TEREZA SANDRA LOIOLA VASCONCELOS ... - Uece

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118 agricultores revelam, porém, que ficaram endividados, com valores exorbitantes no BNB, por não terem recebido o pagamento das vendas efetuadas: Até que plantamos o melão, eles [representantes do Estado] disseram: não, melão é uma beleza! Plantamos, todo mundo sem conhecimento mesmo, produzimos bastante. Depois que nós produzimos saiu para a Europa, num sei pra onde, pra esses centros de mundo, os “container”. Quando levaram o melão, depois apareceu uma conversa que tinha apodrecido, chegou lá e num tinha dado certo e até hoje acabou-se e nós que fizemos empréstimo no banco, ficamos na pior e hoje...hoje acho que cada um tá devendo mais de R$ 500.000 real no lote e os responsáveis pela venda foi o governo do estado, na época, e a Seagri, responsáveis pelas nossas vendas e num sei o que eles fizeram, que nós que ficamos endividados e acabou-se. Isso até hoje. Foram 43 produtores. Era a associação A.P.A. Com isso o pessoal foi esmorecendo, esmorecendo, tá com quase todo mundo os lotes aí desprezados. Aí vem a segunda etapa, aí eu digo: meu Deus do céu! Que quando falam da segunda etapa [do Perímetro Irrigado Baixo Acaraú] eu fico até arrepiado. Pra quê segunda etapa, se nós não ajeitamo essa primeira etapa. Tem segunda etapa pra quê? Se tá todo mundo “escaldado”?! [acréscimo nosso]. Vendemo muito melão, vendemo para exportação. Esse dinheiro, contar logo a verdade, ninguém se viu. Inventaram que a firma não tinha pagado esse melão, aí ninguém sabe como ficou. Ninguém recebeu esse dinheiro, nada! O primeiro plantio de melão, ninguém sabia aqui o que era melão, a gente só via pela televisão. A gente plantou aquele melão amarelinho, a gente se deu muito bem, deu melão mermo que a gente não tinha donde pisar. Só no primeiro melão eu fiz mais de R$ 60 mil real, só no primeiro melão. Esse dinheiro ninguém viu. Esse melão foi vendido para a Holanda, essa tal de “Dolly”. Uns diz que a firma não pagou e outros diz que a firma pagou, porque ela não ia se “sujar” com um negócio desse. A negada “comeram”. Aí ninguém sabe, quem “comeu”, quem não” comeu”, sabe? Porque ninguém tem prova, mas ninguém sabe quem foi, sabe que nós produzimo. A dívida do banco tá lá, num tem um que tenha condição de pagar. Botaram um juro alto. Acabaram com nois! Esse grupo de agricultores reassentados foi expropriado de suas terras, readaptando-se em novas formas de produzir, sob as quais são explorados pelo capital. Esse processo de expropriação e exploração acontece simultaneamente no território, um conduzindo ao outro (MARTINS, 1991). A comercialização é um dos entraves vividos pelos agricultores familiares camponeses e uma das vias para o processo de exploração, conforme expressa o agricultor: O projeto é muito bom, a irrigação é boa demais, o que planta produz bastante, comercialização é que num tem. Eu mesmo com 4 hectares de banana, tinha dias que eu chorava, descia água dos olhos, porque num tinha quem vendesse. Aí eu pegava chamava o pessoal e dava. Olha tinha gente lá que levava carrada cheia de banana e eu dizia: pode levar para vocês, que aqui num tem pra quem vender e eu num quero ver elas se perdendo 72 . 72 Entrevista realizada em dezembro de 2009, com agricultor do Perímetro Irrigado Baixo Acaraú.

Intermediários 119 Atualmente, seus produtos apenas chegam ao consumidor, por intermédio dos vendedores intermediários (atravessadores), provindos de paragens diversas (figura 28), estabelecendo os seus preços e os revendendo a custos superiores no mercado: Eu vendo de R$ 0,45 ao quilo de primeira e segunda qualidade. O bom é levar diretamente a produção, sem atravessador, porque o que “mata” é o atravessador 73 . Só deu pra atravessador. Eu conheci pessoa que começou com uma bicicleta e hoje tem é carro. Eu cheguei a ver vender “bila” de R$ 0,50 [melancia de 5 quilos a baixo] e aí eu ia pra rua tava vendendo de R$ 2,50 até 3,00. Quer dizer, só deu pra atravessador e o produtor indo de “água” abaixo 74 . [acréscimo nosso]. Tem atravessador todo dia na porta. Chega lá: rapaz tu quer R$ 10,00 num milheiro de banana, entendeu?Vem outro tu quer R$ 8,00 num milheiro de banana? É desse jeito! Atravessador é demais, todo dia nas portas. E nós vende, se não se acaba tudo! Os atravessador são daqui do município, vem gente de outros municípios. Vem gente de todo o canto. O lote produz muito, mas pra eles atravessador que é bom, pra atravessador que é muito barato, porque eles sabe que vendem muito bem 75 . FIGURA 28: Origem dos intermediários que atuam no Perímetro Irrigado Baixo Acaraú Origem dos intermediários no Perímetro Irrigado Baixo Acaraú 18 16 14 12 10 8 6 4 2 0 Localidades Marco-Ce Acaraú-Ce Fortaleza-Ce Teresina-Pi Sobral-Ce Jijoca-Ce Viçosa do Ceará-Ce Fonte: Elaborado por Vasconcelos, em pesquisa direta (2009). 73 Entrevista com o agricultor do Perímetro Irrigado Baixo Acaraú e vice-presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Marco, Manuel Valdir, em dezembro de 2009. 74 Entrevista realizada com agricultor do Perímetro Irrigado Baixo Acaraú, em dezembro de 2009. 75 Entrevista realizada com agricultor do Perímetro Irrigado Baixo Acaraú, em dezembro de 2009.

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agricultores revelam, porém, que ficaram endividados, com valores exorbitantes no BNB, por<br />

não terem recebido o pagamento das vendas efetuadas:<br />

Até que plantamos o melão, eles [representantes do Estado] disseram: não, melão<br />

é uma beleza! Plantamos, todo mundo sem conhecimento mesmo, produzimos<br />

bastante. Depois que nós produzimos saiu para a Europa, num sei pra onde, pra<br />

esses centros de mundo, os “container”. Quando levaram o melão, depois<br />

apareceu uma conversa que tinha apodrecido, chegou lá e num tinha dado certo e<br />

até hoje acabou-se e nós que fizemos empréstimo no banco, ficamos na pior e<br />

hoje...hoje acho que cada um tá devendo mais de R$ 500.000 real no lote e os<br />

responsáveis pela venda foi o governo do estado, na época, e a Seagri,<br />

responsáveis pelas nossas vendas e num sei o que eles fizeram, que nós que<br />

ficamos endividados e acabou-se. Isso até hoje. Foram 43 produtores. Era a<br />

associação A.P.A. Com isso o pessoal foi esmorecendo, esmorecendo, tá com quase<br />

todo mundo os lotes aí desprezados. Aí vem a segunda etapa, aí eu digo: meu Deus<br />

do céu! Que quando falam da segunda etapa [do Perímetro Irrigado Baixo<br />

Acaraú] eu fico até arrepiado. Pra quê segunda etapa, se nós não ajeitamo essa<br />

primeira etapa. Tem segunda etapa pra quê? Se tá todo mundo “escaldado”?!<br />

[acréscimo nosso].<br />

Vendemo muito melão, vendemo para exportação. Esse dinheiro, contar logo a<br />

verdade, ninguém se viu. Inventaram que a firma não tinha pagado esse melão, aí<br />

ninguém sabe como ficou. Ninguém recebeu esse dinheiro, nada! O primeiro<br />

plantio de melão, ninguém sabia aqui o que era melão, a gente só via pela<br />

televisão. A gente plantou aquele melão amarelinho, a gente se deu muito bem, deu<br />

melão mermo que a gente não tinha donde pisar. Só no primeiro melão eu fiz mais<br />

de R$ 60 mil real, só no primeiro melão. Esse dinheiro ninguém viu. Esse melão foi<br />

vendido para a Holanda, essa tal de “Dolly”. Uns diz que a firma não pagou e<br />

outros diz que a firma pagou, porque ela não ia se “sujar” com um negócio desse.<br />

A negada “comeram”. Aí ninguém sabe, quem “comeu”, quem não” comeu”,<br />

sabe? Porque ninguém tem prova, mas ninguém sabe quem foi, sabe que nós<br />

produzimo. A dívida do banco tá lá, num tem um que tenha condição de pagar.<br />

Botaram um juro alto. Acabaram com nois!<br />

Esse grupo de agricultores reassentados foi expropriado de suas terras,<br />

readaptando-se em novas formas de produzir, sob as quais são explorados pelo capital. Esse<br />

processo de expropriação e exploração acontece simultaneamente no território, um<br />

conduzindo ao outro (MARTINS, 1991).<br />

A comercialização é um dos entraves vividos pelos agricultores familiares<br />

camponeses e uma das vias para o processo de exploração, conforme expressa o agricultor:<br />

O projeto é muito bom, a irrigação é boa demais, o que planta produz bastante,<br />

comercialização é que num tem. Eu mesmo com 4 hectares de banana, tinha dias<br />

que eu chorava, descia água dos olhos, porque num tinha quem vendesse. Aí eu<br />

pegava chamava o pessoal e dava. Olha tinha gente lá que levava carrada cheia de<br />

banana e eu dizia: pode levar para vocês, que aqui num tem pra quem vender e eu<br />

num quero ver elas se perdendo 72 .<br />

72 Entrevista realizada em dezembro de 2009, com agricultor do Perímetro Irrigado Baixo Acaraú.

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