TEREZA SANDRA LOIOLA VASCONCELOS ... - Uece
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64 consumo intermediário na agricultura. A industrialização da agricultura corresponde à fase mais “evoluída” da modernização”. Com essas alterações na agricultura surgem os complexos agroindustriais (CAI’s), que correspondem às grandes corporações de indústrias de insumos e de processamento. Na concepção de Rui Erthal (2006, p.14), As indústrias, genericamente chamadas de insumos (montante), são responsáveis pela evolução modernizante da base técnica da agricultura, isto é, responsáveis pelo aumento da produção e da produtividade. As indústrias processadoras (jusante) que são muito numerosas, não só transformam as matérias-primas provenientes do campo, como articulam a entrada, a integração e o comportamento das empresas rurais no CAI. As indústrias de insumos, classificadas genericamente como de base, abriga dois segmentos bem distintos. Um deles liga-se à produção de maquinarias - tratores e implementos mecânicos (arado, colhedeira, empacotadeira etc.). O outro ramo produz insumos de natureza química e biológica que são os fertilizantes, adubos, rações, inseticidas, sementes etc. Com efeito, os maiores beneficiados foram os grupos de empresários, as multinacionais, que, com o consentimento do Estado, adentraram as terras dos agricultores familiares camponeses, subjugando-os à modernização e à industrialização agrícola, acentuando os problemas agrários, no que concerne à concentração fundiária. Segundo Elias (2002), na história da “revolução verde” no Brasil, três momentos se destacam. Inicialmente, na década de 1950, com a mudança na base técnica e as inovações químicas e mecânicas. Em seguida, em meados dos anos de 1960, com a industrialização da agricultura, gerando os complexos agroindustriais e a entrada das multinacionais. Em meados de 1970, centralizam-se os capitais industriais e a biotecnologia. As primeiras vias de acesso da intensa atividade agrícola, onde se identifica a convivência da produtividade alicerçada pela tecnologia da irrigação, ocorreram por meio da “Região Concentrada” (SANTOS E SILVEIRA, 2008), composta pelo Sudeste e Sul, com a entrada dos tratores, insumos e fertilizantes, alterando o calendário agrícola ou tempo agrícola, bem como a vida das pessoas que dele dependiam. No concerto nacional, a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural – EMATER, e a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - EMBRAPA, surgem nesse período (década de 1970), representando o Estado e auxiliando na propagação da revolução verde. Os preceitos das políticas públicas envoltas nessas modificações na agricultura não atenuaram os problemas sociais, aprofundando as desigualdades e os conflitos no campo. A política pública de irrigação, por exemplo, deixara de ser uma saída ao consumo familiar
65 (agroalimentar), como foram as irrigações por cata-ventos, tão empregadas no rio Acaraú e no rio Jaguaribe, para ser uma prática essencialmente comercial. À medida que o capital cooptava essa prática para atender os grandes mercados, a agricultura entrava na configuração dos grandes negócios, como sintetizam Lima et al (2004, p.p.3-4): (...) a nova tendência do meio empresarial agrícola tem sido a de aumento do interesse pela prática da irrigação, que, além de reduzir riscos, proporciona outras vantagens significativas ao produtor irrigante. A intensificação configura uma opção estratégica de grande alcance para aumentar a oferta de produtos destinados ao mercado interno, consolidar a afirmação comercial do Brasil num mercado internacional altamente competitivo e melhorar os níveis de produção, produtividade, renda e emprego no meio rural e nos setores urbano-industriais que se vinculem, direta ou indiretamente, ao complexo de atividades da agricultura irrigada. Esse novo formato da produção agrícola foge dos objetivos dos agricultores familiares locais. Dessa forma, o Estado proporcionou mobilidade e poder aos novos agentes produtores do território, rapidamente afeitos às heranças dos velhos dominadores, sob o discurso ideológico de que as mudanças proporcionariam grandes melhorias para todos, principalmente eliminando o problema da fome e ensejando o desenvolvimento no Nordeste. 3.2 Estratégias políticas de modernização da agricultura no Nordeste brasileiro As primeiras iniciativas de modernização no Nordeste brasileiro, segundo os estudos de Andrade (1981), ocorreram em meados do século XIX, quando algumas indústrias se ocupavam em beneficiar produtos agrícolas para a exportação, como é o caso da cana - deaçúcar, e, posteriormente, o algodão, enquanto a maior parcela visava a atender a demanda regional e local. São dessa fase as providências do Império para o Nordeste semiárido, enviando a Comissão Científica e Comissão Exploradora das Províncias do Norte – CCE 35 , criada em 35 A respeito dessa comissão científica exploratória, convêm citarmos um trecho da literatura cearense, onde Domingos Olímpio (escritor sobralense) relata em sua obra, Luzia-Homem, a presença desses “doutores”: “Era por volta da era de sessenta. Não me lembro bem o ano; só sei que eu era rapazote, pelo tope dos doze. Andava por estes sertões uma comissão de doutores, observando o céu com óculos de alcance, muito complicados, tomando medida das cidades e povoações e apanhando amostras de pedra, de barro, ervas e matos, que servem para mezinhas, borboletas, besouros e outros bichos. Os maiorais dessa comissão eram homens de saber, Capanema, Gonçalves Dias, Gabaglia, um tal de Freire Alemão, e um doutô médico chamado Lagos e outros. Andavam encourados como nós vaqueiros; davam muita esmola e tiravam, de graça, o retrato da gente, com uma geringonça, que parecia arte do demônio. Apontavam para a gente o óculo de uma caixinha parecida gaita de foles e a cara da gente, o corpo e a vestimenta saíam pintados, escarrados e cuspidos, num vidro esbranquiçado como coalhada”. (1999, p.p. 182-183).
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abriga dois segmentos bem distintos. Um deles liga-se à produção de maquinarias -<br />
tratores e implementos mecânicos (arado, colhedeira, empacotadeira etc.). O outro<br />
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adubos, rações, inseticidas, sementes etc.<br />
Com efeito, os maiores beneficiados foram os grupos de empresários, as<br />
multinacionais, que, com o consentimento do Estado, adentraram as terras dos agricultores<br />
familiares camponeses, subjugando-os à modernização e à industrialização agrícola,<br />
acentuando os problemas agrários, no que concerne à concentração fundiária.<br />
Segundo Elias (2002), na história da “revolução verde” no Brasil, três momentos<br />
se destacam. Inicialmente, na década de 1950, com a mudança na base técnica e as inovações<br />
químicas e mecânicas. Em seguida, em meados dos anos de 1960, com a industrialização da<br />
agricultura, gerando os complexos agroindustriais e a entrada das multinacionais. Em meados<br />
de 1970, centralizam-se os capitais industriais e a biotecnologia.<br />
As primeiras vias de acesso da intensa atividade agrícola, onde se identifica a<br />
convivência da produtividade alicerçada pela tecnologia da irrigação, ocorreram por meio da<br />
“Região Concentrada” (SANTOS E SILVEIRA, 2008), composta pelo Sudeste e Sul, com a<br />
entrada dos tratores, insumos e fertilizantes, alterando o calendário agrícola ou tempo<br />
agrícola, bem como a vida das pessoas que dele dependiam.<br />
No concerto nacional, a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural –<br />
EMATER, e a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - EMBRAPA, surgem nesse<br />
período (década de 1970), representando o Estado e auxiliando na propagação da revolução<br />
verde.<br />
Os preceitos das políticas públicas envoltas nessas modificações na agricultura não<br />
atenuaram os problemas sociais, aprofundando as desigualdades e os conflitos no campo. A<br />
política pública de irrigação, por exemplo, deixara de ser uma saída ao consumo familiar