TEREZA SANDRA LOIOLA VASCONCELOS ... - Uece
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transformações que a agricultura feudal sofreu na sua transição para o capitalismo.<br />
Mais do que isso, esse camponês produtor de mercadorias, hoje ultra-especializado<br />
e com invejável capacidade produtiva, é produto do capitalismo, mas nem por isso<br />
um assalariado disfarçado ou um trabalhador a domicílio.<br />
O primordial na distinção entre a produção capitalista e a produção agrícola<br />
camponesa é o seu objetivo no processo de circulação. Na produção capitalista, o intuito é a<br />
acumulação e a reprodução do capital, sob a fórmula marxista D - M - D’, enquanto na<br />
produção camponesa essa fórmula inverte-se em M – D – M, ou seja, vender mercadorias,<br />
transformá-las em dinheiro, para comprar outras mercadorias, que ele não produz, necessárias<br />
a sua subsistência (OLIVEIRA, 2007).<br />
O trabalho, no processo produtivo, também é eminentemente familiar, entretanto,<br />
nos períodos de safra intensa, ocorre a eventual contratação de trabalhadores, geralmente da<br />
mesma comunidade, em que a troca é mediada por produtos agrícolas ou até mesmo na forma<br />
em dinheiro, no que observamos nas informações prestadas por um agricultor: “Eu moro<br />
dentro do lote para trabalhar, para produzir no lote. Eu trabalho no lote com minha família.<br />
Eu às vezes, quando tou muito aperriado, pago uma diária ou duas para desafogar um pouco,<br />
porque eu quero estar em dia com a água e energia” 67 .<br />
Os reassentados – aqueles que foram expropriados de suas terras e<br />
reterritorializados no projeto de irrigação – e os agricultores que, mediante suas economias ou<br />
auxiliados pelos empréstimos bancários, compraram lotes agrícolas, representam esses<br />
agricultores familiares camponeses.<br />
Diniz (2002, p. 50), para compreender os agricultores reassentados, quando se<br />
refere às suas áreas desapropriadas com a construção de perímetros irrigados 68 , tece os<br />
seguintes comentários:<br />
O Estado fez com que os irrigantes sofressem desterritorialização que, se dá em<br />
função de uma nova ordem, um novo modo de produzir, enfim, uma nova<br />
organização socioespacial, pois o ato de se desterritorializar significa uma perda do<br />
referencial, processada pela desarticulação cultural e social. Isso implica tanto a<br />
perda de identidade territorial como a criação de uma nova territorialidade ou<br />
reterritorialização.<br />
Para Raffestin (1993, p. 183), essa territorialidade, de que fala Diniz (2002), é<br />
expressa pela vida cotidiana, pelos hábitos, costumes e particularidades. Esse autor ainda<br />
considera que “destruir essa territorialidade é destruir toda uma simbologia cujo<br />
desaparecimento impede a manutenção de um diálogo com o meio espaço-temporal. É o fim<br />
67 Entrevista realizada em dezembro de 2009, com agricultor presente no Perímetro Irrigado Baixo Acaraú.<br />
68 Aldiva Sales Diniz produziu interessante trabalho de mestrado sobre o Perímetro Irrigado Icó - Lima Campos,<br />
localizado no interior do Ceará, em que discutiu o processo de desterritorialização motivado pela instalação do<br />
projeto.