TEREZA SANDRA LOIOLA VASCONCELOS ... - Uece

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98 Uma briga malvada. A primeira coisa é que os produtores e as pessoas que ficaram contra é porque não sabiam como era que iam ficar e o que diziam é que iam desapropriar e ia botar para ir se embora para outro local e se revoltaram e não queriam de jeito nenhum um projeto dessa natureza. E foi uma briga danada. A igreja que foi no caso do monsenhor Valdir, era do lado do povão, também apoiou né? Enquanto ele não soubesse também qual o benefício e de que maneira ia beneficiar as famílias do município, aliás, dos municípios, que pega três municípios, mas eu digo aqui o Marco porque nasceu o projeto daqui do rio Acaraú e toda a bombeação da água sai tudo daqui. Já tem essa segunda etapa, que tá pra lá, que vai tudo água daqui. Pois bem, nesse tempo e isso foi uma briga danada, nós era daqui do sindicato. E tudo se revoltou e aí parou um tempo, o povo ficaram revoltado, mas sempre ficaram discutindo, que o projeto tinha sido aprovado lá em cima, que era uma das partes boa baixo acaraú, o alto e o baixo, que o alto é lá em Varjota, o [Perímetro Irrigado] Araras e o [Perímetro Irrigado]Baixo Acarau que é nós aqui. Até que foi indo, foi indo, junto com os político e os governo e os deputado, essas coisa, como eles achavam que era mesmo de extrema importância de geração, eles diziam para eles, que gerava muito emprego e renda, até que foi indo e toda briga, reunião por cima de reunião, fazia reunião na comunidade, reunião nos Pereira, tinha dia que o povo se revoltava e pedia para eles explicá, se era daquele jeito mesmo, como é que eles iam atuar a partir dali, que eles não iam sair daquele local deles, tinha nascido e se criado ali, não tinham para onde ir, para outro canto, era uma confusão malvada. Até que por final, depois quando foi para vir mesmo o projeto, alias já no oitenta e tanto já houve a medição das terras. Depois disso vieram a autoridade, junto a igreja, o pároco, a igreja que nós chama é igreja e padre, até que convenceram eles, que ele acharia que era interessante, poderia as pessoa ver que ia ser desse jeito, monsenhor Valdir dizia que ele apoiava se for do jeito que vocês estão dizendo. Ele fazia o que o povo decidisse. Até que com muita reunião, muita assembléia aqui no sindicato. Menino foi uma revolução danada! Aí foi aprovado. 53 [Acréscimos nossos]. Essas pessoas, motivadas pelo carisma de figuras religiosas (Monsenhor Valdir) e induzidas pelas palavras de ordem propagadas pelo Estado, “geração de emprego e renda”, na possibilidade de desenvolvimento à agricultura praticada no local, consentiram a construção do Perímetro Irrigado Baixo Acaraú, esperançosas de melhores condições de vida à população, como nos diz o agricultor desapropriado: Houve uma luta pesada mesma com essa questão da desapropriação, porque aqui a gente não queria aceitar. Nós lutamos bastante, porque a gente não queria aceitar, até porque a gente já tinha mesmo o conhecimento de muitas áreas do DNOCS, todas elas problemáticas. Nós visitamos várias áreas e todas elas nós encontrava problemas, pessoal se queixando, era endividados, achava que o projeto do DNOCS não era um projeto bom, porque os projeto do DNOCS todos eles tinha dívida, os acompanhamento não era suficiente. Todo mundo reclamava e aqui nós brigamo muito, lutamo muito para não acontecer aqui no município, mas as autoridade queria né? Você sabe que entre a força política, ave maria, todo mundo acredita na força política, né? Só que aquilo era só mesmo pra ajudar eles, num era ajudando a gente. Nós não, nós não queria, porque nós já sabia que isso não ia dá certo e eu, quando eles vieram, ave maria, isso era uma coisa muito boa, era primeiro mundo, o projeto aqui ia ser de primeiro mundo. Eles diziam: “todo 53 Entrevista realizada em agosto de 2009, com Francisco Fernandes (Sr. “Aleluia”), morador do Triângulo de Marco, desde 12 de agosto de 1972. Sr. “Aleluia” é integrante de movimentos políticos no campo, tais como a “Comunidade Eclesial de Base – CEB” e do “Movimento do Dia do Senhor”, organizado pela Diocese de Sobral. Além disso, o agricultor faz parte do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Marco.

99 mundo aqui 2, 3 anos, tá todo mundo bem de condição” e a gente foi naquela “onda” de ouvir as promessas e a gente caiu na “onda”, viu? 54 Nesse processo, algumas comunidades resistiram e atualmente continuam em suas terras, embora encorpando o quadro de trabalhadores temporários do perímetro irrigado, subjugando-se ao processo da agricultura capitalista pelas dificuldades enfrentadas. Dentre as comunidades, estão Lagoa de Santa Rosa, São Gerardo, Nova Morada, Canecão, Baixa do Meio, Escondido, Telha, Capim Nassum, Cajazeiras, Oriente, Alpercatas e a aldeia tremembé de Queimadas. Outros agricultores retornaram como reassentados nos lotes agrícolas, enquanto muitos saíram com suas indenizações em busca de reconstruir suas vidas em outros lugares, vivendo, muitos deles, nas periferias dos municípios envolvidos. Sobre as indenizações pagas pelo Estado, um agricultor desapropriado e reassentado nos revela: “O pagamento foi coisinha, só coisinha pouca. Eu mesmo recebi, só umas coisinhas, só pra dizer mesmo que foi desapropriado. Eu recebi na época, era no cruzeiro, dava novecentos e pouco. Era os benefícios, as benfeitorias. Minha propriedade era pequena, de 18 hectares” 55 . Suas palavras nos conduzem a pensar que a terra, seu lugar de trabalho e moradia, para esses agricultores, possui um valor inestimável. Encerradas as desapropriações e a instalação infraestrutural, apenas em 2001 inicia-se a administração do Perímetro Irrigado Baixo Acaraú. Durante esse período, de aproximadamente 20 anos para a construção do projeto, inúmeras foram as denúncias de irregularidade nas obras do DNOCS, conforme divulgação em matérias jornalísticas (organizadas no quadro 10), contribuindo para a longa demora na implantação do perímetro. 54 Entrevista realizada em dezembro de 2009, com agricultor reassentado do Perímetro Irrigado Baixo Acaraú. 55 Entrevista realizada em dezembro de 2009, com agricultor reassentado do Perímetro Irrigado Baixo Acaraú.

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Uma briga malvada. A primeira coisa é que os produtores e as pessoas que<br />

ficaram contra é porque não sabiam como era que iam ficar e o que diziam é que<br />

iam desapropriar e ia botar para ir se embora para outro local e se revoltaram e<br />

não queriam de jeito nenhum um projeto dessa natureza. E foi uma briga danada.<br />

A igreja que foi no caso do monsenhor Valdir, era do lado do povão, também<br />

apoiou né? Enquanto ele não soubesse também qual o benefício e de que maneira<br />

ia beneficiar as famílias do município, aliás, dos municípios, que pega três<br />

municípios, mas eu digo aqui o Marco porque nasceu o projeto daqui do rio<br />

Acaraú e toda a bombeação da água sai tudo daqui. Já tem essa segunda etapa,<br />

que tá pra lá, que vai tudo água daqui. Pois bem, nesse tempo e isso foi uma briga<br />

danada, nós era daqui do sindicato. E tudo se revoltou e aí parou um tempo, o<br />

povo ficaram revoltado, mas sempre ficaram discutindo, que o projeto tinha sido<br />

aprovado lá em cima, que era uma das partes boa baixo acaraú, o alto e o baixo,<br />

que o alto é lá em Varjota, o [Perímetro Irrigado] Araras e o [Perímetro<br />

Irrigado]Baixo Acarau que é nós aqui. Até que foi indo, foi indo, junto com os<br />

político e os governo e os deputado, essas coisa, como eles achavam que era<br />

mesmo de extrema importância de geração, eles diziam para eles, que gerava<br />

muito emprego e renda, até que foi indo e toda briga, reunião por cima de reunião,<br />

fazia reunião na comunidade, reunião nos Pereira, tinha dia que o povo se<br />

revoltava e pedia para eles explicá, se era daquele jeito mesmo, como é que eles<br />

iam atuar a partir dali, que eles não iam sair daquele local deles, tinha nascido e<br />

se criado ali, não tinham para onde ir, para outro canto, era uma confusão<br />

malvada. Até que por final, depois quando foi para vir mesmo o projeto, alias já no<br />

oitenta e tanto já houve a medição das terras. Depois disso vieram a autoridade,<br />

junto a igreja, o pároco, a igreja que nós chama é igreja e padre, até que<br />

convenceram eles, que ele acharia que era interessante, poderia as pessoa ver que<br />

ia ser desse jeito, monsenhor Valdir dizia que ele apoiava se for do jeito que vocês<br />

estão dizendo. Ele fazia o que o povo decidisse. Até que com muita reunião, muita<br />

assembléia aqui no sindicato. Menino foi uma revolução danada! Aí foi<br />

aprovado. 53 [Acréscimos nossos].<br />

Essas pessoas, motivadas pelo carisma de figuras religiosas (Monsenhor Valdir) e<br />

induzidas pelas palavras de ordem propagadas pelo Estado, “geração de emprego e renda”, na<br />

possibilidade de desenvolvimento à agricultura praticada no local, consentiram a construção<br />

do Perímetro Irrigado Baixo Acaraú, esperançosas de melhores condições de vida à<br />

população, como nos diz o agricultor desapropriado:<br />

Houve uma luta pesada mesma com essa questão da desapropriação, porque aqui<br />

a gente não queria aceitar. Nós lutamos bastante, porque a gente não queria<br />

aceitar, até porque a gente já tinha mesmo o conhecimento de muitas áreas do<br />

DNOCS, todas elas problemáticas. Nós visitamos várias áreas e todas elas nós<br />

encontrava problemas, pessoal se queixando, era endividados, achava que o<br />

projeto do DNOCS não era um projeto bom, porque os projeto do DNOCS todos<br />

eles tinha dívida, os acompanhamento não era suficiente. Todo mundo reclamava e<br />

aqui nós brigamo muito, lutamo muito para não acontecer aqui no município, mas<br />

as autoridade queria né? Você sabe que entre a força política, ave maria, todo<br />

mundo acredita na força política, né? Só que aquilo era só mesmo pra ajudar eles,<br />

num era ajudando a gente. Nós não, nós não queria, porque nós já sabia que isso<br />

não ia dá certo e eu, quando eles vieram, ave maria, isso era uma coisa muito boa,<br />

era primeiro mundo, o projeto aqui ia ser de primeiro mundo. Eles diziam: “todo<br />

53 Entrevista realizada em agosto de 2009, com Francisco Fernandes (Sr. “Aleluia”), morador do Triângulo de<br />

Marco, desde 12 de agosto de 1972. Sr. “Aleluia” é integrante de movimentos políticos no campo, tais como a<br />

“Comunidade Eclesial de Base – CEB” e do “Movimento do Dia do Senhor”, organizado pela Diocese de<br />

Sobral. Além disso, o agricultor faz parte do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Marco.

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