14.10.2014 Views

TEREZA SANDRA LOIOLA VASCONCELOS ... - Uece

TEREZA SANDRA LOIOLA VASCONCELOS ... - Uece

TEREZA SANDRA LOIOLA VASCONCELOS ... - Uece

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

156<br />

Segundo José de Fátima Silva e Maria Amélia Leite, os índios foram<br />

drasticamente atingidos, o que não relata fielmente a historiografia:<br />

Todo início das dunas começou a ser coberta no ano de 1897. Quando se fala no<br />

soterramento da igreja em Almofala, não foi só o que vem no pensamento da gente,<br />

que foi só a igreja que foi soterrada, não! Ficou o povoado todo soterrado, na<br />

solidão perpétua, naquele “mundo” de areia. Era uma duna locomotiva, que ainda<br />

hoje ela vem se locomovendo, de lá pra cá. Mas ela vem num movimento móvel<br />

muito cansativo, devido às plantações, que estabiliza o vento. A igreja passou nove<br />

anos coberta, sem ninguém saber aonde era o local. (JOSÉ DE FÁTIMA SILVA).<br />

Houve aquela história da duna que cobriu todo aldeamento. A história oficial diz<br />

que a duna cobriu só a igreja, que é mentira. Eles disseram que a duna cobriu a<br />

igreja, para não fazer referência aos Tremembé. A duna cobriu quase todo o<br />

aldeamento e eles tiveram que sair, porque o padre dizia que era castigo. Os livros<br />

não contam essa história e nem pode, porque não tem interesse. Contar essa<br />

história verdadeira é contar que eles são Tremembé, é recuperar os direitos deles.<br />

(MARIA AMÉLIA LEITE).<br />

A luta que os indígenas já travavam era pelo território 122 , pois é nele que se<br />

efetiva a sua relação com os costumes e crenças e por onde se reconhecem 123 como indígenas<br />

de fato, assim como diz Martins (1988, p. 36): “a condição de índio está inteiramente<br />

vinculada à definição do território”.<br />

O torém, por exemplo, dança realizada pelos tremembés, símbolo de festa, alegria<br />

e encantamento, apenas possui expressão quando em suas terras, onde eles se realizam (figura<br />

53). As palavras de Maria Amélia Leite e do indígena são importantes:<br />

O torém é o ritual sagrado, que é próprio deles. É misturado na língua tupi e<br />

português. Onde tem o torém tem o índio, onde tem o índio tem a terra. Animando<br />

o torém, animava a luta da terra e a luta da terra eles que tinham que ter coragem<br />

de lutar. Eles não podem dançar o torém fora da terra, eles dançam aqui<br />

[Fortaleza], mas não tem expressão nenhuma, é diferente o torém que eles dançam<br />

lá[Acaraú]. (MARIA AMÉLIA LEITE). [acréscimos nossos].<br />

Aqui na comunidade existi o torém há 100 anos. Ah, o torém é coisa importante. É<br />

uma prova que é brincadeira dos índios, uma coisa nossa. É o momento que a<br />

gente reuni para pedir aos “encantados” força para a nossa luta e para as<br />

atividades que a gente vai realizar. 124<br />

122 Na concepção de Lefèbvre (2008, p. 35), “(...) O mental não pode se separar do social. Hoje, o mental e o<br />

social se reencontram na prática: no espaço concebido e vivido”, portanto, no território.<br />

123 Apesar da consciência política dos tremembés, muitos ainda não se identificam como indígenas. O próprio<br />

índio Leonande Mariano, integrante da aldeia Batedeira II (às margens do rio aracati mirim), revela que “as<br />

pessoas que não se reconhecem como indígenas, é por conta do preconceito mesmo. Tem pessoas da própria<br />

família dos Tremembé, tanto aqui, como em outras comunidades. Num sei se é medo das pessoas... tem pessoas<br />

que tem medo de se identificarem, que é um Tremembé”. (Entrevista realizada em dezembro de 2009).<br />

124 Entrevista com índio tremembé da aldeia Queimadas, em Acaraú, realizada em dezembro de 2009.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!