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Entendendo o Oriente Médio

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SOLUÇÃO PARA A PAZ<br />

ENTENDENDO O ORIENTE MÉDIO<br />

PAZ - Book AF.indb 1 01.06.09 15:01:43


Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)<br />

(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)<br />

Solução para a paz : entendendo o <strong>Oriente</strong> Médio / [organização: Comissão Nacional de Direitos Humanos;<br />

coordenação Abraham Goldstein] . – São Paulo : Associação Beneficente e Cultural B’nai B’rith do Brasil, 2009.<br />

Vários autores.<br />

Bibliografia.<br />

1. Conflito Árabe-Israelense 2. Judeus - História 3. <strong>Oriente</strong> Médio - Condições econômicas 4. <strong>Oriente</strong><br />

Médio - Condições sociais 5. <strong>Oriente</strong> Médio -História 6. Sionismo I. Comissão Nacional de Direitos Humanos.<br />

II. Goldstein, Abraham.<br />

09-04473 CDD-956<br />

Índice para catálogo sistemático:<br />

1. <strong>Oriente</strong> Médio : História 956<br />

Associação Beneficente e Cultural B´nai B´rith do Brasil<br />

Organização: Comissão Nacional de Direitos Humanos<br />

Coordenação: Abraham Goldstein<br />

Textos: Adriana Dias,<br />

Claudio Silberberg,<br />

Eric Calderoni,<br />

Gisele Valdstein,<br />

Lia Bergmann,<br />

Tounée Rosset<br />

Colaboração: José Simantob Netto<br />

Capa: Marcelo Seiko Higa<br />

Projeto gráfico e diagramação: DG<br />

Impressão: Gráfica SKY<br />

ISBN: 978-85-62655-00-5<br />

1.ª edição publicada em junho de 2009.<br />

Reprodução permitida desde que citada a fonte.<br />

Associação Beneficente e Cultural B´nai B´rith do Brasil<br />

Rua Caçapava, 105 – CEP: 01408-010 – São Paulo – SP<br />

Tel.: (11)3082-5844<br />

www.bnai-brith.org.br<br />

PAZ - Book AF.indb 2 01.06.09 15:01:45


“Todas as pessoas nascem livres e iguais em<br />

dignidade e direitos. São dotadas de razão<br />

e consciência e devem agir em relação umas<br />

às outras com espírito de fraternidade.”<br />

Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948)<br />

Apoiamos a excelente iniciativa de divulgação deste<br />

material que inspira a paz e a coexistência em homenagem<br />

às vítimas da violação dos direitos humanos.<br />

FUNDAÇÃO FILANTRÓPICA ARYMAX<br />

PAZ - Book AF.indb 3 01.06.09 15:01:46


SUMÁRIO<br />

PAZ - Book AF.indb 4 01.06.09 15:01:46


SUMÁRIO<br />

1 <strong>Oriente</strong><br />

2 Israel:<br />

3 O<br />

4 O<br />

5 A<br />

6 Os<br />

7 Solução<br />

8 Linha<br />

Médio: o que é e onde fica 6<br />

Lia Bergmann<br />

3.700 anos de história 17<br />

Lia Bergmann<br />

Islã: 1.300 anos de história 25<br />

Lia Bergmann<br />

antissemitismo a partir do século XIX e o Holocausto 34<br />

Adriana Dias<br />

independência do Estado de Israel contemporâneo<br />

e sua realidade hoje 45<br />

Lia Bergmann, Gisele Valdstein e Claudio Silberberg<br />

judeus nos principais países da Liga Árabe 59<br />

Tounée Rosset<br />

para a paz: dois Estados para dois povos 71<br />

Eric Calderoni<br />

do tempo: Terra de Israel e principais eventos<br />

mundiais 92<br />

Lia Bergmann<br />

PAZ - Book AF.indb 5 01.06.09 15:01:46


1<br />

CAPÍTULO<br />

ORIENTE MÉDIO: O QUE É<br />

E ONDE FICA<br />

Introdução<br />

Ponto de convergência das três grandes religiões da atualidade – judaísmo,<br />

cristianismo e islamismo –, o <strong>Oriente</strong> Médio é uma área geográfica que engloba<br />

países do sudoeste da Ásia e do nordeste da África. Grande parte deles é banhada<br />

pelo Mar Vermelho, Mar Mediterrâneo, Golfo Pérsico, Mar Negro e Mar Cáspio.<br />

Vamos conhecer melhor essa região, que abriga grande diversidade étnica, cultural,<br />

social e política, como se depreende das tabelas 1 e 2, com dados básicos<br />

e essenciais sobre cada um dos países do <strong>Oriente</strong> Médio, território marcado por<br />

conflitos políticos e religiosos que só podem ser compreendidos à luz da realidade<br />

histórica e geográfica.<br />

Para começar, encontramos diferentes conceituações sobre quais países fazem<br />

parte do <strong>Oriente</strong> Médio. Não há fronteiras definidas e consensuais. Alguns<br />

autores falam em treze países, outros afirmam que são dezesseis, e outros ainda<br />

estendem mais, por afinidade cultural e política, a abrangência da região.<br />

Os primeiros historiadores e geógrafos europeus modernos dividiram o<br />

<strong>Oriente</strong> em três partes, de acordo com a distância que as separam da Europa:<br />

Extremo <strong>Oriente</strong> (China, Japão etc.), <strong>Oriente</strong> Médio e <strong>Oriente</strong> Próximo. Hoje os<br />

dois últimos são sinônimos, e o nome <strong>Oriente</strong> Médio, que começou a ser usado<br />

depois de 1900, se afirmou durante a Segunda Guerra Mundial.<br />

Vamos considerar <strong>Oriente</strong> Médio os Estados que correspondem ao Platô Persa:<br />

Irã; à antiga Mesopotâmia: Iraque; à Península Arábica: Arábia Saudita, Kuwait,<br />

Iêmen, Omã, Bahrein, Catar, Emirados Árabes Unidos (EAU); ao Levante: Israel,<br />

Jordânia, Líbano e Síria; à Anatólia: Turquia; ao norte da África: Egito; e ao Mar<br />

Mediterrâneo: Chipre 1 .<br />

Embora não sejam um Estado legalmente constituído, temos os territórios<br />

palestinos, que incluem a Faixa de Gaza, controlada hoje pelo grupo extremista<br />

palestino Hamas, e a Cisjordânia, sob o controle da Autoridade Nacional Palestina,<br />

formada majoritariamente por membros do Fatah (veja Capítulo 3).<br />

Para ter uma ideia das dimensões, os países situados na costa do Mar Mediterrâneo<br />

– Israel, Líbano, Jordânia e Síria – têm uma área equivalente à do Estado<br />

do Maranhão. As nações localizadas no Golfo Pérsico – Kuwait, Bahrein, Catar e<br />

Emirados Árabes Unidos – possuem, ao todo, uma área pouco menor que a do<br />

Estado de Pernambuco. Mas há também países como o Irã, cujo tamanho é pouco<br />

maior do que todo o Nordeste brasileiro, ou a Arábia Saudita, maior do que<br />

a Amazônia, que possui cerca de 1.600.000 km 2 . Em comparação, o Estado de<br />

Israel é menor do que Sergipe: tem apenas 20.700 km 2 .<br />

1 Cia. World Factbook 2008.<br />

Lia Bergmann<br />

6<br />

PAZ - Book AF.indb 6 01.06.09 15:01:46


Conforme é possível verificar na Tabela 1, o <strong>Oriente</strong> Médio corresponde a uma área superior<br />

a 7.000.000 km 2 , tem mais de 350 milhões de habitantes e apresenta grande diversidade<br />

de população.<br />

Os grupos étnicos mais numerosos da região são os árabes, concentrados, principalmente,<br />

na Arábia Saudita, Bahrein, Catar, Emirados Árabes Unidos (EAU), Iêmen, Iraque, Jordânia,<br />

Kuwait, Líbano, Omã e Síria; os turcos, encontrados basicamente na Turquia e em Chipre; e os<br />

iranianos ou persas, no Irã. Os minoritários incluem os judeus (Israel), curdos e palestinos.<br />

Como vemos também na Tabela 1, a independência de muitos países do <strong>Oriente</strong> Médio<br />

se deu após 1940, com o fim do domínio dos ingleses e franceses na região, o que legitimou<br />

o surgimento dos novos Estados. Assim, com exceção de pequenas nações da Península<br />

Arábica, independentes após 1971, a maior parte dos países do <strong>Oriente</strong> Médio obteve sua<br />

independência do Reino Unido e da França depois da década de 1940.<br />

Nos dias de hoje, o <strong>Oriente</strong> Médio possui grande importância política e econômica no<br />

mundo, por sua posição estratégica no globo e por suas reservas de petróleo.<br />

O mapa a seguir e os dados da tabela 1 mostram as dimensões dos diversos Estados que<br />

compõem o <strong>Oriente</strong> Médio, dando uma ideia do que representa o tamanho de Israel em<br />

meio aos países árabes que o rodeiam e/ou fazem parte da Liga Árabe.<br />

Dimensões de Israel e dos países árabes.<br />

http://cheekymax.blogspot.com/2006/07/max-on-middle-east.html<br />

ORIENTE MÉDIO: O QUE É E ONDE FICA<br />

7<br />

PAZ - Book AF.indb 7 01.06.09 15:01:46


SOLUÇÃO PARA A PAZ<br />

Tabela 1 – Países do <strong>Oriente</strong> Médio e dados básicos sobre<br />

sua composição 2<br />

População<br />

Nome do país Área em km 2 (em milhões)<br />

Governo<br />

Arábia Saudita 2.149.690 25,3 Monarquia<br />

Islâmica<br />

(reinado)<br />

Bahrein 720 0,766 Monarquia<br />

Constitucional<br />

Ano da<br />

Capital<br />

independência<br />

Riad 1932<br />

Manama 1971<br />

Catar 11.521 0,856 Monarquia Doha 1971<br />

Chipre 9.251 0,864 República Nicósia 1960<br />

Presidencialista<br />

Egito 1.001.449 76,8 República Cairo 1923<br />

Presidencialista<br />

Emirados 83.600 4,5 Federação de Abu Dhabi 1971<br />

Árabes Unidos<br />

Monarquias<br />

Islâmicas<br />

(emirados)<br />

Iêmen 527.968 23,1 República mista Sanaa 1918<br />

Irã 1.648.195 72,2 República<br />

Islâmica<br />

Presidencialista<br />

Iraque 434.128 29,5 País sob<br />

ocupação<br />

Israel 20.700 7 República<br />

Parlamentarista<br />

Jordânia 88.778 6,1 Monarquia<br />

Parlamentarista<br />

Kuwait 17.818 2,9 Monarquia<br />

Islâmica<br />

(emirado)<br />

Líbano 10.400 4,1 República<br />

Parlamentarista<br />

Omã 309.500 2,7 Monarquia<br />

Islâmica<br />

(sultanato)<br />

Síria 185.180 20,4 Ditadura militar<br />

desde 1970<br />

Turquia 783.562 75,8 República<br />

Parlamentarista<br />

Teerã 1921<br />

Bagdá 1932<br />

Jerusalém 1948<br />

Amã 1946<br />

Cidade do<br />

Kuwait<br />

1961<br />

Beirute 1941<br />

Mascate 1951<br />

Damasco 1946<br />

Ancara 1922<br />

Comparativo com números do Brasil<br />

Nome do país Área (em km 2 )<br />

População<br />

(em milhões)<br />

Governo<br />

Brasil 8.514.876 194,2 República<br />

Presidencialista<br />

Capital<br />

Ano da<br />

independência<br />

Brasília 1822<br />

2 UNDP – United Nations Development Program/Human Development Report 2007/2008.<br />

8<br />

PAZ - Book AF.indb 8 01.06.09 15:01:47


ENTENDENDO O ORIENTE MÉDIO<br />

1<br />

Tabela 2 – Dados essenciais para compreender os países<br />

do <strong>Oriente</strong> Médio 3<br />

Nome<br />

do país<br />

Mortalidade<br />

Fecundidade Expectativa Expectativa<br />

Renda per<br />

infantil Analfabetismo<br />

(filhos por de vida de vida<br />

IDH* capita (em<br />

(mortes %<br />

mulheres) – homens – mulheres<br />

dólares)<br />

por mil)<br />

3,3 71 75,4 19 17 0,812 13.980<br />

Arábia<br />

Saudita<br />

Bahrein 2,27 74,4 77,6 11 13,5 0,866 19.350<br />

Chipre 1,6 76,6 81,7 6 3,2 0,903 23,27<br />

Egito 2,87 69,3 73,8 29 28,6 0,708 1.360<br />

Emirados 2,28 77,2 81,5 8 11,3 0,868 26.210<br />

Árabes<br />

Unidos<br />

Iêmen 5,44 61,3 64,6 58 45,9 0,508 760<br />

Irã 2,02 69,5 72,8 30 17,6 0,759 2.930<br />

Iraque 4,21 58,4 62,1 79 – – –<br />

Israel 2,73 78,7 82,9 5 2,9 0,932 20.170<br />

Jordânia 3,08 70,9 74,6 19 8,9 0,773 2.650<br />

Kuwait 2,17 76,1 79,9 8 6,7 0,891 30.630<br />

Líbano 2,19 69,9 74,3 22 11,7 0,772 5.580<br />

Omã 2,95 74,3 77,6 12 18,6 0,814 11.120<br />

Catar 2,64 75,3 76,5 8 11 0,875 80.900<br />

Síria 3,04 72,4 76,2 16 19,2 0,724 1.560<br />

Turquia 2,13 69,5 74,7 27 12,6 0,798 5.400<br />

1ORIENTE MÉDIO: O QUE É E ONDE FICA<br />

Comparativo com números do Brasil<br />

Mortalidade<br />

Fecundidade Expectativa Expectativa<br />

Renda per<br />

Nome<br />

infantil Analfabetismo<br />

(filhos por de vida de vida<br />

IDH* capita (em<br />

do país<br />

(mortes<br />

%<br />

mulheres) – homens – mulheres<br />

dólares)<br />

por mil)<br />

Brasil 2,23 68,9 76,2 23 11,4 0,8 4.710<br />

* Índice de Desenvolvimento Humano.<br />

3 UNDP – United Nations Development Program/Human Development Report 2007/2008.<br />

9<br />

PAZ - Book AF.indb 9 01.06.09 15:01:47


SOLUÇÃO PARA A PAZ<br />

Países do <strong>Oriente</strong> Médio<br />

ARÁBIA SAUDITA – 2.149.690 km 2<br />

O Reino da Arábia Saudita localiza-se na Ásia. O país tem fronteiras com Jordânia, Iraque,<br />

Kuwait, Catar, Emirados Árabes Unidos, Omã e Iêmen. Está situado na Península Arábica, da<br />

qual ocupa grande parte. Sua capital é Riad, e a língua falada no território é o árabe. O regime<br />

de governo adotado é o de monarquia absoluta, e sua independência foi declarada em<br />

janeiro de 1926. O país ocupa uma área de 2.149.690 km 2 , onde vivem mais de 25 milhões<br />

de pessoas. É o país de origem da religião islâmica; por causa disso, milhões de seguidores<br />

se dirigem às duas cidades sagradas todos os anos, Medina e Meca.<br />

BAHREIN – 720 km 2<br />

O Reino do Bahrein, que significa Reino dos Dois Mares, é um arquipélago formado por<br />

mais de trinta ilhas e ilhotas que fica no Golfo Pérsico, tendo a leste a Arábia Saudita e a<br />

noroeste o Catar. A maior das ilhas é a “dhkle Bahrein”, com 16 km de extensão no sentido<br />

leste-oeste e 48 km no sentido norte-sul. Uma estrada liga a ilha principal às de Muharraq e<br />

Sitra, e, em 1986, foi inaugurada a ponte que faz a ligação do Bahrein com a Arábia Saudita.<br />

O país tem superfície total de 720 km². A população é predominantemente muçulmana<br />

(81,2%), dividida em xiitas 4 (55%) e sunitas 5 (45%); entre as minorias há 9% de cristãos,<br />

uma grande comunidade de iranianos e uma pequena comunidade judaica. Sua riqueza<br />

econômica deriva do petróleo e das pérolas. A religião oficial do regime monárquico constitucional<br />

é o islamismo.<br />

CHIPRE – 9.251 km 2<br />

A República do Chipre é um país insular situado no lado oriental do Mar Mediterrâneo,<br />

a leste da Grécia, a oeste do Líbano, Síria e Israel, ao sul da Turquia e ao norte do Egito. Atrai<br />

mais de 2,4 milhões de turistas por ano. Tornou-se uma república independente em 1960,<br />

passando a fazer parte da União Europeia em 2004. Sua população é formada majoritariamente<br />

por gregos (70%), e as principais religiões são grega ortodoxa (78%) e muçulmana<br />

(18%).<br />

4 Xiitas – Defensores de que Ali, primo e genro do profeta Mohamed (Maomé), era seu sucessor. São maioria no<br />

Irã. Veja mais no Capítulo 3.<br />

5 Sunitas – Seguidores da “suna” (prática) do profeta Mohamed, tal como relatado por seus companheiros. Representam<br />

85% dos muçulmanos. Veja mais no Capítulo 3.<br />

10<br />

PAZ - Book AF.indb 10 01.06.09 15:01:48


ENTENDENDO O ORIENTE MÉDIO<br />

1<br />

EGITO – 1.001.449 km 2<br />

A República Árabe do Egito é um país do norte da África que inclui também a Península<br />

do Sinai, na Ásia, o que o torna um Estado transcontinental. Limita-se a oeste com a Líbia,<br />

ao sul com o Sudão e a leste com a Faixa de Gaza e Israel. O litoral norte é banhado pelo Mar<br />

Mediterrâneo; o litoral oriental, pelo Mar Vermelho; e a Península do Sinai, pelos golfos de<br />

Suez e de Acaba. Sua capital é a cidade do Cairo. O Egito é um dos países mais populosos da<br />

África. A grande maioria dos 76,8 milhões de habitantes vive nas margens do Rio Nilo, a<br />

única área cultivável do país, com cerca de 40.000 km 2 . Em 2000, o índice de analfabetismo<br />

era de mais de 44% da população; hoje, é de 28,6%. A religião controla vários aspectos da<br />

vida social, como em outros estados árabes, tendo apoio na legislação. Embora com 90% de<br />

muçulmanos, o Egito possui a maior comunidade cristã do <strong>Oriente</strong> Médio (cerca de 10%<br />

da população, dos quais 90% são da Igreja Católica Ortodoxa, Igreja Ortodoxa Copta de<br />

Alexandria, Igreja Evangélica Copta e denominações protestantes coptas).<br />

1ORIENTE MÉDIO: O QUE É E ONDE FICA<br />

EMIRADOS ÁRABES UNIDOS – 83.600 km 2<br />

Os Emirados Árabes Unidos (EAU) situam-se no sudoeste da Ásia, têm costa no Golfo<br />

de Omã e no Golfo Pérsico e fronteiras com Omã e Arábia Saudita. Sua localização estratégica<br />

no Estreito de Ormuz faz com que sejam um ponto de trânsito vital para o petróleo<br />

bruto mundial. Consistem em uma federação de sete emirados (Abu Dhabi, Dubai, Sharjah,<br />

Ajman, Umm al-Qaiwain, Ra’s al-Khaimah e Fujairah) e foi oficialmente estabelecida em<br />

dezembro de 1971. O Sheikh Khalifa bin Zayed Al Nahyan foi eleito presidente dos EAU<br />

em novembro de 2004, após a morte do Sheikh Zayed bin Sultan Al Nahyan, que governou<br />

o país desde a fundação do Estado. Cada emirado tem as próprias instituições de governo,<br />

e foi estabelecida uma Constituição provisória determinando os poderes que deveriam ser<br />

atribuídos às novas instituições federais, respeitando as particularidades de cada emirado. O<br />

novo regime de governo inclui o Conselho Supremo, o Gabinete ou Conselho de Ministros,<br />

o Conselho Nacional Federal (Parlamento) e o Poder Judiciário.<br />

IÊMEN – 527.968 km 2<br />

A República do Iêmen (Al-Jumhuriya al-Yamaniya) tem uma população de mais de 23<br />

milhões de pessoas, a maioria de árabes iemenitas, e os demais divididos em outros árabes,<br />

afro-árabes e sul-asiáticos. Possui uma forma mista de governo, e sua capital é Sanaa. O<br />

idioma oficial é o árabe, e a religião de Estado, o islamismo. A maioria de seus habitantes<br />

(99,9%) se divide em sunitas (53%) e xiitas (46,9%). Localiza-se a sudoeste da Ásia. Há liberdade<br />

de culto, existindo até uma pequena comunidade judaica, mas, a exemplo de outros<br />

países muçulmanos conservadores, o proselitismo é considerado ilegal. Sua independência<br />

foi conquistada em 1918. Possui grande nível de analfabetismo (45,9% da população) e índice<br />

de mortalidade infantil de 58 por mil. A unificação política do Iêmen do Sul (regime republicano,<br />

de orientação marxista) e do Norte (república constitucional) se deu em 1990.<br />

11<br />

PAZ - Book AF.indb 11 01.06.09 15:01:48


SOLUÇÃO PARA A PAZ<br />

IRÃ – 1.648.195 km 2<br />

A República Islâmica do Irã é um país asiático que se limita ao norte com a Armênia, o<br />

Azerbaijão, o Turcomenistão e o Mar Cáspio, a leste com o Afeganistão e o Paquistão, a oeste<br />

com o Iraque e a Turquia e ao sul com o Golfo de Omã e o Golfo Pérsico. A capital é Teerã<br />

e a língua oficial, o persa. Conhecido no Ocidente até 1935 como Pérsia, o país passou a<br />

ser chamado de Irã, que significa “terra dos arianos” (no sentido étnico do termo). O islamismo<br />

xiita é a religião oficial e compreende 89% da população. A Constituição iraniana<br />

reconhece três minorias religiosas: os zoroastrianos, os judeus e os cristãos. Os bahá’is são<br />

perseguidos e muçulmanos que se convertem a outra religião são instados a ser mortos pelos<br />

próprios parentes.<br />

A história moderna do Irã começa em 1921, com o golpe militar liderado por Reza Khan<br />

(1878-1944) contra o governo da dinastia Kajar. Em 1925, foi proclamado xá da Pérsia,<br />

denominando-se Shah Reza Pahlevi. Em 1935, mudou o nome do país para Irã. Em 1941,<br />

o país foi ocupado por forças britânicas e soviéticas e Reza Pahlevi abdicou do poder em<br />

nome de seu filho, Mohamed Reza Pahlevi (1919-1980), que se voltou para o Ocidente. Em<br />

1951, o primeiro-ministro Mohammad Mossadegh (1882-1967) nacionalizou o petróleo<br />

iraniano, contrariando interesses ingleses e norte-americanos e iniciando um confronto<br />

com o xá, que deixou o país. Em 1953, sob influência dos Estados Unidos, o governo de<br />

Mossadegh foi derrubado. Em 1975, instituiu-se o unipartidarismo no Irã, o que, somado<br />

às perseguições promovidas pelo governo, intensificou a oposição dos muçulmanos xiitas,<br />

que condenavam a ocidentalização do país. Em 1977, os protestos se intensificaram e os<br />

manifestantes exigiram a volta do aiatolá Ruhollah Khomeini (1902-1989), líder religioso<br />

xiita exilado do Irã desde 1963. Após inúmeros confrontos, Khomeini retornou ao país,<br />

enquanto o xá fugia para o exterior. O aiatolá assumiu o poder, e o Irã tornou-se uma república<br />

islâmica que estimula o fanatismo religioso, consagra o terrorismo e prega a guerra<br />

santa contra os opositores do regime, sobretudo os Estados Unidos, vistos como a causa dos<br />

males do planeta.<br />

IRAQUE – 438.317 km 2<br />

Com uma população de cerca de 30 milhões de habitantes, o Iraque é um país em que<br />

predominam os muçulmanos (97%), 32% a 37% deles sunitas. Os demais englobam minorias<br />

religiosas: cristãos (católicos, ortodoxos), bahá’is e outros. A antiga Mesopotâmia<br />

foi o berço de importantes culturas, como a dos sumérios, babilônios, caldeus e assírios,<br />

dos quais resta apenas uma pequena minoria. Depois, esteve sob domínio persa, grego e<br />

romano. Nos séculos VIII e IX, constituiu-se em expressivo centro do Império Árabe. Bagdá,<br />

sua capital, foi fundada pelos árabes em 762, mas o atual Iraque surgiu na década de 1920,<br />

após o desmembramento do Império Turco-Otomano, tornando-se a partir de 1932 uma<br />

monarquia independente do Mandato Britânico.<br />

Em 1958, a monarquia foi derrubada por um general, que instaurou um regime nacionalista.<br />

A partir desse ano, a descoberta do petróleo e a presença curda no Norte provocaram<br />

golpes de Estado, revoltas e massacres de milhares de curdos (1974-1975). Em 1979, com<br />

um golpe de Estado, o vice-presidente Saddam Hussein assumiu a presidência, transforman-<br />

12<br />

PAZ - Book AF.indb 12 01.06.09 15:01:48


ENTENDENDO O ORIENTE MÉDIO<br />

1<br />

do-se em ditador. Em 1980, o Iraque invadiu o Irã, com o apoio de potências ocidentais e<br />

árabes, temerosas de que a revolução fundamentalista do aiatolá Khomeini se expandisse em<br />

outros países petrolíferos. A guerra durou oito anos e deixou 300 mil iraquianos e 400 mil<br />

iranianos mortos. Em 1990, o Iraque invadiu o Kuwait, anexando-o como a décima nona<br />

província, mas, após tentativas diplomáticas fracassadas para que se retirasse de lá, o país foi<br />

invadido, em janeiro de 1991 (Guerra do Golfo), por uma coalizão de trinta nações liderada<br />

pelos Estados Unidos. Em poucos dias de guerra, estima-se que o número de mortes tenha<br />

sido de 100 mil soldados e 7 mil civis iraquianos, 30 mil kuwaitianos e 610 soldados norte-<br />

-americanos e aliados. Saddam iniciou uma guerra de represália contras os separatistas curdos<br />

do Norte. Foram impostas ao Iraque uma série de sanções, como a proibição da venda<br />

de petróleo, e uma missão de inspetores internacionais para fiscalizar se estaria fabricando<br />

armas de destruição em massa. Em março de 2003, o país foi invadido pela “coalizão” formada<br />

pelos Estados Unidos, Reino Unido e outras nações. Em 1.º de maio, o governo do<br />

partido Ba’ath foi destituído e o presidente Saddam Hussein, deposto. Capturado em 14 de<br />

dezembro de 2004, foi julgado e morto, ao mesmo tempo que se dava início ao processo<br />

de transição de poderes à população iraquiana. As línguas faladas no Iraque hoje são o árabe<br />

(oficial), curdo, turcomano, siríaco, caldeu e armênio.<br />

1ORIENTE MÉDIO: O QUE É E ONDE FICA<br />

ISRAEL – 20.700 km 2<br />

O Estado de Israel está localizado no oeste da Ásia, ao longo da costa oriental do Mar<br />

Mediterrâneo, limitando-se ao norte com o Líbano, a leste com a Síria e a Jordânia, ao sul<br />

com o Egito e a oeste com o Mar Mediterrâneo. Está situado no ponto de encontro de três<br />

continentes: a Europa, a Ásia e a África. Com sua forma longa e estreita, o país tem 470 km<br />

de comprimento (ou seja, pouco mais do que a distância entre as cidades de São Paulo e<br />

do Rio de Janeiro) e mede 135 km em seu ponto mais largo (o que corresponde a pouco<br />

mais do que a distância de São Paulo às cidades paulistas de Americana ou Santos). Embora<br />

pequeno em tamanho, Israel apresenta a variedade topográfica de um continente, e nele se<br />

encontram desde montanhas cobertas de florestas e verdes vales férteis até desertos montanhosos;<br />

a planície costeira e o vale do Jordão semitropical, sem falar no Mar Morto, o ponto<br />

mais baixo da Terra. Aproximadamente metade da área do país é semiárida, sendo um dos<br />

poucos do <strong>Oriente</strong> Médio que não possuem petróleo.<br />

Só para ter uma ideia, Israel possui uma área de 20.700 km², menor do que o Estado de<br />

Sergipe ou o equivalente a três vezes a área da Grande São Paulo. As principais cidades são:<br />

Jerusalém, Tel-Aviv e Haifa. Conta com um clima mediterrâneo e a densidade demográfica<br />

é de 299 hab./km 2 . Israel é uma democracia, com liberdade religiosa e de expressão. Veja<br />

mais dados no Capítulo 5.<br />

13<br />

PAZ - Book AF.indb 13 01.06.09 15:01:48


SOLUÇÃO PARA A PAZ<br />

JORDÂNIA – 88.778 km 2<br />

A Jordânia limita-se ao norte com a Síria, a leste com o Iraque, a leste e ao sul com a<br />

Arábia Saudita e a oeste com o Golfo de Acaba (através do qual faz fronteira marítima com<br />

o Egito), Israel e Cisjordânia. Sua capital é Amã. Possui 88.778 km 2 e mais de 6 milhões de<br />

habitantes. Em 1946, foi criado o Reino Hashemita da Transjordânia, após a saída dos britânicos<br />

da região. Mais de 70% do território do Mandato Britânico da Palestina, a leste do Rio<br />

Jordão, era conhecido como Transjordânia. Em 1950, passou a se denominar Jordânia. Na<br />

Guerra da Independência de Israel, o país anexou a Samaria e Judeia, território conhecido<br />

como Cisjordânia, reconquistado em 1967 pelos israelenses e hoje sob administração da<br />

Autoridade Palestina.<br />

KUWAIT – 17.818 km 2<br />

Esse pequeno país limita-se ao norte e a oeste com o Iraque, a leste com o Golfo Pérsico,<br />

do outro lado do qual se estendem as costas do Irã, e ao sul com a Arábia Saudita. Sua capital<br />

também se chama Kuwait. A forma de governo é o emirado, sendo o chefe de Estado designado<br />

por emir ou xeque. É dominado quase totalmente por desertos.<br />

LÍBANO – 10.400 km 2<br />

A República Libanesa foi criada em 1926 e se tornou Estado independente em 1941.<br />

Hoje possui mais de 4 milhões de habitantes. Sua capital é Beirute. Limita-se ao sul com<br />

Israel, ao norte e a leste com a Síria e a oeste com o Mar Mediterrâneo.<br />

OMÃ – 309.500 km 2<br />

O país margeia o Mar da Arábia, o Golfo de Omã e o Golfo Pérsico, entre o Iêmen e os<br />

Emirados Árabes Unidos. É composto por árabes, balúchis, sul-asiáticos (da Índia, Paquistão,<br />

Sri Lanka e Bangladesh) e africanos, que em sua maioria são muçulmanos ibaditas (75%),<br />

dividindo-se o restante (25%) em muçulmanos sunitas, xiitas e hindus. O idioma oficial é<br />

o árabe.<br />

14<br />

PAZ - Book AF.indb 14 01.06.09 15:01:48


ENTENDENDO O ORIENTE MÉDIO<br />

1<br />

CATAR – 11.521 km 2<br />

Monarquia árabe, situa-se na pequena Península de Catar, no Golfo Pérsico e em algumas<br />

ilhas ao redor. Tem apenas pequenas fronteiras terrestres ao sul, com os Emirados Árabes<br />

Unidos e a Arábia Saudita. As fronteiras marítimas são com o Irã, ao norte, e com o Bahrein,<br />

a oeste. O país, cuja capital é Doha, possui 11.521 km 2 . Independente desde 1971, rico em<br />

petróleo e gás natural, possui a maior renda per capita do mundo: US$ 80.900 (2007). Sua<br />

taxa de mortalidade infantil é de oito por mil, equivalente, no <strong>Oriente</strong> Médio, à dos Emirados<br />

Árabes Unidos e à do Kuwait e maior apenas do que a de Israel, que é de cinco por mil.<br />

O islamismo é a religião predominante: 10,13% são sunitas e 80,7%, xiitas. A maioria dos<br />

que não são cidadãos vem do sul e do sudeste da Ásia e de países árabes como trabalhadores<br />

temporários em empregos sob contrato, em alguns casos acompanhados pela família. Entre<br />

eles há também cristãos, hindus, budistas e bahá’is.<br />

1ORIENTE MÉDIO: O QUE É E ONDE FICA<br />

SÍRIA – 185.180 km 2<br />

As principais cidades da República Árabe da Síria são Alepo, Damasco (capital) e Homs.<br />

O país tem 20 milhões de habitantes, entre árabes sírios, curdos, circassianos, turcos e armênios.<br />

A religião da maioria da população é o islamismo (74% sunitas e 12% xiitas); 8,9% são<br />

cristãos e 3% são drusos. A forma de governo é república presidencialista (ditadura militar<br />

desde 1970).<br />

TURQUIA – 783.562 km 2<br />

A República da Turquia fica no sudeste europeu e sudoeste da Ásia. Faz fronteira com oito<br />

países: Bulgária a noroeste, Grécia a oeste, Geórgia a nordeste, Armênia, Irã e Azerbaijão a<br />

leste e Iraque e Síria a sudeste. É banhada pelos mares Negro, ao norte, Egeu e de Mármara,<br />

a oeste, e Mediterrâneo, ao sul. Sua capital é Ancara. Segundo sua Constituição, a Turquia<br />

é uma república democrática, secular e constitucional, cujo sistema político foi estabelecido<br />

em 1923, após o fim do Império Otomano. Embora apenas uma pequena parte de seu<br />

território fique na Europa, busca tornar-se membro pleno da União Europeia. Possui uma<br />

localização geográfica estratégica, controlando o Estreito de Bósforo, o Mar de Mármara e o<br />

Estreito de Dardanelos, que ligam o Mar Negro e o Mar Egeu. A Turquia e os Estados que a<br />

antecederam no local foram uma ponte entre as culturas ocidental e oriental e o centro de<br />

diversas grandes civilizações.<br />

15<br />

PAZ - Book AF.indb 15 01.06.09 15:01:48


SOLUÇÃO PARA A PAZ<br />

TERRITÓRIO PALESTINO<br />

Conforme acordos estabelecidos internacionalmente, mas não aceitos na integralidade<br />

pelos representantes dos palestinos, o território está distribuído em duas regiões:<br />

• Cisjordânia 6 – Com área de 5.860 km 2 , tem cerca de 2,5 milhões de habitantes, entre os<br />

quais 75% são muçulmanos sunitas, 17% judeus e 8% cristãos e outros. Sua capital administrativa<br />

é Ramalah. Hoje a região está sob o controle político da Autoridade Nacional<br />

Palestina (ANP), comandada pelo Fatah e apoiada pela Organização das Nações Unidas e<br />

seus principais membros.<br />

• Faixa de Gaza 7 – Ocupa uma área de 360 km 2 e possui cerca de 1,5 milhão de habitantes<br />

(2007), sendo 99,3% muçulmanos e 0,7% cristãos. Sua principal cidade chama-se Gaza<br />

e tem sido controlada, desde 2005, pelo Hamas, partido de oposição ao Fatah. O Hamas<br />

é um movimento fundamentalista islâmico intolerante, considerado pela União Europeia<br />

e pelos Estados Unidos uma organização terrorista.<br />

Os palestinos têm renda per capita de US$ 1.100 por ano.<br />

Lia Bergmann Formada em História pela Universidade de São Paulo e jornalista com pós-graduação pela Faculdade<br />

Cásper Líbero, Lia Bergmann é assessora de comunicação e de direitos humanos da B’nai B’rith do Brasil. Este Capítulo<br />

contou com a colaboração dos demais autores desta obra. Agradecimento especial a Adriana Dias, que elaborou as<br />

tabelas 1 e 2.<br />

6 Dados da Folha Online.<br />

7 Dados do jornal Folha de S.Paulo.<br />

16<br />

PAZ - Book AF.indb 16 01.06.09 15:01:48


2<br />

ISRAEL: 3.700 ANOS<br />

DE HISTÓRIA<br />

Lia Bergmann<br />

CAPÍTULO<br />

“Sábio é aquele que aprende com todos os homens.” (Pirkei Avot 4,1 1 )<br />

Introdução<br />

A Terra de Israel está ligada indissoluvelmente ao povo judeu. Foi onde a história<br />

desse povo teve início, há 3.700 anos, e durante todos esses séculos nela se<br />

manteve presente. Mesmo quando escravizados, expulsos, vivendo no exílio ou<br />

na Diáspora (dispersão), os judeus nunca se esqueceram de sua terra e sempre<br />

sonharam com o retorno. Apesar de essa região ter sido ocupada por numerosos<br />

conquistadores, nenhum outro povo ali viveu de forma independente ou a considerou<br />

o centro de sua existência nacional.<br />

Apenas 1.700 anos depois do estabelecimento dos judeus na Terra de Israel,<br />

esta foi conquistada pelos árabes, no século VII d.C., ou seja, 700 anos depois<br />

do nascimento de Jesus e 400 do advento do cristianismo. Jesus nasceu, viveu e<br />

morreu como judeu, na época do domínio romano.<br />

A Terra de Israel recebeu diversos nomes no decorrer do tempo. Na Antiguidade<br />

era chamada de Canaã, depois de Judeia 2 , a terra dos judeus (de Judá), e<br />

muito mais tarde, sob o domínio romano, no século I d.C., foi denominada pela<br />

primeira vez Palestina. Na época, era a pátria dos judeus, habitantes majoritários<br />

da Judeia, e, portanto, o termo “palestino” se referia aos judeus que lá nasciam<br />

e moravam. Mesmo assim, nos séculos seguintes a região era conhecida como<br />

Terra Santa ou Terra de Israel.<br />

A cidade de Jerusalém se tornou a capital da Terra de Israel há cerca de 3 mil<br />

anos, com o rei David, e até hoje nunca foi a capital de outro povo que não o<br />

judeu. É mencionada mais de setecentas vezes nas Escrituras Sagradas (Bíblia<br />

– Antigo Testamento), mas aparece apenas uma vez no Corão, o livro sagrado dos<br />

muçulmanos. É a cidade mais sagrada para o judaísmo e a terceira para o islamismo,<br />

depois de Meca e Medina. Em todas as orações os judeus se voltam para<br />

Jerusalém; os muçulmanos, para Meca. Hoje, é uma cidade sagrada para judeus,<br />

cristãos e muçulmanos, que têm seus locais históricos e de culto preservados<br />

pelas autoridades israelenses.<br />

1 Pirkei Avot – Ética dos Pais. 5. ed. São Paulo: B’nai B’rith do Brasil, 1990. O texto foi escrito há mais<br />

de 2 mil anos.<br />

2 Judeia (do latim Judaea, Terra de Judá) – O nome aparece no tempo dos macabeus, passando, em<br />

62 a.C., a designar toda a Palestina. Em 153 d.C., após a derrota da revolta judaica de Bar Kochba,<br />

foi rebatizada de Palestina pelos romanos. Judeia também se aplica à parte meridional do país.<br />

17<br />

PAZ - Book AF.indb 17 01.06.09 15:01:48


SOLUÇÃO PARA A PAZ<br />

Para o povo judeu, a própria cidade é santa. Escolhida por Deus em sua aliança com<br />

David, Jerusalém é a essência e o centro da existência e continuidade espiritual e nacional<br />

judaicas. Há quase 2 mil anos os judeus se voltam na direção de Jerusalém e do Monte do<br />

Templo quando rezam, onde quer que estejam.<br />

Assim como os muçulmanos devem peregrinar para Meca, o Muro Ocidental, conhecido<br />

como Muro das Lamentações (remanescente do Segundo Templo de Jerusalém) por ser o local<br />

mais sagrado do judaísmo, é o lugar de peregrinação (como era na Antiguidade) nas três<br />

principais festas do calendário religioso judaico: Pessach (fim da escravidão do Egito), Shavuot<br />

(Pentecostes, a “Festa das Semanas”) e Sucot (Festa da Colheita). No Pessach, a narrativa que<br />

lembra a libertação dos judeus da escravidão no Egito termina com as seguintes palavras:<br />

“No ano que vem em Jerusalém”.<br />

Na Terra de Israel o povo judeu formou sua identidade cultural, religiosa e nacional e nela<br />

manteve ininterruptamente sua presença física. Mesmo depois da Diáspora, o exílio forçado,<br />

não deixou de ter forte ligação com sua terra, cuja independência foi recuperada em 1948.<br />

Durante esse período sempre houve comunidades judaicas na Terra de Israel.<br />

A presença dos judeus na Terra de Israel<br />

Período bíblico (século XVIII a.C.)<br />

A Bíblia, em especial o Antigo Testamento, é uma das principais fontes de conhecimento<br />

sobre a origem do povo judeu, também conhecido como hebreu ou israelita. A ela se<br />

somam fontes da antropologia histórica, como a geografia, a climatologia e a arqueologia<br />

bíblica, com importantes descobertas, entre elas a dos Manuscritos de Qumran, ou Pergaminhos<br />

do Mar Morto, datados do século I a.C., e outras que atestam a presença judaica na<br />

região do <strong>Oriente</strong> Médio, ou ainda os relatos do historiador Flávio Josefo, na época do rei<br />

Herodes (40-4 a.C.), que descreve, em minúcias, o Segundo Templo de Jerusalém, o local<br />

mais sagrado para os judeus.<br />

De acordo com o primeiro livro bíblico, o Gênesis, há quase 4 mil anos Abraão, o patriarca<br />

do povo judeu, se estabelece em Canaã, respondendo ao chamado de um Deus único, e,<br />

com seus descendentes, dá início à história da religião judaica. José Jobson de A. Arruda e<br />

Nelson Piletti, em Toda a História, descrevem: “Pesquisadores afirmam que, por volta do século<br />

XVIII a.C., os hebreus teriam chegado a seu destino (a Terra Prometida)”.<br />

Em torno de 1800 a.C., a seca força os judeus a emigrar para o Egito, onde passam por<br />

400 anos de escravidão. Após a revolta conduzida por Moisés para a libertação de seu povo,<br />

tem início o Êxodo, provavelmente em 1250 a.C. Os judeus vagam durante quarenta anos no<br />

deserto antes de chegar a Canaã, quando então é criada a nação de Israel. Pelos 2 mil anos<br />

seguintes, Israel estará sob a soberania ou administração judaica.<br />

Em 1020 a.C., estabelece-se a monarquia e, em 1000 a.C., o rei David torna Jerusalém a<br />

capital do reino (este, na época, fazia fronteira com o Egito e o Mar Vermelho e se estendia<br />

até as margens do Rio Eufrates, onde hoje é o Iraque). Ao sucedê-lo, o rei Salomão constrói<br />

o Primeiro Templo de Jerusalém, que se tornará o centro da vida nacional e religiosa do<br />

povo judeu.<br />

18<br />

PAZ - Book AF.indb 18 01.06.09 15:01:48


ENTENDENDO O ORIENTE MÉDIO<br />

2<br />

2ISRAEL: 3.700 ANOS DE HISTÓRIA<br />

A fé judaica: a vida é o bem mais sagrado<br />

A fé judaica tem origem no chamado divino que leva Abraão a deixar<br />

sua terra natal, indo para Canaã, e a transformar-se no pai de uma nação.<br />

Após a libertação do Egito, os judeus vagam por quarenta anos no deserto,<br />

e durante essa peregrinação Moisés recebe no Monte Sinai as Tábuas da Lei,<br />

ou os Dez Mandamentos, um código de leis, de conduta e de ensinamentos<br />

que constitui a base espiritual do povo judeu. Os Dez Mandamentos valorizam<br />

a verdade e a vida acima de tudo e se tornam a base da ética do mundo<br />

ocidental. A ideia de um Deus único – o monoteísmo – adotada pelos judeus<br />

foi uma verdadeira revolução na sociedade, que até então cultuava ídolos,<br />

tornando-se mais tarde também a base do cristianismo e do islamismo.<br />

A experiência religiosa judaica é descrita em uma série de livros sagrados.<br />

O mais importante deles é a Torá, composta pelos cinco livros de Moisés, os<br />

primeiros livros do Antigo Testamento, ou Pentateuco. A Torá é lida diariamente,<br />

até os dias de hoje, nos serviços religiosos nas sinagogas.<br />

O termo “sinagoga” começou a ser empregado após a destruição do Primeiro<br />

Templo de Jerusalém pelos babilônios, passando a ser um espaço destinado<br />

às orações das comunidades judaicas dispersas.<br />

Da Torá surgiu, mil anos depois, um largo corpo de tradições rabínicas,<br />

o Talmud, lei oral que trata de assuntos legais, éticos e históricos. Obra enciclopédica<br />

de grande envergadura, foi elaborada durante oito séculos (de<br />

300 a.C. até 500 d.C.). O mais popular é o Talmud Babilônico, publicado na<br />

Babilônia em 499 a.C. O Talmud de Jerusalém foi compilado no final do século<br />

III a.C.<br />

O judaísmo é uma religião sem um sistema dogmático, que valoriza o livre-arbítrio<br />

de cada indivíduo. Tem como princípios fundamentais o Tikkun<br />

Olam, a ideia de que Deus criou o mundo e cabe ao homem melhorá-lo<br />

– portanto, é missão do ser humano fazer deste um mundo melhor para todos<br />

– e a Tzedaká, justiça social e ajuda ao próximo. Outra máxima judaica é:<br />

“Não faças aos outros o que não queres que façam a ti mesmo”.<br />

Para o judaísmo, a vida é sagrada e está acima de tudo; todas as tradições<br />

podem deixar de ser observadas para salvar um ser humano e mesmo<br />

um animal.<br />

Segundo a tradição judaica, Deus criou o mundo em seis dias e no sétimo<br />

descansou. Por isso, o sétimo dia, o Shabat, é santificado. Nesse dia todos<br />

devem descansar. Na Antiguidade, quando existia escravidão, os servos e os<br />

animais também tinham garantido seu dia de descanso. A cada sete anos, a<br />

terra tinha de permanecer um ano sem uso, e os cantos das plantações não<br />

deviam ser colhidos, para que os necessitados pudessem se alimentar. Essas<br />

foram as primeiras leis de direitos humanos do mundo.<br />

A sobrevivência do povo judeu e do judaísmo é um fenômeno ímpar. Com<br />

todas as perseguições e reveses, há 3.700 anos os judeus vêm mantendo suas<br />

tradições e sua fé inabalável em um Deus único, um Deus de bondade, de<br />

amor e de justiça.<br />

Como já dito, Jerusalém, onde estão situados o Monte do Templo e o<br />

Muro Ocidental (Muro das Lamentações), é a cidade sagrada do judaísmo.<br />

19<br />

PAZ - Book AF.indb 19 01.06.09 15:01:48


SOLUÇÃO PARA A PAZ<br />

Períodos persa e helenístico (586-142 a.C.)<br />

O reino de Israel se organiza em doze tribos e divide-se em dois: Israel e Judá. Israel é<br />

devastado pelos assírios e Judá conquistado pelos babilônios em 586 a.C, quando o Templo<br />

de Jerusalém é destruído e os judeus levados como escravos para a Babilônia.<br />

Depois, o rei persa Ciro permite que os judeus retornem do exílio para a Terra de Israel.<br />

Durante quatrocentos anos, mesmo sob o domínio dos persas e depois dos gregos, há uma<br />

independência e um renascimento nacional, com o país sendo dirigido segundo as leis judaicas.<br />

Reconstrói-se o Templo de Jerusalém (Segundo Templo) e cria-se a Haguedolá (Grande<br />

Assembleia), que é hoje o Knesset, o Parlamento do Estado de Israel.<br />

Em termos comparativos, é bom lembrar que o Brasil não tem, ainda, duzentos anos de<br />

independência, o que demonstra como é histórica a presença judaica na Terra de Israel.<br />

A partir do século III a.C., com a assimilação da língua e dos gêneros literários gregos,<br />

muitos textos judaicos também são traduzidos. O mais importante é, sem dúvida, a mais<br />

antiga tradução da Bíblia hebraica para o grego, a chamada LXX, que continha o Pentateuco<br />

(os cinco livros de Moisés ou os livros das leis), datada de 285 a.C.<br />

Império Romano (63 a.C.-313 d.C.)<br />

A Terra de Israel torna-se província do Império Romano. Nasce Jesus de Nazaré, cujos ensinamentos,<br />

tais como se encontram reunidos nos Evangelhos, dão origem ao cristianismo<br />

(Concílio de Niceia, em 325 d.C., na atual Turquia), que também é uma religião monoteísta.<br />

Jesus viveu e morreu como judeu, tendo os romanos escrito em sua cruz “INRI”, sigla<br />

em latim que significa “Jesus de Nazaré, Rei dos Judeus”. À semelhança do judaísmo e do<br />

islamismo, o cristianismo é considerado uma religião abraâmica, ou seja, originária do patriarca<br />

Abraão.<br />

No ano 70 d.C., o general romano Tito (depois imperador) arrasa Jerusalém e destrói o<br />

Segundo Templo. Tem início uma nova Diáspora (dispersão), em que os judeus se espalham<br />

pelo mundo. Mesmo assim, as instituições políticas, econômicas e espirituais da comunidade<br />

judaica continuarão existindo na Terra de Israel por, pelo menos, mais trezentos anos.<br />

Em um esforço para apagar as marcas da milenar presença judaica na região, após sufocar<br />

uma revolta dos judeus em 153 d.C., o imperador romano Adriano muda o nome da Terra<br />

de Israel, então chamada de Judeia (a terra dos judeus ou de Judá), para Palestina e proíbe o<br />

acesso dos judeus à antiga Jerusalém.<br />

No entanto, monges, médicos, viajantes, historiadores romanos, judeus e muçulmanos,<br />

entre outros, relatam os percalços das gerações de judeus que lá permaneceram durante<br />

quase 2 mil anos, a despeito das inúmeras perseguições étnicas e religiosas, das invasões e<br />

conquistas, sem nunca deixar o solo sagrado nem se esquecer de sua Jerusalém, de Sion, na<br />

qual foram proibidos de entrar em diversos períodos de sua história. E, segundo cronistas<br />

de várias épocas, sempre houve uma comunidade judaica ao pé do Monte do Templo, em<br />

Jerusalém 3 .<br />

3 BAHAR, Vinte Séculos de Vida Judaica na Terra de Israel - As Gerações Esquecidas.<br />

20<br />

PAZ - Book AF.indb 20 01.06.09 15:01:49


ENTENDENDO O ORIENTE MÉDIO<br />

2<br />

Na Terra de Israel ou na Diáspora, o anseio de voltar a Jerusalém permanece vivo nas<br />

orações, na literatura, no coração e na alma dos judeus em todos os tempos. É preciso ressaltar,<br />

também, que, se não fossem as invasões romanas e de outros impérios, Israel teria<br />

hoje 3 mil anos.<br />

Uma obra muito importante para a compreensão da história de Israel dessa época foi<br />

escrita pelo historiador Flávio Josefo, nascido em Jerusalém em 37 ou 38 a.C. Na famosa<br />

História dos Hebreus, ele descreve a Torá como o grande código cultural, moral, social e político<br />

dos judeus. Posteriormente, Josefo se alia aos romanos, mas seu livro é um relato interpretativo<br />

da presença dos judeus na Terra de Israel durante o Império Romano.<br />

2ISRAEL: 3.700 ANOS DE HISTÓRIA<br />

Império Bizantino (313-636)<br />

Nesse período, o cristianismo torna-se a religião de Estado e o Sinédrio (corte de Justiça<br />

judaica) é abolido, sendo construídas inúmeras igrejas em Belém, em Jerusalém e na Galileia.<br />

Os judeus que permaneceram em sua terra passam por diversas fases, umas com florescimento<br />

de vida cultural e religiosa e outras com muitas dificuldades, incluindo a destruição<br />

de sinagogas, perseguições e a proibição de visitar Jerusalém.<br />

Período árabe (639-1099)<br />

Sete anos após a morte do profeta Mohamed, criador do islamismo, a região foi conquistada<br />

pelos muçulmanos. No início, os judeus tinham garantia de vida e de propriedade,<br />

além de liberdade de culto. Depois vieram as restrições aos não muçulmanos, e os judeus<br />

foram obrigados a deixar suas propriedades nas áreas rurais, passando a viver nas cidades<br />

ou abandonando o país. Os judeus foram, portanto, expropriados e expulsos pelos árabes.<br />

A região nunca foi exclusivamente árabe. O idioma árabe tornou-se o mais falado ali depois<br />

das invasões muçulmanas do século VII. Essas permitiram a construção do Império Otomano<br />

em todo o <strong>Oriente</strong> Médio.<br />

Cruzadas (1099-1291)<br />

As Cruzadas foram expedições militares, em nome da Igreja Católica, realizadas na Idade<br />

Média contra o domínio do Islã, combatendo os “infiéis”, denominação dada na época aos<br />

que não fossem cristãos. A Primeira Cruzada, ordenada pelo papa Urbano II, para libertar Jerusalém,<br />

teve início em 1095. Os cruzados tomaram a cidade em 1099, dizimando também<br />

a população judaica local. Formou-se o Reino Latino dos Cruzados. Com a abertura das rotas<br />

de transporte da Europa, multiplicaram-se as peregrinações à Terra Santa e muitos judeus<br />

retornaram a sua pátria, entre eles trezentos rabinos da França e da Inglaterra. Em 1187,<br />

quando o exército muçulmano de Saladino derrotou os cruzados, foi possível aos judeus<br />

voltar a morar em Jerusalém, onde permaneceram até a chegada dos mamelucos.<br />

21<br />

PAZ - Book AF.indb 21 01.06.09 15:01:49


SOLUÇÃO PARA A PAZ<br />

Período mameluco (1291-1516)<br />

Os mamelucos, casta militar muçulmana que conquistou o poder no Egito, passaram a<br />

dominar a Terra de Israel, transformando-a em província arrasada, com a sede de governo<br />

em Damasco, que é hoje a capital da Síria. No final da Idade Média, com a destruição dos<br />

portos de Acco e Yafo (Jafa), além de epidemias, pragas e terremotos, os judeus viveram em<br />

total penúria.<br />

Império Otomano (1517-1917)<br />

Em seu auge, o Império Otomano compreendia a Anatólia, o <strong>Oriente</strong> Médio, parte do<br />

norte da África e do sudeste europeu. Sua capital era a cidade de Constantinopla, tomada<br />

do Império Bizantino em 1453. Sob o domínio otomano, que durou quatrocentos anos,<br />

a região recebeu melhorias e incentivo à imigração judaica. Safed era um centro têxtil, de<br />

intensa atividade intelectual e de estudo da Cabala (mística judaica). Com o declínio do<br />

Império Otomano, a região ficou novamente abandonada, no final do século XVIII. Áreas<br />

produtivas transformaram-se em deserto ou pântano. No século XIX, houve uma revitalização,<br />

com rotas marítimas regulares, e a abertura do Canal de Suez, que tornaram a região um<br />

ponto comercial. Em 1860, a população de Jerusalém extrapolou seus muros, estabelecendo<br />

a Cidade Nova, com mais sete bairros. Em 1880, a população judaica constituía a maioria<br />

local. Em todo o país, terras compradas se transformaram em colônias rurais (kibutzim 4 ) e o<br />

hebraico voltou a ser a língua falada no cotidiano. No final do século XIX, começou nova<br />

onda de imigração de judeus para a Terra de Israel, fugindo dos massacres e da discriminação<br />

que estavam sofrendo na Europa, especialmente na Rússia.<br />

Mandato Britânico (1918-1948)<br />

Com o declínio do Império Otomano, no século XIX, e<br />

após a Primeira Guerra Mundial, na qual foi derrotado, seu<br />

território foi dividido entre potências europeias, vencedoras<br />

da guerra, que passaram a exercer mandatos na região.<br />

O Mandato Francês foi exercido sobre o que na época era<br />

denominado Síria, que englobava tanto a atual Síria como o<br />

que é hoje o Líbano, enquanto o Mandato Britânico se estendeu<br />

sobre a Terra de Israel (na época chamada Palestina) e<br />

o Iraque. No mapa ao lado, é possível observar como estava<br />

dividida a região na segunda década do século XX.<br />

Em 1917, a Grã-Bretanha aprovou a Declaração Balfour,<br />

comprometendo-se com a criação de uma pátria judaica na<br />

Terra de Israel. Em 1922, a Sociedade das Nações atribuiu a<br />

administração da Terra de Israel ao Reino Unido da Grã-Breta-<br />

4 Kibutzim (plural de kibutz, que em hebraico significa “reunir”) – Colônias comunitárias em Israel, no início predominantemente<br />

agrícolas.<br />

22<br />

PAZ - Book AF.indb 22 01.06.09 15:01:49


ENTENDENDO O ORIENTE MÉDIO<br />

2<br />

-nha e Irlanda do Norte, que de fato já vinha administrando-a desde 1917. Nesse ano, a Grã-<br />

-Bretanha decidiu dividir a Terra de Israel em Emirado Hashemita da Transjordânia (atual<br />

Jordânia, que se tornou independente em 1946, pouco antes de Israel) e Palestina, tendo o<br />

Rio Jordão por fronteira.<br />

Apenas após a Segunda Guerra Mundial e com as evidências do Holocausto praticado pela<br />

Alemanha nazista contra os judeus, a Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas<br />

aprovou o estabelecimento na região de dois Estados, um judeu e um árabe. A Resolução<br />

181, de 20 de novembro de 1947, em sessão presidida pelo embaixador brasileiro Osvaldo<br />

Aranha, foi aprovada por 33 votos a 13 e ficou conhecida como “Partilha da Palestina”.<br />

2ISRAEL: 3.700 ANOS DE HISTÓRIA<br />

Cópia da ata da votação da Partilha da Palestina e criação do Estado de Israel<br />

contemporâneo 5 .<br />

5 BAHAT, Vinte Séculos de Vida Judaica na Terra de Israel - As Gerações Esquecidas.<br />

23<br />

PAZ - Book AF.indb 23 01.06.09 15:01:49


SOLUÇÃO PARA A PAZ<br />

Bibliografia sugerida<br />

ARRUDA, José Jobson de A.; PILETTI Nelson. Toda a História. 13. ed. São Paulo: Ática, 2007.<br />

BAHAT, Dan. Vinte Séculos de Vida Judaica na Terra de Israel – As gerações esquecidas. São Paulo:<br />

B’nai B’rith do Brasil, 2002.<br />

BEREZIN, Rifka (Org.). Caminhos do Povo Judeu. São Paulo: Vaad Hachinuch, 1982.<br />

BLECH, Benjamin. Judaísmo. São Paulo: Sêfer, 2004.<br />

EBBAN, Aba. História do Povo de Israel. Rio de Janeiro: Bloch, 1971.<br />

Enciclopédia Judaica.<br />

GRANADOS, Jorge Garcia. Assim Nasceu Israel. São Paulo: Sêfer, 2008.<br />

“Israel: 4.000 anos de história”. Revista da Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Israel, São<br />

Paulo, 2001.<br />

Revista Shalom.<br />

UNTERMAN, Alan. Dicionário Judaico – Lendas e tradições. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1999.<br />

WOOL, Danny; YUDIN, Yefin. O Ano Judaico. São Paulo: Sêfer, 2007.<br />

Sites<br />

Estudos Bíblicos: http://www.panoramabiblico.blogspot.com.<br />

Estudos Judaicos: http://www.estudosjudaicos.blogspot.com.<br />

História das Religiões e Religiosidades: http://www.religioesereligiosidades.blogspot.com<br />

Língua Hebraica: http://www.linguahebraica.blogspot.com.<br />

Lia Bergmann Formada em História pela Universidade de São Paulo e jornalista com pós-graduação pela Faculdade<br />

Cásper Líbero, Lia Bergmann é assessora de comunicação e de direitos humanos da B’nai B’rith do Brasil.<br />

24<br />

PAZ - Book AF.indb 24 01.06.09 15:01:52


3<br />

O ISLÃ: 1.300 ANOS<br />

DE HISTÓRIA<br />

CAPÍTULO<br />

Lia Bergmann<br />

A Península Arábica antes do islamismo<br />

A geografia da Ásia possui três grandes penínsulas: a Indochina, a Índia e a<br />

Arábia. A Península Arábica, localizada no sudoeste asiático, é o centro de confluência<br />

de três continentes. É uma unidade geográfica na forma de um trapézio,<br />

com cerca de 2.590.000 km 2 , e, atualmente, está dividida nos seguintes Estados:<br />

Arábia Saudita, Bahrein, Emirados Árabes Unidos, Catar, Kuwait, Omã e Iêmen.<br />

Limita-se ao norte com a Jordânia e o Iraque, a leste com os golfos Pérsico e de<br />

Omã, ao sul com o Mar da Arábia (Oceano Índico) e a oeste com o Mar Vermelho.<br />

O território, que foi denominado pelos historiadores de Região Pré-Islâmica, situa-se<br />

numa área desértica, e suas características<br />

impediram o desenvolvimento da<br />

agricultura; por conta disso, a população<br />

que povoou essa região do século II ao<br />

VI dedicou-se, quase exclusivamente, ao<br />

pastoreio. É importante salientar que, durante<br />

todo esse período não houve nesse<br />

lugar um poder político centralizado,<br />

originado na região, que, sob o Império<br />

Romano, na época de Trajano, foi dividida<br />

em três grandes grupos: a Arábia Pétrea, a<br />

Arábia Desértica e a Arábia Feliz.<br />

• A Arábia Pétrea foi assim denominada por causa de suas características geológicas:<br />

situada ao norte, era uma região muito escarpada, com inúmeras colinas<br />

rochosas e muitos desfiladeiros. Todas as caravanas vindas do sul em<br />

direção ao Mar Mediterrâneo passavam por essa região, que, nos relatos dos<br />

viajantes e exploradores, muitas vezes era tratada como muito perigosa, em<br />

razão de suas dificuldades naturais.<br />

• A Arábia Desértica correspondia à parte da região habitada por tribos de<br />

nômades denominados beduínos. Esses grupos, dedicados ao pastoreio, reuniam-se<br />

em torno de poços e oásis e, por conta de muitas disputas, nas quais<br />

guerreavam entre si e contra os impérios Romano e Persa, eram tidos como<br />

belicosos. Eram politeístas e costumavam guardar objetos de adoração de seus<br />

deuses em Meca. Cada tribo adorava seus ancestrais com imagens. O deus<br />

principal era Alá, simbolizado pela “pedra negra”, que, segundo eles, havia<br />

sido enviada dos céus. Seu principal elemento de sobrevivência era o camelo,<br />

animal do qual retiravam seu alimento (leite e carne) e vestimentas (feitas<br />

com o pelo).<br />

25<br />

PAZ - Book AF.indb 25 01.06.09 15:01:52


SOLUÇÃO PARA A PAZ<br />

• A Arábia Feliz (em latim, Arabia Felix) era um território da Ásia que correspondia aos<br />

atuais Iêmen e Omã, formada por tribos sedentárias cujas principais atividades econômicas<br />

eram a agrícola e a mercantil, nas regiões litorâneas da Península Arábica. Na<br />

Antiguidade, a Arábia Feliz se diferenciou como grande exportadora de mirra. A água<br />

nessa região, ao contrário das outras duas, não era escassa, tendo sido muito aproveitada<br />

no cultivo dos campos.<br />

A unificação política – Mohamed (570-632)<br />

Mohamed (Maomé) nasceu em Meca, parte de uma linhagem pobre da tribo coraixita,<br />

e dele surgiu uma nova religião, o islamismo, que garantiu a unidade política à Arábia. Mohamed<br />

era órfão e foi criado por um avô e um tio. Aos 20 anos, quando começou sua vida<br />

de pastor, empregou-se na caravana de uma rica viúva chamada Kadidja. Mais tarde ela se<br />

tornaria sua esposa. Durante suas caravanas, conheceu as duas grandes religiões monoteístas<br />

da época – o judaísmo e o cristianismo –, das quais retirou elementos para fundar uma nova<br />

religião monoteísta.<br />

O islamismo acredita que, depois de um período de isolamento no deserto, Mohamed<br />

recebeu mensagens de Deus, por intermédio do Arcanjo Gabriel. Nessas mensagens, Deus<br />

desaprovava o politeísmo idólatra, fonte de disputas entre os árabes, e defendia o monoteísmo<br />

instituído na submissão a Alá e na leitura rigorosa do Corão, livro sagrado dos muçulmanos.<br />

Por conta de conflitos econômicos, os coraixitas de Meca receavam que a nova<br />

religião reduzisse as inúmeras peregrinações à Caaba, prejudicando assim seus negócios.<br />

Mohamed sofreu ameaças e acabou expulso de Meca em 622 (essa data é considerada muito<br />

importante para os muçulmanos e demarca o início do calendário islâmico), dirigindo-se<br />

para a cidade de Yatreb, episódio conhecido como Hégira (fuga).<br />

Rapidamente Mohamed atraiu uma legião de adeptos que, em 630, conquistou Meca.<br />

Surgia a religião monoteísta imposta pelos adeptos de Mohamed, elemento determinante<br />

para a unificação política da região. É importante salientar: Mohamed, além de chefe religioso,<br />

também era chefe político dos árabes. Em 632, com a morte de Mohamed, os califas<br />

seguidores do profeta passaram a governar em seu lugar.<br />

A expansão do islamismo<br />

No final do século VII, motivada por seu enorme crescimento demográfico, a população<br />

islâmica utilizou como justificativa para a expansão territorial um preceito religioso: para<br />

eles, todo seguidor de Mohamed deveria agir como um guerreiro encarregado de levar a fé a<br />

todos os “infiéis” (o que recebeu o nome de jihad). Comandados pelos califas, os seguidores<br />

dessa religião expandiram seus locais de domínio por vastas áreas do Mediterrâneo, até serem<br />

detidos na Europa por Carlos Martel, do reino franco, em 732. Durante quase mil anos<br />

controlaram a navegação e o comércio no Mediterrâneo, bloqueando o acesso dos europeus<br />

ao comércio com o <strong>Oriente</strong>. Em meados do século VIII, o Império Islâmico começou a dar<br />

os primeiros sinais de decadência. Isso se deveu a vários fatores: primeiro, porque as diversas<br />

dinastias muçulmanas brigavam pelo poder dos califados, e, quando a dinastia principal,<br />

a Omíada, responsável pelo apogeu expansionista, foi substituída pela dinastia dos Abássidas,<br />

o Império foi totalmente fragmentado, em califados independentes. Houve também o<br />

26<br />

PAZ - Book AF.indb 26 01.06.09 15:01:53


ENTENDENDO O ORIENTE MÉDIO<br />

3<br />

grande movimento das Cruzadas, ciclo de lutas religiosas e econômicas, iniciado no século<br />

X pelos cristãos, que tentava derrotar os muçulmanos, o que contribuiu para fragilizar o<br />

Império. Por fim, os turco-otomanos, recém-convertidos ao islamismo, guerrearam com os<br />

árabes pelo domínio político e econômico da região mediterrânea.<br />

A expansão islâmica e suas divisões<br />

Para entender a expansão islâmica, é importante perceber a assimilação que essa cultura<br />

fez de muitos elementos de diversas culturas e das outras duas religiões monoteístas: o judaísmo<br />

e o cristianismo. No campo das ciências, os muçulmanos desenvolveram pesquisas<br />

na matemática, aprimorando a álgebra e a geometria e criando o sistema numérico, na astronomia<br />

e na química. Muitas foram suas contribuições para a cultura universal.<br />

No entanto, diversos conflitos se sucederam após a morte do profeta, em 632, quando,<br />

em inúmeros confrontos, surgiram os sunitas, seguidores da tradição do profeta, a suna,<br />

e os xiitas, partidários de Ali, primo e genro de Mohamed, que o consideravam seu único<br />

herdeiro legítimo.<br />

A fé islâmica<br />

O mais importante fundamento da fé islâmica é a crença rigorosa no monoteísmo. Cada<br />

capítulo do Corão (com exceção de um) principia com a frase “Em nome de Deus, o beneficente,<br />

o misericordioso”. O islamismo destaca seis grandes elementos cruciais de fé:<br />

1. A crença em Alá (Allah), único Deus existente.<br />

2. A crença nos Anjos, seres criados por Alá.<br />

3. A crença nos Livros Sagrados (o Livro de Ibrahim, que se perdeu, a Lei de Moisés, ou<br />

seja, a Torá, os Salmos de David, denominados Zabur, e o Evangelho de Jesus, chamado<br />

Injil). O Corão, para o islamismo, é o último e mais completo livro sagrado, que completa<br />

todos os outros, e é o registro dos preceitos revelados por Alá ao profeta Mohamed.<br />

É o livro que os muçulmanos acreditam ser a palavra literal de Deus (Alá) revelada ao<br />

profeta Mohamed ao longo de um período de 22 anos. A palavra “Corão” procede do<br />

verbo árabe que denota a ideia de declamar ou recitar; Corão, ou Alcorão, é, portanto,<br />

uma “recitação” ou algo que deve ser recitado.<br />

4. A crença em vários profetas enviados à humanidade. Personagens bíblicos bem conhecidos,<br />

como Adão, Noé, Abraão, Moisés, Jesus, Maria (a mãe de Jesus) e João Batista, são<br />

mencionados no Corão como profetas do Islã, dos quais Mohamed é o último e mais<br />

importante.<br />

5. A crença no dia do Julgamento Final, no qual as ações de cada pessoa serão julgadas por Alá.<br />

6. A crença na predestinação, tradução em português da palavra qadar, cujo sentido mais<br />

preciso é “medir” ou “decidir quantidade ou qualidade”. Para o islamismo, Deus, criador<br />

de tudo, incluindo os seres humanos, sabe exatamente como são as características de cada<br />

elemento de sua obra. Dessa forma, os muçulmanos acreditam que tudo, absolutamente<br />

tudo, que acontece a uma pessoa é determinado por Deus.<br />

O ISLÃ: 1.300 ANOS DE HISTÓRIA<br />

27<br />

PAZ - Book AF.indb 27 01.06.09 15:01:53


SOLUÇÃO PARA A PAZ<br />

No islamismo não existem grandes hierarquias religiosas<br />

e a prática do Islã é constituída por cinco elementos,<br />

denominados os cinco pilares.<br />

O primeiro deles é a shahada, profissão de fé, que demarca<br />

a entrada para o islamismo. Na conversão, o muçulmano<br />

repete, na frente de uma testemunha: “Não existe<br />

nenhum Deus exceto Deus, e Mohamed é o mensageiro<br />

de Deus”, ou, em árabe, “Wa la ilaha illa’llah Muhammad<br />

rasulu’llah”. Embora possa ser dita em qualquer idioma,<br />

muitos muçulmanos optam por usar o árabe, por ser a<br />

língua do Corão.<br />

O segundo pilar é a oração, realizada cinco vezes por<br />

dia: pouco antes do amanhecer, ao meio-dia, no meio da O Corão, século XII.<br />

tarde, pouco depois de o Sol se pôr e à noite. Alguns versos Fonte: Washington University.<br />

do Corão são declamados, em árabe, durante as orações,<br />

que são diferentes umas das outras.<br />

O terceiro pilar é o ato de caridade. Todo muçulmano deve doar cerca de 2,5% de sua<br />

renda a uma mesquita ou a um centro de caridade locais.<br />

O quarto pilar se refere ao Ramadã, o mês do jejum. Durante esse período, espera-se que<br />

todos os muçulmanos, do nascer do Sol ao entardecer, se abstenham de comer e beber, evitem<br />

atividade sexual, mantenham sua mente limpa de pensamentos impuros e demonstrem<br />

compaixão e respeito profundos. Uma das datas mais sagradas para o islamismo é a festa em<br />

que se comemora o fim do jejum no Ramadã. Nessa festa eles sacrificam um cordeiro, para<br />

lembrar o momento em que Abraão lidou com uma dor profunda: por ordem de Deus, ele<br />

teria de sacrificar seu filho Ismael. Para os muçulmanos, Ismael, filho de Abraão com Agar,<br />

e não Isaac, seria sacrificado.<br />

O quinto e último pilar é a peregrinação à cidade de Meca, na Arábia Saudita, quando<br />

há condições físicas e financeiras.<br />

As divisões do islamismo<br />

As principais divisões ou correntes islâmicas são a sunita e a xiita, e sua maior diferença<br />

é determinada pela interpretação da sucessão de Mohamed. Durante sua vida, o profeta não<br />

determinou nem quem o sucederia, nem como seria a escolha do sucessor. Isso causou a divisão<br />

do islamismo, quando a comunidade islâmica mergulhou numa guerra civil, após a morte<br />

de Mohamed, que deu origem a três grupos: os sunitas, os xiitas e os caridjitas.<br />

• Os sunitas, que representam 85% dos muçulmanos, aceitaram essa sucessão, denominada<br />

tradição do profeta (suna), tal como relatada por seus companheiros (a sahaba).<br />

• Os xiitas defendiam que Ali, primo e genro de Mohamed, deveria ser o grande califa, que<br />

em árabe quer dizer “sucessor”.<br />

• Os caridjitas primeiro apoiaram a posição dos xiitas, atribuindo a Ali o lugar de único<br />

sucessor legítimo de Mohamed. Decepcionados com Ali, por não ter declarado guerra<br />

ao califa sunita, entenderam que isso representava uma traição a seu legado por Deus.<br />

Posteriormente, Ali foi assassinado pelos caridjitas com uma espada envenenada.<br />

28<br />

PAZ - Book AF.indb 28 01.06.09 15:01:53


ENTENDENDO O ORIENTE MÉDIO<br />

3<br />

Diferenças importantes<br />

O movimento xiita sempre exerceu influência decisiva sobre o islamismo, a despeito de<br />

ser minoritário. Com o passar dos séculos, os xiitas dividiram-se em diversas seitas parecidas,<br />

entre as quais a dos ismaelitas. O anseio de que os descendentes de Ali formassem os<br />

líderes do mundo islâmico jamais se concretizou, mesmo porque os sunitas sempre foram<br />

mais numerosos e expressivos. Os muçulmanos xiitas estão espalhados por todas as partes<br />

do mundo, mas alguns países têm uma concentração particularmente forte: o Irã é quase<br />

totalmente xiita, e no Iraque, país onde cerca de 95% da população é muçulmana, cerca de<br />

dois terços são xiitas. Os xiitas são maioria também no Bahrein.<br />

Em termos teológicos, há diferenças entre sunitas e xiitas. Os dois ramos compartilham<br />

apenas três doutrinas: a individualidade de Deus, as revelações de Mohamed e a ressurreição<br />

do profeta no Dia do Julgamento Final.<br />

A compreensão do islamismo é diferente para sunitas e xiitas. Os primeiros dão grande<br />

importância à peregrinação a Meca, enquanto os segundos dão também muita importância<br />

a outras peregrinações. Os xiitas se valem comumente do termo “imã”, que designa suas<br />

autoridades religiosas, exclusivamente para Ali e seus descendentes, ao contrário dos sunitas.<br />

Os xiitas acreditam que os imãs, como descendentes de Mohamed e Ali, são seres com<br />

algo de divino. Os sunitas, por seu lado, creem em tradições baseadas em escolas teológicas<br />

e jurídicas que envolvem analogias do Corão e da tradição.<br />

Algumas características particulares dos xiitas: a camuflagem da fé em público, de modo<br />

a impedir problemas sociais, é admitida, desde que conservada na privacidade; é possível<br />

contratar um casamento temporário, estabelecido por um período entre um dia e 99 anos,<br />

no qual podem existir ou não sexo e/ou o pagamento em dinheiro, e o homem que alcançar<br />

quatro casamentos desse tipo garante um lugar no Paraíso.<br />

O islamismo hoje<br />

A religião islâmica, que conta com 1,3 bilhão de fiéis em todo o mundo, encontra nos<br />

sunitas sua maioria, cerca de 85% do total. Um equívoco muito comum é a confusão entre<br />

árabe e muçulmano. O termo “árabe” se refere a uma etnia (de onde surgiu a língua árabe)<br />

e o termo muçulmano se refere ao adepto da religião islâmica. Os árabes 1 são o maior grupo<br />

étnico do <strong>Oriente</strong> Médio. São maioria no Egito, Jordânia, Síria, Líbano, Iraque, nos países da<br />

Península Arábica e nos territórios sob a Autoridade Palestina. Também estão presentes nos<br />

países do norte da África, reunindo ao todo 350 milhões de pessoas.<br />

Os muçulmanos, seguidores da fé islâmica, estão espalhados por todo o mundo. O <strong>Oriente</strong><br />

Médio reúne apenas 18% da população muçulmana mundial – sendo que turcos, afegãos<br />

e iranianos (persas) não são árabes. Outros 30% de muçulmanos estão no subcontinente indiano<br />

(Índia e Paquistão), 20% no norte da África, 17% no sudeste da Ásia e 10% na Rússia<br />

e na China. Há minorias muçulmanas em quase todas as partes do mundo.<br />

1 Originários da Península Arábica, os árabes se espalharam, a partir do século VII, em uma grande corrente migratória<br />

provocada pela expansão do islamismo. O principal fator que os une, porém, não é a religião, mas a língua,<br />

que pertence ao tronco semítico, assim como o hebraico.<br />

O ISLÃ: 1.300 ANOS DE HISTÓRIA<br />

29<br />

PAZ - Book AF.indb 29 01.06.09 15:01:53


SOLUÇÃO PARA A PAZ<br />

Os árabes na Palestina<br />

O nome<br />

Existem duas versões para a origem do nome “Palestina”. A primeira é que a palavra<br />

viria do hebraico “Peleshet”, que significa divisor, invasor. Ela é traduzida como “Falastin”,<br />

denominação que os árabes usam atualmente para “Palestina” (na língua árabe não há o<br />

som de “p”). No século I d.C., os romanos destruíram o reino independente da Judeia.<br />

Após uma revolta frustrada dos judeus no segundo século, o imperador romano Adriano<br />

determinou que a identidade de Israel com a região fosse negada/obscurecida, impondo o<br />

nome “Palestina” para toda a terra judaica e rebatizando Jerusalém de “Aélia Capitolina”.<br />

Os romanos mataram milhares de judeus e expulsaram ou venderam como escravos outras<br />

centenas de milhares.<br />

A outra versão é que a palavra “Palestina” derivaria do grego “Philistia”, nome dado pelos<br />

autores da Grécia Antiga a essa região, devido ao fato de em parte dela se terem fixado no<br />

século XII a.C. os filisteus. Os filisteus não eram semitas e sua provável origem é creto-miceniana,<br />

oriundos, portanto, do litoral sul do Mar Mediterrâneo, de tal forma que os filisteus<br />

não poderiam ser ascendentes dos atuais palestinos, que são de etnia semita (árabe).<br />

É muito importante notar: os judeus viviam na Terra de Israel havia mais de 3.700 anos,<br />

os judeus é que eram chamados de “palestinos” na época dos romanos e não há nenhum<br />

povo na Palestina hoje que se origine no litoral sul do Mar Mediterrâneo.<br />

A história<br />

A área que correspondia ao Mandato Britânico da Palestina foi dividida pelos ingleses,<br />

tendo o Rio Jordão como fronteira, criando-se a Transjordânia, hoje Jordânia. O restante,<br />

correspondente à Palestina até 1948, encontra-se hoje dividido em três partes: uma delas integra<br />

o Estado de Israel e as duas outras abrangem a Faixa de Gaza e a Cisjordânia, de maioria<br />

árabe-palestina, que deveriam integrar um Estado Palestino a ser criado, de acordo com a<br />

lei internacional, bem como as determinações das Nações Unidas e da anterior potência<br />

colonial da região, o Reino Unido.<br />

A Terra de Israel, por conta de sua localização, um estreito trecho de favorável passagem<br />

entre África, Ásia e Europa, sempre foi almejada por muitos conquistadores, pelos mais variados<br />

povos, por se constituir num corredor natural para os antigos exércitos.<br />

A presença de árabes na Terra de Israel iniciou-se no ano 614, quando a região foi conquistada<br />

pelos persas sassânidas, que mantiveram seu domínio até 628, sendo sucedidos em<br />

638 pelo domínio árabe muçulmano. De 1517 a 1917, o Império Otomano controlou toda<br />

a região (incluindo Síria e Líbano).<br />

Durante a Primeira Guerra Mundial, o Império Otomano apoiou a Alemanha e acabou<br />

derrotado com a ajuda de povos árabes que auxiliavam as tropas aliadas. Esses povos árabes<br />

receberam a promessa da constituição de um Estado árabe independente no <strong>Oriente</strong> Médio.<br />

Foram criados vários Estados árabes após o período de mandatos britânico e francês. A<br />

Assembleia Geral das Nações Unidas determinou a Partilha da Palestina (os 25% ainda em<br />

disputa) entre um Estado judeu e outro árabe com base na concentração das populações,<br />

por meio da Resolução 181.<br />

30<br />

PAZ - Book AF.indb 30 01.06.09 15:01:53


ENTENDENDO O ORIENTE MÉDIO<br />

3<br />

Os refugiados palestinos<br />

Com o desenvolvimento proporcionado pelos judeus, que adquiriram terras, implantaram<br />

saneamento básico e abriram novas possibilidades de trabalho, muitos árabes<br />

de países vizinhos foram para a Palestina. Em 15 de maio de 1948, um dia depois da<br />

fundação do Estado de Israel, sete exércitos de países da Liga Árabe atacaram Israel,<br />

e, durante a guerra que se seguiu (que durou quinze meses), a maioria da população<br />

árabe de lá fugiu para os países vizinhos (Líbano, Jordânia, Síria e Egito) em busca de<br />

segurança. Passado algum tempo, muitos dos refugiados foram expulsos desses países<br />

de acolhimento, dirigindo-se para o sul do Líbano, onde permanecem em campos de<br />

refugiados até hoje. Na Jordânia, o rei Hussein mandou matar cerca de metade dos<br />

palestinos de seu país, no episódio conhecido como Setembro Negro. Os sobreviventes<br />

foram expulsos para o Líbano.<br />

Em 1964, o Alto Comissariado da Palestina solicitou à Liga Árabe a fundação da Organização<br />

para a Libertação da Palestina (OLP). Em 1988, a OLP proclamou o estabelecimento<br />

de um Estado palestino. O principal líder da organização foi o egípcio Yasser Arafat, falecido<br />

em 2004. Arafat, após anos de luta contra Israel, iniciou as negociações que levaram aos<br />

acordos de paz de Oslo. Desde 1994, os territórios palestinos estão sob a administração da<br />

Autoridade Nacional Palestina, como resultado dos acordos. No entanto, estes não puderam<br />

ser implantados em sua totalidade, pois Arafat e seus dirigidos promoveram vários atentados<br />

terroristas ou foram coniventes com eles. Muitos atentados em ônibus, mercados, restaurantes<br />

deixaram centenas de mortos e feridos em Israel, entre eles árabes israelenses. A mídia<br />

palestina sempre desenvolveu grandes manifestações contra o direito de Israel de existir. E<br />

nas escolas árabes e palestinas o ódio a Israel e aos judeus é ensinado desde cedo. Infelizmente,<br />

Arafat, no ano 2000, não aceitou a proposta de paz intermediada pelo presidente<br />

dos Estados Unidos, Bill Clinton, e abandonou seu compromisso de repudiar o terrorismo,<br />

marcando o início de uma segunda revolta, com muitas vítimas, conhecida como Segunda<br />

Intifada.<br />

Os árabes que permaneceram em Israel, por outro lado, têm direitos civis, como cidadãos,<br />

podendo votar e ser votados, além de usufruir o avançado sistema de saúde do país.<br />

Hoje há dois partidos árabes no Parlamento israelense.<br />

A Irmandade Muçulmana<br />

Dentro do islamismo, uma das interpretações<br />

mais radicais das práticas religiosas<br />

foi concebida pela Irmandade Muçulmana.<br />

Fundada no Cairo, em 1928, por Hasan al-<br />

-Bana e seus colegas de estudo, defendia,<br />

inicialmente, reformas morais e espirituais.<br />

Suas principais formas de atuação concentravam-se<br />

na educação e na propaganda,<br />

especialmente durante sua primeira década<br />

de existência. Seu matiz ideológico principal<br />

constitui-se na união de credo e Estado<br />

O ISLÃ: 1.300 ANOS DE HISTÓRIA<br />

31<br />

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SOLUÇÃO PARA A PAZ<br />

(livro e espada), juntamente com o retorno à pureza do Islã, o sacrifício extremo pela<br />

causa, a unificação do mundo islâmico sob a autoridade exclusiva do Corão, a rejeição aos<br />

valores e ao colonialismo das potências ocidentais. Em oposição às ideias leigas, modernas<br />

e ocidentais, essa interpretação afirma que, a fim de formar um Estado islâmico puro, os<br />

valores da tradição e religião islâmicas devem desempenhar papel central na vida econômica,<br />

social e política.<br />

O principal objetivo da Irmandade Muçulmana era libertar a pátria islâmica do controle<br />

dos estrangeiros e infiéis, estabelecendo um Estado islâmico unificado (o califado) em todos<br />

os territórios que estiveram em alguma época sob o domínio árabe, como, por exemplo,<br />

a Espanha. A Irmandade foi um dos primeiros grupos a invocar a jihad contra todos os<br />

não seguidores do islamismo. Jihad é um conceito essencial da religião islâmica. Pode ser<br />

entendida como a luta, mediante vontade pessoal, para buscar e conquistar a fé perfeita.<br />

Há opiniões divergentes quanto às formas de ação que são consideradas jihad. O fenômeno<br />

do fundamentalismo islâmico, uma forma de oportunismo político de alguns grupos, se<br />

aproveitou da noção de jihad, desvirtuando o Islã para torná-lo um fator de ação política em<br />

proveito próprio. O lema da Irmandade Muçulmana era: “Alá é o nosso objetivo. A mensagem<br />

é o nosso líder. O Corão é a nossa lei. A Guerra Santa é o nosso caminho. Morrer no<br />

caminho de Alá é a nossa maior esperança”.<br />

Os movimentos islâmicos na Palestina<br />

Existem muitos grupos islâmicos na Palestina, entre eles o Fatah, o Hamas e a Jihad<br />

Islâmica. Alguns surgiram de metamorfoses internas da Irmandade Muçulmana, como o<br />

Hamas (sigla, em árabe, de Movimento de Resistência Islâmica), que é uma organização paramilitar<br />

e um partido político. O grupo surgiu em 1987 como uma resposta da Irmandade<br />

Muçulmana ao crescimento da Jihad Islâmica, cuja popularidade aumentara na Palestina por<br />

causa das condições de sofrimento dos habitantes da região e das denúncias de corrupção<br />

do Fatah. Um texto do documento de fundação do Hamas afirma: “O Dia do Juízo não vai<br />

acontecer até que os muçulmanos venham a lutar contra os judeus (matando os judeus)”.<br />

A Irmandade Muçulmana cresceu muito na Palestina durante a década de 1980. Em dezembro<br />

de 1987, a Intifada eclodiu na Faixa de Gaza e, posteriormente, na Cisjordânia. A<br />

Intifada foi uma revolta preparada pela Irmandade Muçulmana, que, na véspera do primeiro<br />

ataque, estabeleceu no Hamas uma organização adjunta.<br />

Os grupos políticos na Palestina<br />

A Autoridade Nacional Palestina é uma instituição que governa a Cisjordânia e a Faixa de<br />

Gaza. Esses dois territórios fizeram parte dos acordos de Oslo entre a OLP e Israel.<br />

Em 1964 surgiu o Fatah (sigla, em árabe, de Movimento de Libertação Nacional da Palestina),<br />

organização política e militar fundada por Yasser Arafat e Khalil al-Wazir (Abu Jihad),<br />

juntamente com a criação da OLP. Os membros desse grupo defendiam, no início, a luta armada<br />

para destruir Israel e jogar os judeus no mar. Posteriormente, reconheceram o direito<br />

de existência do Estado de Israel. Após muitas denúncias de corrupção, o Fatah foi derrotado<br />

pelo Hamas nas últimas eleições para o Parlamento palestino. Após a contagem final, em 28<br />

de janeiro de 2006, o Hamas conquistou 74 das 132 cadeiras do Parlamento.<br />

32<br />

PAZ - Book AF.indb 32 01.06.09 15:01:54


ENTENDENDO O ORIENTE MÉDIO<br />

3<br />

O Hamas se utiliza de atentados suicidas e de lançamento de mísseis, e é por isso considerado<br />

uma organização terrorista pelo Canadá, União Europeia, Israel, Japão e Estados<br />

Unidos, além de ter sido banido da Jordânia. Os Estados Unidos e a União Europeia têm<br />

implementado medidas restritivas contra o Hamas em nível internacional.<br />

Em seu documento de fundação, o Hamas estabeleceu como objetivo “trabalhar para<br />

impor a palavra de Alá sobre cada centímetro da Palestina” (artigo 6.º). Para ele, a Palestina<br />

deve incluir todo o território de Israel, Gaza e Cisjordânia. O Hamas não aceita o Estado<br />

de Israel e, no artigo 7.º do mesmo documento, recorda que o profeta Mohamed afirmou:<br />

“O julgamento final não virá até que os muçulmanos lutem contra os judeus e os matem”.<br />

Também nesse documento o Hamas diz não acreditar em acordos de paz, vendo a jihad como<br />

a única solução.<br />

O Hamas tem atacado duramente a população civil de Israel há muitos anos, lançando<br />

mísseis e foguetes da Faixa de Gaza (de onde Israel se retirou em busca da paz). Em dezembro<br />

de 2008, o governo israelense decidiu reagir, objetivando destruir a capacidade armamentista<br />

do Hamas, que infelizmente lança seus mísseis e instala seus quartéis-generais e<br />

seu armamento em meio aos civis palestinos, não poupando escolas, hospitais e casas de<br />

família, com o apoio de países como o Irã, que paga um valor determinado por foguete<br />

lançado contra Israel e fornece auxílio e armas aos militantes do Hamas. Durante a operação<br />

israelense foram destruídas dezenas de túneis que serviam para o contrabando de armas.<br />

Essa foi mais uma crise no permanente cenário de tensão, desacordo, influência e difícil<br />

acordo entre as partes diretamente envolvidas.<br />

Bibliografia sugerida<br />

BARD, Mitchell G. Mitos e Fatos – A verdade sobre o conflito árabe-israelense. São Paulo: Sêfer,<br />

2004. Disponível em: http://www.scribd.com/doc/4902428/MITOS-E-FATOS-Mitchell-G-Bard.<br />

Lia Bergmann Formada em História pela Universidade de São Paulo e jornalista com pós-graduação pela Faculdade<br />

Cásper Líbero, Lia Bergmann é assessora de comunicação e de direitos humanos da B’nai B’rith do Brasil.<br />

O ISLÃ: 1.300 ANOS DE HISTÓRIA<br />

33<br />

PAZ - Book AF.indb 33 01.06.09 15:01:54


4<br />

O ANTISSEMITISMO A<br />

PARTIR DO SÉCULO XIX E O<br />

HOLOCAUSTO<br />

CAPÍTULO<br />

Adriana Dias<br />

O antissemitismo do século XIX<br />

Com o advento da Revolução Francesa e o desenvolvimento do nacionalismo<br />

moderno, que desencadeou a formação dos Estados nacionais, uma<br />

nova abordagem se espalhou pelo mundo: ao lado do racionalismo, o Ocidente<br />

desenvolveu ideias racistas, que dividiam as raças humanas em superiores e<br />

inferiores. Embora hoje saibamos que só existe uma raça, a humana, naquela<br />

época a produção de textos “científicos” a respeito das raças buscava nas línguas<br />

e culturas elementos classificatórios. No século XIX, o preconceito aos judeus<br />

mudou sua temática: passou a ser conduzido por uma ideologia motivada<br />

pelo discurso racial, o antissemitismo, e cresceu, fortemente, em toda a Rússia<br />

e Europa.<br />

A palavra “antissemitismo” foi empregada pela primeira vez pelo escritor alemão<br />

Wilhelm Marr, em 1873, para traduzir a ideia de “Judenhass”, que significa<br />

“ódio aos judeus”. O ódio aos judeus era muito forte em toda a Europa, como<br />

demonstra a literatura da época, que os descrevia de forma pejorativa ou rancorosa.<br />

Mas, depois do discurso antissemita, a situação ficou cada vez mais grave.<br />

A extrema esquerda via nos judeus uma ameaça a sua liga internacional, porque<br />

eles estavam presentes em diversas nações, muitos deles ocupando postos-chave<br />

de Estado. Por outro lado, a extrema direita via nos judeus uma ameaça ao Estado<br />

nacional, que deveria se constituir apenas de pessoas da mesma raça. Não havia<br />

lugar para a convivência pacífica. Na Áustria, por exemplo, leis posteriores a<br />

1882 negavam aos judeus direitos de cidadania, concedidos apenas aos cristãos.<br />

Aconteceram, em muitas localidades, diversos pogroms, perseguições sangrentas<br />

cujo objetivo era o massacre em massa. Em abril de 1903, em outro exemplo,<br />

turbas enfurecidas na Rússia, incentivadas pelas autoridades locais, assassinaram<br />

brutalmente 45 judeus e feriram setecentos, destruindo centenas de casas e lojas.<br />

Por conta desse quadro grave, expandiu-se a imigração de judeus da Europa para<br />

a Terra de Israel (então Palestina).<br />

Para compreender o antissemitismo, é preciso entender, como informou Sartre,<br />

grande filósofo do século XX, que o antissemitismo e o racismo não são<br />

atividades racionais; portanto, não são opiniões. O antissemita e o racista condicionam<br />

seu objeto de ódio a um estado de desconhecimento: eles não querem<br />

sequer conhecer o outro, para permanecer no ódio que sentem por ele. Disso se<br />

conclui que o antissemitismo e o racismo se desenvolvem apenas na mente de<br />

quem os defende; o judeu e os grupos que sofreram ou sofrem racismo, como<br />

os negros, jamais podem ser responsabilizados pelo ódio alheio. O antissemita e<br />

o racista negam ao objeto de seu ódio a condição humana e, por isso, são profundamente<br />

destrutivos.<br />

34<br />

PAZ - Book AF.indb 34 01.06.09 15:01:54


Como o discurso e a prática antissemitas cresceram tanto? A Alemanha estava destruída<br />

pela Primeira Guerra Mundial e com muitos problemas sociais e econômicos. Aproveitando<br />

esse cenário, e para atingir seu objetivo, os nazifascistas, com intensa propaganda, em<br />

programas de rádio e em filmes para cinema, usaram algumas estratégias. A primeira delas<br />

era culpar suas vítimas de maneira quase compulsória pelas coisas que eles mesmos faziam<br />

ou esperavam fazer; os judeus estariam, mentiam os nazistas, destruindo a raça ariana e a<br />

economia da nação.<br />

Em segundo lugar, construíram a suspeita de que os judeus teriam manipulado os poderes<br />

internacionais, por meio de partidos políticos e comunicações, recorrendo à ideia de que<br />

realmente haveria muita coisa que a população não sabia, atiçando o rancor e a revolta das<br />

massas, tornando-as potenciais delatoras dos judeus. As pessoas foram habilmente levadas a<br />

crer que a iniciativa estava com elas e que, para salvar a Alemanha, era preciso denunciar os<br />

judeus. O emocionalismo consciente e enfático também fez parte dessa terrível arquitetura:<br />

era o terceiro elemento do discurso. Movida por paixões estimuladas pela propaganda, a população<br />

se rendia à falta de racionalidade do antissemitismo. Os gestos histéricos de Hitler<br />

serviam de modelo para as condutas com as quais ele pretendia contagiar o povo, movidas<br />

por ódio, vingança, rancor. Em quarto lugar, o antissemitismo vivia de reafirmar a própria<br />

inocência; o povo alemão estaria sujeito à constante perseguição, às ameaças e conspirações<br />

de seus inimigos, afirmavam as propagandas fascista e nazista. Esse elemento era associado a<br />

uma exaltação ao cinismo e ao sadismo, o que o tornava ainda mais cruel. Outros elementos<br />

no nazismo também ajudaram a compor a catástrofe: os arianos eram descritos como<br />

infatigáveis (deveriam repousar apenas depois da vitória sobre o inimigo, o judeu) e mensageiros<br />

da natureza, dos deuses (a mitologia nórdica foi bastante enfatizada), substituindo-se<br />

muitas vezes símbolos cristãos por pagãos; os líderes defendiam uma Alemanha grande, o<br />

que mexia com desejos de poder, reprimidos, da população; e, finalmente, mas não menos<br />

importante, cinicamente, tudo isso era emoldurado pelo fato de que estariam promovendo<br />

o bem humano, o bem dos alemães.<br />

O caso Dreyfus<br />

O antissemitismo continuou crescendo por toda a Europa, de maneira vigorosa. Um<br />

dos mais fortes exemplos desse crescimento pode ser observado em um caso considerado<br />

por muitos o mais severo erro judiciário dos tempos modernos: o caso Dreyfus. O drama<br />

do capitão Alfredo Dreyfus, judeu, oficial do Estado-Maior francês, se iniciou, no final de<br />

1894, com a acusação de que ele estaria fornecendo documentos militares aos alemães. O<br />

veredicto, condenatório, determinou a pena de deportação perpétua para a Ilha do Diabo.<br />

O mais grave no caso – o processo fraudulento conduzido a portas fechadas, que culmi-<br />

O ANTISSEMITISMO A PARTIR DO SÉCULO XIX E O HOLOCAUSTO<br />

35<br />

PAZ - Book AF.indb 35 01.06.09 15:01:54


SOLUÇÃO PARA A PAZ<br />

nou na condenação unânime de Dreyfus e em sua difamação pública – foi o fato de que,<br />

mesmo quando se provou a inocência do acusado e que toda a condenação se baseava em<br />

documentos falsificados, os coordenadores do processo, oficiais de alta patente franceses,<br />

ainda decidiram, por todas as formas, ocultar o terrível e absurdo erro judicial. A definitiva<br />

revisão do processo de Dreyfus aconteceu em 1906, quando se revelou, finalmente, que<br />

Charles-Ferdinand Walsin Esterhazy, também oficial do Exército francês, escrevera as cartas<br />

erroneamente atribuídas a Dreyfus e era, portanto, espião dos alemães. Contudo, embora<br />

reconduzido à vida militar, os anos de prisão de Dreyfus não lhe foram restituídos como<br />

tempo de carreira, o que o obrigou a uma dolorosa demissão em 1907.<br />

A formação do sionismo moderno<br />

Em 1897, aconteceu o Primeiro Congresso Sionista, promovido por Theodor Herzl na<br />

Basileia, Suíça, que defendia a construção de uma pátria judaica. A proposta era restaurar o<br />

lar nacional judaico na Terra de Israel, a Palestina, de modo que os judeus de todo o mundo<br />

pudessem nele encontrar refúgio. A isso se associaria a autodeterminação do povo judeu<br />

para promover o renascimento nacional de sua civilização e cultura.<br />

Em 1917, a Grã-Bretanha aprovou a Declaração Balfour, proclamando-se a favor do estabelecimento,<br />

na Palestina, de um lar nacional para o povo judeu e comunicando que se<br />

empenharia em favor desse objetivo.<br />

O Holocausto<br />

No entanto, com a ascensão do Partido<br />

Nazista na Alemanha, o antissemitismo se<br />

tornou uma função do Estado. As bases para<br />

o Holocausto haviam sido lançadas.<br />

Apesar do aumento da imigração de judeus<br />

para a Palestina, as maiores comunidades<br />

judaicas estavam na Europa, algumas<br />

desde a época do Império Romano. Com o<br />

advento do nacional-socialismo, a Alemanha<br />

se tornou um regime nazista. Durante a Segunda<br />

Guerra Mundial, o antissemitismo do<br />

regime hitlerista levou mais de 6 milhões de<br />

judeus (dois terços da população judaica da<br />

Milhões de judeus foram aprisionados nos<br />

campos de concentração nazistas.<br />

Europa) à morte, em campos de concentração e extermínio, fato que ficou conhecido historicamente<br />

como Holocausto. A forte e perversa propaganda nazista induziu a população alemã<br />

ao ódio pelos judeus, de modo a convencer as pessoas a denunciá-los, objetivando sua<br />

eliminação. Em 1933, na Alemanha, promulgou-se a lei que retirava dos judeus qualquer<br />

proteção do Estado. Como consequência, não era necessário nenhum motivo para prendêlos<br />

e enviá-los aos campos de concentração.<br />

36<br />

PAZ - Book AF.indb 36 01.06.09 15:01:54


ENTENDENDO O ORIENTE MÉDIO<br />

4<br />

“Holocausto” é uma palavra de origem grega que significa “sacrifício pelo fogo”. Para os<br />

estudiosos do tema, ela descreve a perseguição e o extermínio sistemáticos dos judeus, promovidos<br />

pelo governo nazista. Este defendia a ideia da “superioridade racial” dos arianos e também<br />

que os judeus ameaçavam essa superioridade, por serem uma “raça inferior”. Os judeus<br />

foram descritos pela propaganda e pela ideologia nazistas como elementos que deveriam ser<br />

destruídos para preservar o povo ariano.<br />

Outros grupos foram exterminados pelo governo hitlerista, quer por seu comportamento<br />

político ou ideológico, quer por seu comportamento social ou religioso, tais como os comunistas,<br />

os socialistas, as testemunhas de Jeová, os homossexuais e os ciganos.<br />

Para aprisionar suas vítimas, a Alemanha nazista estabeleceu, entre 1933 e 1945, cerca<br />

de 20 mil campos, nos quais foram detidos mais de 20 milhões de vítimas. Havia campos de<br />

trabalho forçado, de transição, que serviam como estações de passagem, e de extermínio,<br />

usados, principal ou exclusivamente, para assassinatos em massa. Outra forma de eliminação<br />

de vítimas eram as marchas: levavam-se prisioneiros, sob intenso frio e neve, a caminhadas<br />

desumanas infindáveis, que atravessavam países, com o objetivo de torturá-los e assassiná-los.<br />

A destruição em massa de judeus foi realizada pelos nazistas, sobretudo, em enormes campos<br />

de extermínio na Polônia, o país com a maior população judaica, compondo uma verdadeira<br />

indústria de morte. Chelmno, o primeiro campo de extermínio, começou a operar em<br />

dezembro de 1941; nele, judeus e ciganos eram assassinados por envenenamento em furgões<br />

com canos de escapamento que soltavam gás para dentro dos veículos nos quais eles eram<br />

amontoados. Em 1942, os nazistas edificaram os campos de extermínio de Belzec, Sobibor e<br />

Treblinka para matar ainda mais sistematicamente os judeus e suas outras vítimas.<br />

Durante o Holocausto, os prisioneiros eram identificados com triângulos costurados nas<br />

roupas. As cores definiam a espécie de “acusação” a eles imposta pelo nazismo:<br />

• amarelo: judeus – dois triângulos sobrepostos, para formar<br />

a estrela de davi, com a palavra “Jude” (judeu) inscrita;<br />

• vermelho: dissidentes políticos, incluindo comunistas;<br />

• verde: criminosos comuns;<br />

• púrpura: testemunhas de Jeová;<br />

• azul: imigrantes;<br />

• castanho: ciganos roma e sinti;<br />

• negro: lésbicas e antissociais (alcoólatras e indolentes);<br />

• rosa: homossexuais.<br />

Posteriormente, nos campos de extermínio surgiram as câmaras de gás, cujo objetivo era<br />

tornar o processo de assassinato em massa mais eficiente, rápido e menos pessoal para os<br />

executores. Nelas, imensos espaços fechados que recebiam gás letal, pessoas eram amontoadas<br />

para morrer por asfixia. Somente no campo de Birkenau existiam quatro câmaras de gás,<br />

dentro do complexo de Auschwitz. Para descrever essa perseguição violentíssima, cunhou-<br />

-se, depois da Segunda Guerra Mundial, o termo “genocídio”. A Itália, sob o fascismo, também<br />

promulgou leis raciais, a partir de 1938, perseguindo e matando judeus.<br />

O ANTISSEMITISMO A PARTIR DO SÉCULO XIX E O HOLOCAUSTO<br />

37<br />

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SOLUÇÃO PARA A PAZ<br />

Raul Hilberg, um dos mais importantes historiadores do Holocausto, identificou nele<br />

quatro etapas:<br />

1. Identificação/definição – Produziam-se<br />

listas de judeus, e estes eram identificados<br />

e discriminados; vários direitos<br />

civis lhes eram negados.<br />

2. Discriminação econômica e separação<br />

– Instalavam-se os judeus identificados<br />

em guetos em precárias condições e<br />

sem acesso à Justiça.<br />

3. Concentração – Milhares de acusados<br />

eram levados aos campos.<br />

4. Extermínio<br />

Os guetos eram locais imundos onde os judeus ficavam confinados e morriam de inanição<br />

e doenças; os que sobreviviam eram amontoados em vagões de carga que os transportavam<br />

até os campos de concentração e extermínio. Lá chegando, eram despojados de<br />

tudo: roupas, cabelos, que eram raspados, nomes, porque passavam a ser identificados por<br />

números, em geral marcados com ferro quente na pele; tudo para que perdessem a identidade<br />

individual e coletiva. Todos os direitos civis e políticos lhes eram negados. Esquecer<br />

seu número de identificação, por exemplo, podia ser motivo de fuzilamento, contam sobreviventes<br />

do Holocausto. Primo Levi, um deles, indaga, em seu livro É Isto um Homem?, como<br />

seres humanos puderam fazer isso com outros seres humanos.<br />

Após a derrota de Hitler, quando todos souberam dos horrores a que fora submetido o<br />

povo judeu, ganhou força, no mundo inteiro, a ideia de que os judeus tinham direito legítimo<br />

a um território no qual pudessem reconstruir seu Estado. Finalmente, em 1948, a ONU<br />

definiu que esse Estado seria na Palestina.<br />

Em memória das vítimas do Holocausto, foi inaugurada, em 2005, no Museu do Holocausto,<br />

em Jerusalém, a Galeria dos Nomes. Nela encontram-se milhares de registros<br />

das histórias das pessoas que viveram na época. Há relatos provenientes de cadernos, fotos<br />

de família e também muitos itens pessoais de judeus de quando estavam em campos de<br />

concentração.<br />

O crime de genocídio<br />

O conceito de “crime de genocídio”, expressão cunhada em 1943 pelo polonês Raphael<br />

Lemkin, foi adotado pela Convenção da ONU aprovada, em Paris, em 9 de dezembro de<br />

1948, entrando em vigor em 12 de janeiro de 1951, após a ratificação por 22 países. O<br />

Brasil o fez em 15 de abril do ano seguinte, promulgando-o com o Decreto 30.822, de 6<br />

de maio de 1952.<br />

38<br />

PAZ - Book AF.indb 38 01.06.09 15:01:55


ENTENDENDO O ORIENTE MÉDIO<br />

4<br />

A palavra “genocídio” designa, em Direito Internacional, o maior crime contra os direitos<br />

humanos, “um crime que ataca um direito fundamental de qualquer ser humano: o direito<br />

de ser diferente. Professar uma religião diferente, pertencer a uma outra raça, etnia ou grupo<br />

nacional, defender ideias políticas contrárias ou ter uma cultura diversa são os motivos que<br />

levam um grupo a querer exterminar outro”, segundo a Convenção da ONU. A prática do<br />

crime de genocídio percorreu, infelizmente, toda a história da humanidade, numa alusão<br />

direta a quanto é particularmente difícil à espécie humana desenvolver a tolerância.<br />

São tidos como genocídios os crimes provocados pelos seguintes motivos, previstos no<br />

Direito Internacional:<br />

• nacionais;<br />

• étnicos;<br />

• raciais;<br />

• religiosos.<br />

A mesma convenção determinou a investigação dos crimes de genocídio caso sejam<br />

cometidos com a intenção de destruir totalmente ou em parte um grupo nacional, étnico,<br />

racial ou religioso, utilizando-se dos seguintes meios:<br />

• o assassinato;<br />

• os atentados graves à integridade física e mental;<br />

• a submissão intencional de membros do grupo a condições de existência que levam a sua<br />

destruição física total ou parcial;<br />

• as medidas visando a impedir os nascimentos dentro do grupo;<br />

• a transferência forçada de crianças de um grupo para o outro.<br />

Ruanda e Bósnia, entre outros países, já tiveram julgamentos internacionais e mais de<br />

vinte condenações por genocídio. Quem julga os crimes de genocídio é o Tribunal Penal<br />

Internacional, e da denúncia de genocídio devem constar: a acusação criminal, as razões<br />

históricas para essa denúncia, as provas do crime cometido, o nome dos responsáveis e acusados<br />

e a jurisdição do Tribunal Penal Internacional envolvida no caso.<br />

Muitos extermínios aconteceram na trajetória da humanidade. Recordemos alguns exemplos<br />

dessa infeliz história:<br />

• morte, no Brasil, de cerca de 5 milhões de índios pela colonização portuguesa e de 10<br />

milhões pela colonização espanhola e inglesa;<br />

• extermínio de mais de 200 mil aborígines na Austrália, depois de sua colonização;<br />

• morte de 200 mil hutus, bantos do Burundi, em 1972, e de mais 600 mil em oito anos<br />

pelos tútsis;<br />

• chacina, em Ruanda, de cerca de 1 milhão de tútsis, hutus moderados e minoria twa,<br />

constituída por pigmeus, pelos radicais hutus que dominavam as Forças Armadas, em<br />

1994;<br />

• entre 1975 e 1979, extermínio, pelo Khmer Vermelho, exército liderado por Pol Pot, de<br />

2 milhões de habitantes no Camboja (25% da população);<br />

• morte de 1,5 milhão de armênios na Primeira Guerra Mundial;<br />

• assassinato de 300 mil membros de minorias no Kosovo, entre 1991 e 1999.<br />

O ANTISSEMITISMO A PARTIR DO SÉCULO XIX E O HOLOCAUSTO<br />

39<br />

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SOLUÇÃO PARA A PAZ<br />

Um dos piores crimes contra os direitos humanos nos dias atuais acontece na região<br />

de Darfur, no oeste do Sudão. O conflito surgiu da oposição entre os janjawid, milicianos<br />

recrutados entre os baggara, tribos nômades africanas de língua árabe e religião muçulmana,<br />

e os povos não árabes da área. O governo sudanês, apesar de negar publicamente seu<br />

apoio ao movimento janjawid, é o maior fornecedor de armas e assistência para esse grupo e<br />

compartilha seus ataques. O conflito causou a morte de milhões de pessoas e deixou outras<br />

desabrigadas.<br />

A mídia descreve o conflito como um caso de “limpeza étnica” e de “genocídio”, embora<br />

o Conselho das Nações Unidas ainda não o tenha considerado genocídio. Um dos motivos<br />

para essa demora é o fato de a China ser grande parceira comercial do governo sudanês e<br />

defender o país em todos os fóruns internacionais que tratam do tema. Várias indicações de<br />

intervenção militar internacional propostas pela ONU foram rejeitadas por veto chinês.<br />

Em julho de 2008, a Corte Criminal Internacional (CCI), por meio do procurador do Tribunal<br />

Penal Internacional, o argentino Luis Moreno Ocampo, solicitou aos juízes que emitissem<br />

um mandado de prisão contra o chefe de Estado do Sudão pelos crimes cometidos na<br />

região de Darfur. Omar al-Bashir, o acusado, rejeitou todas as acusações. O promotor da CCI<br />

desenvolve investigações no momento em quatro países africanos: República Democrática<br />

do Congo, Uganda, Sudão e República Centro-Africana. Até agora requereu doze ordens de<br />

prisão e prossegue buscando sete suspeitos foragidos.<br />

Luis Moreno Ocampo declarou, por ocasião de sua eleição como primeiro procurador<br />

do Tribunal Penal Internacional pela Assembleia da ONU, em Nova York, em 22 de abril de<br />

2003: “Eu espero profundamente que os horrores que a humanidade sofreu durante o século<br />

XX sirvam-nos como uma dolorosa lição, e que a criação do Tribunal Penal Internacional<br />

nos auxilie a prevenir que essas atrocidades sejam repetidas no futuro”.<br />

Para que seu desejo, e também de todos que trabalham pela paz, se torne realidade, é<br />

preciso vencer as raízes da intolerância e do preconceito.<br />

40<br />

PAZ - Book AF.indb 40 01.06.09 15:01:55


ENTENDENDO O ORIENTE MÉDIO<br />

4<br />

Árabes e islâmicos em geral mortos após<br />

a Segunda Guerra Mundial<br />

Conflito<br />

N.º de mortos<br />

Afeganistão versus Rússia 1.200.000<br />

Chechênia versus Rússia 200.000<br />

Afeganistão – guerra civil 1.000.000<br />

Argélia – independência 750.000<br />

Argélia – pós-independência 100.000<br />

Bangladesh 1.600.000<br />

Bósnia 150.000<br />

Indonésia 400.000<br />

Irã 800.000<br />

Iraque 1.700.000<br />

Líbano 130.000<br />

Somália – guerra civil 400.000<br />

Sudão – Darfur 2.600.000<br />

Timor Leste 150.000<br />

Iêmen 125.000<br />

Total 11.305.000<br />

Fonte: Maariv; números geralmente aceitos pelas partes envolvidas.<br />

Árabes e outras etnias muçulmanas matando-se entre si totalizam 8,5 milhões de mortos em<br />

disputas de cunho político, territorial (petróleo), religioso (seitas islâmicas, tais como xiitas versus<br />

sunitas) e racial (contra negros muçulmanos).<br />

O antissemitismo contemporâneo<br />

Nos anos 1980, o antissemitismo, especialmente nos Estados Unidos, na Europa e na<br />

Rússia, voltou a crescer. Muitos movimentos que evocam a possibilidade de reconstruir o<br />

ideal ariano se revestem de uma força renovadora: avaliações estimam em cerca de 450 mil<br />

o número de pessoas que leem literatura produzida pelos movimentos racista, revisionista<br />

e neonazista, apenas nos Estados Unidos. Desse montante, em torno de 25 mil, em 1995,<br />

eram considerados “membros militantes radicais”, observados por órgãos governamentais<br />

por práticas de ódio racial. Os crimes que envolvem ódio racial, apenas nos Estados Unidos,<br />

crescem cerca de 8 mil casos por ano.<br />

Na Espanha, especialistas da Guarda Civil estimam em pelo menos 10 mil os jovens cadastrados<br />

em grupos ultradireitistas e neonazistas; apenas a organização Sangre y Honor,<br />

uma das mais radicais, afirma possuir mais de 50 mil simpatizantes. Bandas neonazistas<br />

ilegais, como Hammerskin, Blood and Honour e Volksfront (também denominada Frente<br />

Popular), atraem multidões de jovens em seus shows, nos quais postulam a supremacia da<br />

raça branca, a veneração a Adolf Hitler e o ódio explícito aos judeus, negros, imigrantes e<br />

homossexuais. O neonazismo cresce, de maneira preocupante, segundo a ONU, no Leste<br />

Europeu, na Rússia, no Japão e na África do Sul.<br />

O ANTISSEMITISMO A PARTIR DO SÉCULO XIX E O HOLOCAUSTO<br />

41<br />

PAZ - Book AF.indb 41 01.06.09 15:01:55


SOLUÇÃO PARA A PAZ<br />

No Brasil, crimes de ódio racial ainda são precariamente resumidos em dados específicos,<br />

muitas vezes assinalados apenas como lesão corporal, injúria ou até homicídio e não<br />

enfatizados como crimes de racismo, embora a Constituição brasileira de 1988 o defina<br />

como imprescritível e inafiançável. Ainda assim, as estatísticas dos movimentos antirracistas<br />

apontam para o fato de que pelo menos 150 mil pessoas sejam simpatizantes do movimento<br />

racista, cerca de um terço delas apenas no Estado de Santa Catarina. Há grupos neonazistas<br />

organizados em São Paulo, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Paraná, Brasília e Belo Horizonte.<br />

No país, há centenas de casos de agressões a negros e judeus, principalmente relacionadas<br />

com esses grupos. Investigações contra eles são realizadas pelo Ministério Público<br />

Federal e por Delegacias de Intolerância Racial. Em 2008, foram presos seis integrantes do<br />

grupo Carecas do ABC, e seguem investigações a respeito do Front 88, do White Power São<br />

Paulo e dos Sulistas SS.<br />

Aproveitando o surgimento e a expansão de novas formas de comunicação, especialmente<br />

as que nascem da internet, como sites, blogs, listas de discussão, canais de IRC e fóruns,<br />

o neonazismo tem crescido de maneira intensa, infelizmente. Nos grupos, duas características<br />

se destacam: o “negacionismo” (chamado por seus defensores de “revisionismo”),<br />

que identifica o discurso direcionado para invalidar a veracidade histórica do Holocausto,<br />

a perseguição e morte dos judeus, o número de mortos, enfim, que pretende uma revisão<br />

da história, a partir dos agentes nazistas; e o cultivo de símbolos nazistas, com especial ênfase<br />

a seus aspectos do paganismo nórdico. Há mais de 15 mil sites neonazistas em língua<br />

espanhola, inglesa e portuguesa. Os subversivos grupos neonazistas preferem a internet por<br />

dois motivos principais: o formato da rede garante anonimato e a extensão permite alcançar<br />

milhares de pessoas ao mesmo tempo, num período muito menor do que o necessário por<br />

outro veículo, o que amplia essa forma de sociabilização. A tentativa desses grupos, em sua<br />

propaganda de ódio, é retomar símbolos, mitos e propostas jurídicas, religiosas e políticas<br />

do nacional-socialismo, valendo-se do negacionismo para tentar se livrar do retrato de destruição<br />

que a presença deste deixou na história. Desse modo, pretendem eles, segundo afirmam,<br />

“proteger a raça ariana”, que estaria correndo perigo iminente, da “contaminação”<br />

por religiões “naturais” (como o judaísmo e o cristianismo), por casamentos inter-raciais,<br />

por adoção de crianças negras em famílias brancas, pela divulgação de heróis e esportistas<br />

negros e homossexuais. Seu objetivo é divulgar um ódio enorme contra todas as minorias.<br />

Paralelamente, surgem também grupos islâmicos radicais que negam o Holocausto. Fazem<br />

isso por motivação política, para tentar negar aos judeus o direito a seu Estado. Um<br />

dos piores exemplos é o presidente do Irã, o ultraconservador Mahmoud Ahmadinejad, que<br />

afirma, repetidas vezes, que o Holocausto é um mito. Isso causa enorme sofrimento a todos<br />

os que perderam milhões de parentes na tragédia que o Holocausto, de fato, foi. E choca<br />

toda a humanidade que tal defesa seja feita em nome do ódio. Em momentos de conflitos no<br />

<strong>Oriente</strong> Médio, infelizmente, multiplicam-se ataques a cemitérios judaicos e sinagogas por<br />

todo o mundo. Exemplos dessa triste prática são os ataques a sinagogas francesas e, aqui na<br />

América do Sul, na Venezuela, a invasão à principal sinagoga de Caracas por quinze pessoas<br />

armadas, que picharam em suas paredes mensagens de ódio e juramentos de morte, em janeiro<br />

de 2009, e, no Brasil, ataques a sinagogas e pichações em Campinas (SP), Santo André<br />

(SP) e Santa Maria (RS), entre outros. É preciso defender a humanidade desses radicais.<br />

42<br />

PAZ - Book AF.indb 42 01.06.09 15:01:55


ENTENDENDO O ORIENTE MÉDIO<br />

4<br />

Bibliografia sugerida<br />

1. História dos judeus europeus<br />

1.1. Os judeus e a modernidade europeia: a visão sociológica de Victor Karady<br />

ADORNO, Theodor Wiesengrund; HORKHEIMER, Max. Dialética do Esclarecimento – Fragmentos<br />

filosóficos. Rio de Janeiro: Zahar, 1985.<br />

______. “Freudian theory and the pattern of fascist propaganda”. In: ARATO, Andrew; GEB-<br />

HARDT, Eike (Ed.). The Essential Frankfurt School Reader. New York: Continuum, 1951, p. 118-<br />

37.<br />

______. The Authoritarian Personality. New York: Harper & Brothers, 1950.<br />

1.2. Os judeus e a formação do Estado-Nação: Hannah Arendt<br />

ARENDT, Hannah. “Antissemitismo”. In: As Origens do Totalitarismo. São Paulo: Cia. das Letras,<br />

1990.<br />

BORGES, Hans. Uma História do Povo Judeu. São Paulo: Sêfer, 1999.<br />

KARADY, Victor. Los Judíos en la Modernidad Europea – Experiencia de la violencia y utopía.<br />

Madrid: Siglo XXI, 2000.<br />

2. Holocausto<br />

ARENDT, Hannah. Eichmenn em Jerusalém – Um relato sobre a banalidade do mal. São Paulo:<br />

Cia. das Letras, 2000.<br />

BAUMAN, Zymunt. “Singularidade e normalidade do Holocausto”; “Pedindo a colaboração das<br />

vítimas”. In: Modernidade e Holocausto. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998.<br />

3. A questão judaica<br />

ARENDT, Hannah: “Só permanece a língua materna”. In: A Dignidade na Política. Rio de Janeiro:<br />

Relume Dumará, 1993.<br />

CANETTI, Elias. A Língua Absolvida. São Paulo: Cia. das Letras, 1992.<br />

ELIAS, Norbert. “Entrevista biográfica com Norbert Elias” (por A. J. Heerma van Voss e A. van<br />

Stolk); “Notas sobre os judeus como participantes de uma relação estabelecidos-outsiders”. In:<br />

Norbert Elias por Ele Mesmo. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001.<br />

HOBSBAWM, Eric. Tempos Interessantes. São Paulo: Cia. das Letras, 2002.<br />

KLEMPERER, Victor. Os Diários de Victor Klemperer – Testemunho clandestino de um judeu na<br />

Alemanha nazista. São Paulo: Cia. das Letras, 2000.<br />

SCHOLEM, Gershom. De Berlim a Jerusalém. São Paulo: Perspectiva, 1991.<br />

4. Interpretando o antissemitismo<br />

ADORNO, Theodor Wiesengrund; HORKHEIMER, Max. “Elementos do antissemitismo”. In: Dialética<br />

do Esclarecimento. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1985.<br />

ARENDT, Hannah: “Antissemitismo”. In: As Origens do Totalitarismo. São Paulo: Cia. das Letras,<br />

1990.<br />

CONTE, Édouard; ESSNER, Cornelia. A Demanda da Raça – Uma antropologia do nazismo. Lisboa:<br />

Instituto Piaget, 1998.<br />

DIAS, Adriana. “Ciberracismo, entre o ódio e a militância”. In: Tercera edición del Congreso<br />

Online del Observatorio para la CiberSociedad bajo el Título Conocimiento Abierto, Sociedad<br />

Libre. Anais… Barcelona, 2003.<br />

______. Links de Ódio – Uma etnografia do racismo na internet. Monografia (Conclusão de Curso<br />

em Ciências Sociais), Universidade de Campinas, 2005.<br />

O ANTISSEMITISMO A PARTIR DO SÉCULO XIX E O HOLOCAUSTO<br />

43<br />

PAZ - Book AF.indb 43 01.06.09 15:01:55


SOLUÇÃO PARA A PAZ<br />

_____. Os Anacronautas do Teutonismo Virtual – Uma etnografia do neonazismo na internet.<br />

Dissertação (Mestrado), Universidade de Campinas, 2007.<br />

KLEMPERER, Victor. LTI. La Lengua del Tercer Reich – Apuntes de un filólogo. Barcelona: Minúscula,<br />

2001.<br />

POLIAKOV, Léon. A Europa Suicida: 1870-1933 – História do antissemitismo IV. São Paulo: Perspectiva,<br />

1985.<br />

_____. O Mito Ariano. São Paulo: Perspectiva, 1974.<br />

SARTRE, Jean-Paul. A Questão Judaica. São Paulo: Ática, 1995.<br />

5. Biografias<br />

LEVI, Primo. É Isto um Homem?. Rio de Janeiro: Rocco, 2000.<br />

_____. Os Afogados e os Sobreviventes. São Paulo: Paz e Terra, 1990.<br />

SEMPRUM, Jorge. A Escrita ou a Vida. São Paulo: Cia. das Letras, 1995.<br />

6. O conflito atual<br />

BARD, Mitchell G. Mitos e Fatos – A verdade sobre o conflito árabe-israelense. São Paulo: Sêfer,<br />

2004. Disponível em: http://www.scribd.com/doc/4902428/MITOS-E-FATOS-Mitchell-G-Bard.<br />

Filmes<br />

O Pianista. Direção: Roman Polanski. Inglaterra/Polônia, 2002. 148 min.<br />

Sunshine – O despertar de um século. Direção: István Szabó. Alemanha/Áustria/Canadá/Hungria,<br />

1999. 180 min.<br />

Sites<br />

Em português:<br />

http://ensinandodesiao.org.br/anussim/index.php?option=com_content&task=view&id=33&Ite<br />

mid=27<br />

http://etnografianovirtual.blogspot.com<br />

http://netjudaica.blogspot.com<br />

http://www.bnai-brith.com.br<br />

http://www.jornalalef.com.br<br />

http://www.pletz.com<br />

http://www.ushmm.org/museum/exhibit/focus/portuguese (Museu do Holocausto)<br />

http://www.visaojudaica.com.br<br />

Em inglês:<br />

http://www.adl.org<br />

http://www.bnaibrith.org<br />

http://www.icc-cpi.int/library/about/officialjournal/Rome_Statute_English.pdf<br />

Adriana Dias Doutoranda em Antropologia Social pela Universidade de Campinas, membro da Associação Brasileira<br />

de Antropologia e da Latin American Jewish Studies Association.<br />

44<br />

PAZ - Book AF.indb 44 01.06.09 15:01:55


5<br />

A INDEPENDÊNCIA DO ESTADO<br />

DE ISRAEL CONTEMPORÂNEO E<br />

SUA REALIDADE HOJE<br />

CAPÍTULO<br />

A formação do atual Estado de Israel<br />

O retorno à condição de uma nação<br />

independente aconteceu quando<br />

o Estado de Israel foi proclamado<br />

em 14 de maio de 1948, de acordo<br />

com o Plano de Partilha da ONU de<br />

1947. Assim que nasceu o Estado<br />

de Israel contemporâneo, as forças<br />

militares de diversos países da região<br />

(Egito, Jordânia, Síria, Líbano<br />

e Iraque) invadiram o território israelense.<br />

Para garantir a sobrevivência<br />

e soberania recém-readquiridas,<br />

Israel reagiu ao ataque, no episódio<br />

que ficou conhecido como Guerra<br />

da Independência de Israel.<br />

Essa guerra durou quinze meses, e<br />

em suas batalhas morreram cerca de<br />

6 mil israelenses (aproximadamente<br />

1% da população judaica no país na<br />

época). Após diversas negociações,<br />

conduzidas pela ONU, os invasores<br />

(exceto o Iraque, que não negocia<br />

com Israel até os dias atuais) estabeleceram<br />

um acordo a respeito das<br />

terras da região: a planície costeira, a<br />

Lia Bergmann, Gisele Valdstein e Claudio Silberberg<br />

Península do Sinai, regiões da Judeia e Samaria.<br />

Galileia e todo o Negev ficariam sob soberania israelense; a Judeia e a Samaria (a<br />

margem ocidental), sob domínio da Jordânia; a Faixa de Gaza, sob administração<br />

egípcia; a cidade de Jerusalém ficou dividida, cabendo à Jordânia o controle da<br />

parte oriental, incluindo a Cidade Velha, e a Israel o setor ocidental.<br />

Entre 1948 e 1952, aconteceu a imigração em massa dos judeus da Europa e<br />

dos países árabes para Israel e, ao celebrar seu décimo aniversário, a população<br />

do país ultrapassava os 2 milhões de habitantes.<br />

Em outubro de 1956, concretizou-se uma aliança militar tripartite entre o<br />

Egito, a Síria e a Jordânia, o que fez com que, novamente, se evidenciasse a ameaça<br />

à existência de Israel. O líder egípcio Gamal Abdel Nasser desejava a total<br />

nacionalização do Canal de Suez, que era estratégico, como única passagem para<br />

o Mar Vermelho e possibilidade de irrigação do Deserto do Negev. No curso de<br />

uma campanha militar de oito dias (Campanha do Sinai), envolvendo ingleses e<br />

45<br />

PAZ - Book AF.indb 45 01.06.09 15:01:55


SOLUÇÃO PARA A PAZ<br />

franceses, os israelenses ocuparam a Faixa de Gaza e toda a Península do Sinai, detendo-se<br />

a 16 km a leste do Canal de Suez. Novos acordos foram realizados, para que a região fosse<br />

devolvida gradativamente.<br />

Em 1967, o Egito violou acordos alcançados após a Campanha do Sinai de 1956, solicitando<br />

à ONU que retirasse as tropas internacionais e deslocando todo o poderio de seu exército para<br />

as fronteiras com Israel, restaurando o bloqueio do Estreito de Tirã. Israel utilizou seu direito<br />

inerente de autodefesa e realizou um ataque preventivo contra o Egito, no sul (5 de junho de<br />

1967), seguido por um contra-ataque à Jordânia, no leste, e pela expulsão das forças sírias<br />

entrincheiradas nas Colinas de Golã, ao norte. Depois dos seis dias de combates, as antigas linhas<br />

de cessar-fogo tinham sido substituídas por novas; a Judeia, a Samaria, Gaza, a Península<br />

do Sinai e as Colinas de Golã estavam agora sob o controle de Israel. Jerusalém, que estivera<br />

dividida entre Israel e Jordânia desde 1949, foi reunificada sob a autoridade israelense.<br />

Depois da Guerra dos Seis Dias, houve outras batalhas na região, sempre provocadas por<br />

grupos que não reconhecem o direito dos judeus de ter seu Estado.<br />

Em 1973, o Egito e a Síria lançaram a Guerra do Yom Kippur, assim chamada porque o<br />

Egito tomou de surpresa as tropas israelenses acantonadas no Sinai, na margem do Canal de<br />

Suez, no dia mais sagrado da tradição judaica, o Dia do Perdão – Yom Kippur. Israel, após<br />

sofrer grandes baixas, reagiu e retomou as regiões perdidas, inclusive o Golã, na fronteira<br />

com a Síria, e chegou a poucos quilômetros do Cairo e de Damasco, quando um novo cessar-fogo,<br />

com a intervenção da ONU, foi assinado.<br />

Em novembro de 1977, o presidente do Egito, Anwar Sadat, fez uma viagem histórica a<br />

Jerusalém, a convite do primeiro-ministro israelense, Menachem Begin, iniciando a consolidação<br />

de um processo formal de reconhecimento e de paz.<br />

46<br />

PAZ - Book AF.indb 46 01.06.09 15:01:56


ENTENDENDO O ORIENTE MÉDIO<br />

5<br />

Quando, em novembro de 1978, foram negociados os acordos de Camp David 1 , definiram-se<br />

as linhas gerais para uma paz abrangente no <strong>Oriente</strong> Médio e uma proposta de<br />

autogoverno para os palestinos. Os dois acordos de paz de Camp David foram assinados por<br />

Anwar Sadat e por Menachem Begin e formaram um só tratado. Em suas disposições havia a<br />

definição da busca de uma solução pacífica de controvérsias, a extinção de boicotes econômicos<br />

e a definição de direitos de passagem.<br />

A OLP (criada em 1964, a Organização para a Libertação da Palestina deveria ter como<br />

objetivo a criação de um Estado palestino), cujo principal líder foi o egípcio Yasser Arafat,<br />

promoveu, durante as décadas de 1970 e 1980, muitos conflitos contra Israel. Um dos mais<br />

importantes aconteceu depois da guerra civil que se deu no Líbano entre a minoria cristã<br />

e os muçulmanos. A OLP de Yasser Arafat utilizou a anarquia no país e ampliou os ataques<br />

contra Israel, usando o território libanês como abrigo. Como era necessário se defender<br />

desses ataques, Israel invadiu o Líbano em junho de 1982 e cercou Beirute (lugar do quartel-general<br />

da OLP).<br />

Posteriormente, em 9 de dezembro de 1987, eclodiu uma revolta (denominada Revolta<br />

das Pedras) em todos os territórios ocupados e nos setores árabes de Jerusalém. Essa rebelião<br />

ficou conhecida como Intifada. A população civil palestina participou da revolta atirando<br />

pedras contra os militares israelenses, em especial no campo de refugiados de Jabaliyah, no<br />

extremo norte da Faixa de Gaza.<br />

Em 1993, Israel e a Autoridade Nacional Palestina assinaram os acordos de Oslo, nos<br />

quais definiram um compromisso de estabelecimento de um processo de paz a ser atingido<br />

ao longo de alguns anos de entendimentos progressivos.<br />

Desde 1994, parte da Palestina está sob a administração da Autoridade Nacional Palestina,<br />

como resultado dos acordos. No entanto, estes não puderam se concretizar: Arafat e seus dirigidos<br />

empreenderam vários atentados terroristas ou foram coniventes com eles. A educação<br />

aplicada às novas gerações palestinas promove o ódio a Israel e aos judeus, assim como o<br />

valor de agir como mártir da causa que objetiva destruir o Estado de Israel. Nos mapas utilizados<br />

nos programas escolares, o Estado de Israel não existe e o território palestino se estende<br />

do Rio Jordão ao Mar Mediterrâneo. A mídia palestina sempre desenvolveu grandes manifestações<br />

contra o direito de Israel de existir. Infelizmente, Arafat, no ano 2000, na segunda parte<br />

dos acordos de Camp David, não aceitou a proposta de paz intermediada pelo presidente dos<br />

Estados Unidos, Bill Clinton, e abandonou seu compromisso de repudiar o terrorismo.<br />

Novos conflitos<br />

Em 27 de setembro de 2000, um atentado palestino provocou a morte de um colono<br />

judeu na vila de Netzarim, na Faixa de Gaza. Era o começo de várias manifestações de ódio<br />

na região, que por fim deram início a uma segunda revolta, com muitas vítimas, conhecida<br />

como Segunda Intifada. Os episódios de violência se reproduziram constantemente, e, em<br />

15 de fevereiro de 2006, quando foi feito um levantamento pela ONU, o número de mortos<br />

chegava a 4.995, dos quais 3.858 eram palestinos e 1.022, israelenses.<br />

1 Receberam esse nome por conta do local das negociações, todas realizadas na casa de campo do presidente dos<br />

Estados Unidos em Maryland, denominada Camp David.<br />

A INDEPENDÊNCIA DO ESTADO DE ISRAEL CONTEMPORÂNEO E SUA REALIDADE HOJE<br />

47<br />

PAZ - Book AF.indb 47 01.06.09 15:01:56


SOLUÇÃO PARA A PAZ<br />

Durante as últimas décadas, muitos grupos radicais dividiram a direção política dos<br />

palestinos, desde o Fatah, que é uma organização política e militar, fundada por Yasser<br />

Arafat e Khalil al-Wazir (Abu Jihad), juntamente com a criação da OLP, até o Hamas.<br />

Os membros do Fatah defendiam, no início, a luta armada para expulsar os israelenses.<br />

Posteriormente, reconheceram o direito de existência do Estado de Israel. Após muitas<br />

denúncias de corrupção, o Fatah foi derrotado pelo Hamas, nas eleições de 2006, quando<br />

conquistou a maioria das cadeiras do Parlamento. Os grupos armados palestinos, Hamas<br />

e Fatah, se envolveram, então, em grandes confrontos violentos. Israel, Estados Unidos e<br />

União Europeia consideram o Hamas uma organização terrorista.<br />

O Hamas, que não reconhece o direito de Israel de existir, declarou que não abandonará<br />

as armas. Muitos analistas políticos defendem a ideia de que a imensa frustração com<br />

o papel do Fatah nos últimos anos e os inúmeros casos de corrupção (desvio das verbas<br />

recebidas de organizações internacionais, muitas vezes, para contas pessoais dos líderes<br />

do movimento) revoltaram a população empobrecida dos territórios palestinos. Isso explicaria,<br />

segundo os analistas, a vitória do Hamas, muito mais que o apoio a seus preceitos<br />

fundamentalistas.<br />

Israel retirou todas as suas colônias da Faixa de Gaza, entregando-a à Autoridade Nacional<br />

Palestina (ANP) em busca da paz, que não veio. Como resultado, a população civil das cidades<br />

israelenses próximas à fronteira, como Sderot, Ashkelon e Ashdot, entre outras, ficou<br />

sob fogo constante de foguetes disparados por militantes do Hamas a partir de bases móveis<br />

na Faixa de Gaza, por vezes localizadas no telhado de casas de família. Houve dias em que<br />

mais de cem foguetes foram lançados após o Hamas ter lutado contra seus irmãos palestinos<br />

da Fatah, à qual pertence o presidente da Autoridade Nacional Palestina, expulsando-os e<br />

assumindo o total controle sobre a Faixa de Gaza.<br />

É preciso lembrar que o Estado de Israel é menor do que o Estado de Sergipe, que ao<br />

longo dos anos o alcance e o poder de destruição dos foguetes lançados pelos liderados do<br />

Hamas vêm aumentando e que, a cada foguete lançado contra Israel, o Irã paga determinado<br />

valor, pois todos esses fatores incentivam a continuidade do terrorismo.<br />

A vida de crianças, jovens, adultos e idosos se vê ameaçada diariamente sob constante<br />

terror. Ao final de 2008 e início de 2009, Israel realizou uma operação em Gaza para destruir<br />

bases de lançamento, arsenais de armas e túneis por onde estas eram contrabandeadas<br />

a partir do Egito. Infelizmente, o Hamas usou escudos humanos, infiltrando armamento e<br />

terroristas em mesquitas, escolas, hospitais e em meio à população civil, colocando-a deliberadamente<br />

sob risco. No entanto, ao contrário do que foi divulgado pela mídia, embora<br />

depois desmentido, mesmo sem as manchetes e o destaque das notícias iniciais, nenhuma<br />

escola da ONU foi atingida pelos israelenses.<br />

48<br />

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ENTENDENDO O ORIENTE MÉDIO<br />

5<br />

Israel: uma democracia no <strong>Oriente</strong> Médio<br />

Lia Bergmann<br />

Introdução<br />

Em sessenta e um anos, o Estado de Israel transformou os desertos e pântanos em terras<br />

férteis, tornando-se grande exportador de flores e frutas; absorveu milhões de imigrantes<br />

sem recursos, dando-lhes estabilidade, educação gratuita de alto nível, sistema de saúde<br />

pública, gerando uma das economias mais desenvolvidas do mundo, criando avançadas<br />

tecnologias nas diversas áreas do conhecimento, como medicina, informática, agricultura,<br />

meio ambiente, entre outras, sendo um exemplo para o mundo. Essa realidade não se vê<br />

nos jornais.<br />

Estrutura política<br />

O Estado de Israel é uma democracia parlamentarista, com os poderes Legislativo, Executivo<br />

e Judiciário. As instituições do Estado incluem a Presidência e o Knesset (Parlamento),<br />

o governo (gabinete de ministros) e o Judiciário. O sistema se baseia na separação dos três<br />

poderes e o braço executivo (governo) está sujeito à confiança do braço legislativo (Knesset),<br />

que tem o poder de depor o primeiro-ministro, e a independência do Judiciário é garantida<br />

por lei. O Knesset possui 120 deputados. Seu nome e número baseiam-se na antiga Haguedolá<br />

(Grande Assembleia), órgão representativo judaico convocado em Jerusalém pela primeira<br />

vez no século V a.C.<br />

Todos os cidadãos israelenses – judeus, árabes, cristãos, drusos, entre outros – podem ser<br />

eleitos para o Parlamento, que tem contado, ao longo de sua história, com partidos, deputados<br />

e até mesmo ministros e embaixadores árabes israelenses.<br />

Meninas beduínas diante de um computador<br />

distribuído pelo programa “Um computador<br />

para cada criança”.<br />

Sociedade pluralista<br />

A natureza da sociedade israelense é pluralista.<br />

Sua população é formada por diferentes<br />

etnias, religiões e culturas. Dos 7,1 milhões<br />

de habitantes, 75,8% são judeus, 19,9% árabes<br />

(em sua maioria muçulmanos) e os 4,3%<br />

restantes dividem-se entre drusos, circassianos<br />

e outros, como os beduínos, que habitam<br />

o Deserto do Negev. Os idiomas falados<br />

no país são o hebraico (oficial), o árabe e o<br />

inglês.<br />

A INDEPENDÊNCIA DO ESTADO DE ISRAEL CONTEMPORÂNEO E SUA REALIDADE HOJE<br />

49<br />

PAZ - Book AF.indb 49 01.06.09 15:01:56


SOLUÇÃO PARA A PAZ<br />

Imigração judaica: porto seguro<br />

Israel foi estabelecido como pátria do povo judeu, como um porto seguro para um povo<br />

alvo de diversas perseguições religiosas, políticas e raciais no decorrer da história. Tem por<br />

base ser um Estado permanentemente aberto à imigração judaica, para que os judeus perseguidos,<br />

como aconteceu no Holocausto nazista, tenham para onde ir. Nesse sentido, tem<br />

absorvido centenas de judeus, incluindo etíopes, nas últimas décadas.<br />

Liberdade religiosa e de expressão<br />

A liberdade de expressão e de imprensa é garantida por lei. Israel escolheu deliberadamente<br />

adotar os princípios de liberdade, igualdade e proteção aos direitos humanos a todos<br />

os indivíduos dentro de suas fronteiras, sem distinção de religião, etnia, sexo ou cultura. A<br />

visão estabelecida na Declaração de Independência de Israel, promulgada em 1948, constitui<br />

os fundamentos do caráter de Israel, os princípios de acordo com os quais o Estado<br />

é governado, outorgando liberdade a todos os cidadãos. A liberdade religiosa é um direito<br />

garantido. Cada comunidade religiosa é livre por lei e na prática para seguir suas tradições.<br />

Os locais sagrados de todas as religiões são preservados, o que não aconteceu quando Jerusalém,<br />

cidade santa para judeus, cristãos e muçulmanos, esteve dividida sob o domínio da<br />

Jordânia, de 1948 a 1967.<br />

Igualdade de gênero, direitos<br />

das crianças e adolescentes<br />

Em 1951, o Parlamento aprovou a Lei de<br />

Igualdade de Direitos da Mulher, que vem<br />

ocupando cargos proeminentes nas instituições<br />

democráticas de Israel, desde a primeira-ministra<br />

Golda Meir (1969-1974)<br />

até Tzipi Livni, vice-primeira-ministra e<br />

ministra de Relações Exteriores até o início<br />

de 2009. As leis de proteção às crianças começaram<br />

a ser promulgadas em 1954 e têm<br />

sido aprimoradas até a atualidade. Existe até<br />

mesmo a Lei dos Direitos do Aluno.<br />

Igreja do Santo Sepulcro: peregrinação<br />

constante.<br />

50<br />

PAZ - Book AF.indb 50 01.06.09 15:01:57


ENTENDENDO O ORIENTE MÉDIO<br />

5<br />

Direitos ao cuidado maternal e ao bem-estar da criança<br />

Os direitos ao cuidado maternal e ao bem-estar da criança, também incorporados pela<br />

legislação israelense, são garantidos pelo sistema de saúde e serviços médicos altamente desenvolvidos.<br />

Há clínicas gerenciadas pelo governo para a mãe e para a criança em todo o país,<br />

como parte dos serviços de saúde pública. A eficiência desse sistema se comprova pelos dados<br />

de vacinação: entre 91% e 96% de todos os segmentos da população estão vacinados.<br />

Educação gratuita<br />

Desde 1949, o ensino é obrigatório dos 6 aos 16 anos, sendo gratuito até os 18. A taxa de<br />

analfabetismo é a menor de todo o <strong>Oriente</strong> Médio: 2,9%. O Brasil tem hoje 11,4% de analfabetos,<br />

isso sem contar os analfabetos funcionais, que não têm os conhecimentos mínimos<br />

necessários para exercer sua plena cidadania.<br />

O índice de desenvolvimento humano (IDH) em Israel é de 0,932 e a renda per capita, de<br />

20.170 dólares.<br />

Saúde<br />

O sistema de saúde pública de Israel fornece ampla rede de serviços, incluindo hospitais,<br />

a todos os residentes no país. O investimento em pesquisa e desenvolvimento (P&D) tem<br />

como resultado uma medicina de ponta com tecnologia e procedimentos entre os mais<br />

avançados do mundo, como hospitais, clínicas e centros de medicina preventiva e de reabilitação,<br />

e cirurgias de cérebro, medula óssea e transplantes. A Maguem David Adom é o<br />

serviço de emergência médica, equivalente à Cruz Vermelha.<br />

O kibutz e o moshav<br />

Estrutura social e econômica única no mundo, o kibutz é uma comunidade igualitária, no<br />

início predominantemente agrícola, criada pelos pioneiros no começo do século XX. Nos<br />

primeiros anos foi fundamental para o estabelecimento dos milhares de imigrantes no país.<br />

Depois passou a englobar indústrias e empresas de serviços. O moshav tem a mesma filosofia<br />

de trabalho coletivo do kibutz, mas no início os filhos ficavam em uma casa separada nos<br />

kibutzim, o que não acontecia nos moshavim desde sua criação, nos anos 1920.<br />

A INDEPENDÊNCIA DO ESTADO DE ISRAEL CONTEMPORÂNEO E SUA REALIDADE HOJE<br />

51<br />

PAZ - Book AF.indb 51 01.06.09 15:01:57


SOLUÇÃO PARA A PAZ<br />

Agricultura e meio ambiente<br />

Israel possui convênios com a África, ajudando o continente a combater a desertificação,<br />

e fornece especial atenção às tecnologias alternativas para geração de energia e aos cuidados<br />

com o meio ambiente. Com largos desertos e poucas fontes de água, desenvolveu uma agricultura<br />

pujante e aplica os mais avançados métodos para o cultivo e a agroindústria.<br />

Turismo<br />

O turismo é uma importante fonte de renda e de emprego para Israel e cresce a cada ano.<br />

O turismo religioso, também de brasileiros que visitam os lugares sagrados para cristãos e<br />

judeus, tem registrado aumentos consecutivos. Entre as belezas naturais encontra-se o Mar<br />

Morto, o mais baixo do mundo. Uma completa infraestrutura hoteleira e de transportes está<br />

à disposição dos visitantes.<br />

Costa do Mediterrâneo.<br />

Mar Vermelho na cidade de Eilat.<br />

Tel-Aviv – Jafa.<br />

52<br />

PAZ - Book AF.indb 52 01.06.09 15:01:57


ENTENDENDO O ORIENTE MÉDIO<br />

5<br />

Israel – educação, ciência e tecnologia<br />

Gisele Valdstein e Claudio Silberberg<br />

“A pesquisa científi ca e suas conquistas deixaram de ser mero objetivo<br />

intelectual abstrato [...] são fator central na vida de todo povo civilizado.”<br />

Investimento contínuo em educação e pesquisa:<br />

buscando desenvolver produtos de excelência<br />

1870 – Criação da Escola Mikve Israel, primeira<br />

instituição de pesquisa agrícola. Tornou-se<br />

posteriormente o Instituto Volcani,<br />

hoje principal instituição de pesquisa e desenvolvimento<br />

agrícola em Israel. Atualmente<br />

Israel exporta tecnologia de irrigação para<br />

diversos países, entre eles o Brasil, possibilitando<br />

aumento da produção agrícola com<br />

gerenciamento de recursos hídricos.<br />

1901 – Estabelecimento, em Jerusalém, da<br />

Teva Pharmaceutical Industries Ltda., pioneira<br />

no desenvolvimento de medicamentos genéricos,<br />

hoje com mais de 20 filiais em todo<br />

o mundo.<br />

1924 – Inauguração do Instituto de Tecnologia<br />

Technion, em Haifa.<br />

1925 – Início das atividades da Universidade<br />

Hebraica de Jerusalém, período em que se<br />

formaram as bases para o Hospital Hadassah,<br />

uma das mais importantes instituições de<br />

pesquisa médica de Israel.<br />

David Ben-Gurion, primeiro chefe de governo<br />

do Estado de Israel contemporâneo (1948).<br />

1934 – Centro de Pesquisa Daniel Sieff, fundado em Rehovot, que, posteriormente, em<br />

1949, se tornou o Instituto Weizmann de Ciências.<br />

2009 – Atualmente existem oito universidades reconhecidas pelo governo, incluindo as<br />

acima citadas: Universidade de Tel-Aviv, Universidade de Haifa, Universidade Bar-Illan, Universidade<br />

Ben-Gurion do Negev, Universidade Aberta de Israel. Juntas, produzem um dos<br />

maiores índices de graduação e publicações científicas per capita do mundo.<br />

A INDEPENDÊNCIA DO ESTADO DE ISRAEL CONTEMPORÂNEO E SUA REALIDADE HOJE<br />

53<br />

PAZ - Book AF.indb 53 01.06.09 15:02:00


SOLUÇÃO PARA A PAZ<br />

Ciência e tecnologia<br />

Prioridade de governo desde a criação do Estado de Israel para enfrentar a falta de recursos<br />

naturais e a hostilidade dos países vizinhos, a área de ciência e tecnologia é a principal<br />

ferramenta para o crescimento nacional, criando mecanismos para estimular a atuação da<br />

iniciativa privada de forma competitiva. Hoje, destaca-se nos setores de alta tecnologia, aviônica,<br />

telecomunicações, manufatura, equipamentos médicos eletrônicos e de fibra óptica.<br />

A indústria de alta tecnologia de Israel responde por 12% do produto interno bruto (PIB)<br />

e por mais de 80% das exportações. Israel é o segundo país, depois dos Estados Unidos, com<br />

empresas negociadas na Nasdaq (Bolsa de Tecnologia de Nova York).<br />

1950 – Início das atividades da IBM Corporation em Israel, desenvolvendo aplicações computadorizadas<br />

para as áreas de medicina, agricultura, irrigação e elaboração de modelos para<br />

políticas em fertilização.<br />

– Primeira unidade da General Electric (GE).<br />

1964 – Motorola Israel Ltda., que emprega atualmente 4 mil funcionários espalhados em<br />

cinco centros de desenvolvimento de tecnologia para sistemas de comunicação móvel.<br />

1974 – Intel Israel – microprocessadores e componentes de memória para computador.<br />

1981 – Rad Data Communications Ltda. – sistemas sofisticados de comunicação sem fio.<br />

1989 – Microsoft Corporation, primeira subsidiária fora dos Estados Unidos.<br />

1994 – 3G.COM Technologies – alta tecnologia de comunicação de dados.<br />

2006 – Alcatel-Lucent de Israel – hardware, software e serviços de ponta em telecomunicações.<br />

1981 a 2009 – Mais de 160 companhias de biotecnologia em atividade.<br />

2009 – Cerca de 173 empresas de alta tecnologia em telecomunicações.<br />

54<br />

PAZ - Book AF.indb 54 01.06.09 15:02:00


ENTENDENDO O ORIENTE MÉDIO<br />

5<br />

Alguns exemplos da criatividade israelense na prática<br />

A M-Systems foi pioneira no desenvolvimento de memória<br />

flash DiskOnKey e DiskOnChip (conhecidos como<br />

pen drive e chip de memória), permitindo a ágil transferência,<br />

transporte e armazenamento de informações.<br />

Israel é o pioneiro na tecnologia de<br />

armazenamento portátil de memória<br />

(pen drive) e em chips de memória.<br />

A GE Healthcare Israel lançou o primeiro equipamento<br />

miniaturizado de ultrassom cardíaco portátil do mundo.<br />

O scanner de tomografia computadorizada Philips Brilliance<br />

faz um diagnóstico abrangente do paciente em poucos<br />

instantes, nas salas de emergência, onde cada segundo é<br />

vital.<br />

Equipamento portátil de ultrassom<br />

cardíaco.<br />

A empresa israelense Lumus Optical criou os vídeo-óculos<br />

PD2, para assistir a programas de TV e vídeos em<br />

qualquer lugar.<br />

Vídeo-óculos, para assistir a seu filme<br />

preferido onde quer que esteja.<br />

A telefonia pioneira pelo protocolo IP foi lançada pela Vocaltec (VOIP, sigla em<br />

inglês de transmissão de voz por internet – ex.: Skype).<br />

A tecnologia de compressão de arquivos ZIP foi desenvolvida por dois professores<br />

do Instituto de Tecnologia Technion, de Haifa. Permite, por exemplo, comprimir<br />

grande quantidade de imagens sem nenhuma perda de qualidade ou integridade,<br />

facilitando seu arquivamento e envio.<br />

A INDEPENDÊNCIA DO ESTADO DE ISRAEL CONTEMPORÂNEO E SUA REALIDADE HOJE<br />

55<br />

PAZ - Book AF.indb 55 01.06.09 15:02:00


SOLUÇÃO PARA A PAZ<br />

A pílula endoscópica com microcâmera foi lançada pela<br />

Given Imaging, que permite visualizar todo o trato digestivo.<br />

Pílula endoscópica com microcâmera.<br />

A ferramenta ICQ, do AOL Instant Messenger, foi desenvolvida, em 1996, por quatro<br />

jovens israelenses.<br />

Os microprocessadores Centrino e Pentium-4 Dotan foram<br />

desenvolvidos pela Intel Israel.<br />

Microprocessador Centrino, usado<br />

também em notebooks.<br />

A Keter Plastic, empresa israelense com 23 fábricas espalhadas pelo mundo, é considerada<br />

a maior empresa de produtos de plástico da Europa.<br />

Dois professores do Instituto de Tecnologia Technion ganharam o Prêmio Nobel de<br />

Química, em 2004. Seu trabalho de identificação da proteína Ubiquitin é uma inovação<br />

nas pesquisas do câncer, doenças degenerativas do cérebro e muitas outras.<br />

56<br />

PAZ - Book AF.indb 56 01.06.09 15:02:01


ENTENDENDO O ORIENTE MÉDIO<br />

5<br />

Universidade Hebraica de Jerusalém.<br />

Instituto de Tecnologia Technion.<br />

Universidade de Haifa.<br />

Intel – microprocessadores.<br />

A INDEPENDÊNCIA DO ESTADO DE ISRAEL CONTEMPORÂNEO E SUA REALIDADE HOJE<br />

57<br />

PAZ - Book AF.indb 57 01.06.09 15:02:01


SOLUÇÃO PARA A PAZ<br />

Israel – História e desenvolvimento por um mundo melhor<br />

Bibliografia sugerida<br />

Revista Notícias de Israel.<br />

Sites<br />

http://www.mfa.gov.il/MFA – Ministério das Relações Exteriores de Israel<br />

http://www.mfa.gov.il/MFA/Visual+Media/General+Videos.htm (vídeos do tipo “você sabia?”)<br />

http://www.science.co.il/Computer Science.asp<br />

http://www.israel21c.com<br />

Lia Bergmann Formada em História pela Universidade de São Paulo e jornalista com pós-graduação pela Faculdade<br />

Cásper Líbero, Lia Bergmann é assessora de comunicação e de direitos humanos da B’nai B’rith do Brasil.<br />

Gisele Valdstein Fonoaudióloga, foi presidente da B’nai B’rith de São Paulo.<br />

Claudio Silberberg Administrador e membro da B’nai B’rith.<br />

58<br />

PAZ - Book AF.indb 58 01.06.09 15:02:01


6<br />

OS JUDEUS NOS PRINCIPAIS<br />

PAÍSES DA LIGA ÁRABE 1<br />

Tounée Rosset<br />

CAPÍTULO<br />

Entre 1948 e 1968, cerca de 850 mil judeus foram forçados a abandonar alguns<br />

países da Liga Árabe, onde viveram por vários séculos, expulsos ou fugindo de condições<br />

de discriminação e intolerância. Deixando todos os seus pertences para trás,<br />

essa multidão teve de recomeçar a vida em países como Israel, França e Brasil.<br />

Até hoje essa história é pouco conhecida pela comunidade internacional. Por<br />

isso, mais de quarenta entidades judaicas lançaram, em novembro de 2006, a Campanha<br />

Internacional por Direitos e Reparação, para os judeus dos países árabes.<br />

O êxodo silencioso<br />

Dos 848 mil judeus que moravam nos países da Liga em 1948, restavam apenas<br />

7.800 em 2001.<br />

Quantidade de judeus nos países da Liga Árabe por ano<br />

Países 1948 1958 1968 1976 2001<br />

Líbano 5.000 6.000 3.000 400 100<br />

Síria 30.000 5.000 4.000 4.500 100<br />

Líbia 38.000 3.750 100 40 0<br />

Iêmen 55.000 3.500 500 500 200<br />

Egito 75.000 40.000 1.000 400 100<br />

Tunísia 105.000 80.000 10.000 7.000 1.500<br />

Iraque 135.000 6.000 2.500 350 100<br />

Argélia 140.000 130.000 1.500 1.000 0<br />

Marrocos 265.000 200.000 50.000 18.000 5.700<br />

Total 848.000 474.250 72.600 32.190 7.800<br />

Comparação entre a situação dos árabes em Israel<br />

e a dos judeus nos países da Liga Árabe<br />

Em 1948, havia algo entre 600 mil e 950 mil árabes no território que passou a<br />

integrar o Estado de Israel. Na Guerra da Independência, aproximadamente 156 mil<br />

desses palestinos permaneceram em Israel, enquanto os demais deixaram o país.<br />

Os árabes que permaneceram em Israel e seus descendentes hoje são mais de<br />

1,4 milhão e possuem cidadania israelense. Ou seja, a população árabe palestina<br />

residente em Israel aumentou quase 900% de 1948 até hoje e goza de plenos<br />

direitos, inclusive elegendo deputados. Os árabes com cidadania israelense são<br />

20% da população de Israel.<br />

1 Este capítulo é uma versão ampliada e adaptada por Tounée Rosset do texto publicado em www.<br />

judeusdospaisesarabes.com.br, incorporando também sugestões de Abraham Goldstein e dos autores<br />

dos diversos textos desta obra.<br />

59<br />

PAZ - Book AF.indb 59 01.06.09 15:02:02


SOLUÇÃO PARA A PAZ<br />

Por sua vez, a população palestina residente na Faixa de Gaza e na Cisjordânia hoje é de<br />

mais de 4 milhões de pessoas, sem contar os 4,5 milhões a 5 milhões de palestinos que<br />

vivem em outros lugares além de Israel e territórios palestinos. Esse número é muito maior<br />

do que o de palestinos que viviam em toda a Terra de Israel antes da criação do Estado de<br />

Israel.<br />

Isso significa que, ao contrário do que pessoas mal-intencionadas dizem, não existe genocídio<br />

generalizado contra palestinos. A verdade é que tanto em Gaza e na Cisjordânia<br />

como no próprio território de Israel a população palestina tem se multiplicado, e muito.<br />

Situação muito diferente ocorreu nos países da Liga Árabe, onde a população judaica foi<br />

expulsa ou teve de fugir da violência e da discriminação: dos 848 mil judeus que moravam<br />

em países como Líbano, Síria, Líbia, Iêmen, Egito, Tunísia, Iraque, Argélia e Marrocos, 840<br />

mil haviam saído até o ano 2001, ou seja, só sobrou menos de 1%.<br />

O gráfico a seguir compara a evolução da população de palestinos vivendo em Israel<br />

desde o final da Guerra da Independência até hoje, possuindo cidadania israelense, com a<br />

situação dos judeus em nove países da Liga Árabe, onde têm sido tratados como dhimmis.<br />

Evolução da população árabe em Israel e da população judaica<br />

em nove países da Liga Árabe<br />

Situação das comunidades judaicas nos países<br />

da Liga Árabe<br />

Os judeus vivem no <strong>Oriente</strong> Médio, no norte da África e na região do Golfo há vários<br />

séculos. Houve presença ininterrupta de grandes comunidades judaicas no <strong>Oriente</strong> Médio<br />

desde tempos remotos, mais de 2.500 anos antes do nascimento dos Estados árabes<br />

modernos.<br />

60<br />

PAZ - Book AF.indb 60 01.06.09 15:02:02


ENTENDENDO O ORIENTE MÉDIO<br />

6<br />

Após a conquista da região pelos muçulmanos, os judeus passaram a ser considerados<br />

cidadãos de segunda classe, mas a eles foram dadas, durante determinado período, liberdade<br />

religiosa e oportunidades educacionais, profissionais e de trabalho, embora limitadas.<br />

Isso mudou no século XX, quando ocorreu um padrão de perseguição consistente e<br />

difundido e violações em massa dos direitos humanos das minorias judaicas em países da<br />

Liga Árabe. Decretos e legislações oficiais aprovados pelos regimes árabes negaram direitos<br />

humanos e civis aos judeus e a outras minorias; suas propriedades foram desapropriadas;<br />

foram privados de sua cidadania e de seu sustento. Os judeus eram frequentemente vítimas<br />

de assassinato, prisões e detenções arbitrárias, tortura e expulsões.<br />

Com a declaração do Estado de Israel, em 1948, o status dos judeus nos países árabes<br />

piorou drasticamente à medida que muitos desses países apoiavam a guerra ou a declaravam<br />

contra Israel. Os judeus foram, então, expulsos dos países onde residiam havia anos e tornaram-se<br />

reféns políticos do conflito árabe-israelense.<br />

Os judeus residentes em países da Liga Árabe passaram a ser atacados física e legalmente<br />

pelos governos e pela população de modo geral. Na Síria, por causa das perseguições antijudaicas<br />

em Alepo, em 1947, dos 10 mil judeus da cidade, 7 mil fugiram do terror. No Iraque,<br />

o “sionismo” tornou-se crime capital. Mais de 70 judeus foram assassinados por bombas<br />

na região judaica do Cairo, no Egito. Depois de os franceses terem desocupado a Argélia, as<br />

autoridades emitiram uma variedade de decretos antijudaicos que induziram os quase 160<br />

mil judeus a fugir prontamente do país. Após a Resolução da Assembleia Geral das Nações<br />

Unidas sobre a partilha da Palestina, em 1947, amotinadores muçulmanos deram início a<br />

perseguições sanguinárias em Áden, no Iêmen, que acabaram causando a morte de 82 judeus.<br />

Em diversos países os judeus foram expulsos ou tiveram sua cidadania revogada (por<br />

exemplo, na Líbia). Inúmeros judeus fugiram de dez países da Liga Árabe. Eles se tornaram<br />

refugiados em uma região predominantemente hostil aos judeus.<br />

As restrições sancionadas pelo Estado, frequentemente associadas à violência e repressão,<br />

forçaram um deslocamento em massa dos judeus. Resultado: mais de 850 mil judeus foram<br />

expulsos das terras em que eles e seus ancestrais viveram por várias gerações.<br />

Dhimmis<br />

Durante muitos séculos, membros de várias etnias, entre elas judeus, mas também gregos<br />

e armênios, viveram dentro do Império Otomano, sob uma denominação que lhes determinava<br />

um lugar à parte no mundo social: dhimmis (em árabe, protegidos). Esses grupos eram<br />

submetidos a uma tributação especial (jizya), ao uso de uma rodela de cor amarela no peito<br />

e outros sinais distintivos, além de outras formas de discriminação.<br />

Os judeus mais afetados foram os do Marrocos, do Iêmen e da Pérsia: eram sujeitos a<br />

graves humilhações, expropriação de bens, julgamentos injustos, assassinatos etc.<br />

Mas, no geral, em troca do pagamento da jizya, os judeus, que estavam acostumados a<br />

sobreviver a situações adversas, após séculos de perseguições dos impérios Romano e Bizantino,<br />

viram nas conquistas islâmicas apenas uma substituição de poder.<br />

A conversão voluntária ao islamismo foi muito rara; os judeus conseguiram preservar a<br />

fé em todas as terras muçulmanas.<br />

OS JUDEUS NOS PRINCIPAIS PAÍSES DA LIGA ÁRABE<br />

61<br />

PAZ - Book AF.indb 61 01.06.09 15:02:02


SOLUÇÃO PARA A PAZ<br />

EGITO<br />

Os judeus têm vivido no Egito desde os<br />

tempos bíblicos. As tribos israelitas mudaram-se<br />

durante o reinado do faraó egípcio<br />

Amenhotep IV (1375-1358 a.C.). Ao longo<br />

dos anos, os judeus buscaram abrigo e habitaram<br />

o Egito. Em 1897, havia mais de<br />

25 mil judeus no Egito, a maior parte deles<br />

concentrada nas cidades do Cairo e de<br />

Alexandria. Em 1937, a população alcançou<br />

63.500 judeus.<br />

Na década de 1940, com o crescimento<br />

do nacionalismo egípcio e os esforços do Bar-mitzva de gêmeos – Cairo, Egito, 1930.<br />

movimento sionista para recriar um lar nacional<br />

judaico na Terra de Israel, as atividades antijudaicas começaram a surgir com mais intensidade.<br />

Em 1945, as agitações começaram: dez judeus foram mortos, 350 ficaram feridos<br />

e uma sinagoga, um hospital judeu e um lar para idosos foram incendiados. Após o sucesso<br />

do movimento sionista em estabelecer o Estado de Israel, medidas violentas e repressoras<br />

vindas do governo e dos cidadãos egípcios tiveram início em meados de 1948. Bombas foram<br />

colocadas em um quarteirão judaico, matando mais de setenta pessoas e ferindo cerca<br />

de duzentas. As agitações nos meses que se seguiram resultaram em várias outras mortes.<br />

Dois mil judeus foram presos e muitos tiveram suas propriedades confiscadas.<br />

Em 1956, o governo egípcio usou a Campanha do Sinai como pretexto para expulsar<br />

aproximadamente 25 mil judeus egípcios do país e confiscar suas propriedades. A eles foi<br />

permitido levar apenas uma mala e uma pequena quantidade de dinheiro, e todos foram<br />

obrigados a assinar documentos “doando” suas propriedades ao governo egípcio. Aproximadamente<br />

outros mil judeus foram presos ou mandados para campos de concentração.<br />

Em 23 de novembro de 1956, um manifesto, assinado pelo ministro de Assuntos Religiosos<br />

e lido em voz alta nas mesquitas de todo o Egito, declarava que “todos os judeus<br />

são sionistas e inimigos do Estado” e prometia que todos seriam, em breve, expulsos<br />

(Associated Press, 26/11/1956; New York World-Telegram, 29/11/1956).<br />

Em 1957, a população judaica no Egito já tinha caído para 15 mil. Em 1967, depois da<br />

Guerra dos Seis Dias, houve nova onda de perseguições, e a comunidade judaica diminuiu<br />

para 2.500. Na década de 1970, após ser dada aos judeus remanescentes a permissão de<br />

deixar o país, a comunidade reduziu-se a algumas poucas famílias.<br />

Os direitos dos judeus foram finalmente recuperados em 1979, depois que o presidente<br />

egípcio Anwar Sadat assinou o primeiro acordo de Camp David com Israel. Somente então<br />

foi permitido à comunidade estabelecer laços com Israel e com a coletividade judaica no<br />

mundo. Os quase duzentos judeus deixados no Egito são agora idosos, e a comunidade<br />

judaica do país, outrora orgulhosa e crescente, está praticamente extinta.<br />

62<br />

PAZ - Book AF.indb 62 01.06.09 15:02:02


ENTENDENDO O ORIENTE MÉDIO<br />

6<br />

IRAQUE<br />

Iraque é a designação moderna para o<br />

país estabelecido com as antigas Babilônia e<br />

Assíria e a parte sul da Turquia após a Primeira<br />

Guerra Mundial. É o lugar da mais antiga<br />

diáspora judaica, a de história contínua mais<br />

longa, uma faixa de tempo de 2.670 anos.<br />

No século III, os judeus prosperaram no<br />

que era então a Babilônia por 1.200 anos antes<br />

da conquista muçulmana, em 634 d.C.<br />

Sob o domínio dos muçulmanos, a situação<br />

da comunidade judaica tornou-se instável.<br />

Enquanto alguns judeus possuíam altos<br />

cargos de governo ou prosperavam com o<br />

comércio e as trocas, outros eram submetidos<br />

a taxas especiais e restrições em suas atividades profissionais. Sob o controle britânico,<br />

que começou em 1927, os judeus iam bem economicamente, mas esse progresso cessou<br />

quando o Iraque conquistou sua independência, em 1932.<br />

Comerciantes judeus de Bagdá.<br />

Cerimônia em memória de Menahem Salah<br />

Daniel, líder da comunidade judaica de Bagdá.<br />

Em junho de 1941, o golpe de Rashid Ali, de apoio aos nazistas e inspirado pelo Mufti,<br />

iniciou uma série de manifestações e perseguições em Bagdá. Multidões de iraquianos armados<br />

assassinaram 180 judeus e feriram mil.<br />

Insurreições adicionais com manifestações antijudaicas ocorreram entre 1946 e 1949.<br />

Após o estabelecimento de Israel, em 1948, o sionismo tornou-se crime capital.<br />

OS JUDEUS NOS PRINCIPAIS PAÍSES DA LIGA ÁRABE<br />

63<br />

PAZ - Book AF.indb 63 01.06.09 15:02:02


SOLUÇÃO PARA A PAZ<br />

Em 1950, foi permitido aos judeus iraquianos deixarem o país em um ano caso desistissem<br />

de sua cidadania. Um ano mais tarde, no entanto, as propriedades dos judeus que<br />

emigraram foram congeladas e restrições econômicas foram impostas aos que permaneceram<br />

no país. De 1949 a 1951, 104 mil judeus foram expulsos do Iraque na Operação Ezra<br />

e Nehemiah e 20 mil retirados clandestinamente pelo Irã. Assim, uma comunidade que<br />

chegara a 150 mil pessoas em 1947 rapidamente se reduziu a 6 mil depois de 1951.<br />

Em 1952, o governo do Iraque proibiu a imigração de judeus. Com a ascensão de facções<br />

rivais do partido Ba’ath em 1963, restrições adicionais foram impostas aos judeus iraquianos<br />

remanescentes. A venda de propriedades foi proibida e todos os judeus foram forçados<br />

a carregar cartões de identidade amarelos. As perseguições continuaram, especialmente após<br />

a Guerra dos Seis Dias, em 1967, quando muitos dos 3 mil judeus restantes foram presos<br />

e demitidos de seus empregos. Nessa época, medidas mais repressoras surgiram: propriedades<br />

judaicas foram tomadas; contas bancárias foram congeladas; judeus perderam cargos<br />

públicos; lojas foram fechadas; licenças comerciais foram canceladas; telefones foram desligados.<br />

Os judeus passaram a viver em prisão domiciliar por longos períodos ou restritos às<br />

próprias cidades.<br />

As perseguições chegaram ao limite máximo no final de 1968. Grupos de judeus eram<br />

presos sob a alegação de descobertas de “grupos de espiões” compostos por empresários<br />

judeus. Catorze homens, onze deles judeus, foram sentenciados à morte em julgamentos<br />

encenados e, em 27 de janeiro de 1969, enforcados em praças públicas de Bagdá; outros<br />

morreram sob tortura.<br />

Em resposta às pressões internacionais, o governo de Bagdá silenciosamente permitiu<br />

que a maior parte dos judeus restantes emigrasse no início da década de 1970, mesmo enquanto<br />

outras restrições eram mantidas. Em 1973, os judeus iraquianos estavam, na maioria,<br />

velhos demais para sair do país e foram pressionados pelo governo a entregar títulos,<br />

sem compensações, de propriedades judaicas no valor de mais de 200 milhões de dólares<br />

(The New York Times, 18/2/1973).<br />

Atualmente, cerca de 60 judeus permanecem em Bagdá. O que fora um dia uma comunidade<br />

crescente de judeus no Iraque hoje encontra-se extinta (Associated Press, 28/3/1998).<br />

64<br />

PAZ - Book AF.indb 64 01.06.09 15:02:03


ENTENDENDO O ORIENTE MÉDIO<br />

6<br />

LÍBIA<br />

A comunidade judaica da Líbia tem suas<br />

origens ao século III a.C. Na época da ocupação<br />

italiana, em 1911, havia apenas 21 mil<br />

judeus no país, a maior parte em Trípoli.<br />

No final da década de 1930, leis antijudaicas<br />

foram gradualmente reforçadas, e os<br />

judeus foram submetidos a repressões terríveis.<br />

Ainda assim, em 1941, eles respondiam<br />

por um quarto da população de Trípoli e<br />

mantinham 44 sinagogas.<br />

Em 1942, os alemães ocuparam o bairro<br />

judeu e tornaram tudo muito difícil para os<br />

judeus na Líbia, e as condições não melhoraram<br />

após a liberação. Durante a ocupação<br />

britânica, o crescimento do nacionalismo<br />

árabe e do fervor antijudaico foram as principais<br />

razões por trás de uma série de perseguições,<br />

a pior das quais, em novembro de<br />

1945, resultou no massacre de 140 judeus<br />

em Trípoli e regiões próximas e na destruição<br />

de cinco sinagogas (Howard Sachar, A<br />

History of Israel).<br />

O estabelecimento do Estado de Israel levou<br />

muitos judeus a deixar o país. Em junho<br />

de 1948, em protesto contra o novo Estado,<br />

manifestantes assassinaram 12 judeus e destruíram<br />

cerca de 280 de seus lares. Ainda que<br />

a emigração fosse ilegal, mais de 3 mil judeus<br />

conseguiram fugir para Israel. Entre 1949,<br />

quando os ingleses legalizaram a emigração,<br />

e 1951, ano em que a Líbia conquistou a<br />

independência e se tornou membro da Liga<br />

Árabe, demonstrações hostis e manifestações<br />

antijudaicas causaram a partida de cerca de<br />

30 mil judeus para o norte do país (Norman<br />

Stillman, The Jews of Arab Lands in Modern Times).<br />

Bairro dos judeus em Trípoli.<br />

Família judia da Líbia.<br />

OS JUDEUS NOS PRINCIPAIS PAÍSES DA LIGA ÁRABE<br />

65<br />

PAZ - Book AF.indb 65 01.06.09 15:02:03


SOLUÇÃO PARA A PAZ<br />

ARGÉLIA<br />

No século XIV, com a deterioração das condições<br />

na Espanha, muitos judeus espanhóis<br />

mudaram-se para a Argélia. Após a ocupação<br />

francesa do país, em 1830, os judeus gradualmente<br />

receberam a cidadania francesa.<br />

Em 1934, os muçulmanos, incitados por<br />

eventos ocorridos na Alemanha nazista, se<br />

agitaram em Constantina, matando 25 judeus<br />

e ferindo muitos outros. Antes de 1962,<br />

havia 60 comunidades judaicas, cada uma<br />

mantendo os próprios rabinos, sinagogas e<br />

instituições educacionais. Depois da independência<br />

da Argélia, em 1962, o governo<br />

argelino atormentou a comunidade judaica e privou os judeus de seus direitos econômicos,<br />

resultando na emigração de quase 130 mil judeus argelinos para a França e, desde 1948, de<br />

25.681 para Israel.<br />

A independência da Argélia foi o evento-<br />

-chave na expulsão da comunidade judaica.<br />

Como consequência do desejo do governo<br />

e dos argelinos de juntarem-se à onda de<br />

nacionalismo e pan-arabismo que varria o<br />

norte da África, os judeus não mais se sentiam<br />

bem-vindos após a partida francesa. O<br />

Código de Nacionalidade Argelino de 1963<br />

deixou isso bem claro, dando a cidadania<br />

argelina como direito apenas àqueles cujos<br />

Família celebrando o Seder de Pessach<br />

– Oran, 1930.<br />

Professores e rabinos da Escola Etz Haim<br />

– Oran, 1927.<br />

pais e avôs paternos possuíssem algum status<br />

pessoal muçulmano na Argélia. Em outras<br />

palavras, ainda que a Frente Libertadora Nacional na Argélia fosse conhecida pelo slogan<br />

“Um Estado secular democrático”, ela seguia critérios religiosos rígidos ao dar a cidadania,<br />

fortificando assim sentimentos antijudeus e anti-Israel no país.<br />

66<br />

PAZ - Book AF.indb 66 01.06.09 15:02:03


ENTENDENDO O ORIENTE MÉDIO<br />

6<br />

TUNÍSIA<br />

As primeiras evidências documentadas de judeus vivendo onde é hoje a Tunísia vêm de<br />

antes do ano 200. Após a conquista árabe da Tunísia no século VII, os judeus viviam em condições<br />

satisfatórias, apesar de algumas medidas discriminatórias, como taxas.<br />

Em 1948, a comunidade judaica na Tunísia chegava a 105 mil pessoas, com 65 mil vivendo<br />

somente em Túnis. Depois que a Tunísia conquistou sua independência, em 1956, uma<br />

série de decretos antijudaicos foi promulgada. Em 1958, o conselho da comunidade judaica<br />

na Tunísia foi abolido pelo governo, e sinagogas, cemitérios e bairros judaicos antigos foram<br />

destruídos sob a alegação de “renovação urbana”.<br />

Em condições similares às dos judeus na Argélia, a ascensão do nacionalismo tunisiano<br />

levou a legislações antijudaicas e, em 1961, grande número de judeus deixou o país. A situação<br />

de instabilidade crescente fez com que mais de 40 mil judeus tunisianos emigrassem<br />

para Israel. Em 1967, a população judaica caiu para 20 mil.<br />

Durante a Guerra dos Seis Dias, os judeus foram atacados em agitações árabes, e várias<br />

sinagogas e lojas foram queimadas. O governo denunciou a violência e apelou à população<br />

judaica para que ficasse; ainda assim, não proibiu os judeus de deixarem o país. Logo depois,<br />

7 mil judeus emigraram para a França.<br />

Mesmo em 1982 houve ataques a judeus em cidades como Zarzis e Ben Guardane. Hoje,<br />

cerca de 2 mil judeus vivem na Tunísia.<br />

SÍRIA<br />

Os judeus têm vivido na Síria desde os tempos bíblicos, e a história da comunidade é<br />

mesclada à história dos judeus na Terra de Israel. A população judaica aumentou significativamente<br />

após a expulsão dos judeus da Espanha, em 1942. Através das gerações, as principais<br />

comunidades judaicas encontravam-se em Damasco e Alepo.<br />

Em 1943, a comunidade judaica na Síria possuía 30 mil membros, a maioria distribuída<br />

entre Alepo (17 mil) e Damasco (11 mil). Em 1945, em uma tentativa de impedir esforços<br />

para estabelecer um lar nacional judaico, o governo restringiu a emigração para Israel, e<br />

propriedades judaicas foram queimadas e saqueadas. Perseguições antijudaicas começaram<br />

a acontecer em Alepo em 1947, fazendo com que 7 mil dos 10 mil judeus que ali viviam<br />

fugissem por medo. O governo então congelou as contas bancárias e confiscou as propriedades<br />

dos que permaneceram no país.<br />

Logo após a independência de Israel, uma política de discriminação econômica na Síria<br />

foi posta em prática contra os judeus. Virtualmente, todos os cidadãos judeus civis empregados<br />

pelo governo sírio foram demitidos. A liberdade de movimentos foi praticamente<br />

abolida e postos especiais de fronteira foram estabelecidos para controlar o movimento dos<br />

judeus (The New York Times, 16/5/1948).<br />

Em 1949, os bancos receberam instruções para congelar as contas dos judeus e confiscar<br />

todos os seus pertences. Ao longo dos anos que se seguiram, o padrão contínuo de estrangulamento<br />

político e econômico fez com que um total de 15 mil judeus deixasse a Síria,<br />

emigrando para os Estados Unidos e para Israel.<br />

OS JUDEUS NOS PRINCIPAIS PAÍSES DA LIGA ÁRABE<br />

67<br />

PAZ - Book AF.indb 67 01.06.09 15:02:03


SOLUÇÃO PARA A PAZ<br />

IÊMEN<br />

Os judeus do Iêmen têm várias lendas relacionadas<br />

com sua chegada ao país; a mais<br />

conhecida delas diz que chegaram antes da<br />

destruição do Primeiro Templo. A primeira<br />

evidência histórica de sua presença no Iêmen<br />

data do século III.<br />

Os judeus começaram a deixar o Iêmen<br />

por volta de 1880, quando aproximadamente<br />

2.500 rumaram para Jerusalém e Jafa. Mas<br />

foi após a Primeira Guerra Mundial, quando<br />

o Iêmen se tornou independente, que o<br />

sentimento antijudaico no país transformou<br />

a emigração em uma necessidade. Leis antissemitas,<br />

que tinham ficado esquecidas por Família iemenita estudando hebraico.<br />

anos, foram trazidas à tona. Em um tribunal,<br />

as evidências de um judeu não eram aceitas diante das evidências de um muçulmano.<br />

Em 1922, o governo do Iêmen reintroduziu uma antiga lei islâmica que exigia que órfãos<br />

judeus menores de 12 anos fossem convertidos ao islamismo. Quando um judeu decidia<br />

emigrar, ele deveria deixar todas as suas posses. Apesar disso, entre 1923 e 1945, um<br />

total de 17 mil judeus iemenitas deixou o país e foi para a Palestina.<br />

Após a Segunda Guerra Mundial, milhares de outros judeus iemenitas queriam migrar<br />

para a Palestina, mas o Livro Branco dos britânicos ainda estava em vigor, e aqueles que deixassem<br />

o Iêmen acabariam em morros abarrotados de gente em Áden, onde revoltas graves<br />

aconteceram em 1947, depois que as Nações Unidas decidiram pela Partilha da Palestina<br />

em um estado judaico e um estado árabe. Muitos judeus foram mortos, e o bairro judeu foi<br />

completamente incendiado. Apenas em setembro de 1948 as autoridades britânicas em Áden<br />

permitiram que os refugiados fossem para Israel.<br />

Em 1947, após a decisão pela Partilha, revoltosos muçulmanos deram início a uma sangrenta<br />

perseguição em Áden que matou 82 judeus e destruiu centenas de casas judias. A<br />

comunidade judaica em Áden, que contava com 8 mil pessoas em 1948, foi forçada a fugir.<br />

Até 1959, mais de 3 mil já haviam chegado a Israel. Muitos fugiram para os Estados Unidos<br />

e Inglaterra. Atualmente não há judeus remanescentes em Áden.<br />

Na época da fundação de Israel, a comunidade judaica no Iêmen estava economicamente<br />

paralisada, já que a maioria das lojas e negócios judaicos foi destruída. Essa situação cada<br />

vez mais perigosa levou à emigração de toda a comunidade judaica iemenita – quase 50 mil<br />

Judeus – entre junho de 1949 e setembro de 1950, na chamada Operação Tapete Mágico.<br />

Uma emigração em menor escala foi permitida até 1962, quando uma guerra civil trouxe<br />

um final abrupto ao êxodo judaico.<br />

68<br />

PAZ - Book AF.indb 68 01.06.09 15:02:03


ENTENDENDO O ORIENTE MÉDIO<br />

6<br />

MARROCOS<br />

Os judeus apareceram pela primeira vez<br />

no Marrocos há mais de dois milênios, viajando<br />

em parceria com negociantes fenícios.<br />

A primeira colonização dos judeus ocorreu<br />

em 568 a.C., quando Nabucodonosor destruiu<br />

Jerusalém.<br />

Por volta de 1948, essa antiga comunidade<br />

judaica, a maior no norte da África,<br />

contava com 265 mil pessoas. Em junho de<br />

1948, após a constituição do Estado de Israel,<br />

manifestações sanguinárias em Oujda<br />

e Djerada mataram 44 judeus e deixaram<br />

outros feridos. No mesmo ano, um boicote<br />

econômico não oficial foi incitado contra os<br />

judeus marroquinos.<br />

A emigração para Israel começou com a<br />

iniciativa de pequenos grupos que lá chegaram<br />

na época de sua independência. Entretanto,<br />

a maior emigração, que levou mais de<br />

250 mil judeus marroquinos para Israel, foi<br />

induzida por medidas antijudaicas executadas<br />

em resposta à constituição do Estado de<br />

Israel. Em 4 de junho de 1949, ocorreram<br />

manifestações no norte do Marrocos, matando<br />

e ferindo dezenas de judeus. Logo depois,<br />

os judeus começaram a deixar o país.<br />

Entre 1955 e 1957, mais de 70 mil judeus<br />

marroquinos chegaram a Israel. Em 1956, o<br />

Marrocos declarou sua independência, e a<br />

emigração de judeus para Israel foi suspensa.<br />

Em 1959, atividades sionistas tornaram-se<br />

ilegais no país. Durante esses anos, mais de<br />

30 mil judeus fugiram para a França e para<br />

as Américas. Em 1963, a proibição da emigração<br />

para Israel foi revogada, levando mais<br />

de 100 mil para a costa.<br />

Hoje, a comunidade judaica do Marrocos<br />

é menos de 10% de seu tamanho original.<br />

Dos 17 mil judeus que restam, dois terços<br />

vivem em Casablanca.<br />

Menino celebrando seu Bar-mitzva a caminho<br />

da sinagoga com seus familiares e amigos<br />

– Fez, Marrocos, 1940.<br />

Mulheres judias em festa com músicos.<br />

OS JUDEUS NOS PRINCIPAIS PAÍSES DA LIGA ÁRABE<br />

69<br />

PAZ - Book AF.indb 69 01.06.09 15:02:03


SOLUÇÃO PARA A PAZ<br />

LÍBANO<br />

Os judeus têm vivido no Líbano desde os tempos antigos. O rei Herodes, o Grande, no<br />

século I, manteve a comunidade judaica em Beirute.<br />

Durante a primeira metade do século XX, a comunidade judaica desenvolveu-se amplamente<br />

por causa da imigração da Grécia, da Turquia e, depois, da Síria e do Iraque. Em<br />

meados dos anos 1950, aproximadamente 7 mil judeus viviam em Beirute. Em comparação<br />

com os países islâmicos, as regras árabe-cristãs, características da estrutura política do país,<br />

conduziam uma política de relativa tolerância à população judaica. Todavia, por estarem tão<br />

próximos do “Estado inimigo” Israel, os judeus libaneses se sentiram inseguros e, em 1967,<br />

decidiram emigrar para a França, Israel, Itália, Inglaterra e América do Sul.<br />

Em 1974, 1.800 judeus permaneciam no Líbano, a maioria concentrada em Beirute. A<br />

guerra civil muçulmano-cristã destruiu o bairro judeu, danificando muitos lares, negócios<br />

e sinagogas. A maior parte dos judeus libaneses restantes emigrou em 1976, temendo que a<br />

presença da Síria no Líbano impedisse sua liberdade de partir. Hoje, um número estimado<br />

de 150 judeus permanece no Líbano.<br />

Sites<br />

http://www.judeusdospaisesarabes.com.br (em português)<br />

http://en.wikipedia.org/wiki/Dhimmi (em inglês)<br />

Tounée Rosset Formada em Ciências Econômicas pela USP, é membro da Loja Horácio Lafer e foi presidente da<br />

B’nai B’rith de São Paulo. Atualmente faz parte da Comissão de Direitos Humanos da B’nai B’rith.<br />

70<br />

PAZ - Book AF.indb 70 01.06.09 15:02:03


7<br />

SOLUÇÃO PARA A PAZ: DOIS<br />

ESTADOS PARA DOIS POVOS<br />

Eric Calderoni<br />

CAPÍTULO<br />

Dezenas de projetos já foram propostos para o conflito entre Israel e seus<br />

vizinhos. Entre os mais famosos estão a Partilha da Palestina, aprovada pela ONU<br />

em 1947, o Road Map (cuja tradução mais comum é “mapa da estrada”, mas<br />

também poderia ser “caminho para a paz”), os acordos de Oslo, a proposta da<br />

Arábia Saudita, a iniciativa árabe e o acordo de Genebra. Cada partido político ou<br />

facção da região ou governo de outro país do restante do mundo tem sua filosofia<br />

e suas opiniões, que mudam com o decorrer do tempo. No entanto, diante de<br />

tanta diversidade, é possível agrupar as propostas que são mais frequentemente<br />

defendidas hoje em dia em três grandes grupos:<br />

A) Solução de dois Estados para dois povos.<br />

B) Proposta de um Estado para dois povos.<br />

C) Projetos de um Estado para um povo.<br />

Quando se fala em apoiar os palestinos ou a “causa palestina”, muitas pessoas<br />

logo concordam, pois se trata de um povo sofrido. Contudo, é importante saber de<br />

que “causa” estão falando e para o que exatamente estão pedindo seu apoio, ou seja,<br />

qual encaminhamento para o conflito a pessoa está promovendo: a solução de dois<br />

Estados para dois povos, que pode levar à paz; um projeto inviável de um Estado<br />

binacional; ou um projeto extremista de um único Estado para somente um povo?<br />

Passamos agora a comentar cada um desses grupos de propostas.<br />

A) Solução de dois Estados para dois<br />

povos: a solução para a paz<br />

Na solução de dois Estados para dois povos, coexistiriam, lado a lado, dois<br />

países. Um deles seria o Estado de Israel, que manteria maioria judaica; o outro,<br />

um Estado palestino, que abrigaria, em sua maioria, famílias árabes que habitam<br />

a região desde antes da constituição do Estado de Israel.<br />

Esses dois países então poderiam viver em paz, exercendo relações diplomáticas<br />

e comerciais. Livres de ataques terroristas, teriam fronteiras abertas para a<br />

circulação de pessoas e mercadorias, assim como ocorria antes da Segunda Intifada,<br />

entre Gaza, Cisjordânia e Estado de Israel.<br />

71<br />

PAZ - Book AF.indb 71 01.06.09 15:02:03


SOLUÇÃO PARA A PAZ<br />

A solução de dois Estados para dois povos<br />

respeita as necessidades nacionais tanto<br />

dos judeus, que, em razão do antissemitismo<br />

histórico, desejam e necessitam que exista<br />

no mundo pelo menos um país de maioria<br />

judaica, como da população árabe daquela<br />

região.<br />

A solução de dois Estados para dois povos<br />

foi adotada em 1947 pela Organização<br />

das Nações Unidas (ONU), que determinou<br />

a Partilha da Palestina, ou seja, justamente a<br />

divisão do território para a constituição de<br />

um Estado judeu e de outro país árabe na região,<br />

que seria o Estado palestino. Por aquela<br />

resolução da ONU, Jerusalém ficaria sob jurisdição<br />

internacional. A solução para a paz<br />

consiste justamente em aceitar os princípios<br />

gerais daquilo que já foi decidido há mais de<br />

sessenta anos.<br />

A Partilha da Palestina, contudo, não foi<br />

aceita pelos países árabes, que exigiam ficar<br />

com 100% do território. Uma coalizão<br />

árabe atacou Israel assim que os britânicos<br />

deixaram a região com a intenção de destruir<br />

Israel, que no entanto venceu a guerra e<br />

assim conseguiu sobreviver. Ao término do<br />

conflito, que ficou conhecido como Guerra<br />

Resolução da ONU pela Partilha da Palestina<br />

(1947).<br />

Fonte: Revista Shalom, 356 (VIII), 13/2/2006.<br />

da Independência de Israel, os países da Liga Árabe Egito e Jordânia ocuparam os territórios<br />

da Faixa de Gaza e da Cisjordânia, respectivamente, situação que se manteve<br />

entre 1948 e 1967, e decidiram não criar neles o Estado palestino. É por isso que não<br />

foi criado o Estado palestino já naquela época: por falta de interesse dos próprios países<br />

árabes vizinhos.<br />

Hoje, o governo de Israel e o partido palestino Fatah, bem como a maioria dos países<br />

do mundo, apoiam uma solução de dois Estados para dois povos na região. Essa solução foi<br />

aceita nos acordos de Oslo, assinados em 1993 e em 1995 entre Israel e a Organização para<br />

a Libertação da Palestina (OLP), e reiterada na Conferência de Anápolis, em 2007, tanto pelo<br />

governo de Israel como pela Autoridade Nacional Palestina (ANP).<br />

72<br />

PAZ - Book AF.indb 72 01.06.09 15:02:03


ENTENDENDO O ORIENTE MÉDIO<br />

7<br />

Foto: Carla Regina Calderoni<br />

O autor do presente capítulo ostenta bandeiras de Israel e da Palestina pela convivência<br />

pacífica entre os povos em uma solução de dois Estados para dois povos – Memorial da América<br />

Latina, São Paulo (SP), 18/1/2009.<br />

Para a implementação da solução de dois Estados para dois povos, seria necessário definir<br />

as fronteiras exatas. Quanto a isso, sempre haveria motivos para discordâncias. Em primeiro<br />

lugar, teria de se acertar uma base, que, no Road Map, defendido pelo chamado “quarteto”<br />

(comissão composta por representantes dos Estados Unidos, da União Europeia, da Rússia e<br />

da ONU), são as fronteiras de antes da guerra de 1967. Definida a base, passar-se-ia a discutir<br />

as exceções. Não mais se tomaria como base as fronteiras que haviam sido planejadas em<br />

1947, mas sim as que ficaram depois da Guerra da Independência, que são mais ou menos<br />

as mesmas que separam hoje em dia judeus e palestinos. 1<br />

Outra questão referente às fronteiras diz respeito às colônias judaicas na Cisjordânia, que<br />

teriam de ser entregues aos palestinos ou então ter seu território negociado em troca de<br />

compensação territorial em outro local ou compensação de outra espécie com que as partes<br />

concordassem. A Figura 1 apresenta uma solução de dois Estados para dois povos, com as<br />

prováveis fronteiras que teriam.<br />

1 A Resolução 242 da ONU, de 22/11/1967, estabelece o retorno às fronteiras de antes da Guerra dos Seis Dias,<br />

como ficou conhecida a guerra travada em 1967.<br />

SOLUÇÃO PARA A PAZ: DOIS ESTADOS PARA DOIS POVOS<br />

73<br />

PAZ - Book AF.indb 73 01.06.09 15:02:05


SOLUÇÃO PARA A PAZ<br />

Figura 1 – Solução de dois Estados<br />

para dois povos<br />

Montagem sobre mapa fornecido pela<br />

Embaixada de Israel à Revista Shalom.<br />

Os palestinos que hoje habitam a Faixa<br />

de Gaza e a Cisjordânia manter-se-iam<br />

onde estão e aqueles que moram em campos<br />

de refugiados nos países vizinhos seriam<br />

transferidos para o território palestino. Os<br />

palestinos que vivem em outros países teriam<br />

como opção emigrar para o Estado<br />

palestino.<br />

Poderia haver compensação financeira aos<br />

palestinos que perderam suas casas durante<br />

o período de construção do Estado de Israel,<br />

mas não haveria o direito de retornarem aos<br />

locais onde habitavam naquela época. Restaria<br />

ver daí se, em contrapartida, também<br />

teriam direito a compensações os mais de<br />

840 mil judeus que viviam nos países da Liga<br />

Árabe que perderam o que tinham quando<br />

foram expulsos ou tiveram de fugir.<br />

As Colinas de Golã, território militarmente<br />

estratégico, pois pode servir de barreira<br />

natural ou de plataforma para artilharia, que<br />

foram conquistadas da Síria por Israel na<br />

Guerra dos Seis Dias em 1967, provavelmente<br />

seriam devolvidas à Síria em troca de sua<br />

aceitação dessa solução e de seu compromisso<br />

em não atacar Israel.<br />

A solução de dois Estados para dois povos,<br />

baseada nas fronteiras anteriores a 1967, é defendida<br />

por Israel e, atualmente, também pelo<br />

partido palestino Fatah e pela Autoridade Nacional<br />

Palestina (cujo presidente, Mahmoud<br />

Abbas, pertence ao Fatah).<br />

Na solução de dois Estados para dois povos,<br />

tal como aqui exposta, Israel permaneceria<br />

como o único país de maioria judaica<br />

do mundo, enquanto seria constituído na<br />

Faixa de Gaza e na Cisjordânia o 46.º país<br />

de maioria muçulmana.<br />

Uma questão que precisaria ser melhor<br />

detalhada na solução de dois Estados para<br />

dois povos diz respeito à descontinuidade<br />

territorial do Estado palestino a ser criado,<br />

pois hoje a Faixa de Gaza e a Cisjordânia não<br />

têm ligação sem passar por dentro de Israel.<br />

Soluções possíveis para o problema da descontinuidade<br />

territorial poderiam envolver<br />

rodovias e ferrovias especiais, sob autoridade<br />

palestina, para ligarem Gaza e Cisjordânia.<br />

Uma das propostas seria a construção de<br />

um túnel semelhante ao Eurotúnel, que liga<br />

Londres a Paris, que manteria a separação<br />

com Israel mais rígida; outras propostas dão<br />

preferência a obras de superfície por serem<br />

mais baratas e de mais fácil integração com a<br />

malha viária israelense.<br />

Mais uma questão que se coloca é a da segurança<br />

do Estado de Israel em relação ao que<br />

aconteceria se palestinos baseados no território<br />

palestino continuassem atacando Israel e<br />

as autoridades palestinas não fossem eficientes<br />

(ou não tivessem empenho) para impedir.<br />

74<br />

PAZ - Book AF.indb 74 01.06.09 15:02:16


ENTENDENDO O ORIENTE MÉDIO<br />

7<br />

Ainda outra questão é o status de Jerusalém, que é a cidade mais sagrada para o judaísmo<br />

e também é sagrada para o Islã (a terceira cidade mais sagrada depois de Meca e Medina).<br />

Alguns alegam que Jerusalém deveria ficar sob jurisdição internacional, mas Israel considera<br />

que isso não é necessário, pois sempre garantiu aos judeus, aos muçulmanos e aos cristãos<br />

o livre acesso a seus locais sagrados.<br />

Por fim, a questão mais fundamental envolvida na solução de dois Estados diz respeito ao<br />

direito de retorno palestino. Abordaremos essa questão logo após a explicação e análise da<br />

proposta de criação de um Estado para dois povos, que nos ajudará a entendê-la.<br />

B) Proposta da criação de um único Estado para<br />

dois povos (Estado binacional)<br />

Na proposta da criação de um único Estado para dois povos, ou seja, um Estado binacional,<br />

judeus e palestinos viveriam em um mesmo país.<br />

Essa proposta foi defendida pelo grupo palestino Fatah de 1974 a 1988, como forma de garantir<br />

pleno direito de retorno aos palestinos que foram deslocados no contexto da criação do Estado<br />

de Israel. A proposta recebe até hoje apoio de alguns intelectuais e de grupos extremistas.<br />

Para quem vive no Brasil, um país multiétnico com tradição de convivência relativamente<br />

pacífica e tolerante entre pessoas de diferentes etnias, religiões etc., é simples, às vezes, simpatizar<br />

com a ideia, à primeira vista.<br />

A ideia de que judeus e palestinos poderiam se respeitar plenamente, sob o mesmo Estado,<br />

sem qualquer forma de distinção, tem forte apelo emotivo. O cantor John Lennon, dos<br />

Beatles, compôs em 1971 a música “Imagine”. A letra tem uma passagem que, livremente<br />

traduzida, diz: “Imagine que não existam países. Não é difícil. Nenhuma causa pela qual matar<br />

ou pela qual sacrificar a própria vida. E tampouco exista qualquer religião. Imagine todas<br />

as pessoas vivendo a vida em paz. Você pode dizer que eu sou um sonhador, mas eu não sou<br />

o único. Espero que algum dia você se junte a nós. Daí o mundo será unido”.<br />

A letra da música faz sentido, e pouca gente discorda que seria maravilhoso morarmos<br />

num mundo tão unido assim. Todavia, infelizmente, para que o sonho de John Lennon possa<br />

se tornar realidade, se é que algum dia poderá, sua concretização precisaria ser buscada lenta<br />

e gradualmente e enfrentaria muitos problemas práticos ligados à realidade atual.<br />

Não há registro de que duas nacionalidades diferentes, com valores religiosos e culturais<br />

distintos, tenham conseguido compartilhar um mesmo território e estabelecido um governo<br />

unificado estável e democrático.<br />

Existem no mundo diversas experiências nas quais a separação de um país em dois ou<br />

mais foi a única capaz de produzir a paz, quando os Estados bi ou multinacionais estavam<br />

promovendo conflitos étnicos ou tinham potencial para o conflito.<br />

Durante a independência, a Índia, que também era domínio britânico, foi dividida em<br />

dois territórios, ficando a atual Índia, de maioria hindu, separada do Paquistão, de maioria<br />

muçulmana. Não quer dizer que a relação entre os vizinhos seja sempre pacífica, mas, pelo<br />

menos, não há constante guerra civil. Atualmente, o maior conflito entre Índia e Paquistão é<br />

justamente pela disputa da Caxemira, região de maioria muçulmana que ficou sob controle indiano.<br />

Quando se tenta juntar povos diferentes que não desejam ficar juntos, a tendência é a de<br />

conflito, a menos que haja uma ditadura muito poderosa que os possa manter unidos à força.<br />

SOLUÇÃO PARA A PAZ: DOIS ESTADOS PARA DOIS POVOS<br />

75<br />

PAZ - Book AF.indb 75 01.06.09 15:02:18


SOLUÇÃO PARA A PAZ<br />

Na Iugoslávia ocorreu um dos maiores massacres étnicos da história da humanidade na<br />

década de 1990, quando a Sérvia tinha como objetivo tentar manter unida uma região onde<br />

a maioria queria se separar, até que se obteve a paz pela solução de dividi-la em vários países<br />

(Sérvia, Croácia, Eslovênia, Bósnia-Herzegovina, Macedônia, Montenegro e Kosovo). Em<br />

âmbito menor, municípios emancipam-se, mas continuam ligados um ao outro em relações<br />

comerciais e com liberdade de ir e vir entre eles.<br />

O Líbano é um país onde o conflito entre árabes cristãos e árabes muçulmanos leva a<br />

assassinatos de líderes políticos, entre outros problemas.<br />

Outra questão que fica é: sim, no universo imaginário de John Lennon não deveriam<br />

existir fronteiras, mas por que começar justamente com Israel, o único país judeu do mundo,<br />

que tem uma população tão pequena em relação à de seus vizinhos?<br />

A primeira iniciativa de superar as fronteiras com o livre deslocamento dos cidadãos de<br />

várias etnias e religiões tem ocorrido na União Europeia, formada por países que, por séculos,<br />

se enfrentaram. Hoje, após aprender duramente com a devastação da Segunda Guerra<br />

Mundial (1939-1945), e sem lançamento de foguetes e educação pelo ódio, muito esforço<br />

vem sendo feito para superar o desafio cultural das fronteiras. Todavia, franceses, ingleses,<br />

alemães, italianos, espanhóis, portugueses e outros não deixam de promover e manter suas<br />

culturas históricas e seus valores, sem alteração de seu território e fronteiras nacionais.<br />

A função da existência do Estado de Israel é justamente a de representar a autodeterminação<br />

do povo judeu, bem como servir de abrigo e proteger todos os judeus que estejam<br />

sendo perseguidos em outras partes do mundo (além de ameaçados em Israel, por exemplo,<br />

por mísseis e atentados suicidas). Assim, antes de passar a cogitar um Estado para dois povos,<br />

seria necessário construir, de fato, as condições de paz, acabando com as perseguições<br />

étnicas. Daí, sim, quem sabe, as fronteiras perderão parte de seu sentido.<br />

A realidade da perseguição aos judeus é extremamente concreta tanto no passado longínquo<br />

e no passado recente como atualmente. Há pouco mais de apenas sessenta anos, ou<br />

seja, ainda existindo pessoas para contar a história, séculos de perseguições aos judeus na<br />

Europa (e em outros lugares), que haviam tomado a forma de pogroms (massacres), culminaram<br />

num genocídio contra os judeus sem paralelo na história da humanidade, envolvendo<br />

um sistema industrial de extermínio, sem que os judeus representassem qualquer ameaça<br />

aos genocidas, não os tendo atacado, não promovendo guerras, não disputando território.<br />

Esse foi o Holocausto.<br />

Israel foi criado justamente pelo ideal do sionismo, que objetiva existir, no mundo, pelo<br />

menos um país judeu, na Terra de Israel, que possa apoiar, proteger e abrigar os judeus<br />

que venham a ser perseguidos em outros países. Por exemplo, Israel resgatou da Etiópia os<br />

falashas, judeus negros que estavam passando por situação difícil. Ofereceu uma nova oportunidade<br />

aos judeus da antiga União Soviética de viverem com sua identidade judaica. Que<br />

Estado no mundo dará abrigo aos judeus se o antissemitismo continuar agravando-se na<br />

Venezuela, onde as sinagogas são depredadas e pichadas com frases como “Fora, judeus”?<br />

O presidente e a imprensa ligada ao governo reivindicam a “dissolução do Estado de Israel”<br />

e ao mesmo tempo culpam os judeus venezuelanos por muitos dos males que ocorrem no<br />

país, propondo boicotes contra os judeus que lá vivem.<br />

Temos episódios contínuos de discriminação e expulsão de judeus dos países árabes. Estamos<br />

diante de um país como o Irã, que nega que o Holocausto tenha existido e propaga<br />

mentiras conspiratórias contra os judeus, ao mesmo tempo que constrói sua bomba atô-<br />

76<br />

PAZ - Book AF.indb 76 01.06.09 15:02:18


ENTENDENDO O ORIENTE MÉDIO<br />

7<br />

mica. Em diversos países, inclusive no Brasil, tem havido alguns atos de vandalismo contra<br />

sinagogas, como em Santo André, Várzea Paulista e Campinas em 2006 e em Passo Fundo<br />

em 2009. Antes de pensar em descaracterizar a existência de um lar nacional judaico, seria<br />

necessário acabar com esse tipo de discriminação e intolerância. Se o Estado de Israel<br />

contemporâneo existisse de forma independente antes, não teriam perecido 6 milhões de<br />

judeus na Europa durante o Holocausto.<br />

A grande maioria dos judeus é contrária à solução de um Estado para dois povos em<br />

Israel por, em termos práticos, isso acabar implicando a destruição do Estado de Israel, por<br />

meio da chamada “bomba demográfica”.<br />

É que não existe nenhum genocídio ocorrendo na região, muito ao contrário: há grande<br />

crescimento da população palestina, maior do que o crescimento da população israelense.<br />

Somando a população palestina residente em Gaza (1,5 milhão de pessoas), na Cisjordânia<br />

(2,5 milhões), palestinos espalhados pelo mundo, sobretudo em países vizinhos (entre 4,5<br />

milhões e 5 milhões), com a população de palestinos cidadãos de Israel (1,4 milhão), totalizam-se<br />

cerca de 10 milhões de palestinos, o que é maior do que a população de judeus<br />

israelenses (5,4 milhões) 2 .<br />

População de Israel<br />

(setembro de 2006)<br />

Judeus 5.393.400 (76%)<br />

Árabes muçulmanos 1.267.200 (18%)<br />

Árabes cristãos 149.100 (2%)<br />

Outros 310.000 (4%)<br />

TOTAL 7.166.700 (100%)<br />

Fonte: Israeli CBS 2007.<br />

População palestina (2004)<br />

Cisjordânia 2.517.047 (24,5%)<br />

Faixa de Gaza 1.499.369 (14,5%)<br />

Árabes israelenses (cidadãos 1.436.300 (14%)<br />

de Israel)<br />

Países árabes 4.350.685 (42%)<br />

Outros países 542.708 (5%)<br />

TOTAL 10.346.109 (100%)<br />

Fonte: PCBS, Mid-year 2004 estimates, Statistical Abstract,<br />

n. 6, 2005.<br />

Além disso, os casais palestinos têm mais filhos em média do que os casais judeus de Israel.<br />

O crescimento médio da população de judeus israelenses tem sido de 1,5% ao ano, e a<br />

dos árabes israelenses, 2,6%. 3 Assim, a diferença populacional (maior para o lado palestino)<br />

aumenta a cada ano.<br />

Portanto, um Estado binacional teria maioria palestina e não judaica. Não existiria nenhum<br />

país com maioria judaica no mundo, e teríamos o 46.º país com maioria muçulmana.<br />

Os judeus ficariam sem pátria, seriam um povo que não desfrutaria de seu direito à autodeterminação.<br />

2 Note que a população total de Israel é menor do que a da cidade de São Paulo, que é de aproximadamente 11<br />

milhões de habitantes, sem contar a população da Grande São Paulo.<br />

3 Veja as fontes dos dados no site da Sociedade Acadêmica Palestina para o Estudo de Assuntos Internacionais:<br />

http://www.passia.org/palestine_facts/pdf/pdf2008/Population.pdf.<br />

SOLUÇÃO PARA A PAZ: DOIS ESTADOS PARA DOIS POVOS<br />

77<br />

PAZ - Book AF.indb 77 01.06.09 15:02:18


SOLUÇÃO PARA A PAZ<br />

Na Figura 2a está representada a ideologia<br />

que prega que um único Estado binacional<br />

não seria nem judaico nem árabe, possibilitando<br />

a convivência pacífica e a prosperidade<br />

de ambos os povos.<br />

Figura 2a – Descrição utópica do<br />

Estado binacional<br />

Já na Figura 2b abaixo está representado<br />

que, na prática, esse seria apenas mais um<br />

país de maioria árabe como tantos outros<br />

que existem, deixando os judeus sem nenhum<br />

país no mundo de maioria judaica e<br />

promovendo conflitos internos entre a maioria<br />

árabe e a minoria judaica no país.<br />

Figura 2b – Realidade prática de<br />

um Estado erroneamente chamado<br />

de “binacional”<br />

Diante da quantidade de conflitos envolvendo muçulmanos hoje no mundo, diante do<br />

crescente aumento da porcentagem de fundamentalistas entre os muçulmanos e diante do fato<br />

de o Hamas ter sido eleito pelos palestinos, não há razão que permita assegurar aos judeus que<br />

a maioria árabe-muçulmana de seu país binacional não votaria em leis prejudiciais à minoria<br />

judaica e muito menos que daria plena garantia de segurança aos judeus de todo o mundo<br />

contra eventuais perseguições.<br />

A não aceitação da solução de um único Estado binacional não implica discriminação;<br />

significa apenas a crença de que cada um deva ter sua independência. Por exemplo, é como<br />

defender que cada família tenha a própria casa, que seja seu lar; isso não quer dizer que as<br />

78<br />

PAZ - Book AF.indb 78 01.06.09 15:02:18


ENTENDENDO O ORIENTE MÉDIO<br />

7<br />

famílias não possam conviver bem entre si nas praças do bairro, que os vizinhos não possam<br />

se dar bem, e até é provável que um vizinho seja bem-vindo na casa do outro para uma<br />

celebração ou que se ajudem mutuamente em caso de necessidade.<br />

A ideia de um Estado de maioria judaica em Israel não significa que o país seja intolerante<br />

com as demais culturas. Embora evoque também aspectos ligados à religiosidade, a<br />

Declaração de Independência justifica o Estado de Israel não em função da religião, mas sim<br />

evocando o direito de autodeterminação, comum a todos os povos. 4<br />

Israel inclui e acolhe todas as crenças, etnias e orientações sexuais, como no Brasil, independentemente<br />

de cada cidadão ser ou não mais ou menos religioso e da religião que ele<br />

siga ou não siga. No Brasil, alguns feriados de importância para o cristianismo são respeitados,<br />

em tribunais e câmaras de vereadores se afixam crucifixos e a festa junina recebe o<br />

nome de um santo, São João. Isso não faz do Brasil um país religioso nem muito menos um<br />

país racista, independentemente de poder existir racismo por outros motivos e de muitas<br />

pessoas serem contrárias mesmo a essas pequenas ligações entre Estado e religião.<br />

O Estado de Israel, embora respeite o dia semanal do descanso (Shabat) e algumas regras<br />

sobre alimentação e as festas religiosas judaicas, é um país que garante plena liberdade religiosa<br />

e de culto, diferentemente de alguns países muçulmanos (nem todos), que impõem<br />

a Sharia (lei islâmica).<br />

4 Seguem trechos da Declaração de Independência de Israel:<br />

“A terra de Israel é o local de origem do povo judeu. Aqui a sua identidade espiritual, política e religiosa foi moldada.<br />

Aqui eles primeiro atingiram a formação de um Estado, criaram valores culturais de significância nacional<br />

e universal e deram ao mundo o eterno Livro dos Livros. Depois de serem forçosamente exilados de sua terra, o<br />

povo conservou consigo sua fé durante sua Dispersão e nunca deixou de rezar e sonhar com o retorno para sua<br />

terra e com a restauração, lá, de sua liberdade política.<br />

[...]<br />

Este é o direito natural de o povo judeu ser mestre de seu próprio destino, como todas as outras nações, em seu<br />

próprio Estado soberano.<br />

[...] por virtude de nossos direitos naturais e históricos e pela força da resolução da Assembleia Geral das Nações<br />

Unidas, aqui declaramos o estabelecimento do Estado judeu em Eretz-Israel, a ser conhecido como Estado de<br />

Israel.<br />

O Estado de Israel [...] patrocinará o desenvolvimento do país para o benefício de todos os seus habitantes; será<br />

baseado na liberdade, justiça e paz como imaginado pelos profetas de Israel; garantirá liberdade de religião, consciência,<br />

língua, educação e cultura; respeitará os lugares sagrados de todas as religiões; e será fiel aos princípios<br />

da Ata das Nações Unidas.<br />

O Estado de Israel está preparado para cooperar com agências e representantes das Nações Unidas a implementar<br />

a resolução da Assembleia Geral de 29 de novembro de 1947 [...].<br />

[...]<br />

Nós fazemos um apelo – em meio ao duro ataque lançado contra nós há meses – aos habitantes árabes do Estado<br />

de Israel para manter a paz e participar da construção do Estado na base de igual e completa cidadania e através<br />

de representação em todas as suas instituições provisórias e permanentes.<br />

Nós estendemos nossa mão a todos os Estados vizinhos e seus povos, numa oferta de paz e boa vizinhança, e<br />

apelamos a eles para o estabelecimento de laços de cooperação e ajuda mútua com o soberano povo judeu, estabelecido<br />

em sua própria terra. O Estado de Israel está preparado para fazer a sua parte em um esforço comum<br />

para o desenvolvimento de todo o <strong>Oriente</strong> Médio.<br />

[...]”<br />

SOLUÇÃO PARA A PAZ: DOIS ESTADOS PARA DOIS POVOS<br />

79<br />

PAZ - Book AF.indb 79 01.06.09 15:02:21


SOLUÇÃO PARA A PAZ<br />

Presença da religião na Constituição de países cujo maior<br />

grupo religioso é o muçulmano<br />

Da mesma forma que no Brasil, em Israel as minorias integram-se à vida nacional com<br />

todos os direitos. Israel abriga ampla minoria de 20% da população com cidadania israelense<br />

sendo árabe. Esses árabes com cidadania israelense pertencem às famílias que permaneceram<br />

em território israelense no contexto de criação do Estado de Israel e seus descendentes.<br />

Um quinto, ou seja, 20% dos cidadãos de Israel, é árabe, e a bancada árabe no Parlamento,<br />

bastante volumosa, influencia com grande peso as decisões.<br />

Em termos comparativos, existem 45 países do mundo com maioria muçulmana; em<br />

35 deles mais de 80% da população é muçulmana, atingindo mais de 95% em 21. Em<br />

boa parte desses países, os judeus são ou perseguidos ou tolerados como dhimmis, ou seja,<br />

cidadãos de segunda classe com menos direitos e mais deveres do que os muçulmanos.<br />

Além de Israel, não existe nenhum país no mundo que chegue sequer a 2% de população<br />

judaica.<br />

A ideia de um Estado binacional hoje não recebe apoio de nenhuma parcela significativa<br />

nem da população judaica nem da palestina. Quase sempre a proposta de um único Estado<br />

para dois povos é defendida somente por pessoas que não vivem lá, pois quem vive lá não<br />

quer isso. A proposta de um único Estado para dois povos não é colocada nem pela coalizão<br />

do governo de Israel, nem por nenhum dos principais partidos políticos palestinos, que são<br />

o Fatah e o Hamas, nem pelos grupos extremistas de nenhum dos dois lados, nem pelos<br />

países árabes. No entanto, a ideia de um único Estado para os dois povos circula com certa<br />

frequência no Brasil.<br />

80<br />

PAZ - Book AF.indb 80 01.06.09 15:02:21


ENTENDENDO O ORIENTE MÉDIO<br />

7<br />

A reivindicação de um direito de retorno palestino:<br />

grande entrave para a paz<br />

O chamado “direito de retorno” palestino consiste na reivindicação de que Israel deveria<br />

permitir o retorno de todos os palestinos que deixaram o território de Israel durante seu<br />

processo de independência, concedendo-lhes cidadania israelense.<br />

O direito de retorno equivaleria à solução de um Estado binacional, caso fosse criado apenas<br />

um Estado na Terra de Israel, o que já seria injusto, pelas razões expostas anteriormente.<br />

No entanto, para aumentar a injustiça, muitos grupos alegam que se deveriam criar dois<br />

Estados: um deles seria exclusivamente palestino e o outro, Israel, concederia direito de<br />

retorno aos palestinos. Ou seja, trata-se de um projeto de dois Estados no qual, além de ser<br />

criado um Estado palestino, o Estado de Israel se tornaria binacional.<br />

É muito importante frisar que a ideia do direito de retorno na solução de dois Estados<br />

não consiste no direito dos palestinos de retornarem ao Estado palestino, mas sim dos palestinos<br />

de retornarem ao Estado de Israel. Por isso, alguns críticos chamam essa proposta de<br />

“um Estado e meio” para os palestinos, que ficariam com 100% do próprio Estado e ainda<br />

compartilhariam do Estado vizinho.<br />

Outra questão a considerar é o direito de retorno ou de compensação para os judeus que<br />

foram expulsos de países da Liga Árabe, totalizando, na época, cerca de 840 mil pessoas 5 . O<br />

retorno desses judeus, mesmo se aceitassem, não alteraria o perfil das sociedades dos países<br />

de sua origem nem de seus sistemas de governo existentes.<br />

Indo ainda mais fundo, no entanto, devemos nos lembrar da demografia. Assim, chamar<br />

essa solução de “um Estado e meio” seria ainda irreal, pois suporia condições de igualdade<br />

entre judeus e palestinos no Estado de Israel. Pelo que já foi apresentado, todavia, ficou claro<br />

que seria provável que em pouco tempo o Estado de Israel se tornasse também um país de<br />

maioria palestina.<br />

Portanto, seria “dois Estados de maioria palestina” a expressão que melhor descreveria<br />

as consequências práticas do projeto de dois Estados com direito de retorno palestino ao<br />

Estado de Israel.<br />

A reivindicação do direito de retorno dos palestinos ao Estado de Israel é um seriíssimo entrave<br />

à paz, pois isso eliminaria a ideia de partilha, descaracterizando o Estado de Israel como<br />

lar nacional judaico. Na proposta de um Estado palestino mais um Estado de Israel descaracterizado<br />

pelo direito de retorno palestino a seu território, a definição de Israel como Estado<br />

judeu e democrático ficaria impossível, uma vez que os palestinos seriam maioria da população,<br />

de tal forma que o Estado só poderia se manter judaico se deixasse de ser democrático, o<br />

que seria inconcebível, deixando, assim, de ser judaico. Os palestinos ficariam, portanto, com<br />

dois Estados para seu povo.<br />

A solução coerente com a filosofia de dois Estados para dois povos inclui frequentemente<br />

indenizações para os palestinos que perderam suas casas. Com essa indenização, eles poderiam<br />

construir uma bela casa e prosperar no país palestino, mas não teriam o direito de retornar ao<br />

local original que habitavam no passado caso este passasse a pertencer ao Estado de Israel.<br />

5 http://www.judeusdospaisesarabes.com.br.<br />

SOLUÇÃO PARA A PAZ: DOIS ESTADOS PARA DOIS POVOS<br />

81<br />

PAZ - Book AF.indb 81 01.06.09 15:02:22


SOLUÇÃO PARA A PAZ<br />

É muito importante estarmos atentos a esse “detalhe”. Alguns grupos árabes dizem que<br />

“reconhecem, sim”, o direito de existir de Israel e a solução de dois Estados. No entanto,<br />

muitos deles reivindicam o direito de retorno dos palestinos ao território israelense, com<br />

cidadania israelense; portanto, seu reconhecimento do direito de existir de Israel é apenas<br />

fachada, já que, se concedido o direito de retorno tal como eles reivindicam, seu projeto<br />

implica manter somente Estados de maioria árabe-muçulmana no <strong>Oriente</strong> Médio.<br />

As negociações entre Israel e a Autoridade Nacional Palestina-ANP fracassaram no ano<br />

2000 principalmente pelo fato de os palestinos terem insistido em seu direito de retorno ao<br />

território de Israel (embora tenha havido também outras razões), apesar de 95% das solicitações<br />

territoriais terem sido aceitas por Israel.<br />

De 1993 a 1995, o líder da Organização para a Libertação da Palestina-OLP, Yasser Arafat,<br />

firmou com Israel os acordos de Oslo, reconhecendo o direito de existir de Israel e aceitando<br />

uma solução com dois Estados. Como decorrência desses acordos, houve cinco anos de<br />

relativa paz entre palestinos e israelenses e a construção dos alicerces do Estado palestino,<br />

com a fundação da Autoridade Nacional Palestina (espécie de presidência da república palestina<br />

que estava ainda sendo criada) e a transferência gradual do controle dos territórios<br />

palestinos para ela.<br />

No entanto, em 2000, na hora de detalhar como funcionaria a solução de dois Estados,<br />

Arafat, na época presidente da ANP, insistiu no direito de retorno dos palestinos ao Estado<br />

judeu, destruindo, assim, o processo de paz e levando a uma nova onda de conflitos (chamada<br />

de Segunda Intifada), e, em razão dessa sua insistência, até hoje não pôde ser criado o<br />

Estado palestino, que melhoraria muito a vida dos palestinos. 6<br />

Apenas na Conferência de Anápolis, realizada em 2007 com a presença do Brasil, após o<br />

falecimento de Arafat, a Autoridade Nacional Palestina aceitou conversar sobre a possibilidade<br />

de concordar com a existência de Israel com maioria judaica convivendo em paz ao lado<br />

do Estado palestino, ou seja, aceitou conversar sobre a possibilidade de trocar o direito de<br />

retorno por alguma forma de compensação.<br />

No entanto, não há ainda consenso tranquilo sobre a questão, proliferando documentários,<br />

cartazes, cartas e documentos em que palestinos continuam insistindo no direito de<br />

retorno ao Estado de Israel, com cidadania israelense e não palestina.<br />

6 Veja histórico detalhado da busca de Israel pela paz no livro A Busca de Israel pela Paz, disponível gratuitamente em:<br />

http://www.ajc.org/atf/cf/%7B42D75369-D582-4380-8395-D25925B85EAF%7D/A_Busca_de_Israel_pela_<br />

Paz_2007.<br />

82<br />

PAZ - Book AF.indb 82 01.06.09 15:02:22


ENTENDENDO O ORIENTE MÉDIO<br />

7<br />

A Figura 3a mostra a aparência mais superficial<br />

da divisão entre dois Estados com<br />

direito de retorno palestino a Israel. Nessa<br />

representação ingênua, Israel é desenhado<br />

como se fosse continuar como Estado judeu.<br />

Essa figura é idêntica à Figura 1, exceto pelo<br />

ponto de interrogação na legenda.<br />

Figura 3a – Projeto de dois Estados<br />

A Figura 3b mostra que no projeto de<br />

retorno palestino a Israel, Israel tornar-se-ia<br />

um Estado binacional, enquanto os palestinos<br />

teriam um Estado somente deles constituído<br />

na Faixa de Gaza e na Cisjordânia.<br />

Figura 3b – Projeto de dois Estados<br />

com direito de retorno dos<br />

palestinos a Israel – versão otimista<br />

SOLUÇÃO PARA A PAZ: DOIS ESTADOS PARA DOIS POVOS<br />

83<br />

PAZ - Book AF.indb 83 01.06.09 15:02:22


SOLUÇÃO PARA A PAZ<br />

Por fim, a Figura 3c revela as consequências<br />

práticas do projeto de constituição de<br />

dois Estados com direito de retorno dos palestinos<br />

a Israel. O nome “Israel” não aparece<br />

no mapa nem na legenda, pois provavelmente<br />

seria trocado pela maioria árabe do país.<br />

Figura 3c – Consequência do<br />

projeto de dois Estados com direito<br />

de retorno dos palestinos a Israel<br />

Projeto de três Estados<br />

Existe uma proposta, hoje em desuso,<br />

conhecida como “solução de três Estados”,<br />

que dá conta da descontinuidade territorial,<br />

propondo que Gaza fique controlada pelo<br />

Egito, e a Cisjordânia, pela Jordânia, que são<br />

países árabes, tendo a Jordânia sido criada<br />

em 1946, ou seja, mais ou menos na mesma<br />

época que Israel, ficando com 70% do<br />

território que correspondia à Palestina, sob<br />

Mandato Britânico.<br />

Note-se que, nessa solução, os três Estados<br />

seriam Israel, Jordânia e Egito, isto é, não<br />

se criaria um Estado palestino. A chamada<br />

“solução de três Estados”, hoje muito pouco<br />

aceita por qualquer grupo, considera que<br />

não existiria um povo palestino, mas sim<br />

que, em vez disso, sua identidade seria simplesmente<br />

árabe, não importando em qual<br />

Estado os palestinos ficariam, desde que fosse<br />

um Estado árabe, ou seja, um Estado árabe<br />

não necessariamente apenas palestino, e não<br />

necessariamente o mesmo Estado incluiria<br />

tanto a Faixa de Gaza como a Cisjordânia.<br />

A solução de três Estados fazia mais sentido<br />

algumas décadas atrás, lembrando que foi<br />

a Jordânia, e não Israel, que ocupou a Cisjordânia<br />

entre 1949 e 1967, e que foi o Egito e<br />

não Israel que ocupou Gaza durante aqueles<br />

mesmos anos. Se Jordânia e Egito tivessem<br />

tido interesse, ou se houvesse reivindicação<br />

dos palestinos nesse sentido naquela época, o<br />

Estado palestino poderia ter sido criado pelo<br />

Egito e pela Jordânia a qualquer tempo.<br />

Hoje em dia, a situação é inversa: não parece<br />

haver interesse do Egito e da Jordânia de<br />

receberem como cidadãos os palestinos da<br />

Faixa de Gaza e da Cisjordânia, e existe um<br />

movimento organizado entre os palestinos<br />

pela criação de um Estado palestino. Por essas<br />

razões, atualmente muito pouco se ouve<br />

falar dessa proposta de anexar Gaza ao Egito<br />

e a Cisjordânia à Jordânia.<br />

84<br />

PAZ - Book AF.indb 84 01.06.09 15:02:26


ENTENDENDO O ORIENTE MÉDIO<br />

7<br />

Outra solução de três Estados – um deles um Estado de maioria judaica (Israel) e dois<br />

Estados palestinos independentes, um em Gaza e outro na Cisjordânia – apenas começou a<br />

ser colocada publicamente em 2009, quando o Fatah acusou o Hamas de querer promover<br />

um separatismo na Palestina, ou seja, tornar Gaza e Cisjordânia independentes uma da outra,<br />

de tal forma que o Hamas ficasse com o controle sobre a Faixa de Gaza e o Fatah com o<br />

controle sobre a Cisjordânia, perenizando o que vem ocorrendo.<br />

Hoje o Fatah governa na Cisjordânia e o Hamas, em Gaza. Tal divisão resultou do acordo de<br />

paz entre os dois partidos posterior à onda de violência causada pelo Hamas, que perseguiu a<br />

oposição assim que venceu as últimas eleições, em 2005. O presidente da Autoridade Nacional<br />

Palestina, Mahmoud Abbas, do Fatah, afirma que não aceita qualquer separatismo 7 .<br />

C) Projetos de um Estado para somente um povo<br />

As soluções de um Estado para somente um dos povos apenas podem ser realizadas por<br />

meio de uma guerra total e não de negociações pacíficas, pois implicam que o outro povo<br />

interessado no mesmo território seja eliminado ou expulso.<br />

Essas soluções são defendidas por radicais extremistas dos dois lados, geralmente motivados<br />

por um fundamentalismo religioso, mas em alguns casos também por pessoas não<br />

muito religiosas. Do lado israelense, existem radicais que têm uma interpretação fundamentalista<br />

da Torá (cinco livros de Moisés, do Antigo Testamento), considerando que toda a Terra<br />

de Israel foi prometida por Deus ao povo hebreu. Eles utilizam a expressão “Grande Israel”<br />

para designar o território que consideram deveria ser o do Estado de Israel, que englobaria<br />

também a Cisjordânia e a Faixa de Gaza.<br />

É preciso não perder de vista as dimensões reais dos territórios em questão. O Estado de<br />

Israel tem hoje 20.700 km 2 , sendo menor do que o Estado de Sergipe, e pode ser percorrido<br />

de ponta a ponta em nove horas, de carro, sendo circundado por países árabes, com mais<br />

de 7 milhões de km 2 .<br />

Portanto, para os judeus europeus do século XIX e início do XX, era compreensível o<br />

pensamento sobre a Grande Israel, pois não conheciam bem quem habitava a região, muitos<br />

acreditando que ela era pouco habitada e não estava ainda dividida da forma como o foi a<br />

partir da Primeira Guerra Mundial, de tal modo que não existia uma identidade palestina<br />

como foi se formando no processo de separação entre os países árabes da região. Ou seja,<br />

uma divisão da terra em países árabes ou país árabe e país judeu justificaria que o minúsculo<br />

Israel, mesmo que “Grande” ainda sendo pequeno, pudesse ficar para um povo, enquanto<br />

todo o resto do <strong>Oriente</strong> Médio ficaria sob controle árabe.<br />

Já hoje em dia o pensamento sobre a Grande Israel perde adesão entre a grande maioria dos<br />

judeus, tanto por razões pacifistas negociais históricas, baseadas no princípio de abrir mão de<br />

terras em troca de paz, como já ocorreu com a Jordânia e o Egito, quanto pelo fato de não se<br />

desejar incorporar uma maioria não judaica com cidadania israelense, nem se desejar criar<br />

cidadãos de segunda classe (algo análogo, por exemplo, aos dhimmis do mundo muçulmano).<br />

Como os palestinos são discriminados pelos países árabes vizinhos, não sendo aceitos por eles<br />

em seu território com cidadania, a solução real é que venham a constituir o próprio Estado.<br />

7 Veja notícia da denúncia do Fatah de que o Hamas deseja promover separatismo na Palestina em:<br />

http://www.estadao.com.br/internacional/not_int311272,0.htm.<br />

SOLUÇÃO PARA A PAZ: DOIS ESTADOS PARA DOIS POVOS<br />

85<br />

PAZ - Book AF.indb 85 01.06.09 15:02:28


SOLUÇÃO PARA A PAZ<br />

O fato é que tais radicais hoje são ínfima minoria em Israel. Desde a Declaração de Independência,<br />

Israel já afirmou seu compromisso com a Partilha da Palestina. Nos acordos de<br />

Oslo, a intenção de promover dois Estados para dois povos foi reafirmada, e Israel começou<br />

a tomar os passos nessa direção. Em 2005, como forma de promover a paz, Israel decidiu<br />

entregar a Faixa de Gaza ao controle palestino, desmantelando todas as colônias israelenses<br />

que haviam sido estabelecidas nela.<br />

O problema foi que, assim que Israel tomou essas medidas em favor da constituição do<br />

Estado palestino, a população palestina elegeu o partido Hamas, que tem como bandeira<br />

de luta a destruição do Estado de Israel, ou seja, fundar um Estado islâmico em toda a Terra<br />

de Israel. Assim que empossado, o Hamas começou a perseguir, prender, torturar e matar<br />

membros do partido de oposição Fatah pelo fato de ele ser atualmente favorável a firmar a<br />

paz com Israel por meio de uma solução de dois Estados para dois povos. Israel estabeleceu<br />

um bloqueio econômico e logístico para impedir que armas e dinheiro chegassem ao<br />

Hamas, enquanto este constantemente lançava, contra o sul de Israel, mísseis cada vez mais<br />

sofisticados, de maior alcance.<br />

Grupos terroristas fundamentalistas como o Hamas, o Hezbollah e a Jihad Islâmica são<br />

os mais famosos na luta pela criação de um Estado islâmico em toda a Terra de Israel. O Irã,<br />

país que financia esses grupos terroristas, também defende a destruição do Estado de Israel<br />

e faz propaganda para afirmar que não houve matanças de judeus durante a Segunda Guerra<br />

Mundial.<br />

As trágicas incursões das Forças de Defesa de Israel ao Líbano em 2006 e à Faixa de Gaza<br />

na virada de 2008 para 2009 foram necessárias para combater, respectivamente, o Hezbollah<br />

e o Hamas, que havia anos estavam lançando mísseis contra a população civil em<br />

Israel. Grupos como esses atrapalham as negociações entre os palestinos que desejam a paz e<br />

Israel, impedindo a criação do Estado palestino que reconheça a legitimidade da existência<br />

de Israel como Estado judeu.<br />

Além disso, mentem, distorcem e obscurecem ao se fazerem de vítimas perante a imprensa.<br />

Durante a incursão ao Líbano, dezenas de fotos de supostas atrocidades que teriam<br />

sido cometidas por Israel foram lançadas na mídia, o que um mês depois começou a se<br />

revelar falso 8 . Em 2008, Israel foi acusado de bombardear uma escola da ONU em Gaza, e<br />

novamente um mês depois a ONU confirmou que nunca existiu tal ataque 9 ; já o Hamas,<br />

sim, roubou alimentos da ajuda humanitária da ONU 10 . O Hamas mantém os palestinos<br />

na miséria, como forma de conseguir apoio ao oferecer uma alternativa radical e distribuir<br />

cestas básicas para o povo.<br />

A luta desses grupos não é apenas contra Israel e contra os judeus, mas também contra<br />

todas as pessoas que não seguem a religião islâmica de maneira estrita. Os grupos fundamentalistas<br />

islâmicos são contrários ao estilo de vida “ocidental”, desejando instalar a Sharia<br />

(lei muçulmana), e cultuam o suicídio como forma de atingir seus objetivos políticos<br />

e encontrar lugar no paraíso pós-morte. Grupos fundamentalistas islâmicos promoveram<br />

um atentado a bomba na Argentina, derrubaram prédios comerciais com aviões nos Estados<br />

Unidos (o famoso “11 de Setembro”), explodiram o metrô lotado de passageiros em Ma-<br />

8 Veja exemplos de fotos falsas usadas na mídia para exagerar e distorcer fatos sobre os contra-ataques israelenses<br />

contra grupos extremistas islâmicos que usam civis como escudos humanos em: http://www.maozisrael.com.<br />

br/shira/especial/Informativo_Setembro.pdf.<br />

9 http://www.haaretz.com/hasen/spages/1061189.html.<br />

10 http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2009/02/090204_gaza_consfisco_rc.shtml.<br />

86<br />

PAZ - Book AF.indb 86 01.06.09 15:02:28


ENTENDENDO O ORIENTE MÉDIO<br />

7<br />

dri, na Espanha, e mataram dezenas de inocentes em ações em Mumbai, na Índia, em 2008,<br />

apenas para dar alguns exemplos. Será que o Brasil será alvo? Há denúncias de que existe em<br />

operação um campo de treinamento terrorista na região da Tríplice Fronteira para promover<br />

atentados sobretudo no Brasil e na Argentina. Cabe aos governos da região tomarem as medidas<br />

em tempo, investigando e atuando para evitar ações terroristas islâmicas.<br />

Observe o contraste entre a Declaração de Independência de Israel, citada em nota de<br />

rodapé, e a carta constitutiva (estatuto) do Hamas, cujo artigo 7.º dispõe: “O dia do juízo<br />

final não virá até que os muçulmanos lutem contra os judeus (matando os judeus), quando<br />

os judeus se esconderão atrás de pedras e árvores. As pedras e árvores dirão ó, muçulmanos,<br />

ó Abdullah, tem um judeu atrás de mim, venha e mate-o...”.<br />

Infelizmente, existem fanáticos no mundo inteiro que defendem a destruição do Estado<br />

de Israel. Alguns deles são muçulmanos fundamentalistas; outros, grupos socialistas com<br />

uma interpretação equivocada da situação, que pensam que apoiar os interesses do fundamentalismo<br />

islâmico contribuiria para o enfraquecimento do sistema capitalista global.<br />

A existência de tantas pessoas contra Israel e contra os judeus somente reforça a necessidade<br />

de um lar nacional judaico que possa servir de abrigo e proteção contra as pessoas que<br />

odeiam e desejam destruir os judeus e/ou impedi-los de realizar seus direitos humanos,<br />

como o direito à autodeterminação.<br />

Veja, por exemplo, foto de uma manifestação realizada no Masp, em São Paulo, em 11 de<br />

janeiro de 2009, na qual militantes árabes e grupos políticos extremistas brasileiros reivindicam<br />

a destruição do Estado de Israel queimando bandeiras do país, em:<br />

http://noticias.uol.com.br/album/090111protestos_album.jhtm?abrefoto=14.<br />

SOLUÇÃO PARA A PAZ: DOIS ESTADOS PARA DOIS POVOS<br />

87<br />

PAZ - Book AF.indb 87 01.06.09 15:02:28


SOLUÇÃO PARA A PAZ<br />

A importância da educação<br />

Muito do extremismo que causa o conflito na região do <strong>Oriente</strong> Médio tem origem na<br />

educação, pela qual se transmite o ódio às novas gerações. A constituição de dois Estados para<br />

dois povos é condição necessária para a paz, mas<br />

não suficiente. Podem bem existir dois Estados<br />

sob constante tensão, como foi o relacionamento<br />

entre Israel e seus vizinhos árabes até<br />

pelo menos 1978. Outra condição necessária<br />

para a paz é que se eduquem as crianças para<br />

cultivá-la. Com a divisão territorial em dois<br />

Estados que respeitem cada um o modo de ser<br />

de seus respectivos povos e uma educação para<br />

a paz, teremos as condições suficientes para o<br />

desenvolvimento de uma paz duradoura.<br />

Os princípios judaico-cristãos pregam a<br />

valorização da vida e o amor ao próximo. No<br />

entanto, segundo interpretações literais do<br />

Corão, o livro sagrado muçulmano, é dever<br />

de todo muçulmano lutar pelo que chamam<br />

de “guerra santa” (jihad, em árabe), que é o<br />

esforço por converter o mundo todo ao Islã e<br />

matar quem não aceitar se converter. Existem<br />

também interpretações do Corão que veem<br />

nele uma mensagem de amor e harmonia com<br />

outros povos, mas têm crescido os adeptos da<br />

interpretação que vê no livro um chamado para<br />

a guerra total. Grupos como o Hamas, o Hezbollah<br />

e a Jihad Islâmica utilizam-se de escudos<br />

humanos nas guerras, ou seja, escondem-se<br />

em meio à população civil para causar o maior<br />

número de notícias na mídia sobre mortes de<br />

palestinos e treinam terroristas para cometer<br />

atentados suicidas. Muitas crianças palestinas<br />

são desde cedo doutrinadas a odiar Israel e os<br />

judeus e a realizar treinamentos militares 11 .<br />

11 Veja vídeo sobre treinamento das crianças palestinas pelo Hamas em:<br />

http://www.youtube.com/watch?v=TkwthDpeZWk.<br />

88<br />

PAZ - Book AF.indb 88 01.06.09 15:02:28


ENTENDENDO O ORIENTE MÉDIO<br />

7<br />

O ratinho Farfour ensina às crianças que se deve atirar com metralhadoras contra Israel e os<br />

judeus, no episódio número 103 do programa Os Pioneiros do Amanhã, exibido na emissora<br />

Al-Aqsa, a TV do Hamas.<br />

O Hamas, partido político palestino, classificado como organização terrorista, que causou<br />

a incursão de Israel em Gaza, possui um canal de televisão em que exibe programas<br />

infantis, além de usar a internet e uma revista na Grã-Bretanha, para ensinar às crianças o<br />

ódio aos judeus e glorificar o terrorismo com ataques suicidas. Em um desses programas,<br />

chamado Os Pioneiros do Amanhã, o personagem Farfour, um ratinho muito semelhante ao Mickey<br />

Mouse, ensina à criançada que se deve morrer combatendo os judeus como forma de<br />

obter o paraíso após a morte para si e para toda a família do suicida.<br />

Em Israel, algumas iniciativas educacionais reúnem crianças judias e palestinas para que<br />

cresçam em paz. Esse é o caminho que deve ser incentivado.<br />

No Brasil, é muito importante promover uma educação em prol da tolerância e amizade<br />

entre os dois povos, sendo imprescindível transmitir informações corretas sobre a realidade<br />

e a história.<br />

SOLUÇÃO PARA A PAZ: DOIS ESTADOS PARA DOIS POVOS<br />

89<br />

PAZ - Book AF.indb 89 01.06.09 15:02:30


SOLUÇÃO PARA A PAZ<br />

O exemplo brasileiro<br />

Judeus e árabes tradicionalmente se deram bem no Brasil, sejam os árabes cristãos, sejam<br />

muçulmanos. Aqui, é comum a amizade entre pessoas dessas duas origens, motivo pelo qual se<br />

costuma dizer que o Brasil dá ao mundo um exemplo de tolerância, convivência e amizade.<br />

Representantes das comunidades judaica e muçulmana enfatizam a necessidade de não<br />

“importar o conflito”, isto é, trazer a violência para dentro do país.<br />

No Brasil, líderes de várias religiões publicaram em janeiro de 2009 uma nova declaração<br />

pela paz:<br />

LÍDERES RELIGIOSOS REAFIRMAM<br />

COMPROMISSO COM A PAZ<br />

Preocupados com a crescente escalada do conflito no <strong>Oriente</strong> Médio, nós,<br />

líderes religiosos, unimo-nos para pedir o estabelecimento e a manutenção da<br />

paz na região.<br />

Reafirmamos nossa opção pelo diálogo entre as partes como caminho para a<br />

solução do conflito.<br />

No Brasil, os representantes das diferentes comunidades contam com um canal<br />

permanentemente aberto de conversação. Desejamos que a relação fraterna entre<br />

povos de diferentes credos e culturas que se desenvolveu com mais intensidade<br />

nas últimas décadas em solo brasileiro se fortaleça, cada vez mais, e sirva de<br />

inspiração para outras sociedades ameaçadas em sua convivência pacífica.<br />

Com desejos de Paz, Salam e Shalom!<br />

Dom Raymundo Damasceno Assis – Presidente do Conselho Episcopal<br />

Latino-Americano<br />

Padre José Bizon – Casa da Reconciliação<br />

Armando Hussein Saleh – Xeque Missionário pela Paz Mundial<br />

Bayram Dagdeviren – Comunidade Turca no Brasil<br />

Ruben Sternschein e Michel Schlesinger – Rabinos da Congregação<br />

Israelita Paulista<br />

Monja Coen – Comunidade Zen Budista<br />

Reverendo Gustavo Alberto C. Pinto – Monge Budista da Tradição Terra Pura<br />

Iya Sandra Epega – Sacerdotisa da Tradição de Orixá<br />

No entanto, infelizmente, há motivos para preocupação, pois recentemente alguns grupos<br />

que se dizem “pró-palestinos”, em vez de reivindicar a construção de um Estado palestino<br />

que conviva em paz com Israel, têm pregado o ódio contra Israel e os judeus no Brasil.<br />

Além de divulgarem fatos distorcidos e fazerem demonstrações com cartazes com frases em<br />

favor da violência, eles vêm praticando vandalismos contra sinagogas (templo religioso judaico),<br />

como os que ocorreram em Campinas e Santo André em 2006 e em Passo Fundo em<br />

2009. Traz grande perigo o campo de treinamento de terroristas que foi montado na região<br />

da Tríplice Fronteira, para promover ataques principalmente no Brasil e na Argentina.<br />

90<br />

PAZ - Book AF.indb 90 01.06.09 15:02:30


ENTENDENDO O ORIENTE MÉDIO<br />

7<br />

Bibliografia sugerida<br />

Livros<br />

BARD, Mitchell G. Mitos e Fatos – A verdade sobre o conflito árabe-israelense. São Paulo: Sêfer,<br />

2004. Disponível em: http://www.scribd.com/doc/4902428/MITOS-E-FATOS-Mitchell-G-Bard.<br />

COMITÊ JUDAICO AMERICANO. A Busca de Israel pela Paz, 2007. Disponível gratuitamente em:<br />

http://www.ajc.org/atf/cf/%7B42D75369-D582-4380-8395-D25925B85EAF%7D/A_Busca_de_<br />

Israel_pela_Paz_2007.pdf.<br />

DERSHOWITZ, Alan. Em Defesa de Israel. São Paulo: Nobel, 2004.<br />

GODGRUB, Franklin Winston. O Antissionismo: de esquerda, direita, liberal, islâmico. São Paulo:<br />

Samizdat, 2008.<br />

KAMEL, Ali. Sobre o Islã – A afinidade entre muçulmanos, judeus e cristãos e as origens do<br />

terrorismo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2007.<br />

Filme<br />

A Lista de Schindler. Direção: Steven Spielberg. Estados Unidos, 1993. 195 min.<br />

Dossiê sobre fotos falsificadas veiculadas durante a incursão de Israel ao Líbano em 2006<br />

SORKO-RAM, Shira. “Fotos do Líbano: uma grande farsa montada”. Maoz Israel, Elul-Tishrei<br />

5766-5767, 2006. Disponível gratuitamente em: http://www.maozisrael.com.br/shira/especial/<br />

Informativo_Setembro.pdf.<br />

Artigo em espanhol<br />

DÉS, Mihály. “El antisemitismo posmoderno”. Lateral Revista de Cultura, n. 107, nov.<br />

2003. Disponível gratuitamente em: http://www.circulolateral.com/revista/revista/editorial/<br />

107antisemitismo.html.<br />

Revista semanal<br />

Revista Shalom (http://www.revistashalom.com.br)<br />

Sites<br />

Em português:<br />

http://blogandodeisrael.blogspot.com<br />

http://etnografianovirtual.blogspot.com<br />

http://namiradohamas.blogspot.com<br />

http://netjudaica.blogspot.com<br />

http://veja.abril.com.br/blogs/reinaldo<br />

http://www.bnai-brith.com.br<br />

http://www.deolhonamidia.org.br<br />

http://www.jornalalef.com.br<br />

http://www.owurman.com/blog<br />

http://www.pletz.com<br />

http://www.visaojudaica.com.br<br />

Em inglês:<br />

http://jta.org<br />

http://www.adl.org<br />

http://www.bnaibrith.org<br />

http://www.imra.org.il<br />

http://www.israelnationanews.com<br />

http://www.israelpolitik.org<br />

http://www.jpost.com<br />

http://www.pmw.org.il<br />

http://www.wiesenthal.com<br />

http://www.youtube.com/user/idfnadesk<br />

Eric Calderoni Doutor em Psicologia Social, é diretor de projetos do Instituto Brasil Ambiente, professor da<br />

Universidade Anhembi-Morumbi, pesquisador do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Trabalho e Ação Social<br />

da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e membro da Comissão Nacional de Direitos Humanos da<br />

Associação Benefi cente e Cultural B’nai B’rith do Brasil. Colaboraram para a confecção deste capítulo o coordenador<br />

e os demais autores desta obra, além de Wolf Ejzenberg, Daniel Douek e José Calderoni, que contribuíram para<br />

a revisão de versões anteriores do texto. Agradecimento especial a Roberta Zrycki pela assistência administrativa.<br />

SOLUÇÃO PARA A PAZ: DOIS ESTADOS PARA DOIS POVOS<br />

91<br />

PAZ - Book AF.indb 91 01.06.09 15:02:30


8<br />

LINHA DO TEMPO: TERRA DE<br />

ISRAEL E PRINCIPAIS EVENTOS<br />

MUNDIAIS<br />

Lia Bergmann<br />

CAPÍTULO<br />

Séculos XVII-VI a.C. – Época bíblica<br />

Século XVII a.C.<br />

O patriarca do povo judeu, Abraão, cria o monoteísmo, crença em um Deus único,<br />

e se estabelece na Terra de Israel. A fome força os israelitas a emigrar para o Egito.<br />

Século XIII a.C.<br />

Êxodo dos israelitas (hebreus ou judeus), que deixam o Egito, conduzidos por<br />

Moisés, e vagam no deserto durante quarenta anos.<br />

Moisés recebe os Dez Mandamentos, no Monte Sinai.<br />

Século XIII-XII a.C.<br />

Os israelitas retornam à Terra de Israel.<br />

1020 a.C.<br />

A monarquia judaica é estabelecida; Saul é o primeiro rei.<br />

1000 a.C.<br />

Jerusalém torna-se a capital do Reino de David.<br />

960 a.C.<br />

O Primeiro Templo, centro nacional e espiritual do povo judeu, é construído em<br />

Jerusalém pelo rei Salomão.<br />

930 a.C.<br />

Divisão do reino: Judá e Israel.<br />

722-720 a.C.<br />

O Reino de Israel é destruído pelos assírios; dez tribos exiladas (as “Dez Tribos Perdidas”).<br />

586 a.C.<br />

O Reino de Judá é conquistado pela Babilônia. Jerusalém e o Primeiro Templo são<br />

destruídos; maioria dos judeus exilada e escravizada.<br />

92<br />

PAZ - Book AF.indb 92 01.06.09 15:02:30


536-142 a.C. – Períodos persa e helenístico<br />

538-515 a.C.<br />

Muitos judeus retornam da Babilônia; o Templo é reconstruído.<br />

332 a.C.<br />

Alexandre Magno conquista o país; domínio helenístico.<br />

166-160 a.C.<br />

Revolta dos macabeus (Hasmoneus) contra as restrições à prática do judaísmo e a profanação<br />

do Templo.<br />

142-129 a.C.<br />

Autonomia judaica sob a liderança dos Hasmoneus.<br />

129-63 a.C.<br />

Independência judaica sob a monarquia dos Hasmoneus.<br />

63 a.C.<br />

Jerusalém é capturada pelo general romano Pompeu.<br />

63 a.C.-313 d.c. – Domínio romano<br />

37 a.C.-4 d.C.<br />

O rei Herodes, vassalo romano, governa a Terra de Israel. O Templo de Jerusalém é reformado.<br />

20-33<br />

Jesus de Nazaré prega o que mais tarde viria a ser o cristianismo.<br />

66<br />

Revolta dos judeus contra Roma.<br />

70<br />

Destruição de Jerusalém e do Segundo Templo. Início da Diáspora, dispersão dos judeus pelo<br />

mundo.<br />

73<br />

Queda do último bastião da resistência judaica, em Massada.<br />

LINHA DO TEMPO<br />

93<br />

PAZ - Book AF.indb 93 01.06.09 15:02:30


SOLUÇÃO PARA A PAZ<br />

132-135<br />

Revolta de Bar Kochba contra os romanos.<br />

135<br />

O imperador romano Adriano muda o nome da Judeia (a terra dos judeus, de Judá) para Palestina.<br />

313-636 – Domínio bizantino<br />

614<br />

Invasão persa.<br />

636-1099 – Domínio árabe<br />

691<br />

O Domo da Rocha é construído em Jerusalém pelo califa Abd el-Malik no local dos Templos<br />

(Primeiro e Segundo).<br />

1099-1291 – Domínio cruzado (Reino latino de<br />

Jerusalém)<br />

1291-1516 – Domínio mameluco<br />

1492<br />

Expulsão dos judeus da Espanha.<br />

1536<br />

Início da Inquisição em Portugal.<br />

1517-1917 – Domínio otomano<br />

1859<br />

Extinção do Tribunal do Santo Ofício, pondo fim à Inquisição, que vigorou por mais de trezentos<br />

anos na Europa, perseguindo judeus e cristãos novos, inclusive no Brasil.<br />

94<br />

PAZ - Book AF.indb 94 01.06.09 15:02:30


ENTENDENDO O ORIENTE MÉDIO<br />

8<br />

1860<br />

Primeiro bairro construído fora dos muros de Jerusalém.<br />

1882-1903<br />

Primeira Aliá (imigração para Israel, em grande escala), principalmente da Rússia.<br />

1897<br />

Primeiro Congresso Sionista, reunido por Theodor Herzl em Basileia, Suíça; fundação da<br />

Organização Sionista.<br />

1904-1914<br />

Segunda Aliá, principalmente da Rússia e Polônia.<br />

1909<br />

Fundação de Degânia, o primeiro kibutz (comunidade agrícola de idelogia socialista), e<br />

de Tel-Aviv, a primeira cidade moderna completamente judaica.<br />

1914-1918<br />

Primeira Guerra Mundial.<br />

1917<br />

Quatrocentos anos de domínio otomano chegam ao fim com a conquista britânica; Lord<br />

Balfour, ministro de Relações Exteriores britânico, declara o apoio ao estabelecimento de<br />

“um lar nacional judaico na Palestina”.<br />

1918-1948 – Domínio britânico<br />

1919-1923<br />

Terceira Aliá, principalmente da Rússia.<br />

1920<br />

Fundação da Histadrut (Federação Geral dos Trabalhadores) na Terra de Israel.<br />

A comunidade judaica cria o Vaad Leumi (Conselho Nacional) para dirigir seus assuntos<br />

internos.<br />

1921<br />

Fundação do primeiro moshav (comunidade agrícola), Nahalal.<br />

1922<br />

A Liga das Nações confia à Grã-Bretanha o Mandato sobre a Palestina (Terra de Israel); três<br />

quartos da área são entregues à Transjordânia (atual Jordânia), deixando apenas um quarto para<br />

o Lar Nacional Judaico.<br />

Criação da Agência Judaica, representante da comunidade judaica diante das autoridades<br />

do Mandato.<br />

LINHA DO TEMPO<br />

95<br />

PAZ - Book AF.indb 95 01.06.09 15:02:30


SOLUÇÃO PARA A PAZ<br />

1924<br />

Fundação do Technion, o primeiro instituto de tecnologia de Israel.<br />

1924-1932<br />

Quarta Aliá, principalmente da Polônia.<br />

1925<br />

Inauguração da Universidade Hebraica de Jerusalém, no Monte Scopus.<br />

1929<br />

Massacre dos judeus de Hebron por militantes árabes.<br />

Quinta Aliá, principalmente da Alemanha.<br />

1932<br />

Independência da Arábia Saudita e do Iraque.<br />

1935<br />

A Pérsia passa a ser chamada de Irã.<br />

1936-1939<br />

Distúrbios antijudaicos na Palestina instigados por militantes árabes.<br />

1939<br />

O Livro Branco britânico limita drasticamente a imigração judaica.<br />

1939-1945<br />

Segunda Guerra Mundial; Holocausto na Europa, com a morte de 6 milhões de judeus pelo<br />

nazismo, que perseguiu e assassinou também testemunhas de Jeová, ciganos, homossexuais,<br />

presos políticos, deficientes, considerados “inferiores”.<br />

1944<br />

Formação da Brigada Judaica, como parte das forças britânicas que lutam contra o nazismo<br />

na Segunda Guerra Mundial.<br />

1945<br />

Independência do Líbano. A República Libanesa havia sido criada em 1926.<br />

1946<br />

Criação do Reino Hashemita da Transjordânia, denominado em 1950 de Jordânia.<br />

Independência da Síria.<br />

1947<br />

A ONU propõe o estabelecimento de dois Estados, um árabe e outro judeu, o que ficou<br />

conhecido como a Partilha da Palestina.<br />

96<br />

PAZ - Book AF.indb 96 01.06.09 15:02:30


ENTENDENDO O ORIENTE MÉDIO<br />

8<br />

1948<br />

Fim do Mandato Britânico e proclamação do Estado de Israel (14 de maio).<br />

Invasão de Israel por cinco exércitos árabes (15 de maio).<br />

Guerra da Independência (maio de 1948-julho de 1949).<br />

Criação das Forças de Defesa de Israel (FDI).<br />

1949<br />

Assinatura de acordos de armistício com Egito, Jordânia, Síria e Líbano.<br />

Jerusalém é dividida, sob domínio de Israel e da Jordânia.<br />

Eleição do primeiro Knesset (Parlamento).<br />

Israel é aceito como o 59.º membro da ONU.<br />

1948-1952<br />

Imigração em massa da Europa e dos países árabes.<br />

1951<br />

Independência da Líbia.<br />

1956<br />

Campanha do Sinai.<br />

Independência do Sudão.<br />

1961<br />

Independência do Kuwait.<br />

1962<br />

Adolf Eichmann é julgado e executado em Israel por sua participação no Holocausto.<br />

1964<br />

Completado o Conduto Nacional, para trazer água do Lago Kineret, no norte, ao sul semiárido.<br />

1967<br />

Guerra dos Seis Dias; reunificação de Jerusalém.<br />

1968-1970<br />

Guerra de Desgaste do Egito contra Israel.<br />

1973<br />

Guerra do Yom Kippur.<br />

1975<br />

Israel torna-se membro associado do Mercado Comum Europeu.<br />

1977<br />

O Likud forma o governo após as eleições para o Knesset; fim de 30 anos de governo trabalhista.<br />

Visita do presidente egípcio Anwar Sadat a Jerusalém.<br />

LINHA DO TEMPO<br />

97<br />

PAZ - Book AF.indb 97 01.06.09 15:02:30


SOLUÇÃO PARA A PAZ<br />

1978<br />

Os acordos de Camp David apresentam as linhas gerais para uma paz abrangente no <strong>Oriente</strong><br />

Médio e uma proposta de autogoverno para os palestinos.<br />

1979<br />

Assinatura do Tratado de Paz Israel-Egito. O primeiro-ministro Menachem Begin e o presidente<br />

Anwar Sadat são agraciados com o Prêmio Nobel da Paz.<br />

1979<br />

O aiatolá Khomeini promove a Revolução Islâmica no Irã, que passa a se chamar República Islâmica<br />

do Irã<br />

1981<br />

A Força Aérea israelense destrói o reator atômico do Iraque pouco antes de sua entrada em<br />

operação.<br />

1982<br />

Completam-se as três etapas de retirada de Israel da Península do Sinai.<br />

A Operação Paz para a Galileia expulsa do Líbano os terroristas da OLP (Organização para a<br />

Libertação da Palestina).<br />

1984<br />

Formado um governo de unidade nacional (Likud e Trabalhista) após as eleições. Operação<br />

Moisés: imigração dos judeus da Etiópia.<br />

1985<br />

Assinado o Acordo de Livre Comércio com os Estados Unidos.<br />

1987<br />

Distúrbios violentos e generalizados (Intifada) irrompem nas áreas administradas por Israel.<br />

1988<br />

Governo do Likud após as eleições.<br />

1989<br />

Israel propõe uma iniciativa de paz de quatro pontos.<br />

Início da imigração em massa dos judeus da antiga União Soviética.<br />

1990<br />

Unificação do Iêmen.<br />

1991<br />

Israel é atacado por mísseis Scud do Iraque durante a Guerra do Golfo.<br />

Reúne-se em Madri a Conferência de Paz para o <strong>Oriente</strong> Médio.<br />

A Operação Salomão traz a Israel, por via aérea, mais judeus da Etiópia.<br />

98<br />

PAZ - Book AF.indb 98 01.06.09 15:02:30


ENTENDENDO O ORIENTE MÉDIO<br />

8<br />

1992<br />

Estabelecimento de relações diplomáticas com a China e a Índia.<br />

1993<br />

Israel e a OLP, representante do povo palestino, assinam a Declaração de Princípios sobre<br />

os procedimentos do autogoverno interino para os palestinos.<br />

Entre 1993 e 1995, nasce a Autoridade Nacional Palestina (ANP), chefiada por Yasser Arafat.<br />

1994<br />

Implementação do autogoverno palestino na Faixa de Gaza e na região de Jericó.<br />

Plenas relações diplomáticas com a Santa Sé.<br />

Marrocos e Tunísia estabelecem escritórios de representação de interesses.<br />

Assinatura do Tratado de Paz Israel-Jordânia.<br />

Yitzhak Rabin, Shimon Peres e Yasser Arafat são agraciados com o Prêmio Nobel da Paz.<br />

1995<br />

Ampliação do autogoverno palestino implementado na Margem Ocidental (Cisjordânia)<br />

e na Faixa de Gaza; eleição do Conselho Palestino.<br />

Assinatura dos segundos acordos de Oslo, pelo primeiro-ministro de Israel, Yitzhak Rabin, e pelo<br />

presidente da OLP, Yasser Arafat, testemunhado pelo presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton.<br />

Assassinato de Yitzhak Rabin, num comício em prol da paz. Shimon Peres torna-se o primeiro-<br />

-ministro de Israel.<br />

1996<br />

Escalada do terrorismo árabe fundamentalista contra Israel.<br />

Operação Vinhas da Ira, em retaliação aos ataques terroristas do Hezbollah ao norte de Israel.<br />

O partido de direita Likud sobe ao poder após as eleições para o Knesset.<br />

1997<br />

Assinatura do Protocolo de Hebron entre Israel e a Autoridade Palestina.<br />

2000<br />

Visita do papa João Paulo II a Israel.<br />

Início da Segunda Intifada.<br />

Recrudescimento dos ataques terroristas em Israel, atingindo ônibus, escolas, restaurantes, entre<br />

outros.<br />

Século XXI<br />

2001<br />

Em fevereiro, Ariel Sharon assume como primeiro-ministro de Israel, pelo Likud.<br />

2002<br />

Apresentação do Road Map (“mapa da estrada”), proposta de paz feita pelo “quarteto” –<br />

Estados Unidos, União Europeia, Rússia e ONU –, com vários passos para a criação de um<br />

Estado palestino independente.<br />

LINHA DO TEMPO<br />

99<br />

PAZ - Book AF.indb 99 01.06.09 15:02:31


SOLUÇÃO PARA A PAZ<br />

2004<br />

Morte de Yasser Arafat, presidente da ANP. Assume Mahmoud Abbas, do mesmo partido de<br />

Arafat, Fatah (antiga OLP).<br />

2005<br />

O grupo terrorista Hamas (Movimento de Resistência Islâmico), que não aceita a existência do<br />

Estado de Israel, ganha as eleições da ANP e Ismail Haniyeh assume como primeiro-ministro.<br />

Abbas continua sendo presidente.<br />

Fundação do partido Kadima (de centro) por Ariel Sharon, em Israel.<br />

Decretada a Lei de Implementação do Plano de Retirada, para remover todas as colônias israelenses<br />

da Faixa de Gaza e quatro no norte da Cisjordânia. Em 12 de setembro, não há mais nenhum<br />

judeu na Faixa de Gaza. A saída unilateral é vista como forma de chegar mais rapidamente<br />

à paz com os palestinos.<br />

2006<br />

Ariel Sharon sofre um derrame cerebral (AVC) e entra em coma.<br />

Ehud Olmert assume como primeiro-ministro de Israel.<br />

Sequestro de soldados israelenses pelo Hamas e pelo Hezbollah, que invadiu o território israelense.<br />

Israel lança operação no Líbano para diminuir capacidade de fogo do Hezbollah, que atua em<br />

meio aos civis.<br />

2007<br />

Crescente tensão entre partidários do Fatah e do Hamas leva à criação de um governo de coalizão<br />

da Autoridade Nacional Palestina, na Cisjordânia e em Gaza. O Hamas assume o controle de<br />

Gaza, após luta com o Fatah, impondo um governo fundamentalista sunita.<br />

Realizada a Conferência de Anápolis, reunindo Estados Unidos, o governo de Israel e a Autoridade<br />

Palestina. O Brasil participa do encontro.<br />

2008<br />

Trégua de seis meses com o Hamas faz com que o lançamento de foguetes contra civis ao sul<br />

de Israel diminua.<br />

2008-2009<br />

Depois de oito anos de ataques ininterruptos de mísseis por palestinos ao sul de Israel, que recrudescem<br />

com o domínio da Faixa de Gaza pelo Hamas, Israel lança uma ofensiva contra Gaza,<br />

para neutralizar a ação do Hamas contra civis israelenses no sul do país.<br />

2009<br />

O Partido Likud assume o governo em Israel.<br />

Lia Bergmann Formada em História pela Universidade de São Paulo e jornalista com pós-graduação pela Faculdade<br />

Cásper Líbero, Lia Bergmann é assessora de comunicação e de direitos humanos da B’nai B’rith do Brasil.<br />

100<br />

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Apoio<br />

Fundação ARYMAX<br />

Boris e Bella Wainstein<br />

Raul Hacker<br />

Loja Bertie Levi<br />

Hanus Klinger<br />

Loja David Ben Gurion<br />

Loja Yehuda Halevi<br />

Salomon Katz<br />

Dr. Ronaldo Golcman<br />

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Associação Beneficente e Cultural<br />

B´nai B´rith do Brasil<br />

2009<br />

www.bnai-brith.org.br<br />

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