TEREZA SANDRA LOIOLA VASCONCELOS ... - Uece

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famílias, por meio do seu trabalho. Essa é a mesma realidade daqueles que, por meio de
empréstimos bancários, compraram seus lotes agrícolas, tornando-se proprietários de terra.
Assim, constatamos que a produção agrícola voltada às necessidades da família, em que
aquele excedente é comercializado, tanto de frutas quanto de sequeiro, compõe as estatísticas
de produtividade do perímetro irrigado, mesmo sendo à base dessa produção familiar.
Associando-se a esses agentes produtores do território do Perímetro Irrigado
Baixo Acaraú estão os pequenos capitalistas e os empresários da fruticultura. Correspondem
aos proprietários, que retiram a renda da terra, por meio da exploração do trabalhador
agrícola.
Desse modo, em um pequeno “recorte” de terra (lotes agrícolas), esses
proprietários contratam um menor número de trabalhadores, diminuindo o tempo de produção
e aceleram a aproximação com o mercado consumidor, retornando em forma de lucro.
Assim, explicam-se a produtividade agrícola e os altos valores agregados à
fruticultura desse perímetro, que assume, atualmente, o terceiro posto em relação aos outros
projetos de irrigação do Ceará.
Essa possibilidade de gerar lucros permanentes, quer com a produção, quer no
mercado de terras, é a grande motivação para os proprietários capitalistas, que concentram
lotes agrícolas, configurando a terra, nessa situação, mercadoria, enquanto o projeto irrigado é
instrumento para a sua validação.
A entrada de vários estabelecimentos empresariais relacionados à agricultura no
Triângulo de Marco demonstra a dinâmica econômica proporcionada pelo Perímetro, ao
mesmo tempo em que pouco alterou positivamente em relação às pessoas mais afetadas,
aguçando a concentração de renda e acentuando as desigualdades sociais. Os próprios
moradores relatam as mazelas surgidas, tais como as doenças provenientes pelo uso intensivo
dos agrotóxicos, prostituição e disseminação de drogas e doenças, causadas pelos novos
costumes dos “povos de fora”, como eles mesmos denominam.
Em razão, pois, de todas essas alterações no espaço geográfico, a presença
evidente de agricultores familiares camponeses e povos indígenas, como os tremembés da
aldeia Queimadas, em Acaraú, demonstra, mesmo com todas as dificuldades enfrentadas e
contradições inerentes, o fato de que nem mesmo o modo de produção capitalista é capaz de
destruir completamente a história que dá vida aos lugares, testemunhando a resistência e
florescendo, dessa forma, a esperança de que a transformação é possível.