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TEREZA SANDRA LOIOLA VASCONCELOS ... - Uece

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apresentados deixam de produzir nos seus lotes agrícolas e, atualmente, compõem<br />

comunidades com precárias condições de habitação, tornando-se reféns do agronegócio,<br />

quando contraem dívidas bancárias ou trabalham como diaristas nas terras alheias, mesmo<br />

possuindo as suas, a exemplo de um agricultor reassentado e morador da vila dos Amaros 107 ,<br />

localizada em Marco. Esse agricultor viu na condição de posseiro 108 a saída para o cultivo<br />

familiar. Sua terra, a priori, estava entre aquelas onde o perímetro irrigado viria se implantar,<br />

logo, fora desapropriado. A ele é imposto sair de suas origens, para compor o quadro de<br />

reassentados do projeto de irrigação. Por não se adequar às imposições do novo meio de<br />

produzir, o agricultor ausenta-se de seu lote, passando a residir em outras comunidades, com<br />

problemas maiores ainda, segundo os relatos da sua esposa:<br />

Nós já saimo desapropriado, e voltar pra ser reassentado e ser obrigado a vir pra<br />

cá de novo pior, porque quando nós saimo daqui nós não devia ninguém e hoje nós<br />

se esconde pra não ver o pessoal que a gente deve, porque nós confiava que ia<br />

subir e nós fizemo foi cair 109 .<br />

Para Martins (1991), esse é o retrato vivo da expropriação pela qual passam os<br />

agricultores, no momento em que são “divorciados” dos seus instrumentos de trabalho, como<br />

a terra, por exemplo. Mesmo no caso apresentado, em que essa separação não ocorre<br />

totalmente, visto que o agricultor familiar camponês permanece com seu lote agrícola, ele é<br />

obrigado, pela situação, a separar-se do seu meio de trabalho, por falta de orientação e apoio<br />

técnico, além dos embustes a que são submetidos, sendo colocados à margem do projeto que<br />

fora direcionado para os empresários.<br />

Esses agricultores e suas famílias, no entanto, resguardam nas suas palavras o<br />

desejo de retornar para suas terras, no intuito de consolidar a terra do trabalho.<br />

Não passa pela minha mente vender meu lote, porque ele é uma herança<br />

que eu deixo pros meus filhos. 110<br />

Esse sentimento, o desejo de retorno, assemelha-se aos pensamentos de Martins<br />

(1991, p. 45), quando nos diz:<br />

107 Preferimos resguardar a identidade do agricultor. Entrevista realizada em dezembro de 2009, no Município de<br />

Marco.<br />

108 Segundo Martins (1991, p. 56), “Só é legítima a posse porque é baseada no seu trabalho. É o trabalho que<br />

legitima a posse da terra; é nele que reside o direito de propriedade. Esse direito está em conflito com os<br />

pressupostos da propriedade capitalista”.<br />

109 Entrevista realizada em dezembro de 2009, com a esposa do agricultor reassentado do Perímetro Irrigado<br />

Baixo Acaraú e moradores da comunidade Vila dos Amaros, localizada em Marco.<br />

110 Entrevista realizada em dezembro de 2009, com a esposa do agricultor reassentado do Perímetro Irrigado<br />

Baixo Acaraú e moradores da comunidade Vila dos Amaros, localizada em Marco.

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