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128 Oliveira (2007, p. 11) é claro, no entanto, ao dizer que a agricultura familiar e o latifúndio “devem ser entendidos como de dentro do capitalismo e não de fora deste”. Com essa base teórica, o que ocorre na agricultura cearense, por exemplo, são traços do “desenvolvimento contraditório e combinado 90 ”, muito bem expressos nas seguintes palavras, Isso quer dizer que, ao mesmo tempo em que esse desenvolvimento avança reproduzindo relações especificamente capitalistas (implantando o trabalho assalariado através da presença no campo do “bóia-fria”), o capitalismo produz também, igual e contraditoriamente, relações camponesas de produção (através da presença e do aumento do trabalho familiar). (OLIVEIRA, 2007, p. 36). Nesse sentido, ao mesmo passo que produz relações tipicamente capitalistas, como o assalariamento, o sistema capitalista não dissolveu a estrutura do agricultor familiar camponês, pelo contrário a recriou para dela aproveitar-se, pois “é o processo de sujeição do [agricultor familiar] camponês ao capital que está em marcha, uma sujeição que se dá sem que o trabalhador seja expulso da terra, sem que se dê a expropriação de seus instrumentos de produção.” (OLIVEIRA, 2007, p. 11). As falas dos agricultores e a exposição do quadro 15 referente à produção de sequeiro, alimento essencial no cotidiano alimentar e cultivado, em sua maior parte, por esses agricultores, destacando o Perímetro Irrigado Baixo Acaraú, no Ceará, reafirmam a presença desses agentes sociais no território. Com arrimo nas ideias de Oliveira (2004), podemos então compreender que a propriedade capitalista expressa a territorialização do capital monopolista na agricultura, em que o capitalista da indústria, proprietário de terra e capitalista da agricultura, são as mesmas pessoas, territorializando-se no Perímetro Irrigado Baixo Acaraú, com a expulsão dos agricultores familiares e a contratação de alguns como assalariados. Enquanto isso, a presença das propriedades dos agricultores familiares camponeses no perímetro evidenciam a monopolização do território pelo capital monopolista. Nessa situação, os proprietários de terra e o trabalhador, representados pelos agricultores, participam da modernização da agricultura, cujos produtos agrícolas passam a compor a produtividade do 90 A lei do desenvolvimento desigual e combinado foi desenvolvida por Trostky. Na leitura feita por Côrrea (1987, p. 42), “A lei do desenvolvimento desigual e combinado expressa particularmente uma das leis da dialética, a da interpenetração dos contrários. Refere-se ao fato de ser cada aspecto da realidade construído de dois processos que se acham relacionados e interpenetrados, apesar de serem diferentes e opostos. A contradição que daí decorre é característica imanente à realidade e o elemento motor de sua transformação. Na lei os dois processos são, primeiro o da desigualdade e, depois, o da combinação. Permite que se considere as diferenciações resultantes da presença de fenômenos originados em tempos históricos diferentes coexistindo no tempo presente...e no espaço”.
129 projeto de irrigação. Mesmo presentes no âmbito da monopolização pelo capital do agronegócio, no entanto, são eles, agricultores familiares camponeses, que conformam os próprios territórios. QUADRO 15: Produção de sequeiro dos perímetros de irrigação do Ceará - 2008 PRODUÇÃO AGRÍCOLA (SEQUEIRO) DOS PERÍMETROS IRRIGADOS DO CEARÁ 2008 Perímetros Irrigados Área Área colhida (ha) Valor da produção (R$) cultivada (ha) Morada Nova 3.833,81 3.428,98 14.948.261,93 Jaguaribe – Apodi 5.171,75 3.778,00 12.405.233,90 Icó - Lima Campos 1.263,44 1.207,50 3.172.983,20 Baixo Acaraú 1.380,60 1.155,80 1.894.835,80 Curu – Paraipaba 627,01 528,99 974.822,80 Várzea do Boi 644,15 565,35 594.496,70 Tabuleiro de Russas 417,30 270,50 554.685,37 Curu - Pentecoste 201,60 167,40 441.229,89 Quixabinha 193,0 193,0 302.076,0 Jaguaruana 108,00 66,5 198.880,00 Forquilha 108,5 102,5 189.276,40 Araras Norte 86,10 68,40 39.100,00 Ema 60,00 48,00 22.001,00 Ayres de Souza * - - - Fonte: DNOCS, 2008. É nesse âmbito de conflitos entre as classes sociais, mas também a expressão da vida 91 , das trocas, da residência e da resistência, que ocorre a modernização da agricultura no Baixo Acaraú, onde as mudanças na terra de trabalho, trazidas pela terra de negócio (MARTINS, 1991) acentuam as desigualdades e contradições inerentes ao sistema capitalista, como veremos a seguir. 91 Para Milton Santos (2006, p. 14), “O território não é apenas o conjunto dos sistemas naturais e de sistemas de coisas superpostas; tem que ser entendido como o território usado, não o território em si. Fundamento do trabalho, lugar da residência, das trocas materiais e espirituais e do exercício da vida”.
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