida<strong>de</strong> a homenageá-lo com uma placa <strong>de</strong> cidadão honorário, em<br />

agra<strong>de</strong>cimento ao seu trabalho na escola. “As pessoas me perguntam<br />

como é que os alunos gostam tanto <strong>de</strong> mim. E eu digo que eu sempre<br />

procurei tratar o aluno como pessoa. Olhar a pessoa e valorizar. Eu<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

169


nunca briguei com um aluno e nunca alguém foi na diretoria reclamar<br />

<strong>de</strong> mim. Se precisasse chamar a atenção eu chamava, corrigia, mas<br />

sempre com o respeito. Isso é importante e esse é o papel do educador”,<br />

diz com convicção.<br />

Agora João se prepara para <strong>de</strong>ixar o trabalho em <strong>de</strong>finitivo. Mas<br />

sabe que não vai ficar parado. “Vai ficar um vazio, sauda<strong>de</strong> da sala<br />

<strong>de</strong> aula, dos alunos e dos colegas professores. Mas eu tenho outras<br />

ativida<strong>de</strong>s, como as aulas particulares que eu pretendo continuar. E<br />

também faço um trabalho voluntário com minha esposa em um lar <strong>de</strong><br />

crianças carentes do meu bairro. Nós damos aulas <strong>de</strong> reforço e isso vai<br />

ser importante para o futuro <strong>de</strong>las. É um trabalho gratificante”.<br />

Os relatos do professor revelam a satisfação <strong>de</strong> um profissional<br />

sempre <strong>de</strong>dicado ao exercício do magistério. Quando perguntado a<br />

respeito, ele respon<strong>de</strong> categoricamente que se sente satisfeito com o<br />

ofício escolhido: “A gente olha para os alunos e vê que a maioria <strong>de</strong>les<br />

cresceu na vida e eu sei que eu contribuí para isso. Muito diferente do<br />

trabalho no banco. Na escola eu vejo o resultado do meu trabalho. A<br />

realização pessoal do professor é fazer a outra pessoa crescer, ajudar<br />

a realização do outro. Essa é a maior gratificação que a gente tem! Ser<br />

professor é vocação”.<br />

Janaína Castro<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

170


Jardineiro da UEL<br />

Uma breve mirada ao campus e a paisagem encanta. João Luiz<br />

Sperandio teve autorização do primeiro reitor para ficar responsável<br />

pela jardinagem, on<strong>de</strong> realizou trabalhos até a aposentadoria em 1995.<br />

Depois retornou a UEL para se <strong>de</strong>dicar a outra função, o vestibular<br />

João Luiz Sperandio faz jus ao título pelo<br />

qual é conhecido: jardineiro do campus.<br />

Em um dia <strong>de</strong> frio na <strong>Universida<strong>de</strong></strong>, e<br />

sabemos que temperaturas mínimas<br />

beiram ao insuportável, ele é capaz <strong>de</strong><br />

olhar para uma árvore e respon<strong>de</strong>r não só<br />

qual a espécie, mas também em que época<br />

ela foi plantada aqui na UEL. Quem pensa<br />

que o campus nasceu assim, com um belo<br />

gramado salpicado com algumas árvores<br />

esplendorosas, nunca conheceu Sperandio<br />

ou sua equipe.<br />

Outra ativida<strong>de</strong>, bem diferente da jardinagem, também confere<br />

popularida<strong>de</strong> a João Luiz Sperandio. Trata-se do trabalho que ele<br />

exerce nos vestibulares.<br />

Quando Sperandio começou a trabalhar na UEL, ele já havia<br />

tido um pequeno comércio e um caminhão <strong>de</strong> transportes. Para<br />

a <strong>Universida<strong>de</strong></strong>, começou a trabalhar antes mesmo <strong>de</strong> ela existir<br />

oficialmente, seu primeiro registro em carteira da instituição é da<br />

fundação que administrava a Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina e a Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Ciências Econômicas, a Fesulon.<br />

Nesta época, o campus estava sendo construído e Sperandio, que<br />

viu tudo <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a “estaca zero”, era encarregado <strong>de</strong> cuidar dos trabalhos<br />

no campus: “no começo o campus era pequeno então a gente tomava<br />

conta do vigia, da limpeza externa e mais, cuidava do pessoal que<br />

trabalhava na zeladoria.”<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

171


Os prédios foram crescendo e as aulas transferidas para o<br />

campus. Todo o antigo cafezal <strong>de</strong>u lugar à poeira: “Era só poeira, não<br />

tinha asfalto, né? Aquele calcário,... então eu comentei com o reitor<br />

[Ascêncio Garcia] e ele falou: ‘João, se você quiser fazer’. E eu comecei<br />

lá no CCB a jardinar e aí foi geral. Aí fui juntando mais gente, mais<br />

pessoal, e conseguimos fazer o campus todo. Esse campus todo nós<br />

fizemos.”<br />

Sperandio conta que no período <strong>de</strong> Oscar Alves foi criado um<br />

horto atrás do CESA para o cultivo <strong>de</strong> mudas que mais tar<strong>de</strong> eram<br />

plantadas na <strong>Universida<strong>de</strong></strong>. Eles utilizavam sementes das próprias<br />

árvores adultas do campus para as mudas, e procuravam diversificar<br />

entre árvores frutíferas – para atrair pássaros e papagaios que eram<br />

comuns no campus – e aquelas nativas, como a famosa peroba.<br />

Quanto às árvores que caracterizam a vegetação do campus –<br />

as perobas - o funcionário lembra que na década <strong>de</strong> 1990 houve uma<br />

tempesta<strong>de</strong> forte, responsável por quebrar muitas perobas antigas.<br />

Sperandio conta que a maioria <strong>de</strong>stas árvores morreu por fatores<br />

climáticos e acrescenta que <strong>de</strong>moram muitos anos para alcançarem a<br />

magnitu<strong>de</strong> das que ainda restam no campus. Assim, mesmo plantando<br />

novas mudas não dá para esperar que o campus volte a ser como era<br />

antigamente.<br />

Foi exercitando a arte <strong>de</strong> cultivo <strong>de</strong> plantas e árvores que<br />

Sperandio adquiriu experiência em jardinagem. O funcionário também<br />

viajava a cada 15 ou 20 dias para São Paulo para buscar doações <strong>de</strong><br />

animais e ração das universida<strong>de</strong>s paulistas para o biotério do CCB,<br />

por exemplo. Com o tempo, as funções foram sendo abrigadas em<br />

áreas específicas e ele passou a coor<strong>de</strong>nar as zeladoras da prefeitura e<br />

da reitoria, a jardinagem e o vestibular.<br />

No vestibular, Sperandio atua <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que a Fundação Carlos<br />

Chagas era responsável pelas provas. Além <strong>de</strong> ajudar em toda a<br />

organização externa, como a distribuição <strong>de</strong> carteiras e materiais para<br />

as salas, ele ia buscar, na véspera, as provas e as trazia com um fiscal da<br />

fundação. Passado este tempo, veio a época em que muitos estudantes<br />

faziam as provas no ginásio do CEFE. Eram 10 viagens <strong>de</strong> caminhão<br />

para transportar a média <strong>de</strong> 1.400 carteiras.<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

172


Em 1995, Sperandio se aposentou da UEL, mas não ficou mais <strong>de</strong><br />

seis meses parado. Com a experiência adquirida no vestibular, acabou<br />

voltando para ajudar e está até hoje na Coor<strong>de</strong>nadoria <strong>de</strong> Processos<br />

Seletivos, a COPS. “A gente pega uma prática, conhece tudo qualquer<br />

colégio da cida<strong>de</strong>, inclusive <strong>de</strong> Ibiporã e Cambé, então você mais ou<br />

menos sabe quantos candidatos cabem em cada sala e o tamanho do<br />

colégio, tudo se ajuda, não é?“, conta o funcionário.<br />

Poliana Lisboa <strong>de</strong> Almeida<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

173


Amor e <strong>de</strong>dicação ao trabalho<br />

João Paulino apren<strong>de</strong>u a trabalhar com Enfermagem na prática,<br />

antes <strong>de</strong> existirem os atuais cursos técnicos e <strong>de</strong> graduação na área. E<br />

mesmo aposentado continua praticando a arte <strong>de</strong> ajudar ao próximo<br />

João Paulino nasceu em Cândido Mota<br />

no interior <strong>de</strong> São Paulo, mas veio ainda<br />

pequeno para o Paraná e cresceu na<br />

cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Primeiro <strong>de</strong> Maio. Chegou a<br />

<strong>Londrina</strong> com a família em 1969, após a<br />

morte do pai. Logo em seguida começou<br />

a trabalhar na Irmanda<strong>de</strong> Santa Casa <strong>de</strong><br />

<strong>Londrina</strong> - na época, Hospital Escola da<br />

Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> -<br />

que mais tar<strong>de</strong> integraria a UEL. Assim<br />

começa a história profissional <strong>de</strong>ste<br />

<strong>de</strong>dicado auxiliar <strong>de</strong> Enfermagem. “A minha irmã já trabalhava na<br />

Santa Casa, e estava muito difícil conseguir emprego. Aí, ela falou<br />

com as irmãs lá. Elas que ensinavam tudo, pois não tinha os cursos <strong>de</strong><br />

enfermagem que têm hoje e eu entrei para apren<strong>de</strong>r lá”, explica.<br />

Foram exatos 17 meses <strong>de</strong> trabalho e aprendizado com as freiras,<br />

que o tornaram apto para buscar seu novo emprego. Em agosto <strong>de</strong><br />

1971, João conseguiu uma vaga no setor <strong>de</strong> Enfermagem do recéminaugurado<br />

Hospital Universitário da UEL, que ainda ficava na rua<br />

Pernambuco, no centro da cida<strong>de</strong>. “Comecei a trabalhar no dia 20 <strong>de</strong><br />

agosto à uma hora da tar<strong>de</strong>. Lá era bem pequenininho, tinha muita<br />

dificulda<strong>de</strong>. Eram poucos funcionários, poucas enfermarias, não tinha<br />

quase nada”, recorda.<br />

Des<strong>de</strong> o início a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> pacientes era gran<strong>de</strong> e por isso<br />

nunca faltou trabalho. João sempre era escalado para os finais <strong>de</strong><br />

semana e feriados: “Vinha gente até do Paraguai! De toda a região. A<br />

gente trabalhava direto. Às vezes fazia meu horário e <strong>de</strong>pois, quando<br />

estava em casa <strong>de</strong>scansando, a ambulância vinha me buscar porque<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

174


faltou um funcionário. E tinha que ir. Quando precisava eu estava ali à<br />

disposição!”, garante.<br />

Alguns anos <strong>de</strong>pois, em 1975, a se<strong>de</strong> do Hospital Universitário<br />

foi transferida para o prédio do Sanatório Nutels, localizado na Av.<br />

Robert Koch (zona leste da cida<strong>de</strong>). João assistiu e participou da<br />

mudança. Ele lembra que foi um período difícil e <strong>de</strong> muito trabalho<br />

para enfrentar as várias dificulda<strong>de</strong>s técnicas: “Não tinha aparelhos<br />

e material <strong>de</strong> segurança. A gente trabalhava exposto, sem luvas, era<br />

contato direto, mexia com as mãos mesmo! As seringas eram <strong>de</strong> vidro,<br />

todo o material era esterilizado, não tinha <strong>de</strong>scartável”, conta. Mas<br />

faz questão <strong>de</strong> ressaltar a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> atendimento que o hospital<br />

mantém atualmente: “Hoje é um dos hospitais mais bem preparados<br />

da região. O atendimento melhorou muito. Agora é diferente”, afirma.<br />

Durante a maior parte dos 35 anos em que prestou serviços na<br />

Diretoria <strong>de</strong> Enfermagem do HU, João trabalhou no período noturno,<br />

das 19h00 às 07h00 da manhã do dia seguinte. Ele confessa que foi<br />

difícil se acostumar a princípio, pois “dormir <strong>de</strong> dia não é igual dormir<br />

<strong>de</strong> noite...”, compara, mas conseguiu se acostumar e pegar o ritmo da<br />

madrugada.<br />

Nos primeiros 20 anos, João atuou na Unida<strong>de</strong> Masculina<br />

do Hospital. Depois foi remanejado para a Unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Hemodiálise<br />

e Diálise Peritoneal, em que conviveu com pacientes em situações<br />

bastante complicadas, muitos à espera <strong>de</strong> um transplante <strong>de</strong> rim.<br />

Nos anos <strong>de</strong> 1980, já experiente, fez o curso <strong>de</strong> auxiliar <strong>de</strong><br />

Enfermagem com duração <strong>de</strong> um ano e meio, oferecido pelo próprio<br />

HU. E aproveitou para ampliar seus conhecimentos: “Começaram a<br />

exigir e eu fiz o curso <strong>de</strong> auxiliar. É como se começasse do zero. Mesmo<br />

já sabendo bastante do trabalho a gente sempre apren<strong>de</strong>”, diz com<br />

convicção. Na época do curso, João cumpria jornada dupla: assistia às<br />

aulas durante o dia e trabalhava normalmente à noite.<br />

João também se recorda do contato com os pacientes no<br />

Hospital. “Ali a gente convive com gente que vem com todo o tipo <strong>de</strong><br />

doença. Tem que fazer o possível para ajudar. Tem que trabalhar com<br />

amor e vonta<strong>de</strong>, ter um cuidado, um carinho com as pessoas. A gente<br />

conversa, com paciência, explica que o procedimento é necessário.<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

175


Mesmo quando é agredido! Tem uns que ficam revoltados, aí tem que<br />

usar uma ‘psicologia’... porque o paciente tem sempre razão”, explica.<br />

O amor à profissão é um dos pontos fortes da carreira <strong>de</strong> João e<br />

que fica muito claro em seu <strong>de</strong>poimento. Ele faz questão <strong>de</strong> ressaltar<br />

como gostava <strong>de</strong> seu trabalho. Por isso mesmo, durante todo o tempo<br />

<strong>de</strong> serviço João não tinha faltas frequentes e só se afastou duas vezes<br />

por razões <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, como ele esclarece: “Em 92 sofri um aci<strong>de</strong>nte<br />

e fiquei nove meses parado. E agora, perto da aposentadoria, tive<br />

problemas graves: uma midiocardite – infecção na válvula do coração<br />

-, uma encefalite – inflamação aguda no cérebro – e um AVC, que foi o<br />

que me atrapalhou mais”.<br />

Após vencer tantas provações, o corpo sentiu o cansaço e o<br />

trabalho ficou difícil. Por este motivo, que, mesmo com a vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

continuar, ao completar o tempo mínimo <strong>de</strong> contribuição em 2007,<br />

João se aposentou. “Foi mais por necessida<strong>de</strong> mesmo. Eu pensava em<br />

ficar mais tempo, mas aí eu vi que não dava mais, eu já não conseguia<br />

acompanhar o ritmo. Trabalhei o último ano com dificulda<strong>de</strong>, até<br />

completar o tempo para a aposentadoria e tive que parar”, lamenta.<br />

A sauda<strong>de</strong> é inevitável e por isso até hoje João ainda visita o HU<br />

para rever antigos colegas <strong>de</strong> trabalho e até pacientes que continuam<br />

internados. Pacientes que sempre <strong>de</strong>monstraram reconhecimento<br />

e gratidão ao receber alta e se <strong>de</strong>spedir. Alguns vão além do simples<br />

agra<strong>de</strong>cimento verbal, como conta sorri<strong>de</strong>nte: “Tem um paciente, o<br />

senhor Paulo, que ficou muito tempo lá na hemodiálise e ainda lembra<br />

da gente (funcionários do HU). Até hoje ele liga e chama para almoço<br />

e churrasco! Ele já chamou várias vezes. É como se fosse um parente<br />

nosso!”.<br />

Apesar <strong>de</strong> não trabalhar mais no Hospital, João não <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong><br />

utilizar tudo o que apren<strong>de</strong>u para continuar ajudando as pessoas.<br />

Conhecido no bairro on<strong>de</strong> mora, ele é uma referência para os vizinhos:<br />

“Eu gosto muito <strong>de</strong> ajudar as pessoas. Direto aparece alguém lá em casa<br />

com a mulher doente ou o filho passando mal. Aí pe<strong>de</strong>m pra eu olhar a<br />

pressão, cuidar. Eu ajudo, mas sempre falo ‘melhor ir ao postinho’. Se<br />

precisar eu levo, busco. O que pu<strong>de</strong>r eu faço”, garante. O tempo livre<br />

também é preenchido pela presença do netinho <strong>de</strong> cinco anos, que<br />

frequentemente fica na casa dos avós.<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

176


Quando fala <strong>de</strong> sua história e tudo o que viveu nos corredores<br />

do HU, João <strong>de</strong>monstra-se bastante satisfeito e guarda as melhores<br />

lembranças: “Sabe qual é o melhor momento? É quando você vê uma<br />

pessoa recuperada. Quando a pessoa é renal crônico a única coisa<br />

que resta é um transplante. E a gente vê, nossa, muitos que foram<br />

transplantados, a gente viu como vivia e agora é uma vida nova. E a<br />

gente encontra com eles por aí e vê que o que você fez ajudou a pessoa a<br />

sobreviver. E se sente um pouco responsável. Não tem coisa melhor do<br />

que trabalhar no que você gosta e <strong>de</strong>dicar tudo da gente. Criei a família<br />

com o serviço <strong>de</strong> Enfermagem. Eu sinto que cumpri minha missão.<br />

Foram 35 anos bem trabalhados”, conclui.<br />

Essa <strong>de</strong>dicação ao trabalho e ao próximo serviu como inspiração<br />

para Ângela, uma das filhas <strong>de</strong> João, que seguiu os passos do pai: fez<br />

os cursos <strong>de</strong> auxiliar e técnico em Enfermagem e hoje trabalha em<br />

uma clínica psiquiátrica. Uma das muitas sementes que João plantou<br />

durante sua carreira e que, certamente, é motivo <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> orgulho<br />

para ele.<br />

Janaína Castro<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

177


Ensinando e administrando<br />

O professor da Educação José Aloyseo Bzuneck alternou sua<br />

presença na sala <strong>de</strong> aula com cargos administrativos na <strong>Universida<strong>de</strong></strong><br />

José Aloyseo Bzuneck, paranaense<br />

<strong>de</strong> Lapa, estava em Curitiba após<br />

formar-se em Filosofia na PUC <strong>de</strong><br />

Porto Alegre. De lá resolveu vir<br />

ao interior do Paraná para fazer<br />

o concurso <strong>de</strong> uma universida<strong>de</strong><br />

que, enquanto universida<strong>de</strong>,<br />

ainda só existia no papel.<br />

O concurso foi em 1971 e, <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />

então, José Aloyseo Bzuneck<br />

passou a ser professor da<br />

Faculda<strong>de</strong> <strong>Estadual</strong> <strong>de</strong> Filosofia,<br />

Ciências e Letras <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>. A disciplina ministrada pelo professor<br />

era <strong>de</strong> Psicologia Educacional.<br />

Com a constituição da <strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>Estadual</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>,<br />

as antigas Faculda<strong>de</strong>s tornaram-se seus Centros <strong>de</strong> ensino. Com<br />

o nascimento do curso <strong>de</strong> Psicologia, Bzuneck assumiu a chefia<br />

do <strong>de</strong>partamento, ainda com poucos professores. Mais tar<strong>de</strong> os<br />

professores <strong>de</strong> Psicologia ligados à educação preferiram mudar-se para<br />

o Departamento <strong>de</strong> Educação.<br />

Em 1973, ele começou a fazer Mestrado em Psicologia na USP.<br />

“Naquele tempo quem ia fazer um curso <strong>de</strong>stes não tinha nem bolsa<br />

e nem licença. Eu continuava dando as aulas normalmente”, lembra.<br />

O doutorado, que veio em seguida na mesma instituição, o professor<br />

terminou em 1979.<br />

Como professor, Bzuneck lecionou em diferentes cursos <strong>de</strong><br />

licenciatura da UEL. Mas sua trajetória <strong>de</strong> 35 anos <strong>de</strong> “ativa” na<br />

<strong>Universida<strong>de</strong></strong> estão marcados também pela passagem em alguns postos<br />

administrativos. Depois <strong>de</strong> ter sido chefe do Departamento <strong>de</strong> Psicologia<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

178


no começo, Bzuneck voltou a ser “só professor”, diz ele. A interrupção<br />

no trabalho só <strong>de</strong> professor se <strong>de</strong>u quando ele foi convidado para ser<br />

coor<strong>de</strong>nador da CAE por um ano e meio para completar a gestão. “Foi<br />

aí que começou”, lembra Bzuneck. Depois, ele foi diretor do Centro <strong>de</strong><br />

Educação Comunicação e Artes, chefe <strong>de</strong> <strong>de</strong>partamento novamente, e<br />

vice-reitor na gestão <strong>de</strong> Marco Antônio Fiori (1982-1986).<br />

Apesar <strong>de</strong> não ter passado uma gestão inteira na CAE, o professor<br />

se lembra <strong>de</strong> muitas coisas acontecidas lá <strong>de</strong>ntro do órgão que tinha<br />

“um pessoal muito competente e bom <strong>de</strong> se trabalhar”, diz.<br />

A época era ainda a <strong>de</strong> matrícula por créditos e a UEL só tinha um<br />

minicomputador. O professor acredita que a <strong>Universida<strong>de</strong></strong> não tinha<br />

estrutura para trabalhar com aquele sistema e que ele ficava mal-feito.<br />

Bzuneck fala da confusão que havia quando ainda era possível<br />

passar para o curso <strong>de</strong> Medicina, mediante transferência interna,<br />

bastando para isso ter cursado algumas disciplinas da área. “Era uma<br />

luta <strong>de</strong> foice para fazer matrícula nas disciplinas da Medicina, tanto que<br />

uma vez os alunos <strong>de</strong>rrubaram o balcão on<strong>de</strong> ficavam os funcionários<br />

da CAE”, lembra o professor.<br />

Ele ressalta que a UEL sempre foi muito rigorosa no processo<br />

seletivo do vestibular. E que, quando ainda estava na CAE, um<br />

fazen<strong>de</strong>iro e seu advogado vieram tentar uma vaga para o filho por<br />

meio <strong>de</strong> uma lei conhecida como “Lei do Boi”, que reservava vagas em<br />

cursos <strong>de</strong> Agronomia e Veterinária para filhos <strong>de</strong> produtores rurais.<br />

Mas como esta lei só valia para instituições fe<strong>de</strong>rais, Bzuneck teve que<br />

falar <strong>de</strong>sta diferença ao advogado, que veio crente do direito <strong>de</strong> seu<br />

cliente.<br />

Falando em pedidos, na época da vice-reitoria, como o professor<br />

esteve algumas vezes como reitor, ele chegou a receber uma miss<br />

Paraná no gabinete. No meio da conversa, lembra, percebeu que ela<br />

estava lá para pedir uma vaga no Cesulon.<br />

Depois da CAE, Bzuneck também foi diretor do CECA (Centro<br />

<strong>de</strong> Educação, Comunicação e Artes). Ele conta que, na verda<strong>de</strong>, nunca<br />

buscou nenhum cargo administrativo, e na eleição para a diretoria do<br />

CECA estava <strong>de</strong> licença. “Não movi uma palha, estava em casa e vieram<br />

me contar que eu havia ganhado”, recorda.<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

179


Onze anos <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> chegar ao interior do Paraná, o professor<br />

Bzuneck assumiu a vice-reitoria <strong>de</strong> Marco Antônio Fiori. Durante os<br />

quatro anos da administração, parou <strong>de</strong> lecionar e ficou com todos os<br />

bens penhorados para o caso <strong>de</strong> alguma irregularida<strong>de</strong> nas contas da<br />

UEL.<br />

“Como administradores, assinamos um termo penhorando<br />

todos os bens, se o Tribunal <strong>de</strong> Contas pegasse alguma irregularida<strong>de</strong>,<br />

seríamos solidários e respon<strong>de</strong>ríamos com os próprios bens”, explica.<br />

Nessa gestão, Bzuneck assumiu a reitoria por até 40 dias consecutivos.<br />

“Havia greves, exigências, tinha que administrar, mas passou”, diz.<br />

Sobre toda a sua vida pública e <strong>de</strong> sala <strong>de</strong> aula, o professor<br />

ressalta que nada disso é feito com pretensão <strong>de</strong> enriquecer. Em todos<br />

os cargos, teve que lidar com conflitos, intrigas, oposição e, o mais<br />

difícil, com outras pessoas. “É preciso fôlego”, diz. Ele acredita não ter<br />

mais a disposição que tinha antes.<br />

Mesmo assim, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a aposentadoria em 2005, Bzuneck assumiu<br />

como professor sênior, que não tem contrato, horário, nem salário,<br />

mas orienta, pesquisa, tem uma carga horária, mesmo que pequena,<br />

e publica.<br />

Bzuneck assumiu compromissos com o Mestrado em Educação.<br />

Para ele vale o esforço por ser uma ocupação da qual gosta. “Para mim<br />

é interessante ter esta vida acadêmica”, diz. No ano <strong>de</strong> 2008, ele já<br />

escreveu um livro e um capítulo <strong>de</strong> livro, que serão publicados em<br />

2009, além <strong>de</strong> artigos. Com esta ligação não contratual, o professor<br />

consegue trabalhar em casa, lugar em que recebe seus orientandos, os<br />

alunos da UEL.<br />

No dia 3 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 2008, José Aloyseo Bzuneck foi um dos<br />

professores homenageados da Pró-Reitoria <strong>de</strong> Graduação na cerimônia<br />

em homenagem aos cursos que tiveram maior reconhecimento neste<br />

ano.<br />

Poliana Lisboa <strong>de</strong> Almeida<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

180


Matemática e o altruísmo<br />

Apaixonado pela Matemática e pela sala <strong>de</strong> aula, José Aparecido<br />

Fi<strong>de</strong>lis <strong>de</strong>dicou-se a ajudar as pessoas <strong>de</strong>ntro e fora da UEL<br />

e transformou a vida <strong>de</strong> todos que cruzaram seu caminho<br />

Barbeiro, cabeleireiro, professor, pai,<br />

avô, bisavô, dançarino, brincalhão e<br />

sorri<strong>de</strong>nte. São várias as faces <strong>de</strong> José<br />

Aparecido Fi<strong>de</strong>lis. Hoje, infelizmente<br />

ele não se recorda mais <strong>de</strong> muitos<br />

momentos da sua vida, por causa do<br />

mal <strong>de</strong> Alzheimer, uma doença que o<br />

acompanha há quase cinco anos. Mas<br />

os que tiveram o prazer <strong>de</strong> conviver<br />

com ele lembram-se <strong>de</strong> cada fato. O<br />

Portal do Aposentado conversou com<br />

a professora doutora Cristina Fi<strong>de</strong>lis, filha do mestre Fi<strong>de</strong>lis, e com<br />

a senhora Maria Ignez, esposa, que nos contaram um pouco <strong>de</strong>sta<br />

história.<br />

Nascido em Santo Antônio da Alegria, interior <strong>de</strong> São Paulo,<br />

José Fi<strong>de</strong>lis costumava ser <strong>de</strong> fato uma pessoa muito alegre. “Ele<br />

estava sempre contente, brincando, <strong>de</strong> bom humor, não chegava em<br />

casa bravo”, garante Maria Ignez, companheira há 54 anos. Ela afirma<br />

que as brinca<strong>de</strong>iras e o sorriso, principais características do professor,<br />

sempre foram marcas registradas <strong>de</strong> seu jeito <strong>de</strong> ser. “Tanto é, que<br />

até hoje, mesmo com a doença, se você brincar com ele, ele enten<strong>de</strong>.<br />

Brinca<strong>de</strong>ira ele enten<strong>de</strong>! Mais do que outras coisas, porque ele sempre<br />

foi muito brincalhão...”.<br />

Após per<strong>de</strong>r a mãe com apenas 19 anos, José tornou-se<br />

praticamente responsável pelos dois irmãos mais novos e teve que<br />

apren<strong>de</strong>r a “ganhar a vida sozinho”. Conheceu Maria Ignez, na década<br />

<strong>de</strong> 1950, logo <strong>de</strong>pois que chegou ao Norte do Paraná. O casamento<br />

veio em 1955, quando o rapaz ainda trabalhava como cabeleireiro. “Ele<br />

não tinha estudo nenhum! Só até o 4º ano primário” recorda-se Maria<br />

Ignez.<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

181


Mas, muito esforçado, o jovem foi buscar conhecimento nas<br />

possibilida<strong>de</strong>s oferecidas, como relata Maria Ignez: “Ele e mais alguns<br />

amigos já adultos foram estudar no Colégio Vicente Rijo. Entraram<br />

na 1ª série do ginásio [5ª série do ensino fundamental], junto com as<br />

crianças! Eu sou formada em Letras e quando ele chegou na 4ª série<br />

[8ª série do ensino fundamental], eu estava dando aula no colégio!<br />

Mas não <strong>de</strong>i aula para ele, não”.<br />

Após concluir os estudos básicos, Fi<strong>de</strong>lis, que já apreciava os<br />

números, fez um curso técnico <strong>de</strong> contabilida<strong>de</strong> no Colégio Londrinense.<br />

Ao concluí-lo, foi convidado pela diretora do Instituto <strong>Estadual</strong> <strong>de</strong><br />

Educação <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>, em que a esposa já trabalhava, para dar aulas <strong>de</strong><br />

Matemática. “Faltavam muitos professores nas escolas porque o curso<br />

superior estava começando aqui. A maioria tinha só o 2º grau [ensino<br />

médio] e um curso <strong>de</strong> capacitação chamado Ca<strong>de</strong>s. Então, como ele<br />

gostava muito <strong>de</strong> Matemática, e já tinha o técnico, foi dar aulas para o<br />

1º grau [ensino fundamental]. Isso foi em 1964”, explica.<br />

Fi<strong>de</strong>lis também lecionou para o ensino fundamental e médio no<br />

Colégio Vicente Rijo e no Mãe <strong>de</strong> Deus, on<strong>de</strong> conseguiu conquistar<br />

a confiança das freiras. Esta, uma tarefa difícil, como revela Maria<br />

Ignez: “Elas quase não aceitavam homens lá, mas <strong>de</strong>le elas gostavam.<br />

E ele também gostava <strong>de</strong> lá e dizia que era um colégio muito bem<br />

organizado”, recorda-se.<br />

A afinida<strong>de</strong> com as salas <strong>de</strong> aula não <strong>de</strong>morou a surgir na vida<br />

<strong>de</strong> Fi<strong>de</strong>lis, que começou a cursar licenciatura na primeira turma <strong>de</strong><br />

Ciências da UEL. Depois, completou sua formação com a licenciatura<br />

em Matemática, assim que o curso foi iniciado na UEL.<br />

O início <strong>de</strong> suas ativida<strong>de</strong>s como professor na <strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong>use<br />

em 1976, inicialmente como substituto e, em seguida, como efetivo<br />

no Departamento <strong>de</strong> Matemática. Lecionou Estatística, Matemática<br />

Básica e Prática <strong>de</strong> Ensino e Didática da Matemática. Durante muitos<br />

anos, foi responsável pelos estágios dos alunos da licenciatura que<br />

eram direcionados para as escolas públicas da cida<strong>de</strong>. Especializou-se<br />

em Prática <strong>de</strong> Ensino <strong>de</strong> Ciências pela UFPR e em Estatística pela UEL.<br />

Ser professor logo se revelou como a gran<strong>de</strong> paixão <strong>de</strong> Fi<strong>de</strong>lis e<br />

sua incansável <strong>de</strong>dicação tornou-o muito querido dos estudantes. “O<br />

que ele tinha <strong>de</strong> especial é que sempre foi muito amigo dos alunos. Eles<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

182


gostam <strong>de</strong>mais <strong>de</strong>le. Foi convidado várias vezes para ser paraninfo,<br />

patrono e nome <strong>de</strong> turma. E foram muitos alunos que <strong>de</strong>testavam<br />

Matemática e apren<strong>de</strong>ram a gostar por causa <strong>de</strong>le. Até hoje ele recebe<br />

o carinho <strong>de</strong>les quando o encontram na rua”, afirma Maria Ignez. Mas<br />

nunca se <strong>de</strong>ixou ensoberbecer pelo reconhecimento recebido, como<br />

Cristina explica: “Ele era muito humil<strong>de</strong>, não se vangloriava. Ficava<br />

contente porque os alunos gostavam <strong>de</strong>le e para o professor não precisa<br />

mais do que isso”.<br />

Cristina teve o privilégio <strong>de</strong>, além <strong>de</strong> aluna, ser companheira<br />

<strong>de</strong> trabalho do pai. Graduada em Matemática pela UEL, começou a<br />

lecionar na <strong>Universida<strong>de</strong></strong> em 1979. “Eu tinha 20 anos quando comecei<br />

a dar aula na UEL. Ele já era professor há bastante tempo e me ajudou<br />

muito: fazíamos planos <strong>de</strong> aula, exercícios... foi muito gostoso, uma<br />

experiência muito boa!”, diz sorri<strong>de</strong>nte. Mais do que apenas dar aulas<br />

junto com Fi<strong>de</strong>lis, Cristina participou <strong>de</strong> projetos e escreveu um livro<br />

em parceria com ele.<br />

Cristina conta que o primeiro projeto do qual participou ao<br />

lado do pai chamava-se “Refletindo sobre a Matemática e a educação<br />

do 1º grau [ensino fundamental]”. O objetivo era sanar as dúvidas e<br />

dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> ensino dos professores do ensino fundamental das<br />

escolas públicas <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>. “A gente se reunia uma vez por semana<br />

com esses professores e refletíamos sobre a metodologia <strong>de</strong> ensino da<br />

Matemática. Eles é que traziam os problemas para as reuniões e nós<br />

estudávamos juntos para melhorar o ensino daquele conteúdo. Meu<br />

pai sempre foi muito preocupado com isso”.<br />

Em seguida, começou um dos projetos mais expressivos <strong>de</strong><br />

Fi<strong>de</strong>lis, do qual Cristina também fez parte: “Xadrez, Arte e Ciência”.<br />

Na década <strong>de</strong> 1990, após fazer um curso <strong>de</strong> capacitação em ensino<br />

<strong>de</strong> xadrez em Brasília, Fi<strong>de</strong>lis iniciou o projeto na UEL ao lado <strong>de</strong><br />

outros professores <strong>de</strong> Matemática. Inicialmente o grupo capacitava<br />

professores do Colégio <strong>de</strong> Aplicação da UEL, para ensinar xadrez a<br />

seus alunos. Logo, criou-se uma verda<strong>de</strong>ira “corrente” <strong>de</strong> interessados<br />

e gradativamente mais pessoas tiveram acesso ao milenar jogo <strong>de</strong><br />

tabuleiro. O trabalho esten<strong>de</strong>u-se também ao Instituto Londrinense<br />

<strong>de</strong> Educação para Surdos (ILES), Centro <strong>de</strong> Atendimento Integrado à<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

183


Criança (CAIC), Usina <strong>de</strong> Conhecimento e o Instituto Londrinense <strong>de</strong><br />

Instrução e Trabalho para Cegos (ILITC).<br />

“Qualquer pessoa po<strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r xadrez e ensinar também. Então<br />

nós formamos equipes multiplicadoras do projeto em cada instituição<br />

e <strong>de</strong>pois só ficamos na assessoria, dando apoio a eles”, esclarece<br />

Cristina. Para os <strong>de</strong>ficientes visuais foram provi<strong>de</strong>nciados tabuleiros,<br />

que permitem a i<strong>de</strong>ntificação do espaço por meio do tato e encaixe das<br />

peças por meio <strong>de</strong> pinos.<br />

O sucesso <strong>de</strong>ste projeto ren<strong>de</strong>u vários campeonatos entre<br />

universitários e a comunida<strong>de</strong> externa, realizados inicialmente na<br />

Biblioteca Central da UEL. Depois foi criado em frente ao prédio um<br />

espaço apropriado para a prática do jogo, o “Recanto do Xadrez”: são<br />

quatro mesinhas com tabuleiros, que a comunida<strong>de</strong> po<strong>de</strong> utilizar à<br />

vonta<strong>de</strong>. “A Biblioteca ficou pequena e a gente começou a atrapalhar<br />

um pouco por causa do movimento e do barulho. Durante o projeto<br />

doamos jogos pra a biblioteca e chegamos a ter mais <strong>de</strong> mil empréstimos<br />

por mês. As pessoas gostavam muito. O Recanto foi um dos frutos que<br />

nós conseguimos com o projeto. Pena que não tem nem uma placa lá<br />

e muita gente não sabe o que é. Ficou faltando isso, eu até gostaria <strong>de</strong><br />

colocar...”, lamenta Cristina.<br />

O último projeto em que Cristina atuou ao lado do pai foi<br />

“Ergonomia e Qualida<strong>de</strong> da Escola Pública”, voltado exatamente para<br />

uma das gran<strong>de</strong>s preocupações do professor Fi<strong>de</strong>lis: a qualida<strong>de</strong> do<br />

ensino. A pesquisa avaliou a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida dos professores no local<br />

<strong>de</strong> trabalho e os serviços prestados por eles. “Nós avaliamos cinco<br />

escolas <strong>de</strong> ensino fundamental <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> e constatamos que on<strong>de</strong><br />

os professores estavam mais satisfeitos com a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida no<br />

trabalho, os alunos estavam mais satisfeitos com o serviço prestado<br />

pela escola”, explana Cristina. A pesquisa transformou-se em livro,<br />

publicado em parceria pelos dois, pela Editora da <strong>Universida<strong>de</strong></strong><br />

<strong>Estadual</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> (Eduel), e leva o mesmo nome do projeto.<br />

Mas não foi apenas <strong>de</strong>ntro da UEL que José trabalhou e fez<br />

amigos. Apesar da pesada rotina na <strong>Universida<strong>de</strong></strong> e horários quase<br />

sempre lotados, o professor <strong>de</strong>dicou-se durante toda a vida a ajudar as<br />

pessoas. Maria Ignez relembra que “ele sempre foi muito <strong>de</strong>sprendido<br />

das coisas <strong>de</strong>le. Um dia chegou em casa só <strong>de</strong> meia e eu perguntei ‘Cadê<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

184


o tênis’? Ele disse ‘Ah eu vi um velhinho lá com o sapato furado, aí eu<br />

<strong>de</strong>i o meu tênis para ele’. Fazia umas coisas assim como tirar o agasalho<br />

e dar para a pessoa se estiver com frio, sempre se preocupava com os<br />

outros”.<br />

Na década <strong>de</strong> 1970, Fi<strong>de</strong>lis fundou a “Comunida<strong>de</strong> dos Barbeiros<br />

do Asilo São Vicente <strong>de</strong> Paula”. A instituição estava com dificulda<strong>de</strong>s<br />

para contratar barbeiros e a generosida<strong>de</strong> do professor fez nascer a<br />

i<strong>de</strong>ia: convidou alguns amigos e fundaram a Comunida<strong>de</strong>. “Foram 35<br />

anos em que ele ia ao asilo todos os sábados <strong>de</strong> manhã para fazer barba<br />

e cabelo dos velhinhos. Mesmo <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> doente ele ainda foi por uns<br />

três anos.<br />

Ele conversava, brincava, levava música e dava um carinho<br />

especial para eles. Foi um trabalho muito bonito e uma coisa boa que<br />

ele <strong>de</strong>ixou pra <strong>Londrina</strong>, que continua firme lá até hoje”, diz a esposa<br />

com orgulho. Os internos mais antigos ainda se lembram do amigo<br />

“Zézinho”, como era carinhosamente chamado e se emocionam nas<br />

visitas que ele ainda faz, embora menos frequentes: “Ah eles abraçam,<br />

dizem que estão com sauda<strong>de</strong>...”, afirma Maria Ignez.<br />

Fi<strong>de</strong>lis também encontrava tempo para se <strong>de</strong>dicar e se entreter<br />

com a família. “Ele trabalhava com bastante serieda<strong>de</strong>, mas sempre<br />

valorizou muito a família. Este horário era sagrado. Eu lembro quando<br />

eu era criança ainda, na horinha do almoço, a gente almoçava rápido<br />

e <strong>de</strong>pois batia uma bolinha no quintal”, revela Cristina. E igualmente<br />

reservava momentos <strong>de</strong> diversão com a esposa: “Ele gostava muito<br />

<strong>de</strong> dança <strong>de</strong> salão. A gente sempre ia a jantares dançantes, bailes. A<br />

gente dançava bem, os amigos diziam que parecia que a gente estava<br />

voando”, recorda com saudosismo.<br />

A aposentadoria e a luta contra o Alzheimer<br />

Parece inacreditável que uma pessoa que trabalhou a vida inteira<br />

com números, cálculos, xadrez e nunca <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> estudar tenha sido<br />

acometida por uma doença como o mal <strong>de</strong> Alzheimer. Um dos mistérios<br />

da vida, como comenta Cristina: “É, aconteceu apesar <strong>de</strong> tudo! Mesmo<br />

trabalhando tanto com a cabeça... Por exemplo, ele resolvia todos os<br />

anos a prova específica <strong>de</strong> Matemática do vestibular da UEL, só para<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

185


exercitar a mente. Ele ficava matutando e não parava enquanto não<br />

terminava”.<br />

Maria Ignez conta que os sinais da doença surgiram lentamente.<br />

“Ele começou notando que não conseguia mais fazer palavras cruzadas,<br />

<strong>de</strong>pois as contas. Eu tenho um sobrinho que era aluno <strong>de</strong>le e ele<br />

percebeu algumas falhas, por exemplo, ele colocava os problemas na<br />

lousa e <strong>de</strong>pois ‘dava um branco’. Ele já <strong>de</strong>via estar doente há uns dois<br />

anos sem perceber. Quando <strong>de</strong>tectamos, o médico proibiu ele <strong>de</strong> dar<br />

aulas e ele ficou muito triste, chorou muito! Depois foi aceitando”,<br />

lastima a esposa.<br />

Fi<strong>de</strong>lis trabalhou até agosto <strong>de</strong> 2005. A confirmação da doença<br />

fez com que antecipasse o seu afastamento da <strong>Universida<strong>de</strong></strong>. Sempre<br />

assíduo em seu trabalho, o professor possuía várias licenças-prêmio<br />

que não havia tirado ainda. As licenças foram emendadas com a<br />

aposentadoria compulsória, que foi efetivada em fevereiro <strong>de</strong> 2006.<br />

O maior foco da vida profissional <strong>de</strong> Fi<strong>de</strong>lis foi, sem dúvida,<br />

sua <strong>de</strong>dicação aos alunos e o carinho que até hoje recebe <strong>de</strong>les. “Eu<br />

acho que o mais importante foi o que ele fez para ajudar os outros a<br />

gostarem da Matemática. A maioria dos alunos não gostava e apren<strong>de</strong>u<br />

a gostar por causa <strong>de</strong>le. Ele se preocupava com o aluno, penetrava na<br />

vida <strong>de</strong>les, trabalhava para a formação <strong>de</strong>les. Ele até rezava com eles<br />

antes <strong>de</strong> começar as aulas”, afirma Maria Ignez.<br />

A trajetória <strong>de</strong> Fi<strong>de</strong>lis mostra que hoje ele é, acima <strong>de</strong> tudo,<br />

uma pessoa que viveu bem. “Ele aproveitou ao máximo o tempo e as<br />

coisas boas. Isso é que vale. Se não fizer coisas boas, o que você <strong>de</strong>ixa<br />

nessa vida? Ele achava tempo para tudo: trabalho, filhos, pra ajudar,<br />

dançar... a gente não po<strong>de</strong> se queixar!”, emociona-se Maria Ignez. E<br />

completa: “Por isso hoje eu faço todo o sacrifício, tudo o que precisa<br />

por ele, pra que ele tenha, mesmo com a doença, um envelhecimento<br />

com qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida, que não falte nada, porque ele sempre se doou<br />

muito por todos nós”, conclui.<br />

Certamente todo o empenho da <strong>de</strong>dicada esposa, filhos, netos e<br />

bisnetos que o cercam com muito amor e carinho é merecido por este<br />

homem que, apesar <strong>de</strong> tudo, ainda tem muito a ensinar. Uma parte<br />

<strong>de</strong>sta lição fica registrada aqui. Em nome da UEL, muito obrigada<br />

professor Fi<strong>de</strong>lis.<br />

Janaína Castro<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

186


José Leocádio da Silva<br />

Com muito bom humor, José Leocádio da<br />

Silva aproveita o <strong>de</strong>scanso merecido <strong>de</strong>pois<br />

dos anos <strong>de</strong> trabalho. Ele é paranaense,<br />

“<strong>de</strong> muito longe”, Cornélio Procópio. Nesse<br />

município casou-se e teve os filhos, “dois<br />

casais”. Com a família já formada, José<br />

Leocádio resolveu mudar-se para Cambé:<br />

“Faz 30 anos que eu moro nessa mesma<br />

casa”.<br />

Começou a trabalhar na UEL quase por acaso:<br />

“Eu tava <strong>de</strong>sempregado e falei ‘vou andar a<br />

toa’ e sai lá”. Ao chegar foi informado por<br />

uns amigos que a <strong>Universida<strong>de</strong></strong> estava contratando tratorista. “Eu não<br />

tinha experiência com trator gran<strong>de</strong>, eu fiz a ficha e <strong>de</strong>pois eu consegui<br />

entrar, em 1982”. Durante os anos em que trabalhou na <strong>Universida<strong>de</strong></strong><br />

exerceu essa função: “Na Fazenda Escola eu arava a terra, gra<strong>de</strong>ava,<br />

plantava, colhia. Nos jardins, só roçava a grama”.<br />

A UEL, na lembrança do José Leocádio, era pequena: “Agora já<br />

cresceu bem”.<br />

Outra lembrança que ele faz questão <strong>de</strong> compartilhar é a da<br />

tempesta<strong>de</strong> que causou estragos na UEL, logo que começou a trabalhar.<br />

“Deu uma tempesta<strong>de</strong> que arrancou toda a estrutura dos equipamentos,<br />

nós tiramos tudo nas carretas pra fora. Isso à noite, quando chegamos<br />

no dia seguinte... o estrago”.<br />

“Tinha um senhor que nós trabalhávamos juntos, ele era<br />

administrador do CCA. Quando foi à tar<strong>de</strong>, tinha uma peroba bonita,<br />

grandona, ai ele falou assim ‘ se o senhor tivesse a vida que essa peroba<br />

tem, tava tranquilo’. Quando foi no outro dia, chegamos lá a peroba<br />

no chão, <strong>de</strong>pois da tempesta<strong>de</strong>”, conta, divertindo-se com a própria<br />

história.<br />

José Leocádio ainda mantém os hábitos do sítio, on<strong>de</strong> morou<br />

por muitos anos em Cornélio. Na <strong>Universida<strong>de</strong></strong> estava em contato<br />

com a “lida”, rotinas do campo: arar, plantar e colher. Hábitos que<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

187


parecem seduzi-lo. Atualmente, José Leocádio visita uma vez por mês<br />

a proprieda<strong>de</strong> que tem na cida<strong>de</strong> natal. Cria frango caipira. Nos fundos<br />

da casa tem um pequeno viveiro, com alguns franguinhos: “Eu trago<br />

os ovos pra cá (Cambé), pra chocar e <strong>de</strong>pois eu levo pra lá (Cornélio)”.<br />

Por falar em ovos: “Na Fazenda Escola, todo dia vinha da granja<br />

um ovo para cada funcionário, uns fritavam e outros levavam pra casa.<br />

E eu pegava, furava um buraquinho <strong>de</strong> um lado e <strong>de</strong> outro, chupava e<br />

guardava a casca. Ai eu tinha doze cascas <strong>de</strong> ovos guardados. Chegou<br />

um colega meu e falou ‘Seo Zé, vamos pegar essas cascas <strong>de</strong> ovos e pôr<br />

na ban<strong>de</strong>ja e vamos pôr na mochila <strong>de</strong> alguém?’. E pegou a ban<strong>de</strong>ja,<br />

embrulhou os ovos e escreveu ‘ovos especiais’. Quando foi <strong>de</strong> tar<strong>de</strong> o<br />

nosso amigo pegou a mochila e foi embora. Chegou em casa, colocou<br />

a mochila na mesa e foi comprar leite. E a mulher, fazendo a janta,<br />

mexeu na marmita e achou os ovos. Aí ela pegou a frigi<strong>de</strong>ira, quando<br />

tava quente foi quebrar os ovos... era tudo casca. No outro dia chegou o<br />

nosso amigo bravo, ‘Vocês vão ver, eu quase apanhei em casa ontem’”.<br />

José Leocádio gosta <strong>de</strong> contar histórias. É verda<strong>de</strong> que precisa<br />

<strong>de</strong> um incentivo da filha e da esposa. É um homem <strong>de</strong> pouca fala, mas<br />

riso fácil e sincero.<br />

Léia Dias Sabóia<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

188


Kleber <strong>de</strong> Cássio Ferreira Arantes<br />

Nasci em Cafeara-PR em 16/09/1965. Morei em<br />

Umuarama-PR até meus 18 anos (1983), quando<br />

me mu<strong>de</strong>i para <strong>Londrina</strong>-PR, pelo fato <strong>de</strong> ter<br />

passado no vestibular na UEL.<br />

Graduei-me em Educação Física pela UEL entre<br />

1983 e 1986. Fiz o “Curso <strong>de</strong> Língua e Civilização<br />

Francesa” na Aliança Francesa <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> <strong>de</strong><br />

1988 a 1993.<br />

Trabalhei no Banco Bra<strong>de</strong>sco <strong>de</strong> Umuarama<br />

(1981-1982) e na UEL (1984-1990), sendo<br />

aposentado por esta última em 1993. Trabalhei<br />

na Aliança Francesa <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>, on<strong>de</strong> me capacitei como Professor,<br />

Tradutor e Intérprete em Língua Francesa. Atualmente sou voluntário<br />

da Rádio <strong>Universida<strong>de</strong></strong> FM, on<strong>de</strong>, com mais dois amigos, é elaborado,<br />

executado e transmitido o Programa “Arte e Palavra”.<br />

Fui ator e cantor do “Coro Cênico Chaminé Batom” <strong>de</strong> 1988 a<br />

1990.<br />

Em 07/09/1990, já trabalhando na UEL, sofri um aci<strong>de</strong>nte<br />

automobilístico, provocando uma lesão medular que me ocasionou,<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> aquela data, paraplegia.<br />

Soube da criação e disposição <strong>de</strong>ste Portal aos servidores através<br />

do “Notícia” <strong>de</strong> 25/6/2008, o que me pareceu interessante, o suficiente,<br />

para visitar, conhecer e inscrever-me nele.<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

189


Laerte Matias<br />

Um terço do tempo que o professor Laerte<br />

Matias trabalhou na UEL foi longe das salas<br />

<strong>de</strong> aulas, exercendo funções administrativas.<br />

Esses 11 anos em cargos que não a docência<br />

fizeram o professor <strong>de</strong> Design ter uma<br />

visão crítica da <strong>Universida<strong>de</strong></strong> mesmo após a<br />

aposentadoria.<br />

A trajetória <strong>de</strong> Matias, paulista <strong>de</strong><br />

Mirandópolis – entre Andradina e Araçatuba<br />

-, como professor universitário, começou<br />

quando, trabalhando para as Centrais Elétricas<br />

<strong>de</strong> São Paulo (Cesp) mudou-se para Bauru. E foi lá que ele cursou o<br />

Bacharelado em Desenho Industrial. Antes, porém, havia trabalhado<br />

para a empresa na construção da Usina <strong>de</strong> Jupiá.<br />

Formado, passou no concurso para professor da <strong>Universida<strong>de</strong></strong><br />

<strong>Estadual</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> e veio para o norte do Paraná. Era 1979 quando<br />

assumiu e o <strong>de</strong>partamento ainda era Departamento <strong>de</strong> Comunicação<br />

e Artes. Apenas mais tar<strong>de</strong> foi separado um para comunicação, outro<br />

para artes e <strong>de</strong>pois o <strong>de</strong> artes dividiu-se em artes visuais e <strong>de</strong>sign.<br />

Na <strong>Universida<strong>de</strong></strong>, o professor fez especialização em ensino<br />

superior antes <strong>de</strong> começar o mestrado em 1981 no Rio <strong>de</strong> Janeiro. Neste<br />

mesmo ano, Matias participou da comissão <strong>de</strong> elaboração do mo<strong>de</strong>lo<br />

da ban<strong>de</strong>ira da UEL – sendo <strong>de</strong>le o <strong>de</strong>senho - e da regulamentação do<br />

uso <strong>de</strong> seu símbolo. “O símbolo já existia, nós só padronizamos o uso<br />

<strong>de</strong>le”, revela.<br />

O professor também atuou no Sindiprol (Sindicato dos Professores<br />

<strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>) <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início. Um dos momentos mais marcantes, a<br />

primeira greve, durou 42 dias e foi muito “pesada” para os servidores.<br />

Matias conta que até houve <strong>de</strong>sconto na folha <strong>de</strong> pagamento, mas<br />

estavam todos juntos pela causa: funcionários, professores e alunos.<br />

O Sindicato também foi muito importante para a re<strong>de</strong>mocratização da<br />

<strong>Universida<strong>de</strong></strong> no fim da ditadura militar. Para o professor: “Era um<br />

trabalho político intenso”.<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

190


Matias lembra também <strong>de</strong> ter participado da primeira eleição<br />

direta para reitor – que elegeu Jorge Bounassar Filho. Durante o<br />

mandato do quinto reitor (1986-1990), o professor trabalhou na<br />

Coor<strong>de</strong>nadoria <strong>de</strong> Pós-Graduação (atual Proppg) no Núcleo <strong>de</strong> Inovação<br />

Tecnológica. Outro projeto criado na CPG foi o Centro Integrado <strong>de</strong><br />

Pesquisa, que visava socializar instrumentos <strong>de</strong> pesquisa dos centros<br />

<strong>de</strong> estudos.<br />

“Queríamos quebrar as ‘gavetas’ que existem na pesquisa”, conta<br />

o professor a respeito <strong>de</strong>sta luta ainda atual.<br />

Na administração seguinte, <strong>de</strong> João Carlos Thomson (1990-<br />

1994), Matias assumiu o cargo <strong>de</strong> prefeito do campus pela primeira<br />

vez. Após o cargo, o professor se afastou da <strong>Universida<strong>de</strong></strong> para ser<br />

secretário <strong>de</strong> obras <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> e diretor da Pavilon – Companhia<br />

<strong>de</strong> Pavimentação <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> no mandato do prefeito Luiz Eduardo<br />

Cheida (1993-1996).<br />

Em 1997, Matias retornou como professor na UEL e voltou<br />

à prefeitura do campus durante a administração <strong>de</strong> Lygia Lumina<br />

Pupatto (2002-2006). Com a experiência <strong>de</strong> ter ocupado duas vezes<br />

o cargo, ele brinca que “a prefeitura do campus é a que tem menos<br />

verba, menos po<strong>de</strong>r e a maior câmara <strong>de</strong> vereadores – que inclui os<br />

funcionários, alunos e a comunida<strong>de</strong>”.<br />

Na primeira vez que foi prefeito do campus, conta, a UEL não<br />

tinha problemas com segurança, o que agora é visto como um dos<br />

gran<strong>de</strong>s <strong>de</strong>safios. Se parte da causa está na inserção geográfica do<br />

campus, o professor acredita que a falta <strong>de</strong> aproximação da comunida<strong>de</strong><br />

com a <strong>Universida<strong>de</strong></strong> também é um fator que contribui. “Principalmente<br />

a comunida<strong>de</strong> mais próxima <strong>de</strong>ve ser integrada, é importante até para<br />

a preservação do campus”, completa.<br />

O professor, que acompanhou o envelhecimento dos funcionários,<br />

muitas aposentadorias e pouca reposição nos quadros, também é a<br />

favor da terceirização <strong>de</strong> alguns serviços, como a jardinagem. Assim,<br />

acredita, outras ativida<strong>de</strong>s po<strong>de</strong>riam ser mais valorizadas, por exemplo,<br />

a manutenção na área eletrônica.<br />

Mas, há uma outra observação que não envolve somente a questão<br />

administrativa. Para o professor Matias a <strong>Universida<strong>de</strong></strong> per<strong>de</strong>u a sua<br />

i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>: funcionários não vão com orgulho <strong>de</strong> trabalhar e estão<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

191


<strong>de</strong>scompromissados com a Instituição. “A gente tinha uma relação<br />

diferente, eu fico chateado ao perceber isto”, lastima o professor.<br />

Como um último exemplo, ele lembra a forma como a sua<br />

aposentadoria foi comunicada: com uma carta assinada pelo próreitor<br />

<strong>de</strong> Recursos Humanos. “Quem presta concurso entra com uma<br />

portaria do reitor e sai com uma assinatura do pró-reitor, os alunos<br />

têm a formatura quando terminam o curso, a gente aposenta...”<br />

Apesar <strong>de</strong> ter passado anos na <strong>Universida<strong>de</strong></strong>, até a aposentadoria<br />

em 2007, e <strong>de</strong> confessar que não busca na Internet notícias da UEL,<br />

o professor tem a comum - nem por isto pequena - queixa <strong>de</strong> muitos<br />

aposentados: da pouca importância que dão para o aposentado nos<br />

locais on<strong>de</strong> eles trabalharam.<br />

Poliana Lisboa <strong>de</strong> Almeida<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

192


Ligado à UEL<br />

O pai <strong>de</strong> Lauro Gomes da Veiga Pessoa Filho foi um dos<br />

pioneiros da <strong>Universida<strong>de</strong></strong>. Aposentado, o engenheiro sente sauda<strong>de</strong>s<br />

O contato <strong>de</strong> Lauro Gomes da Veiga<br />

Pessoa Filho com a <strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>Estadual</strong><br />

<strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> começou muito antes do<br />

engenheiro elétrico ser convidado por<br />

Oscar Alves a assumir a Diretoria <strong>de</strong><br />

Equipamento do campus em 1977. O nome<br />

<strong>de</strong> Lauro já era conhecido entre os pioneiros<br />

da UEL, embora fosse mais conhecido por<br />

ser herdado <strong>de</strong> seu pai, Lauro Gomes da<br />

Veiga Pessoa.<br />

Lauro – o pai - foi um dos fundadores e diretor da Faculda<strong>de</strong><br />

<strong>Estadual</strong> <strong>de</strong> Filosofia, Ciência e Letras e também da Faculda<strong>de</strong><br />

<strong>Estadual</strong> <strong>de</strong> Direito <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>. Ambas criadas em 1956 e autorizadas<br />

a funcionar dois anos <strong>de</strong>pois, foram as primeiras instituições <strong>de</strong> ensino<br />

superior da cida<strong>de</strong> e, com outras três, originariam a <strong>Universida<strong>de</strong></strong> em<br />

1971.<br />

O trabalho do pai, advogado, ajudou Lauro a confirmar o<br />

seu <strong>de</strong>sinteresse pela área <strong>de</strong> humanas, e sim da parte técnica das<br />

coisas. Mas ele lembra que não escolheu outro caminho para evitar o<br />

relacionamento com as pessoas, afinal, “o relacionamento acaba sendo<br />

gran<strong>de</strong> do mesmo jeito”.<br />

Depois <strong>de</strong> acabar o curso técnico em edificações, no Instituto<br />

Politécnico <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> (Ipolon), voltado ao <strong>de</strong>senho técnico, Lauro<br />

quis trabalhar com a parte eletrônica dos <strong>de</strong>senhos, em vez <strong>de</strong> fazer<br />

Engenharia Civil como a maioria dos que saiam <strong>de</strong>ste curso. Como<br />

eram poucos cursos <strong>de</strong> Engenharia <strong>de</strong> Telecomunicações no país, ele<br />

foi para a faculda<strong>de</strong> em Santa Rita do Sapucaí (MG), on<strong>de</strong>, lembra,<br />

muitos outros engenheiros da mesma área também se formaram.<br />

Na década <strong>de</strong> 1970 era comum que os formandos saíssem<br />

empregados da faculda<strong>de</strong>. Apesar <strong>de</strong> ter outra proposta <strong>de</strong> emprego em<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

193


<strong>Londrina</strong>, Lauro veio para a UEL, para a Diretoria <strong>de</strong> Equipamentos.<br />

Trabalhou apenas alguns meses com o pai, que faleceu em 1978 quando<br />

era diretor do Centro <strong>de</strong> Estudos Sociais Aplicados.<br />

Ser recém-formado era um <strong>de</strong>safio que ele superou com o<br />

trabalho, “eu cheguei na <strong>Universida<strong>de</strong></strong> e aprendi fazendo. Porque,<br />

na escola, aprendíamos a fazer em uma sala e não em uma área tão<br />

gran<strong>de</strong>”. Lauro lembra que a central telefônica da <strong>Universida<strong>de</strong></strong>, em<br />

1977, tinha 60 ramais. Em um primeiro edital para central que foi feito,<br />

o número subiu para 400. Hoje, o número estimado é <strong>de</strong> quatro mil<br />

ramais em toda a UEL.<br />

“Eu participei ativamente na construção da <strong>Universida<strong>de</strong></strong>”,<br />

conta Lauro, responsável pela elaboração <strong>de</strong> um plano diretor para<br />

telecomunicações, que incluía a re<strong>de</strong> subterrânea - utilizada mais tar<strong>de</strong><br />

na colocação da Internet no campus.<br />

Poucos prédios, ruas e acessos sem asfaltos, assim era a UEL <strong>de</strong><br />

que Lauro recorda no final dos anos 1970. Apesar disto, era preciso<br />

uma equipe <strong>de</strong> manutenção eficiente. O engenheiro <strong>de</strong>staca que<br />

todas as conquistas na Diretoria só foram possíveis por causa da<br />

boa vonta<strong>de</strong> do pessoal que trabalhava com ele. Estes profissionais<br />

eram treinados e a Diretoria chegou a época em que quase 85% dos<br />

serviços <strong>de</strong> manutenção (bebedouros, máquina <strong>de</strong> escrever – mais<br />

tar<strong>de</strong> o computador —, micro-ondas,...) eram feitos por eles. “Pouco<br />

era mandado para fora da <strong>Universida<strong>de</strong></strong>, o que gerava uma economia”,<br />

explica.<br />

O funcionário explica que em telecomunicações nem tudo é um<br />

monte <strong>de</strong> fios. As amiza<strong>de</strong>s também eram fortalecidas com os novos<br />

<strong>de</strong>safios e era preciso ter vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> resolver os problemas. Nessa época<br />

a UEL chegou a ter uma das maiores centrais telefônicas particulares<br />

do Paraná, per<strong>de</strong>ndo para poucos municípios inteiros.<br />

Com 44 anos Lauro se aposentou na UEL para administrar<br />

o negócio próprio, sabendo que novas leis po<strong>de</strong>riam retardar sua<br />

aposentadoria. Mesmo com bons frutos no trabalho, Lauro vinha<br />

planejando a sua saída da <strong>Universida<strong>de</strong></strong>. “Quem está trabalhando em<br />

um órgão público é bom se preparar para a aposentadoria, porque é<br />

difícil ficar parado e até financeiramente é interessante”, aconselha.<br />

Sua empresa <strong>de</strong> pagers atendia a região sul do país. Com o<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

194


surgimento do celular, ele passou a trabalhar com operadoras <strong>de</strong>sta<br />

nova tecnologia, que <strong>de</strong>ixava o pager ultrapassado, e ainda preten<strong>de</strong><br />

ampliar suas ofertas.<br />

O engenheiro parou <strong>de</strong> trabalhar na <strong>Universida<strong>de</strong></strong>, mas nem<br />

por isto <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> sentir falta <strong>de</strong>la e do relacionamento que tinha com<br />

as pessoas. “Eu conhecia muita gente por trabalhar em prestação <strong>de</strong><br />

serviço”.<br />

Quanto à aposentadoria na UEL, o funcionário ressalta a<br />

importância <strong>de</strong> projetos como o Portal do Aposentado, para relembrar<br />

pessoas conhecidas. “Porque quando o funcionário aposenta, ele não<br />

sai avisando, então é bom saber o que aconteceu com aquela pessoa”,<br />

finaliza Lauro – que fez a sua parte.<br />

Poliana Lisboa <strong>de</strong> Almeida<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

195


Ubiratan <strong>de</strong> Oliveira e Leange Severo<br />

A história dos jornalistas Ubiratan<br />

<strong>de</strong> Oliveira Alves e Leange Severo<br />

Alves começa a cerca <strong>de</strong> mil<br />

quilômetros <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>. Mais<br />

precisamente na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Santa<br />

Maria (RS). Ubiratan e a esposa,<br />

Leange, foram convidados a<br />

trabalhar na UEL pela ativida<strong>de</strong><br />

que já faziam no interior gaúcho.<br />

Na época não existiam muitos<br />

cursos <strong>de</strong> jornalismo. Ubiratan apren<strong>de</strong>u Comunicação Social na<br />

Escola do Exército do Rio <strong>de</strong> Janeiro, tendo aulas <strong>de</strong> televisão na<br />

extinta TV Excelsior e <strong>de</strong> Jornalismo impresso na redação do Correio<br />

do Brasil. O restante foi adquirido com a experiência, como aconteceu<br />

com outros profissionais.<br />

De volta a Santa Maria, Bira, como o jornalista é conhecido,<br />

trabalhou na <strong>Universida<strong>de</strong></strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Santa Maria (UFSM) a partir<br />

<strong>de</strong> 1965, logo após o seu início. Foi assessor <strong>de</strong> imprensa do primeiro<br />

reitor, José Mariano da Rocha Filho, um médico <strong>de</strong> quem recorda como<br />

um batalhador do ensino superior no país. Não à toa, a UFSM, lembra<br />

o professor, foi a primeira universida<strong>de</strong> fe<strong>de</strong>ral brasileira a funcionar<br />

em uma cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> interior.<br />

Ubiratan também assessorou o segundo reitor da <strong>Universida<strong>de</strong></strong>,<br />

coor<strong>de</strong>nou o ensino a distância e projetos <strong>de</strong> extensão, como o Crutac<br />

(Centro Rural <strong>de</strong> Treinamento e Ação Comunitária) e o Projeto Rondon.<br />

Tudo isto, diz, não porque ele “fazia tudo”, mas porque no começo a<br />

estrutura era diminuta e havia menos pessoas qualificadas.<br />

O Crutac, explica, era realizado na região <strong>de</strong> acordo com o pedido<br />

das prefeituras. A intenção era que os projetos ajudassem a comunida<strong>de</strong><br />

sem ser assistencialista. Já o Projeto Rondon envolvia algumas etapas.<br />

Em 1968 ele foi criado com a chamada Operação Zero, que levou<br />

estudantes do ensino superior para conhecer a floresta amazônica.<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

196


A partir do ano seguinte começaram a ser criados<br />

os campi avançados. A UFSM foi a primeira a ter o seu campus, em<br />

Boa Vista (RO). Os campi funcionavam o ano inteiro para a extensão<br />

universitária e os alunos chegavam a passar um mês no local.<br />

Como a <strong>Universida<strong>de</strong></strong> em Santa Maria foi a primeira a enviar<br />

alunos para o projeto, Ubiratan foi, <strong>de</strong>sta vez como jornalista, fazendo<br />

matérias para O Globo, no Rio, e para Manaus. Ele conta, por exemplo,<br />

que em 1969, lá no norte que os alunos – e ele – conheceram as bebidas<br />

em lata. Era mais barato trazer latinhas <strong>de</strong> Miami do que pagar pelo<br />

vasilhame – que custava muito e não compensava voltar para o sul –<br />

toda a vez que alguém queria beber cerveja ou refrigerante.<br />

No mesmo ano em que entrou para a UFSM, 1965, Ubiratan e<br />

Leange se casaram. Na época do Projeto Rondon, formada em Letras<br />

e dando aulas na <strong>Universida<strong>de</strong></strong>, a professora passava algum tempo<br />

no campus avançado lecionando cursos não regulares. Ela também<br />

estava começando o novo curso <strong>de</strong> Jornalismo.<br />

“Em 1975, o reitor me chamou porque tinha alguém que vinha<br />

<strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> para saber sobre a extensão”, conta Ubiratan. E aquela<br />

pessoa era Marco Antônio Fiori, que mais tar<strong>de</strong> foi reitor da UEL.<br />

Depois da viagem a Santa Maria e <strong>de</strong> um encontro sobre o Crutac<br />

em Vitória, a UEL estava disposta a trazer Leange e Ubiratan para<br />

<strong>Londrina</strong>. Ele também tinha programa em uma rádio e na televisão<br />

educativa. Leange estava se formando em Jornalismo e já assumiu<br />

aulas no curso <strong>de</strong> Comunicação que também era novo aqui – <strong>de</strong> 1974.<br />

Ele veio como chefe do Grupo Tarefa Universitária, com diretores <strong>de</strong><br />

centros e outros nomeados, que mais tar<strong>de</strong> viria a ser a Coor<strong>de</strong>nadoria<br />

<strong>de</strong> Extensão e, hoje, é a Pró-Reitoria <strong>de</strong> Extensão.<br />

Leange foi a primeira jornalista formada a trabalhar na Folha<br />

<strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>. Ela entrou lá em 1976, mas como o Departamento <strong>de</strong><br />

Comunicação (na época ainda Comunicação e Artes) precisava <strong>de</strong><br />

professores, ela <strong>de</strong>ixou o emprego para assumir as aulas. Ubiratan<br />

entrou na sala <strong>de</strong> aula apenas em 1977, quando os primeiros alunos<br />

começaram a ter as disciplinas <strong>de</strong> rádio e televisão. Mesmo assim o<br />

professor lembra das dificulda<strong>de</strong>s que eram, com as aulas no Edifício<br />

Comendador Júlio Fuganti com uma câmera amadora. Mais tar<strong>de</strong> as<br />

aulas passaram a ser no CCH.<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

197


Comandando a extensão, Bira lembra que quando chegou aqui o<br />

Crutac era um posto <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> em que alunos atendiam a comunida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> Paiquerê. Ele ressalta que este não é o papel da <strong>Universida<strong>de</strong></strong>, porque<br />

a saú<strong>de</strong> <strong>de</strong>ve ser cobrada como um direito e os estudantes não <strong>de</strong>vem<br />

substituir o profissional, caso contrário uma prefeitura <strong>de</strong>verá parar <strong>de</strong><br />

contratar os seus profissionais.<br />

O campus <strong>de</strong> Limoeiro do Norte, no Ceará, era cuidado pela UEL<br />

no projeto Rondon e funcionava assim como o <strong>de</strong> Bela Vista. Ubiratan,<br />

diretor, e Leange foram várias vezes e ficaram um tempo a mais para<br />

concluir a estrutura que o campus tinha na cida<strong>de</strong>. Aquela fase do<br />

projeto terminou nacionalmente em 1985, mas o professor acredita<br />

que na comunida<strong>de</strong> daquela cida<strong>de</strong> cearense sempre haverá um pouco<br />

<strong>de</strong> presença da UEL.<br />

Ubiratan, que também foi diretor da Editora e Gráfica da UEL,<br />

lembra da falta <strong>de</strong> estrutura física da <strong>Universida<strong>de</strong></strong>. “Nós estacionávamos<br />

o carro no barro lá no estacionamento da Reitoria, tinha até aqueles<br />

ferros para limpar os pés antes <strong>de</strong> entrar nos prédios”. O barro também<br />

estava na roupa dos alunos, principalmente nos dias <strong>de</strong> chuva, quando<br />

eles chegavam em sala <strong>de</strong> aula com as calças sujas até o joelho.<br />

Bira também falou da falta <strong>de</strong> estrutura física do Centro <strong>de</strong><br />

Comunicação, Educação e Artes, que era nas “casinhas <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira”,<br />

que estão lá até hoje. “A UEL física era muito mal equipada”, diz.<br />

Mas eles compreen<strong>de</strong>m que agora não há mais verbas como<br />

antigamente, como na época em que a <strong>Universida<strong>de</strong></strong> estava sendo<br />

montada.<br />

Quanto aos problemas com equipamentos, ou a falta <strong>de</strong>les, a<br />

professora Leange <strong>de</strong>clara que a <strong>Universida<strong>de</strong></strong> consegue contornar<br />

estes problemas com a parte teórica. “A prática só é válida quando tem<br />

embasamento. E não existe isto que a prática é diferente da teoria. A<br />

prática mal feita é que é diferente da teoria.”<br />

Nos anos <strong>de</strong> UEL, além <strong>de</strong> estar em sala <strong>de</strong> aula, Leange foi chefe<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>partamento, esteve no Conselho Universitário e foi diretora da<br />

Rádio <strong>Universida<strong>de</strong></strong>. Ubiratan preferiu não assumir mais cargos.<br />

Quanto a dar aulas, ele compara o ofício ao sacerdócio quando se quer<br />

fazer bem feito.<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

198


O professor Ubiratan aposentou-se em 1993, mas continua dando<br />

palestras. Ainda neste ano ele vai para Santa Maria dar uma palestra<br />

sobre a importância da publicida<strong>de</strong> no jornalismo.<br />

A professora Leange aposentou-se em 1995. Em seguida prestou<br />

concurso e voltou a dar aula na UEL, mas acabou pedindo <strong>de</strong>missão.<br />

Des<strong>de</strong> 2002 ela é professora e coor<strong>de</strong>nadora do curso <strong>de</strong> Jornalismo<br />

na Unopar.<br />

Depois <strong>de</strong> aposentados, os professores passaram dois anos no<br />

Rio Gran<strong>de</strong> do Sul. Ele como diretor, ela como editora <strong>de</strong> um jornal,<br />

mas resolveram voltar para <strong>Londrina</strong>. O casal tem três filhos: um<br />

engenheiro civil e professor da UEL, um arquiteto e uma jornalista,<br />

que é formada na <strong>Universida<strong>de</strong></strong>.<br />

Poliana Liboa <strong>de</strong> Almeida<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

199


Uma escolha, uma história<br />

A auxiliar <strong>de</strong> enfermagem Ledvina Piccelli tem hoje como segunda<br />

família todos aqueles que trabalharam com ela na Clínica Odontológica<br />

da UEL. E pensar que tudo começou com uma in<strong>de</strong>cisão...<br />

A simplicida<strong>de</strong> e a simpatia da auxiliar <strong>de</strong><br />

enfermagem Ledvina Alvarez Piccelli ficam<br />

evi<strong>de</strong>ntes assim que ela começa a contar a<br />

sua história <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> 30 anos <strong>de</strong> serviços<br />

prestados à <strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>Estadual</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Londrina</strong>. História que, em certo ponto,<br />

confun<strong>de</strong>-se com a da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>.<br />

A família veio do interior <strong>de</strong> São Paulo e<br />

se estabeleceu no norte do Paraná para<br />

trabalhar. Dono <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong> na zona<br />

leste da cida<strong>de</strong>, o avô materno <strong>de</strong> Ledvina<br />

foi eternizado na região. Hoje, a rua<br />

Arcílio Diassi, no Conjunto Eucaliptos é uma merecida homenagem ao<br />

pioneiro.<br />

Nascida na década <strong>de</strong> 1950, época em que o café estava em pleno<br />

apogeu na cida<strong>de</strong> e região, a londrinense Ledvina passou a fazer parte<br />

da UEL em 1976. Antes, estudou o primário (ensino fundamental)<br />

ainda quando morava na zona rural e, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> uma pausa nos estudos<br />

que durou até os 21 anos, concluiu o ensino médio.<br />

A partir <strong>de</strong>sse momento, Ledvina enfrentou uma das dúvidas mais<br />

comuns <strong>de</strong> todo aluno que conclui o ensino médio: o que fazer agora?<br />

Foi quando, por volta <strong>de</strong> 1973, optou por um curso profissionalizante<br />

<strong>de</strong> prótese <strong>de</strong>ntária, no Colégio <strong>de</strong> Aplicação. “Meu irmão que <strong>de</strong>u<br />

palpite nessa época, para que eu fizesse o curso. Ele dizia: ‘Ah! Faz,<br />

porque vai ser bom, é uma profissão que você vai apren<strong>de</strong>r’”, lembra.<br />

Mal sabia ela que, a partir do momento em que optou em fazer o curso,<br />

começava a trilhar o caminho que a levou para uma vida <strong>de</strong> <strong>de</strong>dicação<br />

à Clínica Odontológica da UEL.<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

200


Caminho que teve certa resistência no começo. “Lá no curso<br />

<strong>de</strong> prótese, eu estava perto da Clínica Odontológica da UEL. Aí teve<br />

o curso <strong>de</strong> auxiliar odontológica. Nos dois, entrei na primeira turma!<br />

Foi quando o professor <strong>de</strong>sse curso, que era o doutor Toshihiko [Tan,<br />

professor <strong>de</strong> Odontologia aposentado pela UEL] me convidou para<br />

trabalhar na Clínica Odontológica, mas aí não quis”, relembra.<br />

Tempos <strong>de</strong>pois, não teve jeito. Como numa obra do <strong>de</strong>stino, um<br />

rapaz que estudava com ela no curso <strong>de</strong> prótese <strong>de</strong>ntária – Argemiro<br />

– <strong>de</strong>u a dica para Ledvina procurar novamente Toshihiko, pois soube<br />

que a Clínica Odontológica precisava <strong>de</strong> funcionários.<br />

Foi o que ela fez e então passou a ser estagiária na Clínica. Cinco<br />

meses <strong>de</strong>pois, em 7 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1976, foi efetivada e virou funcionária<br />

do laboratório, como celetista. Dois anos mais tar<strong>de</strong>, fez o concurso e<br />

passou a ser servidora da UEL. Época <strong>de</strong> crescimento profissional, é<br />

verda<strong>de</strong>, mas também não faltaram dificulda<strong>de</strong>s. “Trabalhei dois anos<br />

no laboratório, mas não consegui me acertar. Minha capacida<strong>de</strong> foi<br />

pouca pra ficar ali, talvez me faltasse mais tempo [<strong>de</strong> experiência]”,<br />

admite. “Então, em vez <strong>de</strong> o doutor Toshihiko me mandar embora<br />

[risos], ele me transferiu para as ativida<strong>de</strong>s da Clínica”, relembra com<br />

bom humor a fase difícil.<br />

A partir daí, a vida começou a mudar: veio o casamento e<br />

a chegada do filho mais velho. Na Clínica Odontológica, não foi<br />

diferente. “Precisavam <strong>de</strong> gente para trabalhar no centro cirúrgico.<br />

Aí uma professora <strong>de</strong> lá, a Dra. Yoko [Ei<strong>de</strong> Yoko Uchida Athanazio],<br />

pediu para que eu passasse a trabalhar no centro cirúrgico.” Além do<br />

convite, foi necessário fazer uma prova e Ledvina não <strong>de</strong>cepcionou: foi<br />

aprovada e promovida à instrumentadora cirúrgica. É, mas quanto<br />

maior o cargo... “Chegava lá cedo, às seis horas da manhã e daí ia fazer<br />

a rotina... por tudo em or<strong>de</strong>m, não é?”, brinca. Dedicada, ela realmente<br />

procurava não falhar quando o assunto era organização: “Conferia o<br />

que estava certo, o que era necessário ser feito e começava a aten<strong>de</strong>r<br />

os professores, alunos e pacientes que ficavam na sala <strong>de</strong> espera.<br />

Tinha professor que às sete horas começava a fazer cirurgia, então eu<br />

ia para o centro cirúrgico aten<strong>de</strong>r eles, pegar material, instrumentos,<br />

medicamentos, chamar aluno... Sempre dava atenção a eles, para tudo<br />

que precisassem eu estava lá!”, gaba-se.<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

201


Mais do que apenas ser um “braço direito” dos professores,<br />

Ledvina fazia às vezes <strong>de</strong> orientadora dos estudantes universitários<br />

quando necessário. Com um sorriso, ela se recorda: “Sempre fui muito<br />

exigente com os alunos. Se é pra fazer certo, tem que fazer certo! Se<br />

não po<strong>de</strong> pegar <strong>de</strong> luva aqui, então não po<strong>de</strong> pegar <strong>de</strong> luva! Hoje,<br />

quando me encontro com eles, todos falam que não se esquecem <strong>de</strong><br />

mim porque eu sempre fui muito brava com eles. ‘Brava para vocês<br />

apren<strong>de</strong>rem!’, respondo. Era obrigação da gente orientar”, analisa. E,<br />

ao que parece, <strong>de</strong>u certo ser exigente. “Recentemente, eu me encontrei<br />

com um ex-aluno que falou assim: ‘Nunca mais peguei num foco [<strong>de</strong><br />

contaminação. Na odontologia, po<strong>de</strong> ser a cuspi<strong>de</strong>ira, o refletor, a<br />

estufa, o aparelho compressor, <strong>de</strong>ntre outros] com luva porque você<br />

gritou comigo aquele dia!”, conta. Mas, logo em seguida, não <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong><br />

amenizar: “Mas sempre surgia a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> brincar, bater um<br />

papo, também... Não era assim tão rígido.”, esclarece.<br />

A aposentadoria<br />

Os anos se passaram e Ledvina já era mãe <strong>de</strong> quatro filhos na<br />

década <strong>de</strong> 1990. Para ajudar no orçamento familiar, trabalhava em dois<br />

empregos. Na ocasião, o seu cargo já era <strong>de</strong> auxiliar <strong>de</strong> Enfermagem na<br />

Clínica Odontológica, mas o cansaço e a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong>, segundo ela,<br />

<strong>de</strong>dicar-se mais à família pesaram na <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong> se aposentar na UEL<br />

anos mais tar<strong>de</strong>. “Deixei muito <strong>de</strong> dar atenção aos filhos”, lamenta. “Se<br />

eu tivesse trabalhado menos, talvez eu tivesse tido tempo <strong>de</strong> dar mais<br />

atenção a eles... Mas eu tinha que trabalhar, pra ter dinheiro pra eles,<br />

pra dar o estudo pra eles”, justifica. “Nunca os coloquei para trabalhar<br />

enquanto novos. Eu dizia pra eles: ‘eu vou fazer o que eu posso pra vocês<br />

estudarem’. Estou formando o último agora”, fala com orgulho. Até<br />

hoje no mesmo “segundo emprego” dos anos 1990, Ledvina sonha<br />

em se aposentar nele também. “Aí, é só passear! [risos] A viagem que<br />

aparecer eu vou!”, promete.<br />

E se no passado havia dúvida quanto ao que escolher<br />

como profissão, hoje ela mostra satisfação pela <strong>de</strong>cisão tomada,<br />

primeiramente com o auxílio do irmão e <strong>de</strong>pois com o amigo lá no<br />

início dos anos setenta. “Eu sempre gostei muito <strong>de</strong> trabalhar com<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

202


isso, principalmente quando eu passei a trabalhar mais na parte <strong>de</strong><br />

Enfermagem. A gente nasce <strong>de</strong>stinada a um caminho na vida. Acho<br />

que nasci pra isso”, discursa. Mais que a realização, a “escolha” <strong>de</strong>u<br />

a Ledvina a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong>, como ela mesma afirma, fazer parte <strong>de</strong><br />

uma outra família. “Eu tive duas famílias na verda<strong>de</strong>, uma aqui em<br />

casa e outra lá na Clínica Odontológica. Ainda ligo pra eles, mantenho<br />

contato. Eu me aposentei em 2007, saí <strong>de</strong> lá, mas, na verda<strong>de</strong>, ainda<br />

estou lá <strong>de</strong>ntro”, enfatiza. “Outro dia mesmo fui lá e tive uma recepção<br />

emocionante. Então, faz parte da vida da gente, faz parte da minha<br />

história... Um pessoal que nunca vou esquecer... Dá uma sauda<strong>de</strong><br />

muito gran<strong>de</strong>”, confessa.<br />

A UEL também sente sauda<strong>de</strong>s, Ledvina.<br />

Gustavo Ticiane<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

203


Leonel e sua Monark<br />

O funcionário Leonel Martins Machado trabalhou na Clínica<br />

Odontológica por mais <strong>de</strong> vinte anos e o seu meio <strong>de</strong> locomoção para<br />

percorrer os 8,5 quilômetros era uma bicicleta<br />

Leonel Martins Machado nasceu no<br />

ano <strong>de</strong> 1935. Começou a trabalhar na<br />

<strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>Estadual</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong><br />

com 46 anos. O emprego na Clínica<br />

Odontológica foi para ele o mais<br />

estável, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> tantos anos <strong>de</strong><br />

trabalho duro. Durou até os 70 anos,<br />

quando foi efetivada a aposentadoria<br />

compulsória (obrigatória quando a<br />

pessoa completa 70 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>).<br />

Este senhor, que mora no Cafezal I, a oito quilômetros e meio do<br />

local <strong>de</strong> trabalho – medidos por uma Kombi – tinha uma companheira<br />

durante estes anos e que, confessa, “agora está aposentada também”,<br />

uma Monark 82. A bicicleta vermelha, sem marcha, ainda com os<br />

a<strong>de</strong>sivos originais carregou Leonel que economizava em passes<br />

<strong>de</strong> ônibus enquanto observava pessoas mais novas <strong>de</strong>scerem para<br />

empurrar suas bicicletas nas Avenidas Inglaterra e Duque <strong>de</strong> Caxias.<br />

O funcionário trabalhou a maior parte dos anos em que esteve<br />

na <strong>Universida<strong>de</strong></strong> na Clínica Odontológica, na Rua Pernambuco. Só não<br />

esteve lá durante os quatro meses que trabalhou “emprestado” para o<br />

Hospital Universitário. Ele entrara para a UEL em um concurso em<br />

que outras sessenta e cinco pessoas concorriam.<br />

Nos anos <strong>de</strong> <strong>Universida<strong>de</strong></strong>, Leonel Machado ficou entre a zeladoria<br />

e o almoxarifado da Clínica Odontológica Universitária. A experiência<br />

anterior em limpeza fora pequena, quando esteve no exército, mas o<br />

funcionário avisa que tinha noção <strong>de</strong> como era e contou com a ajuda<br />

dos funcionários mais antigos.<br />

Quando ele entrou eram dois homens e oito mulheres no serviço<br />

<strong>de</strong> limpeza, mas Leonel acredita que não tem diferença no trabalho. Ele<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

204


se diverte ao contar <strong>de</strong> quando teve que ajudar duas outras zeladoras<br />

a limpar o vidro <strong>de</strong> uma clínica e da faxina pesada que fez quando<br />

trabalhou no Hospital Universitário, “as pessoas <strong>de</strong> lá queriam que eu<br />

ficasse no HU, me amarrar lá”.<br />

Leonel Machado, que cursou até a 3ª série do ensino primário<br />

substituiu um funcionário com ensino fundamental completo no<br />

almoxarifado. Ele fala que a administração sempre acreditou nele, que<br />

acompanhava sozinho as equipes <strong>de</strong> <strong>de</strong><strong>de</strong>tização aos fins <strong>de</strong> semana,<br />

quando era preciso.<br />

Além do apoio dos superiores, o funcionário não esquece dos<br />

outros que trabalharam com ele, “graças a Deus na UEL eu só fiz<br />

amigos”. Uma parte <strong>de</strong>les também se <strong>de</strong>ve ao futebol. Até os 59 anos<br />

Leonel jogou na Apuel, “tinha um japonês que eu marcava sempre e<br />

que me perguntava quando eu ia parar”, e <strong>de</strong>pois foi para a categoria<br />

manter.<br />

Sempre que passa pelo centro da cida<strong>de</strong>, Leonel vai lá na Clínica<br />

fazer uma visita aos amigos. “Ah, se eu fico muito tempo sem aparecer<br />

eles perguntam.”<br />

Depois <strong>de</strong> uma conversa e na hora <strong>de</strong> registrar o momento,<br />

Leonel que já havia sido fotografado com sua companheira <strong>de</strong> mais<br />

<strong>de</strong> 25 anos em um cômodo vazio da casa a leva para a varanda. E lá, a<br />

Monark 82 vermelha com o dono, que não tem nenhuma foto com ela.<br />

Ele olha todo orgulhoso no visor da máquina digital sua bicicleta bem<br />

conservada, ainda com os a<strong>de</strong>sivos originais.<br />

Poliana Lisboa <strong>de</strong> Almeida<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

205


Outra vida na UEL<br />

Leonilda <strong>de</strong> Souza e Silva trabalhou como zeladora em vários<br />

setores da <strong>Universida<strong>de</strong></strong> antes <strong>de</strong> pegar transferência para o<br />

Ambulatório do Hospital <strong>de</strong> Clínicas (AHC), on<strong>de</strong> ficou 13 anos até<br />

a aposentadoria<br />

A vida <strong>de</strong> Leonilda <strong>de</strong> Souza e Silva<br />

mudou quando ela começou a trabalhar<br />

na <strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>Estadual</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>.<br />

Antes <strong>de</strong> 1977, a funcionária era dona <strong>de</strong><br />

casa e empregada doméstica, mas, <strong>de</strong>pois<br />

<strong>de</strong> entrar na UEL, ela conseguiu sustentar<br />

a casa com o seu salário sem precisar da<br />

ajuda do marido.<br />

Leonilda revela que seu pai criou as<br />

filhas para se casarem. Ele não <strong>de</strong>ixava<br />

elas estudarem – pois “o homem é que <strong>de</strong>veria sustentar a casa” - e só<br />

registrou as filhas antes <strong>de</strong> seus casamentos, para que tivessem ida<strong>de</strong><br />

suficiente. Assim, com 15 anos Leonilda foi registrada como tendo 17<br />

para o matrimônio.<br />

Ela lembra que veio do sítio para a cida<strong>de</strong> sem saber <strong>de</strong> muita<br />

coisa. Como empregada na casa <strong>de</strong> um patrão <strong>de</strong> seu marido, acabou<br />

<strong>de</strong>scobrindo como se aten<strong>de</strong>r ao telefone <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> colocá-lo no gancho<br />

enquanto ia chamar o patrão e per<strong>de</strong>r a ligação.<br />

Como seu vizinho era funcionário da UEL, Leonilda pediu para<br />

que ele avisasse quando abrissem vagas na <strong>Universida<strong>de</strong></strong>. Seis meses<br />

<strong>de</strong>pois <strong>de</strong> preencher a ficha, ela estava começando o trabalho. Daquela<br />

época, diz em poucas palavras: “a UEL era muito linda”.<br />

José Ramos da Silva, marido <strong>de</strong> Leonilda, trabalhava como<br />

servente <strong>de</strong> pedreiro e começou a levar <strong>de</strong> bicicleta a mulher ao<br />

trabalho. “Ele me levara na garupa até o pé <strong>de</strong> Santa Bárbara, on<strong>de</strong> tem<br />

aquele letreiro escrito: <strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>Estadual</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>”, lembra.<br />

Na UEL a funcionária sempre trabalhou como zeladora. Em<br />

1977, começou na Coor<strong>de</strong>nadoria <strong>de</strong> Recursos Humanos (CRH, atual<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

206


PRORH). Depois foi para a prefeitura do campus e passou pela CAE<br />

(atual Prograd), pela Editora e Reitoria. Mas, quando começou a<br />

construção do Ambulatório do Hospital das Clínicas (AHC), Leonilda<br />

pensou que po<strong>de</strong>ria trabalhar lá. Afinal, além <strong>de</strong> ter o salário um pouco<br />

maior, ela estaria sempre no mesmo lugar.<br />

Com o AHC pronto, pediu transferência e, em alguns meses, já<br />

estava no novo local. O serviço era mais fácil; antes, quando trabalhava<br />

na Reitoria, por exemplo, “tinha que pegar os sacos <strong>de</strong> lixo e levar lá<br />

embaixo”, já no Hospital das Clínicas o lixo era recolhido lá mesmo.<br />

A funcionária conta também que ficava responsável por limpar as<br />

clínicas, mas os corredores eram lavados pelos homens com o “rodão”.<br />

Até o marido <strong>de</strong> Leonilda veio trabalhar na <strong>Universida<strong>de</strong></strong>, on<strong>de</strong><br />

foi jardineiro e segurança - <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> uma cirurgia no coração. Mas ela<br />

conta que José não gostava <strong>de</strong> ficar sozinho como guarda e chegava<br />

bravo quando levava bronca por chamar a atenção <strong>de</strong> alguém que<br />

estacionava o carro errado. A funcionária lembra que os carros tinham<br />

que estar estacionados certinho e o marido zelava por isto.<br />

Leonilda, que achava a UEL um bom lugar para se trabalhar,<br />

aposentou-se ano passado por estar muito cansada. O marido tinha<br />

falecido alguns anos antes e ela po<strong>de</strong> começar a viajar – o que sempre<br />

gostou, mesmo contrariando o companheiro. “Eu parei <strong>de</strong> trabalhar e<br />

na outra semana estava na praia”, conta a funcionária que já foi para a<br />

Bahia, Brasília, Minas Gerais, Foz do Iguaçu e outros <strong>de</strong>stinos, muitas<br />

vezes <strong>de</strong> excursão com amigas feitas na <strong>Universida<strong>de</strong></strong>.<br />

Além das viagens, a funcionária já reformou a casa que o marido<br />

construiu, em que mora sozinha. Leonilda, mesmo com pouco estudo,<br />

sabe que o dinheiro que ganha tem que servir para aproveitar a sua<br />

vida. Sabedoria <strong>de</strong> quem viu o marido falecer e <strong>de</strong>ixar para outros o<br />

dinheiro que - a muito custo - conseguiu em vida.<br />

Poliana Lisboa <strong>de</strong> Almeida<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

207


Da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Direito<br />

Leslie Voigt Cosentino do Valle Rego, advogada e ex-aluna<br />

da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Direito, é lembrada pelos anos em que esteve na<br />

Assessoria <strong>de</strong> Legislação e Ensino da CAE<br />

Leslie Voigt estudou na Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Direito <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>, on<strong>de</strong> sua mãe<br />

esteve na primeira turma. Leslie era<br />

professora da re<strong>de</strong> estadual, no Colégio<br />

Hugo Simas, e foi convidada pelo<br />

diretor Nilo Ferraz <strong>de</strong> Carvalho para<br />

ser secretária da Faculda<strong>de</strong>. Como a<br />

Faculda<strong>de</strong> já estava ligada ao estado do<br />

Paraná, ela foi cedida para trabalhar na<br />

fundação.<br />

Quando o governo cortou as<br />

disposições, a funcionária manteve os<br />

dois empregos até a <strong>Universida<strong>de</strong></strong> ser reconhecida como instituição<br />

pública.<br />

Na CAEG (Coor<strong>de</strong>nadoria <strong>de</strong> Assuntos <strong>de</strong> Ensino <strong>de</strong> Graduação)<br />

Leslie passou pelo Colegiado dos Cursos, Assessoria <strong>de</strong> Currículos e<br />

Programas e Assessoria <strong>de</strong> Legislação e Ensino, on<strong>de</strong> ficou por mais<br />

tempo. Como assessora <strong>de</strong> legislação <strong>de</strong> ensino, ela era responsável por<br />

pareceres que embasariam a <strong>de</strong>fesa jurídica.<br />

Em 2000 a advogada, que já trabalhava no período noturno<br />

na Unopar, no mesmo cargo, aposentou-se da UEL. Ela conta que o<br />

trabalho é muito parecido, embora na faculda<strong>de</strong> particular são incluídas<br />

questões financeiras.<br />

Poliana Lisboa <strong>de</strong> Almeida<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

208


Conheça o casal Fortes<br />

Licéia Cianca Fortes e Waldyr Gutiérrez Fortes, professores<br />

<strong>de</strong> Biblioteconomia e <strong>de</strong> Comunicação, participaram da história<br />

da <strong>Universida<strong>de</strong></strong> assim como a UEL faz parte da vida <strong>de</strong>les<br />

A londrinense Licéia começou a trabalhar na<br />

UEL em 1973 em um cargo administrativo<br />

ainda no Colégio Hugo Simas. Ela<br />

trabalhava na assessoria <strong>de</strong> planejamento,<br />

porta com porta com a reitoria <strong>de</strong> Oscar<br />

Alves.<br />

Dois anos <strong>de</strong>pois, foi para a secretaria<br />

executiva do Centro que mais tar<strong>de</strong> viria<br />

a ser o CECA (Centro <strong>de</strong> Educação, Comunicação e Artes), cargo<br />

que ocupou até 1985. “Neste meio tempo”, conta Licéia, “apareceu o<br />

Waldyr”.<br />

O Waldyr <strong>de</strong> quem fala é Waldyr Gutiérrez Fortes. Em 1977,<br />

o relações públicas paulistano, que trabalhava e dava aulas <strong>de</strong><br />

Comunicação em São Paulo, veio para <strong>Londrina</strong> para ajudar na criação<br />

do curso da UEL.<br />

No começo, o curso <strong>de</strong> Comunicação Social da <strong>Universida<strong>de</strong></strong><br />

era polivalente, explica Waldyr. Os alunos tinham aulas juntos nos<br />

primeiros anos da graduação e <strong>de</strong>pois optavam pela habilitação <strong>de</strong><br />

Jornalismo ou <strong>de</strong> Relações Públicas.<br />

Waldyr e Licéia eram solteiros e lembram que havia uma<br />

“campanha” para que eles namorassem. Deu tão certo que no ano <strong>de</strong><br />

1979 eles se casaram.<br />

Quando o professor Waldyr começou a cursar a Especialização em<br />

Metodologia em Ensino Superior, Licéia animou-se e resolveu voltar a<br />

estudar. A funcionária cursou Biblioteconomia. Dez anos <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> ter<br />

entrado como funcionária na UEL, em 1983, estava formada e em 1985<br />

foi aprovada em concurso público para professora.<br />

Desta feliz união, que começou graças à <strong>Universida<strong>de</strong></strong>, os<br />

professores tiveram os filhos Fellipe e Belliza, cujos nomes também<br />

tiveram origem em discussões com amigos feitos na UEL.<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

209


O casal <strong>de</strong>monstra cumplicida<strong>de</strong> e atenção à vida do profissional<br />

do outro. Waldyr e Licéia participaram <strong>de</strong> momentos importantes<br />

dos cursos para os quais lecionavam. Ela lembra, por exemplo, que o<br />

marido esteve presente em quase todas as formulações <strong>de</strong> currículo do<br />

curso <strong>de</strong> Relações Públicas, com exceção da primeira. Hoje, o curso tem<br />

o currículo reconhecido nacionalmente. A professora também esteve<br />

presente na comissão <strong>de</strong> Biblioteconomia responsável pela elaboração<br />

do curso <strong>de</strong> Arquivologia.<br />

Arquivologia, lembra Licéia, surgiu como resposta ao problema<br />

<strong>de</strong> ocupação <strong>de</strong> vagas, pois com o regime seriado os cursos <strong>de</strong> História<br />

e Biblioteconomia tinham pouca procura no vestibular. Uma comissão<br />

com três professores <strong>de</strong> cada um <strong>de</strong>stes cursos foi montada para a<br />

elaboração <strong>de</strong> Arquivologia. Licéia fez parte <strong>de</strong>sta comissão que teve<br />

um trabalho complicado. “Eram poucos cursos no Brasil, cinco ou<br />

quatro, o que dificultava até para fazer um currículo diferenciado. E<br />

nós queríamos uma característica bem regional”, aponta a professora.<br />

O pioneirismo na comissão <strong>de</strong> Arquivologia ren<strong>de</strong>u à professora<br />

uma indicação ao colegiado do curso recém-aberto em 1998. Licéia<br />

estava requerendo a aposentadoria e não po<strong>de</strong> assumir o cargo. Em<br />

2008, ano em que se comemorou uma década do curso na UEL, a<br />

professora foi lembrada.<br />

Waldyr aposentou-se em 2003 <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> ter dado aulas <strong>de</strong><br />

diversas disciplinas nas áreas <strong>de</strong> teoria e técnica a Jornalismo e Relações<br />

Públicas. Ele conta que estava muito cansado quando <strong>de</strong>u esta pausa.<br />

Pausa porque o professor diz que <strong>de</strong>morou a arrumar as suas coisas,<br />

mas em 2006, por meio <strong>de</strong> concurso público, ele voltou a lecionar.<br />

O professor conta que sempre trabalhou muito. “Ontem, por<br />

exemplo, só estava eu no escritório (<strong>de</strong> Relações Públicas)”, diz à esposa.<br />

Voltar como professor concursado evita a sobrecarga <strong>de</strong> disciplinas e<br />

ficar com disciplinas que os outros não querem.<br />

Licéia também voltou à UEL três vezes nestes <strong>de</strong>z anos. Sempre<br />

como temporária. Logo após a aposentadoria, chegou a pensar em<br />

prestar concurso novamente. No entanto, num dos concursos, o seu<br />

diploma <strong>de</strong> mestrado não estava pronto; e um outro impedia a volta <strong>de</strong><br />

professor aposentado.<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

210


Ela acabou <strong>de</strong>sistindo. Para os testes seletivos para o cargo<br />

temporário, ela voltava a convite do pessoal do curso. Segundo Licéia,<br />

nem ela nem o marido sofreram com a aposentadoria. “Até porque a<br />

gente ocupou este tempo <strong>de</strong> outra maneira”, lembra, tranquila.<br />

Waldyr, que já tem cinco livros publicados, não parou <strong>de</strong> produzir.<br />

Assim como Licéia, que além da Biblioteconomia <strong>de</strong>u aula em outros<br />

cursos da graduação e na Unifil.<br />

Mas ambos, que já <strong>de</strong>ram aula para cursos <strong>de</strong> especialização,<br />

têm mais uma paixão em comum, os alunos da graduação. “A gente<br />

prefere orientar três TCCs (trabalhos <strong>de</strong> conclusão <strong>de</strong> curso) a dar uma<br />

disciplina em uma pós-graduação”, revela Licéia, com o que Waldyr<br />

concorda.<br />

Poliana Lisboa <strong>de</strong> Almeida<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

211


Linda Bulik<br />

Linda Bulik é doutora em Ciências da Comunicação<br />

pela <strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> Paris II (Sorbonne), com<br />

tese <strong>de</strong>fendida com o título <strong>de</strong> As Doutrinas da<br />

Informação no Mundo <strong>de</strong> Hoje. Concluiu Pós-<br />

Doutorado em Comunicação, na <strong>Universida<strong>de</strong></strong><br />

<strong>de</strong> Paris VIII, com a pesquisa A Comunicação<br />

do Homem em Situação <strong>de</strong> Representação (Por<br />

uma Semiótica do Odin Teatret) realizada na<br />

Dinamarca, no Nordisk Theatre Laboratorium.<br />

Formou-se em Letras Franco-Portuguesas<br />

pela <strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>Estadual</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> e<br />

Jornalismo pela Ecole <strong>de</strong>s Hautes Etu<strong>de</strong>s Sociales / section École<br />

Supérieure <strong>de</strong> Journalisme <strong>de</strong> Paris. Autora dos livros Doutrinas da<br />

Informação no Mundo <strong>de</strong> Hoje (Loyola), Comunicação e Teatro (Arte<br />

& Ciência) e Comunicação, Memória & Resistência. (Paulinas). Este<br />

último, em parceria com Pedro Gilberto Gomes e Marcia Piva. Conta<br />

com inúmeros artigos científicos e técnicos em revistas acadêmicas e<br />

jornais <strong>de</strong> notícias.<br />

Antes <strong>de</strong> ingressar na carreira docente, Linda Bulik estudou na<br />

UEL, no período <strong>de</strong> 1969 a 1973, tendo participado da efervescência<br />

estudantil da época - política e cultural -, fazendo parte do Diretório<br />

Acadêmico Rocha Pombo, como diretora cultural, e representando<br />

o curso nos Festivais <strong>de</strong> Teatro da época. Vivenciou o período <strong>de</strong><br />

implantação da <strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> e colou grau na primeira<br />

turma <strong>de</strong> formandos da UEL.<br />

Tanto na vida acadêmica quanto profissional, sempre se<br />

interessou e buscou agir na zona <strong>de</strong> interseção entre a comunicação e<br />

a arte, primeiro no jornalismo escrevendo crítica <strong>de</strong> teatro, nos anos<br />

70 e 80, na Folha <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>, e <strong>de</strong>pois, na carreira acadêmica, como<br />

Professora Titular concursada da <strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>Estadual</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>,<br />

nos anos 80 e 90, <strong>de</strong> Teorias da Comunicação, com ênfase em Semiótica<br />

e Estética da Comunicação.<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

212


Ainda no jornal, criou a editoria <strong>de</strong> arte e foi editora-chefe<br />

do Ca<strong>de</strong>rno 3 – suplemento hebdomadário cultural da Folha <strong>de</strong><br />

<strong>Londrina</strong>, no final dos anos <strong>de</strong> 1970, que discutiu os gran<strong>de</strong>s temas<br />

da época e refletiu as teses do estado <strong>de</strong> direito e do retorno do País à<br />

<strong>de</strong>mocracia.<br />

Linda Bulik começou a trabalhar na UEL, em 12 <strong>de</strong> fevereiro<br />

<strong>de</strong> 1979, e, já no final daquele mesmo ano, foi eleita por seus pares<br />

para ocupar o mandato por dois anos <strong>de</strong> chefe do então Departamento<br />

<strong>de</strong> Comunicação e Artes, que, em 1982, seria <strong>de</strong>smembrado.<br />

Posteriormente, ocupou a chefia do Departamento <strong>de</strong> Comunicação,<br />

no biênio 1987-1989, e Coor<strong>de</strong>nadora do Curso <strong>de</strong> 1982 a 1984 e <strong>de</strong><br />

1995 a l997. Participou ativamente da Comissão Especial encarregada<br />

<strong>de</strong> elaborar o Projeto <strong>de</strong> Criação e Implantação do Curso <strong>de</strong> Graduação<br />

em Artes Cênicas e quando se aposentou estava coor<strong>de</strong>nando o Projeto<br />

<strong>de</strong> Criação e Implantação do Mestrado em Comunicação.<br />

A professora atuou ativamente na política universitária tendo<br />

participado não só da criação como da diretoria <strong>de</strong> dois biênios<br />

consecutivos da ADUEL (1981-1983 e 1983-1985) e se envolvido com<br />

afinco no <strong>de</strong>bate da ANDES em <strong>de</strong>fesa da universida<strong>de</strong> pública.<br />

Embora aposentada da UEL, Linda Bulik continua na ativa e<br />

viajando toda semana para Marília. Atualmente leciona na Graduação<br />

em Jornalismo e é professora titular do Programa <strong>de</strong> Pós-Graduação<br />

(Mestrado) em “Comunicação” da <strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> Marília, atuando na<br />

linha <strong>de</strong> pesquisa Produção e Recepção <strong>de</strong> Mídias.<br />

Sua obra apresenta duas vertentes: uma pesquisa <strong>de</strong>scritiva e<br />

crítica no campo dos estudos midiáticos, que trata da comunicação<br />

política e das políticas <strong>de</strong> comunicação, e outra que explora as conexões<br />

entre estética e a cultura das mídias.<br />

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213


Liogi Suzuki<br />

Com disciplina e <strong>de</strong>dicação, Liogi Suzuki,<br />

tinha menos <strong>de</strong> cinco anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> quando<br />

começou a treinar kendo ainda durante as<br />

madrugadas. A obrigação era imposta e<br />

ministrada pelo pai, “um exímio praticante<br />

<strong>de</strong> kendo”, que apren<strong>de</strong>ra a luta inspirada<br />

nos samurais no país que <strong>de</strong>ixara - Japão.<br />

Tamanha rigi<strong>de</strong>z, lembra Suzuki, <strong>de</strong>via-se<br />

ao fato <strong>de</strong> o filho ser um pouco preguiçoso.<br />

Agora, ele aproveita para brincar, que não<br />

sabe “se a mãe chorava por minha moleza<br />

ou se chorava pela rigi<strong>de</strong>z do meu pai”.<br />

Depois <strong>de</strong> um pouco <strong>de</strong> kendo, este filho mais velho teve <strong>de</strong> seu<br />

pai algumas lições <strong>de</strong> judô. Foi assim, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> sua própria casa, que<br />

Suzuki teve contato com a luta que esteve presente em momentos<br />

importantes <strong>de</strong> sua vida.<br />

Em 1948, a família tinha se mudado da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Lins (SP) para<br />

<strong>Londrina</strong>. Depois dos cursos primário e secundário, Suzuki fez o técnico<br />

em contabilida<strong>de</strong> no Colégio Comercial <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>. Em seguida,<br />

cursou Ciências Econômicas na Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Ciências Econômicas <strong>de</strong><br />

Apucarana.<br />

Muitos alunos <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>, assim como ele, iam todos os dias<br />

para Apucarana frequentar às aulas. Isto porque na época em que<br />

Suzuki começou a faculda<strong>de</strong>, a <strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>Estadual</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong><br />

ainda não tinha o curso <strong>de</strong> Ciências Econômicas.<br />

Poliana Lisboa <strong>de</strong> Almeida<br />

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214


Lourival da Silva<br />

Lourival da Silva é natural <strong>de</strong> Terra Roxa, no<br />

interior <strong>de</strong> São Paulo. Mas, foi em outra terra<br />

roxa que a família se estabeleceu: <strong>Londrina</strong>.<br />

Quando <strong>de</strong>ixou Terra Roxa, Lourival era<br />

ainda muito pequeno e, portanto, não guarda<br />

lembranças da cida<strong>de</strong> natal. Elas começam<br />

surgir após os cinco anos. Ele conta que teve<br />

a infância diminuída pela necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

trabalhar e ajudar os pais. Com apenas oito<br />

anos, Lourival começou na “lida”.<br />

Segundo ele, as coincidências parecem<br />

marcar sua vida. A primeira foi <strong>de</strong>ixar Terra<br />

Roxa para habitar uma cida<strong>de</strong> famosa por sua terra roxa. Depois <strong>de</strong><br />

dois anos em <strong>Londrina</strong>, a fazenda que o pai empreitou chamava-se<br />

Santa Rosa. Posteriormente, ali foi construída a <strong>Universida<strong>de</strong></strong>, on<strong>de</strong> ele<br />

iria trabalhar mais tar<strong>de</strong>. “Um dia chegou um caminhão com um trator<br />

gran<strong>de</strong> em cima. Subiu uma ruinha <strong>de</strong> terra e <strong>de</strong>scarregou o trator. E o<br />

trator começou a arrancar o café, bem na nossa lavoura”.<br />

Como a lavoura ce<strong>de</strong>u lugar às construções da UEL, Lourival e<br />

a família se mudaram para outra proprieda<strong>de</strong>, on<strong>de</strong> moraram por 16<br />

anos. Em 1969, casou-se. Ele trabalhava na construção. O próximo<br />

emprego foi em uma fábrica <strong>de</strong> móveis. Lá ficou por dois anos e meio.<br />

Depois veio o <strong>de</strong>semprego, num período difícil para Lourival. “Eu era<br />

recém-casado, já com uma filha. Fiquei muito preocupado. O que eu<br />

faço agora?, eu pensava”.<br />

Léia Dias Sabóia<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

215


Luiz Abdon Pereira<br />

“Diz que vinha juntar dinheiro com rastelo,<br />

aí eu vim juntar dinheiro com rastelo<br />

aqui”. A riqueza gerada pelo café no norte<br />

do Paraná atraiu gente <strong>de</strong> todo o Brasil,<br />

que acreditava na promessa <strong>de</strong> uma vida<br />

melhor nas terras férteis do sul do país. Foi<br />

assim que, na década <strong>de</strong> 60, o operador <strong>de</strong><br />

equipamento pesado, Luiz Abdon Pereira,<br />

chegou em Maravilha, na região rural <strong>de</strong><br />

<strong>Londrina</strong>, vindo <strong>de</strong> Aratuba, no Ceará.<br />

Porém, a vida nos cafezais não era fácil.<br />

Depois <strong>de</strong> seis anos vivendo aqui, Luiz<br />

<strong>de</strong>cidiu voltar para sua cida<strong>de</strong> natal, mas<br />

chegando lá não conseguiu se readaptar<br />

e voltou para o sul um ano e meio <strong>de</strong>pois.<br />

Vivendo em Tamarana, começou a trabalhar<br />

nas construtoras que abriam as estradas<br />

que ligavam <strong>Londrina</strong> a outras cida<strong>de</strong>s do estado, como Curitiba, por<br />

exemplo. Depois <strong>de</strong> se mudar para Cambé, Luiz chegou a trabalhar em<br />

uma gran<strong>de</strong> viação da cida<strong>de</strong> como lubrificador <strong>de</strong> ônibus, mas como<br />

o serviço acabava muito tar<strong>de</strong>, perto <strong>de</strong> meia-noite, pediu as contas<br />

por medo <strong>de</strong> voltar sozinho para a casa, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> duas tentativas <strong>de</strong><br />

assalto.<br />

A partir <strong>de</strong>ste momento a vida <strong>de</strong> Luiz se cruza com a história<br />

da UEL. Depois <strong>de</strong> trabalhar como servente em uma construtora<br />

que prestava serviços à Instituição, foi contratado pela <strong>Universida<strong>de</strong></strong><br />

em 1974 para trabalhar como operador <strong>de</strong> máquinas e continuou<br />

nesta função – apesar das mudanças <strong>de</strong> cargo no papel – até o dia da<br />

aposentadoria.<br />

Assim, a trajetória <strong>de</strong> Luiz na Instituição começa nos primeiros<br />

anos da UEL, época <strong>de</strong> muito trabalho para construir o campus. Com<br />

o trator <strong>de</strong> esteira, Luiz fazia a terraplenagem para a construção <strong>de</strong><br />

prédios, inclusive arrancando os tocos das perobas que eram <strong>de</strong>rrubadas<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

216


para que a <strong>Universida<strong>de</strong></strong> pu<strong>de</strong>sse crescer. A partir do momento que<br />

a prefeitura do campus adquiriu uma retroescava<strong>de</strong>ira, esta máquina<br />

passou a ser a gran<strong>de</strong> companheira <strong>de</strong> Luiz, que precisou fazer um<br />

curso para apren<strong>de</strong>r a utilizá-la. E o novo equipamento potencializou<br />

seu trabalho. “Eu trabalhava por 50 funcionários da UEL na máquina”,<br />

explica.<br />

Mas, mesmo com a retroescava<strong>de</strong>ira, o serviço continuou pesado.<br />

Luiz era encarregado <strong>de</strong> abrir as valetas para a instalação das re<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

água e esgoto dos prédios do campus e a cavar covas para enterrar os<br />

animais que morriam na clínica veterinária e até mesmo o sangue e<br />

os pertences dos cadáveres da morfologia. Nos primeiros dias neste<br />

serviço, Luiz nos conta que mal conseguia almoçar.<br />

A procura pelos serviços <strong>de</strong>stas máquinas era gran<strong>de</strong>, mas só<br />

havia duas retroescava<strong>de</strong>iras para aten<strong>de</strong>r todo o campus e as extensões<br />

da <strong>Universida<strong>de</strong></strong>, como o Hospital Universitário e até o aeroporto e a<br />

EMBRAPA. “Às vezes eu perdia até consulta [médica] para aten<strong>de</strong>r<br />

a faculda<strong>de</strong>. (...) Até sábado, domingo, eu estava em casa, às vezes<br />

almoçando, e a segurança ia me buscar pra enterrar animal”, afirma<br />

Luiz, sem rancores.<br />

E, além da gran<strong>de</strong> quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> serviços solicitados, havia<br />

a preocupação com os riscos <strong>de</strong> se operar uma máquina <strong>de</strong>ssas. Nos<br />

33 anos que esteve na <strong>Universida<strong>de</strong></strong>, Luiz sofreu três aci<strong>de</strong>ntes sem<br />

muita gravida<strong>de</strong>. “Agora susto eu passei bastante. Muito perigosa<br />

a ferramenta com que eu trabalhava. (...) Eu trabalhava com muito<br />

cuidado pra não aci<strong>de</strong>ntar ninguém”.<br />

Mas a história <strong>de</strong>ste cearense também possui passagens curiosas.<br />

O operador <strong>de</strong> máquinas já teve os seus dias <strong>de</strong> professor, quando era<br />

chamado para explicar o funcionamento da retroescava<strong>de</strong>ira para<br />

alunos dos cursos <strong>de</strong> agrárias. E até uma ponta em uma peça <strong>de</strong> teatro<br />

ele fez! Foi em 2000, no projeto Città Invisibili (Cida<strong>de</strong>s Invisíveis),<br />

do Teatro Potlach da Itália, com participação <strong>de</strong> atores italianos e<br />

brasileiros e direção <strong>de</strong> Pino Di Buduo.<br />

Hoje, casado e com os três filhos morando por perto, Luiz não<br />

sente falta do trabalho que fazia na UEL, mas não se esquece dos amigos<br />

e da sua segunda casa durante 33 anos, a Prefeitura do Campus. “Eu<br />

sinto falta do pessoal e da terra, daqui do meu lugar. De vez em quando<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

217


eu venho aqui que eu tenho sauda<strong>de</strong>. (...) Graças a Deus quando eu<br />

venho aqui eu sou bem recebido por eles, os colegas <strong>de</strong> serviço”.<br />

E a or<strong>de</strong>m agora é aproveitar a aposentadoria e a recompensa<br />

por todos estes anos <strong>de</strong> <strong>de</strong>dicação à <strong>Universida<strong>de</strong></strong>. “Eu não tenho nem<br />

vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> trabalhar mais (...). Se eu ganhasse o salário mínimo que<br />

eles pagam aqui eu era obrigado a trabalhar, mas graças a Deus eu<br />

ganho um salário bom <strong>de</strong> viver, por isso que eu não trabalho”, explica<br />

satisfeito.<br />

Antes <strong>de</strong> encerrar a entrevista, Luiz <strong>de</strong>ixa claro o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> que<br />

as pessoas leiam este texto e vejam o que ele fez durante os anos <strong>de</strong><br />

trabalho na UEL, nas palavras <strong>de</strong>le, um dos melhores lugares on<strong>de</strong><br />

encontrou emprego. Buscamos então registrar da melhor maneira<br />

possível este perfil, mostrando que a <strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>Estadual</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Londrina</strong> foi construída com o esforço <strong>de</strong> milhares <strong>de</strong> homens e<br />

mulheres, principalmente daqueles que abriram espaço no campus<br />

para que esta história começasse.<br />

Rosane Mioto<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

218


Até a compulsória<br />

No Departamento <strong>de</strong> Administração, o professor já aposentado Luiz<br />

Antônio Felix preten<strong>de</strong> lecionar até ser afastado ao completar 70 anos<br />

O professor <strong>de</strong> Administração da<br />

<strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>Estadual</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> Luiz<br />

Antônio Felix aposentou-se e ficou “parado”<br />

por somente um mês. Então, voltou à UEL<br />

como concursado. Agora, ele tem até 2012<br />

para trabalhar antes <strong>de</strong> fazer 70 anos e ser<br />

aposentado compulsoriamente.<br />

A vida <strong>de</strong> Felix foi marcada pelo ensino. Sua<br />

mãe, filha <strong>de</strong> imigrantes italianos, era uma<br />

professora formada na Itália que dava aulas aos filhos, controlava os<br />

seus estudos diários, além <strong>de</strong> impor-lhes trabalhos manuais e estudo<br />

<strong>de</strong> música. “Na época a gente achava que nossa mãe era durona”,<br />

lembra o professor que reconhece a importância da educação que teve<br />

e a compara com padrões europeus.<br />

Acompanhando o pai – cafeicultor –, Felix, que nasceu em Lavínia<br />

(SP), e família vieram para o Paraná em 1946. Depois <strong>de</strong> três anos em<br />

Assaí, mudaram-se para <strong>Londrina</strong> pela primeira vez, mas em dois anos<br />

o pai abriu uma empresa <strong>de</strong> exportação <strong>de</strong> café em Curitiba e todos o<br />

seguiram. Naquele ano, uma gran<strong>de</strong> geada prejudicou cafeicultores e<br />

a família passou o ano seguinte em São Paulo morando com os avós.<br />

Depois da estada em São Paulo, voltaram para <strong>Londrina</strong>.<br />

Na cida<strong>de</strong>, Felix estudou no Ginásio Diocesano Nossa Senhora<br />

<strong>de</strong> Fátima, atrás do Hospital Evangélico, e fez o colegial no Colégio<br />

<strong>Estadual</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>. Como a vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong>le era ingressar na Aca<strong>de</strong>mia<br />

Militar das Agulhas Negras (Aman), em 1962 Felix voltou para o estado<br />

<strong>de</strong> São Paulo para servir o exército.<br />

Felix não entrou para a Aman e trabalhou com seu pai até o<br />

falecimento <strong>de</strong>le. Como sua mãe também morreu quando ele ainda era<br />

jovem, começou a pesar sobre o irmão mais velho a obrigação <strong>de</strong> cuidar<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

219


dos mais novos. Ele então começou a trabalhar como caixa na loja <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>partamentos Irmãos Fuganti.<br />

Quando a empresa municipal <strong>de</strong> telefonia - a Sercomtel - começou<br />

a funcionar, Felix ingressou na mesma função que exercia na Irmãos<br />

Fuganti. Ele lembra que foi o primeiro funcionário a ser contratado pela<br />

empresa e saiu em 1976 da Sercomtel, como Diretor Administrativo.<br />

Felix também trabalhou em empresas como Cipare – do grupo<br />

Cacique – como divulgador da técnica <strong>de</strong> inseminação artificial; como<br />

gerente comercial na empresa Londrimalhas; e na Companhia Multiindustrial<br />

<strong>de</strong> Cilos Metálicos.<br />

Em 1964, ele ingressou na Faculda<strong>de</strong> <strong>Estadual</strong> <strong>de</strong> Direito<br />

<strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> e se formou quatro anos mais tar<strong>de</strong>. O envolvimento<br />

com o trabalho na Sercomtel o impediu <strong>de</strong> começar a advogar e,<br />

em 1974, Felix sentiu a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cursar Administração na já<br />

existente <strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>Estadual</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>. Na pós-graduação em<br />

Administração e Gerência, o aluno saiu-se tão bem que foi convidado<br />

para substituir um professor na UEL.<br />

A carreira universitária do professor começou com 12 horas<br />

semanais e aumentou até setembro <strong>de</strong> 1981, quando Felix assumiu<br />

período integral na <strong>Universida<strong>de</strong></strong>. Mas lecionar não foi uma gran<strong>de</strong><br />

novida<strong>de</strong> para o professor que já <strong>de</strong>ra cursos internos na Sercomtel e<br />

lecionava como suplementarista Educação Moral e Cívica.<br />

A facilida<strong>de</strong> em comunicar-se ajudou Felix a conquistar a vaga<br />

na UEL e a <strong>de</strong>finir o seu perfil como professor. “Eu não tenho perfil <strong>de</strong><br />

pesquisador, sou mais professor <strong>de</strong> sala <strong>de</strong> aula”, <strong>de</strong>staca. Ele acredita<br />

que o aluno precisa, primeiramente, se interessar pela matéria, porque,<br />

quando ela é motivadora para o aluno, os estudos avançam. Assim, diz<br />

que o saber transformar o conteúdo em algo interessante é o segredo<br />

do professor.<br />

Em 1984 o professor começou o mestrado na <strong>Universida<strong>de</strong></strong><br />

<strong>de</strong> São Paulo (USP), lugar em que fez <strong>de</strong>scobertas em meio a um<br />

convívio acadêmico forte. A presença <strong>de</strong> jovens talentosos e a vivência<br />

naquele clima levaram o professor a concluir que, “o Brasil ainda tem<br />

esperança”.<br />

Outras oportunida<strong>de</strong>s – como viagens <strong>de</strong> negócios pelo Brasil e<br />

países da América Latina e até um intercâmbio <strong>de</strong> estudo <strong>de</strong> 60 dias nos<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

220


Estados Unidos por meio do Rotary – permitiram que ele construísse<br />

uma visão mais ampla do Brasil e do mundo.<br />

Depois <strong>de</strong> voltar do mestrado, Felix assumiu a Coor<strong>de</strong>nadoria<br />

<strong>de</strong> Recursos Humanos (PRORH) a convite do quinto reitor da<br />

<strong>Universida<strong>de</strong></strong>, Jorge Bounassar Filho. A administração (1986–1990)<br />

vivia um período marcante: a re<strong>de</strong>mocratização da UEL após o longo<br />

período <strong>de</strong> Ditadura Militar. No ano <strong>de</strong> 1995 passou por outro cargo<br />

administrativo, como Chefe <strong>de</strong> Gabinete do reitor Jackson Proença<br />

Testa.<br />

Felix aposentou-se no ano <strong>de</strong> 1996 e chegou a pensar em começar<br />

a advogar ou trabalhar como corretor <strong>de</strong> imóveis, mas logo prestou<br />

concurso e voltou a dar aulas no Departamento <strong>de</strong> Administração.<br />

Assim que retornou, começou o doutorado, também na USP, <strong>de</strong>sta vez<br />

mais acostumado com as novida<strong>de</strong>s do ambiente.<br />

O professor, que <strong>de</strong>u aulas em outras faculda<strong>de</strong>s como Faccar,<br />

Unifil e Metropolitana (hoje Pitágoras), coor<strong>de</strong>na a pós-graduação em<br />

Marketing da UEL e leciona também para o curso <strong>de</strong> Mestrado em<br />

Administração. A preparação das aulas é o estudo <strong>de</strong> Felix.<br />

Com toda experiência que tem, Felix acredita que a administração<br />

é possível para qualquer pessoa. “A administração é arte e técnica”,<br />

afirma, “a técnica po<strong>de</strong> ser aprendida.” Mas o professor não menospreza<br />

a inclinação pessoal (mais conhecida como dom), aquela mesma que o<br />

fez começar a lecionar e não conseguir ficar sem as salas <strong>de</strong> aula.<br />

Poliana Lisboa <strong>de</strong> Almeida<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

221


Entre os versos e as rimas, a crítica social<br />

Luiz <strong>de</strong> Melo Santos transformou suas inquietações em versos e<br />

suas críticas em literatura <strong>de</strong> cor<strong>de</strong>l<br />

Luiz <strong>de</strong> Melo Santos sempre se interessou<br />

pelo estudo das relações raciais no Brasil.<br />

“Isso <strong>de</strong>s<strong>de</strong> quando eu me entendo por<br />

gente. Sempre fui curioso em procurar as<br />

causas da <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> e as saídas”. Luiz<br />

nasceu em Sergipe, morou em Salvador e<br />

no Rio <strong>de</strong> Janeiro. Era um excelente aluno,<br />

mas resolveu não prestar vestibular quando<br />

concluiu o científico. Optou por concursos<br />

públicos. Foi bancário e telegráfico.<br />

No entanto, quando foi para o Rio, a vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> estudar foi novamente<br />

<strong>de</strong>spertada. Luiz escolheu Ciências Sociais. “Eu queria fazer esse curso<br />

para enten<strong>de</strong>r os problemas da nossa socieda<strong>de</strong> e tentar colaborar<br />

<strong>de</strong> alguma maneira para resolvê-los”. E a forma que Luiz encontrou<br />

para contribuir foi lecionar. “Eu sempre achei que meu compromisso<br />

primeiro era com as minhas origens”.<br />

Assim que se formou, Luiz prestou concurso na <strong>Universida<strong>de</strong></strong><br />

Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Sergipe e foi aprovado. “Eu lembro que a minha primeira<br />

aula, em 1977, foi exatamente num Estado on<strong>de</strong> a porcentagem maior<br />

da população é negra. Então, comecei discutindo as questões raciais.<br />

E muitos ficaram com medo, indignados. Diziam que no Brasil não<br />

existia preconceito”. Nas aulas ministradas por Luiz, a questão racial<br />

era um assunto constante. É este também o tema que norteia toda a<br />

sua produção.<br />

Em 1983, Luiz estava morando no Rio <strong>de</strong> Janeiro e fazendo<br />

mestrado em São Paulo, quando conheceu Romilda Aparecida Cardioli<br />

dos Santos. Ela era professora da UEL. Dois anos <strong>de</strong>pois eles se<br />

casaram e vieram morar em <strong>Londrina</strong>: “Fui me encantando com essa<br />

cida<strong>de</strong>”, afirma. No mesmo ano, Luiz começou a dar aulas na UEL.<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

222


Lecionou para diferentes cursos, sempre promovendo discussões sobre<br />

as questões raciais.<br />

Além das aulas, Luiz tem outra maneira <strong>de</strong> expor seus<br />

pensamentos e suscitar o <strong>de</strong>bate. “Eu resolvi usar a poesia como<br />

instrumento da minha angústia, das minhas reflexões sobre o negro<br />

no Brasil”. Luiz é poeta <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a adolescência. Escreveu também sobre<br />

outros assuntos e, a partir <strong>de</strong> 1987, sempre lançou livros. Foram mais<br />

<strong>de</strong> 30 publicados entre cor<strong>de</strong>l e poesia.<br />

Quando lecionava a disciplina <strong>de</strong> cultura brasileira, Luiz, que<br />

conhecia a técnica <strong>de</strong> cor<strong>de</strong>l, resolveu mostrar aos seus alunos como<br />

se fazia. “E aí o cor<strong>de</strong>l saiu espontaneamente”. “Na minha origem<br />

nor<strong>de</strong>stina, cresci ouvindo literatura <strong>de</strong> cor<strong>de</strong>l. Fui praticamente<br />

alfabetizado lendo literatura <strong>de</strong> cor<strong>de</strong>l. Claro que tinha alfabetização na<br />

escola, mas a leitura, a convivência e os violeiros me ensinaram muito”.<br />

O cor<strong>de</strong>l <strong>de</strong> Luiz lhe ren<strong>de</strong>u certo prestígio no Brasil e até no<br />

exterior. “Um antropólogo suíço se interessou e traduziu meu cor<strong>de</strong>l, o<br />

tema era Dengue. Também alguns estudiosos americanos e franceses<br />

se interessaram”.<br />

Luiz, que tanto discute os problemas sociais, acredita que já<br />

ocorreram muitas mudanças. Hoje – acredita –, as pessoas não se<br />

assustam quando são convidadas para <strong>de</strong>bater a questão racial. “Os<br />

movimentos negros estão mais organizados e mais atuantes. As ações<br />

são mais concretas. Claro que não são suficientes, pelo contrário, são<br />

medidas paliativas”. Para que haja uma verda<strong>de</strong>ira transformação,<br />

Luiz – professor, escritor e poeta – é enfático: “Fundamental é investir<br />

em educação”.<br />

Luiz se aposentou em 1999. Durante alguns anos lecionou em<br />

outra instituição <strong>de</strong> ensino superior. Depois <strong>de</strong>cidiu aposentar-se <strong>de</strong><br />

vez. Não dos escritos e nem da música, que são suas gran<strong>de</strong>s paixões.<br />

Atualmente, ele faz aula <strong>de</strong> violão.<br />

Léia Dias Sabóia<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

223


Para uma comunicação diferenciada<br />

Des<strong>de</strong> 1974 a professora Luzia Yamashita Deliberador trabalha<br />

pelo curso <strong>de</strong> comunicação da UEL<br />

Em 14 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1974, Luzia<br />

Yamashita Deliberador começou a<br />

trabalhar na <strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>Estadual</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Londrina</strong>. A professora fazia mestrado<br />

na Escola <strong>de</strong> Comunicação e Artes<br />

(ECA) na <strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> São Paulo<br />

e, juntamente com o professor Rui<br />

Fernando Barbosa, foi encarregada <strong>de</strong><br />

montar o curso <strong>de</strong> Comunicação Social<br />

na UEL.<br />

Luzia, nascida em Urai (PR), formou-se em Economia Doméstica<br />

na Escola Superior <strong>de</strong> Agricultura Luiz <strong>de</strong> Queiroz (Esalq) em<br />

Piracicaba (SP), mas durante o curso escrevia para um jornal em São<br />

Paulo. Para o Mestrado em Comunicação teve que fazer nivelamento.<br />

Doze disciplinas em um semestre.<br />

Ela conta que os professores <strong>de</strong> disciplinas específicas da<br />

Comunicação eram ela e Rui Barbosa. O curso começou no porão da<br />

Unifil e <strong>de</strong>pois passou pelo atual almoxarifado da UEL, pelos barracões<br />

<strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira até chegar ao prédio do CECA.<br />

Poliana Lisboa <strong>de</strong> Almeida<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

224


Cidadão Honorário <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong><br />

Manoel Barros <strong>de</strong> Azevedo - O professor que trabalhou em várias<br />

instituições <strong>de</strong> ensino por cinquenta anos é aposentado da UEL e tem<br />

título <strong>de</strong> honra da cida<strong>de</strong><br />

O sotaque não escon<strong>de</strong>. Manoel Barros <strong>de</strong><br />

Azevedo não é paranaense. Ele nasceu em<br />

Santa Maria Madalena (RJ) eram doze irmãos<br />

e trabalhavam em fazenda. Quando a família<br />

converteu-se e passou a frequentar a Igreja<br />

Batista, Manoel Azevedo admirou o pastor<br />

Samuel Schei<strong>de</strong>gger.<br />

Resolveu estudar para ser pastor também e foi<br />

para o Colégio Americano Batista <strong>de</strong> Vitória,<br />

no Espírito Santo, mantido por norte-americanos. O aluno era<br />

consi<strong>de</strong>rado um pré-seminarista e trabalhava na própria instituição<br />

em troca do estudo e alimentação. Foram oito anos e meio lá e, embora<br />

houvesse <strong>de</strong>sistido <strong>de</strong> ser pastor durante o percurso, <strong>de</strong>ixaram que ele<br />

permanecesse.<br />

A família se mudara para Ibiporã e quando ele <strong>de</strong>ixou o Colégio<br />

Americano Batista foi para Curitiba concluir o 3º ano do científico e<br />

fazer a faculda<strong>de</strong>. Primeiro pensara em Medicina, mas começou a fazer<br />

História Natural enquanto se preparava melhor. Acabou gostando do<br />

curso, que incluía Biologia e Geologia.<br />

Em 1953, logo após formar-se, foi convidado pelo professor<br />

Zaqueu <strong>de</strong> Melo para trabalhar no Instituto Filadélfia em <strong>Londrina</strong>.<br />

Também começou a dar aulas no Colégio Vicente Rijo, ainda no prédio<br />

antigo. Na época da construção do novo prédio, Manoel <strong>de</strong> Azevedo<br />

assumiu a diretoria do Vicente Rijo e ficou dividido entre os dois<br />

prédios. Alguns alunos ainda estudavam no antigo, outros já estavam<br />

no novo.<br />

Em 1964, fez uma especialização <strong>de</strong> seis meses na <strong>Universida<strong>de</strong></strong><br />

Fe<strong>de</strong>ral do Paraná, a mesma em que se graduara. Era raro quem fazia<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

225


mestrado ou doutorado. Em 1953, Azevedo recorda, quando chegou a<br />

<strong>Londrina</strong>, apenas três ou quatro professores tinham o ensino superior.<br />

O professor foi um dos fundadores da Faculda<strong>de</strong> <strong>Estadual</strong><br />

<strong>de</strong> Filosofia e Letras <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> e era professor titular do curso <strong>de</strong><br />

Geografia, on<strong>de</strong> <strong>de</strong>u aulas <strong>de</strong> Geologia. No Filadélfia lecionava no<br />

ensino médio.<br />

Durante o governo <strong>de</strong> Dalton Paranaguá (1969-1972) foi<br />

secretário da Educação <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>. Azevedo conta que era uma se<br />

época que <strong>Londrina</strong> só perdia para Goiânia em crescimento no país. O<br />

professor lembra que as administrações, em sua maioria, construíam<br />

casas, mas não construíam escolas. Os bairros todos cresciam, mas não<br />

havia escola para toda a população.<br />

No governo <strong>de</strong> José Richa (1973-1977), Manoel <strong>de</strong> Azevedo foi<br />

vice-prefeito <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>. O professor lecionava na UEL, mas ficava<br />

afastado durante mandatos políticos. Durante esta gestão, <strong>de</strong>vido a<br />

uma viagem do prefeito, Azevedo assumiu a prefeitura por 30 dias.<br />

O professor voltou para a <strong>Universida<strong>de</strong></strong>, dirigiu o Centro <strong>de</strong><br />

Ciências Biológicas e integrou a Assessoria <strong>de</strong> Planejamento e Controle,<br />

na administração do reitor Oscar Alves. Em 1983 assumiu como viceprefeito<br />

da gestão Wilson Moreira (1983-1988) e atuou como secretário<br />

<strong>de</strong> Educação novamente.<br />

Em sua casa há muitos porta-retratos com fotos da família.<br />

Ele, que conheceu a esposa durante a graduação, quando morava em<br />

Curitiba, conta que escreveu para ela quando resolveu se casar. São<br />

mais <strong>de</strong> cinquenta anos <strong>de</strong> casamento, três filhos e sete netos.<br />

Dos filhos, um seguiu o caminho da política. Azevedo fala que o<br />

filho gosta mesmo da área, mas que ele gostava mesmo <strong>de</strong> trabalhar<br />

com a educação e que fazia isto com muito amor.<br />

Em 1987 Manoel Barros <strong>de</strong> Azevedo aposentou-se da UEL e conta<br />

que não ficou muito tempo parado. Após dois meses foi trabalhar como<br />

diretor auxiliar da Unopar. Depois <strong>de</strong> pouco mais <strong>de</strong> um ano, assumiu<br />

a diretoria do Centro <strong>de</strong> Ensino Superior <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>, Cesulon, agora<br />

Unifil.<br />

Manoel Azevedo lembra que foi bom trabalhar no Cesulon, pois<br />

fôra lá que começara quando era recém-formado. O professor dirigiu a<br />

instituição por 10 anos e parou em 2001. Ele, que costumava dar aulas<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

226


<strong>de</strong> Genética, diz que agora não pensa em dar aulas. “Foram muitos<br />

anos longe da Biologia, agora cuido da minha esposa.”<br />

Em 2002, o professor recebeu o título <strong>de</strong> Cidadão Honorário<br />

conferido pela Câmara Municipal. A cidadania normalmente é dada<br />

a pessoas que, como Manoel Azevedo, não são naturais da cida<strong>de</strong><br />

mas que trabalharam para <strong>de</strong>stacar o nome <strong>de</strong>la. Além <strong>de</strong> uma placa<br />

especial, a honra <strong>de</strong> servir <strong>Londrina</strong>.<br />

Poliana Lisboa <strong>de</strong> Almeida<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

227


Manoel Palma<br />

Possui 72 anos, nasceu em 1936 na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Barra<br />

Bonita, estado <strong>de</strong> São Paulo.<br />

Chegou em <strong>Londrina</strong> aos 29 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>.<br />

Ingressou na UEL no ano <strong>de</strong> 1979, trabalhando<br />

durante 20 anos como “Armador” na Prefeitura<br />

do Campus. É casado, possui duas filhas e quatro<br />

netos.<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

228


Maria Bernardo da Costa<br />

Sem marido e com cinco filhos para<br />

criar, Maria Bernardo da Costa<br />

começou a trabalhar na UEL antes<br />

mesmo do reconhecimento <strong>de</strong>la como<br />

<strong>Universida<strong>de</strong></strong>. Era abril <strong>de</strong> 1969 quando<br />

a dona Maricota - como ficou conhecida<br />

entre tantas outras Marias durante os<br />

anos <strong>de</strong> trabalho - entrou no serviço <strong>de</strong><br />

auxiliar <strong>de</strong> serviços gerais do Centro <strong>de</strong><br />

Ciências Biológicas (CCB).<br />

Logo nos primeiros dias, Maria, que<br />

tinha sido criada para nem entrar em<br />

cemitérios – “Diziam que se a gente<br />

afundasse o pé no cemitério naquele ano mesmo a gente morria” –,<br />

teve que apren<strong>de</strong>r a conviver com os cadáveres da Anatomia.<br />

Ela era a encarregada <strong>de</strong> lavar os plásticos <strong>de</strong> proteção quando<br />

eles estavam sujos. Esquentava a água em um fogão <strong>de</strong> lenha, colocava<br />

os plásticos no chão e jogava a água em cima.<br />

O medo foi superado pela necessida<strong>de</strong> do emprego. Mesmo<br />

assim, Maricota lembra quando ficou sozinha em uma sala com uma<br />

cabeça e saiu correndo <strong>de</strong> medo. Também chegou a confundir uma<br />

estátua preta <strong>de</strong> Paulo Pimentel com um cadáver, achando que algum<br />

morto tinha se levantado.<br />

Na <strong>Universida<strong>de</strong></strong>, Maria só foi transferida uma vez, <strong>de</strong>ntro do<br />

CCB mesmo. Foi trabalhar na Biblioteca, Secretaria e ser a responsável<br />

pelo café. Só na Reitoria não chegava o café <strong>de</strong> dona Maricota. Quando<br />

tinha vestibular, conta, era ela quem preparava o café e o lanche <strong>de</strong><br />

quem trabalhava.<br />

Quando saía para o trabalho, os filhos mais velhos cuidavam dos<br />

mais novos. Os filhos foram crescendo e Maria conseguiu ter três filhas<br />

empregadas também na UEL, no Colégio <strong>de</strong> Aplicação, no CEFE e na<br />

Biblioteca.<br />

A aposentadoria veio em 1992, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> 23 anos <strong>de</strong> serviço e<br />

muita caminhada. Isto porque, com uma turma <strong>de</strong> mulheres, Maria<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

229


vinha a pé para o serviço todos os dias. Ela conta que tomou muita<br />

chuva neste caminho e que não foram poucas as vezes em que a roupa<br />

molhada teve que secar no corpo.<br />

Apesar da ajuda da <strong>Universida<strong>de</strong></strong> na criação <strong>de</strong> seus filhos, dos<br />

amigos e das coisas boas que viveu, na época da aposentadoria, Maria<br />

estava muito cansada e achou que parar era o melhor a fazer. Maricota<br />

ainda trabalhou alguns anos na Biblioteca Pública Municipal <strong>de</strong>pois da<br />

aposentadoria.<br />

Os seis filhos (os cinco naturais e uma adotiva) <strong>de</strong> Maria só<br />

fizeram a família crescer. Agora são 12 netos e sete bisnetos. “Eu sou<br />

muito feliz com a minha família, que é linda”, diz, tranquila, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong><br />

tantas batalhas.<br />

Maria, ou dona Maricota, é uma pessoa que gosta da UEL. E fez<br />

questão que este carinho ficasse registrado: “Amei a <strong>Universida<strong>de</strong></strong>, amei<br />

as pessoas que viviam comigo e respeitei todos para ser respeitada, e<br />

eu fui”.<br />

A única tristeza da funcionária é <strong>de</strong> não ter o SAS (Sistema <strong>de</strong><br />

Atendimento à Saú<strong>de</strong>), <strong>de</strong> funcionários estaduais. Tudo isto porque ela<br />

era uma servidora celetista (regida pelas normas da CLT – Consolidação<br />

das Leis do Trabalho). Até 1992, os funcionários da UEL eram celetistas.<br />

Contribuíam para o INSS e tinham fundo <strong>de</strong> garantia, por exemplo.<br />

Em <strong>de</strong>zembro do mesmo ano, um mês <strong>de</strong>pois da aposentadoria <strong>de</strong><br />

Maria, os funcionários da <strong>Universida<strong>de</strong></strong> passaram a ser estatutários –<br />

funcionários do Estado do Paraná.<br />

Com a mudança, os servidores da UEL, além do atendimento no<br />

antigo NUBEC (atual SEBEC), começaram a contar com os sistemas <strong>de</strong><br />

saú<strong>de</strong> <strong>de</strong>stinados aos funcionários estaduais, como o SAS (posterior ao<br />

IPE).<br />

Atendida pelo SUS (Sistema Único <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>), Maria ainda volta<br />

para a <strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> vez em quando. No Hospital das Clínicas tem<br />

a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> reconhecer muitos ex-alunos que passaram pelo<br />

CCB enquanto ainda estava “na ativa”. “Eu via aqueles estudantes <strong>de</strong><br />

Medicina e pensava que eles não me aten<strong>de</strong>riam porque eu já estava<br />

muito velha. E não é que estão me aten<strong>de</strong>ndo?”, brinca.<br />

Poliana Liboa <strong>de</strong> Almeida<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

230


Plantões no HU <strong>de</strong>ixaram boas histórias<br />

Aposentada há cinco anos, Maria Castro Silveira aproveita os<br />

filhos e o tempo livre<br />

O registro <strong>de</strong> nascimento prova que ela<br />

é paraibana, mas, na verda<strong>de</strong>, Maria<br />

Castro Silveira é paranaense. A família<br />

veio para <strong>Londrina</strong> com Maria ainda<br />

muito menina. “Eu tinha uns dois<br />

ou três anos. Minha mãe não lembra<br />

direito. Não lembro nada, nada da<br />

Paraíba”.<br />

Entretanto, se faltam as lembranças da<br />

Paraíba, sobram as <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>, cida<strong>de</strong> que a família escolheu para<br />

“se instalar”, como diz Maria. “Eu lembro muito da Catedral, era <strong>de</strong><br />

ma<strong>de</strong>ira. Tinha muito mato”, conta. Aqui a primeira residência da<br />

família foi na Vila Brasil. “Era bem diferente. Tinha pouco asfalto. Nós<br />

morávamos perto <strong>de</strong> uma chácara, lá <strong>de</strong>scia os aviões. Tinha caqui,<br />

muitas frutas”, conta, relembrando a infância. E continua: “Depois<br />

fomos morar num sítio. Agora não é mais sítio, é um lugar para lá do<br />

Hospital Universitário, bem para lá. Tinha um matadouro. E quando<br />

estávamos indo para a escola, às vezes, os bois ‘estouravam’, nós<br />

corríamos para toda banda. Nos escondíamos embaixo dos pés <strong>de</strong> cafés<br />

e até rasgava o uniforme da escola”.<br />

Maria, enquanto relata esses momentos, parece realmente<br />

revivê-los. Fala com sauda<strong>de</strong> do tempo <strong>de</strong> infância. Mostra que<br />

aproveitou muito essa fase. “Eu não era arteira. Claro que santinha eu<br />

não era, tinha a parte das artes também”, revela, sorrindo. Não estudou<br />

muito: “Só até o quarto ano; hoje, seria só o primário”. Passou por uma<br />

experiência muito difícil que a obrigou a parar com tudo, conta. “Tem<br />

coisas que é melhor nem lembrar”, afirma, com tristeza.<br />

Maria conseguiu o primeiro emprego na casa <strong>de</strong> uma família. Ela<br />

não lembra quantos anos tinha. A memória não ajuda e, às vezes, pe<strong>de</strong><br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

231


auxílio à filha ou às próprias anotações que faz em um ca<strong>de</strong>rno. Logo<br />

<strong>de</strong>pois trabalhou em uma fábrica <strong>de</strong> móveis, por três anos. “Naquele<br />

tempo foi uma ótima experiência, para quem só tinha trabalhado como<br />

doméstica. Pra mim foi realizado um sonho”. E faz questão <strong>de</strong> ressaltar:<br />

“Esse sonho só se realizou por causa da minha vó. Eu morava com ela,<br />

que me criou. Ela me ajudou em muita coisa. E esse serviço foi ela que<br />

arrumou”.<br />

A fábrica foi fechada e Maria ficou sem emprego. Não por muito<br />

tempo. A avó trabalhava como zeladora em uma escola <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>,<br />

ficou doente e Maria assumiu o trabalho por um ano. “Mas era sem<br />

registro. O governo não registrava, não sei porquê”. Depois trabalhou<br />

mais um tempo em casa <strong>de</strong> família.<br />

Nesse intervalo, a casa da avó foi alugada. “Morou uma japonesa<br />

que era enfermeira no sanatório. Ela arrumou um trabalho lá para<br />

mim”.<br />

Assim começa a história <strong>de</strong> Maria com a <strong>Universida<strong>de</strong></strong>. No ano<br />

<strong>de</strong> 1975, quatro anos após ser inaugurado, o Hospital Universitário<br />

foi transferido para as instalações do Sanatório Noel Nutels, segundo<br />

o Portal Web HU. Maria lembra que o HU era no centro, na Rua<br />

Pernambuco. “Foi numa época em que <strong>de</strong>u um surto <strong>de</strong> meningite.<br />

Eles mandavam os pacientes para lá, que era o único lugar que tinha<br />

vaga. Acho que eles gostaram do ambiente e ficaram lá”.<br />

Com a transferência houve muitas mudanças. “Antes do HU,<br />

lá era um sossego. Eram poucos funcionários e menos pacientes”.<br />

Maria continuou exercendo a sua função <strong>de</strong> copeira, mas passou a ser<br />

funcionária da <strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>Estadual</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>.<br />

Trabalhou muito, muitos plantões. “Eu não vi meus filhos<br />

crescer”, lamenta. Porém, o que ela não pô<strong>de</strong> aproveitar da infância, ela<br />

compensa hoje. Os filhos já são adultos, mas para ela vão ser sempre<br />

crianças. O filho se formou pela UEL. Quando ele cursava Educação<br />

Física ganhou uma bolsa para estudar em Cuba, conta a mãe, orgulhosa.<br />

A filha também trabalha e a auxilia nos afazeres domésticos.<br />

Como copeira Maria trabalhou todo o tempo em contato direto<br />

com os pacientes. “Os pacientes, às vezes, acham que a gente é<br />

enfermeira. Mas, nosso trabalho é só com a comida mesmo”. Ela se<br />

emocionava com as crianças, no setor <strong>de</strong> Pediatria: “Adulto sabe o que<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

232


está acontecendo. E a criança? Às vezes, quando eles estavam <strong>de</strong> jejum<br />

e escutavam o barulho do carrinho sabiam que era almoço e choravam<br />

atrás da gente. Mas, a gente não podia dar”.<br />

Os adultos também aprontavam. “A comida <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da dieta, às<br />

vezes, eles pegam a comida do outro e comem, sendo que não podia.<br />

Tem a quantida<strong>de</strong> certa, a comida certa. E algumas vezes, eles faziam<br />

isso e nós levávamos broncas. Mas, não é. Às vezes, um paciente vê que<br />

o outro ainda está com fome e dá a comida <strong>de</strong>le”.<br />

Mas, tudo isso ficou na lembrança. Maria está aproveitando a<br />

aposentadoria: “Você levanta mais à vonta<strong>de</strong>. Tem mais tempo. Não<br />

tem correria”. Satisfeita, diz que não tem o que reclamar da UEL: “Eu<br />

fiz minha casa, tenho as minhas coisas, graças ao meu trabalho na<br />

UEL”.<br />

Léia Dias Sabóia<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

233


Paixão no Museu<br />

Enquanto aluna, Maria Darci Moura Lombardi já se aventurava<br />

no Museu Histórico, que seria seu local <strong>de</strong> trabalho por 30 anos na<br />

UEL<br />

Em 1976, quando Maria Darci Moura<br />

Lombardi foi trabalhar no Museu Histórico<br />

da UEL, ela já sabia o que queria. Na<br />

verda<strong>de</strong> a sua paixão pelo Museu começou<br />

nos primeiros anos do curso <strong>de</strong> História na<br />

<strong>Universida<strong>de</strong></strong>. Enquanto aluna, Darci não<br />

saía do Museu; ela gostava <strong>de</strong> ajudar nas<br />

exposições, no arquivo (hoje no CDPH,<br />

Centro <strong>de</strong> Documentação e Pesquisa<br />

Histórica) e no que precisasse.<br />

O curso <strong>de</strong> História, assim como o museu,<br />

era no Colégio Hugo Simas. Algumas aulas<br />

eram no Colégio Aplicação. Da faculda<strong>de</strong>, a aluna lembra os professores<br />

bons que ajudaram na sua formação. Ela acredita que foi a melhor<br />

época do curso <strong>de</strong> História.<br />

Darci ainda estava no último ano da faculda<strong>de</strong> quando passou no<br />

concurso da UEL e foi trabalhar na APC (Assessoria <strong>de</strong> Planejamento e<br />

Controle), com os funcionários do alto escalão.<br />

Apesar <strong>de</strong> estar apren<strong>de</strong>ndo muito, a vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> trabalhar no<br />

Museu já tinha levado a funcionária a fazer, por exemplo, um curso em<br />

Curitiba. O ano ela não esquece, 1975, nos dias em que nevou na capital<br />

paranaense. “Lá nos ensinaram a tratar o objeto como gente”, conta.<br />

A transferência para o museu aconteceu ainda em 1976. E foi<br />

com muito amor que ela passou 30 anos em seu trabalho. “Eu estu<strong>de</strong>i<br />

para entrar no Museu. Casei, tive filhos, mas nunca saí daqui.”<br />

Darci conta das vezes em que os funcionários pagavam a papelaria<br />

com seus cheques pessoais para montarem uma exposição e <strong>de</strong>pois <strong>de</strong><br />

um mês a <strong>Universida<strong>de</strong></strong> ressarcia.<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

234


Foram muitas exposições nas salas do Museu. Darci lembra <strong>de</strong><br />

algumas, como <strong>de</strong> quando colocaram um avião teco-teco na sala; as<br />

fantasias do Rei-Momo do carnaval <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>, Dinho, que foram<br />

doadas ao Museu após sua morte; a do povo que fez e que faz, sobre<br />

as pessoas que vieram para a cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> diversas regiões do Brasil e do<br />

mundo.<br />

A funcionária conta que para lidar com o público da cida<strong>de</strong><br />

é preciso estar preparado. Segundo ela, os londrinenses são muito<br />

exigentes. Talvez por isto Darci, que diz ser curiosa <strong>de</strong>s<strong>de</strong> pequena, goste<br />

tanto do museu e <strong>de</strong> agradar o público <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>. Uma funcionária<br />

que consegue enxergar a sensibilida<strong>de</strong> das pessoas na exposição.<br />

Ela diz que os cuidados da instituição com os objetos também<br />

refletem em uma maior confiança da população. “Primeiro, esta pessoa<br />

queria guardar o objeto, e quando vê que o museu é <strong>de</strong> confiança, doa”,<br />

conta.<br />

O Museu Histórico <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> e região é consi<strong>de</strong>rado um museu<br />

gran<strong>de</strong>. Darci ressalta a importância da população e da <strong>Universida<strong>de</strong></strong><br />

em se preocupar e guardar a memória dos que vieram para cá.<br />

Darci, sempre <strong>de</strong>fensora do Museu, lembra que para trabalhar<br />

lá é preciso gostar e ter muita serieda<strong>de</strong>. Também vai contra aqueles<br />

que esperam cheiro <strong>de</strong> coisas velhas vindo <strong>de</strong> lá: “Se há cheiro, vai ter<br />

bicho. Aí não tem objetos”.<br />

A aposentadoria, em 2006, conta Darci, foi muito triste, mas<br />

ela aceitou. Agora a funcionária faz artesanato para passar o tempo.<br />

“Minha cabeça não para, não sei ficar parada”, diz.<br />

Na tar<strong>de</strong> <strong>de</strong> visita ao Museu, a funcionária relembra: “A maioria<br />

<strong>de</strong>stas peças eu limpei”, e ainda elege as suas preferidas, um santuário<br />

japonês, uma palmatória (pelo processo da doação) e as fantasias <strong>de</strong><br />

Dinho, o Rei-Momo.<br />

Poliana Lisboa <strong>de</strong> Almeida<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

235


Maria <strong>de</strong> Lur<strong>de</strong>s Mosseli<br />

Eu morava no Jardim Tókio e uma vizinha<br />

disse que precisava <strong>de</strong> pessoas para trabalhar<br />

na UEL. Aí me inscrevi. Deixei o número do<br />

telefone da minha cunhada. No dia 01/05/74,<br />

recebi um recado que passei no concurso e que<br />

era para ir na UEL para trabalhar. Passei em 22º<br />

lugar. Fui na UEL no dia 03 <strong>de</strong> maio e já fiquei<br />

trabalhando. Sei que trabalhei 32 anos e sete<br />

meses.<br />

Quando comecei, trabalhei no CCH e fiquei lá por 2 anos e meio.<br />

O meu marido me levava e me buscava, porque eu saia <strong>de</strong> casa <strong>de</strong><br />

madrugada, pois não tinha outra companhia para vir. Depois comecei<br />

a fazer amiza<strong>de</strong> e começamos a vir juntos, sempre a pé.<br />

No final <strong>de</strong> 1976 estavam precisando <strong>de</strong> pessoas para trabalhar<br />

na CAF e eu e mais uma amiga fomos emprestadas e eu fiquei por mais<br />

<strong>de</strong> 30 anos.<br />

Gostava muito <strong>de</strong> saber da vida <strong>de</strong> todos. Quando entrava um<br />

funcionário novo, os outros colegas que trabalhavam comigo, falavam<br />

“Oh Lur<strong>de</strong>s, vai levantar a ficha <strong>de</strong>la”. Gostava muito <strong>de</strong> brincar com<br />

todos, dizia “toma preceito <strong>de</strong> homem velho; ou, você acha bom ou<br />

não?”. Sempre mexia com todos. Sempre brincalhona, tratava todos<br />

com muito carinho. “Quando estava trabalhando na UEL, o tempo<br />

voava”.<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

236


Aposentada, mas não tanto<br />

Para Maria Elvira Alves Nunes <strong>Londrina</strong> seria muito diferente<br />

sem a <strong>Universida<strong>de</strong></strong>, a começar pelo <strong>de</strong>senvolvimento<br />

A história <strong>de</strong> Maria Elvira Alves Nunes tem<br />

muito em comum com a história da UEL. Seu<br />

crescimento profissional, acadêmico e pessoal foi<br />

paralelo ao <strong>de</strong>senvolvimento da <strong>Universida<strong>de</strong></strong>.<br />

Elvira, como é chamada, nasceu no interior <strong>de</strong><br />

São Paulo. Mas, aos sete anos mudou-se com a<br />

família para o Paraná. “Era início dos anos 1960,<br />

a fase áurea do café. Meu pai <strong>de</strong>cidiu morar<br />

aqui”. A família morava em Cambé, mas Elvira<br />

sentia-se londrinense: “Tinha uma forte ligação com <strong>Londrina</strong>. Estu<strong>de</strong>i<br />

no Colégio Vicente Rijo e as minhas ativida<strong>de</strong>s eram praticamente<br />

todas aqui”.<br />

Assim que Elvira concluiu o 2º grau, prestou vestibular para<br />

Ciências Econômicas, na UEL. Foi aprovada. Ela planejava seguir<br />

a carreira bancária. “Naquela época quem não tinha vocação para o<br />

magistério, pensava logo em trabalhar nos bancos”. Mas, antes <strong>de</strong><br />

tentar conquistar uma vaga em algum banco, ela prestou o concurso<br />

da UEL. É <strong>de</strong>ssa forma que a história <strong>de</strong> Elvira se encontra com a da<br />

<strong>Universida<strong>de</strong></strong>.<br />

Em janeiro <strong>de</strong> 1975, ela começou a cursar Ciências Econômicas<br />

e, em agosto <strong>de</strong>sse mesmo ano, iniciou suas ativida<strong>de</strong>s na função<br />

<strong>de</strong> escriturária. Foi seu primeiro emprego e, até o ano <strong>de</strong> 2000, o<br />

único. Essas não são as únicas peculiarida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>ssa relação. Elvira<br />

também trabalhou sempre no mesmo local. “Quando comecei era<br />

CAE (Coor<strong>de</strong>nadoria <strong>de</strong> Assuntos <strong>de</strong> Ensino <strong>de</strong> Graduação). Hoje é a<br />

PROGRAD. Convivi com todos os pró-reitores <strong>de</strong> graduação”. Foram<br />

aproximadamente 30 anos no mesmo cargo.<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

237


Ela conta que teve uma ascensão rápida. Entrou como<br />

escriturária, dois anos <strong>de</strong>pois participou <strong>de</strong> um concurso interno e foi<br />

promovida para oficial <strong>de</strong> administração. E, em 1979, passou para chefe<br />

<strong>de</strong> divisão – cargo <strong>de</strong> confiança – em que esteve até a aposentadoria. As<br />

promoções, segundo Elvira, se <strong>de</strong>vem a sua <strong>de</strong>dicação: “Vesti a camisa.<br />

Naquela época existia um caráter <strong>de</strong> pioneirismo”. A <strong>Universida<strong>de</strong></strong><br />

estava se expandindo, criando novos cursos. “E a parte administrativa<br />

também estava se consolidando”, afirma.<br />

Ela faz questão <strong>de</strong> ressaltar que permaneceu por muitos anos no<br />

cargo <strong>de</strong> confiança, mas que em todas as mudanças <strong>de</strong> administração<br />

ela o colocava à disposição. “O que eu fazia era muito específico. Exigia<br />

dinamismo. Não que outra pessoa não pu<strong>de</strong>sse fazer, mas ia <strong>de</strong>morar<br />

até que apren<strong>de</strong>sse”. Elvira conta que houve uma situação em que um<br />

grupo pediu ao pró-reitor para que a tirasse do cargo. “Mas, ele disse<br />

em reunião que não podia fazer isso, porque eu era fundamental para<br />

o andamento das coisas”, relata, reforçando que era pelo trabalho<br />

específico que realizava.<br />

Elvira acompanhou um momento importante na <strong>Universida<strong>de</strong></strong>:<br />

as mudanças tecnológicas. Logo que começou a trabalhar na UEL, era o<br />

início da informática. O serviço era parte terceirizado e parte realizado<br />

por um computador chamado 3090. Antes as notas e a frequência eram<br />

lançadas em fichas individuais. “Re<strong>de</strong> <strong>de</strong> computadores não existia,<br />

era máquina <strong>de</strong> escrever, umas eram elétricas”, lembra Elvira. Com<br />

poucos recursos à disposição, as informações <strong>de</strong>moravam a chegar.<br />

“Nós ficávamos sabendo das mudanças na legislação, por exemplo,<br />

com semanas ou meses <strong>de</strong> atraso”. O ritmo <strong>de</strong> trabalho era lento. E a<br />

<strong>de</strong>mora causava insatisfações nos alunos. “Um histórico escolar levava<br />

umas três semanas ou mais para ficar pronto”.<br />

Assim que terminou Ciências Econômicas, Elvira cursou Ciências<br />

Sociais também na UEL. Nunca exerceu. Ela revela que gosta <strong>de</strong> analisar<br />

a política e <strong>de</strong>sejava enten<strong>de</strong>r mais sobre o assunto. “Fiz mais por<br />

conhecimento próprio, queria compreen<strong>de</strong>r os mecanismos políticos”.<br />

Também fez especialização na UNIFIL. “Hoje na UEL tem o plano <strong>de</strong><br />

cargo e carreira que é um incentivo para o funcionário. Mas, naquela<br />

época, não. Para ter ascensão tinha que sair da carreira administrativa<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

238


e entrar para a docência, senão os cursos <strong>de</strong> especialização nem valiam<br />

a pena”.<br />

Elvira se aposentou há alguns meses. Des<strong>de</strong> 2000, ela trabalhava<br />

na UEL e em outra instituição <strong>de</strong> ensino superior. Agora só reduziu a<br />

carga horária. “Ainda me sinto muito produtiva, a aposentadoria não<br />

trouxe gran<strong>de</strong>s mudanças, só estou trabalhando menos“.<br />

Apesar <strong>de</strong> ter trabalhado muito e afirmar que <strong>de</strong>u à <strong>Universida<strong>de</strong></strong><br />

toda a sua juventu<strong>de</strong>, quando trabalhava até muito tar<strong>de</strong> e, às vezes,<br />

nos fins <strong>de</strong> semana, Elvira não reclamava. Pelo contrário, se orgulha:<br />

“Tenho a UEL com muito carinho. Devo a ela toda a minha formação.<br />

Acompanhei e aju<strong>de</strong>i a construir a UEL”.<br />

Léia Dias Sabóia<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

239


Maria Helena Kley Vazzi<br />

Filha <strong>de</strong> pioneiros, Maria Helena Kley só<br />

po<strong>de</strong>ria ser uma apaixonada por <strong>Londrina</strong>.<br />

“Meus pais vieram em 1943-1944. Nasci aqui<br />

e nunca quis sair”, afirma. Seu pai é uma<br />

referência quando o assunto é radio e televisão:<br />

“Ele é um exemplo muito bonito”. Aimoré Kley<br />

foi precursor <strong>de</strong> programas <strong>de</strong> auditórios e <strong>de</strong><br />

músicas sertanejas. Maria Helena conta que<br />

trabalhou com o pai por algum tempo, como<br />

secretária, para ajudá-lo. A sua vocação era<br />

outra, formou-se em Odontologia.<br />

Um en<strong>de</strong>reço famoso também merece o mesmo carinho <strong>de</strong>dicado<br />

a cida<strong>de</strong>: “No Counp (Centro Odontológico Universitário do Norte do<br />

Paraná) estu<strong>de</strong>i e trabalhei por 32 anos. Na verda<strong>de</strong>, durante a minha<br />

vida eu só saí <strong>de</strong>sse prédio por quatro anos, três para o magistério e um<br />

para o cursinho”.<br />

Quando Maria Helena se formou, optou por não seguir a<br />

carreira acadêmica. “Eu teria que sair <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>. Eu me casei no<br />

terceiro ano do curso, e não podia <strong>de</strong>ixar os filhos e o esposo. Preferi<br />

ser mãe”. Tempos <strong>de</strong>pois foi implantado um Mestrado em Histologia<br />

(estuda a estrutura microscópia, composição e função dos tecidos dos<br />

seres vivos). No entanto, não <strong>de</strong>spertou o interesse <strong>de</strong> Maria Helena:<br />

“Naquela época o título não valia muita coisa. Não era um diferencial,<br />

a não ser o título”, explica.<br />

O terceiro ano <strong>de</strong> faculda<strong>de</strong> foi muito importante para ela. Além<br />

<strong>de</strong> ter se casado, foi durante esse ano que conheceu o professor Waldir<br />

Edgard Carnio, que lecionava a disciplina <strong>de</strong> Periodontia. Nome a que<br />

ela se refere com muita ternura: “Ele era meu irmão, eu era irmã <strong>de</strong>le,<br />

meu pai, meu filho”. E Maria Helena era aplicada: “Sempre ia bem<br />

na matéria <strong>de</strong> Periodontia”. Ela conta que o professor Waldir, chefe<br />

<strong>de</strong> colegiado, a colocou como representante discente. Era o início <strong>de</strong><br />

uma relação que perdurou por 35 anos. “Todos esses anos <strong>de</strong> trabalho<br />

juntos, sem haver nunca uma rusga”.<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

240


Quando estava no quarto ano, ela foi convidada a conhecer o<br />

consultório do professor Waldir. “Quando cheguei tinha uma paciente<br />

esperando e ele me disse para eu atendê-la, porque era só para fixar<br />

uma peça”, relembra. E a visita foi adiada, com a promessa <strong>de</strong> que no<br />

dia seguinte ele mostraria o consultório.<br />

Porém, no dia seguinte a mesma situação: “Tinha uma governanta<br />

com dor <strong>de</strong> <strong>de</strong>nte, e ele pediu para que eu aten<strong>de</strong>sse”.<br />

O professor Waldir também contribuiu para o ingresso e início da<br />

vida profissional <strong>de</strong> Maria Helena na UEL. “Quando me formei, ele me<br />

levou para a <strong>Universida<strong>de</strong></strong>, para fazer estágio. Trabalhei como docente<br />

– contratação temporária – <strong>de</strong>pois prestei o concurso e continuei lá”.<br />

Des<strong>de</strong> a conclusão do curso, Maria Helena trabalhou com o professor<br />

na UEL e no consultório particular. Isso até o ano passado, quando, aos<br />

80 anos, o professor e amigo faleceu.<br />

Maria Helena, mesmo aposentada da <strong>Universida<strong>de</strong></strong>, continuava<br />

trabalhando no consultório. Ela conta que aos poucos foi <strong>de</strong>sacelarando<br />

o ritmo e já está aten<strong>de</strong>ndo os últimos pacientes. Assim, vai sobrar mais<br />

tempo para cuidar do neto, recém-nascido: “Ser vovó foi um privilégio<br />

que Deus me <strong>de</strong>u”. E preten<strong>de</strong> investir em uma nova empreitada. Agora<br />

ela é sócia da filha num estúdio infantil. Maria Helena terá a função <strong>de</strong><br />

cuidar do neto e da organização e burocracias da nova ativida<strong>de</strong>.<br />

O recém-chegado ainda não sabe, mais tem uma vovó mo<strong>de</strong>rna:<br />

“Eu não sou daquele saudosismo, que fala ‘no meu tempo’... Eu adoro<br />

ter microondas, gosto <strong>de</strong> computador”. Sobre o momento que vive<br />

hoje, Maria Helena <strong>de</strong>fine: “Estou em lua-<strong>de</strong>- mel comigo”.<br />

Léia Dias Sabóia<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

241


Na Comissão <strong>de</strong> Seleção<br />

A funcionária Maria Luiza Baccarin trabalhou <strong>de</strong>s<strong>de</strong> formada até<br />

a aposentadoria na <strong>Universida<strong>de</strong></strong>, a maior parte <strong>de</strong>les na organização<br />

dos vestibulares<br />

Maria Luiza Baccarin formou-se na<br />

primeira turma do curso <strong>de</strong> Educação Física<br />

da <strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>Estadual</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>.<br />

Em 1972 ela entrara na faculda<strong>de</strong> e após<br />

três anos alternando aulas teóricas no<br />

Colégio <strong>de</strong> Aplicação, práticas no campo <strong>de</strong><br />

futebol da Vila Santa Terezinha – algumas<br />

com instruções teóricas nos banheiros do<br />

campo – e, apenas no final, no campus,<br />

Baccarin se graduara. Mas ainda não tinha<br />

o diploma reconhecido.<br />

A solução foi prestar alguns concursos<br />

e começar a trabalhar logo. O primeiro que Maria Luiza passou, <strong>de</strong> um<br />

banco, exigia <strong>de</strong>la mudar-se da cida<strong>de</strong>. Ela nascera aqui. O segundo,<br />

logo em seguida era da UEL. E assim, começou a trabalhar, dia 1° <strong>de</strong><br />

julho <strong>de</strong> 1976, na prefeitura do campus como auxiliar <strong>de</strong> secretaria.<br />

Depois passou a ser uma Diretoria on<strong>de</strong> Maria Luiza foi chefe <strong>de</strong><br />

uma divisão. Mas a carreira <strong>de</strong>la <strong>de</strong>ntro da <strong>Universida<strong>de</strong></strong> ficou marcada<br />

quando, em abril <strong>de</strong> 1979 foi criada a Copese, a Comissão Permanente<br />

<strong>de</strong> Seleção. Maria Luiza foi a primeira funcionária da Comissão, que<br />

era vinculada à CAE – atual Pró-Reitoria <strong>de</strong> Graduação – e responsável<br />

pelos processos seletivos, os vestibulares. Naquela época, e até a saída<br />

<strong>de</strong>la, em 2003, quando a Comissão passou a ser a Coor<strong>de</strong>nadoria<br />

<strong>de</strong> Processos Seletivos, COPS, as provas não eram elaboradas pela<br />

<strong>Universida<strong>de</strong></strong>.<br />

“Como os alunos eram poucos no começo a CAE mesmo<br />

que organizava a seleção. A Fundação Carlos Chagas, que era uma<br />

instituição muito respeitável <strong>de</strong> São Paulo, que elaborava as provas e<br />

nós só aplicávamos”, conta a funcionária.<br />

Com a mudança da Copese para COPS o órgão ainda teve<br />

alguns vestibulares vindos da <strong>Universida<strong>de</strong></strong> Fe<strong>de</strong>ral do Paraná para se<br />

estruturar.<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

242


A funcionária conta que a Copese funcionava com três a quatro<br />

funcionários o ano todo, e que na época dos vestibulares, a maior parte<br />

dos anos teve dois vestibulares por ano, eram chamados alunos para<br />

colaborarem. “A gente chegou a ter 2.200 pessoas para cuidar <strong>de</strong> até<br />

vinte e cinco mil candidatos.”<br />

Antes <strong>de</strong> a Internet ajudar no processo da inscrição, Maria<br />

Luiza lembra que elas costumavam ser feitas pessoalmente. Não era<br />

comum voltar para a casa antes das <strong>de</strong>z horas da noite naqueles dias,<br />

“os funcionários da CAE ajudavam muito a gente, antes era no próprio<br />

balcão da CAE, <strong>de</strong>pois começamos a fazer as inscrições no Pinicão, lá<br />

no Centro <strong>de</strong> Ciências Biológicas. Era muita gente, muita inscrição,<br />

muito trabalho, mas também muita realização pessoal.”<br />

A funcionária <strong>de</strong>staca, que como o órgão era responsável apenas<br />

pela execução da prova, tratava <strong>de</strong> fazê-la bem feita. “A estrutura <strong>de</strong><br />

segurança era muito gran<strong>de</strong> e isto tinha repercussão nacional”. Maria<br />

Luiza Baccarin acredita a segurança durante as provas, a exposição da<br />

classificação assim que foi permitido, tudo foi responsável por criar<br />

uma cultura <strong>de</strong> “aqui não” é possível fraudar o resultado do vestibular.<br />

Depois <strong>de</strong> passar tanto tempo cuidando <strong>de</strong> dois vestibulares<br />

por ano, quando “tirar umas férias era quase impossível, nós nem<br />

acabávamos um vestibular e começávamos outro”, a funcionária da<br />

<strong>Universida<strong>de</strong></strong> conta que teve que se preparar para a aposentadoria, em<br />

2003.<br />

“Eu saí muito cansada da <strong>Universida<strong>de</strong></strong>, e outros precisavam<br />

entrar. Eu me preparei para po<strong>de</strong>r sair, e eu aconselho a todos saber o<br />

que é ter outras ativida<strong>de</strong>s. Eu não parei um minuto, e só tenho alegrias<br />

em dizer que saí da UEL”.<br />

Cinco anos longe da UEL e Maria Luiza Baccarin já estudou<br />

Teologia na <strong>Universida<strong>de</strong></strong> dos Ministérios da Arquidiocese <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong><br />

e agora faz um curso <strong>de</strong> extensão na Pontifícia <strong>Universida<strong>de</strong></strong> Católica<br />

<strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>.<br />

Além das lembranças e <strong>de</strong> todo o currículo que levou da<br />

<strong>Universida<strong>de</strong></strong>, ela falou dos amigos que fez. Os relacionamentos que<br />

realmente importam, como Baccarin avisa, foram poucos, mas estes<br />

estão enraizados. “Este sábado mesmo estava com eles!”<br />

Poliana Lisboa <strong>de</strong> Almeida<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

243


Colona e funcionária<br />

Maria Pontes <strong>de</strong> Oliveira, zeladora do CCB, tinha contato com o<br />

campus quando ele ainda era a Fazenda Santana<br />

Maria Pontes <strong>de</strong> Oliveira era uma das<br />

colonas da Fazenda Santana, da família<br />

Gonzaga. A fazenda foi transformada<br />

em campus universitário e aos poucos o<br />

cafezal foi removido. A região do Centro<br />

<strong>de</strong> Educação Física e Esporte foi uma das<br />

últimas a per<strong>de</strong>r seus pés <strong>de</strong> café.<br />

Ela morava perto da <strong>Universida<strong>de</strong></strong>, on<strong>de</strong><br />

hoje é o Portal <strong>de</strong> Versailles. A casa era<br />

dos patrões e, mesmo com o surgimento<br />

da UEL, ficou lá até 1996.<br />

A cunhada começou a trabalhar no campus. Maria veio também,<br />

preencheu uma ficha e diz que, simples assim, começou a trabalhar<br />

como auxiliar <strong>de</strong> serviços gerais. Mas <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> 20 anos a <strong>de</strong>spedida<br />

foi difícil, e fez a funcionária sair chorando. O marido também ficou na<br />

<strong>Universida<strong>de</strong></strong> até a aposentadoria como tratorista, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> 35 anos<br />

<strong>de</strong> serviço.<br />

Quando ela começou a trabalhar no Centro <strong>de</strong> Ciências<br />

Biológicas, não tinha asfalto nas ruas internas e era preciso limpar a<br />

terra que invadia as salas. Mas o importante para a funcionária era<br />

estar empregada. Nesse início ela passou um ano trabalhando na<br />

morfologia. Era preciso limpar as salas on<strong>de</strong> os cadáveres ficavam.<br />

Mesmo eles estando cobertos ela lembra que sua companheira tinha<br />

um pouco <strong>de</strong> receio <strong>de</strong> ficar na sala.<br />

Durante estes 20 anos <strong>de</strong> CCB, Maria diz que conhecia o Centro<br />

como se ele fosse a sua casa. Chegava lá às 6h10, pois vinha rápido <strong>de</strong><br />

casa, limpava o “piniquinho” e antes da aposentadoria passou a ficar<br />

na cozinha.<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

244


Ela lembra que ria muito com as amigas e que trabalhava com<br />

pessoas muito boas, colegas, professores e diretores <strong>de</strong> Centro. Maria<br />

se recorda também <strong>de</strong> quando uma chuva forte inundou as salas <strong>de</strong><br />

aula e tiveram que ficar até tar<strong>de</strong> da noite limpando.<br />

A funcionária tem cinco filhos, dois <strong>de</strong>les enfermeiros formados<br />

na UEL. Durante o curso do filho, ela diz que era bom vê-lo todos os<br />

dias no CCB. Maria aposentou-se em 1995 e diz que foi difícil <strong>de</strong>ixar a<br />

UEL. Agora ela cuida <strong>de</strong> uma das seis netas e da casa, on<strong>de</strong> gosta <strong>de</strong><br />

cozinhar, bordar e costurar um pouco.<br />

Poliana Lisboa <strong>de</strong> Almeida<br />

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245


Era política brasileira<br />

Maria Regina Clivati Capelo, professora do Departamento <strong>de</strong><br />

Ciências Sociais, teve que ir atrás da habilitação em outras disciplinas<br />

para que a política não a <strong>de</strong>ixasse <strong>de</strong> lado<br />

Estudo <strong>de</strong> Problemas Brasileiros, EPB. Na<br />

década <strong>de</strong> 1980, a disciplina imposta pelo<br />

governo militar a todos os alunos <strong>de</strong> ensino<br />

superior e com discussões orientadas pela<br />

Escola Superior <strong>de</strong> Guerra não era uma das<br />

mais populares na UEL. E foi esta disciplina<br />

que a professora Maria Regina Clivati Capelo<br />

começou a lecionar na <strong>Universida<strong>de</strong></strong>.<br />

Maria Regina é filha <strong>de</strong> pioneiros da cida<strong>de</strong> e<br />

nasceu em um sítio entre a Warta e o Heimtal. “No sítio as famílias<br />

eram gran<strong>de</strong>s e meu pai veio para a cida<strong>de</strong> para acolher os primos que<br />

precisassem estudar”, lembra.<br />

Ela estudou no Colégio Vicente Rijo, o ginásio foi no prédio antigo,<br />

e o ensino médio, no novo. Maria Regina conta que as aulas eram <strong>de</strong><br />

manhã, e <strong>de</strong> tar<strong>de</strong> tinha que voltar para a prática <strong>de</strong> Educação Física.<br />

O uniforme era todo branco e todos se sujavam muito. As maiores<br />

lembranças são dos professores, muito exigentes no curso clássico.<br />

Tanto que, conta a professora, o francês que apren<strong>de</strong>u no colégio foi o<br />

que a habilitou para cursar o mestrado mais tar<strong>de</strong>.<br />

Maria Regina cursou Direito na Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Direito <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>,<br />

mas, formada em 1976, advogou apenas por um ano. Depois, fez o<br />

curso <strong>de</strong> Esquema Um, com disciplinas <strong>de</strong> licenciatura, e começou a<br />

lecionar em cursos profissionalizantes e OSPB, Organização Social e<br />

Político-Brasileira, no ensino médio.<br />

Como monitora, Maria Regina começou a trabalhar no Cesulon,<br />

até passar por um teste seletivo e assumir a disciplina <strong>de</strong> EPB.<br />

Em 1984, houve o concurso para novos professores <strong>de</strong> EPB na<br />

UEL. A professora entrou na <strong>Universida<strong>de</strong></strong> em 1983 para cobrir uma<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

246


licença-gestação e ficou em segundo lugar no concurso, com uma carga<br />

horária <strong>de</strong> 20 horas semanais.<br />

A disciplina não era vista com bons olhos entre os professores<br />

também, que preferiam que as contratações para o Departamento <strong>de</strong><br />

Ciências Sociais fossem para disciplinas básicas.<br />

A professora conta que não concordava com a obrigação da<br />

disciplina do jeito que a Escola Superior <strong>de</strong> Guerra enviava o programa<br />

com a política conservadora. “Eu achava que estaríamos seguros se<br />

resolvêssemos a fome e a questão da terra”, e neste espírito dava aula a<br />

200 alunos reunidos no “piniquinho”.<br />

Como todos os alunos eram obrigados a cursar a disciplina, uma<br />

mesma sala <strong>de</strong> aula abrigava estudantes <strong>de</strong> Administração, Engenharia,<br />

Medicina, Direito, o que era outro problema para a professora.<br />

Quando a disciplina <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> existir, a professora já havia<br />

feito duas especializações e Mestrado em Fundamentos da Educação<br />

na Ufscar e começou a trabalhar com Sociologia da Educação. Maria<br />

Regina <strong>de</strong>u aula no Direito, Psicologia, Economia, Ciências Sociais e<br />

Letras. Com tantos alunos que teve, ela brinca: “Houve uma época em<br />

que sair comigo na rua era difícil”.<br />

A professora acabou o Doutorado em Educação, Socieda<strong>de</strong> e<br />

Cultura em 2000. Cinco anos <strong>de</strong>pois, quando pediu sua contagem para<br />

a aposentadoria, faltavam cinco dias <strong>de</strong> trabalho. Com a mudança da<br />

lei, ou Maria Regina se aposentava ou teria que esperar mais cinco<br />

anos.<br />

Para aumentar os ganhos, a professora começou a dar aulas<br />

no programa <strong>de</strong> Mestrado em Educação na Unoeste, em Presi<strong>de</strong>nte<br />

Pru<strong>de</strong>nte (SP). Depois <strong>de</strong> três anos, há alguns dias Maria Regina pediu<br />

<strong>de</strong>missão. “No programa <strong>de</strong> mestrado você tem que publicar muito. E<br />

acho que tem que <strong>de</strong>ixar espaço para os doutores mais jovens”.<br />

Agora, ela quer aproveitar o tempo com qualida<strong>de</strong> e <strong>de</strong>scansar<br />

da cansativa carreira acadêmica. Em seu escritório, a professora conta<br />

que quer ler romances que comprava e não tinha tempo para ler e que<br />

não precisa <strong>de</strong> muito dinheiro para continuar a sua vida.<br />

Poliana Lisboa <strong>de</strong> Almeida<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

247


Museóloga da UEL<br />

A funcionária Marina Zuleika Scalassara começou a trabalhar<br />

no Museu Histórico <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> quando ele ainda funcionava nos<br />

porões do Colégio Hugo Simas<br />

Em 12 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1970, Marina Zuleika<br />

Scalassara começou a trabalhar on<strong>de</strong> ficaria por<br />

34 anos. Zuleika, como é mais conhecida, já era<br />

funcionária da Faculda<strong>de</strong> <strong>Estadual</strong> <strong>de</strong> Filosofia<br />

e Letras <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o ano anterior, mas nesta data<br />

começou a trabalhar no Museu, mesmo sem<br />

experiência nenhuma.<br />

Sua família viera do interior <strong>de</strong> São Paulo. A<br />

cida<strong>de</strong>, Joaquim da Barra, era pequena, mas<br />

como ela já estudava em Ribeirão Preto, no começo dos anos 1960 era<br />

difícil <strong>de</strong> acostumar. Zuleika, então, fez o curso normal em Assis e o<br />

superior em São Paulo.<br />

Ela voltou para <strong>Londrina</strong> e começou a lecionar no Colégio Mãe<br />

<strong>de</strong> Deus. De lá foi trabalhar na Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Filosofia e Letras como<br />

auxiliar <strong>de</strong> tesouraria. A funcionária acompanhou o surgimento e o<br />

crescimento do Museu Histórico <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>, que começou como uma<br />

ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> duas disciplinas do curso <strong>de</strong> História, com os professores<br />

Padre Carlos Weiss e Maria Dulce Alho Dotti. Zuleika conta que no<br />

começo a arrecadação do acervo era feita pelos próprios alunos que<br />

recebiam notas por isto. Também neste início ficou estabelecido que o<br />

Museu abrangeria a região e não apenas a cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>.<br />

Em setembro <strong>de</strong> 1970 o Museu foi inaugurado. Ele ficava nos<br />

porões do Colégio Hugo Simas e a funcionária trabalhava lá seis horas<br />

semanais, tempo em que <strong>de</strong>ixava a tesouraria. “Eu não entendia nada e<br />

fazia as fichas copiando o mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> outras.”<br />

Quando a parte administrativa da <strong>Universida<strong>de</strong></strong> mudou-se<br />

para o campus, Zuleika foi junto. Então o professor e vice-reitor Iran<br />

Sanches transferiu-a para o Centro <strong>de</strong> Ciências Humanas para que ela<br />

voltasse ao Museu.<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

248


Ele era dividido entre Arquivo (<strong>de</strong> papel), organizado pela<br />

professora Maria Dulce e Museu (tridimensional), organizado pelo Pe.<br />

Carlos Weiss. No começo alunos <strong>de</strong> 1º e 2º grau não visitavam o local,<br />

a comunida<strong>de</strong> não era próxima a ele, conta a funcionária.<br />

Deste começo, Zuleika lembra que a estrutura do Hugo Simas<br />

não era apropriada, se os alunos <strong>de</strong>rrubavam alguma bebida lá em<br />

cima, escorria para o Museu. O barulho do colégio também era gran<strong>de</strong>.<br />

Como Pe. Carlos Weiss não gostava da idéia <strong>de</strong> abrir o Museu<br />

para exposição antes que estivesse pronto, a funcionária diz que<br />

aproveitavam as férias <strong>de</strong>le para abrir o Museu. E era um sucesso.<br />

Em 1978, Marina Zuleika participou <strong>de</strong> um encontro em Bagé<br />

sobre o tema. O encontro foi uma oportunida<strong>de</strong> para estabelecer<br />

contatos e se integrar no mundo dos museus, pois aqui o Museu estava<br />

“sozinho”, assim como a funcionária.<br />

Em 1980 ela foi para São Paulo fazer uma pós-graduação em<br />

Museologia. A graduação em Pedagogia fora nos primeiros anos <strong>de</strong><br />

Faculda<strong>de</strong>. Até 1982 ela <strong>de</strong>dicou-se ao curso que a UEL ofereceu, fez<br />

seis meses <strong>de</strong> estágio em São Paulo e voltou.<br />

Marina Zuleika contou o processo <strong>de</strong> transferência do Museu<br />

para o prédio da antiga estação ferroviária. A inauguração foi no dia 10<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1986, mas apenas em 22 <strong>de</strong> agosto do ano seguinte que<br />

se <strong>de</strong>u a mudança <strong>de</strong>finitiva. Não havia lugar planejado para guardar<br />

acervo, o lugar era ponto <strong>de</strong> convergência <strong>de</strong> vento, etc.<br />

Mas passados vários obstáculos, a museóloga lembra com orgulho<br />

<strong>de</strong> iniciativas do Museu. Os bailes do lampião que foram promovidos<br />

pelo órgão, são exemplos. Ela conta que era comum quando acabavam<br />

<strong>de</strong> cobrir as casas <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira, que marcaram o início da colonização <strong>de</strong><br />

<strong>Londrina</strong> e região, as pessoas darem um baile, pois as divisórias eram<br />

colocadas <strong>de</strong>pois da casa pronta e nesta etapa o que se tinha era um<br />

salão, próprio para a festa. Para relembrar o costume, alguns bailes<br />

foram promovidos, em especial para a terceira ida<strong>de</strong>. A plataforma<br />

do Museu e até mesmo o salão interno (quando ele foi reformado na<br />

década <strong>de</strong> 1990) foram palco.<br />

Aproveitando a história recente e a existência <strong>de</strong> pioneiros que<br />

chegaram à cida<strong>de</strong> em seu início, também houve o projeto Cuco. Alunos<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

249


<strong>de</strong> escolas da região eram convidados a entrevistar um pioneiro. O<br />

projeto durou muitos anos e o material, gravado, está no acervo.<br />

No entanto, uma das maiores iniciativas não foi tomada pelo<br />

Museu. Zuleika conta que a última reforma do Museu, em 1996, foi<br />

feita com dinheiro da comunida<strong>de</strong> que colaborou com doações. No<br />

túnel <strong>de</strong> entrada do Museu consta o nome <strong>de</strong> todos os que ajudaram.<br />

Durante esta reforma o Museu contou com a presença da museóloga da<br />

<strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> São Paulo, Maria Cristina <strong>de</strong> Oliveira Bruno.<br />

Zuleika aposentou-se compulsoriamente em 2003, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> 33<br />

anos <strong>de</strong>dicados à <strong>Universida<strong>de</strong></strong>, dos quais a maioria ao Museu Histórico<br />

<strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> Pe. Carlos Weiss. O nome <strong>de</strong> Pe. Weiss foi incorporado ao<br />

nome do Museu como um patrono em uma homenagem póstuma.<br />

Ela diz sentir muito orgulho <strong>de</strong> ter feito parte e que a <strong>Universida<strong>de</strong></strong><br />

po<strong>de</strong> sentir orgulho por ter um Museu <strong>de</strong> vanguarda.<br />

Com o Museu quase na hora <strong>de</strong> fechar, no saguão <strong>de</strong> entrada,<br />

Zuleika apontava alguns relógios e explicava sobre eles a um grupo<br />

<strong>de</strong> meninos que passavam por lá. Aquele lugar sempre terá e será um<br />

pouquinho <strong>de</strong> Zuleika.<br />

Poliana Lisboa <strong>de</strong> Almeida<br />

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250


Carioca da gema<br />

Alegre e animada, a professora Martha Augusta Correa e<br />

Castro Gonçalves é só sorrisos ao contar sua longa história<br />

<strong>de</strong> vida e carreira, repletas <strong>de</strong> livros, trabalho, e <strong>de</strong>dicação<br />

Bastam poucas palavras da animada<br />

professora Martha para i<strong>de</strong>ntificar seu forte<br />

sotaque carioca. Nascida e criada no Rio <strong>de</strong><br />

Janeiro, capital, ela não nega suas origens:<br />

esbanja uma simpatia contagiante, típica do<br />

seu povo. “Eu vivi no Rio da melhor época,<br />

antes da ditadura, quando o Rio era Estado da<br />

Guanabara. Era menos violento e eu <strong>de</strong>sfrutei<br />

daquela terra, tirei <strong>de</strong>la o melhor que pu<strong>de</strong>”.<br />

Fissurada por leitura <strong>de</strong>s<strong>de</strong> menina, como<br />

ela mesma se <strong>de</strong>fine, foi na cida<strong>de</strong> natal que fez a Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Letras<br />

na antiga UEG (<strong>Universida<strong>de</strong></strong> do Estado da Guanabara), atual UERJ<br />

(<strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>Estadual</strong> do Rio <strong>de</strong> Janeiro).<br />

Lá também se casou e iniciou uma jornada por vários estados<br />

brasileiros e uma passagem pelo exterior, antes <strong>de</strong> chegar à UEL. “Meu<br />

marido foi fazer pós-graduação em São Paulo e eu fui junto. Lá comecei<br />

a dar aulas para o ensino médio na escola pública. Ficamos uns dois<br />

anos, aí teve concurso para professor no Rio e eu passei”, explica. De<br />

volta ao Rio <strong>de</strong> Janeiro, Martha <strong>de</strong>u aulas em várias escolas da cida<strong>de</strong>,<br />

sempre públicas. Em seguida, retornou à capital paulista por mais<br />

dois anos, até que seu esposo conseguiu ir para a UFV – <strong>Universida<strong>de</strong></strong><br />

Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Viçosa, em Minas Gerais. Na primeira passagem pela cida<strong>de</strong><br />

mineira, Martha não <strong>de</strong>u aulas.<br />

Após um período na UFV, o marido foi fazer outra pós-graduação,<br />

<strong>de</strong>sta vez nos Estados Unidos. “Morei quatro anos em Madison,<br />

no norte dos Estados Unidos, on<strong>de</strong> fiz meu primeiro mestrado, na<br />

<strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> Wisconsin. Era um curso <strong>de</strong> Língua Portuguesa para<br />

alunos americanos, por isso não é reconhecido aqui”. Ao terminar o<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

251


mestrado, Martha recebeu um convite da <strong>Universida<strong>de</strong></strong> para continuar<br />

como professora oficial e iniciar o doutorado. Mas, preferiu voltar<br />

ao Brasil: “E eu quero morar na terra dos outros? Não gostei <strong>de</strong> ser<br />

estrangeira... eu gosto é <strong>de</strong>ssa terra aqui”, diz sorri<strong>de</strong>nte.<br />

Após a experiência <strong>de</strong> quatro anos no exterior, a professora voltou<br />

para Viçosa. Foi um período <strong>de</strong> mudanças em sua vida. Separou-se do<br />

marido e começou a tomar seus próprios rumos. Conseguiu emprego<br />

como professora, mas sem vaga efetiva. Por isso procurou todos os<br />

concursos possíveis, até que uma amiga avisou da vaga aberta na UEL.<br />

“Eu vim para <strong>Londrina</strong> em 1991. Já tinha mais <strong>de</strong> 50 anos. Fiz a prova<br />

e <strong>de</strong>pois fui para São Paulo encontrar uma amiga. Assim que abri a<br />

porta na casa <strong>de</strong>la, já tinha a notícia que eu tinha passado. Avisaram<br />

meu filho em Viçosa e ele ligou para contar!”, lembra. Foi a primeira<br />

vez que Martha foi contratada por uma <strong>Universida<strong>de</strong></strong>. “Eu não tinha<br />

experiência nenhuma no ensino superior. Cheguei aqui crua. Os alunos<br />

até ‘mexiam’ comigo, porque eu não tirava o olho do livro”, revela.<br />

Foi lotada no Departamento <strong>de</strong> Letras Vernáculas e Clássicas.<br />

Como seu título <strong>de</strong> mestre não foi reconhecido pela UEL, por ter<br />

sido feito no exterior, a professora iniciou um mestrado nacional na<br />

primeira oportunida<strong>de</strong>. Após dois anos lecionando na <strong>Universida<strong>de</strong></strong>,<br />

começou seu segundo mestrado na Unesp (<strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>Estadual</strong> <strong>de</strong><br />

São Paulo), mesmo sem conseguir licença das aulas. “Ah eu <strong>de</strong>i um jeito!<br />

Arranjava carona e o pessoal da diretoria do <strong>de</strong>partamento facilitava<br />

na hora <strong>de</strong> distribuir a carga horária: sobrecarregavam as segundas,<br />

terças e quartas e <strong>de</strong>ixavam as quintas e sextas livres”, comenta. O<br />

doutorado veio logo em seguida. “Eu emen<strong>de</strong>i praticamente... foi<br />

com muito esforço, porque é muito difícil terminar a pós-graduação<br />

trabalhando. Quando você faz uma tese, só fica pensando naquilo, não<br />

dá para pensar em outra coisa!”, afirma.<br />

Uma das paixões <strong>de</strong> Martha, durante os anos que passou na<br />

UEL foi um projeto <strong>de</strong> extensão, do qual participou <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início: “É<br />

um trabalho que pega o estudante <strong>de</strong> Letras dos últimos anos e põe<br />

na sala <strong>de</strong> aula trabalhando com leitura e produção <strong>de</strong> texto”, explica.<br />

A realização era em conjunto com escolas públicas da cida<strong>de</strong>. Os<br />

estagiários do projeto eram apresentados aos alunos das turmas como<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

252


professores <strong>de</strong> uma disciplina ligada à Língua Portuguesa. Martha<br />

<strong>de</strong>staca que suas alunas eram muito bem orientadas pelos supervisores<br />

do projeto antes <strong>de</strong> começar o trabalho. E o resultado era sempre<br />

positivo, para orgulho da professora: “Eu sempre acreditei muito neste<br />

projeto. E a gente via o resultado. As meninas chegavam no começo<br />

do ano inseguras, sem nunca ter entrado numa sala <strong>de</strong> aula, mas com<br />

o incentivo e as orientações que a gente dava elas cresciam e aí nos<br />

relatórios, você via como é que elas se revelavam”.<br />

Para Martha a importância <strong>de</strong> trabalhar bem com a produção <strong>de</strong><br />

texto nas escolas é inestimável. Por isso, apesar <strong>de</strong> ministrar outras<br />

disciplinas, sempre priorizou esta área. “Eu acredito que se o aluno sair<br />

do ensino médio dominando a leitura e a escrita, como leitor pleno,<br />

aquele que lê e enten<strong>de</strong> as entrelinhas, tem as suas opiniões próprias<br />

e sabe escrever sobre algum assunto, a escola já cumpriu a sua meta.<br />

Ele está preparado. O resto vem por acréscimo. Se você vai estudar<br />

qualquer outra disciplina e não domina a leitura, não adianta...”,<br />

assegura.<br />

Martha atuou ainda na pós-graduação, como coor<strong>de</strong>nadora da<br />

Especialização <strong>de</strong> Letras. Ela optou por não iniciar no Stricto Sensu,<br />

<strong>de</strong>vido à proximida<strong>de</strong> da aposentadoria.<br />

A contribuição do trabalho da professora foi além dos limites da<br />

UEL. Ao mesmo tempo em que se <strong>de</strong>dicava às aulas, ela participou <strong>de</strong><br />

ativida<strong>de</strong>s e projetos fora da <strong>Universida<strong>de</strong></strong>. Atuou em um programa<br />

do Governo do Estado para a capacitação <strong>de</strong> professores em diversos<br />

municípios do Paraná. “Acho que eu conheci o Paraná inteiro!”,<br />

comenta. E <strong>de</strong>u apoio à Prefeitura <strong>de</strong> Cambé, na orientação dos<br />

professores do ensino fundamental.<br />

A carioca também teve tempo <strong>de</strong> conhecer <strong>Londrina</strong> e apren<strong>de</strong>r<br />

a gostar daqui. Ela valoriza muito o aspecto cultural da cida<strong>de</strong>. “Gosto<br />

muito dos eventos que tem aqui, do Festival <strong>de</strong> Teatro, Festival <strong>de</strong><br />

Música. Sempre compareci e fiz meus alunos comparecerem. Eu pedia<br />

para eles assistirem às peças e fazer uma resenha. Fazia isso para<br />

provocar os meninos a <strong>de</strong>scobrirem o patrimônio que tem na cida<strong>de</strong>.<br />

Faz parte da formação”, garante.<br />

E em meio a tantas ativida<strong>de</strong>s simultâneas, Martha avalia o quanto<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

253


apren<strong>de</strong>u e cresceu em 17 anos <strong>de</strong> UEL. “Eu <strong>de</strong>vo a essa <strong>Universida<strong>de</strong></strong><br />

toda a minha formação, toda a minha vida profissional. Porque aqui<br />

que eu me realizei como professora. Não que eu não tenha me realizado<br />

no ensino médio antes, mas aqui é que consegui aproveitar ao máximo<br />

a carreira na aca<strong>de</strong>mia. Fazendo todo este percurso, até chegar o<br />

doutorado e me aposentar confortavelmente”, afirma.<br />

E quanto aos frutos <strong>de</strong> seu trabalho na sala <strong>de</strong> aula, <strong>de</strong>monstrase<br />

satisfeita e orgulhosa: “A melhor coisa do mundo é você saber que<br />

você está <strong>de</strong>ixando sementes. Alguma coisa sempre fica na sala <strong>de</strong> aula.<br />

Se você tem uma relação legal com o aluno, você <strong>de</strong>ixa até mais que o<br />

conteúdo, até para vida do aluno! Eu não queria ter sido outra coisa, na<br />

vida, <strong>de</strong> jeito nenhum!”, afirma.<br />

Os alunos, alvos principais <strong>de</strong> todo o trabalho <strong>de</strong> Martha<br />

tornaram-se algo mais em sua vida: “Eu sempre me <strong>de</strong>i muito bem<br />

com os alunos. Muitos ficaram meus amigos... amiza<strong>de</strong> fora da UEL!<br />

Sempre chamo esse povo pra feijoada na minha casa, que eu faço no<br />

meu aniversário!”, conta. No ano passado – último em que lecionou – a<br />

professora foi uma das homenageadas na colação <strong>de</strong> grau da turma <strong>de</strong><br />

Letras. “Eu <strong>de</strong>sci com eles lá no Moringão, foi muito legal!”, comenta.<br />

Foi assim, com muito amor, alegria e <strong>de</strong>dicação que Martha<br />

trabalhou os últimos anos <strong>de</strong> sua carreira no CCH, até completar a<br />

ida<strong>de</strong> limite. “Tem gente que reclama quando chega a aposentadoria<br />

compulsória, mas eu não! Recebi uma cartinha muito simpática. E com<br />

70 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, vou te dizer que você não tem a mesma energia. Hoje<br />

em dia eu olho para a sala <strong>de</strong> aula e sinto muita falta dos alunos, mas<br />

não achei ruim entrar numa mais ‘light’. Chega um momento em que<br />

você tem que dar um <strong>de</strong>scanso, uma refrescada. E tem muitas pessoas<br />

boas aí para ocupar os lugares”, conclui.<br />

Mas apesar da <strong>de</strong>spedida das salas <strong>de</strong> aula, Martha ainda não<br />

<strong>de</strong>u a<strong>de</strong>us à UEL. Em julho <strong>de</strong> 2007, ela foi convidada a ocupar um<br />

cargo na Eduel – Editora da <strong>Universida<strong>de</strong></strong> – como revisora <strong>de</strong> texto.<br />

Depois da aposentadoria, em outubro <strong>de</strong> 2008, foi <strong>de</strong>sligada, mas em<br />

<strong>de</strong>zembro do mesmo ano assumiu novamente o cargo, que vai ocupar<br />

até o fim da gestão atual. “É bom porque você não para <strong>de</strong> vez e faz um<br />

outro tipo <strong>de</strong> trabalho, que é ler, e eu adoro. Leio uma diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

254


coisas, num ambiente <strong>de</strong> trabalho muito bom e um pouco mais calmo”,<br />

compara.<br />

É na Editora que a professora aposentada passa agora por um<br />

momento <strong>de</strong> transição até chegar a hora <strong>de</strong> parar <strong>de</strong> trabalhar em<br />

<strong>de</strong>finitivo. E os planos já estão feitos: “Ah... <strong>de</strong>pois que terminar eu<br />

vou me embora pra perto do mar <strong>de</strong> novo... Quero ir para um lugar<br />

tranquilo <strong>de</strong> praia!”. No Rio <strong>de</strong> Janeiro? “Não sei se na capital, talvez<br />

no interior... mas até lá eu <strong>de</strong>cido!”, completa.<br />

Janaína Castro<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

255


Mazília Almeida Rocha Zemuner<br />

Para aqueles que pensam que no setor <strong>de</strong><br />

Assessoria <strong>de</strong> Tecnologia <strong>de</strong> Informação<br />

(ATI) a maioria dos trabalhadores é homem,<br />

Mazília Almeida comprova o contrário:<br />

quando ela entrou, lá havia mais mulheres.<br />

Mazília começou a trabalhar como contratada<br />

em 1979 na UEL, mas ela já tinha outro<br />

vínculo com a <strong>Universida<strong>de</strong></strong>, como estudante<br />

do último ano <strong>de</strong> Estudos Sociais. Em 1980<br />

ela se formou e o curso que englobava<br />

disciplinas <strong>de</strong> História e Geografia foi extinto.<br />

No trabalho, Mazília tinha prestado concurso e <strong>de</strong>cidiu continuar. “Eu<br />

gostava do que fazia”, diz.<br />

Ela trabalhava com atendimento ao usuário da ATI, que naquele<br />

tempo ainda era o Núcleo <strong>de</strong> Processamento <strong>de</strong> Dados (NPD). A<br />

funcionária lembra que o setor era responsável por informatizar aquilo<br />

que lhes era passado pelas outras áreas, como as pautas <strong>de</strong> notas, faltas<br />

dos alunos e os pagamentos. Tudo estava escrito à mão, então o trabalho<br />

era feito <strong>de</strong> forma cuidadosa e conferido duas vezes. O trabalho exigia<br />

treinamento e aprendizado. A funcionária lembra que às vezes quando<br />

“pegava o jeito” <strong>de</strong> uma máquina ou sistema, era hora <strong>de</strong> mudar. “Nas<br />

mudanças a gente sofre (...) Mas era gostoso.”<br />

Mazília lembra também que em época <strong>de</strong> vestibular, como<br />

os nomes dos aprovados eram <strong>de</strong>sconhecidos para eles também,<br />

os funcionários da ATI tinham que provi<strong>de</strong>nciar o material para a<br />

matrícula em um período muito curto. Com o tempo, alguns setores da<br />

<strong>Universida<strong>de</strong></strong> passaram a ter seus próprios setores <strong>de</strong> informática, os<br />

professores enviam as pautas já informatizadas e o setor <strong>de</strong> Mazília na<br />

ATI foi <strong>de</strong>sativado. E a funcionária foi para o atendimento à Internet.<br />

Ela era responsável por criar contas <strong>de</strong> e-mail e checar senhas.<br />

Mazília lembra que havia uma união gran<strong>de</strong> entre os funcionários<br />

da ATI, como uma família. Tanto que até hoje ela volta lá <strong>de</strong> vez em<br />

quando e é muito bem recebida.<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

256


Depois <strong>de</strong> ter o marido e filhos estudando na UEL, <strong>de</strong> 27 anos<br />

trabalhando na <strong>Universida<strong>de</strong></strong>, Mazília aposentou-se no final <strong>de</strong> 2006.<br />

Uma aposentadoria muito tranquila. “Eu faço um monte <strong>de</strong> coisa, vou<br />

na aca<strong>de</strong>mia, na igreja, tenho a agenda cheia”, revela.<br />

Poliana Lisboa <strong>de</strong> Almeida<br />

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257


Mirza da Biblioteca<br />

Aposentada há mais <strong>de</strong> 10 anos, Mirza <strong>de</strong> Carvalho Ferreira,<br />

que trabalhou na antiga Biblioteca Setorial do CCB e na Biblioteca<br />

Central, faz visitas semanais à <strong>Universida<strong>de</strong></strong><br />

A mineira Mirza <strong>de</strong> Carvalho Ferreira contou<br />

em seu cadastro no Portal do Aposentado<br />

que foi uma das primeiras funcionárias da<br />

<strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>Estadual</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>. Quando<br />

ela estava chegando ao CCB no seu primeiro<br />

dia <strong>de</strong> trabalho, em 23 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1972,<br />

<strong>de</strong>pois <strong>de</strong> esperar a chuva passar, estavam<br />

colocando a placa da <strong>Universida<strong>de</strong></strong>.<br />

Mirza é só elogio à UEL, on<strong>de</strong> diz ter<br />

encontrado todas as portas abertas, todo mundo solidário e muita<br />

acolhida. Na <strong>Universida<strong>de</strong></strong>, ela fez uma família <strong>de</strong> amigos e nela criou<br />

os seus dois filhos, Carla e Eduardo.<br />

A timi<strong>de</strong>z <strong>de</strong> menina foi superada trabalhando na Biblioteca<br />

Setorial do CCB. Foram nove anos lá. Mirza começou a trabalhar com a<br />

irmã na biblioteca, que saiu logo após o casamento, e já era responsável<br />

pela setorial quando todas foram extintas para a criação da Biblioteca<br />

Central.<br />

Ela se lembra do dia em que estava em seu horário <strong>de</strong> almoço,<br />

ainda na Biblioteca Setorial, e avisou a dois senhores que esperavam<br />

do lado <strong>de</strong> fora que o horário <strong>de</strong> abertura era somente às 14 horas.<br />

Ela só abriu as portas na hora exata. Depois, a diretora da Biblioteca<br />

lhe contou que os senhores eram o então reitor Ascêncio e o cônsul do<br />

Japão em visita à UEL.<br />

No início, a BC - Biblioteca Central ficava perto da Reitoria, no<br />

prédio hoje utilizado pelo Cursinho e Apuel. Ela conta que foi difícil se<br />

adaptar, pois tinha mais liberda<strong>de</strong> antes. Na BC, durante a ditadura<br />

militar, sentia-se vigiada e com pouca liberda<strong>de</strong>.<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

258


Depois <strong>de</strong> um tempo <strong>de</strong> trabalho na BC, Mirza foi para o processo<br />

técnico. Ela conta que, quando recebia os livros da área biológica, fazia<br />

<strong>de</strong> tudo para que eles voltassem ao acervo o mais rápido possível.<br />

Dezessete pessoas trabalhavam nesta etapa.<br />

A funcionária lembra que, em 1997, quando se aposentou, sofreu<br />

muito por ficar longe da UEL e acabava voltando todos os dias. Alguns<br />

meses <strong>de</strong>pois, a Biblioteca Central recebeu uma doação <strong>de</strong> livros <strong>de</strong><br />

Arquitetura, e ela foi chamada a ajudar na catalogação. E esta foi a<br />

<strong>de</strong>spedida <strong>de</strong> Mirza, apesar <strong>de</strong> revelar que vivia nas festinhas na<br />

<strong>Universida<strong>de</strong></strong> e que volta pelo menos uma vez por semana para fazer<br />

uma visita.<br />

Poliana Lisboa <strong>de</strong> Almeida<br />

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259


Sociologia na <strong>Universida<strong>de</strong></strong><br />

O professor Nelson Dacio Tomazi trabalhou na implantação <strong>de</strong><br />

cursos no começo da <strong>Universida<strong>de</strong></strong> e no Departamento <strong>de</strong> Ciências<br />

Sociais até a sua aposentadoria<br />

Nelson Tomazi graduou-se na <strong>Universida<strong>de</strong></strong><br />

Fe<strong>de</strong>ral do Paraná e veio para <strong>Londrina</strong><br />

trabalhar na implantação <strong>de</strong> 22 novos cursos<br />

da <strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>Estadual</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>. O<br />

cargo administrativo assumido na segunda<br />

gestão da UEL, <strong>de</strong> Oscar Alves, permitiu a<br />

Tomazi conhecer um pouco da história da<br />

<strong>Universida<strong>de</strong></strong>, pois ele precisava saber as<br />

condições dos cursos e dos prédios para que<br />

se <strong>de</strong>stinavam.<br />

Ele conta que em 1975 existiam apenas os prédios do Centro <strong>de</strong><br />

Ciências Biológicas, algumas partes do que hoje é a Reitoria, o Centro<br />

<strong>de</strong> Ciências Exatas e o Centro <strong>de</strong> Ciências Humanas. “O prédio da<br />

atual reitoria era o prédio da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina,(...) o Hospital<br />

Universitário era lá na Pernambuco com a Alagoas, on<strong>de</strong> funciona a<br />

Cohab hoje”, exemplifica Tomazi.<br />

Em 1977, ele assumiu o cargo <strong>de</strong> professor no Departamento <strong>de</strong><br />

Ciências Sociais, acumulando com o cargo administrativo. Quando<br />

a terceira administração assumiu a reitoria, Tomazi se afastou por<br />

dois anos para fazer parte <strong>de</strong> seu Mestrado em Sociologia. Na volta,<br />

o professor foi assessor da Reitoria e, <strong>de</strong>pois, professor em tempo<br />

integral. Enquanto conciliava os cargos Tomazi lembra, “era um terror,<br />

apesar <strong>de</strong> que eu dava aulas apenas <strong>de</strong> noite”.<br />

Tomazi <strong>de</strong>staca a improvisação nesta fase <strong>de</strong> construção da<br />

<strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>Estadual</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>, on<strong>de</strong> “tudo era necessário”.<br />

A maratona era fazer com que os cursos mais novos implantados<br />

começassem a funcionar já no campus, que hoje concentra a maioria<br />

<strong>de</strong>les.<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

260


Para concluir o mestrado, os créditos do mestrado em Sociologia<br />

pela USP (<strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> São Paulo) foram convertidos e sua tese em<br />

História do Paraná foi feita na UNESP <strong>de</strong> Assis. Em 1997, o doutorado<br />

na <strong>Universida<strong>de</strong></strong> Fe<strong>de</strong>ral do Paraná aprofundou o mesmo tema.<br />

O professor conta que sempre gostou <strong>de</strong> dar aula na graduação<br />

e que lecionou para vários cursos da <strong>Universida<strong>de</strong></strong> que contavam com<br />

disciplinas do <strong>de</strong>partamento. Ele <strong>de</strong>u aula <strong>de</strong> Sociologia, “as mais<br />

diversas”, e também <strong>de</strong> Ciências Políticas. Eram até 22 aulas por<br />

semana. “Esta foi a vida dos primeiros que chegaram”, lembra. Mas<br />

Tomazi conta que se divertia. Ele era mais jovem e tinha mais energia.<br />

Segundo Tomazi a burocracia da <strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong>sgasta muito<br />

as pessoas e os alunos <strong>de</strong> hoje já não são mais os mesmos. Segundo<br />

o professor, os alunos são muito focados no específico e esquecem a<br />

cultura geral, “o conhecimento não tem que servir para alguma coisa,<br />

mas <strong>de</strong>ve fazer parte da vida.”<br />

Depois da aposentadoria em 2003, ele passou a trabalhar com a<br />

Sociologia no ensino médio. O professor tem um livro didático publicado<br />

(versões para aluno e professor), uma série em DVD e publica artigos<br />

<strong>de</strong> apoio a professores e estudantes em um site na Internet que é feito<br />

junto com o professor da UEL, Ronaldo Baltar.<br />

Poliana Lisboa <strong>de</strong> Almeida<br />

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261


Nelza Maria <strong>de</strong> Souza<br />

Meu nome é Nelza Maria <strong>de</strong> Souza. Sou filha<br />

<strong>de</strong> Sebastião Antonio <strong>de</strong> Souza e Izaira Maria<br />

dos Santos. Nasci em Botucatu, mais meus<br />

pais são mineiros. Somos em 12 irmãos, 33<br />

sobrinhos, 20 sobrinhos segunda geração, 9<br />

cunhados. A minha família é o maior tesouro<br />

da minha vida. Entrei para trabalhar na UEL<br />

em 10/09/1981.<br />

Trabalhava no comércio em <strong>Londrina</strong> <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> 1969. Quando entrei na UEL, comecei a<br />

trabalhar como auxiliar <strong>de</strong> bibliotecário.<br />

No 13º dia não conseguia apren<strong>de</strong>r o trabalho,<br />

pois para mim foi uma mudança radical, <strong>de</strong><br />

vendas para informações... Mas quando peguei a bolsa fui falar com a<br />

diretora que eu iria embora. Ela sabiamente me falou “<strong>de</strong> jeito nenhum,<br />

uma pessoa não po<strong>de</strong> falar que não apren<strong>de</strong>u o serviço em apenas 13<br />

dias, você vai ficar e tentar apren<strong>de</strong>r, coloca todo seu potencial e sua<br />

boa vonta<strong>de</strong>, eu sei que você po<strong>de</strong>”. E a partir daquele momento eu<br />

pensei: vou ficar e fazer tudo que eu pu<strong>de</strong>r, para merecer a confiança da<br />

diretora e dos meus amigos que também não me <strong>de</strong>ixaram ir embora.<br />

Dediquei tanto que me apaixonei pelo meu trabalho na biblioteca.<br />

No ano <strong>de</strong> 1982, passei no vestibular. Terminei o curso <strong>de</strong><br />

Biblioteconomia em 1985.<br />

Nunca pedi transferência para outro setor da <strong>Universida<strong>de</strong></strong>,<br />

porque os meus amigos da Biblioteca Central foram, são e sempre<br />

serão para sempre a minha segunda família. Amo a minha profissão,<br />

fiz o que gosto com muito amor e <strong>de</strong>dicação.<br />

Trabalhei 27 anos e 8 meses na <strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>Estadual</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Londrina</strong>, lotada na Biblioteca Central, prestando serviço na Biblioteca<br />

Setorial da Clínica Odontológica, on<strong>de</strong> pu<strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r e realizar ainda<br />

mais <strong>de</strong>ntro da minha profissão. Só aposentei agora porque acho que<br />

ainda tenho mais coisas para serem feitas.<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

262


Nilza Aparecida Freres Stipp<br />

Quando Nilza Aparecida Freres Stipp <strong>de</strong>u os<br />

primeiros passos como professora, ela ainda<br />

era aluna. Ela cursava o 4º ano <strong>de</strong> Geografia<br />

na Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Filosofia Ciências e Letras <strong>de</strong><br />

Botucatu, no interior <strong>de</strong> São Paulo. Aceitou<br />

um convite para substituir um professor no<br />

colégio on<strong>de</strong> havia estudado quando criança.<br />

Lecionou para o ensino fundamental e médio<br />

por <strong>de</strong>z anos. Experiência que ela <strong>de</strong>fine como<br />

necessária, pois foi assim que adquiriu didática<br />

e apren<strong>de</strong>u como se portar diante <strong>de</strong> uma sala <strong>de</strong> aula. Nilza foi do<br />

ensino médio direto para a especialização. Foi no ensino superior que<br />

ela se encontrou enquanto professora: “Lá eles questionam, <strong>de</strong>batem,<br />

há mais interesse. Eles querem apren<strong>de</strong>r mesmo. Aí eu percebi o que<br />

eu queria”, afirma. Nilza <strong>de</strong>u aulas na especialização por quatro anos,<br />

na Fundação Educacional <strong>de</strong> Avaré, também em São Paulo.<br />

Mas ela queria lecionar no ensino superior, e <strong>de</strong>cidiu prestar<br />

concursos. Foi aprovada em <strong>Londrina</strong>, Maringá e Curitiba. Optou por<br />

<strong>Londrina</strong>. Segundo Nilza, Curitiba é uma cida<strong>de</strong> muito fria e a sua<br />

saú<strong>de</strong> estaria comprometida. <strong>Londrina</strong>, ela já conhecia: “Gosto muito<br />

daqui, o clima me faz muito bem”.<br />

Quando foi contratada para lecionar na UEL, Nilza soube da<br />

responsabilida<strong>de</strong> que a aguardava: reativar o curso <strong>de</strong> Geografia. O<br />

Departamento, naquela época, contava com apenas cinco professores<br />

e somente dois eram doutores, incluindo Nilza. O curso havia sido<br />

extinto para dar lugar ao <strong>de</strong> Estudos Sociais. Segundo a professora,<br />

em gran<strong>de</strong> parte das universida<strong>de</strong>s do país, os cursos <strong>de</strong> Geografia já<br />

tinham sido reincorporados. “Eu e a profa. Dra. Yoshiya Nakagawara<br />

fomos para Porto Alegre, São Paulo, pegamos o mo<strong>de</strong>lo das melhores<br />

faculda<strong>de</strong>s para começar o nosso curso”.<br />

Nilza lembra que havia muitas dificulda<strong>de</strong>s: faltavam salas,<br />

laboratórios e professores, mas sobrava <strong>de</strong>terminação. “Fomos fazer<br />

propaganda do curso nos cursinhos preparatórios <strong>de</strong> vestibular e nos<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

263


colégios para aqueles que estavam terminando o colegial”. A atitu<strong>de</strong><br />

inusitada resultou na primeira turma, com 42 alunos.<br />

E as conquistas continuaram. Em 1983, foi criada a primeira<br />

publicação do curso. No início, um boletim <strong>de</strong> Geografia; hoje,<br />

uma revista on-line <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> prestígio. “A nossa revista assumiu<br />

<strong>de</strong>finitivamente um caráter <strong>de</strong> divulgação nacional e po<strong>de</strong>mos dizer<br />

até internacional, pois vem veiculando trabalhos <strong>de</strong> autores das mais<br />

variadas instituições <strong>de</strong> pesquisa do Brasil e já tem alguns autores do<br />

exterior”, afirma Nilza. Em 1989, nasceu o NEMA (Núcleo <strong>de</strong> Estudos<br />

em Meio Ambiente), que no início era apenas um projeto, mas com o<br />

tempo cresceu e se transformou em núcleo.<br />

Outras gran<strong>de</strong>s conquistas são os cursos <strong>de</strong> especialização, em<br />

duas modalida<strong>de</strong>s diferentes. E a criação do Mestrado, em Geografia.<br />

A professora também <strong>de</strong>staca a credibilida<strong>de</strong> que o curso conquistou<br />

junto ao meio acadêmico e ao mercado <strong>de</strong> trabalho. “Conquistamos<br />

projeção nacional e internacional. Atualmente estamos, através do<br />

coor<strong>de</strong>nador do Mestrado, iniciando um convênio com a <strong>Universida<strong>de</strong></strong><br />

<strong>de</strong> Alicante, na Espanha”. Mas, para ela, os melhores frutos são os<br />

alunos, que têm se <strong>de</strong>stacado com brilhantismo por on<strong>de</strong> passam.<br />

A professora, durante muito tempo, esteve envolvida com as<br />

questões administrativas. E conta, com orgulho, que foi a primeira<br />

mulher a ser diretora do Centro <strong>de</strong> Ciências Exatas da UEL. “Isso em<br />

1986 e por eleição direta”, enfatiza. Sobre o período, Nilza afirma que a<br />

fez amadurecer muito, mas que não foi fácil: “A <strong>Universida<strong>de</strong></strong> era ainda<br />

muito machista”. Ela também colaborou na elaboração e construção<br />

do ITEDES (Instituto <strong>de</strong> Tecnologia e Desenvolvimento Econômico e<br />

Social), o primeiro instituto da UEL. Foi a segunda diretora-presi<strong>de</strong>nte<br />

e presi<strong>de</strong>nte por dois mandatos (alternados).<br />

Em 1993, Nilza foi contemplada com uma bolsa na Université <strong>de</strong><br />

Rennes II, França, para divulgar os resultados <strong>de</strong> uma pesquisa que<br />

<strong>de</strong>senvolvia com outros professores do <strong>de</strong>partamento. “Dei palestras<br />

nos cursos <strong>de</strong> graduação e pós-graduação <strong>de</strong> Geografia, estagiei junto<br />

ao laboratório <strong>de</strong> Geoprocessamento Costel em 93 e início <strong>de</strong> 94.<br />

Funcionou com um estágio pós-doctor que culminou com a publicação<br />

do livro Macrozoneamento Ambiental da Bacia do Rio Tibagi”.<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

264


Quando retornou ao Brasil, Nilza teve uma gran<strong>de</strong> surpresa:<br />

estava aposentada. “Foi um choque. Pensei: o que vou fazer agora?”.<br />

A professora ficou preocupada quando recebeu a notícia, porque<br />

coor<strong>de</strong>nava alguns projetos vinculados ao CNPq (Conselho Nacional<br />

<strong>de</strong> Desenvolvimento Científico e Tecnológico) e Capes (Coor<strong>de</strong>nação<br />

<strong>de</strong> Aperfeiçoamento do Ensino Superior), junto ao Departamento.<br />

Então, <strong>de</strong>cidiu prestar novo concurso. Voltou para a <strong>Universida<strong>de</strong></strong><br />

como professora adjunta. Ela conta que, <strong>de</strong>pois que se aposentou,<br />

produziu muito mais cientificamente, pois não estava mais envolvida<br />

com as questões administrativas. E já publicou seis livros.<br />

Para terminar, conta como criou e equipou o Laboratório <strong>de</strong><br />

Geologia: “Fomos atrás dos ex-alunos <strong>de</strong> Engenharia Civil, da primeira<br />

turma para quem <strong>de</strong>i aula na UEL, quando lecionava Geologia. Hoje,<br />

há uma placa em homenagem a eles no laboratório.<br />

Léia Dias Sabóia<br />

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265


Trinta anos trabalhando na Educação<br />

A professora do CECA Olga Ribeiro <strong>de</strong> Aquino estudou e trabalhou<br />

no curso <strong>de</strong> Pedagogia da UEL <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início<br />

A goiana Olga Ribeiro <strong>de</strong> Aquino morava<br />

em Uberlândia no triângulo mineiro com<br />

<strong>de</strong>zesseis anos, quando resolveu se casar e vir<br />

para <strong>Londrina</strong>. Após concluir os estudos no<br />

colégio Londrinense, Olga frequentou uma das<br />

primeiras turmas <strong>de</strong> Pedagogia da Faculda<strong>de</strong><br />

<strong>Estadual</strong> <strong>de</strong> Filosofia, Ciências e Letras <strong>de</strong><br />

<strong>Londrina</strong>.<br />

Quando acabou a graduação, Olga <strong>de</strong> Aquino, que já lecionava no<br />

Cesulon (Centro Universitário <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>), continuou na recente<br />

<strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>Estadual</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>, agora para fazer a Especialização<br />

em Educação. Mesmo a pós-graduação era dada nas salas <strong>de</strong> aula do<br />

Colégio Hugo Simas, no centro da cida<strong>de</strong>. “Era muito apertado, a gente<br />

estudava naquela parte antiga do colégio. Eram edículas que seriam<br />

provisórias.”<br />

Apenas em 1983, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> prestar concurso para professora,<br />

Olga foi dar aulas no Perobal – atual campus da <strong>Universida<strong>de</strong></strong>. Dos<br />

primeiros anos <strong>de</strong> docência em didática, a professora comenta que<br />

trabalhava com alunos <strong>de</strong> áreas diferentes juntos na mesma sala. “A<br />

sorte é que eu já tinha um pouco <strong>de</strong> experiência do Cesulon (...) eu dava<br />

conta, mas sofria.”<br />

Cinco anos <strong>de</strong>pois Olga iniciou o mestrado na <strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong><br />

Campinas, Unicamp. Na época a professora voltava para dar as aulas.<br />

Ela acredita que o gosto pelo estudo veio por ser filha única. “Os<br />

livros eram minha companhia.” Ser filha única também fez a professora<br />

gostar bastante <strong>de</strong> crianças. Assim que surgiu a oportunida<strong>de</strong>, a<br />

professora começou a trabalhar na área <strong>de</strong> educação infantil.<br />

Deste trabalho surgiu a Ludoteca da UEL, da qual Olga foi uma<br />

das fundadoras. A Ludoteca tem <strong>de</strong>zessete anos e aten<strong>de</strong> crianças com<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

266


uma única regra: aquilo que a criança tirar do lugar, tem que colocar<br />

<strong>de</strong> volta.<br />

A <strong>Universida<strong>de</strong></strong> chegou a implantar uma Brinquedoteca, Brinque<br />

UEL, no Conjunto Violin. O projeto durou <strong>de</strong>z anos, mas Olga acredita<br />

que o fato <strong>de</strong> não ter uma se<strong>de</strong> própria para o programa inviabilizou o<br />

projeto.<br />

A professora teve quatro filhos. O mais velho morreu ainda<br />

criança, mas os outros três passaram pela <strong>Universida<strong>de</strong></strong>. A própria<br />

Olga antes do doutorado voltou a ser aluna da UEL cursando Letras.<br />

Era uma vonta<strong>de</strong> que ela sempre teve. E serviu para reforçar o quanto<br />

a professora gostava da área <strong>de</strong> Educação.<br />

O Doutorado em Educação na Unimep, <strong>Universida<strong>de</strong></strong> Metodista<br />

<strong>de</strong> Piracicaba, explorou a sensibilida<strong>de</strong> estética do homem para a arte.<br />

Olga <strong>de</strong>ixa bem claro que não é uma artista, mas, como gosta muito da<br />

área, resolveu estudar e se aprofundar no tema.<br />

A professora está aposentada <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início <strong>de</strong> 2008 e ainda não<br />

se acostumou com a nova vida. Ela orienta alguns estudantes e diz que<br />

está se sentindo muito sozinha sem frequentar as salas <strong>de</strong> aulas com<br />

seus alunos.<br />

Poliana Lisboa <strong>de</strong> Almeida<br />

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267


Com os reitores<br />

O professor <strong>de</strong> Educação Oswaldo Rubens Canizares <strong>de</strong>u aulas<br />

na Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Filosofia e trabalhou no Registro <strong>de</strong> Diplomas por<br />

20 anos. Seu cargo esteve ligado aos reitores que não o “<strong>de</strong>volviam”<br />

à sala <strong>de</strong> aula<br />

Logo que surgiu, a Faculda<strong>de</strong> <strong>Estadual</strong> <strong>de</strong><br />

Filosofia, Ciências e Letras <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong><br />

formava apenas bacharéis. Muitos<br />

graduados tiveram que aguardar um<br />

ano para po<strong>de</strong>r cursar mais um ano <strong>de</strong><br />

licenciatura. Era 1962, quando o professor<br />

Oswaldo Canizares entrou para lecionar<br />

Princípios e Métodos <strong>de</strong> Administração<br />

Escolar para esses futuros licenciados.<br />

Canizares passou quase 10 anos na<br />

Faculda<strong>de</strong>, até a criação da <strong>Universida<strong>de</strong></strong>.<br />

Sob a direção <strong>de</strong> Iran Martin Sanches, o professor participou da<br />

comissão que organizou o Estatuto da UEL. “E aí começou a minha<br />

história na <strong>Universida<strong>de</strong></strong>, como a <strong>de</strong> muitos outros professores.”<br />

A gestão era do primeiro reitor nomeado: Ascêncio Garcia Lopes,<br />

da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina (1970-1974). As cinco faculda<strong>de</strong>s unificadas<br />

viraram Centros <strong>de</strong> Estudos, sendo que a Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Filosofia se<br />

<strong>de</strong>smembrou em dois, o <strong>de</strong> Ciências Humanas e Letras, o CCH, e o <strong>de</strong><br />

Educação, o CE. Canizares foi o primeiro diretor do CE.<br />

Nessa gestão <strong>de</strong> quatro anos surgiu o curso <strong>de</strong> Educação Física.<br />

O professor lembra que, conversando com o reitor Ascêncio Lopes,<br />

ambos <strong>de</strong>cidiram que o curso seria locado no CE por sua ligação com<br />

a Educação e como uma forma <strong>de</strong> aumentar o Centro, que era um dos<br />

menores.<br />

Como o primeiro reitor assumiu um ano antes dos diretores <strong>de</strong><br />

Centro, com a missão <strong>de</strong> organizar a <strong>Universida<strong>de</strong></strong>, o último ano <strong>de</strong><br />

administração dos primeiros diretores <strong>de</strong> Centro se <strong>de</strong>u sob a segunda<br />

gestão na Reitoria.<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

268


O professor lembra o último dia <strong>de</strong> Ascêncio Lopes na UEL.<br />

Canizares acompanhou o reitor após seu último dia <strong>de</strong> trabalho. “Foi<br />

até esquisito, como ele não era professor ele saiu da UEL. Fui até o<br />

carro com ele, foi triste.”<br />

Canizares guarda da eleição do segundo reitor a lembrança <strong>de</strong> ter<br />

feito oposição. Oscar Alves era favorito para o cargo e, por ser genro do<br />

Ministro da Educação, muitos já contavam com sua vitória, segundo o<br />

professor. Canizares chegou a integrar a lista sêxtupla como candidato<br />

e a dizer a Alves que não o apoiaria por se tratar <strong>de</strong> política.<br />

Mesmo com oposição <strong>de</strong>clarada, o segundo reitor convidou-o<br />

para a Subsecretaria <strong>de</strong> Recursos Humanos e Acadêmicos, sob a direção<br />

<strong>de</strong> Pinotti. Naquele ano Canizares avaliou a situação acadêmica dos<br />

cursos da UEL e constatou que havia muitos exageros <strong>de</strong> disciplinas e<br />

carga horária, o que encarecia os cursos.<br />

Também foi encarregado pelo reitor Oscar Alves <strong>de</strong> ver a<br />

possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> implantar os cursos <strong>de</strong> Arquitetura, Agronomia e,<br />

aten<strong>de</strong>ndo à região, Tecnologia <strong>de</strong> Laticínios. “Interessado em atendêlo<br />

comecei a trabalhar inclusive indo a Brasília conversar com o Diretor<br />

do Setor <strong>de</strong> Ciências Agrárias para eu ter orientação <strong>de</strong> vida para<br />

montar um projeto da criação do curso <strong>de</strong> Agronomia.”<br />

Os cursos <strong>de</strong> Arquitetura e Tecnologia <strong>de</strong> Laticínios não po<strong>de</strong>riam<br />

ser viabilizados na época, mas o curso <strong>de</strong> Agronomia foi montado.<br />

Canizares lembra que todo o primeiro período foi montado com<br />

professores que a UEL já dispunha e que foi feito levantamento <strong>de</strong> todas<br />

as instalações e instrumentos que po<strong>de</strong>riam ser aproveitados. “Até hoje<br />

muita gente não sabe que eu tive a ver com o curso <strong>de</strong> Agronomia. Tudo<br />

isto está na minha história. Eu vivia a UEL.”<br />

Canizares também esteve por dois anos na Diretoria <strong>de</strong> Controle<br />

Acadêmico da CAE. Ali, começou o seu contato com as leis do ensino<br />

superior que se aperfeiçoou quando foi transferido para a Divisão<br />

Especial <strong>de</strong> Registro <strong>de</strong> Diplomas (DERD).<br />

Como trabalhou 20 anos no registro <strong>de</strong> diplomas, Canizares<br />

explica como surgiu a Divisão. Quando ele se graduou, conta, os<br />

diplomas eram mandados para o Ministério da Educação fazer o<br />

reconhecimento. Com o tempo a <strong>Universida<strong>de</strong></strong> Fe<strong>de</strong>ral do Paraná<br />

começou a reconhecer todos os diplomas das Instituições <strong>de</strong> Ensino<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

269


Superior do Estado, até que a <strong>de</strong>manda obrigou a “divisão” do Paraná<br />

em dois. O distrito com se<strong>de</strong> em Curitiba e o distrito 33, com se<strong>de</strong> em<br />

<strong>Londrina</strong>, na UEL.<br />

O cargo inicialmente era <strong>de</strong> uma professora <strong>de</strong> Cornélio Procópio,<br />

mas ela acabou <strong>de</strong>ixando a <strong>Universida<strong>de</strong></strong> e Canizares assumiu. Foram<br />

20 anos e contato com todos os reitores que passaram pela <strong>Universida<strong>de</strong></strong><br />

na época.<br />

“Meu maior <strong>de</strong>sejo era enten<strong>de</strong>r completamente a legislação do<br />

ensino superior no Brasil. Comecei pelo mais difícil. Peguei o número<br />

um da documenta e comecei a ler e a anotar tudo o que eu achava<br />

que era importante. Este trabalho eu fiz durante 20 anos”, conta. O<br />

professor diz que não tinha medo <strong>de</strong> enfrentar o Conselho <strong>de</strong> Educação,<br />

pois sabia tudo sobre legislação.<br />

Tanto que ele cita um caso histórico, <strong>de</strong> ter in<strong>de</strong>ferido diplomas<br />

provenientes <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>terminada faculda<strong>de</strong> por dois anos. Ele diz<br />

que enfrentou o Conselho Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Educação e que só reconheceu os<br />

diplomas quando o Diário Oficial publicou um novo currículo. Na nova<br />

forma os diplomas daquela faculda<strong>de</strong> estavam a<strong>de</strong>quados.<br />

Canizares lembra com orgulho quando, em nome da <strong>Universida<strong>de</strong></strong>,<br />

foi dar um curso na <strong>Universida<strong>de</strong></strong> Bolivariana. Segundo ele, nos 15 dias<br />

em que esteve lá os jornais noticiaram sua presença e foi con<strong>de</strong>corado<br />

pelo consulado por serviços à Educação. “Foi uma página luminosa da<br />

minha vida e bom ver como a <strong>Universida<strong>de</strong></strong> tem reconhecimento.”<br />

Contra o excesso <strong>de</strong> documentos que invadia a DERD - eram<br />

dois mil diplomas por ano - Canizares i<strong>de</strong>alizou a instalação da<br />

microfilmagem na <strong>Universida<strong>de</strong></strong>, processo no qual os documentos são<br />

fotografados e <strong>de</strong>pois arquivados em filmes, o que ocupa menos espaço.<br />

Os equipamentos ficaram dois anos parados após a compra, mas agora<br />

os documentos da <strong>Universida<strong>de</strong></strong>, <strong>de</strong> seus alunos e dos alunos da região<br />

que precisam reconhecer o diploma, passam pela microfilmagem.<br />

O professor aposentou-se quando Jackson Proença Testa<br />

assumiu a Reitoria. Então, foi convidado a trabalhar como assessor do<br />

novo Reitor por meio período. “Eu pedi colaboração para as colegas da<br />

DERD e continuei por quatro anos”. Canizares <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong>finitivamente<br />

a UEL quando o reitor, em uma circular, dispensou o serviço <strong>de</strong> seus<br />

assessores.<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

270


Oswaldo Canizares conta que sempre teve o prestígio dos reitores<br />

da <strong>Universida<strong>de</strong></strong>. Na saída <strong>de</strong> Oscar Alves, por exemplo, ele se lembra<br />

do reitor dizendo que tinha aprendido muito com o professor.<br />

“Minha disciplina não é uma que eu possa abrir um escritório ou<br />

dar consultorias”, diz Canizares. O professor continua então com aulas<br />

no Seminário Pequena Missão Para Surdos, e lecionando Psicologia no<br />

curso <strong>de</strong> Teologia quando há seminaristas, como já faz há anos.<br />

Poliana Lisboa <strong>de</strong> Almeida<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

271


Lições <strong>de</strong> uma vida <strong>de</strong>dicada ao futebol<br />

Na década <strong>de</strong> 1970 pouco se falava sobre responsabilida<strong>de</strong> social,<br />

mas Otávio <strong>de</strong> Paula Nascimento já estava fazendo a sua parte<br />

Otávio <strong>de</strong> Paula Nascimento <strong>de</strong>scobriu<br />

cedo o prazer pelo futebol. Quando<br />

criança, em Campo Largo, preferia a<br />

bola aos livros. “Naquela época a gente<br />

ficava até 11 horas jogando futebol na<br />

rua e não tinha problema nenhum,<br />

era espetacular. Eu adorava futebol”.<br />

Gostava tanto que fugia da escola<br />

para jogar. E, quando retornava, o pai<br />

sempre o esperava para corrigi-lo. “Eu sabia que ia apanhar, mas não<br />

me importava, no outro dia eu ia <strong>de</strong> novo”.<br />

Otávio seguiu dando preferência para a bola, até que duas professoras<br />

– Helena Dobrzanski e Tereza Menezes – perceberam que po<strong>de</strong>riam<br />

negociar: “Nós vamos formar time aqui e vocês vão jogar, mas têm que<br />

estudar”. E assim foi feito. As notas aumentaram, não houve mais fuga<br />

e o interesse pela escola dobrou.<br />

No entanto, Otávio continuou preenchendo as horas vagas com<br />

as partidas <strong>de</strong> futebol e sem a permissão <strong>de</strong> seu pai. Por isso, apanhou<br />

muito. “Um dia falei para o diretor que eu não podia participar mais do<br />

time. Expliquei que meu pai não gostava e que eu sempre apanhava. Aí<br />

ele foi à minha casa e pediu para o meu pai.”<br />

O pai <strong>de</strong> Otávio disse que ele po<strong>de</strong>ria jogar se aceitasse algumas<br />

condições: continuar estudando, não beber e não fumar. “Como eu não<br />

ia aceitar? Aceitei. Mas aí meu pai falou que tinha mais uma condição e<br />

que iria conversar comigo mais tar<strong>de</strong>. Depois que todos foram embora,<br />

fui conversar com ele, que falou: ‘É a última vez que você vai apanhar<br />

por causa <strong>de</strong> futebol’”, conta Otávio, que apanhou em silêncio, tamanha<br />

a vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> mostrar ao pai o que realmente <strong>de</strong>sejava.<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

272


Naquela época as categorias, no futebol, eram divididas em<br />

infantil, juvenil, segundo quadro e primeiro quadro – equivalente ao<br />

profissional. Otávio com 14 anos já jogava no segundo quadro e, aos 15,<br />

passou para o primeiro quadro. “Minha estréia no Campo Largo foi muito<br />

interessante. Entrei em campo com a camisa abaixo do joelho, parecia<br />

<strong>de</strong> manga comprida, muito maior que eu. O árbitro me abraçou e disse<br />

que era pra eu sair que o jogo já ia começar. Assustei. E ele continuou<br />

dizendo que mascote tinha que ficar do lado <strong>de</strong> fora”, relembra Otávio.<br />

Foi preciso que o técnico do time interferisse e explicasse ao árbitro<br />

que Otávio era um dos jogadores: “Eu era o camisa <strong>de</strong>z”.<br />

Em 1956, Otávio foi para o exército. No entanto, não se distanciou<br />

do futebol. “O coronel falava: ‘Tavinho você vai jogar futebol’”. Então,<br />

Otávio foi fazer testes em outros times. Ficou no Operário <strong>de</strong> Ponta<br />

Grossa. “Eu cheguei na terça, treinei na quarta e na quinta. Na sexta<br />

meus documentos já foram para a Fe<strong>de</strong>ração”. O primeiro jogo <strong>de</strong><br />

Otávio era um clássico, contra o Guarani: “A torcida era sensacional.<br />

Existia sim rivalida<strong>de</strong>, mas não era como hoje, não tinha confusão, não<br />

tinha briga”.<br />

Otávio treinava todas as tar<strong>de</strong>s e <strong>de</strong>cidiu trabalhar no período da<br />

manhã. “Aí eu fui dar aula <strong>de</strong> futebol para a garotada numa escola do<br />

Estado”. Continuou nessa rotina até 1961, quando foi transferido para<br />

Arapongas. Mudou <strong>de</strong> emprego e <strong>de</strong> time. Enquanto permaneceu na<br />

cida<strong>de</strong>, jogou pelo Arapongas.<br />

De volta a Curitiba, em 1967, para cursar Educação Física, Otávio<br />

foi chamado para jogar no Coritiba. “Eu fui bicampeão, em 1968 e 1969”.<br />

Além <strong>de</strong> jogar, ele estudava e trabalhava como técnico <strong>de</strong> categorias<br />

menores do Coritiba. Quando estava prestes a se formar, surgiu a<br />

oportunida<strong>de</strong> para o Coritiba jogar na Europa. Otávio pon<strong>de</strong>rou e<br />

optou por concluir o curso: “Eu lembrei que as minhas professoras,<br />

quando nos colocaram para jogar na escola, tinham dito que o esporte<br />

era importante, mas que nós nunca <strong>de</strong>veríamos abandonar os estudos<br />

por causa <strong>de</strong>le”. Ele afirma que nunca pensou como teria sido se tivesse<br />

feito uma escolha diferente: “Uma das coisas difíceis do futebol é parar,<br />

ainda mais quando se está no auge. Mas, eu parei com satisfação. Eu<br />

estava <strong>de</strong>cidido, queria estudar”. Nessa época, Otávio preferia os livros<br />

à bola.<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

273


Depois <strong>de</strong> formado, Otávio prestou concurso. “Queria ser<br />

professor no Estado. E nós tínhamos que escolher a cida<strong>de</strong>”. Ele<br />

escolheu Arapongas. Permaneceu por dois anos, até que um dia viu<br />

um anúncio no jornal: “Falava que na UEL ia ter o curso <strong>de</strong> Educação<br />

Física”. Otávio fez a inscrição e foi aceito.<br />

O ano era 1972. Assim que iniciou suas ativida<strong>de</strong>s na UEL, Otávio<br />

já reclamou um campo <strong>de</strong> futebol. “Nós começamos com a meta<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

um campo, só <strong>de</strong>pois foi feita a outra meta<strong>de</strong>”. Uma <strong>de</strong> suas primeiras<br />

providências foi convidar as crianças da comunida<strong>de</strong> para entrar na<br />

escolinha <strong>de</strong> futebol. “O nosso objetivo era a parte educacional e social,<br />

por isso não era pago. Houve semana que passaram por nós quase<br />

300 crianças”. Entretanto, só um campo, mesmo que inteiro, não<br />

era suficiente para aten<strong>de</strong>r todo o grupo. “Tudo o que eu pedia nós<br />

conseguimos. O pessoal da marcenaria fazia as traves, todos ajudavam<br />

como podiam e com o tempo nós conseguimos mais campos. Às vezes<br />

usávamos até o <strong>de</strong> atletismo”.<br />

Dessa forma, Otávio foi ensinando as lições que apren<strong>de</strong>u na<br />

infância por meio do futebol. “O importante é entrar no campo e<br />

não chutar o adversário, não xingar, não brigar, tem que obe<strong>de</strong>cer e<br />

respeitar, ser honesto. Não arrumar confusão”. Ele conta que foi um<br />

jogador disciplinado. Prova disso é a conquista do Prêmio Belfort<br />

Duarte <strong>de</strong> disciplina. “Ganhei uma medalha <strong>de</strong> prata do profissional.<br />

Também ganhei uma carteirinha que me dá o direito <strong>de</strong> entrar em<br />

qualquer campo do Brasil”. Para receber o prêmio é necessário que o<br />

jogador tenha participado <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> 200 partidas, e não ter sofrido<br />

nenhuma punição durante <strong>de</strong>z anos. “Não tem mais esse prêmio, hoje<br />

acho que é até impossível”.<br />

Otávio revela que gran<strong>de</strong>s talentos foram <strong>de</strong>scobertos na<br />

escolinha. “Aqui na <strong>Universida<strong>de</strong></strong> nós privilegiávamos a formação<br />

educacional. Mas, muitos jogadores foram para times gran<strong>de</strong>s. Um<br />

exemplo é o Wagner – jogou no <strong>Londrina</strong>, Santos, São Paulo, São João<br />

<strong>de</strong> Araras e <strong>de</strong>pois no Roma, Itália. Hoje ele mora em <strong>Londrina</strong>, teve<br />

um problema no joelho e não pô<strong>de</strong> continuar”.<br />

A lista <strong>de</strong> craques que começaram nos gramados da UEL, sob a<br />

supervisão <strong>de</strong> Otávio, é bem extensa. No entanto, seu maior orgulho é<br />

ter mostrado a todas as crianças, que passaram pela escolinha, outras<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

274


possibilida<strong>de</strong>s. Mo<strong>de</strong>sto, ele quase não fala das dificulda<strong>de</strong>s superadas.<br />

Mas, <strong>de</strong> vez em quando <strong>de</strong>ixa escapar que passou muitos finais <strong>de</strong><br />

semana na <strong>Universida<strong>de</strong></strong> e às vezes que pagava o passe para as crianças<br />

com o próprio dinheiro. Tudo isso porque ele realmente acredita que “o<br />

esporte é o caminho para transformar, principalmente, o adolescente”.<br />

Otávio está aposentado <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1993. Não abandonou o futebol,<br />

mas apren<strong>de</strong>u a gostar <strong>de</strong> outro esporte: o atletismo. “Em 2002, quando<br />

eu estava indo jogar uma partida, vi um grupo <strong>de</strong> pessoas correndo na<br />

rua. E aí eu segui só para ver até on<strong>de</strong> eles iriam. Acabei encontrando<br />

dois amigos que me convidaram para correr também e eu fui”. Ele<br />

conta que participa <strong>de</strong> todas as corridas promovidas pela prefeitura<br />

<strong>de</strong> Curitiba – são seis por ano. Ele conta que até 2006 chegava sempre<br />

em segundo lugar. “Em 2007 comecei a treinar para valer, um treino<br />

intenso”. Naquele ano Otávio foi campeão. “E, por incrível que pareça,<br />

em 2008, dia 19 <strong>de</strong> outubro foi encerrada a corrida e eu já era bicampeão<br />

antecipadamente”.<br />

Para finalizar ele revela que hoje é homem feliz, pois sempre<br />

conquistou tudo o que <strong>de</strong>sejou. E se Otávio era um craque? “Eu nunca<br />

fui craque, mas era muito <strong>de</strong>dicado”.<br />

Léia Dias Sabóia<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

275


Paulo Roca<br />

Nasceu em Guaxupé, MG em 17/07/1937. Veio<br />

para o Paraná à cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Santa Mariana, em<br />

1959. Ficou lá por 9 anos.<br />

Casou-se e mudou-se para Ivaiporã, em um sítio<br />

chamado Quatro Encruzo. Depois <strong>de</strong> dois anos<br />

mudou-se para Primavera, em São João do Ivaí,<br />

permanecendo por mais 10 anos.<br />

Mudou-se para <strong>Londrina</strong> em 1978, trabalhando<br />

em uma construção civil chamado TETO,<br />

trabalhando com pedras <strong>de</strong> mármore e fazendo<br />

tubos <strong>de</strong> águas e esgoto. “Daí o Paulo vidraceiro<br />

disse que a UEL estava ajustando trabalhadores para a construção.<br />

Vim aqui e já <strong>de</strong>u certo.”<br />

Começou a trabalhar na UEL em 1981 como servente <strong>de</strong> pedreiro.<br />

Ajudou a construir a APUEL, o TAM, a REITORIA, a BIBLIOTECA, e o<br />

CEFE. O lugar que mais gostou <strong>de</strong> trabalhar foi no CEFE.<br />

Aqui na UEL apren<strong>de</strong>u a ler e escrever na alfabetização <strong>de</strong><br />

adultos, tendo mais ou menos 5 anos <strong>de</strong> aula, “diz a Bíblia que tudo<br />

tem o seu tempo, e eu aprendi a ler e escrever em 1989”.<br />

Trabalhou na UEL por 24 anos, aposentando-se <strong>de</strong>pois por<br />

tempo <strong>de</strong> serviço. “Se fosse contar o tempo <strong>de</strong> serviço que trabalhei,<br />

dava pra ter duas aposentadorias. Não tinha nem sete anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> e<br />

já trabalhava com o pai no sítio. Mesmo com os mosquitos picando e<br />

com dor <strong>de</strong> estômago, trabalhava”, conta.<br />

“Os pais educavam os filhos <strong>de</strong> forma mais severa, queria que<br />

eles trabalhassem. Hoje é diferente, pois esses “baitas” homens na rua<br />

não fazem nada e se a gente vai chamar a atenção quando faz alguma<br />

coisa <strong>de</strong> errado, eles até xingam a gente”.<br />

Teve três filhos, mas o primeiro morreu. “Hoje tenho um casal:<br />

uma moça e um rapaz”.<br />

O que ele gosta <strong>de</strong> lembrar era o trabalho da UEL, pois quando<br />

chegava em casa era só dormir e <strong>de</strong>pois voltar para trabalhar.<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

276


Gosta também da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>, embora tenha sido<br />

agredido uma vez, mas “Deus me guardou”.<br />

Hoje, se fosse para voltar a trabalhar, não tem mais tempo, pois<br />

tem muitas coisas para fazer, <strong>de</strong>ntre elas, visita pessoas doentes que<br />

“ficam muito felizes e até melhoram o ânimo quando recebem uma<br />

visita”.<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

277


Apaixonado pelo coração<br />

Aposentado recentemente, o médico e professor Pedro Aloysio<br />

Kreling conta como surgiu seu interesse pela Medicina e a<br />

oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> lecionar<br />

Pedro Aloysio Kreling nasceu<br />

gaúcho, em Selbach, cida<strong>de</strong> próxima<br />

<strong>de</strong> Carasinho. Mas, seu lar mesmo foi<br />

o Paraná. Pouco antes <strong>de</strong> completar<br />

seis anos, a família veio para o<br />

norte do Estado, em 1944. A cida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> Rolândia, colônia <strong>de</strong> alemães,<br />

abrigou a família <strong>de</strong> Pedro – também<br />

<strong>de</strong> origem alemã.<br />

Pedro cursou o primário e o ginasial<br />

em Rolândia. Ele relembra que a<br />

cida<strong>de</strong> contava com uma população<br />

<strong>de</strong> 20 mil habitantes. Era a década <strong>de</strong> 1950 e o auge do café: “O norte<br />

do Paraná cresceu muito”, afirma. No entanto, ela não oferecia mais<br />

opções para quem <strong>de</strong>sejava seguir com os estudos. E este era o caso<br />

<strong>de</strong> Pedro e <strong>de</strong> um grupo <strong>de</strong> amigos. “A possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> progredir na<br />

vida era muito remota. Tinha muitas máquinas <strong>de</strong> café, o Banco do<br />

Brasil e a Caixa Econômica, não tinha outro futuro”. Eram estas as<br />

possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> trabalho que existiam em Rolândia.<br />

Pedro queria fugir <strong>de</strong>ste <strong>de</strong>stino quase certo. Então, com o grupo<br />

<strong>de</strong> amigos, <strong>de</strong>cidiu vir a <strong>Londrina</strong> para prosseguir nos estudos. Mas,<br />

no caminho uma surpresa. “Eu lembro que eles estavam construindo<br />

o asfalto. Nós íamos pelo acostamento, beirando o café. Porque era<br />

só café que tinha aqui. E todos os cafezais totalmente pretos. On<strong>de</strong> é<br />

que você olhava, preto. Tudo preto, queimado. A gente achava aquilo<br />

interessante”.<br />

Pedro conta que eles achavam interessante porque eram<br />

meninos e não podiam avaliar o impacto que a gran<strong>de</strong> geada <strong>de</strong> 1955<br />

teria na economia do Estado. Pedro cursou dois anos do científico em<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

278


<strong>Londrina</strong>, no Colégio Londrinense. Mas, no ano escolar que antece<strong>de</strong><br />

o vestibular, foi para Curitiba estudar no Colégio <strong>Estadual</strong> do Paraná.<br />

“Tinha sido inaugurado recentemente. Era o maior colégio do Estado e<br />

uns dos maiores do sul do Brasil. Eram linhas mo<strong>de</strong>rnas <strong>de</strong> ensino. As<br />

pessoas iam lá ver a construção”.<br />

Em tempo <strong>de</strong> poucas opções, Pedro tinha outra escolha<br />

importante: “Naquela época tinha que escolher entre três coisas: curso<br />

Normal para as moças; e Medicina, Engenharia ou Direito para os<br />

homens”. Decidiu-se pela Medicina.<br />

O primeiro vestibular foi na <strong>Universida<strong>de</strong></strong> Fe<strong>de</strong>ral do Paraná<br />

(UFPR). “Na primeira tentativa não passei. Eu não fiz cursinho.<br />

Eu estudava o científico à noite, e trabalhava durante o dia para me<br />

sustentar”. Depois <strong>de</strong> reprovar, Pedro conta que ficou sem saber o que<br />

fazer. Decidiu voltar para Rolândia.<br />

Mesmo querendo fugir do futuro certo, Pedro não teve alternativa.<br />

E, como a maioria dos jovens, começou a trabalhar em uma máquina<br />

<strong>de</strong> café. Período do qual ele se lembra com sauda<strong>de</strong> e ao mesmo tempo<br />

com receio. Trabalhando na máquina conheceu uns amigos <strong>de</strong> vida<br />

boêmia: “Era uma turminha meio da pesada. Nós saíamos do trabalho e<br />

íamos fazer um aperitivo todos os dias”. Só que a rotina estava seguindo<br />

um caminho diferente daquele que ele havia planejado. Ele percebeu<br />

que, se quisesse algo mais, <strong>de</strong>veria tentar novamente o vestibular. E<br />

assim o fez. No segundo vestibular da UFPR foi aprovado no curso <strong>de</strong><br />

Medicina. “Fui ver o resultado na <strong>Universida<strong>de</strong></strong>, e comecei a ver a lista<br />

do fim para o começo. Fiquei em segundo lugar. Peguei o lugar 119, e<br />

eram 120 vagas”, conta, orgulhoso.<br />

A festa <strong>de</strong> comemoração foi em Rolândia, com a família e os<br />

amigos. “Naquele tempo cortava o cabelo e tinha um boné ver<strong>de</strong><br />

da Medicina. Eu andava <strong>de</strong> boné ver<strong>de</strong> em Rolândia, todo exibido”,<br />

relembra, concluindo que foi uma aventura.<br />

Cursou Medicina <strong>de</strong> 1959 a 1964 - ano <strong>de</strong> instabilida<strong>de</strong> no país.<br />

Pedro, apesar <strong>de</strong> não atuar diretamente, acompanhava o caminhar<br />

tumultuoso da política. “Eu era do interior e estava mais preocupado<br />

com o meu futuro”. Pedro discursa sobre o período, relembrando fatos<br />

históricos e personagens importantes da época. “Lembro-me bem<br />

quando Marechal Castelo Branco veio para Curitiba, já empossado<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

279


como presi<strong>de</strong>nte, primeiro presi<strong>de</strong>nte militar. Ele <strong>de</strong>sfilou nas ruas, e a<br />

população toda aclamando. E eu estava na calçada observando”.<br />

“Então eu tinha o título <strong>de</strong> médico. E me orgulhava disto. A<br />

nossa festa <strong>de</strong> formatura foi dia 19 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1964. Foi uma festa<br />

bonita”, recorda. A maior parte dos médicos, recém-formados, tinham<br />

como <strong>de</strong>stino o interior - eram os clínicos gerais. Em meados da década<br />

<strong>de</strong> 1960, começou a surgir uma nova tendência: a especialização.<br />

Pedro e mais alguns amigos resolveram segui-la e foram para<br />

São Paulo. “Desci na rodoviária e liguei para o Hospital <strong>de</strong> Clínicas”.<br />

Pedro procurava pelo homem que foi referência para a sua conduta<br />

como médico e professor, Luiz Venere Décourt. Estagiou por três anos.<br />

O estágio equivalia à Especialização em Cardiologia.<br />

A Cardiologia teve uma razão toda especial para ser escolhida.<br />

“Meu pai tinha falecido <strong>de</strong> uma maneira súbita. Eu estava no segundo<br />

ano. Houve um erro médico, ele estava com 58 anos, era novo ainda.<br />

E aquilo ficou no meu subconsciente. Eu acho que foi por esse motivo<br />

que eu escolhi Cardiologia”.<br />

De São Paulo, Pedro veio para <strong>Londrina</strong>. O ano era 1967. “E estou<br />

até hoje aqui”. São 41 anos na cida<strong>de</strong> exercendo a profissão em tempo<br />

integral. “Não faço outra coisa”, afirma.<br />

A história com a <strong>Universida<strong>de</strong></strong> também é duradoura. “Em 1969,<br />

eu estava no hall da Santa Casa e encontrei o Dr. Ascêncio Garcia<br />

Lopes. Ele me convidou para ser docente da recém-fundada Faculda<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> Medicina”. E, no mesmo dia, Pedro assinou contrato para lecionar<br />

na UEL. Foram quase 38 anos como docente da UEL, sendo que a<br />

possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ser professor nunca havia sido cogitada. Todos os<br />

médicos formados na UEL, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a primeira turma, foram seus alunos.<br />

Revelando as características <strong>de</strong> sua personalida<strong>de</strong>, Pedro diz<br />

que se adaptou bem à Medicina. “Eu faço Medicina Clínica, que é mais<br />

conversar com o paciente. Você usa muito a entrevista e o raciocínio<br />

clínico. Me adaptei pela minha maneira <strong>de</strong> ser... Mais pacata, mais<br />

observador”. A família numerosa e religiosa também contribuiu<br />

na formação humana. Característica que preserva como médico e<br />

professor: “Os alunos sempre me cercavam, sempre tinha algum aluno<br />

por perto”.<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

280


Eu acredito que fui um bom professor e um bom médico”. Pedro<br />

sente-se realizado, porém, guarda algumas frustrações. Critica a falta<br />

<strong>de</strong> pesquisa na área da Medicina. “A maior parte das reuniões <strong>de</strong> que<br />

participávamos, eram sempre discutidos problemas <strong>de</strong> burocracia,<br />

política. E nunca alguma pesquisa <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> porte, <strong>de</strong> nível estadual<br />

ou nacional”, reflete.<br />

Aposentado recentemente não teve muitas alterações no seu<br />

cotidiano. Agora finaliza uma monografia sobre o coração: “Para sair<br />

da <strong>Universida<strong>de</strong></strong> eu achei que tinha que <strong>de</strong>ixar alguma coisa escrita.<br />

Resolvi fazer uma história sobre a minha especialida<strong>de</strong>: o coração.<br />

Levantei muitos dados sobre o coração. O significado filosófico, o<br />

simbolismo, o símbolo do profano, religioso, do amor. O coração é um<br />

símbolo universal”.<br />

No primeiro semestre do ano que vem, Pedro acredita que já<br />

estará finalizado seu projeto. O nome: “O coração: seus mitos, sua<br />

história, seus males”.<br />

Léia Dias Sabóia<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

281


Para ser um médico<br />

Depois <strong>de</strong> muito trabalho, Raimundo Nonato Teixeira formouse<br />

na sexta turma <strong>de</strong> Medicina da UEL. O médico voltou<br />

para <strong>Londrina</strong> como funcionário do hemocentro do HU<br />

“Medicina não é um curso para<br />

pobres”, disse um professor <strong>de</strong><br />

Medicina da UEL para o cearense<br />

<strong>de</strong> Jericoacoara, Raimundo Nonato<br />

Teixeira. O estudante da sexta turma<br />

do curso trabalhava noite sim, noite<br />

não e estudava <strong>de</strong> dia. Sabia que<br />

Medicina não era um curso fácil,<br />

principalmente para os pobres que<br />

precisavam conciliá-lo com uma<br />

profissão. “Mas eu era teimoso”, lembra hoje o médico.<br />

Raimundo veio para o sul do Brasil com 16 anos. Veio sozinho. Viajou<br />

em pau-<strong>de</strong>-arara como outros nor<strong>de</strong>stinos. No caminhão, conheceu<br />

uma família que o ajudou, por ele ser “pequeno e magro como uma<br />

criança”.<br />

O <strong>de</strong>stino final <strong>de</strong> Raimundo era Goioerê, mas ele acabou ficando<br />

em São Paulo. O primeiro emprego foi em uma casa <strong>de</strong> família. Ele<br />

engraxava sapatos e fazia um pouco <strong>de</strong> tudo, até ensinava o trabalho<br />

aos empregados mais novos. Mas, com dois anos no emprego e sem<br />

nenhum aumento <strong>de</strong> salário, Raimundo saiu. “Até este momento minha<br />

vida estava boa, <strong>de</strong>pois eu comecei a fazer um monte <strong>de</strong> coisas”, conta.<br />

Conseguir entrar no ginásio em São Paulo também foi uma<br />

luta. Raimundo não tinha os documentos da escola rural que tinha<br />

frequentado no nor<strong>de</strong>ste. Lá, ele lembra que as classes tinham aulas<br />

juntas e ele gostava <strong>de</strong> ser o primeiro a levantar o braço para respon<strong>de</strong>r.<br />

Ser o primeiro também era uma forma <strong>de</strong> evitar a temida palmatória.<br />

Para provar o passado escolar, em São Paulo foi atrás <strong>de</strong> um professor<br />

que assinou um documento – como se ele tivesse sido o seu aluno até<br />

então.<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

282


Com os documentos, Raimundo po<strong>de</strong> fazer o exame <strong>de</strong> admissão<br />

e entrar no ginásio. Enquanto ainda trabalhava em casa <strong>de</strong> família foi<br />

bem nos estudos. Depois, começou a ir mal e chegou a repetir alguns<br />

anos.<br />

Outra época boa que viveu na capital paulista, lembra Raimundo,<br />

foi quando após o curso <strong>de</strong> colocador <strong>de</strong> piso paviflex começou a<br />

trabalhar com isto. E o primeiro salário – um salário mínimo da época<br />

– era um dinheirão para o menino que estava acostumado a ganhar<br />

meta<strong>de</strong> daquilo. “Foi uma alegria”, diz.<br />

Ele foi pegando prática e ficando rápido no serviço, mas como<br />

o pagamento era por metro, conta, eram-lhe dadas mais residências.<br />

Em uma casa a colocação dava o mesmo trabalho e ocupava o mesmo<br />

tempo e assim não precisavam pagar tanto. Desta maneira Raimundo<br />

sentiu-se prejudicado. Também o salário mínimo que antes comprava<br />

muito, <strong>de</strong>pois do início da Ditadura Militar <strong>de</strong> 1964, teve seu po<strong>de</strong>r<br />

aquisitivo diminuído.<br />

Raimundo também foi servidor estadual <strong>de</strong> São Paulo. Foi pintor,<br />

eletricista, carregador <strong>de</strong> caminhão. Quando ele estava trabalhando em<br />

um laboratório no Instituto <strong>de</strong> Assistência Médica ao Servidor Público<br />

<strong>de</strong> São Paulo, não fazia um ano, um médico resi<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> lá foi convidado<br />

para vir para <strong>Londrina</strong>, on<strong>de</strong> Raimundo teria emprego também.<br />

Raimundo tinha prestado vestibular em São Paulo um ano<br />

antes e não entrou, então resolveu aceitar a proposta <strong>de</strong> se mudar<br />

para <strong>Londrina</strong> mesmo recebendo menos. A intenção <strong>de</strong>le era cursar<br />

Medicina aqui. E, em 1971, ele entrou na sexta turma <strong>de</strong> Medicina da<br />

UEL.<br />

Trabalhando no período noturno e estudando no diurno,<br />

Raimundo conseguiu provar que é possível conciliar trabalho e o curso<br />

<strong>de</strong> Medicina, embora ele se lembre <strong>de</strong> que ficava muito cansado com<br />

as ativida<strong>de</strong>s.<br />

Durante a faculda<strong>de</strong>, ele conheceu Cândida, na época funcionária<br />

da UEL. Mesmo quando Raimundo voltou para São Paulo para fazer<br />

residência on<strong>de</strong> havia começado e só tinha sábados <strong>de</strong> folga, fazia<br />

questão <strong>de</strong> vir para <strong>Londrina</strong> <strong>de</strong> avião para vê-la.<br />

Em 1979, Raimundo e Cândida casaram-se e ela foi para São<br />

Paulo. No ano seguinte, o médico serviu como voluntário no exército.<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

283


Nos anos seguintes, ele prestou um concurso fe<strong>de</strong>ral e passou a ter um<br />

vínculo estadual e outro fe<strong>de</strong>ral.<br />

Mas Raimundo ainda voltaria a <strong>Londrina</strong>. Jabour,<br />

superinten<strong>de</strong>nte do Hospital Universitário da UEL, convidou-o para<br />

trabalhar no laboratório do mestrado e ele veio. Mas conta que não era<br />

possível cuidar <strong>de</strong> um laboratório sozinho, porque faltava pessoal para<br />

ajudá-lo.<br />

Ainda no primeiro ano trabalhando na UEL, o médico - que<br />

fumava - teve câncer <strong>de</strong> pulmão. Cândida lembra que o médico <strong>de</strong><br />

Raimundo disse que, com a retirada do pulmão direito, ele po<strong>de</strong>ria<br />

viver <strong>de</strong> dois a cinco anos, caso contrário po<strong>de</strong>ria morrer a qualquer<br />

hora. E faz quase 20 anos que seu marido passou a viver só com o<br />

pulmão esquerdo.<br />

Depois do câncer, conta, ele nunca mais teve a mesma saú<strong>de</strong>. E o<br />

fôlego diminuiu com apenas um pulmão.<br />

Em 1992, Raimundo foi trabalhar no Hemocentro do HU. Lá,<br />

o médico fazia a triagem dos doadores <strong>de</strong> sangue, conferindo se eles<br />

tinham peso a<strong>de</strong>quado e avaliando outros critérios, como doenças ou<br />

comportamentos <strong>de</strong> risco que impe<strong>de</strong>m a doação, po<strong>de</strong>riam levar a uma,<br />

os remédios que tomavam. O trabalho <strong>de</strong> Raimundo no Hemocentro,<br />

que ainda era anexo ao pronto-socorro do HU, exigia também que<br />

médico e funcionário fizessem horas extras. Além das coletas no<br />

Hemocentro, havia as coletas externas da qual ele participava.<br />

Ele trabalhou no Hemocentro até 2003, quando <strong>de</strong>scobriu um<br />

problema no coração que o impediu <strong>de</strong> continuar na ativida<strong>de</strong>. Em<br />

2005, Raimundo aposentou-se da UEL <strong>de</strong>vido a seus problemas <strong>de</strong><br />

saú<strong>de</strong>.<br />

O médico conta alguns casos em que teve a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

exercer clínica em São Paulo. Ele lembra <strong>de</strong> ter diagnosticado um caso<br />

<strong>de</strong> hanseníase em uma paciente sem vê-la, apenas ouvindo o relato do<br />

pai <strong>de</strong>la. Depois, esta filha foi agra<strong>de</strong>cer ao médico.<br />

O horário <strong>de</strong> trabalho <strong>de</strong> Raimundo o impediu <strong>de</strong> exercer a<br />

clínica. Hoje, Raimundo e Cândida têm três filhos e uma neta. A filha<br />

mais nova seguiu o caminho trilhado pelo pai e está cursando Medicina<br />

na UEL.<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

284


Depois <strong>de</strong> tanto falar em doenças e em passado, Raimundo revela<br />

seu interesse por outras línguas, como o inglês e o francês, e a curiosida<strong>de</strong><br />

em conhecê-las corretamente. Também reclama do <strong>de</strong>scuido com que<br />

a língua portuguesa é tratada nos jornais, que cometem muitos erros.<br />

Uma xícara <strong>de</strong> café e algumas fotos <strong>de</strong>pois, é hora <strong>de</strong> se <strong>de</strong>spedir<br />

<strong>de</strong>ste cearense batalhador e <strong>de</strong> fôlego, mesmo com apenas um pulmão.<br />

Poliana Lisboa <strong>de</strong> Almeida<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

285


Raul Santos <strong>de</strong> Sá<br />

Nascido em <strong>Londrina</strong> em 1933, primogênito<br />

<strong>de</strong> família <strong>de</strong> <strong>de</strong>scendência portuguesa,<br />

pioneiros da cida<strong>de</strong>, com seus nomes<br />

gravados, in<strong>de</strong>levelmente, nos totens<br />

instalados na praça da Concha Acústica.<br />

Na época em que nasceu, <strong>Londrina</strong> era um<br />

pequeno Distrito <strong>de</strong> Jataí (atual Jataizinho)<br />

e todos os nascimentos eram lavrados no<br />

Cartório do Registro Civil, daquela cida<strong>de</strong>.<br />

Seus pais, José Silva Sá e Célia dos Santos<br />

Sá, transferiram residência para Ibiporã, em 1935, on<strong>de</strong> também<br />

foram pioneiros com comércio <strong>de</strong> secos e molhados, em cuja cida<strong>de</strong> fez<br />

o curso primário, participando da primeira turma do Grupo Escolar Dr.<br />

Francisco Gutierrez Beltrão. Lembra-se que nos primórdios da região,<br />

principalmente <strong>de</strong> 1939 a 1945, época da II Gran<strong>de</strong> Guerra, foram anos<br />

difíceis, já que o Brasil, no rol dos países aliados, passou por uma fase<br />

<strong>de</strong> racionamento em que tudo era difícil <strong>de</strong> se obter, como querosene<br />

para iluminação, gasolina, açúcar, farinha <strong>de</strong> trigo, etc. Foram 6 anos<br />

<strong>de</strong> muitas privações. Com a falta <strong>de</strong> açúcar, muitas vezes, o café era<br />

feito com caldo <strong>de</strong> cana ou adoçado com rapadura. De 1946 a 1949 fez o<br />

curso ginasial no Rio <strong>de</strong> Janeiro, no Colégio Republicano. Retornando<br />

a <strong>Londrina</strong>, em 1950, iniciou o curso científico (hoje ensino médio)<br />

no Colégio <strong>Estadual</strong> Professor Vicente Rijo, à época situado abaixo da<br />

linha férrea. Recorda-se que muitas vezes, tinha que transpor, à noite,<br />

os vagões estacionados no pátio da Estação Ferroviária (atual Museu<br />

Padre Carlos Weiss) para chegar ao Colégio. Casou-se em 1954, na<br />

antiga Catedral, com Ignez Parente <strong>de</strong> Sá, também filha <strong>de</strong> pioneiros <strong>de</strong><br />

nossa querida <strong>Londrina</strong>, <strong>de</strong> cujo enlace, nasceram duas filhas: Fátima<br />

Cristina <strong>de</strong> Sá e Ana Paula <strong>de</strong> Sá Pereira, respectivamente, odontóloga<br />

e advogada, formadas pela <strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>Estadual</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> (UEL),<br />

sendo a primeira, docente do Curso <strong>de</strong> Odontologia <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1987.<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

286


Vida Acadêmica:<br />

Primário – Grupo Escolar Dr. Francisco Gutierrez Beltrão –<br />

Ibiporã - primeira turma 1941/1945.<br />

Ginasial – Colégio Republicano – Vaz Lobo - Rio <strong>de</strong> Janeiro<br />

1946/1949.<br />

Colegial – Colégio <strong>Estadual</strong> Prof. Vicente Rijo, 1º ano científico<br />

em 1950.<br />

Curso Técnico <strong>de</strong> Contabilida<strong>de</strong> – Escola Técnica <strong>de</strong> Comércio<br />

Londrinense<br />

1955/1957 - Colégio Londrinense.<br />

Colégio <strong>Estadual</strong> Prof. Vicente Rijo 2º e 3º ano Científico<br />

1961/1962.<br />

Superior – Curso <strong>de</strong> Odontologia – Faculda<strong>de</strong> <strong>Estadual</strong><br />

<strong>de</strong> Odontologia <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> – FUEL, <strong>de</strong> 1964/1967<br />

– 3ª turma, tendo sido agraciado com a Medalha <strong>de</strong><br />

Honra ao Mérito por ter se classificado em 1º lugar durante o<br />

transcorrer do Curso.<br />

No período <strong>de</strong> sua graduação, já era casado, tinha uma filha e<br />

trabalhava como contador e apesar <strong>de</strong> todas as dificulda<strong>de</strong>s para<br />

subsidiar o sustento da família, foi agraciado com a “Láurea Acadêmica”,<br />

como melhor aluno durante todo o Curso <strong>de</strong> Odontologia.<br />

Como penhor <strong>de</strong> sua gratidão, faz menção especial à pessoa <strong>de</strong><br />

José Breno Ferraz, que além da ajuda material, sempre o incentivou na<br />

consecução <strong>de</strong> seu i<strong>de</strong>al <strong>de</strong> se tornar odontólogo.<br />

Como cirurgião-<strong>de</strong>ntista atuou, ininterruptamente, na cida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> <strong>de</strong> 1968 à 1992. A partir <strong>de</strong>sse ano, passou a <strong>de</strong>dicar-se<br />

unicamente à docência em tempo integral e <strong>de</strong>dicação exclusiva na<br />

UEL – <strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>Estadual</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>.<br />

Como docente do curso <strong>de</strong> Odontologia, iniciou suas ativida<strong>de</strong>s<br />

na antiga Faculda<strong>de</strong> <strong>Estadual</strong> <strong>de</strong> Odontologia <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>, como<br />

estagiário voluntário no ano <strong>de</strong> 1970, na Disciplina <strong>de</strong> Dentística<br />

Restauradora. Posteriormente, já com a Faculda<strong>de</strong> <strong>Estadual</strong> <strong>de</strong><br />

Odontologia <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> (FEOL) anexada à Fundação <strong>Universida<strong>de</strong></strong><br />

<strong>Estadual</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> (FUEL), na mesma disciplina atuou como<br />

Auxiliar <strong>de</strong> Ensino (1972/73). Em 1975 retornou à docência, ainda<br />

como Auxiliar, passando por todas as classes e níveis até junho <strong>de</strong><br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

287


2003, quando encerrou a carreira docente, compulsoriamente, na<br />

condição <strong>de</strong> Professor Adjunto 4.<br />

Como tesoureiro geral e secretário da Associação Odontológica do<br />

Norte do Paraná (AONP) por várias gestões, lembra-se que no início da<br />

construção da se<strong>de</strong> atual situada à Rua Rolândia, em <strong>Londrina</strong>, a verba<br />

disponível era escassa e vários empréstimos foram obtidos no antigo<br />

Banco do Estado do Paraná, com o aval sendo feito pelos membros da<br />

Diretoria. Os bens particulares dos mesmos ficavam hipotecados junto<br />

ao banco como garantia dos empréstimos. Por esse motivo, durante<br />

o tempo da construção, sempre que era necessária nova eleição da<br />

diretoria raramente aparecia candidato, sendo os cargos preenchidos<br />

pelos mesmos diretores num sistema <strong>de</strong> rodízio, já que para ser dirigente<br />

da AONP era necessário assumir o aval dos empréstimos contraídos.<br />

Durante os anos <strong>de</strong> acadêmico <strong>de</strong> Odontologia (1964/1967), participou<br />

ativamente, como secretário do Centro Acadêmico XXI <strong>de</strong> Abril, época<br />

em que a se<strong>de</strong> que situava-se na esquina das ruas Pref. Hugo Cabral<br />

com Piauí, por concessão do governo estadual, foi cedida ao Centro<br />

Acadêmico.<br />

A mensagem que <strong>de</strong>ixa para a família, suas filhas, genro Leonardo<br />

e neto Breno é a <strong>de</strong> luta diária e incansável baseada em princípios <strong>de</strong><br />

honestida<strong>de</strong>, responsabilida<strong>de</strong> e ética com que sempre pautou sua vida.<br />

Com muito orgulho <strong>de</strong>ixa aqui registrado neste Portal a sua passagem<br />

<strong>de</strong> 33 anos pela UEL, como um colaborador na sua construção e<br />

perpetuação.<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

288


A visita do vigia<br />

Reginaldo Batista <strong>de</strong> Souza, vigia do Museu, que não gosta <strong>de</strong><br />

sair na rua, veio contar sua história na UEL para o Portal<br />

Reginaldo Batista <strong>de</strong> Souza é outro<br />

baiano que veio para o sul em busca <strong>de</strong><br />

oportunida<strong>de</strong>s e emprego. Foi criado em<br />

Assis (SP), <strong>de</strong> on<strong>de</strong> se mudou para Tarumã<br />

(SP), cida<strong>de</strong> em que começou sua família<br />

casando-se com Maria <strong>de</strong> Lour<strong>de</strong>s Souza.<br />

Para o Paraná, a família veio <strong>de</strong>pois que<br />

Reginaldo comprou uma chácara <strong>de</strong> café em<br />

Sertanópolis. Ele conta que a produção <strong>de</strong><br />

café já estava <strong>de</strong>caindo. Plantou soja no lugar, que ven<strong>de</strong>ria <strong>de</strong>pois <strong>de</strong><br />

uns anos.<br />

Reginaldo tinha experiência <strong>de</strong> três meses em uma empresa <strong>de</strong><br />

segurança em <strong>Londrina</strong>, mas não gostou do serviço. “Eu pensava, eu<br />

não sou cachorro, e acabei voltando para a chácara”. Então, quando um<br />

amigo lhe contou que a UEL estava contratando resolveu tentar a vaga.<br />

A foto para a ficha foi tirada pelo lambe-lambe do bosque, e<br />

Reginaldo já estava na chácara quando a filha lhe <strong>de</strong>u a notícia <strong>de</strong><br />

sua convocação. No primeiro dia <strong>de</strong> serviço, com a marmita pronta,<br />

e <strong>de</strong>pois do encontro com o chefe da segurança, cada vigia foi <strong>de</strong>ixado<br />

em um posto. “Fiquei por último, lá no NUBEC [hoje SEBEC, Serviço<br />

<strong>de</strong> Bem-Estar à Comunida<strong>de</strong>]”.<br />

Do Nubec, Reginaldo passou pelo CEFE (Centro <strong>de</strong> Educação<br />

Física e Esporte) e foi transferido para o Museu Histórico, quando<br />

ele ainda funcionava nos porões do Colégio Hugo Simas. Na estação<br />

ferroviária, a nova casa do Museu, o vigia continuou até a aposentadoria.<br />

O trabalho ficava perto <strong>de</strong> casa e ele fazia, praticamente, o horário<br />

comercial. Da época em que o Museu não tinha gra<strong>de</strong>s, Reginaldo conta<br />

que tinha que tirar pessoas que dormiam na plataforma e também<br />

usuários <strong>de</strong> drogas.<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

289


Em 2000, Reginaldo sofreu um aci<strong>de</strong>nte vascular cerebral (AVC)<br />

e <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> passar por perícia aposentou-se por invali<strong>de</strong>z. Ele conta<br />

que agora fica a maior parte do tempo em casa, e só sai quando assume<br />

um compromisso.<br />

Quando não tem com quem competir, Reginaldo fica treinando<br />

sozinho escopa, um jogo <strong>de</strong> cartas. Também tem a sua preferência no<br />

rádio, o sertanejo.<br />

Poliana Lisboa <strong>de</strong> Almeida<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

290


Olhar para frente<br />

A aposentadoria da professora <strong>de</strong> Psicologia Romilda Aparecida<br />

Cardioli dos Santos serviu para novos planos e horizontes<br />

Londrinense, Romilda Aparecida<br />

Cardioli dos Santos estava na segunda<br />

turma <strong>de</strong> psicologia da <strong>Universida<strong>de</strong></strong><br />

<strong>Estadual</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>. No dia <strong>de</strong><br />

sua formatura, uma amiga ouviu<br />

um comentário <strong>de</strong> que Romilda<br />

seria convidada para dar aula na<br />

<strong>Universida<strong>de</strong></strong>.<br />

Na segunda-feira seguinte, a recémformada<br />

levou seu currículo no <strong>de</strong>partamento e na mesma semana fez<br />

a entrevista. Veio o convite para trabalhar como professora e no dia 13<br />

<strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 1978 Romilda assinou seu contrato. ‘Saí pela porta <strong>de</strong><br />

aluna e entrei pela <strong>de</strong> professora’, relembra.<br />

Após os cinco anos <strong>de</strong> graduação, a professora ficou mais 26 anos<br />

lecionando até a aposentadoria em 2004. Romilda diz ter passado ‘pelas<br />

mãos <strong>de</strong> todos’ - fundadores do curso, professores mais antigos - e<br />

consi<strong>de</strong>ra que foi ‘filha <strong>de</strong>les’. Também vê que o curso foi se ampliando<br />

e fornecendo uma visão <strong>de</strong> vida além da Instituição.<br />

Os anos <strong>de</strong> ensino <strong>de</strong> Romilda foram em Psicologia Social. A<br />

professora explica a área com comparações, nas quais cada pessoa é um<br />

conjunto <strong>de</strong> personagens inseridas em uma perspectiva sócio-histórica<br />

dialética. Cabe então a esta Psicologia estudar o comportamento<br />

afetando as relações sociais. ‘O elemento na instituição é o objeto<br />

<strong>de</strong> estudo da Sociologia. Os vínculos, como eles se constróem e se<br />

<strong>de</strong>sfazem, o conjunto <strong>de</strong> papéis, são objetos da Psicologia Social’.<br />

Assim, conclui Romilda, o direito <strong>de</strong> um não po<strong>de</strong> invadir o direito<br />

<strong>de</strong> outro. E o que é público exige <strong>de</strong> todos mais responsabilida<strong>de</strong> por ser<br />

<strong>de</strong> todos, do que permite direitos. Para a professora, a responsabilida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> usufruir com consciência do que é público faz parte do ser cidadão.<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

291


A professora responsabiliza a UEL por tudo o que tem: amigos,<br />

conhecimento, perspectiva e vida. A <strong>Universida<strong>de</strong></strong>, diz Romilda, ‘além<br />

<strong>de</strong> um pilar é uma gran<strong>de</strong> amiga minha’.<br />

De Ascêncio Garcia Lopes a Lygia Puppato, Romilda teve<br />

acesso a todos os reitores enquanto esteve na UEL. Participou da vida<br />

universitária e sindical mesmo sem ter exercido outra função que não<br />

a <strong>de</strong> professora.<br />

Ela conta que durante as greves - ‘gigantescas’ - praticamente<br />

toda a <strong>Universida<strong>de</strong></strong> se envolvia. ‘Gran<strong>de</strong> parte das nossas assembleias<br />

era no Ouro Ver<strong>de</strong> ou no setor esportivo, e lotava’, lembra. O auditório<br />

do CCB, o Pinicão, era pequeno para estes eventos e só era usado para<br />

informes.<br />

As discussões, lembra a professora, não giravam apenas em torno<br />

da questão salarial, mas também das condições <strong>de</strong> trabalho, do papel<br />

do Hospital Universitário - ‘e os funcionários do HU vinham para a<br />

UEL discutir’ - e da Biblioteca Central.<br />

Os alunos apoiavam os professores e funcionários, o que, segundo<br />

Romilda, <strong>de</strong>monstrava o envolvimento entre professores e alunos.<br />

A professora fez questão <strong>de</strong> lembrar que as mudanças na<br />

UEL foram acontecendo gradativamente. As gerações foram se<br />

aposentando, alguns até morreram. A abstenção na política também<br />

é um fator responsável. Abstenção a que Romilda credita à mesma<br />

responsabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma ação: ‘a abstenção é o voto do covar<strong>de</strong>, minha<br />

filosofia foi não me abster’.<br />

Mas, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> tantos anos lecionando e vivendo a UEL, Romilda<br />

<strong>de</strong>cidiu aposentar-se e apostar no sonho <strong>de</strong> morar no exterior. Foi<br />

então para a Inglaterra, com marido, filha, irmão, sobrinhos e sua mãe.<br />

De 2004 para cá Romilda já esteve lá três vezes. Trabalhou em<br />

uma fazenda <strong>de</strong> flores, em uma fábrica <strong>de</strong> embalagens e em distribuidora<br />

<strong>de</strong> brinquedos.<br />

No exterior, a professora esteve em contato com pessoas <strong>de</strong><br />

lugares diferentes, brasileiros com pouca instrução e chegou até a<br />

morar com uma ex-aluna, que conseguiu trabalho para Romilda e o<br />

marido.<br />

‘Não é só porque minha vida na UEL foi boa que tem que durar<br />

para sempre’, diz a professora que encerrou esta fase em sua vida.<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

292


Aos 13 ou 14 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, Romilda recebeu uma frase <strong>de</strong> uma<br />

amiga: se você ver uma estrela e não seguir pensando que ela po<strong>de</strong> te<br />

levar ao pântano e <strong>de</strong>le não conseguirá sair, lembre-se <strong>de</strong> que po<strong>de</strong><br />

per<strong>de</strong>r a chance <strong>de</strong> seguir a estrela que seria a luz da sua vida.<br />

E a professora continua aproveitando as suas chances - ou<br />

estrelas - sem medo, para não se arrepen<strong>de</strong>r <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> perdê-las. “Tudo<br />

na minha vida é chance”.<br />

Poliana Lisboa <strong>de</strong> Almeida<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

293


Funcionária vitoriosa<br />

Entre muitas dificulda<strong>de</strong>s, Rosa Magalhães superou o preconceito<br />

e provou que era capaz <strong>de</strong> chegar à universida<strong>de</strong> como aluna e<br />

funcionária<br />

“Eu venci”. Essas duas palavras, pequenas<br />

no tamanho, mas enormes no significado,<br />

permeiam toda a nossa conversa com a técnica<br />

<strong>de</strong> biblioteca Rosa Magalhães <strong>de</strong> Me<strong>de</strong>iros.<br />

A história <strong>de</strong> sua vida confirma claramente<br />

estas palavras e <strong>de</strong>monstra que o orgulho<br />

<strong>de</strong>monstrado proce<strong>de</strong> e suas conquistas são<br />

mais do que merecidas.<br />

De origem humil<strong>de</strong>, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> cedo Rosa precisou<br />

trabalhar para ajudar a família e isto em uma<br />

época em que se acreditava que as mulheres não precisavam estudar.<br />

Após concluir a quarta série primária e até mesmo passar pelo exame<br />

<strong>de</strong> admissão – uma prova para ingressar no ginásio – Rosa foi impedida<br />

pelo pai, que acreditava naquela concepção machista, <strong>de</strong> continuar os<br />

estudos. Assim, o sonho <strong>de</strong> ser professora teve que ser abandonado,<br />

mas a vida ainda levaria Rosa <strong>de</strong> volta aos bancos escolares.<br />

Trabalhando como costureira em confecções da cida<strong>de</strong>, Rosa<br />

casou-se e teve os quatro filhos, até que surgiu um concurso estadual<br />

para trabalhar como auxiliar <strong>de</strong> serviços gerais em um colégio da<br />

cida<strong>de</strong>. Aprovada, ingressou no Colégio Antônio <strong>de</strong> Moraes Barros<br />

nesta função. “Mas como eu sou bem extrovertida, eu logo passei a<br />

trabalhar como inspetora <strong>de</strong> alunos. Já saí da limpeza – acho que eu<br />

trabalhei dois anos na limpeza –, aí eu comecei a sentir preconceito<br />

(...), porque eu trabalhava na área <strong>de</strong> educação e [era] uma pessoa que<br />

não tinha estudo”, relembra. Porém, como diz o ditado, “há males<br />

que vêm para o bem”. Antes <strong>de</strong> se calar e aceitar o preconceito, Rosa<br />

resolveu dar a volta por cima e <strong>de</strong>cidiu: “Eu vou provar que sou capaz<br />

também”.<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

294


De volta à escola<br />

Decidida a retomar os estudos, Rosa teria um longo caminho a<br />

percorrer. E ele não seria fácil, mas daria um outro sabor à conquista.<br />

Para vencer, Rosa enfrentou vários adversários. Um <strong>de</strong>les foi a própria<br />

família.<br />

Estudando no antigo CES – Centro <strong>de</strong> Estudos Supletivo e hoje<br />

CEEBJA –, o primeiro <strong>de</strong>safio que Rosa superou foi o ciúme do marido,<br />

que a pressionava para que <strong>de</strong>sistisse <strong>de</strong> estudar. “Quando eu me<br />

aprontava para ir lá [no CES] ele brigava e falava que achava que eu<br />

não ia estudar (...). Eu chorava lágrimas <strong>de</strong> sangue, ia chorando pelo<br />

caminho, mas [pensava] ‘não vou <strong>de</strong>sistir’, porque o preconceito que<br />

eu sentia era muito gran<strong>de</strong>”, explica.<br />

Além do marido, Rosa encontrou resistência da própria filha,<br />

que também não concordava com sua retomada dos estudos. “Minha<br />

filha mesmo, quando eu me formei, ela falou ‘para quê que você quer<br />

diploma? Só se for pra pôr no seu túmulo’”, relembra. Mesmo assim,<br />

Rosa não <strong>de</strong>sistiu e terminou o ensino médio em 1993. No mesmo<br />

ano prestou vestibular na UEL e foi aprovada. Como estudante <strong>de</strong><br />

biblioteconomia começava mais uma batalha a ser vencida.<br />

O dia inteiro na UEL<br />

Fazer faculda<strong>de</strong> pela manhã, trabalhar tar<strong>de</strong> e noite no colégio<br />

como inspetora <strong>de</strong> alunos, auxiliando na biblioteca e na secretaria, e<br />

cuidar da casa, do marido e dos filhos. A rotina <strong>de</strong> Rosa não era fácil.<br />

“O marido sempre exigente - que eles fazem isso para pressionar, para<br />

ver se você <strong>de</strong>siste, só que eu não <strong>de</strong>sisti, fui em frente”.<br />

E logo surgiu a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> trabalhar na UEL, quando<br />

Rosa foi aprovada em dois concursos – para agente administrativo<br />

e auxiliar <strong>de</strong> biblioteca. Mas, quando foi chamada para o segundo<br />

cargo, na área <strong>de</strong> biblioteconomia, já estava trabalhando como<br />

agente administrativo, on<strong>de</strong> o salário era melhor. Nesta função, Rosa<br />

trabalhou nos Departamentos <strong>de</strong> Educação e <strong>de</strong> Biblioteconomia, cada<br />

período em um <strong>de</strong>les. “Mas aí eles acharam que não era muito legal<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

295


porque eu estava fazendo o curso e <strong>de</strong> repente tinha acesso a alguma<br />

informação, à prova, essas coisas. Aí eu acabei ficando as oito horas no<br />

<strong>de</strong>partamento <strong>de</strong> Educação”, explica.<br />

Assim, a vida <strong>de</strong> Rosa era passar os dias na <strong>Universida<strong>de</strong></strong>.<br />

Trabalhava até às 11 horas da noite e no dia seguinte estava <strong>de</strong> volta<br />

pela manhã, para dar continuida<strong>de</strong> à faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> biblioteconomia.<br />

Durante o curso, precisou enfrentar problemas familiares que fizeram<br />

com que a filha e o marido saíssem <strong>de</strong> casa. Todo esse estresse <strong>de</strong>ixou<br />

Rosa doente no último ano da faculda<strong>de</strong>. “Olha, para você ver o tumulto<br />

que foi a minha vida! Mas eu não <strong>de</strong>sisti e acabei vencendo”, comenta.<br />

A motivação <strong>de</strong> Rosa para vencer o preconceito era maior do<br />

que as dificulda<strong>de</strong>s que precisou enfrentar durante a faculda<strong>de</strong>. A<br />

arrogância com que era tratada pela chefia quando trabalhava no<br />

colégio levou Rosa a se superar e mostrar que era capaz. “Elas falavam<br />

‘Ah, mas quem mandou vocês não estudarem? Vocês têm que obe<strong>de</strong>cer,<br />

porque vocês não estudaram. A gente está aqui porque estudou, porque<br />

sofreu’. E hoje eu tenho certeza que eu tenho mais estudo que algumas<br />

daquelas que estavam lá”.<br />

No trabalho, a vida <strong>de</strong> Rosa não era diferente. Durante o estágio<br />

probatório – período <strong>de</strong> teste para os servidores contratados como<br />

efetivos – precisou exercer funções que não eram suas, como fechar<br />

portas e banheiros. Em sala <strong>de</strong> aula, mais uma vez Rosa foi vítima <strong>de</strong><br />

preconceito, mas agora por ser a aluna mais velha da turma. Apesar<br />

<strong>de</strong> ter o apoio dos professores, precisou superar a rejeição <strong>de</strong> algumas<br />

colegas. “Po<strong>de</strong> dizer que não existe, mas existe o preconceito <strong>de</strong> uma<br />

pessoa mais velha em sala <strong>de</strong> aula junto com os mais jovens. E eu senti<br />

isso na pele”, confessa.<br />

E foi superando todas estas dificulda<strong>de</strong>s que Rosa conseguiu<br />

o diploma <strong>de</strong> bacharel em Biblioteconomia em 1997. Com uma nova<br />

profissão, Rosa partiu para outro setor – aquele sobre o qual estudou<br />

durante quatro anos: a biblioteca.<br />

A recompensa entre livros<br />

Assim que se formou, Rosa pediu transferência para a biblioteca<br />

da UEL, mas, segundo ela, a chefia do Departamento <strong>de</strong> Educação<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

296


só a liberou quatro anos <strong>de</strong>pois. Quando mudou <strong>de</strong> setor, foi para a<br />

Biblioteca Central do campus. Na Biblioteca Setorial <strong>de</strong> Ciências<br />

Humanas, Rosa trabalhou somente durante um mês, logo <strong>de</strong>pois que<br />

esta foi inaugurada.<br />

Como técnica <strong>de</strong> biblioteca era lotada no setor <strong>de</strong> referência,<br />

mas também trabalhava meio período na circulação, aten<strong>de</strong>ndo no<br />

balcão, realizando empréstimos e recebendo <strong>de</strong>voluções <strong>de</strong> livros. No<br />

outro meio período, quando estava no setor <strong>de</strong> referência, o serviço era<br />

guardar os livros consultados, aten<strong>de</strong>r usuários, encontrar para eles<br />

as obras <strong>de</strong> referência – que são aquelas que não saem da biblioteca,<br />

como os dicionários e as enciclopédias, por exemplo – e fazer pesquisas<br />

on line, ou seja, busca por artigos, monografias, dissertações, entre<br />

outros, em diferentes bibliotecas ou bases <strong>de</strong> dados.<br />

Mas, afinal, porque a biblioteconomia? Entre tantas outras<br />

opções <strong>de</strong> cursos, o que a teria levado a escolher justamente este?<br />

Rosa explica que <strong>de</strong>s<strong>de</strong> jovem <strong>de</strong>sejava ser professora, mas quando<br />

começou a trabalhar no colégio também ajudava na biblioteca e,<br />

portanto, na hora <strong>de</strong> escolher o curso, optou pela biblioteconomia por<br />

já estar envolvida com esta área. “E eu gostava <strong>de</strong> mexer com os livros,<br />

trabalhar na biblioteca, por isso eu escolhi [biblioteconomia]. Só não<br />

consegui ser bibliotecária mesmo, no papel”, explica.<br />

Durante boa parte do período em que Rosa trabalhou na UEL<br />

<strong>de</strong>pois da formatura, não foram realizados concursos para a contratação<br />

<strong>de</strong> bibliotecários e, assim, mesmo realizando os mesmos serviços <strong>de</strong>stes<br />

profissionais, Rosa nunca foi registrada como bibliotecária. Porém, no<br />

último ano antes da aposentadoria, em 2008, a <strong>Universida<strong>de</strong></strong> abriu<br />

concurso interno para a área <strong>de</strong> biblioteconomia e, apesar <strong>de</strong> ter feito a<br />

inscrição, Rosa não participou da seleção e se aposentou, em 2009, sem<br />

ter sido bibliotecária oficialmente. “Se eu tivesse feito [o concurso] eu<br />

teria me transformado em bibliotecária, que era o sonho, eu estu<strong>de</strong>i para<br />

isso, só que, como se passaram 10 anos sem ter um concurso interno<br />

nem nada, quando teve eu não quis fazer (...) porque aí eu teria que<br />

trabalhar mais cinco anos para me aposentar como bibliotecária”,<br />

explica.<br />

Assim, em 2009, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> trabalhar 34 anos, registrada, - 13<br />

<strong>de</strong>les na UEL -, Rosa se aposentou. Além do tempo <strong>de</strong> serviço, outros<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

297


motivos a levaram a tomar essa <strong>de</strong>cisão, como a falta <strong>de</strong> tempo para<br />

ficar com os pais e os netos. Mesmo assim, Rosa ainda preten<strong>de</strong> voltar a<br />

trabalhar. Junto com o conhecimento adquirido nestes anos <strong>de</strong> estudo, a<br />

faculda<strong>de</strong> também trouxe recompensas financeiras, provando que todo<br />

o esforço valeu a pena. “Graças a Deus eu achei que foi legal, que me<br />

aposentei bem até, mas tudo graças a meu esforço, porque se eu tivesse<br />

ficado <strong>de</strong>s<strong>de</strong> quando eu entrei lá no colégio naquele marasmo, não ter<br />

voltado a estudar, hoje eu teria me aposentado com muito menos (...),<br />

então eu acho que valeu muito a pena eu ter estudado”, analisa.<br />

Aposentadoria só no papel<br />

Além da faculda<strong>de</strong>, Rosa também fez uma pós-graduação em<br />

Comunicação Empresarial, tornando-se um exemplo na família. Entre<br />

os irmãos e cunhados, ninguém continuou os estudos. Porém, os filhos<br />

<strong>de</strong> Rosa seguiram o exemplo da mãe e hoje dois <strong>de</strong>les são formados<br />

em Administração, um filho é formado em Ciências Contábeis –<br />

este também pela UEL – e cada um <strong>de</strong>les tem duas pós-graduações.<br />

Somente a filha mais nova não quis continuar os estudos.<br />

E como muitos funcionários da instituição, Rosa esteve envolvida<br />

com as diversas extensões da universida<strong>de</strong>. Os netos ficaram na creche<br />

e na ludoteca da UEL, uma nora trabalha no Hospital <strong>de</strong> Clínicas (HC)<br />

e a própria Rosa participou <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s físicas do NAFI (Núcleo <strong>de</strong><br />

Ativida<strong>de</strong>s Físicas), além <strong>de</strong> cantar até hoje no Coro do Campus. Tudo<br />

isso fez com ela criasse laços <strong>de</strong> amiza<strong>de</strong> em vários setores do campus.<br />

Deixar a UEL não foi fácil, mas era preciso parar por um tempo. Porém,<br />

essa funcionária vencedora preten<strong>de</strong> voltar e chegar ainda mais longe.<br />

“Eu nunca esperava que eu fosse ter uma experiência tão bacana assim<br />

na minha vida (...), mas graças a Deus e ao meu esforço também eu<br />

consegui ir mais alto do que eu almejava. Ainda não parei aqui (...),<br />

ainda quero, <strong>de</strong> repente, ser docente no <strong>de</strong>partamento <strong>de</strong> bibi [apelido<br />

carinhoso para “biblioteconomia”], fazer um mestrado ano que vem,<br />

até esse final <strong>de</strong> ano já começar a pensar em alguma coisa, mas não<br />

parar por aqui não. (...) Eu só estou <strong>de</strong> férias!” E a gente aguarda<br />

ansiosamente o seu retorno, Rosa!<br />

Rosane Mioto<br />

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298


Um ano <strong>de</strong> Aposentadoria<br />

O professor Rubens Ferreira Dias Júnior, do CCA, fala <strong>de</strong> sua<br />

vida na UEL e <strong>de</strong> como foi <strong>de</strong>ixar as aulas<br />

Em 1971, aos 18 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, Rubens<br />

Ferreira Dias Júnior começou a trabalhar<br />

na antiga Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina<br />

como auxiliar <strong>de</strong> laboratório. Era seu<br />

primeiro emprego <strong>de</strong>le. Com a criação da<br />

<strong>Universida<strong>de</strong></strong> e <strong>de</strong> novos cursos, prestou<br />

vestibular para medicina veterinária e em<br />

1973 começou as aulas. “Eu nunca pensei<br />

em mexer com animal”, confessa ele. A<br />

intenção era, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o princípio, trabalhar<br />

com análises clínicas.<br />

Naquela época o estudo na <strong>Universida<strong>de</strong></strong> era pago e, como ele não<br />

tinha dinheiro suficiente, a <strong>Universida<strong>de</strong></strong> ofereceu uma bolsa-trabalho.<br />

Rubens fazia plantões <strong>de</strong> noite no laboratório, que já funcionava no<br />

Hospital Universitário da Rua Pernambuco, e frequentava as aulas em<br />

período integral.<br />

Rubens entrou na primeira turma <strong>de</strong> Veterinária da UEL, mas<br />

se formou com a turma posterior por causa da gran<strong>de</strong> mudança <strong>de</strong><br />

currículo que houve durante o curso. Com um mês <strong>de</strong> formado, em<br />

1977, ele iniciou como professor na <strong>Universida<strong>de</strong></strong>.<br />

Em 1982 o professor começou o mestrado na <strong>Universida<strong>de</strong></strong><br />

Fe<strong>de</strong>ral Rural do Rio <strong>de</strong> Janeiro (UFRRJ). O doutorado foi na UEL,<br />

na primeira turma <strong>de</strong> Sanida<strong>de</strong> Animal, entre 2002 e 2004. A tese <strong>de</strong><br />

Rubens foi a primeira a ser <strong>de</strong>fendida no programa.<br />

Ele afirma que encarava com tranquilida<strong>de</strong> a profissão. Foram<br />

30 anos dando aulas, o que nas contas <strong>de</strong>le significa que cerca <strong>de</strong> dois<br />

mil alunos frequentaram as suas classes. Rubens <strong>de</strong>staca que, se fosse<br />

para classificá-lo com algum nome, seria relacionado à família <strong>de</strong><br />

veterinários, pois <strong>de</strong>pois <strong>de</strong>le sete parentes próximos fizeram o curso.<br />

Rubens <strong>de</strong>u aula a sua irmã, sobrinha, três primos e dois dos três<br />

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299


filhos. Ele chegou a ser colega <strong>de</strong> turma do filho, quando cursaram<br />

disciplinas juntos, o pai para o doutorado e o filho para o mestrado. A<br />

família <strong>de</strong> veterinários chegou a ser <strong>de</strong>staque no jornal Notícia da UEL<br />

em 2002.<br />

Rubens Dias Junior nasceu em Ibiporã, mas com dois anos <strong>de</strong><br />

vida seus pais se mudaram para a Vila Nova, <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>, on<strong>de</strong> passou<br />

quase toda a vida. “Até agora, eu não estou lá, mas fico lá perto”. O<br />

professor fez o primário no Colégio Nilo Peçanha e o ginásio e colegial<br />

no Vicente Rijo antigo.<br />

A aposentadoria, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> 35 anos na <strong>Universida<strong>de</strong></strong>, é<br />

consi<strong>de</strong>rada um prêmio pelo professor. Ele ressalta que o funcionário<br />

público tem vantagem sobre os <strong>de</strong>mais trabalhadores por se aposentar<br />

recebendo o mesmo salário <strong>de</strong> quando estava trabalhando, o que<br />

possibilita a <strong>de</strong>dicação a alguns passatempos.<br />

Rubens não quis voltar a trabalhar. Ele acredita que a<br />

aposentadoria exige uma preparação, caso contrário corre mesmo o<br />

risco <strong>de</strong> ficar <strong>de</strong>primido. “A pessoa tem que se preparar e realmente<br />

tentar fazer aquilo que gosta, ampliando o horizonte. Para o casamento,<br />

por exemplo, você se prepara, para a aposentadoria também é preciso.”<br />

Na preparação do professor foi incluída a compra <strong>de</strong> dois carros<br />

antigos. “São carros antigos, e não velhos, tá?” Ele conta que gosta <strong>de</strong><br />

mexer na mecânica simples, arrumar os carros, participar <strong>de</strong> <strong>de</strong>sfiles e<br />

encontros. E brinca que só não tem mais carros porque a mulher não<br />

<strong>de</strong>ixa.<br />

Ele também gosta <strong>de</strong> músicas da década <strong>de</strong> 1960, que tocavam nos<br />

rádios à válvula <strong>de</strong> antigamente, filmes <strong>de</strong> bangue-bangue e românticos<br />

<strong>de</strong> época. Com o auxilio da Internet e do computador Rubens assiste<br />

ví<strong>de</strong>oclipes das músicas e cataloga o arquivo.<br />

Pouco mais <strong>de</strong> um ano <strong>de</strong> aposentadoria já fez o professor refletir<br />

nas melhoras que a sua vida teve. Além <strong>de</strong> possibilitar tempo livre para<br />

os passatempos e viagens, Rubens afirma que também po<strong>de</strong> praticar<br />

algum esporte, visando melhorar a saú<strong>de</strong>. Ele começou a <strong>de</strong>ixar mais<br />

o carro na garagem e caminhar, assim como dominar o tempo com<br />

maior tranquilida<strong>de</strong>, sem tanto nervosismo. No entanto, o aspecto<br />

mais importante foi aproximar-se da família e da religião.<br />

Poliana Lisboa <strong>de</strong> Almeida<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

300


Sadi Chaiben<br />

Como discente<br />

Em 1970 entrei no curso <strong>de</strong> Economia,<br />

trancando matrícula em junho do mesmo ano<br />

por motivos familiares. Em 1983 matriculei-me<br />

no curso <strong>de</strong> Ciências Contábeis formando em<br />

<strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1986.<br />

Como docente<br />

Em fevereiro <strong>de</strong> 1987 fui, com muita honra,<br />

convidado para pertencer ao quadro <strong>de</strong> professores do Departamento<br />

<strong>de</strong> Ciências Contábeis, aposentando em 2000 para cuidar da ativida<strong>de</strong><br />

profissional (Auditoria In<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte), continuando ministrando aula<br />

<strong>de</strong> Perícia Contábil e Auditoria em cursos <strong>de</strong> pós-graduação.<br />

Como assessor<br />

Em agosto <strong>de</strong> 2001 fui novamente, com muita honra, convidado<br />

pelo então reitor Dr. Pedro Gordan, para assessorar, montar e<br />

treinar uma equipe para a Auditoria Interna, ocupando o cargo <strong>de</strong><br />

Assessor. Mesmo prejudicando a ativida<strong>de</strong> profissional aceitei o cargo<br />

como uma forma <strong>de</strong> recompensar à UEL por tudo aquilo que me<br />

proporcionou na vida acadêmica, como docente e profissionalmente,<br />

in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente da baixa remuneração.<br />

Em 2002 a magnífica reitora Lygia Lumina Pupatto, solicitou<br />

que continuasse o trabalho, ficando até o término da sua gestão. Em<br />

seu mandato esten<strong>de</strong>mos a Assessoria <strong>de</strong> Auditoria Interna ao Hospital<br />

Universitário, on<strong>de</strong> ocupei o cargo <strong>de</strong> Assessor.<br />

Em junho <strong>de</strong> 2006, o então reitor solicitou a colaboração on<strong>de</strong><br />

permaneci até outubro <strong>de</strong> 2007.<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

301


Enten<strong>de</strong>ndo que a missão que me solicitaram estava cumprida,<br />

e precisando <strong>de</strong>dicar um tempo maior a minha ativida<strong>de</strong> profissional<br />

solicitei exoneração, <strong>de</strong>ixando, graças a ajuda <strong>de</strong> outros professores do<br />

Departamento <strong>de</strong> Ciências Contábeis, a Assessoria <strong>de</strong> Auditoria Interna<br />

com uma equipe técnica treinada e atualizada, com uma organização<br />

dos papéis <strong>de</strong> trabalho, uniformização dos relatórios <strong>de</strong> auditoria,<br />

pareceres e orientações.<br />

Mensagem<br />

Sempre que necessário sentirei honrado em po<strong>de</strong>r contribuir<br />

com a nossa <strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>Estadual</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>.<br />

Levarei para sempre o orgulho <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r ter pertencido ao<br />

Departamento <strong>de</strong> Ciências Contábeis e colaborado com a Assessoria <strong>de</strong><br />

Auditoria Interna da minha querida UEL.<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

302


Zeladora <strong>de</strong> coragem<br />

Com muita <strong>de</strong>terminação, a zeladora Sebastiana Pereira venceu<br />

todas as dificulda<strong>de</strong>s que a vida lhe apresentou. Hoje, ela curte a<br />

aposentadoria com os filhos e netos e conta um pouco da sua história<br />

<strong>de</strong> mais <strong>de</strong> 17 anos <strong>de</strong> <strong>de</strong>dicação à UEL<br />

O sorriso é fácil e o bom-humor é comum a<br />

poucos. Nos primeiros minutos <strong>de</strong> conversa com<br />

a ex-zeladora do Centro <strong>de</strong> Ciências Biológicas<br />

da UEL (CCB), Sebastiana Pereira, é pouco<br />

provável alguém perceber o quão difícil foi o<br />

começo da história <strong>de</strong>la e da família que veio<br />

a <strong>Londrina</strong> na década <strong>de</strong> 1970. Para vencer os<br />

obstáculos e hoje curtir a aposentadoria ao lado<br />

dos cinco filhos e 11 netos, a servidora aposentada não <strong>de</strong>u espaço a<br />

lamentações. Em vez disso, teve na coragem a sua principal aliada.<br />

Meados <strong>de</strong> 1976. Aos 39 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, Sebastiana <strong>de</strong>sembarcava<br />

em <strong>Londrina</strong> com os cinco filhos. O mais novo ainda necessitava <strong>de</strong><br />

colo. Deixou para trás as lavouras <strong>de</strong> café e algumas más lembranças<br />

em Miraselva (a 70 quilômetros <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>) para tentar a sorte numa<br />

cida<strong>de</strong> maior. A viagem esteve longe <strong>de</strong> ser das mais agradáveis... “Vim<br />

na carroceria <strong>de</strong> um caminhão basculante, com os meus cinco filhos.<br />

Não conhecia nada aqui, mas eu precisava muito arrumar um emprego<br />

para sustentá-los”, recorda-se.<br />

Mas antes <strong>de</strong> dar início à sua história, talvez na tentativa <strong>de</strong><br />

“emoldurar” tudo que estava prestes a contar, ela oferece uma das suas<br />

especialida<strong>de</strong>s nos tempos <strong>de</strong> UEL: uma aconchegante xícara <strong>de</strong> café.<br />

“Tudo que eu fiz, todos aqueles cafezinhos que eu caprichava para os<br />

professores, todo o trabalho que eu fazia na UEL era como se fizesse<br />

para o meu filho”, adianta.<br />

E é bom não duvidar <strong>de</strong>ssa senhora <strong>de</strong> 73 anos quando fala em<br />

<strong>de</strong>voção aos filhos e netos. Aficionada por futebol, é corintiana com<br />

convicção, daquelas que seguem os <strong>de</strong>sdobramentos <strong>de</strong> uma partida até<br />

tar<strong>de</strong> da noite. Também não <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> acompanhar os jogos <strong>de</strong> futebol<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

303


do time em que joga o neto e o genro nos campeonatos na Associação do<br />

Pessoal da <strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>Estadual</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> (Apuel). E o “incentivo”<br />

por bons resultados <strong>de</strong>ixa muito dirigente <strong>de</strong> futebol <strong>de</strong> olho na receita.<br />

Para cada gol feito pelo “time da família”, ela paga uma cerveja a ser<br />

<strong>de</strong>sfrutada <strong>de</strong>pois do “embate”. Promessa que às vezes po<strong>de</strong> sair cara,<br />

já que ela conta que passou apuros em uma recente partida quando a<br />

equipe “<strong>de</strong>la” aplicou uma implacável goleada <strong>de</strong> 9 a 1 nos rivais.<br />

Um teste inusitado<br />

Assim como o café, a história é boa. Sebastiana conta que, antes <strong>de</strong><br />

completar o primeiro mês <strong>de</strong> estada em <strong>Londrina</strong>, já estava empregada<br />

na UEL. Sorte? Talvez. O fato é que novamente a até então lavradora<br />

precisou pôr sua astúcia à prova. Em busca <strong>de</strong> emprego, chegou até<br />

o campus da <strong>Universida<strong>de</strong></strong>, um lugar muito diferente da beleza que<br />

exibe hoje. “Ali on<strong>de</strong> era o Hospital <strong>de</strong> Clínicas (HC), só tinha mato. Só<br />

tinha a morfologia e a reitoria, o CCB [Centro <strong>de</strong> Ciências Biológicas],<br />

o CCH [Centro <strong>de</strong> Ciências Humanas] e o CESA [Centro <strong>de</strong> Estudos<br />

Sociais Aplicados]. Hoje, a UEL parece uma cida<strong>de</strong>!”, compara. Em<br />

meio ao mato, ela chegou até o CCB, on<strong>de</strong> avistou algumas zeladoras e<br />

um funcionário - a quem <strong>de</strong>pois ela veio a conhecer como “Nelsinho”<br />

– conversando e tomando um pouco <strong>de</strong> sol para se proteger do frio<br />

que fazia. Uma oportunida<strong>de</strong> e tanto para ela. “Cheguei, entrei no meio<br />

<strong>de</strong>les e disse: ‘eu sei que vocês não me conhecem, mas eu estou aqui<br />

porque preciso muito <strong>de</strong> um ‘padrinho’, <strong>de</strong> batismo ou <strong>de</strong> crisma”,<br />

disse em tom <strong>de</strong> brinca<strong>de</strong>ira, em referência à sua necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ter<br />

um emprego. “Vim <strong>de</strong> Miraselva sem nada, só com os filhos. Quero<br />

trabalhar para dar recursos a eles”, complementou.<br />

O amistoso e sincero apelo da ex-lavradora parecia ter dado<br />

certo. O grupo que tomava sol <strong>de</strong>u a boa notícia <strong>de</strong> que havia uma<br />

vaga para zeladora no Centro. Mas, após vencer a timi<strong>de</strong>z, Sebastiana<br />

teve que passar pelo teste que consi<strong>de</strong>raria <strong>de</strong>pois como o mais difícil:<br />

a morfologia. Vinda <strong>de</strong> uma família bastante tradicional e apegada<br />

a costumes religiosos, nunca havia sido “apresentada” a um cadáver<br />

em uma mesa <strong>de</strong> laboratório. “Nelsinho” foi o i<strong>de</strong>alizador do “teste”<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

304


para medir até on<strong>de</strong> ia o ímpeto da candidata à vaga. “‘A senhora tem<br />

coragem?’, ele perguntou pra mim em tom <strong>de</strong>safiador. Eu retruquei:<br />

‘claro que eu tenho!’, recorda-se. Mas logo ela esclarece o que sentiu<br />

naquele inusitado teste. “Na verda<strong>de</strong>, eu tinha um receio imenso <strong>de</strong><br />

estar naquele lugar. Eu era muito ignorante. Fui criada numa época<br />

em que tudo era pecado. Só que a necessida<strong>de</strong> era maior”, relembra.<br />

“Assim que ele levantou o plástico e eu vi aquele corpo nu, sem vida,<br />

fiquei com medo e ao mesmo tempo muita vergonha, por ver um corpo<br />

naquelas condições e ao lado <strong>de</strong> uma pessoa que eu nem conhecia.<br />

Nunca tinha visto um cadáver nu antes! Tive muita vergonha, mas<br />

precisava do trabalho. Fiz <strong>de</strong> conta que estava corajosa”, confessa.<br />

Vitoriosa no <strong>de</strong>safio, Sebastiana foi apresentada para o “doutor<br />

Ivan” [Ivan Giacomo Piza, diretor do centro à época]. “Aí foi por Deus!<br />

Ele gostou <strong>de</strong> mim e dali 28 dias eu estava empregada. Quando recebi<br />

a notícia <strong>de</strong> que fui contratada, saí pulando <strong>de</strong> alegria, brincando até<br />

com os capins mais altos daquele mato da UEL <strong>de</strong> tanta felicida<strong>de</strong>!<br />

Eu realmente necessitava <strong>de</strong> trabalho!”, conta. Tempos <strong>de</strong>pois, fez o<br />

concurso e passou <strong>de</strong> celetista a servidora pública.<br />

Desempenho nota 10<br />

Aqueles que visitam a residência <strong>de</strong> Sebastiana hoje, além da<br />

hospitalida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> boas histórias a ouvir, também têm privilégio <strong>de</strong><br />

observar um belo jardim cultivado pela aposentada. Gosto pelas flores<br />

que também era percebido no seu ambiente <strong>de</strong> trabalho. Levava para<br />

o CCB mudas <strong>de</strong> rosas, samambaias e até as mesas das secretárias não<br />

ficavam sem o mimo.<br />

Mas nem tudo eram flores. A rotina começava cedo e, às quatro<br />

horas da manhã, ela já estava acordada. Não havia ônibus no horário<br />

e como iniciava o expediente às seis horas, ia a pé até o campus. Sem<br />

per<strong>de</strong>r tempo, começava as ativida<strong>de</strong>s do dia. “Chegava, batia o cartão<br />

e já saía para trabalhar. Às vezes largava quem quisesse ficar batendo<br />

papo lá e me mandava pra fazer o serviço. E caprichava!”, orgulha-se.<br />

E não para por aí: “Eu e as <strong>de</strong>mais zeladoras tínhamos avaliações a<br />

cada seis meses. Cada <strong>de</strong>partamento dava nota para o funcionário. E<br />

em todas eu ganhava nota 10! Todas!”, gaba-se.<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

305


Mesmo no ambiente <strong>de</strong> trabalho havia espaço para <strong>de</strong>scontração.<br />

Conta que quando havia alguma zeladora do CCB fazendo aniversário,<br />

gostava <strong>de</strong> recolher um dinheiro com as <strong>de</strong>mais companheiras <strong>de</strong><br />

trabalho para comprar uma recordação para a aniversariante. Nas<br />

festivida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> fim <strong>de</strong> ano, construía presépio e levava no natal. Seu<br />

nome também nunca faltava <strong>de</strong>ntre os participantes do “amigo secreto”<br />

entre professores e <strong>de</strong>mais servidores do setor. “Sempre procurei ser<br />

animada. Eu chegava cantando no meu trabalho, para me distrair e<br />

preencher o meu espírito. Só não cantava nos horários <strong>de</strong> aula, para<br />

não atrapalhar”, brinca.<br />

Quanto ao segredo para tamanha alegria, ela explica: “Nunca<br />

cheguei com cara feia para trabalhar. O trabalho com alegria ren<strong>de</strong>, a<br />

gente ultrapassa barreiras quando trabalha com alegria. Também sabia<br />

da minha necessida<strong>de</strong>, por que eu precisava do emprego. Eu tinha que<br />

cuidar dos filhos, buscar o sustento <strong>de</strong>les”, encerra.<br />

Derrubando a crítica<br />

Um dos pontos que Sebastiana <strong>de</strong>staca na sua passagem pela UEL<br />

ocorreu em meados da década <strong>de</strong> 1980, mas que ela ainda guarda na<br />

lembrança e conta com riqueza <strong>de</strong> <strong>de</strong>talhes. Recém-filiada ao sindicato<br />

<strong>de</strong> sua categoria, ela lia um jornal da entida<strong>de</strong> que fazia oposição à<br />

administração do reitor Marco Antonio Fiori. “No jornal, havia muitas<br />

críticas ao reitor. Em uma <strong>de</strong>las, dizia que as zeladoras não tinham<br />

condições <strong>de</strong> ir nem à porta da reitoria, não era possível sequer falar<br />

com o reitor”, lembra. Aquelas palavras entristeceram Sebastiana, mas<br />

foram suficientes para instigá-la a “investigar” o caso.<br />

A oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> esclarecer a história surgiu num evento que<br />

ocorreu no CEFE (Centro <strong>de</strong> Educação Física e Esporte). De acordo<br />

com Sebastiana, ela foi a esse “congresso” que contou com a presença<br />

do reitor e do governador do Estado, José Hosken <strong>de</strong> Novais. A exzeladora<br />

ainda guarda na memória o discurso <strong>de</strong> Fiori no evento. “Ele<br />

falou que para ele a <strong>Universida<strong>de</strong></strong> era uma verda<strong>de</strong>ira família, tinha<br />

valor tanto aquele que estava com o seu bal<strong>de</strong> e o seu rodinho quanto o<br />

professor doutor”, <strong>de</strong>clama.<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

306


A contradição entre o discurso do reitor e as linhas do jornal<br />

foi <strong>de</strong>terminante para ela ir a fundo no seu intento. “O doutor Barros<br />

[Manoel Barros <strong>de</strong> Azevedo, diretor do CCB <strong>de</strong> 1980 a 1982] estava no<br />

evento e veio me cumprimentar. Ele estava próximo ao reitor, então<br />

aproveitei a chance e perguntei ao reitor se eu podia ir lá conhecer o<br />

gabinete <strong>de</strong>le”, relembra. Prontamente, Marco Fiori abriu a agenda e<br />

marcou o encontro.<br />

Três dias <strong>de</strong>pois, Sebastiana visitava pela primeira vez o gabinete<br />

do regente da <strong>Universida<strong>de</strong></strong>. E não faltou ansieda<strong>de</strong> até o momento.<br />

“Cheguei às 10 horas, horário que estava marcada a visita e pensava:<br />

‘o que eu vou falar para ele? Eu não tenho leitura, vou falar tudo<br />

errado! Não <strong>de</strong>veria ter feito isso [solicitado a visita]! Não posso falar<br />

bobagem!’, temia. Mas, temores à parte, a conversa não po<strong>de</strong>ria ter<br />

sido mais agradável. “Conversamos e fui falando que estava contente e<br />

feliz com a instituição. Também contei a história do jornalzinho, disse<br />

a ele que pensei naquilo que foi escrito”, revela. Sebastiana também<br />

foi enfática quando <strong>de</strong>u sua visão quanto à crítica que leu e ao papel<br />

do reitor em uma instituição: “O senhor aqui é como um pai <strong>de</strong> toda<br />

a universida<strong>de</strong>, dos docentes, dos funcionários, dos alunos... É um pai<br />

para mim. E se a gente não po<strong>de</strong> chegar perto <strong>de</strong> um pai, o que a gente<br />

po<strong>de</strong> fazer?”, opinou diante <strong>de</strong> Fiori.<br />

As palavras da funcionária pareciam ter comovido o administrador<br />

máximo da instituição que, segundo Sebastiana, replicou: “Ah, se todas<br />

as pessoas que fizessem uma crítica viessem como a senhora: ver se<br />

realmente é verda<strong>de</strong>. A senhora teve coragem, veio aqui conversar<br />

comigo. Parabéns! Po<strong>de</strong> vir aqui quantas vezes quiser”. Em seguida,<br />

ela conta que ele se levantou e dirigiu-se a um armário. “Vou lhe dar<br />

um presente”, teria dito. Dele, Fiori tirou um disco <strong>de</strong> Vinil (LP) com<br />

interpretações do Coral da UEL e <strong>de</strong>u <strong>de</strong> presente à zeladora. “Deu até<br />

um autógrafo no envelope que protegia o disco”, brinca Sebastiana.<br />

“Cheguei em casa e já coloquei para tocar e colocava outras muitas<br />

vezes. Quase que acabei com o disco <strong>de</strong> tanto ouvir!”, conta aos risos a<br />

aposentada. “Foi o momento que fiquei mais feliz na UEL”, reconhece.<br />

O disco que Sebastiana recebeu <strong>de</strong> presente é o segundo LP do<br />

Coral da UEL, já sob a regência do maestro Othonio Benvenuto. Foi<br />

nessa época que o Coral passou a se <strong>de</strong>stacar no cenário nacional,<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

307


quando em 1980 foi vencedor do Concurso <strong>de</strong> Corais do Rio <strong>de</strong> Janeiro,<br />

promovido pelo Jornal do Brasil. Criado em 1972, na administração do<br />

reitor Ascêncio Garcia Lopes, em 2003, passou a contar com 12 grupos<br />

corais que integram hoje o “Movimento Coral da UEL”. Também foi<br />

quando recebeu a “Comenda Ouro Ver<strong>de</strong>”, uma das mais importantes<br />

honrarias do município <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>. Des<strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 2008, a<br />

regência do Coral é do professor Jailton Paulo Santana.<br />

Eu nunca vou te abandonar<br />

Os cuidados com as vistosas flores do jardim e uma coleção <strong>de</strong><br />

canários são os principais compromissos <strong>de</strong> Sebastiana hoje. Também<br />

capricha no bordado que é colocado com harmonia em cada canto da<br />

casa e <strong>de</strong> vez em quando viram um rendimento extra no fim do mês. Na<br />

estante da sala, os vários retratos mostram a trajetória <strong>de</strong>la e da família,<br />

histórias que se confun<strong>de</strong>m com a da UEL. Uma <strong>de</strong> suas três filhas, por<br />

exemplo, pouco tempo <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> a mãe ter conquistado o emprego, foi<br />

aprovada em concurso e igualmente passou a ser funcionária da UEL,<br />

auxiliar <strong>de</strong> enfermagem no HU. Um dos dois filhos, que já foi aprendiz<br />

na instituição, hoje enche a mãe <strong>de</strong> orgulho com um doutorado em<br />

química.<br />

Sebastiana também aproveita o tempo livre para viajar e passear<br />

com a família e nem espera convite dos filhos para isto. “Se os filhos<br />

não ligam pra mãe, eu ligo pra eles. Se eles não me convidam para<br />

passear, eu me convido!”, conta aos risos. Mas, em meio às viagens e<br />

passeios, não <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> lado o interesse pela UEL. Sempre acompanha<br />

os acontecimentos da <strong>Universida<strong>de</strong></strong> pelo jornal “Notícia” e se mostra<br />

bastante atualizada com relação ao dia-a-dia da instituição. Também<br />

cuida da saú<strong>de</strong> e do corpo com as ativida<strong>de</strong>s oferecidas pelo Nafi<br />

(Núcleo <strong>de</strong> Ativida<strong>de</strong>s Físicas), da UEL.<br />

Tal como na sua torcida pelo time do coração nas quartas-feiras<br />

e domingos <strong>de</strong> futebol, Sebastiana mostra que nunca vai abandonar o<br />

seu apreço pela UEL. E a prova disso não po<strong>de</strong>ria ficar mais evi<strong>de</strong>nte na<br />

explicação <strong>de</strong>la: “Sou feliz. Essa casa que eu tenho hoje, por exemplo,<br />

agra<strong>de</strong>ço a Deus e à UEL pela eternida<strong>de</strong>, não tem fim. Pra mim, a UEL<br />

é um pedacinho do paraíso: aquele ver<strong>de</strong>, aqueles alunos no calçadão,<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

308


os professores... Estar no campus me dá uma sensação muito boa!<br />

Tenho sauda<strong>de</strong>”, encerra.<br />

Nós também, Sebastiana.<br />

Construindo a história. “Seus pais são João Fi<strong>de</strong>lis Pereira e Rita<br />

Maria <strong>de</strong> Moraes. (...) Para Sebastiana, o primeiro dia na Morfologia<br />

foi difícil, pois achou tudo ‘meio estranho’, afinal, nunca tinha visto um<br />

cadáver. ‘Tinha um pouco <strong>de</strong> receio. Alguns funcionários contavam<br />

histórias <strong>de</strong> assombração, vultos, luzes que acen<strong>de</strong>m e apagam<br />

sozinhas... Rezava todos os dias para as almas dos cadáveres’, lembra.<br />

(...) Durante todos os anos em que esteve na <strong>Universida<strong>de</strong></strong>, ‘trabalhei<br />

com amor (...) é um ótimo lugar para se trabalhar!’”<br />

Texto extraído do livro: “A Anatomia em <strong>Londrina</strong> - Personagens<br />

que Construíram a História”, <strong>de</strong> Maria Aparecida Vivan <strong>de</strong> Carvalho.<br />

Editora: UEL.<br />

Gustavo Ticiane<br />

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309


Silza Maria Pasello Valente<br />

Silza Maria Pasello Valente <strong>de</strong>scobriu cedo<br />

o prazer e os benefícios proporcionados pela<br />

leitura. Ela conta que se escondia nos cantos<br />

da casa, em busca <strong>de</strong> tranquilida<strong>de</strong> para que<br />

pu<strong>de</strong>sse mergulhar numa nova história.<br />

Cresceu assim, em Santa Margarida, distrito<br />

<strong>de</strong> Bela Vista do Paraíso, em uma família<br />

formada por educadores.<br />

O convívio prolongado com os professores<br />

<strong>de</strong>spertou o interesse <strong>de</strong> Silza pela Educação.<br />

O primeiro passo foi cursar o normal<br />

superior, no Instituto <strong>de</strong> Educação <strong>Estadual</strong><br />

<strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> (IEEL). Logo em seguida, Silza prestou o vestibular para<br />

Pedagogia, a primeira turma da UEL. Foi aprovada. Quatro anos <strong>de</strong>pois<br />

estava formada e casada.<br />

De 1971 – ano em que concluiu Pedagogia – até 1982, Silza<br />

lecionou em escolas <strong>de</strong> ensino básico, fundamental e médio. “Durante<br />

o curso <strong>de</strong> pedagogia eu atuei como professora da segunda série (1970)<br />

e como diretora (1971) da re<strong>de</strong> municipal <strong>de</strong> ensino <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>. Em<br />

<strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1971 me diplomei, casei e passei a residir em Bela Vista.<br />

Durante os primeiros anos, me <strong>de</strong>diquei somente à família. Em 1978<br />

passei a atuar no então segundo grau, on<strong>de</strong> ministrei aulas no curso<br />

propedêutico e no curso normal”.<br />

Mas, Silza tinha maior interesse pelo ensino superior. Foi em<br />

1982 que a UEL precisou <strong>de</strong> novos docentes para o Departamento<br />

<strong>de</strong> Educação. “Em março fui convidada a ministrar aulas <strong>de</strong> didática<br />

no Departamento <strong>de</strong> Educação. Fui contratada por 24 horas para<br />

ministrar aulas <strong>de</strong> Didática para o curso <strong>de</strong> Enfermagem; no segundo<br />

semestre minha carga horária foi ampliada a 44 horas e assumi as aulas<br />

<strong>de</strong> didática na licenciatura em Educação Física. Em 1983 ingressei no<br />

curso <strong>de</strong> Especialização em Metodologia do Ensino Superior. Em 1985<br />

prestei concurso e fui efetivada na UEL”.<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

310


Silza se especializou em Metodologia do Ensino Superior e seu<br />

mestrado seguiu a mesma linha: Metodologia do Ensino. Em 1993,<br />

Silza assumiu a coor<strong>de</strong>nação <strong>de</strong> especialização do Departamento <strong>de</strong><br />

Educação. Ela permaneceu na coor<strong>de</strong>nadoria por duas gestões. “Na<br />

oportunida<strong>de</strong>, impulsionei a reformulação curricular do curso que<br />

passou a se <strong>de</strong>nominar Metodologia da Ação Docente, isso porque o<br />

foco do ensino e da pesquisa passou a abranger os <strong>de</strong>mais níveis <strong>de</strong><br />

ensino, não somente o ensino superior, como até então. Essa mudança<br />

<strong>de</strong> foco possibilitou o enriquecimento das situações ligadas ao ensino e<br />

da produção monográfica”.<br />

Em 1996, Silza participou da comissão que criou o Núcleo<br />

<strong>de</strong> Estudos e Pesquisas em Avaliação Educacional. Também foi<br />

coor<strong>de</strong>nadora, por três gestões, do curso <strong>de</strong> Especialização em<br />

Avaliação Educacional.<br />

Em 1998, Silza foi convidada para <strong>de</strong>sempenhar a função <strong>de</strong><br />

Diretora <strong>de</strong> Apoio à Ação Pedagógica, na Prograd. Ela conta que nessa<br />

época a UEL estava passando por um período <strong>de</strong> transição: a prova<br />

do vestibular, que anteriormente era realizada pela Fundação Carlos<br />

Chagas passaria a ser <strong>de</strong>senvolvida na própria UEL. Silza atravessou<br />

este período conturbado trabalhando e escrevendo sua tese <strong>de</strong><br />

doutorado, simultaneamente. Ela revela que se ausentou só por um<br />

ano, para finalizar a tese. Em seguida, retornou ao Departamento e à<br />

coor<strong>de</strong>nação <strong>de</strong> Especialização em Avaliação do Aprendizado. Cargo<br />

que ocupou até se aposentar em 2007.<br />

A aposentadoria não trouxe gran<strong>de</strong>s alterações. Silza continua<br />

trabalhando: “E muito”, afirma. “Atuo como professora convidada<br />

em cursos <strong>de</strong> especialização, presto consultorias, participo como<br />

voluntária, e coor<strong>de</strong>no, em Bela Vista do Paraíso, o projeto <strong>de</strong> leitura:<br />

Viajando com as palavras”. Para ela, a maior diferença é que agora não<br />

tem compromisso com nenhuma instituição. “O que me dá liberda<strong>de</strong><br />

para gerenciar minha vida. Ainda não consegui ler todos os livros<br />

<strong>de</strong> literatura que me havia proposto, nem assistir aos filmes com a<br />

frequência <strong>de</strong>sejada, ou escrever as poesias que <strong>de</strong>sejo. Por outro lado,<br />

convivo mais com minha família e curto meus seis netos. O que me faz<br />

muito bem”, afirma.<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

311


Des<strong>de</strong> 2006, Silza coor<strong>de</strong>na, voluntariamente, um projeto social<br />

realizado em Bela Vista do Paraíso, em parceria com o Departamento<br />

<strong>de</strong> Educação da UEL e a Secretaria <strong>de</strong> Educação e Cultura daquele<br />

município.<br />

O projeto “Viajando com as palavras” tem o objetivo <strong>de</strong> incentivar<br />

a leitura, <strong>de</strong>senvolver a criativida<strong>de</strong> dos alunos e ainda auxilia na<br />

formação <strong>de</strong> novos professores. Segundo Silza, o acervo do projeto foi<br />

conquistado por meio <strong>de</strong> doações. Os livros são guardados em baús e as<br />

bibliotecas são itinerantes, percorrendo os colégios da cida<strong>de</strong>.<br />

Para Silza, o projeto é sinônimo <strong>de</strong> satisfação. Tem gran<strong>de</strong><br />

visibilida<strong>de</strong>, receptivida<strong>de</strong> e já ganhou um prêmio nacional. E mais:<br />

cria novas possibilida<strong>de</strong>s e oportunida<strong>de</strong>s.<br />

Léia Dias Sabóia<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

312


Toshihiko Tan<br />

Filho <strong>de</strong> imigrantes japoneses, nikkei (nissei)<br />

com muito orgulho, nasci <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> uma família<br />

humil<strong>de</strong> <strong>de</strong> lavrador, <strong>de</strong> uma irmanda<strong>de</strong> <strong>de</strong> 10<br />

filhos, 7º na or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> nascimento, sendo dos<br />

4 últimos remanescentes, o mais velho, natural<br />

do município <strong>de</strong> Santo Anastácio, na Alta<br />

Sorocabana , do estado <strong>de</strong> São Paulo, Brasil.<br />

Embora <strong>de</strong> família pobre, os meus progenitores<br />

tiveram a luz e a graça <strong>de</strong> nos dar oportunida<strong>de</strong>s,<br />

educação e encaminhar no caminho do bem,<br />

nos formando numa profissão universitária,<br />

nos tornando alguém na vida.<br />

Em 1963 participei da criação e fundação da Faculda<strong>de</strong> <strong>Estadual</strong><br />

<strong>de</strong> Odontologia <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>, na ocasião atuava como presi<strong>de</strong>nte da<br />

Associação Odontológica Norte do Paraná on<strong>de</strong> nasceu esta faculda<strong>de</strong>,<br />

por este motivo participei ativamente na sua concretização, junto aos<br />

po<strong>de</strong>res políticos e governo do Estado do Paraná.<br />

Neste ano <strong>de</strong> 2008 comemoramos o Centenário da Imigração<br />

Japonesa ao Brasil, as nossas saudações efusivas a todos aqueles que<br />

<strong>de</strong>ixaram a sua pátria amada e vieram aventurar para concretizar os<br />

seus sonhos e i<strong>de</strong>ais para se ter uma vida melhor nesta terra da Santa<br />

Cruz que é o Brasil.<br />

Ao mesmo tempo em que agra<strong>de</strong>cemos a todos os brasileiros<br />

que receberam os nossos antepassados. Os imigrantes se sacrificaram,<br />

batalharam e sofreram enfrentando todas as vicissitu<strong>de</strong>s, doenças<br />

tropicais, <strong>de</strong>sconhecimento da língua, hábitos, costumes e alimentação<br />

diferentes <strong>de</strong> sua terra.<br />

Finalmente a nossa gratidão a todos aqueles que propiciaram<br />

uma vida melhor e bem-estar fazendo <strong>de</strong>ste país a pátria dos seus filhos<br />

e familiares.<br />

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313


Em busca <strong>de</strong> novos horizontes<br />

O professor <strong>de</strong> Geociências Valmir <strong>de</strong> França já tinha uma<br />

carreira em União da Vitória quando começou na UEL. Agora, na<br />

<strong>Universida<strong>de</strong></strong>, ele procura contribuir com os seus projetos <strong>de</strong> pesquisa<br />

Para encontrar o professor <strong>de</strong> Geociências<br />

aposentado Valmir <strong>de</strong> França hoje em dia<br />

é preciso procurá-lo no Departamento<br />

<strong>de</strong> Medicina Veterinária no Centro <strong>de</strong><br />

Ciências Agrárias. Isto porque, <strong>de</strong>pois<br />

da aposentadoria em 2003, Valmir<br />

pretendia trabalhar com <strong>de</strong>senvolvimento<br />

regional da bacia hidrográfica na Unemat<br />

(<strong>Universida<strong>de</strong></strong> do Estado do Mato Grosso),<br />

mas, como a mudança não seria boa para<br />

a saú<strong>de</strong> <strong>de</strong> sua mulher, continuou em<br />

<strong>Londrina</strong> atuando como convidado em projetos.<br />

Um <strong>de</strong>stes projetos que o professor participa é em parceria com<br />

o Departamento <strong>de</strong> Medicina Veterinária, no laboratório <strong>de</strong> inspeção<br />

<strong>de</strong> produtos <strong>de</strong> origem animal. Com experiência em Geografia Física e<br />

Hidrografia, ele explica que há padrões equivalentes nas pesquisas <strong>de</strong><br />

água e leite e foi convidado como consultor sênior na implantação do<br />

Centro Mesorregional <strong>de</strong> Excelência em Tecnologia do Leite do Norte<br />

Central da UEL.<br />

A história <strong>de</strong> Valmir começa lá no nor<strong>de</strong>ste. O professor brinca<br />

que, “como todo nor<strong>de</strong>stino morou em vários estados”. Em Recife (PE),<br />

no Centro <strong>de</strong> Preparação <strong>de</strong> Oficiais da Reserva, ele começou a estudar<br />

Química. Já no sul, a graduação em Geografia foi cursada na Fundação<br />

Faculda<strong>de</strong> <strong>Estadual</strong> <strong>de</strong> Filosofia, Ciências e Letras <strong>de</strong> União da Vitória.<br />

Na década <strong>de</strong> 1970, no município paranaense que faz fronteira<br />

com o Estado <strong>de</strong> Santa Catarina, Valmir começou a lecionar Química,<br />

primeiramente, e <strong>de</strong>pois Geografia para alunos <strong>de</strong> 1° e 2° graus da re<strong>de</strong><br />

estadual. Foi também em União da Vitória que o professor se casou.<br />

Seus dois cursos <strong>de</strong> especialização tiveram reconhecimento na<br />

cida<strong>de</strong>. O primeiro – <strong>de</strong> Ensino <strong>de</strong> Ciências – montou um “clube <strong>de</strong><br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

314


ciências” aberto a alunos <strong>de</strong> todas as classes sociais. “Provei que é<br />

possível superar a realida<strong>de</strong>, tanto que eu ganhei uma bolsa da Unesco<br />

pelo trabalho”, relembra. A intenção era <strong>de</strong>spertar a vocação nos<br />

alunos que participassem e apoiar a conquista da carreira. Além disto,<br />

o clube, lembra Valmir, “era um espaço <strong>de</strong> estágio para todas as áreas<br />

da faculda<strong>de</strong>”.<br />

Na outra especialização, Valmir e seus estagiários fizeram a<br />

recolocação <strong>de</strong> uma favela que havia à beira do Rio Iguaçu. Eles fizeram<br />

inventários dos bens, diagnósticos, reeducação em outro local daqueles<br />

que lá viviam. Todo este trabalho aconteceu no ano <strong>de</strong> 1982, apenas<br />

um ano antes da gran<strong>de</strong> enchente do rio, que começou à noite e <strong>de</strong>ixou<br />

35 dos 40 mil moradores da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sabrigados. O professor acredita<br />

que a mudança daquelas famílias evitou muitas mortes, além dos<br />

conflitos e saques – que não aconteceram em União da Vitória. Além<br />

<strong>de</strong> uma bolsa da Organização Mundial da Saú<strong>de</strong>, ele foi homenageado<br />

pela <strong>de</strong>fesa civil do estado por este outro trabalho.<br />

Nesta época o professor estava dando aula na faculda<strong>de</strong> da cida<strong>de</strong><br />

e já tinha contatos com a <strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>Estadual</strong> <strong>de</strong> Maringá. Em 1986,<br />

Valmir veio dar aulas na UEL lotado no Departamento <strong>de</strong> Geociências.<br />

Dois anos <strong>de</strong>pois começou seu mestrado na Unesp <strong>de</strong> Presi<strong>de</strong>nte<br />

Pru<strong>de</strong>nte em Hidrogeografia e Análise Ambiental. Logo em seguida,<br />

em 1994, iniciou o doutorado na UEM em Ecologia <strong>de</strong> Ambientes<br />

Aquáticos Continentais com aplicações <strong>de</strong> satélite.<br />

Durante o doutorado, Valmir passou dois anos na França, na<br />

<strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> Rennes 2. “Eu fui com a esposa e com os três filhos”,<br />

conta o professor. Uma <strong>de</strong> suas filhas inclusive casou-se e continua lá,<br />

agora com a neta <strong>de</strong> Valmir. Por causa da família e da pesquisa, ele<br />

continua em contato com o país que o recebeu. Em 2007 esteve lá para<br />

uma visita e foi homenageado pela <strong>Universida<strong>de</strong></strong>.<br />

Valmir, apesar <strong>de</strong> ter se <strong>de</strong>dicado muito à pesquisa, sente falta da<br />

sala <strong>de</strong> aula. Por um momento, a emoção <strong>de</strong>ixa o professor sem fala e com<br />

lágrimas nos olhos diante da recordação dos alunos. E quando retoma a<br />

fala é para <strong>de</strong>clarar o carinho pela profissão: “eu sou professor por vocação<br />

e sinto sauda<strong>de</strong> <strong>de</strong> dar aulas. Minha mulher costuma até dizer que, no dia<br />

anterior a algum curso meu, pareço noiva antes do casamento”.<br />

Poliana Lisboa <strong>de</strong> Almeida<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

315


Vera Lúcia Lemos Basto Echenique<br />

Passei bons 17 anos <strong>de</strong> minha vida na UEL. Foi<br />

um período <strong>de</strong> crescimento pessoal e profissional<br />

e <strong>de</strong> alargamento dos laços <strong>de</strong> amiza<strong>de</strong> com<br />

colegas, funcionários e alunos, dos Cursos <strong>de</strong><br />

Graduação e <strong>de</strong> Pós-Graduação.<br />

Sempre lotada no Departamento <strong>de</strong> Educação<br />

do CECA e dando aulas, trabalhei na CRH/<br />

Divisão <strong>de</strong> Docentes, na CPG/Diretoria <strong>de</strong> Pós-<br />

Graduação, fui vice-chefe do Departamento,<br />

representante do Depto na CPCD, membro do<br />

Conselho <strong>de</strong> Ensino, Pesquisa e Extensão, do<br />

Conselho <strong>de</strong> Administração, do Conselho Universitário , participando<br />

<strong>de</strong> suas diversas comissões internas. Coor<strong>de</strong>nei o primeiro Curso <strong>de</strong><br />

Pós-Graduação em nível <strong>de</strong> Aperfeiçoamento, realizado em convênio<br />

com a CAPES e <strong>de</strong>stinado a docentes das Instituições <strong>de</strong> Ensino<br />

Superior do Norte do Paraná, além <strong>de</strong> ajudar a criar o primeiro Curso <strong>de</strong><br />

Especialização da UEL, o CEMES, em funcionamento até hoje, embora<br />

como nova <strong>de</strong>nominação. Dirigi o CECA por quatro anos e, em agosto<br />

<strong>de</strong> 1993, após 25 anos <strong>de</strong> trabalho no ensino superior aposentei-me.<br />

A UEL representou muito na minha vida profissional, ao mesmo<br />

tempo em que acompanhei seu crescimento, pois quando lá comecei a<br />

trabalhar, a <strong>Universida<strong>de</strong></strong> tinha apenas 6 anos.<br />

Tenho um carinho muito gran<strong>de</strong> pela UEL e guardo as recordações<br />

dos anos em que lá trabalhei como algo muito especial.<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

316


Ensinando a ensinar<br />

Em mais <strong>de</strong> três décadas trabalhando na UEL, a pedagoga Vera<br />

Lúcia Resen<strong>de</strong> Faria passou por diversas funções, mas nenhuma<br />

foi tão gratificante quanto o cargo <strong>de</strong> técnica <strong>de</strong> assuntos educacionais<br />

Muitas vezes, quando se pensa em um<br />

ambiente <strong>de</strong> ensino como uma universida<strong>de</strong>,<br />

é difícil imaginar que algumas pessoas têm<br />

dificulda<strong>de</strong>s para apren<strong>de</strong>r ou ensinar.<br />

Porém, esta situação é frequente e chega<br />

a aumentar os níveis <strong>de</strong> <strong>de</strong>sistência dos<br />

cursos <strong>de</strong> graduação. Algumas pessoas não<br />

conseguem apren<strong>de</strong>r e outras não conseguem<br />

ensinar. O que talvez essas pessoas não<br />

saibam é que a UEL conta com o Labted,<br />

o Laboratório <strong>de</strong> Tecnologia Educacional,<br />

que, entre outras funções, oferece cursos para que estes estudantes<br />

com dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> aprendizagem possam continuar seus estudos.<br />

Quem conta um pouco mais da história <strong>de</strong>ste trabalho é a técnica em<br />

assuntos educacionais Vera Lúcia Resen<strong>de</strong> Faria, que trabalhou quase<br />

três décadas no Labted, boa parte <strong>de</strong>les quando o laboratório era<br />

conhecido como NTE, Núcleo <strong>de</strong> Tecnologia Educacional.<br />

Primeiros passos na universida<strong>de</strong><br />

A trajetória <strong>de</strong> Vera na UEL começa em 1974, quando ela<br />

trabalhou na Associação do Pessoal da <strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>Estadual</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Londrina</strong> (Apuel) durante <strong>de</strong>z meses. No ano seguinte, foi aprovada<br />

em um concurso para trabalhar na <strong>Universida<strong>de</strong></strong> como escriturária,<br />

on<strong>de</strong> atuava junto ao gabinete da reitoria, no setor <strong>de</strong> comunicação<br />

– hoje conhecido como COM, Coor<strong>de</strong>nadoria <strong>de</strong> Comunicação. No<br />

cargo, exercia funções administrativas, como aten<strong>de</strong>r as pessoas que<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

317


procuravam os serviços do setor, fazer fotocópias e clipagem – ou<br />

seja, reunir em um arquivo as matérias sobre a Instituição publicadas<br />

na imprensa –, datilografar o boletim Notícia e até mesmo ajudar a<br />

entregá-lo nas TVs e jornais da cida<strong>de</strong>. Enfim, os serviços eram aqueles<br />

comuns à assessoria <strong>de</strong> imprensa.<br />

Contudo, em 1979, Vera foi transferida para o Labted, agora na<br />

função <strong>de</strong> oficial <strong>de</strong> administração, cargo conquistado em 1977, mesmo<br />

ano em que começou a faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Serviço Social. A função <strong>de</strong> Vera no<br />

novo setor era controlar a entrada e saída <strong>de</strong> serviços – solicitações <strong>de</strong><br />

gravações em áudio e ví<strong>de</strong>o, fotografias e todos os serviços que até hoje<br />

o laboratório oferece. Com a implantação do setor pedagógico, muitos<br />

professores começaram a procurar este novo serviço do Labted e Vera<br />

<strong>de</strong>scobriu sua verda<strong>de</strong>ira vocação. “Eu fiquei <strong>de</strong> olho no trabalho [do<br />

setor pedagógico] porque eu achava extraordinário, eu me apaixonei<br />

pela educação”, confessa.<br />

Para ela, o Labted era “um pronto-socorro”. Lá, os professores<br />

encontravam atendimento didático-pedagógico e aprendiam a<br />

preparar planos <strong>de</strong> aula e <strong>de</strong> cursos, ou mesmo a se preparar para<br />

concursos, apresentações <strong>de</strong> bancas <strong>de</strong> mestrado, doutorado... “O<br />

professor é formado, às vezes, só bacharel, não tem licenciatura, então<br />

é difícil ele saber como planejar uma aula. Eles iam buscar apren<strong>de</strong>r<br />

o planejamento <strong>de</strong> aula”, explica. Da mesma forma, muitos alunos<br />

começaram a procurar este serviço, buscando apren<strong>de</strong>r a falar em<br />

público ou apresentar seminários, por exemplo.<br />

Realizando um sonho<br />

À medida que o setor pedagógico crescia, a admiração por<br />

este trabalho se tornava cada vez maior. “De tanto observar o setor<br />

pedagógico, <strong>de</strong>cidi estudar pedagogia e todos os cursos na área <strong>de</strong><br />

educação eu procurava fazer. Ficava cada vez mais encantada com a<br />

educação”, nos conta Vera. Quando terminou a faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Pedagogia,<br />

por volta <strong>de</strong> 1986, ficou aguardando o momento <strong>de</strong> fazer um concurso<br />

para passar pro setor pedagógico. A oportunida<strong>de</strong> tão esperada veio<br />

em 1991, quando Vera foi aprovada em um concurso para aquele setor.<br />

“Foi um sonho realizado”, explica.<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

318


Um sonho que só trouxe boas recompensas. Com a pedagogia,<br />

Vera pô<strong>de</strong> ajudar várias pessoas a se aperfeiçoarem em suas áreas<br />

ou a darem a volta por cima. Como, por exemplo, quando trabalhou<br />

com o CODE – Comissão Permanente <strong>de</strong> Acompanhamento a Alunos<br />

com Necessida<strong>de</strong>s Educacionais Especiais, atualmente conhecido<br />

como Proene, Programa <strong>de</strong> Acompanhamento ao Estudante com<br />

Necessida<strong>de</strong>s Educacionais Especiais –, aten<strong>de</strong>ndo alunos com<br />

problemas <strong>de</strong> aprendizagem, entre eles muitos estrangeiros, que não<br />

se adaptavam ao ensino brasileiro. A principal dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong>sses<br />

estudantes, segundo Vera, era com a apresentação <strong>de</strong> trabalhos.<br />

Em meio a vários casos, Vera <strong>de</strong>staca um, <strong>de</strong> uma aluna com<br />

problemas emocionais que não conseguia apren<strong>de</strong>r e estava prestes a<br />

ser jubilada. “Foi muito <strong>de</strong>morado o atendimento [<strong>de</strong>sta aluna], creio<br />

que mais <strong>de</strong> dois anos. Um dia ela apareceu dizendo que foi aprovada<br />

em concurso e já está trabalhando em uma escola. Para nós é a melhor<br />

recompensa, é o nosso trabalho ecoando no mundo”. Porém, mais do<br />

que técnica, o que conta neste trabalho é o lado humano do pedagogo.<br />

“A gente dá bastante abertura, porque para fazer um trabalho <strong>de</strong>sses<br />

a pessoa tem que ter um certo tato para lidar com as emoções, porque<br />

é difícil trabalhar com técnica e separar, só apresentar técnica. É ser<br />

humano, né? A gente tem que ter um olhar integral: corpo, alma,<br />

espírito...”<br />

“Esse tempo foi preciso para mim”<br />

Outro momento da trajetória <strong>de</strong> Vera Lúcia na UEL que merece<br />

<strong>de</strong>staque é a sua participação no PAE, Programa <strong>de</strong> Ação Educativa,<br />

criado em 1989 com o objetivo <strong>de</strong> alfabetizar adultos, principalmente<br />

os funcionários da universida<strong>de</strong>. Neste trabalho, era necessário<br />

ensiná-los até mesmo a pegar o lápis, pois como trabalhavam com<br />

ferramentas pesadas, não tinham habilida<strong>de</strong>s com objetos leves. “A<br />

gente ajudava, pegava na mão, fazia bolinhas <strong>de</strong> papel pra amassar,<br />

para po<strong>de</strong>r <strong>de</strong>senvolver a habilida<strong>de</strong> motora fina <strong>de</strong> pegar o lápis, que<br />

é um elemento leve diante do trabalho <strong>de</strong>les que é enxada, vassoura,<br />

dirigir trator, carregar massa para construção, tijolos...”, explica. Com<br />

os adultos, era trabalhado o método <strong>de</strong> alfabetização <strong>de</strong> Paulo Freire,<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

319


a palavração, on<strong>de</strong> eram ensinadas primeiramente as palavras do<br />

universo <strong>de</strong>stes trabalhadores. “E eles levavam tão a sério que mesmo<br />

com a greve dos ônibus eles iam <strong>de</strong> bicicleta para a aula, não perdiam<br />

um dia. (...) E uma coisa que eles queriam muito era ter cartilha,<br />

porque os filhos e os netos tinham, então a gente tinha que elaborar<br />

uma cartilha”, relembra Vera.<br />

Desse projeto nasceu o livro “Um grauzinho <strong>de</strong> estudo”, com<br />

<strong>de</strong>poimentos escritos pelos próprios alunos. “Eles falavam que eram<br />

como cegos, então o <strong>de</strong>poimento <strong>de</strong>les [era] ‘aí, eu me sentia cego,<br />

porque eu tinha que perguntar para as pessoas o nome do ônibus,<br />

o número do ônibus’, tem que estar sempre <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte dos outros,<br />

então foi uma certa in<strong>de</strong>pendência, porque com o acesso à leitura e<br />

à escrita você vai ficando mais in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte”, reflete. Muitos <strong>de</strong>les,<br />

segundo Vera, chegaram até a faculda<strong>de</strong>. “Isto não tem preço para<br />

quem acredita na educação”.<br />

Um pouco mais sobre o Labted<br />

De todos os serviços oferecidos pelo Labted, o mais requisitado,<br />

segundo Vera, é o microensino, on<strong>de</strong> são os alunos apren<strong>de</strong>m<br />

“habilida<strong>de</strong>s técnicas <strong>de</strong> ensino”: como dar aula, como planejar uma<br />

aula, como fazer com que ela tenha uma sequencia lógica, seja didática,<br />

específica para a sala <strong>de</strong> aula. “[O aluno] leva o tema, apresenta e o<br />

microensino é feito em gravação <strong>de</strong> ví<strong>de</strong>o (...). Depois o grupo discute<br />

aquilo que ele apresentou”, explica Vera. O procedimento é realizado<br />

até que o aluno apresente melhoras e tenha um <strong>de</strong>sempenho <strong>de</strong>sejado.<br />

Para Vera, o trabalho feito pelo Labted sempre será necessário,<br />

pois os educadores precisam se adaptar à evolução das novas<br />

tecnologias. “Hoje, com o <strong>de</strong>senvolvimento tecnológico, não combina<br />

só usar o quadro <strong>de</strong> giz e a oratória, nosso tempo exige mudanças<br />

tecnológicas e o papel do Labted é oferecer este conhecimento para<br />

educadores e educandos. É importante ter domínio sobre a tecnologia<br />

em sala <strong>de</strong> aula. Facilita o aprendizado.”<br />

E o microensino também gerou recompensas para a pedagoga,<br />

que até hoje colhe os frutos <strong>de</strong>ste trabalho. “É uma coisa muito<br />

interessante, que agrada muito a gente, é quando eu vejo na televisão,<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

320


na mídia, pessoas que a gente pô<strong>de</strong> aten<strong>de</strong>r, o pessoal que solicitou<br />

o trabalho do Labted (...). É juíza, o pessoal da área da comunicação,<br />

os médicos, a área da saú<strong>de</strong>, arquitetos, contabilistas, todas as áreas<br />

procuram o Labted pra ter essa orientação didática. (...) Fico feliz por<br />

ter participado um pouco na vida profissional <strong>de</strong>les”, comemora.<br />

Aposentadoria: hora <strong>de</strong> colher os frutos<br />

Além <strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar um trabalho maravilhoso, Vera Lúcia também<br />

<strong>de</strong>ixou muitas amiza<strong>de</strong>s na UEL. “As pessoas do meu trabalho, da<br />

universida<strong>de</strong>, olha, eu encontrei só gente boa, graças a Deus, foi uma<br />

trajetória em que eu aprendi muito com os meus colegas”. E a pedagoga<br />

faz questão <strong>de</strong> nomear as pessoas que colaboraram com o Labted e<br />

foram exemplos para ela: Estela Okabayashi Fuzii, Maria Nilce Missel,<br />

Terezinha Vilela <strong>de</strong> Magalhães, Darcy Nampo (já falecida, mas que,<br />

nas palavras <strong>de</strong> Vera, “ajudou muito o setor pedagógico”), entre tantos<br />

outros companheiros <strong>de</strong> jornada. “Eu posso dizer que cresci vendo o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento da universida<strong>de</strong>”, reflete Vera, que esteve com a UEL<br />

durante quase 33 anos. Aposentou-se em 2007.<br />

Agora, distante do Labted, resta a sauda<strong>de</strong> do trabalho e dos<br />

amigos, mas também tempo livre para <strong>de</strong>sfrutar daquilo que foi<br />

conquistado em todos estes anos. Vinda <strong>de</strong> uma família com boas<br />

condições financeiras, Vera Lúcia viu a situação mudar quando<br />

problemas familiares fizeram com que ela – a mais velha <strong>de</strong> nove<br />

filhos – precisasse ajudar nas <strong>de</strong>spesas <strong>de</strong> casa, começando, ainda<br />

muito jovem, a trabalhar. As dificulda<strong>de</strong>s a afastaram da escola por um<br />

tempo, mas, perseverante, Vera, assim como muitos estudantes que<br />

pô<strong>de</strong> ajudar em seu trabalho, <strong>de</strong>u a volta por cima.<br />

Casada e mãe <strong>de</strong> três filhos, todos formados, Vera olha com<br />

carinho para os anos vividos na <strong>Universida<strong>de</strong></strong> que, mais do que uma<br />

situação financeira confortável, lhe proporcionaram algo que não<br />

tem preço: “A <strong>Universida<strong>de</strong></strong> para mim foi um campo riquíssimo <strong>de</strong><br />

aprendizagem e experiências. Tudo o que eu sou hoje, tenho hoje, [foi]<br />

porque Deus me encaminhou para lá. Eu aprendi muito. Muito, muito,<br />

muito. É muito rico. Esse conhecimento que eu adquiri lá vale mais que<br />

o ouro, mais que a prata. Por isso é muito importante a gente buscar<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

321


o conhecimento, buscar crescer, se <strong>de</strong>dicar naquilo que gosta <strong>de</strong> fazer.<br />

Não tem jeito, você vai melhorando, às vezes <strong>de</strong>mora um pouco, mas<br />

a gente chega no objetivo. Eu queria muito trabalhar com educação e<br />

consegui”.<br />

E com a <strong>de</strong>dicação <strong>de</strong> educadores como Vera, conquistar os<br />

objetivos fica ainda mais fácil!<br />

Rosane Mioto<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

322


Música e judô, práticas que fazem bem ao corpo e<br />

ao coração<br />

Os títulos <strong>de</strong> benemérito e cidadão honorário são provas <strong>de</strong><br />

reconhecimento pela <strong>de</strong>dicação <strong>de</strong> Yoshiriro Okano ao judô<br />

Nas pare<strong>de</strong>s, as con<strong>de</strong>corações; e no<br />

currículo, ativida<strong>de</strong>s bem diferentes.<br />

Yoshiriro Okano tem duas paixões: judô e<br />

karaokê. A primeira o acompanha <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />

os tempos <strong>de</strong> menino. Já o karaokê é mais<br />

recente. Resultado <strong>de</strong> uma brinca<strong>de</strong>ira que,<br />

por fim, virou coisa séria.<br />

Yoshiriro se mostra <strong>de</strong>terminado. Revela<br />

que gosta <strong>de</strong> <strong>de</strong>safios. A personalida<strong>de</strong> e o<br />

espírito competitivo já lhe ren<strong>de</strong>ram muitas<br />

medalhas e títulos. Para o judô já são 53<br />

anos <strong>de</strong> <strong>de</strong>dicação. Para a música, apenas três, que estão longe <strong>de</strong><br />

serem os últimos.<br />

As origens<br />

Cambé já foi distrito <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>, e chamava-se Nova Dantzig<br />

Yoshiriro nasceu nesse distrito, o que lhe confere o direito <strong>de</strong> afirmar<br />

que é londrinense. “Conheço <strong>Londrina</strong> como a palma da minha mão.<br />

Des<strong>de</strong> quando a Avenida Paraná era terra ainda. Não tinha calçada, era<br />

uma poeira só. Quando chovia era muito barro”. Orgulhoso, enfatiza<br />

que cresceu, estudou, trabalhou e se aposentou “tudo aqui nesta<br />

cida<strong>de</strong>”.<br />

Só por um período esteve longe. Yoshiriro foi aluno da primeira<br />

turma <strong>de</strong> Educação Física (1974), no período noturno, da UEL. Já era<br />

professor havia sete anos, quando foi contemplado com uma bolsa <strong>de</strong><br />

estudo para fazer mestrado no Japão. Para qualquer profissional, uma<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

323


oportunida<strong>de</strong> como essa é única, mas, para Yoshiriro, a viagem foi<br />

ainda mais especial. Além <strong>de</strong> estudar e ter uma qualificação melhor,<br />

ele pô<strong>de</strong> conhecer o país <strong>de</strong> seus ancestrais.<br />

Aqui no Brasil a família sempre preservou a cultura japonesa,<br />

fez questão que Yoshiriro apren<strong>de</strong>sse a língua e os costumes. E, lá no<br />

Japão, ele vivenciou os ensinamentos: “Cada parte do Japão que ia<br />

conhecer, cultura, né, relacionava com alguma coisa que tinha ouvido<br />

dos pais. Então, foi muito boa essa experiência”.<br />

Por dois anos, Yoshiriro estudou no Japão. A viagem foi muito<br />

proveitosa. “Po<strong>de</strong>-se dizer que fui o primeiro mestre <strong>de</strong> Educação Física<br />

da <strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>Estadual</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>”. Naquela época, ele já ensinava<br />

judô. Por isso, a <strong>Universida<strong>de</strong></strong> do Japão preparou um programa<br />

especial. “Essa experiência até hoje está me servindo, porque vários<br />

Estados do Brasil me convidam para dar cursos na área do judô. E,<br />

assim, pu<strong>de</strong> conhecer vários Estados”.<br />

O judô<br />

O primeiro contato com o judô foi aos 15 anos, em 1955,<br />

casualmente, como ele <strong>de</strong>fine. Curioso, resolveu praticar o esporte,<br />

sem nenhuma pretensão <strong>de</strong> ser professor. Mas, em 1968, no mês <strong>de</strong><br />

maio, recebeu um convite para ensinar judô no colégio Marista: “Esse<br />

foi o primeiro passo e até hoje. Só <strong>de</strong> ensino <strong>de</strong> judô está fazendo 40<br />

anos”. No ano 1970, outro convite: “Fui convidado pelo Clube Canadá<br />

e até hoje estou lá. Este ano está fazendo 38 anos que dou aula lá”.<br />

Todas as ativida<strong>de</strong>s praticadas por Yoshiriro têm em comum a longa<br />

duração. “Parece que sou meio persistente, quando começo com uma<br />

coisa não paro, vou até...”, conta, divertindo-se com a constatação.<br />

Como atleta, Yoshiriro fez participações importantes: “Apesar <strong>de</strong> não<br />

ter bons resultados na liga nacional, participei por quatro vezes da<br />

Seleção <strong>Estadual</strong> <strong>de</strong> Judô”.<br />

O reconhecimento pela <strong>de</strong>dicação ao esporte veio por meio dos<br />

títulos <strong>de</strong> benemérito e <strong>de</strong> cidadão honorário. Em 2003, Yoshihiro<br />

Okano completou 50 anos <strong>de</strong> <strong>de</strong>dicação ao Judô. E foi homenageado<br />

com o título <strong>de</strong> cidadão honorário <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>. O título <strong>de</strong> benemérito<br />

foi concedido pela Fundação Paranaense <strong>de</strong> Judô. Yoshiriro conta que<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

324


quando foi convidado para o evento, sem saber que seria homenageado,<br />

solicitaram a presença <strong>de</strong> sua esposa. “Disseram que era uma<br />

comemoração. Ah, quando eu chego lá... Fiquei pensando, será que<br />

estou merecido mesmo <strong>de</strong>ssas coisas? Eles disseram pra mim: ‘Você<br />

é uma pessoa que colaborou todo esse tempo para o judô. Tem muitos<br />

colaboradores, mas você fez algo mais. Além <strong>de</strong> colaborar, contribuiu<br />

para o enriquecimento cultural, cientifico e pedagógico do judô’”.<br />

Des<strong>de</strong> a volta do Japão, em 1980, Yoshiriro, anualmente, dá <strong>de</strong><br />

dois a três cursos para os futuros faixas pretas. “Os faixas pretas, já<br />

no grau <strong>de</strong> 1°, 2° e 3°, todo ano têm que fazer cursos <strong>de</strong> atualizações<br />

e adquirir mais conhecimento. E todo esse período sou eu que dou o<br />

curso”. Ele acredita que essa ativida<strong>de</strong> lhe ren<strong>de</strong>u o título <strong>de</strong> benemérito.<br />

“Talvez esse seja o motivo”.<br />

Na placa <strong>de</strong> cidadão honorário, a justificativa: “Pelos relevantes<br />

serviços prestados à comunida<strong>de</strong> londrinense”. Em 2003, quando<br />

estava completando 50 anos <strong>de</strong> <strong>de</strong>dicação ao judô e 35 anos <strong>de</strong> ensino,<br />

Yoshiriro recebeu uma ligação: “Num belo dia, recebo o comunicado<br />

da Câmara dizendo que eu era o homenageado. Fiquei pensando: por<br />

que eu?”, relata, mo<strong>de</strong>sto. “Disseram que eu tenho um trabalho mais<br />

voltado para a formação do cidadão. Não só <strong>de</strong> competidores, mas<br />

campeões. ‘Você formou cidadãos, e como consequência, campeões<br />

também. Por isso, nós valorizamos seu trabalho e estamos conce<strong>de</strong>ndo<br />

esse título <strong>de</strong> cidadão honorário pra você’”.<br />

A música<br />

“Há três anos eu arrumei um hobby, o karaokê, <strong>de</strong> música popular<br />

japonesa”. Tudo começou por acaso. Segundo Yoshiriro, em <strong>Londrina</strong><br />

existem 27 associações nipo-brasileiras. “Normalmente tem concurso<br />

<strong>de</strong> karaokê interbairros, entre associações. E a pessoa responsável<br />

por essa parte do canto me inscreveu para o concurso <strong>de</strong> 2005, sem<br />

me falar nada”. Quando soube, Yoshiriro teve uma gran<strong>de</strong> surpresa e<br />

a princípio recusou, mas, como gosta <strong>de</strong> <strong>de</strong>safios, acabou aceitando.<br />

Decidiu se preparar e foi ter aulas <strong>de</strong> canto. Mas, no gran<strong>de</strong> dia, uma<br />

catástrofe: “Cantei a primeira estrofe, a segunda estrofe esqueci. Não<br />

lembrei mais nada. Aí eu <strong>de</strong>sci e pensei que isso não podia ficar assim”.<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

325


Ao contrário do que se imaginava, a experiência mal-sucedida o<br />

incentivou a continuar e melhorar. “No segundo campeonato já comecei<br />

a ganhar troféus. Nos dois anos, em quase todos que eu participei<br />

consegui alguma coisa. Neste ano já passei pra turma <strong>de</strong> veteranos”.<br />

Aposentado <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1998, Yoshiriro se divi<strong>de</strong> entre suas paixões:<br />

família, judô e karaokê. Cultiva sempre hábitos saudáveis, herança da<br />

cultura japonesa. E vive em equilíbrio, proporcionado pelo judô. Já o<br />

karaokê fez com que o círculo <strong>de</strong> amiza<strong>de</strong>s fosse ampliado. Tudo isso,<br />

graças à sua persistência e muita <strong>de</strong>dicação.<br />

Léia Dias Sabóia<br />

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326


Zenshi Heshiki<br />

Filho <strong>de</strong> Zenziro e Nabe Heshiki nasceu na<br />

cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Promissão no Estado <strong>de</strong> São Paulo<br />

em 1936. Quarto filho masculino <strong>de</strong> uma prole<br />

<strong>de</strong> 10 pessoas. O ZEN <strong>de</strong>riva do ZEN Budismo<br />

como relatado no texto e quatro em japonês é o<br />

mesmo SHI e daí o nome ZENSHI. Na linguagem<br />

eletrônica passou para ZENFOUR, introduzindo<br />

o quatro em inglês que é FOUR.<br />

Graduado em Medicina <strong>de</strong> Ribeirão Preto-Sp<br />

em 1961 e em Administração Hospitalar na<br />

Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> Pública na USP - SP. Fez a<br />

especialização no Hospital <strong>de</strong> Clínicas em São Paulo, na <strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong><br />

Bor<strong>de</strong>aux em França e na <strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> Minnesota em Minneapolis<br />

– USA.<br />

Tem os títulos <strong>de</strong> Doutor em Medicina e Livre Docente pela<br />

Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina da USP - São Paulo e <strong>de</strong> Professor Adjunto<br />

pela Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina <strong>de</strong> Ribeirão Preto - USP. Em 1977 assumiu<br />

o cargo <strong>de</strong> Professor Titular na UNESP <strong>de</strong> Botucatu e <strong>de</strong> Professor<br />

Associado em 1996 na UEL <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>. Atualmente está aposentado<br />

<strong>de</strong>stas instituições universitárias e exerce a função <strong>de</strong> Médico<br />

Otorrinolaringologista na Otolon <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>.<br />

Fez viagens a vários paises para conhecer a história, os hábitos e<br />

costumes <strong>de</strong> seus povos e dos familiares. Este é o resumo parcial <strong>de</strong>stes<br />

estudos.<br />

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327


Da Lituânia para a cultura brasileira<br />

Zita Kiel Baggio, além <strong>de</strong> professora do Departamento <strong>de</strong> Letras<br />

e <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> Ciências Sociais da UEL, <strong>de</strong>u aula em cursos ginasiais,<br />

clássicos e normal na cida<strong>de</strong><br />

Quase 20 anos como aposentada da<br />

<strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>Estadual</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>; 50<br />

vividos nesta cida<strong>de</strong>; mais <strong>de</strong> 80 <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>. A<br />

lituana Zita Kiel Baggio veio com os pais para<br />

o Brasil com um ano <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>. Viveram em<br />

Porto Alegre. Quando ficaram apenas ela e a<br />

mãe em casa, sua mãe começou a trabalhar<br />

como professora.<br />

Jovem, Zita entrou para o colégio interno<br />

Instituto Adventista Cruzeiro do Sul <strong>de</strong> Taquara do Sul (RS), para on<strong>de</strong><br />

sua mãe foi trabalhar logo <strong>de</strong>pois. Zita mudou-se para São Paulo para<br />

cursar o clássico e <strong>de</strong>pois foi para Curitiba: fez Letras Neolatinas na<br />

UFPR (<strong>Universida<strong>de</strong></strong> Fe<strong>de</strong>ral do Paraná).<br />

Ela sempre gostou da língua francesa, que naquela época se<br />

aprendia <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o ginásio. Depois da graduação, cursou especialização<br />

na Aliança Francesa.<br />

Ainda em Curitiba, Zita ingressou na faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Jornalismo,<br />

na primeira turma do curso na Pontifícia <strong>Universida<strong>de</strong></strong> Católica (PUC).<br />

No último ano, o secretário da escola <strong>de</strong> jornalismo indicou Zita para o<br />

diretor do Colégio Londrinense, Zaqueu <strong>de</strong> Melo, que precisava <strong>de</strong> uma<br />

professora <strong>de</strong> francês.<br />

Era 24 <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 1958 quando ela veio como professora<br />

para <strong>Londrina</strong>. Dava aulas nos cursos ginasial, clássico e científico.<br />

E voltava para Curitiba fazer as provas da faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Jornalismo.<br />

Formada, nunca exerceu essa profissão. Preferia ser professora.<br />

Zita prestou concurso e lecionou um ano no Colégio Vicente Rijo.<br />

Depois optou pelo IEEL (Instituto <strong>Estadual</strong> <strong>de</strong> Educação <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>),<br />

pois o colégio estava ligado ao curso normal.<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

328


Em 1964, a professora Zita Kiel Baggio ingressou na Faculda<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> Filosofia, Ciências e Letras <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>. Antes, porém, por ser uma<br />

das poucas que trabalhavam com a língua francesa na cida<strong>de</strong>, já havia<br />

participado <strong>de</strong> bancas <strong>de</strong> seleção para a Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Direito.<br />

Segundo ela, o ambiente pequeno da Faculda<strong>de</strong> estimulava a<br />

competição para o bem. “Todos os colegas trabalhavam juntos e os<br />

alunos eram se<strong>de</strong>ntos <strong>de</strong> informação”. Ela lembra <strong>de</strong> alunos <strong>de</strong> outras<br />

cida<strong>de</strong>s, como Sertanópolis, que enfrentavam estradas sem asfalto<br />

para chegar à Faculda<strong>de</strong> e levavam toalhas para limpar o rosto e até<br />

sapatos para trocar.<br />

Zita compara as fases vividas pela UEL a um caleidoscópio, em<br />

que qualquer mudança gera outras figuras. Da transição da Faculda<strong>de</strong><br />

para <strong>Universida<strong>de</strong></strong>, a professora <strong>de</strong>staca que o espírito <strong>de</strong> colaboração<br />

continuou. E ela passou para o Departamento <strong>de</strong> Letras.<br />

Quando o MEC mudou a disciplina <strong>de</strong> Cultura Brasileira, Zita<br />

transferiu-se para o Departamento <strong>de</strong> Ciências Sociais. O tempo da<br />

disciplina passou <strong>de</strong> dois anos a seis meses, o que exigiu uma diminuição<br />

<strong>de</strong> conteúdo, lembra a professora, que gostava <strong>de</strong> dar um mês <strong>de</strong> aulas<br />

sobre pintura, por exemplo.<br />

A aposentadoria veio em 1989. Ela então diz que aproveitou o<br />

tempo e foi fazer tudo o que não havia feito antes. Casou-se com mais<br />

<strong>de</strong> 50 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>. Com o marido, também aposentado, viajou por<br />

vários países. Tiveram uma chácara em São Jerônimo da Serra, on<strong>de</strong><br />

ela i<strong>de</strong>alizou a casa e plantou flores e árvores.<br />

Emocionada <strong>de</strong> contar sobre a sua vida, a perda da mãe e do<br />

marido, Zita Kiel Baggio revela porque uma professora tão apaixonada<br />

pela profissão não sofreu na hora <strong>de</strong> se aposentar. “Eu fiz com tanto<br />

amor que eu olho para trás e vejo que fiz tudo... Então não senti<br />

sauda<strong>de</strong>s nenhuma. Você tem que fazer o seu melhor”.<br />

Poliana Lisboa <strong>de</strong> Almeida<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo <strong>de</strong> recordar<br />

329


Título<br />

Organizadores<br />

Produção Gráfica<br />

Capa e Projeto gráfico<br />

Editoração<br />

Revisão<br />

Formato<br />

Tipografia<br />

Papel<br />

Número <strong>de</strong> páginas<br />

Tiragem<br />

Impressão e acabamento<br />

Portal do Servidor Aposentado da UEL:<br />

tempo <strong>de</strong> recordar<br />

Maria Aparecida Vivan <strong>de</strong> Carvalho; Fabiano<br />

Ferrari Ribeiro; Rosane da Silva Borges<br />

Maria <strong>de</strong> Lour<strong>de</strong>s Monteiro<br />

Keila Akemi Komori<br />

Maria <strong>de</strong> Lour<strong>de</strong>s Monteiro<br />

José Feres Abdala<br />

16 x 23 cm<br />

Georgia(miolo)<br />

250g/m 2 (capa)<br />

75g/m 2 (miolo)<br />

330<br />

500<br />

Gráfica da UEL

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