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TEREZA SANDRA LOIOLA VASCONCELOS ... - Uece

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Para um dos nossos entrevistados, há a presença de três categorias, representados,<br />

pelo que sua fala indica, por agricultores familiares camponeses, pequenos capitalistas<br />

(microempresários) e empresários do agronegócio:<br />

Eu vejo três categorias na realidade. Primeiro aqueles que ganham dinheiro e não<br />

tem visão de comercialização e aí o atravessador chega e compra a preço de<br />

banana. Segundo aqueles que tem algum contato com Fortaleza e tem o seu<br />

caminhão e leva sua produção para Fortaleza ou ainda tem o seu lote agrícola e<br />

arrenda o lote vizinho. Terceiro aquelas pessoas que não vendem aqui. Tem<br />

irrigantes que você vai querer comprar e ele não vende não, porque já ta tudo<br />

vendido 87 .<br />

Assim, o território do perímetro irrigado estudado é a materialização do que<br />

conceitua Oliveira (2004, p. 40):<br />

O território deve ser apreendido como síntese contraditória, como totalidade<br />

concreta do modo de produção/distribuição/circulação/consumo e suas articulações<br />

e mediações supra-estruturais (políticas, ideológicas, simbólicas, etc.), em que o<br />

Estado desempenha a função de regulação. O território é, assim, efeito material da<br />

luta de classes travada pela sociedade na produção de sua existência. Sociedade<br />

capitalista que está assentada em três classes sociais fundamentais: proletariado,<br />

burguesia e proprietários de terra. Dessa forma, são as relações sociais de produção<br />

e a lógica contínua/contraditória de desenvolvimento das forças produtivas que dão<br />

a configuração histórica específica ao território. Logo, o território não é um prius<br />

ou um a priori, mas a contínua luta da sociedade pela socialização contínua da<br />

natureza.<br />

As frases propaladas pelos empresários concretizam o quadro de intensos conflitos<br />

e tamanhas disparidades no projeto de irrigação: “existe um certo preconceito com os<br />

empresários que vêem de fora. Explorados sempre iriam existir”, e, para os mesmos, se<br />

“existe terra, água e empréstimos bancários, o que falta então?” 88 .<br />

Para esses agentes produtores, “o tempo cuidará de separar o trigo do joio” 89 , ao<br />

referir-se a saída “natural” dos agricultores familiares camponeses do Perímetro Irrigado<br />

Baixo Acaraú, em que estes venderiam seus lotes agrícolas, tornando-se meros assalariados,<br />

por não conseguirem suportar a competitividade entre produtores.<br />

Essa concepção muito se assemelha à ideia central de Lênin (1981) da<br />

“diferenciação do campesinato”. Os agricultores desintegrar-se-iam, ante ao capitalismo,<br />

deixando de existir as suas formas características, ocorrendo a consequente<br />

“descampenisação”.<br />

Nos seus estudos sobre o “desenvolvimento do capitalismo na Rússia” para o<br />

início do século XX, bem como as suas repercussões na estrutura agrária daquele país,<br />

87 Entrevista realizada com funcionário do DIBAU, em abril/2009.<br />

88 Entrevista realizada com empresário do perímetro irrigado, em abril de 2009.<br />

89 Entrevista realizada com empresário, em agosto de 2009.

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