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TEREZA SANDRA LOIOLA VASCONCELOS ... - Uece

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(agroalimentar), como foram as irrigações por cata-ventos, tão empregadas no rio Acaraú e no<br />

rio Jaguaribe, para ser uma prática essencialmente comercial. À medida que o capital<br />

cooptava essa prática para atender os grandes mercados, a agricultura entrava na configuração<br />

dos grandes negócios, como sintetizam Lima et al (2004, p.p.3-4):<br />

(...) a nova tendência do meio empresarial agrícola tem sido a de aumento do<br />

interesse pela prática da irrigação, que, além de reduzir riscos, proporciona outras<br />

vantagens significativas ao produtor irrigante. A intensificação configura uma<br />

opção estratégica de grande alcance para aumentar a oferta de produtos destinados<br />

ao mercado interno, consolidar a afirmação comercial do Brasil num mercado<br />

internacional altamente competitivo e melhorar os níveis de produção,<br />

produtividade, renda e emprego no meio rural e nos setores urbano-industriais que<br />

se vinculem, direta ou indiretamente, ao complexo de atividades da agricultura<br />

irrigada.<br />

Esse novo formato da produção agrícola foge dos objetivos dos agricultores<br />

familiares locais. Dessa forma, o Estado proporcionou mobilidade e poder aos novos agentes<br />

produtores do território, rapidamente afeitos às heranças dos velhos dominadores, sob o<br />

discurso ideológico de que as mudanças proporcionariam grandes melhorias para todos,<br />

principalmente eliminando o problema da fome e ensejando o desenvolvimento no Nordeste.<br />

3.2 Estratégias políticas de modernização da agricultura no Nordeste brasileiro<br />

As primeiras iniciativas de modernização no Nordeste brasileiro, segundo os<br />

estudos de Andrade (1981), ocorreram em meados do século XIX, quando algumas indústrias<br />

se ocupavam em beneficiar produtos agrícolas para a exportação, como é o caso da cana - deaçúcar,<br />

e, posteriormente, o algodão, enquanto a maior parcela visava a atender a demanda<br />

regional e local.<br />

São dessa fase as providências do Império para o Nordeste semiárido, enviando a<br />

Comissão Científica e Comissão Exploradora das Províncias do Norte – CCE 35 , criada em<br />

35 A respeito dessa comissão científica exploratória, convêm citarmos um trecho da literatura cearense, onde<br />

Domingos Olímpio (escritor sobralense) relata em sua obra, Luzia-Homem, a presença desses “doutores”: “Era<br />

por volta da era de sessenta. Não me lembro bem o ano; só sei que eu era rapazote, pelo tope dos doze. Andava<br />

por estes sertões uma comissão de doutores, observando o céu com óculos de alcance, muito complicados,<br />

tomando medida das cidades e povoações e apanhando amostras de pedra, de barro, ervas e matos, que servem<br />

para mezinhas, borboletas, besouros e outros bichos. Os maiorais dessa comissão eram homens de saber,<br />

Capanema, Gonçalves Dias, Gabaglia, um tal de Freire Alemão, e um doutô médico chamado Lagos e outros.<br />

Andavam encourados como nós vaqueiros; davam muita esmola e tiravam, de graça, o retrato da gente, com uma<br />

geringonça, que parecia arte do demônio. Apontavam para a gente o óculo de uma caixinha parecida gaita de<br />

foles e a cara da gente, o corpo e a vestimenta saíam pintados, escarrados e cuspidos, num vidro esbranquiçado<br />

como coalhada”. (1999, p.p. 182-183).

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