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TEREZA SANDRA LOIOLA VASCONCELOS ... - Uece

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Os dados revelam que a concentração de lotes agrícolas e a especulação provêm do<br />

mercado de terras que se implantou no projeto de irrigação estudado. A terra converte-se em<br />

mercadoria, com maior destaque, pela produtividade agrícola que a terra poderá ocasionar.<br />

Silva (1989, p. 93) esclarece o conceito de mercado de terras, ao nos dizer que<br />

“por estruturação do mercado de terras entende-se a sua conversão de um simples meio de<br />

produção (cujo preço é determinado em função da acumulação patrimonial e da produção de<br />

subsistência local) em uma mercadoria negociada em função de expectativas produtivas e<br />

especulativas de agentes que levam em conta, também, os retornos do mercado financeiro”.<br />

Assim, o elevado número de lotes em nome de “terceiros”, as intensas trocas,<br />

muitas vezes ocorridas de forma direta, sem mediação estatal, a concentração de lotes<br />

agrícolas em um número reduzido de proprietários e, ainda, os lotes abandonados, são<br />

expressões da terra feita mercadoria.<br />

Enquanto ocorre essa forte e destacada concentração de terras, a população local<br />

convive com intensos problemas sociais, amargada pela modernização da agricultura, o que<br />

apenas acentuou ainda mais as desigualdades, como veremos a seguir.<br />

5.2 Modernização da agricultura e desigualdade no Baixo Acaraú<br />

É inegável que a entrada do Perímetro Irrigado Baixo Acaraú alterou a qualidade<br />

de vida das comunidades em que viera se instalar. Ao contrário do que se imagina, nem todas<br />

essas alterações foram benéficas ou, ainda, não compatíveis com a riqueza material instalada e<br />

proporcionada, por meio do consumo ao lugar realizado pelo Estado e pelos empresários.<br />

Essas mudanças decorrem da entrada de novos agentes sociais no espaço<br />

geográfico, atingindo a todos, inclusive os que não se beneficiam dessas inovações impostas e<br />

provindas de outros recantos do mundo, com a anuência estatal e ação propulsora das<br />

empresas. Os resultados são bem conhecidos pela Teoria Geográfica, como nos apresenta<br />

Santos (2008 b, p.p. 105-108):<br />

O interno é aquilo que, num momento dado, aparece como local. (...) O externo é<br />

tudo isso cuja sede é fora do lugar e tem uma escala de ação maior do que o lugar,<br />

muito embora incida sobre ele. A chegada do novo causa um choque. Quando uma<br />

variável se introduz num lugar, ela muda as relações preexistentes e estabelece<br />

outras. Todo o lugar muda. Ambos são mediadores entre o externo e o interno,<br />

entre o novo e o velho. Falamos do Estado e do mercado.<br />

As primeiras mudanças ocorrem com as desapropriações. Do grupo de<br />

reassentados formado por 43 pessoas, aqueles que não suportaram os obstáculos e desajustes

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