relações entre valores individuais, valores organizacionais e ... - Ucg
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Percebe-se, por meio deste relato, que os <strong>valores</strong> <strong>organizacionais</strong> da Interprise se sobrepõem<br />
aos <strong>valores</strong> <strong>individuais</strong> de seus trabalhadores. A socialização secundária realizada com os trabalhadores faz<br />
com que sejam adaptados, isto é, submetidos e induzidos pela transmissão de uma série de conteúdos que<br />
dizem respeito, basicamente, aos objetivos fundamentais da organização, aos meios escolhidos para os<br />
alcançar, às responsabilidades dos membros e aos padrões comportamentais necessários para um<br />
desempenho eficaz, assim como a todo um conjunto de regras ou princípios relativos à conservação da<br />
identidade e integridade da organização.<br />
De acordo com Vala (1995), a socialização organizacional é um processo bidirecional: por um<br />
lado a organização procura influenciar e conduzir os indivíduos a comportamentos desejáveis e, por outro,<br />
eles reagem, transformando o que lhes é transmitido, procurando alterar o ambiente organizacional.<br />
Segundo Ravlim & Meglino (1991), é pouco provável que a socialização no ambiente de<br />
trabalho altere a estrutura básica de <strong>valores</strong> que o indivíduo traz para a organização.<br />
Para Lupi (1995), o sistema de <strong>valores</strong> de um indivíduo se constrói com o tempo e também se<br />
transforma. No entanto, ele considera que existe um núcleo de <strong>valores</strong> subjetivos adquiridos nos primeiros<br />
anos de vida, nas relações parentais, que são muito consistentes e duradouros.<br />
É provável que essa manifestação preferencial dos <strong>valores</strong> <strong>organizacionais</strong> sobre os <strong>valores</strong><br />
<strong>individuais</strong> dos trabalhadores da Interprise seja em função de se tratar de uma organização autocrática, isto é,<br />
o poder e a tomada de decisão são centralizados no mais alto chefe da organização, ou seja, o Governo, figura<br />
influenciadora e dominante, que maximiza metas, define o planejamento e a operacionalização.<br />
Contudo, essa relação de poder na Interprise, no passado, já foi pior quanto ao que acontece<br />
hoje. Às vezes, era extremamente autoritária em sua decisões, principalmente no que tange a demissões de<br />
trabalhadores, ocorridas na metade da década de 1990, e a processos impetrados contra a organização pelos<br />
seus trabalhadores. Era uma situação ambígua, pois nunca se sabia ao certo como agir, o que causava medo e<br />
aflição nos trabalhadores. Eis um trecho de <strong>entre</strong>vista que exemplifica tal situação:<br />
[...] ainda existe muito isso na Interprise. Coação, nós fomos coagidos, aí num processo aí, que nós<br />
tinha de hora extra, o pessoal foi todo coagido a desistir do processo (TS10).<br />
Dussalt (1992, p.13) comenta sobre esse poder externo das organizações públicas quando<br />
afirma que: “as organizações de serviços públicos dependem em maior grau do que as demais do ambiente<br />
sóciopolítico: seu quadro de funcionamento é regulado externamente à organização. Seu mandato vem do<br />
Governo, seus objetivos são fixados por uma autoridade externa.”<br />
Schwartz e Bardi (2001) realizaram uma pesquisa transcultural com objetivo de identificar<br />
similaridade na hierarquização de <strong>valores</strong>.<br />
Os resultados indicaram uma estrutura hierárquica de <strong>valores</strong> em que o tipo de valor<br />
Benevolência, consistentemente, emergiu no topo da hierarquia de <strong>valores</strong>, tendo sido atribuído a ele a<br />
maior média. O resultado dessa pesquisa combina com o encontrado aqui, porque segundo os autores, a<br />
importância dada a Benevolência é em razão de sua importância para as relações sociais. Este tipo de<br />
valor fornece a base motivacional para cooperação e apoio nas relações sociais. Os <strong>valores</strong> de<br />
Benevolência – prestativo, honesto, que perdoa, leal, responsável, uma vida espiritual, amizade