Entendendo o Oriente Médio
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SOLUÇÃO PARA A PAZ<br />
ENTENDENDO O ORIENTE MÉDIO<br />
PAZ - Book AF.indb 1 01.06.09 15:01:43
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)<br />
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)<br />
Solução para a paz : entendendo o <strong>Oriente</strong> Médio / [organização: Comissão Nacional de Direitos Humanos;<br />
coordenação Abraham Goldstein] . – São Paulo : Associação Beneficente e Cultural B’nai B’rith do Brasil, 2009.<br />
Vários autores.<br />
Bibliografia.<br />
1. Conflito Árabe-Israelense 2. Judeus - História 3. <strong>Oriente</strong> Médio - Condições econômicas 4. <strong>Oriente</strong><br />
Médio - Condições sociais 5. <strong>Oriente</strong> Médio -História 6. Sionismo I. Comissão Nacional de Direitos Humanos.<br />
II. Goldstein, Abraham.<br />
09-04473 CDD-956<br />
Índice para catálogo sistemático:<br />
1. <strong>Oriente</strong> Médio : História 956<br />
Associação Beneficente e Cultural B´nai B´rith do Brasil<br />
Organização: Comissão Nacional de Direitos Humanos<br />
Coordenação: Abraham Goldstein<br />
Textos: Adriana Dias,<br />
Claudio Silberberg,<br />
Eric Calderoni,<br />
Gisele Valdstein,<br />
Lia Bergmann,<br />
Tounée Rosset<br />
Colaboração: José Simantob Netto<br />
Capa: Marcelo Seiko Higa<br />
Projeto gráfico e diagramação: DG<br />
Impressão: Gráfica SKY<br />
ISBN: 978-85-62655-00-5<br />
1.ª edição publicada em junho de 2009.<br />
Reprodução permitida desde que citada a fonte.<br />
Associação Beneficente e Cultural B´nai B´rith do Brasil<br />
Rua Caçapava, 105 – CEP: 01408-010 – São Paulo – SP<br />
Tel.: (11)3082-5844<br />
www.bnai-brith.org.br<br />
PAZ - Book AF.indb 2 01.06.09 15:01:45
“Todas as pessoas nascem livres e iguais em<br />
dignidade e direitos. São dotadas de razão<br />
e consciência e devem agir em relação umas<br />
às outras com espírito de fraternidade.”<br />
Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948)<br />
Apoiamos a excelente iniciativa de divulgação deste<br />
material que inspira a paz e a coexistência em homenagem<br />
às vítimas da violação dos direitos humanos.<br />
FUNDAÇÃO FILANTRÓPICA ARYMAX<br />
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SUMÁRIO<br />
PAZ - Book AF.indb 4 01.06.09 15:01:46
SUMÁRIO<br />
1 <strong>Oriente</strong><br />
2 Israel:<br />
3 O<br />
4 O<br />
5 A<br />
6 Os<br />
7 Solução<br />
8 Linha<br />
Médio: o que é e onde fica 6<br />
Lia Bergmann<br />
3.700 anos de história 17<br />
Lia Bergmann<br />
Islã: 1.300 anos de história 25<br />
Lia Bergmann<br />
antissemitismo a partir do século XIX e o Holocausto 34<br />
Adriana Dias<br />
independência do Estado de Israel contemporâneo<br />
e sua realidade hoje 45<br />
Lia Bergmann, Gisele Valdstein e Claudio Silberberg<br />
judeus nos principais países da Liga Árabe 59<br />
Tounée Rosset<br />
para a paz: dois Estados para dois povos 71<br />
Eric Calderoni<br />
do tempo: Terra de Israel e principais eventos<br />
mundiais 92<br />
Lia Bergmann<br />
PAZ - Book AF.indb 5 01.06.09 15:01:46
1<br />
CAPÍTULO<br />
ORIENTE MÉDIO: O QUE É<br />
E ONDE FICA<br />
Introdução<br />
Ponto de convergência das três grandes religiões da atualidade – judaísmo,<br />
cristianismo e islamismo –, o <strong>Oriente</strong> Médio é uma área geográfica que engloba<br />
países do sudoeste da Ásia e do nordeste da África. Grande parte deles é banhada<br />
pelo Mar Vermelho, Mar Mediterrâneo, Golfo Pérsico, Mar Negro e Mar Cáspio.<br />
Vamos conhecer melhor essa região, que abriga grande diversidade étnica, cultural,<br />
social e política, como se depreende das tabelas 1 e 2, com dados básicos<br />
e essenciais sobre cada um dos países do <strong>Oriente</strong> Médio, território marcado por<br />
conflitos políticos e religiosos que só podem ser compreendidos à luz da realidade<br />
histórica e geográfica.<br />
Para começar, encontramos diferentes conceituações sobre quais países fazem<br />
parte do <strong>Oriente</strong> Médio. Não há fronteiras definidas e consensuais. Alguns<br />
autores falam em treze países, outros afirmam que são dezesseis, e outros ainda<br />
estendem mais, por afinidade cultural e política, a abrangência da região.<br />
Os primeiros historiadores e geógrafos europeus modernos dividiram o<br />
<strong>Oriente</strong> em três partes, de acordo com a distância que as separam da Europa:<br />
Extremo <strong>Oriente</strong> (China, Japão etc.), <strong>Oriente</strong> Médio e <strong>Oriente</strong> Próximo. Hoje os<br />
dois últimos são sinônimos, e o nome <strong>Oriente</strong> Médio, que começou a ser usado<br />
depois de 1900, se afirmou durante a Segunda Guerra Mundial.<br />
Vamos considerar <strong>Oriente</strong> Médio os Estados que correspondem ao Platô Persa:<br />
Irã; à antiga Mesopotâmia: Iraque; à Península Arábica: Arábia Saudita, Kuwait,<br />
Iêmen, Omã, Bahrein, Catar, Emirados Árabes Unidos (EAU); ao Levante: Israel,<br />
Jordânia, Líbano e Síria; à Anatólia: Turquia; ao norte da África: Egito; e ao Mar<br />
Mediterrâneo: Chipre 1 .<br />
Embora não sejam um Estado legalmente constituído, temos os territórios<br />
palestinos, que incluem a Faixa de Gaza, controlada hoje pelo grupo extremista<br />
palestino Hamas, e a Cisjordânia, sob o controle da Autoridade Nacional Palestina,<br />
formada majoritariamente por membros do Fatah (veja Capítulo 3).<br />
Para ter uma ideia das dimensões, os países situados na costa do Mar Mediterrâneo<br />
– Israel, Líbano, Jordânia e Síria – têm uma área equivalente à do Estado<br />
do Maranhão. As nações localizadas no Golfo Pérsico – Kuwait, Bahrein, Catar e<br />
Emirados Árabes Unidos – possuem, ao todo, uma área pouco menor que a do<br />
Estado de Pernambuco. Mas há também países como o Irã, cujo tamanho é pouco<br />
maior do que todo o Nordeste brasileiro, ou a Arábia Saudita, maior do que<br />
a Amazônia, que possui cerca de 1.600.000 km 2 . Em comparação, o Estado de<br />
Israel é menor do que Sergipe: tem apenas 20.700 km 2 .<br />
1 Cia. World Factbook 2008.<br />
Lia Bergmann<br />
6<br />
PAZ - Book AF.indb 6 01.06.09 15:01:46
Conforme é possível verificar na Tabela 1, o <strong>Oriente</strong> Médio corresponde a uma área superior<br />
a 7.000.000 km 2 , tem mais de 350 milhões de habitantes e apresenta grande diversidade<br />
de população.<br />
Os grupos étnicos mais numerosos da região são os árabes, concentrados, principalmente,<br />
na Arábia Saudita, Bahrein, Catar, Emirados Árabes Unidos (EAU), Iêmen, Iraque, Jordânia,<br />
Kuwait, Líbano, Omã e Síria; os turcos, encontrados basicamente na Turquia e em Chipre; e os<br />
iranianos ou persas, no Irã. Os minoritários incluem os judeus (Israel), curdos e palestinos.<br />
Como vemos também na Tabela 1, a independência de muitos países do <strong>Oriente</strong> Médio<br />
se deu após 1940, com o fim do domínio dos ingleses e franceses na região, o que legitimou<br />
o surgimento dos novos Estados. Assim, com exceção de pequenas nações da Península<br />
Arábica, independentes após 1971, a maior parte dos países do <strong>Oriente</strong> Médio obteve sua<br />
independência do Reino Unido e da França depois da década de 1940.<br />
Nos dias de hoje, o <strong>Oriente</strong> Médio possui grande importância política e econômica no<br />
mundo, por sua posição estratégica no globo e por suas reservas de petróleo.<br />
O mapa a seguir e os dados da tabela 1 mostram as dimensões dos diversos Estados que<br />
compõem o <strong>Oriente</strong> Médio, dando uma ideia do que representa o tamanho de Israel em<br />
meio aos países árabes que o rodeiam e/ou fazem parte da Liga Árabe.<br />
Dimensões de Israel e dos países árabes.<br />
http://cheekymax.blogspot.com/2006/07/max-on-middle-east.html<br />
ORIENTE MÉDIO: O QUE É E ONDE FICA<br />
7<br />
PAZ - Book AF.indb 7 01.06.09 15:01:46
SOLUÇÃO PARA A PAZ<br />
Tabela 1 – Países do <strong>Oriente</strong> Médio e dados básicos sobre<br />
sua composição 2<br />
População<br />
Nome do país Área em km 2 (em milhões)<br />
Governo<br />
Arábia Saudita 2.149.690 25,3 Monarquia<br />
Islâmica<br />
(reinado)<br />
Bahrein 720 0,766 Monarquia<br />
Constitucional<br />
Ano da<br />
Capital<br />
independência<br />
Riad 1932<br />
Manama 1971<br />
Catar 11.521 0,856 Monarquia Doha 1971<br />
Chipre 9.251 0,864 República Nicósia 1960<br />
Presidencialista<br />
Egito 1.001.449 76,8 República Cairo 1923<br />
Presidencialista<br />
Emirados 83.600 4,5 Federação de Abu Dhabi 1971<br />
Árabes Unidos<br />
Monarquias<br />
Islâmicas<br />
(emirados)<br />
Iêmen 527.968 23,1 República mista Sanaa 1918<br />
Irã 1.648.195 72,2 República<br />
Islâmica<br />
Presidencialista<br />
Iraque 434.128 29,5 País sob<br />
ocupação<br />
Israel 20.700 7 República<br />
Parlamentarista<br />
Jordânia 88.778 6,1 Monarquia<br />
Parlamentarista<br />
Kuwait 17.818 2,9 Monarquia<br />
Islâmica<br />
(emirado)<br />
Líbano 10.400 4,1 República<br />
Parlamentarista<br />
Omã 309.500 2,7 Monarquia<br />
Islâmica<br />
(sultanato)<br />
Síria 185.180 20,4 Ditadura militar<br />
desde 1970<br />
Turquia 783.562 75,8 República<br />
Parlamentarista<br />
Teerã 1921<br />
Bagdá 1932<br />
Jerusalém 1948<br />
Amã 1946<br />
Cidade do<br />
Kuwait<br />
1961<br />
Beirute 1941<br />
Mascate 1951<br />
Damasco 1946<br />
Ancara 1922<br />
Comparativo com números do Brasil<br />
Nome do país Área (em km 2 )<br />
População<br />
(em milhões)<br />
Governo<br />
Brasil 8.514.876 194,2 República<br />
Presidencialista<br />
Capital<br />
Ano da<br />
independência<br />
Brasília 1822<br />
2 UNDP – United Nations Development Program/Human Development Report 2007/2008.<br />
8<br />
PAZ - Book AF.indb 8 01.06.09 15:01:47
ENTENDENDO O ORIENTE MÉDIO<br />
1<br />
Tabela 2 – Dados essenciais para compreender os países<br />
do <strong>Oriente</strong> Médio 3<br />
Nome<br />
do país<br />
Mortalidade<br />
Fecundidade Expectativa Expectativa<br />
Renda per<br />
infantil Analfabetismo<br />
(filhos por de vida de vida<br />
IDH* capita (em<br />
(mortes %<br />
mulheres) – homens – mulheres<br />
dólares)<br />
por mil)<br />
3,3 71 75,4 19 17 0,812 13.980<br />
Arábia<br />
Saudita<br />
Bahrein 2,27 74,4 77,6 11 13,5 0,866 19.350<br />
Chipre 1,6 76,6 81,7 6 3,2 0,903 23,27<br />
Egito 2,87 69,3 73,8 29 28,6 0,708 1.360<br />
Emirados 2,28 77,2 81,5 8 11,3 0,868 26.210<br />
Árabes<br />
Unidos<br />
Iêmen 5,44 61,3 64,6 58 45,9 0,508 760<br />
Irã 2,02 69,5 72,8 30 17,6 0,759 2.930<br />
Iraque 4,21 58,4 62,1 79 – – –<br />
Israel 2,73 78,7 82,9 5 2,9 0,932 20.170<br />
Jordânia 3,08 70,9 74,6 19 8,9 0,773 2.650<br />
Kuwait 2,17 76,1 79,9 8 6,7 0,891 30.630<br />
Líbano 2,19 69,9 74,3 22 11,7 0,772 5.580<br />
Omã 2,95 74,3 77,6 12 18,6 0,814 11.120<br />
Catar 2,64 75,3 76,5 8 11 0,875 80.900<br />
Síria 3,04 72,4 76,2 16 19,2 0,724 1.560<br />
Turquia 2,13 69,5 74,7 27 12,6 0,798 5.400<br />
1ORIENTE MÉDIO: O QUE É E ONDE FICA<br />
Comparativo com números do Brasil<br />
Mortalidade<br />
Fecundidade Expectativa Expectativa<br />
Renda per<br />
Nome<br />
infantil Analfabetismo<br />
(filhos por de vida de vida<br />
IDH* capita (em<br />
do país<br />
(mortes<br />
%<br />
mulheres) – homens – mulheres<br />
dólares)<br />
por mil)<br />
Brasil 2,23 68,9 76,2 23 11,4 0,8 4.710<br />
* Índice de Desenvolvimento Humano.<br />
3 UNDP – United Nations Development Program/Human Development Report 2007/2008.<br />
9<br />
PAZ - Book AF.indb 9 01.06.09 15:01:47
SOLUÇÃO PARA A PAZ<br />
Países do <strong>Oriente</strong> Médio<br />
ARÁBIA SAUDITA – 2.149.690 km 2<br />
O Reino da Arábia Saudita localiza-se na Ásia. O país tem fronteiras com Jordânia, Iraque,<br />
Kuwait, Catar, Emirados Árabes Unidos, Omã e Iêmen. Está situado na Península Arábica, da<br />
qual ocupa grande parte. Sua capital é Riad, e a língua falada no território é o árabe. O regime<br />
de governo adotado é o de monarquia absoluta, e sua independência foi declarada em<br />
janeiro de 1926. O país ocupa uma área de 2.149.690 km 2 , onde vivem mais de 25 milhões<br />
de pessoas. É o país de origem da religião islâmica; por causa disso, milhões de seguidores<br />
se dirigem às duas cidades sagradas todos os anos, Medina e Meca.<br />
BAHREIN – 720 km 2<br />
O Reino do Bahrein, que significa Reino dos Dois Mares, é um arquipélago formado por<br />
mais de trinta ilhas e ilhotas que fica no Golfo Pérsico, tendo a leste a Arábia Saudita e a<br />
noroeste o Catar. A maior das ilhas é a “dhkle Bahrein”, com 16 km de extensão no sentido<br />
leste-oeste e 48 km no sentido norte-sul. Uma estrada liga a ilha principal às de Muharraq e<br />
Sitra, e, em 1986, foi inaugurada a ponte que faz a ligação do Bahrein com a Arábia Saudita.<br />
O país tem superfície total de 720 km². A população é predominantemente muçulmana<br />
(81,2%), dividida em xiitas 4 (55%) e sunitas 5 (45%); entre as minorias há 9% de cristãos,<br />
uma grande comunidade de iranianos e uma pequena comunidade judaica. Sua riqueza<br />
econômica deriva do petróleo e das pérolas. A religião oficial do regime monárquico constitucional<br />
é o islamismo.<br />
CHIPRE – 9.251 km 2<br />
A República do Chipre é um país insular situado no lado oriental do Mar Mediterrâneo,<br />
a leste da Grécia, a oeste do Líbano, Síria e Israel, ao sul da Turquia e ao norte do Egito. Atrai<br />
mais de 2,4 milhões de turistas por ano. Tornou-se uma república independente em 1960,<br />
passando a fazer parte da União Europeia em 2004. Sua população é formada majoritariamente<br />
por gregos (70%), e as principais religiões são grega ortodoxa (78%) e muçulmana<br />
(18%).<br />
4 Xiitas – Defensores de que Ali, primo e genro do profeta Mohamed (Maomé), era seu sucessor. São maioria no<br />
Irã. Veja mais no Capítulo 3.<br />
5 Sunitas – Seguidores da “suna” (prática) do profeta Mohamed, tal como relatado por seus companheiros. Representam<br />
85% dos muçulmanos. Veja mais no Capítulo 3.<br />
10<br />
PAZ - Book AF.indb 10 01.06.09 15:01:48
ENTENDENDO O ORIENTE MÉDIO<br />
1<br />
EGITO – 1.001.449 km 2<br />
A República Árabe do Egito é um país do norte da África que inclui também a Península<br />
do Sinai, na Ásia, o que o torna um Estado transcontinental. Limita-se a oeste com a Líbia,<br />
ao sul com o Sudão e a leste com a Faixa de Gaza e Israel. O litoral norte é banhado pelo Mar<br />
Mediterrâneo; o litoral oriental, pelo Mar Vermelho; e a Península do Sinai, pelos golfos de<br />
Suez e de Acaba. Sua capital é a cidade do Cairo. O Egito é um dos países mais populosos da<br />
África. A grande maioria dos 76,8 milhões de habitantes vive nas margens do Rio Nilo, a<br />
única área cultivável do país, com cerca de 40.000 km 2 . Em 2000, o índice de analfabetismo<br />
era de mais de 44% da população; hoje, é de 28,6%. A religião controla vários aspectos da<br />
vida social, como em outros estados árabes, tendo apoio na legislação. Embora com 90% de<br />
muçulmanos, o Egito possui a maior comunidade cristã do <strong>Oriente</strong> Médio (cerca de 10%<br />
da população, dos quais 90% são da Igreja Católica Ortodoxa, Igreja Ortodoxa Copta de<br />
Alexandria, Igreja Evangélica Copta e denominações protestantes coptas).<br />
1ORIENTE MÉDIO: O QUE É E ONDE FICA<br />
EMIRADOS ÁRABES UNIDOS – 83.600 km 2<br />
Os Emirados Árabes Unidos (EAU) situam-se no sudoeste da Ásia, têm costa no Golfo<br />
de Omã e no Golfo Pérsico e fronteiras com Omã e Arábia Saudita. Sua localização estratégica<br />
no Estreito de Ormuz faz com que sejam um ponto de trânsito vital para o petróleo<br />
bruto mundial. Consistem em uma federação de sete emirados (Abu Dhabi, Dubai, Sharjah,<br />
Ajman, Umm al-Qaiwain, Ra’s al-Khaimah e Fujairah) e foi oficialmente estabelecida em<br />
dezembro de 1971. O Sheikh Khalifa bin Zayed Al Nahyan foi eleito presidente dos EAU<br />
em novembro de 2004, após a morte do Sheikh Zayed bin Sultan Al Nahyan, que governou<br />
o país desde a fundação do Estado. Cada emirado tem as próprias instituições de governo,<br />
e foi estabelecida uma Constituição provisória determinando os poderes que deveriam ser<br />
atribuídos às novas instituições federais, respeitando as particularidades de cada emirado. O<br />
novo regime de governo inclui o Conselho Supremo, o Gabinete ou Conselho de Ministros,<br />
o Conselho Nacional Federal (Parlamento) e o Poder Judiciário.<br />
IÊMEN – 527.968 km 2<br />
A República do Iêmen (Al-Jumhuriya al-Yamaniya) tem uma população de mais de 23<br />
milhões de pessoas, a maioria de árabes iemenitas, e os demais divididos em outros árabes,<br />
afro-árabes e sul-asiáticos. Possui uma forma mista de governo, e sua capital é Sanaa. O<br />
idioma oficial é o árabe, e a religião de Estado, o islamismo. A maioria de seus habitantes<br />
(99,9%) se divide em sunitas (53%) e xiitas (46,9%). Localiza-se a sudoeste da Ásia. Há liberdade<br />
de culto, existindo até uma pequena comunidade judaica, mas, a exemplo de outros<br />
países muçulmanos conservadores, o proselitismo é considerado ilegal. Sua independência<br />
foi conquistada em 1918. Possui grande nível de analfabetismo (45,9% da população) e índice<br />
de mortalidade infantil de 58 por mil. A unificação política do Iêmen do Sul (regime republicano,<br />
de orientação marxista) e do Norte (república constitucional) se deu em 1990.<br />
11<br />
PAZ - Book AF.indb 11 01.06.09 15:01:48
SOLUÇÃO PARA A PAZ<br />
IRÃ – 1.648.195 km 2<br />
A República Islâmica do Irã é um país asiático que se limita ao norte com a Armênia, o<br />
Azerbaijão, o Turcomenistão e o Mar Cáspio, a leste com o Afeganistão e o Paquistão, a oeste<br />
com o Iraque e a Turquia e ao sul com o Golfo de Omã e o Golfo Pérsico. A capital é Teerã<br />
e a língua oficial, o persa. Conhecido no Ocidente até 1935 como Pérsia, o país passou a<br />
ser chamado de Irã, que significa “terra dos arianos” (no sentido étnico do termo). O islamismo<br />
xiita é a religião oficial e compreende 89% da população. A Constituição iraniana<br />
reconhece três minorias religiosas: os zoroastrianos, os judeus e os cristãos. Os bahá’is são<br />
perseguidos e muçulmanos que se convertem a outra religião são instados a ser mortos pelos<br />
próprios parentes.<br />
A história moderna do Irã começa em 1921, com o golpe militar liderado por Reza Khan<br />
(1878-1944) contra o governo da dinastia Kajar. Em 1925, foi proclamado xá da Pérsia,<br />
denominando-se Shah Reza Pahlevi. Em 1935, mudou o nome do país para Irã. Em 1941,<br />
o país foi ocupado por forças britânicas e soviéticas e Reza Pahlevi abdicou do poder em<br />
nome de seu filho, Mohamed Reza Pahlevi (1919-1980), que se voltou para o Ocidente. Em<br />
1951, o primeiro-ministro Mohammad Mossadegh (1882-1967) nacionalizou o petróleo<br />
iraniano, contrariando interesses ingleses e norte-americanos e iniciando um confronto<br />
com o xá, que deixou o país. Em 1953, sob influência dos Estados Unidos, o governo de<br />
Mossadegh foi derrubado. Em 1975, instituiu-se o unipartidarismo no Irã, o que, somado<br />
às perseguições promovidas pelo governo, intensificou a oposição dos muçulmanos xiitas,<br />
que condenavam a ocidentalização do país. Em 1977, os protestos se intensificaram e os<br />
manifestantes exigiram a volta do aiatolá Ruhollah Khomeini (1902-1989), líder religioso<br />
xiita exilado do Irã desde 1963. Após inúmeros confrontos, Khomeini retornou ao país,<br />
enquanto o xá fugia para o exterior. O aiatolá assumiu o poder, e o Irã tornou-se uma república<br />
islâmica que estimula o fanatismo religioso, consagra o terrorismo e prega a guerra<br />
santa contra os opositores do regime, sobretudo os Estados Unidos, vistos como a causa dos<br />
males do planeta.<br />
IRAQUE – 438.317 km 2<br />
Com uma população de cerca de 30 milhões de habitantes, o Iraque é um país em que<br />
predominam os muçulmanos (97%), 32% a 37% deles sunitas. Os demais englobam minorias<br />
religiosas: cristãos (católicos, ortodoxos), bahá’is e outros. A antiga Mesopotâmia<br />
foi o berço de importantes culturas, como a dos sumérios, babilônios, caldeus e assírios,<br />
dos quais resta apenas uma pequena minoria. Depois, esteve sob domínio persa, grego e<br />
romano. Nos séculos VIII e IX, constituiu-se em expressivo centro do Império Árabe. Bagdá,<br />
sua capital, foi fundada pelos árabes em 762, mas o atual Iraque surgiu na década de 1920,<br />
após o desmembramento do Império Turco-Otomano, tornando-se a partir de 1932 uma<br />
monarquia independente do Mandato Britânico.<br />
Em 1958, a monarquia foi derrubada por um general, que instaurou um regime nacionalista.<br />
A partir desse ano, a descoberta do petróleo e a presença curda no Norte provocaram<br />
golpes de Estado, revoltas e massacres de milhares de curdos (1974-1975). Em 1979, com<br />
um golpe de Estado, o vice-presidente Saddam Hussein assumiu a presidência, transforman-<br />
12<br />
PAZ - Book AF.indb 12 01.06.09 15:01:48
ENTENDENDO O ORIENTE MÉDIO<br />
1<br />
do-se em ditador. Em 1980, o Iraque invadiu o Irã, com o apoio de potências ocidentais e<br />
árabes, temerosas de que a revolução fundamentalista do aiatolá Khomeini se expandisse em<br />
outros países petrolíferos. A guerra durou oito anos e deixou 300 mil iraquianos e 400 mil<br />
iranianos mortos. Em 1990, o Iraque invadiu o Kuwait, anexando-o como a décima nona<br />
província, mas, após tentativas diplomáticas fracassadas para que se retirasse de lá, o país foi<br />
invadido, em janeiro de 1991 (Guerra do Golfo), por uma coalizão de trinta nações liderada<br />
pelos Estados Unidos. Em poucos dias de guerra, estima-se que o número de mortes tenha<br />
sido de 100 mil soldados e 7 mil civis iraquianos, 30 mil kuwaitianos e 610 soldados norte-<br />
-americanos e aliados. Saddam iniciou uma guerra de represália contras os separatistas curdos<br />
do Norte. Foram impostas ao Iraque uma série de sanções, como a proibição da venda<br />
de petróleo, e uma missão de inspetores internacionais para fiscalizar se estaria fabricando<br />
armas de destruição em massa. Em março de 2003, o país foi invadido pela “coalizão” formada<br />
pelos Estados Unidos, Reino Unido e outras nações. Em 1.º de maio, o governo do<br />
partido Ba’ath foi destituído e o presidente Saddam Hussein, deposto. Capturado em 14 de<br />
dezembro de 2004, foi julgado e morto, ao mesmo tempo que se dava início ao processo<br />
de transição de poderes à população iraquiana. As línguas faladas no Iraque hoje são o árabe<br />
(oficial), curdo, turcomano, siríaco, caldeu e armênio.<br />
1ORIENTE MÉDIO: O QUE É E ONDE FICA<br />
ISRAEL – 20.700 km 2<br />
O Estado de Israel está localizado no oeste da Ásia, ao longo da costa oriental do Mar<br />
Mediterrâneo, limitando-se ao norte com o Líbano, a leste com a Síria e a Jordânia, ao sul<br />
com o Egito e a oeste com o Mar Mediterrâneo. Está situado no ponto de encontro de três<br />
continentes: a Europa, a Ásia e a África. Com sua forma longa e estreita, o país tem 470 km<br />
de comprimento (ou seja, pouco mais do que a distância entre as cidades de São Paulo e<br />
do Rio de Janeiro) e mede 135 km em seu ponto mais largo (o que corresponde a pouco<br />
mais do que a distância de São Paulo às cidades paulistas de Americana ou Santos). Embora<br />
pequeno em tamanho, Israel apresenta a variedade topográfica de um continente, e nele se<br />
encontram desde montanhas cobertas de florestas e verdes vales férteis até desertos montanhosos;<br />
a planície costeira e o vale do Jordão semitropical, sem falar no Mar Morto, o ponto<br />
mais baixo da Terra. Aproximadamente metade da área do país é semiárida, sendo um dos<br />
poucos do <strong>Oriente</strong> Médio que não possuem petróleo.<br />
Só para ter uma ideia, Israel possui uma área de 20.700 km², menor do que o Estado de<br />
Sergipe ou o equivalente a três vezes a área da Grande São Paulo. As principais cidades são:<br />
Jerusalém, Tel-Aviv e Haifa. Conta com um clima mediterrâneo e a densidade demográfica<br />
é de 299 hab./km 2 . Israel é uma democracia, com liberdade religiosa e de expressão. Veja<br />
mais dados no Capítulo 5.<br />
13<br />
PAZ - Book AF.indb 13 01.06.09 15:01:48
SOLUÇÃO PARA A PAZ<br />
JORDÂNIA – 88.778 km 2<br />
A Jordânia limita-se ao norte com a Síria, a leste com o Iraque, a leste e ao sul com a<br />
Arábia Saudita e a oeste com o Golfo de Acaba (através do qual faz fronteira marítima com<br />
o Egito), Israel e Cisjordânia. Sua capital é Amã. Possui 88.778 km 2 e mais de 6 milhões de<br />
habitantes. Em 1946, foi criado o Reino Hashemita da Transjordânia, após a saída dos britânicos<br />
da região. Mais de 70% do território do Mandato Britânico da Palestina, a leste do Rio<br />
Jordão, era conhecido como Transjordânia. Em 1950, passou a se denominar Jordânia. Na<br />
Guerra da Independência de Israel, o país anexou a Samaria e Judeia, território conhecido<br />
como Cisjordânia, reconquistado em 1967 pelos israelenses e hoje sob administração da<br />
Autoridade Palestina.<br />
KUWAIT – 17.818 km 2<br />
Esse pequeno país limita-se ao norte e a oeste com o Iraque, a leste com o Golfo Pérsico,<br />
do outro lado do qual se estendem as costas do Irã, e ao sul com a Arábia Saudita. Sua capital<br />
também se chama Kuwait. A forma de governo é o emirado, sendo o chefe de Estado designado<br />
por emir ou xeque. É dominado quase totalmente por desertos.<br />
LÍBANO – 10.400 km 2<br />
A República Libanesa foi criada em 1926 e se tornou Estado independente em 1941.<br />
Hoje possui mais de 4 milhões de habitantes. Sua capital é Beirute. Limita-se ao sul com<br />
Israel, ao norte e a leste com a Síria e a oeste com o Mar Mediterrâneo.<br />
OMÃ – 309.500 km 2<br />
O país margeia o Mar da Arábia, o Golfo de Omã e o Golfo Pérsico, entre o Iêmen e os<br />
Emirados Árabes Unidos. É composto por árabes, balúchis, sul-asiáticos (da Índia, Paquistão,<br />
Sri Lanka e Bangladesh) e africanos, que em sua maioria são muçulmanos ibaditas (75%),<br />
dividindo-se o restante (25%) em muçulmanos sunitas, xiitas e hindus. O idioma oficial é<br />
o árabe.<br />
14<br />
PAZ - Book AF.indb 14 01.06.09 15:01:48
ENTENDENDO O ORIENTE MÉDIO<br />
1<br />
CATAR – 11.521 km 2<br />
Monarquia árabe, situa-se na pequena Península de Catar, no Golfo Pérsico e em algumas<br />
ilhas ao redor. Tem apenas pequenas fronteiras terrestres ao sul, com os Emirados Árabes<br />
Unidos e a Arábia Saudita. As fronteiras marítimas são com o Irã, ao norte, e com o Bahrein,<br />
a oeste. O país, cuja capital é Doha, possui 11.521 km 2 . Independente desde 1971, rico em<br />
petróleo e gás natural, possui a maior renda per capita do mundo: US$ 80.900 (2007). Sua<br />
taxa de mortalidade infantil é de oito por mil, equivalente, no <strong>Oriente</strong> Médio, à dos Emirados<br />
Árabes Unidos e à do Kuwait e maior apenas do que a de Israel, que é de cinco por mil.<br />
O islamismo é a religião predominante: 10,13% são sunitas e 80,7%, xiitas. A maioria dos<br />
que não são cidadãos vem do sul e do sudeste da Ásia e de países árabes como trabalhadores<br />
temporários em empregos sob contrato, em alguns casos acompanhados pela família. Entre<br />
eles há também cristãos, hindus, budistas e bahá’is.<br />
1ORIENTE MÉDIO: O QUE É E ONDE FICA<br />
SÍRIA – 185.180 km 2<br />
As principais cidades da República Árabe da Síria são Alepo, Damasco (capital) e Homs.<br />
O país tem 20 milhões de habitantes, entre árabes sírios, curdos, circassianos, turcos e armênios.<br />
A religião da maioria da população é o islamismo (74% sunitas e 12% xiitas); 8,9% são<br />
cristãos e 3% são drusos. A forma de governo é república presidencialista (ditadura militar<br />
desde 1970).<br />
TURQUIA – 783.562 km 2<br />
A República da Turquia fica no sudeste europeu e sudoeste da Ásia. Faz fronteira com oito<br />
países: Bulgária a noroeste, Grécia a oeste, Geórgia a nordeste, Armênia, Irã e Azerbaijão a<br />
leste e Iraque e Síria a sudeste. É banhada pelos mares Negro, ao norte, Egeu e de Mármara,<br />
a oeste, e Mediterrâneo, ao sul. Sua capital é Ancara. Segundo sua Constituição, a Turquia<br />
é uma república democrática, secular e constitucional, cujo sistema político foi estabelecido<br />
em 1923, após o fim do Império Otomano. Embora apenas uma pequena parte de seu<br />
território fique na Europa, busca tornar-se membro pleno da União Europeia. Possui uma<br />
localização geográfica estratégica, controlando o Estreito de Bósforo, o Mar de Mármara e o<br />
Estreito de Dardanelos, que ligam o Mar Negro e o Mar Egeu. A Turquia e os Estados que a<br />
antecederam no local foram uma ponte entre as culturas ocidental e oriental e o centro de<br />
diversas grandes civilizações.<br />
15<br />
PAZ - Book AF.indb 15 01.06.09 15:01:48
SOLUÇÃO PARA A PAZ<br />
TERRITÓRIO PALESTINO<br />
Conforme acordos estabelecidos internacionalmente, mas não aceitos na integralidade<br />
pelos representantes dos palestinos, o território está distribuído em duas regiões:<br />
• Cisjordânia 6 – Com área de 5.860 km 2 , tem cerca de 2,5 milhões de habitantes, entre os<br />
quais 75% são muçulmanos sunitas, 17% judeus e 8% cristãos e outros. Sua capital administrativa<br />
é Ramalah. Hoje a região está sob o controle político da Autoridade Nacional<br />
Palestina (ANP), comandada pelo Fatah e apoiada pela Organização das Nações Unidas e<br />
seus principais membros.<br />
• Faixa de Gaza 7 – Ocupa uma área de 360 km 2 e possui cerca de 1,5 milhão de habitantes<br />
(2007), sendo 99,3% muçulmanos e 0,7% cristãos. Sua principal cidade chama-se Gaza<br />
e tem sido controlada, desde 2005, pelo Hamas, partido de oposição ao Fatah. O Hamas<br />
é um movimento fundamentalista islâmico intolerante, considerado pela União Europeia<br />
e pelos Estados Unidos uma organização terrorista.<br />
Os palestinos têm renda per capita de US$ 1.100 por ano.<br />
Lia Bergmann Formada em História pela Universidade de São Paulo e jornalista com pós-graduação pela Faculdade<br />
Cásper Líbero, Lia Bergmann é assessora de comunicação e de direitos humanos da B’nai B’rith do Brasil. Este Capítulo<br />
contou com a colaboração dos demais autores desta obra. Agradecimento especial a Adriana Dias, que elaborou as<br />
tabelas 1 e 2.<br />
6 Dados da Folha Online.<br />
7 Dados do jornal Folha de S.Paulo.<br />
16<br />
PAZ - Book AF.indb 16 01.06.09 15:01:48
2<br />
ISRAEL: 3.700 ANOS<br />
DE HISTÓRIA<br />
Lia Bergmann<br />
CAPÍTULO<br />
“Sábio é aquele que aprende com todos os homens.” (Pirkei Avot 4,1 1 )<br />
Introdução<br />
A Terra de Israel está ligada indissoluvelmente ao povo judeu. Foi onde a história<br />
desse povo teve início, há 3.700 anos, e durante todos esses séculos nela se<br />
manteve presente. Mesmo quando escravizados, expulsos, vivendo no exílio ou<br />
na Diáspora (dispersão), os judeus nunca se esqueceram de sua terra e sempre<br />
sonharam com o retorno. Apesar de essa região ter sido ocupada por numerosos<br />
conquistadores, nenhum outro povo ali viveu de forma independente ou a considerou<br />
o centro de sua existência nacional.<br />
Apenas 1.700 anos depois do estabelecimento dos judeus na Terra de Israel,<br />
esta foi conquistada pelos árabes, no século VII d.C., ou seja, 700 anos depois<br />
do nascimento de Jesus e 400 do advento do cristianismo. Jesus nasceu, viveu e<br />
morreu como judeu, na época do domínio romano.<br />
A Terra de Israel recebeu diversos nomes no decorrer do tempo. Na Antiguidade<br />
era chamada de Canaã, depois de Judeia 2 , a terra dos judeus (de Judá), e<br />
muito mais tarde, sob o domínio romano, no século I d.C., foi denominada pela<br />
primeira vez Palestina. Na época, era a pátria dos judeus, habitantes majoritários<br />
da Judeia, e, portanto, o termo “palestino” se referia aos judeus que lá nasciam<br />
e moravam. Mesmo assim, nos séculos seguintes a região era conhecida como<br />
Terra Santa ou Terra de Israel.<br />
A cidade de Jerusalém se tornou a capital da Terra de Israel há cerca de 3 mil<br />
anos, com o rei David, e até hoje nunca foi a capital de outro povo que não o<br />
judeu. É mencionada mais de setecentas vezes nas Escrituras Sagradas (Bíblia<br />
– Antigo Testamento), mas aparece apenas uma vez no Corão, o livro sagrado dos<br />
muçulmanos. É a cidade mais sagrada para o judaísmo e a terceira para o islamismo,<br />
depois de Meca e Medina. Em todas as orações os judeus se voltam para<br />
Jerusalém; os muçulmanos, para Meca. Hoje, é uma cidade sagrada para judeus,<br />
cristãos e muçulmanos, que têm seus locais históricos e de culto preservados<br />
pelas autoridades israelenses.<br />
1 Pirkei Avot – Ética dos Pais. 5. ed. São Paulo: B’nai B’rith do Brasil, 1990. O texto foi escrito há mais<br />
de 2 mil anos.<br />
2 Judeia (do latim Judaea, Terra de Judá) – O nome aparece no tempo dos macabeus, passando, em<br />
62 a.C., a designar toda a Palestina. Em 153 d.C., após a derrota da revolta judaica de Bar Kochba,<br />
foi rebatizada de Palestina pelos romanos. Judeia também se aplica à parte meridional do país.<br />
17<br />
PAZ - Book AF.indb 17 01.06.09 15:01:48
SOLUÇÃO PARA A PAZ<br />
Para o povo judeu, a própria cidade é santa. Escolhida por Deus em sua aliança com<br />
David, Jerusalém é a essência e o centro da existência e continuidade espiritual e nacional<br />
judaicas. Há quase 2 mil anos os judeus se voltam na direção de Jerusalém e do Monte do<br />
Templo quando rezam, onde quer que estejam.<br />
Assim como os muçulmanos devem peregrinar para Meca, o Muro Ocidental, conhecido<br />
como Muro das Lamentações (remanescente do Segundo Templo de Jerusalém) por ser o local<br />
mais sagrado do judaísmo, é o lugar de peregrinação (como era na Antiguidade) nas três<br />
principais festas do calendário religioso judaico: Pessach (fim da escravidão do Egito), Shavuot<br />
(Pentecostes, a “Festa das Semanas”) e Sucot (Festa da Colheita). No Pessach, a narrativa que<br />
lembra a libertação dos judeus da escravidão no Egito termina com as seguintes palavras:<br />
“No ano que vem em Jerusalém”.<br />
Na Terra de Israel o povo judeu formou sua identidade cultural, religiosa e nacional e nela<br />
manteve ininterruptamente sua presença física. Mesmo depois da Diáspora, o exílio forçado,<br />
não deixou de ter forte ligação com sua terra, cuja independência foi recuperada em 1948.<br />
Durante esse período sempre houve comunidades judaicas na Terra de Israel.<br />
A presença dos judeus na Terra de Israel<br />
Período bíblico (século XVIII a.C.)<br />
A Bíblia, em especial o Antigo Testamento, é uma das principais fontes de conhecimento<br />
sobre a origem do povo judeu, também conhecido como hebreu ou israelita. A ela se<br />
somam fontes da antropologia histórica, como a geografia, a climatologia e a arqueologia<br />
bíblica, com importantes descobertas, entre elas a dos Manuscritos de Qumran, ou Pergaminhos<br />
do Mar Morto, datados do século I a.C., e outras que atestam a presença judaica na<br />
região do <strong>Oriente</strong> Médio, ou ainda os relatos do historiador Flávio Josefo, na época do rei<br />
Herodes (40-4 a.C.), que descreve, em minúcias, o Segundo Templo de Jerusalém, o local<br />
mais sagrado para os judeus.<br />
De acordo com o primeiro livro bíblico, o Gênesis, há quase 4 mil anos Abraão, o patriarca<br />
do povo judeu, se estabelece em Canaã, respondendo ao chamado de um Deus único, e,<br />
com seus descendentes, dá início à história da religião judaica. José Jobson de A. Arruda e<br />
Nelson Piletti, em Toda a História, descrevem: “Pesquisadores afirmam que, por volta do século<br />
XVIII a.C., os hebreus teriam chegado a seu destino (a Terra Prometida)”.<br />
Em torno de 1800 a.C., a seca força os judeus a emigrar para o Egito, onde passam por<br />
400 anos de escravidão. Após a revolta conduzida por Moisés para a libertação de seu povo,<br />
tem início o Êxodo, provavelmente em 1250 a.C. Os judeus vagam durante quarenta anos no<br />
deserto antes de chegar a Canaã, quando então é criada a nação de Israel. Pelos 2 mil anos<br />
seguintes, Israel estará sob a soberania ou administração judaica.<br />
Em 1020 a.C., estabelece-se a monarquia e, em 1000 a.C., o rei David torna Jerusalém a<br />
capital do reino (este, na época, fazia fronteira com o Egito e o Mar Vermelho e se estendia<br />
até as margens do Rio Eufrates, onde hoje é o Iraque). Ao sucedê-lo, o rei Salomão constrói<br />
o Primeiro Templo de Jerusalém, que se tornará o centro da vida nacional e religiosa do<br />
povo judeu.<br />
18<br />
PAZ - Book AF.indb 18 01.06.09 15:01:48
ENTENDENDO O ORIENTE MÉDIO<br />
2<br />
2ISRAEL: 3.700 ANOS DE HISTÓRIA<br />
A fé judaica: a vida é o bem mais sagrado<br />
A fé judaica tem origem no chamado divino que leva Abraão a deixar<br />
sua terra natal, indo para Canaã, e a transformar-se no pai de uma nação.<br />
Após a libertação do Egito, os judeus vagam por quarenta anos no deserto,<br />
e durante essa peregrinação Moisés recebe no Monte Sinai as Tábuas da Lei,<br />
ou os Dez Mandamentos, um código de leis, de conduta e de ensinamentos<br />
que constitui a base espiritual do povo judeu. Os Dez Mandamentos valorizam<br />
a verdade e a vida acima de tudo e se tornam a base da ética do mundo<br />
ocidental. A ideia de um Deus único – o monoteísmo – adotada pelos judeus<br />
foi uma verdadeira revolução na sociedade, que até então cultuava ídolos,<br />
tornando-se mais tarde também a base do cristianismo e do islamismo.<br />
A experiência religiosa judaica é descrita em uma série de livros sagrados.<br />
O mais importante deles é a Torá, composta pelos cinco livros de Moisés, os<br />
primeiros livros do Antigo Testamento, ou Pentateuco. A Torá é lida diariamente,<br />
até os dias de hoje, nos serviços religiosos nas sinagogas.<br />
O termo “sinagoga” começou a ser empregado após a destruição do Primeiro<br />
Templo de Jerusalém pelos babilônios, passando a ser um espaço destinado<br />
às orações das comunidades judaicas dispersas.<br />
Da Torá surgiu, mil anos depois, um largo corpo de tradições rabínicas,<br />
o Talmud, lei oral que trata de assuntos legais, éticos e históricos. Obra enciclopédica<br />
de grande envergadura, foi elaborada durante oito séculos (de<br />
300 a.C. até 500 d.C.). O mais popular é o Talmud Babilônico, publicado na<br />
Babilônia em 499 a.C. O Talmud de Jerusalém foi compilado no final do século<br />
III a.C.<br />
O judaísmo é uma religião sem um sistema dogmático, que valoriza o livre-arbítrio<br />
de cada indivíduo. Tem como princípios fundamentais o Tikkun<br />
Olam, a ideia de que Deus criou o mundo e cabe ao homem melhorá-lo<br />
– portanto, é missão do ser humano fazer deste um mundo melhor para todos<br />
– e a Tzedaká, justiça social e ajuda ao próximo. Outra máxima judaica é:<br />
“Não faças aos outros o que não queres que façam a ti mesmo”.<br />
Para o judaísmo, a vida é sagrada e está acima de tudo; todas as tradições<br />
podem deixar de ser observadas para salvar um ser humano e mesmo<br />
um animal.<br />
Segundo a tradição judaica, Deus criou o mundo em seis dias e no sétimo<br />
descansou. Por isso, o sétimo dia, o Shabat, é santificado. Nesse dia todos<br />
devem descansar. Na Antiguidade, quando existia escravidão, os servos e os<br />
animais também tinham garantido seu dia de descanso. A cada sete anos, a<br />
terra tinha de permanecer um ano sem uso, e os cantos das plantações não<br />
deviam ser colhidos, para que os necessitados pudessem se alimentar. Essas<br />
foram as primeiras leis de direitos humanos do mundo.<br />
A sobrevivência do povo judeu e do judaísmo é um fenômeno ímpar. Com<br />
todas as perseguições e reveses, há 3.700 anos os judeus vêm mantendo suas<br />
tradições e sua fé inabalável em um Deus único, um Deus de bondade, de<br />
amor e de justiça.<br />
Como já dito, Jerusalém, onde estão situados o Monte do Templo e o<br />
Muro Ocidental (Muro das Lamentações), é a cidade sagrada do judaísmo.<br />
19<br />
PAZ - Book AF.indb 19 01.06.09 15:01:48
SOLUÇÃO PARA A PAZ<br />
Períodos persa e helenístico (586-142 a.C.)<br />
O reino de Israel se organiza em doze tribos e divide-se em dois: Israel e Judá. Israel é<br />
devastado pelos assírios e Judá conquistado pelos babilônios em 586 a.C, quando o Templo<br />
de Jerusalém é destruído e os judeus levados como escravos para a Babilônia.<br />
Depois, o rei persa Ciro permite que os judeus retornem do exílio para a Terra de Israel.<br />
Durante quatrocentos anos, mesmo sob o domínio dos persas e depois dos gregos, há uma<br />
independência e um renascimento nacional, com o país sendo dirigido segundo as leis judaicas.<br />
Reconstrói-se o Templo de Jerusalém (Segundo Templo) e cria-se a Haguedolá (Grande<br />
Assembleia), que é hoje o Knesset, o Parlamento do Estado de Israel.<br />
Em termos comparativos, é bom lembrar que o Brasil não tem, ainda, duzentos anos de<br />
independência, o que demonstra como é histórica a presença judaica na Terra de Israel.<br />
A partir do século III a.C., com a assimilação da língua e dos gêneros literários gregos,<br />
muitos textos judaicos também são traduzidos. O mais importante é, sem dúvida, a mais<br />
antiga tradução da Bíblia hebraica para o grego, a chamada LXX, que continha o Pentateuco<br />
(os cinco livros de Moisés ou os livros das leis), datada de 285 a.C.<br />
Império Romano (63 a.C.-313 d.C.)<br />
A Terra de Israel torna-se província do Império Romano. Nasce Jesus de Nazaré, cujos ensinamentos,<br />
tais como se encontram reunidos nos Evangelhos, dão origem ao cristianismo<br />
(Concílio de Niceia, em 325 d.C., na atual Turquia), que também é uma religião monoteísta.<br />
Jesus viveu e morreu como judeu, tendo os romanos escrito em sua cruz “INRI”, sigla<br />
em latim que significa “Jesus de Nazaré, Rei dos Judeus”. À semelhança do judaísmo e do<br />
islamismo, o cristianismo é considerado uma religião abraâmica, ou seja, originária do patriarca<br />
Abraão.<br />
No ano 70 d.C., o general romano Tito (depois imperador) arrasa Jerusalém e destrói o<br />
Segundo Templo. Tem início uma nova Diáspora (dispersão), em que os judeus se espalham<br />
pelo mundo. Mesmo assim, as instituições políticas, econômicas e espirituais da comunidade<br />
judaica continuarão existindo na Terra de Israel por, pelo menos, mais trezentos anos.<br />
Em um esforço para apagar as marcas da milenar presença judaica na região, após sufocar<br />
uma revolta dos judeus em 153 d.C., o imperador romano Adriano muda o nome da Terra<br />
de Israel, então chamada de Judeia (a terra dos judeus ou de Judá), para Palestina e proíbe o<br />
acesso dos judeus à antiga Jerusalém.<br />
No entanto, monges, médicos, viajantes, historiadores romanos, judeus e muçulmanos,<br />
entre outros, relatam os percalços das gerações de judeus que lá permaneceram durante<br />
quase 2 mil anos, a despeito das inúmeras perseguições étnicas e religiosas, das invasões e<br />
conquistas, sem nunca deixar o solo sagrado nem se esquecer de sua Jerusalém, de Sion, na<br />
qual foram proibidos de entrar em diversos períodos de sua história. E, segundo cronistas<br />
de várias épocas, sempre houve uma comunidade judaica ao pé do Monte do Templo, em<br />
Jerusalém 3 .<br />
3 BAHAR, Vinte Séculos de Vida Judaica na Terra de Israel - As Gerações Esquecidas.<br />
20<br />
PAZ - Book AF.indb 20 01.06.09 15:01:49
ENTENDENDO O ORIENTE MÉDIO<br />
2<br />
Na Terra de Israel ou na Diáspora, o anseio de voltar a Jerusalém permanece vivo nas<br />
orações, na literatura, no coração e na alma dos judeus em todos os tempos. É preciso ressaltar,<br />
também, que, se não fossem as invasões romanas e de outros impérios, Israel teria<br />
hoje 3 mil anos.<br />
Uma obra muito importante para a compreensão da história de Israel dessa época foi<br />
escrita pelo historiador Flávio Josefo, nascido em Jerusalém em 37 ou 38 a.C. Na famosa<br />
História dos Hebreus, ele descreve a Torá como o grande código cultural, moral, social e político<br />
dos judeus. Posteriormente, Josefo se alia aos romanos, mas seu livro é um relato interpretativo<br />
da presença dos judeus na Terra de Israel durante o Império Romano.<br />
2ISRAEL: 3.700 ANOS DE HISTÓRIA<br />
Império Bizantino (313-636)<br />
Nesse período, o cristianismo torna-se a religião de Estado e o Sinédrio (corte de Justiça<br />
judaica) é abolido, sendo construídas inúmeras igrejas em Belém, em Jerusalém e na Galileia.<br />
Os judeus que permaneceram em sua terra passam por diversas fases, umas com florescimento<br />
de vida cultural e religiosa e outras com muitas dificuldades, incluindo a destruição<br />
de sinagogas, perseguições e a proibição de visitar Jerusalém.<br />
Período árabe (639-1099)<br />
Sete anos após a morte do profeta Mohamed, criador do islamismo, a região foi conquistada<br />
pelos muçulmanos. No início, os judeus tinham garantia de vida e de propriedade,<br />
além de liberdade de culto. Depois vieram as restrições aos não muçulmanos, e os judeus<br />
foram obrigados a deixar suas propriedades nas áreas rurais, passando a viver nas cidades<br />
ou abandonando o país. Os judeus foram, portanto, expropriados e expulsos pelos árabes.<br />
A região nunca foi exclusivamente árabe. O idioma árabe tornou-se o mais falado ali depois<br />
das invasões muçulmanas do século VII. Essas permitiram a construção do Império Otomano<br />
em todo o <strong>Oriente</strong> Médio.<br />
Cruzadas (1099-1291)<br />
As Cruzadas foram expedições militares, em nome da Igreja Católica, realizadas na Idade<br />
Média contra o domínio do Islã, combatendo os “infiéis”, denominação dada na época aos<br />
que não fossem cristãos. A Primeira Cruzada, ordenada pelo papa Urbano II, para libertar Jerusalém,<br />
teve início em 1095. Os cruzados tomaram a cidade em 1099, dizimando também<br />
a população judaica local. Formou-se o Reino Latino dos Cruzados. Com a abertura das rotas<br />
de transporte da Europa, multiplicaram-se as peregrinações à Terra Santa e muitos judeus<br />
retornaram a sua pátria, entre eles trezentos rabinos da França e da Inglaterra. Em 1187,<br />
quando o exército muçulmano de Saladino derrotou os cruzados, foi possível aos judeus<br />
voltar a morar em Jerusalém, onde permaneceram até a chegada dos mamelucos.<br />
21<br />
PAZ - Book AF.indb 21 01.06.09 15:01:49
SOLUÇÃO PARA A PAZ<br />
Período mameluco (1291-1516)<br />
Os mamelucos, casta militar muçulmana que conquistou o poder no Egito, passaram a<br />
dominar a Terra de Israel, transformando-a em província arrasada, com a sede de governo<br />
em Damasco, que é hoje a capital da Síria. No final da Idade Média, com a destruição dos<br />
portos de Acco e Yafo (Jafa), além de epidemias, pragas e terremotos, os judeus viveram em<br />
total penúria.<br />
Império Otomano (1517-1917)<br />
Em seu auge, o Império Otomano compreendia a Anatólia, o <strong>Oriente</strong> Médio, parte do<br />
norte da África e do sudeste europeu. Sua capital era a cidade de Constantinopla, tomada<br />
do Império Bizantino em 1453. Sob o domínio otomano, que durou quatrocentos anos,<br />
a região recebeu melhorias e incentivo à imigração judaica. Safed era um centro têxtil, de<br />
intensa atividade intelectual e de estudo da Cabala (mística judaica). Com o declínio do<br />
Império Otomano, a região ficou novamente abandonada, no final do século XVIII. Áreas<br />
produtivas transformaram-se em deserto ou pântano. No século XIX, houve uma revitalização,<br />
com rotas marítimas regulares, e a abertura do Canal de Suez, que tornaram a região um<br />
ponto comercial. Em 1860, a população de Jerusalém extrapolou seus muros, estabelecendo<br />
a Cidade Nova, com mais sete bairros. Em 1880, a população judaica constituía a maioria<br />
local. Em todo o país, terras compradas se transformaram em colônias rurais (kibutzim 4 ) e o<br />
hebraico voltou a ser a língua falada no cotidiano. No final do século XIX, começou nova<br />
onda de imigração de judeus para a Terra de Israel, fugindo dos massacres e da discriminação<br />
que estavam sofrendo na Europa, especialmente na Rússia.<br />
Mandato Britânico (1918-1948)<br />
Com o declínio do Império Otomano, no século XIX, e<br />
após a Primeira Guerra Mundial, na qual foi derrotado, seu<br />
território foi dividido entre potências europeias, vencedoras<br />
da guerra, que passaram a exercer mandatos na região.<br />
O Mandato Francês foi exercido sobre o que na época era<br />
denominado Síria, que englobava tanto a atual Síria como o<br />
que é hoje o Líbano, enquanto o Mandato Britânico se estendeu<br />
sobre a Terra de Israel (na época chamada Palestina) e<br />
o Iraque. No mapa ao lado, é possível observar como estava<br />
dividida a região na segunda década do século XX.<br />
Em 1917, a Grã-Bretanha aprovou a Declaração Balfour,<br />
comprometendo-se com a criação de uma pátria judaica na<br />
Terra de Israel. Em 1922, a Sociedade das Nações atribuiu a<br />
administração da Terra de Israel ao Reino Unido da Grã-Breta-<br />
4 Kibutzim (plural de kibutz, que em hebraico significa “reunir”) – Colônias comunitárias em Israel, no início predominantemente<br />
agrícolas.<br />
22<br />
PAZ - Book AF.indb 22 01.06.09 15:01:49
ENTENDENDO O ORIENTE MÉDIO<br />
2<br />
-nha e Irlanda do Norte, que de fato já vinha administrando-a desde 1917. Nesse ano, a Grã-<br />
-Bretanha decidiu dividir a Terra de Israel em Emirado Hashemita da Transjordânia (atual<br />
Jordânia, que se tornou independente em 1946, pouco antes de Israel) e Palestina, tendo o<br />
Rio Jordão por fronteira.<br />
Apenas após a Segunda Guerra Mundial e com as evidências do Holocausto praticado pela<br />
Alemanha nazista contra os judeus, a Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas<br />
aprovou o estabelecimento na região de dois Estados, um judeu e um árabe. A Resolução<br />
181, de 20 de novembro de 1947, em sessão presidida pelo embaixador brasileiro Osvaldo<br />
Aranha, foi aprovada por 33 votos a 13 e ficou conhecida como “Partilha da Palestina”.<br />
2ISRAEL: 3.700 ANOS DE HISTÓRIA<br />
Cópia da ata da votação da Partilha da Palestina e criação do Estado de Israel<br />
contemporâneo 5 .<br />
5 BAHAT, Vinte Séculos de Vida Judaica na Terra de Israel - As Gerações Esquecidas.<br />
23<br />
PAZ - Book AF.indb 23 01.06.09 15:01:49
SOLUÇÃO PARA A PAZ<br />
Bibliografia sugerida<br />
ARRUDA, José Jobson de A.; PILETTI Nelson. Toda a História. 13. ed. São Paulo: Ática, 2007.<br />
BAHAT, Dan. Vinte Séculos de Vida Judaica na Terra de Israel – As gerações esquecidas. São Paulo:<br />
B’nai B’rith do Brasil, 2002.<br />
BEREZIN, Rifka (Org.). Caminhos do Povo Judeu. São Paulo: Vaad Hachinuch, 1982.<br />
BLECH, Benjamin. Judaísmo. São Paulo: Sêfer, 2004.<br />
EBBAN, Aba. História do Povo de Israel. Rio de Janeiro: Bloch, 1971.<br />
Enciclopédia Judaica.<br />
GRANADOS, Jorge Garcia. Assim Nasceu Israel. São Paulo: Sêfer, 2008.<br />
“Israel: 4.000 anos de história”. Revista da Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Israel, São<br />
Paulo, 2001.<br />
Revista Shalom.<br />
UNTERMAN, Alan. Dicionário Judaico – Lendas e tradições. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1999.<br />
WOOL, Danny; YUDIN, Yefin. O Ano Judaico. São Paulo: Sêfer, 2007.<br />
Sites<br />
Estudos Bíblicos: http://www.panoramabiblico.blogspot.com.<br />
Estudos Judaicos: http://www.estudosjudaicos.blogspot.com.<br />
História das Religiões e Religiosidades: http://www.religioesereligiosidades.blogspot.com<br />
Língua Hebraica: http://www.linguahebraica.blogspot.com.<br />
Lia Bergmann Formada em História pela Universidade de São Paulo e jornalista com pós-graduação pela Faculdade<br />
Cásper Líbero, Lia Bergmann é assessora de comunicação e de direitos humanos da B’nai B’rith do Brasil.<br />
24<br />
PAZ - Book AF.indb 24 01.06.09 15:01:52
3<br />
O ISLÃ: 1.300 ANOS<br />
DE HISTÓRIA<br />
CAPÍTULO<br />
Lia Bergmann<br />
A Península Arábica antes do islamismo<br />
A geografia da Ásia possui três grandes penínsulas: a Indochina, a Índia e a<br />
Arábia. A Península Arábica, localizada no sudoeste asiático, é o centro de confluência<br />
de três continentes. É uma unidade geográfica na forma de um trapézio,<br />
com cerca de 2.590.000 km 2 , e, atualmente, está dividida nos seguintes Estados:<br />
Arábia Saudita, Bahrein, Emirados Árabes Unidos, Catar, Kuwait, Omã e Iêmen.<br />
Limita-se ao norte com a Jordânia e o Iraque, a leste com os golfos Pérsico e de<br />
Omã, ao sul com o Mar da Arábia (Oceano Índico) e a oeste com o Mar Vermelho.<br />
O território, que foi denominado pelos historiadores de Região Pré-Islâmica, situa-se<br />
numa área desértica, e suas características<br />
impediram o desenvolvimento da<br />
agricultura; por conta disso, a população<br />
que povoou essa região do século II ao<br />
VI dedicou-se, quase exclusivamente, ao<br />
pastoreio. É importante salientar que, durante<br />
todo esse período não houve nesse<br />
lugar um poder político centralizado,<br />
originado na região, que, sob o Império<br />
Romano, na época de Trajano, foi dividida<br />
em três grandes grupos: a Arábia Pétrea, a<br />
Arábia Desértica e a Arábia Feliz.<br />
• A Arábia Pétrea foi assim denominada por causa de suas características geológicas:<br />
situada ao norte, era uma região muito escarpada, com inúmeras colinas<br />
rochosas e muitos desfiladeiros. Todas as caravanas vindas do sul em<br />
direção ao Mar Mediterrâneo passavam por essa região, que, nos relatos dos<br />
viajantes e exploradores, muitas vezes era tratada como muito perigosa, em<br />
razão de suas dificuldades naturais.<br />
• A Arábia Desértica correspondia à parte da região habitada por tribos de<br />
nômades denominados beduínos. Esses grupos, dedicados ao pastoreio, reuniam-se<br />
em torno de poços e oásis e, por conta de muitas disputas, nas quais<br />
guerreavam entre si e contra os impérios Romano e Persa, eram tidos como<br />
belicosos. Eram politeístas e costumavam guardar objetos de adoração de seus<br />
deuses em Meca. Cada tribo adorava seus ancestrais com imagens. O deus<br />
principal era Alá, simbolizado pela “pedra negra”, que, segundo eles, havia<br />
sido enviada dos céus. Seu principal elemento de sobrevivência era o camelo,<br />
animal do qual retiravam seu alimento (leite e carne) e vestimentas (feitas<br />
com o pelo).<br />
25<br />
PAZ - Book AF.indb 25 01.06.09 15:01:52
SOLUÇÃO PARA A PAZ<br />
• A Arábia Feliz (em latim, Arabia Felix) era um território da Ásia que correspondia aos<br />
atuais Iêmen e Omã, formada por tribos sedentárias cujas principais atividades econômicas<br />
eram a agrícola e a mercantil, nas regiões litorâneas da Península Arábica. Na<br />
Antiguidade, a Arábia Feliz se diferenciou como grande exportadora de mirra. A água<br />
nessa região, ao contrário das outras duas, não era escassa, tendo sido muito aproveitada<br />
no cultivo dos campos.<br />
A unificação política – Mohamed (570-632)<br />
Mohamed (Maomé) nasceu em Meca, parte de uma linhagem pobre da tribo coraixita,<br />
e dele surgiu uma nova religião, o islamismo, que garantiu a unidade política à Arábia. Mohamed<br />
era órfão e foi criado por um avô e um tio. Aos 20 anos, quando começou sua vida<br />
de pastor, empregou-se na caravana de uma rica viúva chamada Kadidja. Mais tarde ela se<br />
tornaria sua esposa. Durante suas caravanas, conheceu as duas grandes religiões monoteístas<br />
da época – o judaísmo e o cristianismo –, das quais retirou elementos para fundar uma nova<br />
religião monoteísta.<br />
O islamismo acredita que, depois de um período de isolamento no deserto, Mohamed<br />
recebeu mensagens de Deus, por intermédio do Arcanjo Gabriel. Nessas mensagens, Deus<br />
desaprovava o politeísmo idólatra, fonte de disputas entre os árabes, e defendia o monoteísmo<br />
instituído na submissão a Alá e na leitura rigorosa do Corão, livro sagrado dos muçulmanos.<br />
Por conta de conflitos econômicos, os coraixitas de Meca receavam que a nova<br />
religião reduzisse as inúmeras peregrinações à Caaba, prejudicando assim seus negócios.<br />
Mohamed sofreu ameaças e acabou expulso de Meca em 622 (essa data é considerada muito<br />
importante para os muçulmanos e demarca o início do calendário islâmico), dirigindo-se<br />
para a cidade de Yatreb, episódio conhecido como Hégira (fuga).<br />
Rapidamente Mohamed atraiu uma legião de adeptos que, em 630, conquistou Meca.<br />
Surgia a religião monoteísta imposta pelos adeptos de Mohamed, elemento determinante<br />
para a unificação política da região. É importante salientar: Mohamed, além de chefe religioso,<br />
também era chefe político dos árabes. Em 632, com a morte de Mohamed, os califas<br />
seguidores do profeta passaram a governar em seu lugar.<br />
A expansão do islamismo<br />
No final do século VII, motivada por seu enorme crescimento demográfico, a população<br />
islâmica utilizou como justificativa para a expansão territorial um preceito religioso: para<br />
eles, todo seguidor de Mohamed deveria agir como um guerreiro encarregado de levar a fé a<br />
todos os “infiéis” (o que recebeu o nome de jihad). Comandados pelos califas, os seguidores<br />
dessa religião expandiram seus locais de domínio por vastas áreas do Mediterrâneo, até serem<br />
detidos na Europa por Carlos Martel, do reino franco, em 732. Durante quase mil anos<br />
controlaram a navegação e o comércio no Mediterrâneo, bloqueando o acesso dos europeus<br />
ao comércio com o <strong>Oriente</strong>. Em meados do século VIII, o Império Islâmico começou a dar<br />
os primeiros sinais de decadência. Isso se deveu a vários fatores: primeiro, porque as diversas<br />
dinastias muçulmanas brigavam pelo poder dos califados, e, quando a dinastia principal,<br />
a Omíada, responsável pelo apogeu expansionista, foi substituída pela dinastia dos Abássidas,<br />
o Império foi totalmente fragmentado, em califados independentes. Houve também o<br />
26<br />
PAZ - Book AF.indb 26 01.06.09 15:01:53
ENTENDENDO O ORIENTE MÉDIO<br />
3<br />
grande movimento das Cruzadas, ciclo de lutas religiosas e econômicas, iniciado no século<br />
X pelos cristãos, que tentava derrotar os muçulmanos, o que contribuiu para fragilizar o<br />
Império. Por fim, os turco-otomanos, recém-convertidos ao islamismo, guerrearam com os<br />
árabes pelo domínio político e econômico da região mediterrânea.<br />
A expansão islâmica e suas divisões<br />
Para entender a expansão islâmica, é importante perceber a assimilação que essa cultura<br />
fez de muitos elementos de diversas culturas e das outras duas religiões monoteístas: o judaísmo<br />
e o cristianismo. No campo das ciências, os muçulmanos desenvolveram pesquisas<br />
na matemática, aprimorando a álgebra e a geometria e criando o sistema numérico, na astronomia<br />
e na química. Muitas foram suas contribuições para a cultura universal.<br />
No entanto, diversos conflitos se sucederam após a morte do profeta, em 632, quando,<br />
em inúmeros confrontos, surgiram os sunitas, seguidores da tradição do profeta, a suna,<br />
e os xiitas, partidários de Ali, primo e genro de Mohamed, que o consideravam seu único<br />
herdeiro legítimo.<br />
A fé islâmica<br />
O mais importante fundamento da fé islâmica é a crença rigorosa no monoteísmo. Cada<br />
capítulo do Corão (com exceção de um) principia com a frase “Em nome de Deus, o beneficente,<br />
o misericordioso”. O islamismo destaca seis grandes elementos cruciais de fé:<br />
1. A crença em Alá (Allah), único Deus existente.<br />
2. A crença nos Anjos, seres criados por Alá.<br />
3. A crença nos Livros Sagrados (o Livro de Ibrahim, que se perdeu, a Lei de Moisés, ou<br />
seja, a Torá, os Salmos de David, denominados Zabur, e o Evangelho de Jesus, chamado<br />
Injil). O Corão, para o islamismo, é o último e mais completo livro sagrado, que completa<br />
todos os outros, e é o registro dos preceitos revelados por Alá ao profeta Mohamed.<br />
É o livro que os muçulmanos acreditam ser a palavra literal de Deus (Alá) revelada ao<br />
profeta Mohamed ao longo de um período de 22 anos. A palavra “Corão” procede do<br />
verbo árabe que denota a ideia de declamar ou recitar; Corão, ou Alcorão, é, portanto,<br />
uma “recitação” ou algo que deve ser recitado.<br />
4. A crença em vários profetas enviados à humanidade. Personagens bíblicos bem conhecidos,<br />
como Adão, Noé, Abraão, Moisés, Jesus, Maria (a mãe de Jesus) e João Batista, são<br />
mencionados no Corão como profetas do Islã, dos quais Mohamed é o último e mais<br />
importante.<br />
5. A crença no dia do Julgamento Final, no qual as ações de cada pessoa serão julgadas por Alá.<br />
6. A crença na predestinação, tradução em português da palavra qadar, cujo sentido mais<br />
preciso é “medir” ou “decidir quantidade ou qualidade”. Para o islamismo, Deus, criador<br />
de tudo, incluindo os seres humanos, sabe exatamente como são as características de cada<br />
elemento de sua obra. Dessa forma, os muçulmanos acreditam que tudo, absolutamente<br />
tudo, que acontece a uma pessoa é determinado por Deus.<br />
O ISLÃ: 1.300 ANOS DE HISTÓRIA<br />
27<br />
PAZ - Book AF.indb 27 01.06.09 15:01:53
SOLUÇÃO PARA A PAZ<br />
No islamismo não existem grandes hierarquias religiosas<br />
e a prática do Islã é constituída por cinco elementos,<br />
denominados os cinco pilares.<br />
O primeiro deles é a shahada, profissão de fé, que demarca<br />
a entrada para o islamismo. Na conversão, o muçulmano<br />
repete, na frente de uma testemunha: “Não existe<br />
nenhum Deus exceto Deus, e Mohamed é o mensageiro<br />
de Deus”, ou, em árabe, “Wa la ilaha illa’llah Muhammad<br />
rasulu’llah”. Embora possa ser dita em qualquer idioma,<br />
muitos muçulmanos optam por usar o árabe, por ser a<br />
língua do Corão.<br />
O segundo pilar é a oração, realizada cinco vezes por<br />
dia: pouco antes do amanhecer, ao meio-dia, no meio da O Corão, século XII.<br />
tarde, pouco depois de o Sol se pôr e à noite. Alguns versos Fonte: Washington University.<br />
do Corão são declamados, em árabe, durante as orações,<br />
que são diferentes umas das outras.<br />
O terceiro pilar é o ato de caridade. Todo muçulmano deve doar cerca de 2,5% de sua<br />
renda a uma mesquita ou a um centro de caridade locais.<br />
O quarto pilar se refere ao Ramadã, o mês do jejum. Durante esse período, espera-se que<br />
todos os muçulmanos, do nascer do Sol ao entardecer, se abstenham de comer e beber, evitem<br />
atividade sexual, mantenham sua mente limpa de pensamentos impuros e demonstrem<br />
compaixão e respeito profundos. Uma das datas mais sagradas para o islamismo é a festa em<br />
que se comemora o fim do jejum no Ramadã. Nessa festa eles sacrificam um cordeiro, para<br />
lembrar o momento em que Abraão lidou com uma dor profunda: por ordem de Deus, ele<br />
teria de sacrificar seu filho Ismael. Para os muçulmanos, Ismael, filho de Abraão com Agar,<br />
e não Isaac, seria sacrificado.<br />
O quinto e último pilar é a peregrinação à cidade de Meca, na Arábia Saudita, quando<br />
há condições físicas e financeiras.<br />
As divisões do islamismo<br />
As principais divisões ou correntes islâmicas são a sunita e a xiita, e sua maior diferença<br />
é determinada pela interpretação da sucessão de Mohamed. Durante sua vida, o profeta não<br />
determinou nem quem o sucederia, nem como seria a escolha do sucessor. Isso causou a divisão<br />
do islamismo, quando a comunidade islâmica mergulhou numa guerra civil, após a morte<br />
de Mohamed, que deu origem a três grupos: os sunitas, os xiitas e os caridjitas.<br />
• Os sunitas, que representam 85% dos muçulmanos, aceitaram essa sucessão, denominada<br />
tradição do profeta (suna), tal como relatada por seus companheiros (a sahaba).<br />
• Os xiitas defendiam que Ali, primo e genro de Mohamed, deveria ser o grande califa, que<br />
em árabe quer dizer “sucessor”.<br />
• Os caridjitas primeiro apoiaram a posição dos xiitas, atribuindo a Ali o lugar de único<br />
sucessor legítimo de Mohamed. Decepcionados com Ali, por não ter declarado guerra<br />
ao califa sunita, entenderam que isso representava uma traição a seu legado por Deus.<br />
Posteriormente, Ali foi assassinado pelos caridjitas com uma espada envenenada.<br />
28<br />
PAZ - Book AF.indb 28 01.06.09 15:01:53
ENTENDENDO O ORIENTE MÉDIO<br />
3<br />
Diferenças importantes<br />
O movimento xiita sempre exerceu influência decisiva sobre o islamismo, a despeito de<br />
ser minoritário. Com o passar dos séculos, os xiitas dividiram-se em diversas seitas parecidas,<br />
entre as quais a dos ismaelitas. O anseio de que os descendentes de Ali formassem os<br />
líderes do mundo islâmico jamais se concretizou, mesmo porque os sunitas sempre foram<br />
mais numerosos e expressivos. Os muçulmanos xiitas estão espalhados por todas as partes<br />
do mundo, mas alguns países têm uma concentração particularmente forte: o Irã é quase<br />
totalmente xiita, e no Iraque, país onde cerca de 95% da população é muçulmana, cerca de<br />
dois terços são xiitas. Os xiitas são maioria também no Bahrein.<br />
Em termos teológicos, há diferenças entre sunitas e xiitas. Os dois ramos compartilham<br />
apenas três doutrinas: a individualidade de Deus, as revelações de Mohamed e a ressurreição<br />
do profeta no Dia do Julgamento Final.<br />
A compreensão do islamismo é diferente para sunitas e xiitas. Os primeiros dão grande<br />
importância à peregrinação a Meca, enquanto os segundos dão também muita importância<br />
a outras peregrinações. Os xiitas se valem comumente do termo “imã”, que designa suas<br />
autoridades religiosas, exclusivamente para Ali e seus descendentes, ao contrário dos sunitas.<br />
Os xiitas acreditam que os imãs, como descendentes de Mohamed e Ali, são seres com<br />
algo de divino. Os sunitas, por seu lado, creem em tradições baseadas em escolas teológicas<br />
e jurídicas que envolvem analogias do Corão e da tradição.<br />
Algumas características particulares dos xiitas: a camuflagem da fé em público, de modo<br />
a impedir problemas sociais, é admitida, desde que conservada na privacidade; é possível<br />
contratar um casamento temporário, estabelecido por um período entre um dia e 99 anos,<br />
no qual podem existir ou não sexo e/ou o pagamento em dinheiro, e o homem que alcançar<br />
quatro casamentos desse tipo garante um lugar no Paraíso.<br />
O islamismo hoje<br />
A religião islâmica, que conta com 1,3 bilhão de fiéis em todo o mundo, encontra nos<br />
sunitas sua maioria, cerca de 85% do total. Um equívoco muito comum é a confusão entre<br />
árabe e muçulmano. O termo “árabe” se refere a uma etnia (de onde surgiu a língua árabe)<br />
e o termo muçulmano se refere ao adepto da religião islâmica. Os árabes 1 são o maior grupo<br />
étnico do <strong>Oriente</strong> Médio. São maioria no Egito, Jordânia, Síria, Líbano, Iraque, nos países da<br />
Península Arábica e nos territórios sob a Autoridade Palestina. Também estão presentes nos<br />
países do norte da África, reunindo ao todo 350 milhões de pessoas.<br />
Os muçulmanos, seguidores da fé islâmica, estão espalhados por todo o mundo. O <strong>Oriente</strong><br />
Médio reúne apenas 18% da população muçulmana mundial – sendo que turcos, afegãos<br />
e iranianos (persas) não são árabes. Outros 30% de muçulmanos estão no subcontinente indiano<br />
(Índia e Paquistão), 20% no norte da África, 17% no sudeste da Ásia e 10% na Rússia<br />
e na China. Há minorias muçulmanas em quase todas as partes do mundo.<br />
1 Originários da Península Arábica, os árabes se espalharam, a partir do século VII, em uma grande corrente migratória<br />
provocada pela expansão do islamismo. O principal fator que os une, porém, não é a religião, mas a língua,<br />
que pertence ao tronco semítico, assim como o hebraico.<br />
O ISLÃ: 1.300 ANOS DE HISTÓRIA<br />
29<br />
PAZ - Book AF.indb 29 01.06.09 15:01:53
SOLUÇÃO PARA A PAZ<br />
Os árabes na Palestina<br />
O nome<br />
Existem duas versões para a origem do nome “Palestina”. A primeira é que a palavra<br />
viria do hebraico “Peleshet”, que significa divisor, invasor. Ela é traduzida como “Falastin”,<br />
denominação que os árabes usam atualmente para “Palestina” (na língua árabe não há o<br />
som de “p”). No século I d.C., os romanos destruíram o reino independente da Judeia.<br />
Após uma revolta frustrada dos judeus no segundo século, o imperador romano Adriano<br />
determinou que a identidade de Israel com a região fosse negada/obscurecida, impondo o<br />
nome “Palestina” para toda a terra judaica e rebatizando Jerusalém de “Aélia Capitolina”.<br />
Os romanos mataram milhares de judeus e expulsaram ou venderam como escravos outras<br />
centenas de milhares.<br />
A outra versão é que a palavra “Palestina” derivaria do grego “Philistia”, nome dado pelos<br />
autores da Grécia Antiga a essa região, devido ao fato de em parte dela se terem fixado no<br />
século XII a.C. os filisteus. Os filisteus não eram semitas e sua provável origem é creto-miceniana,<br />
oriundos, portanto, do litoral sul do Mar Mediterrâneo, de tal forma que os filisteus<br />
não poderiam ser ascendentes dos atuais palestinos, que são de etnia semita (árabe).<br />
É muito importante notar: os judeus viviam na Terra de Israel havia mais de 3.700 anos,<br />
os judeus é que eram chamados de “palestinos” na época dos romanos e não há nenhum<br />
povo na Palestina hoje que se origine no litoral sul do Mar Mediterrâneo.<br />
A história<br />
A área que correspondia ao Mandato Britânico da Palestina foi dividida pelos ingleses,<br />
tendo o Rio Jordão como fronteira, criando-se a Transjordânia, hoje Jordânia. O restante,<br />
correspondente à Palestina até 1948, encontra-se hoje dividido em três partes: uma delas integra<br />
o Estado de Israel e as duas outras abrangem a Faixa de Gaza e a Cisjordânia, de maioria<br />
árabe-palestina, que deveriam integrar um Estado Palestino a ser criado, de acordo com a<br />
lei internacional, bem como as determinações das Nações Unidas e da anterior potência<br />
colonial da região, o Reino Unido.<br />
A Terra de Israel, por conta de sua localização, um estreito trecho de favorável passagem<br />
entre África, Ásia e Europa, sempre foi almejada por muitos conquistadores, pelos mais variados<br />
povos, por se constituir num corredor natural para os antigos exércitos.<br />
A presença de árabes na Terra de Israel iniciou-se no ano 614, quando a região foi conquistada<br />
pelos persas sassânidas, que mantiveram seu domínio até 628, sendo sucedidos em<br />
638 pelo domínio árabe muçulmano. De 1517 a 1917, o Império Otomano controlou toda<br />
a região (incluindo Síria e Líbano).<br />
Durante a Primeira Guerra Mundial, o Império Otomano apoiou a Alemanha e acabou<br />
derrotado com a ajuda de povos árabes que auxiliavam as tropas aliadas. Esses povos árabes<br />
receberam a promessa da constituição de um Estado árabe independente no <strong>Oriente</strong> Médio.<br />
Foram criados vários Estados árabes após o período de mandatos britânico e francês. A<br />
Assembleia Geral das Nações Unidas determinou a Partilha da Palestina (os 25% ainda em<br />
disputa) entre um Estado judeu e outro árabe com base na concentração das populações,<br />
por meio da Resolução 181.<br />
30<br />
PAZ - Book AF.indb 30 01.06.09 15:01:53
ENTENDENDO O ORIENTE MÉDIO<br />
3<br />
Os refugiados palestinos<br />
Com o desenvolvimento proporcionado pelos judeus, que adquiriram terras, implantaram<br />
saneamento básico e abriram novas possibilidades de trabalho, muitos árabes<br />
de países vizinhos foram para a Palestina. Em 15 de maio de 1948, um dia depois da<br />
fundação do Estado de Israel, sete exércitos de países da Liga Árabe atacaram Israel,<br />
e, durante a guerra que se seguiu (que durou quinze meses), a maioria da população<br />
árabe de lá fugiu para os países vizinhos (Líbano, Jordânia, Síria e Egito) em busca de<br />
segurança. Passado algum tempo, muitos dos refugiados foram expulsos desses países<br />
de acolhimento, dirigindo-se para o sul do Líbano, onde permanecem em campos de<br />
refugiados até hoje. Na Jordânia, o rei Hussein mandou matar cerca de metade dos<br />
palestinos de seu país, no episódio conhecido como Setembro Negro. Os sobreviventes<br />
foram expulsos para o Líbano.<br />
Em 1964, o Alto Comissariado da Palestina solicitou à Liga Árabe a fundação da Organização<br />
para a Libertação da Palestina (OLP). Em 1988, a OLP proclamou o estabelecimento<br />
de um Estado palestino. O principal líder da organização foi o egípcio Yasser Arafat, falecido<br />
em 2004. Arafat, após anos de luta contra Israel, iniciou as negociações que levaram aos<br />
acordos de paz de Oslo. Desde 1994, os territórios palestinos estão sob a administração da<br />
Autoridade Nacional Palestina, como resultado dos acordos. No entanto, estes não puderam<br />
ser implantados em sua totalidade, pois Arafat e seus dirigidos promoveram vários atentados<br />
terroristas ou foram coniventes com eles. Muitos atentados em ônibus, mercados, restaurantes<br />
deixaram centenas de mortos e feridos em Israel, entre eles árabes israelenses. A mídia<br />
palestina sempre desenvolveu grandes manifestações contra o direito de Israel de existir. E<br />
nas escolas árabes e palestinas o ódio a Israel e aos judeus é ensinado desde cedo. Infelizmente,<br />
Arafat, no ano 2000, não aceitou a proposta de paz intermediada pelo presidente<br />
dos Estados Unidos, Bill Clinton, e abandonou seu compromisso de repudiar o terrorismo,<br />
marcando o início de uma segunda revolta, com muitas vítimas, conhecida como Segunda<br />
Intifada.<br />
Os árabes que permaneceram em Israel, por outro lado, têm direitos civis, como cidadãos,<br />
podendo votar e ser votados, além de usufruir o avançado sistema de saúde do país.<br />
Hoje há dois partidos árabes no Parlamento israelense.<br />
A Irmandade Muçulmana<br />
Dentro do islamismo, uma das interpretações<br />
mais radicais das práticas religiosas<br />
foi concebida pela Irmandade Muçulmana.<br />
Fundada no Cairo, em 1928, por Hasan al-<br />
-Bana e seus colegas de estudo, defendia,<br />
inicialmente, reformas morais e espirituais.<br />
Suas principais formas de atuação concentravam-se<br />
na educação e na propaganda,<br />
especialmente durante sua primeira década<br />
de existência. Seu matiz ideológico principal<br />
constitui-se na união de credo e Estado<br />
O ISLÃ: 1.300 ANOS DE HISTÓRIA<br />
31<br />
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SOLUÇÃO PARA A PAZ<br />
(livro e espada), juntamente com o retorno à pureza do Islã, o sacrifício extremo pela<br />
causa, a unificação do mundo islâmico sob a autoridade exclusiva do Corão, a rejeição aos<br />
valores e ao colonialismo das potências ocidentais. Em oposição às ideias leigas, modernas<br />
e ocidentais, essa interpretação afirma que, a fim de formar um Estado islâmico puro, os<br />
valores da tradição e religião islâmicas devem desempenhar papel central na vida econômica,<br />
social e política.<br />
O principal objetivo da Irmandade Muçulmana era libertar a pátria islâmica do controle<br />
dos estrangeiros e infiéis, estabelecendo um Estado islâmico unificado (o califado) em todos<br />
os territórios que estiveram em alguma época sob o domínio árabe, como, por exemplo,<br />
a Espanha. A Irmandade foi um dos primeiros grupos a invocar a jihad contra todos os<br />
não seguidores do islamismo. Jihad é um conceito essencial da religião islâmica. Pode ser<br />
entendida como a luta, mediante vontade pessoal, para buscar e conquistar a fé perfeita.<br />
Há opiniões divergentes quanto às formas de ação que são consideradas jihad. O fenômeno<br />
do fundamentalismo islâmico, uma forma de oportunismo político de alguns grupos, se<br />
aproveitou da noção de jihad, desvirtuando o Islã para torná-lo um fator de ação política em<br />
proveito próprio. O lema da Irmandade Muçulmana era: “Alá é o nosso objetivo. A mensagem<br />
é o nosso líder. O Corão é a nossa lei. A Guerra Santa é o nosso caminho. Morrer no<br />
caminho de Alá é a nossa maior esperança”.<br />
Os movimentos islâmicos na Palestina<br />
Existem muitos grupos islâmicos na Palestina, entre eles o Fatah, o Hamas e a Jihad<br />
Islâmica. Alguns surgiram de metamorfoses internas da Irmandade Muçulmana, como o<br />
Hamas (sigla, em árabe, de Movimento de Resistência Islâmica), que é uma organização paramilitar<br />
e um partido político. O grupo surgiu em 1987 como uma resposta da Irmandade<br />
Muçulmana ao crescimento da Jihad Islâmica, cuja popularidade aumentara na Palestina por<br />
causa das condições de sofrimento dos habitantes da região e das denúncias de corrupção<br />
do Fatah. Um texto do documento de fundação do Hamas afirma: “O Dia do Juízo não vai<br />
acontecer até que os muçulmanos venham a lutar contra os judeus (matando os judeus)”.<br />
A Irmandade Muçulmana cresceu muito na Palestina durante a década de 1980. Em dezembro<br />
de 1987, a Intifada eclodiu na Faixa de Gaza e, posteriormente, na Cisjordânia. A<br />
Intifada foi uma revolta preparada pela Irmandade Muçulmana, que, na véspera do primeiro<br />
ataque, estabeleceu no Hamas uma organização adjunta.<br />
Os grupos políticos na Palestina<br />
A Autoridade Nacional Palestina é uma instituição que governa a Cisjordânia e a Faixa de<br />
Gaza. Esses dois territórios fizeram parte dos acordos de Oslo entre a OLP e Israel.<br />
Em 1964 surgiu o Fatah (sigla, em árabe, de Movimento de Libertação Nacional da Palestina),<br />
organização política e militar fundada por Yasser Arafat e Khalil al-Wazir (Abu Jihad),<br />
juntamente com a criação da OLP. Os membros desse grupo defendiam, no início, a luta armada<br />
para destruir Israel e jogar os judeus no mar. Posteriormente, reconheceram o direito<br />
de existência do Estado de Israel. Após muitas denúncias de corrupção, o Fatah foi derrotado<br />
pelo Hamas nas últimas eleições para o Parlamento palestino. Após a contagem final, em 28<br />
de janeiro de 2006, o Hamas conquistou 74 das 132 cadeiras do Parlamento.<br />
32<br />
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ENTENDENDO O ORIENTE MÉDIO<br />
3<br />
O Hamas se utiliza de atentados suicidas e de lançamento de mísseis, e é por isso considerado<br />
uma organização terrorista pelo Canadá, União Europeia, Israel, Japão e Estados<br />
Unidos, além de ter sido banido da Jordânia. Os Estados Unidos e a União Europeia têm<br />
implementado medidas restritivas contra o Hamas em nível internacional.<br />
Em seu documento de fundação, o Hamas estabeleceu como objetivo “trabalhar para<br />
impor a palavra de Alá sobre cada centímetro da Palestina” (artigo 6.º). Para ele, a Palestina<br />
deve incluir todo o território de Israel, Gaza e Cisjordânia. O Hamas não aceita o Estado<br />
de Israel e, no artigo 7.º do mesmo documento, recorda que o profeta Mohamed afirmou:<br />
“O julgamento final não virá até que os muçulmanos lutem contra os judeus e os matem”.<br />
Também nesse documento o Hamas diz não acreditar em acordos de paz, vendo a jihad como<br />
a única solução.<br />
O Hamas tem atacado duramente a população civil de Israel há muitos anos, lançando<br />
mísseis e foguetes da Faixa de Gaza (de onde Israel se retirou em busca da paz). Em dezembro<br />
de 2008, o governo israelense decidiu reagir, objetivando destruir a capacidade armamentista<br />
do Hamas, que infelizmente lança seus mísseis e instala seus quartéis-generais e<br />
seu armamento em meio aos civis palestinos, não poupando escolas, hospitais e casas de<br />
família, com o apoio de países como o Irã, que paga um valor determinado por foguete<br />
lançado contra Israel e fornece auxílio e armas aos militantes do Hamas. Durante a operação<br />
israelense foram destruídas dezenas de túneis que serviam para o contrabando de armas.<br />
Essa foi mais uma crise no permanente cenário de tensão, desacordo, influência e difícil<br />
acordo entre as partes diretamente envolvidas.<br />
Bibliografia sugerida<br />
BARD, Mitchell G. Mitos e Fatos – A verdade sobre o conflito árabe-israelense. São Paulo: Sêfer,<br />
2004. Disponível em: http://www.scribd.com/doc/4902428/MITOS-E-FATOS-Mitchell-G-Bard.<br />
Lia Bergmann Formada em História pela Universidade de São Paulo e jornalista com pós-graduação pela Faculdade<br />
Cásper Líbero, Lia Bergmann é assessora de comunicação e de direitos humanos da B’nai B’rith do Brasil.<br />
O ISLÃ: 1.300 ANOS DE HISTÓRIA<br />
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4<br />
O ANTISSEMITISMO A<br />
PARTIR DO SÉCULO XIX E O<br />
HOLOCAUSTO<br />
CAPÍTULO<br />
Adriana Dias<br />
O antissemitismo do século XIX<br />
Com o advento da Revolução Francesa e o desenvolvimento do nacionalismo<br />
moderno, que desencadeou a formação dos Estados nacionais, uma<br />
nova abordagem se espalhou pelo mundo: ao lado do racionalismo, o Ocidente<br />
desenvolveu ideias racistas, que dividiam as raças humanas em superiores e<br />
inferiores. Embora hoje saibamos que só existe uma raça, a humana, naquela<br />
época a produção de textos “científicos” a respeito das raças buscava nas línguas<br />
e culturas elementos classificatórios. No século XIX, o preconceito aos judeus<br />
mudou sua temática: passou a ser conduzido por uma ideologia motivada<br />
pelo discurso racial, o antissemitismo, e cresceu, fortemente, em toda a Rússia<br />
e Europa.<br />
A palavra “antissemitismo” foi empregada pela primeira vez pelo escritor alemão<br />
Wilhelm Marr, em 1873, para traduzir a ideia de “Judenhass”, que significa<br />
“ódio aos judeus”. O ódio aos judeus era muito forte em toda a Europa, como<br />
demonstra a literatura da época, que os descrevia de forma pejorativa ou rancorosa.<br />
Mas, depois do discurso antissemita, a situação ficou cada vez mais grave.<br />
A extrema esquerda via nos judeus uma ameaça a sua liga internacional, porque<br />
eles estavam presentes em diversas nações, muitos deles ocupando postos-chave<br />
de Estado. Por outro lado, a extrema direita via nos judeus uma ameaça ao Estado<br />
nacional, que deveria se constituir apenas de pessoas da mesma raça. Não havia<br />
lugar para a convivência pacífica. Na Áustria, por exemplo, leis posteriores a<br />
1882 negavam aos judeus direitos de cidadania, concedidos apenas aos cristãos.<br />
Aconteceram, em muitas localidades, diversos pogroms, perseguições sangrentas<br />
cujo objetivo era o massacre em massa. Em abril de 1903, em outro exemplo,<br />
turbas enfurecidas na Rússia, incentivadas pelas autoridades locais, assassinaram<br />
brutalmente 45 judeus e feriram setecentos, destruindo centenas de casas e lojas.<br />
Por conta desse quadro grave, expandiu-se a imigração de judeus da Europa para<br />
a Terra de Israel (então Palestina).<br />
Para compreender o antissemitismo, é preciso entender, como informou Sartre,<br />
grande filósofo do século XX, que o antissemitismo e o racismo não são<br />
atividades racionais; portanto, não são opiniões. O antissemita e o racista condicionam<br />
seu objeto de ódio a um estado de desconhecimento: eles não querem<br />
sequer conhecer o outro, para permanecer no ódio que sentem por ele. Disso se<br />
conclui que o antissemitismo e o racismo se desenvolvem apenas na mente de<br />
quem os defende; o judeu e os grupos que sofreram ou sofrem racismo, como<br />
os negros, jamais podem ser responsabilizados pelo ódio alheio. O antissemita e<br />
o racista negam ao objeto de seu ódio a condição humana e, por isso, são profundamente<br />
destrutivos.<br />
34<br />
PAZ - Book AF.indb 34 01.06.09 15:01:54
Como o discurso e a prática antissemitas cresceram tanto? A Alemanha estava destruída<br />
pela Primeira Guerra Mundial e com muitos problemas sociais e econômicos. Aproveitando<br />
esse cenário, e para atingir seu objetivo, os nazifascistas, com intensa propaganda, em<br />
programas de rádio e em filmes para cinema, usaram algumas estratégias. A primeira delas<br />
era culpar suas vítimas de maneira quase compulsória pelas coisas que eles mesmos faziam<br />
ou esperavam fazer; os judeus estariam, mentiam os nazistas, destruindo a raça ariana e a<br />
economia da nação.<br />
Em segundo lugar, construíram a suspeita de que os judeus teriam manipulado os poderes<br />
internacionais, por meio de partidos políticos e comunicações, recorrendo à ideia de que<br />
realmente haveria muita coisa que a população não sabia, atiçando o rancor e a revolta das<br />
massas, tornando-as potenciais delatoras dos judeus. As pessoas foram habilmente levadas a<br />
crer que a iniciativa estava com elas e que, para salvar a Alemanha, era preciso denunciar os<br />
judeus. O emocionalismo consciente e enfático também fez parte dessa terrível arquitetura:<br />
era o terceiro elemento do discurso. Movida por paixões estimuladas pela propaganda, a população<br />
se rendia à falta de racionalidade do antissemitismo. Os gestos histéricos de Hitler<br />
serviam de modelo para as condutas com as quais ele pretendia contagiar o povo, movidas<br />
por ódio, vingança, rancor. Em quarto lugar, o antissemitismo vivia de reafirmar a própria<br />
inocência; o povo alemão estaria sujeito à constante perseguição, às ameaças e conspirações<br />
de seus inimigos, afirmavam as propagandas fascista e nazista. Esse elemento era associado a<br />
uma exaltação ao cinismo e ao sadismo, o que o tornava ainda mais cruel. Outros elementos<br />
no nazismo também ajudaram a compor a catástrofe: os arianos eram descritos como<br />
infatigáveis (deveriam repousar apenas depois da vitória sobre o inimigo, o judeu) e mensageiros<br />
da natureza, dos deuses (a mitologia nórdica foi bastante enfatizada), substituindo-se<br />
muitas vezes símbolos cristãos por pagãos; os líderes defendiam uma Alemanha grande, o<br />
que mexia com desejos de poder, reprimidos, da população; e, finalmente, mas não menos<br />
importante, cinicamente, tudo isso era emoldurado pelo fato de que estariam promovendo<br />
o bem humano, o bem dos alemães.<br />
O caso Dreyfus<br />
O antissemitismo continuou crescendo por toda a Europa, de maneira vigorosa. Um<br />
dos mais fortes exemplos desse crescimento pode ser observado em um caso considerado<br />
por muitos o mais severo erro judiciário dos tempos modernos: o caso Dreyfus. O drama<br />
do capitão Alfredo Dreyfus, judeu, oficial do Estado-Maior francês, se iniciou, no final de<br />
1894, com a acusação de que ele estaria fornecendo documentos militares aos alemães. O<br />
veredicto, condenatório, determinou a pena de deportação perpétua para a Ilha do Diabo.<br />
O mais grave no caso – o processo fraudulento conduzido a portas fechadas, que culmi-<br />
O ANTISSEMITISMO A PARTIR DO SÉCULO XIX E O HOLOCAUSTO<br />
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PAZ - Book AF.indb 35 01.06.09 15:01:54
SOLUÇÃO PARA A PAZ<br />
nou na condenação unânime de Dreyfus e em sua difamação pública – foi o fato de que,<br />
mesmo quando se provou a inocência do acusado e que toda a condenação se baseava em<br />
documentos falsificados, os coordenadores do processo, oficiais de alta patente franceses,<br />
ainda decidiram, por todas as formas, ocultar o terrível e absurdo erro judicial. A definitiva<br />
revisão do processo de Dreyfus aconteceu em 1906, quando se revelou, finalmente, que<br />
Charles-Ferdinand Walsin Esterhazy, também oficial do Exército francês, escrevera as cartas<br />
erroneamente atribuídas a Dreyfus e era, portanto, espião dos alemães. Contudo, embora<br />
reconduzido à vida militar, os anos de prisão de Dreyfus não lhe foram restituídos como<br />
tempo de carreira, o que o obrigou a uma dolorosa demissão em 1907.<br />
A formação do sionismo moderno<br />
Em 1897, aconteceu o Primeiro Congresso Sionista, promovido por Theodor Herzl na<br />
Basileia, Suíça, que defendia a construção de uma pátria judaica. A proposta era restaurar o<br />
lar nacional judaico na Terra de Israel, a Palestina, de modo que os judeus de todo o mundo<br />
pudessem nele encontrar refúgio. A isso se associaria a autodeterminação do povo judeu<br />
para promover o renascimento nacional de sua civilização e cultura.<br />
Em 1917, a Grã-Bretanha aprovou a Declaração Balfour, proclamando-se a favor do estabelecimento,<br />
na Palestina, de um lar nacional para o povo judeu e comunicando que se<br />
empenharia em favor desse objetivo.<br />
O Holocausto<br />
No entanto, com a ascensão do Partido<br />
Nazista na Alemanha, o antissemitismo se<br />
tornou uma função do Estado. As bases para<br />
o Holocausto haviam sido lançadas.<br />
Apesar do aumento da imigração de judeus<br />
para a Palestina, as maiores comunidades<br />
judaicas estavam na Europa, algumas<br />
desde a época do Império Romano. Com o<br />
advento do nacional-socialismo, a Alemanha<br />
se tornou um regime nazista. Durante a Segunda<br />
Guerra Mundial, o antissemitismo do<br />
regime hitlerista levou mais de 6 milhões de<br />
judeus (dois terços da população judaica da<br />
Milhões de judeus foram aprisionados nos<br />
campos de concentração nazistas.<br />
Europa) à morte, em campos de concentração e extermínio, fato que ficou conhecido historicamente<br />
como Holocausto. A forte e perversa propaganda nazista induziu a população alemã<br />
ao ódio pelos judeus, de modo a convencer as pessoas a denunciá-los, objetivando sua<br />
eliminação. Em 1933, na Alemanha, promulgou-se a lei que retirava dos judeus qualquer<br />
proteção do Estado. Como consequência, não era necessário nenhum motivo para prendêlos<br />
e enviá-los aos campos de concentração.<br />
36<br />
PAZ - Book AF.indb 36 01.06.09 15:01:54
ENTENDENDO O ORIENTE MÉDIO<br />
4<br />
“Holocausto” é uma palavra de origem grega que significa “sacrifício pelo fogo”. Para os<br />
estudiosos do tema, ela descreve a perseguição e o extermínio sistemáticos dos judeus, promovidos<br />
pelo governo nazista. Este defendia a ideia da “superioridade racial” dos arianos e também<br />
que os judeus ameaçavam essa superioridade, por serem uma “raça inferior”. Os judeus<br />
foram descritos pela propaganda e pela ideologia nazistas como elementos que deveriam ser<br />
destruídos para preservar o povo ariano.<br />
Outros grupos foram exterminados pelo governo hitlerista, quer por seu comportamento<br />
político ou ideológico, quer por seu comportamento social ou religioso, tais como os comunistas,<br />
os socialistas, as testemunhas de Jeová, os homossexuais e os ciganos.<br />
Para aprisionar suas vítimas, a Alemanha nazista estabeleceu, entre 1933 e 1945, cerca<br />
de 20 mil campos, nos quais foram detidos mais de 20 milhões de vítimas. Havia campos de<br />
trabalho forçado, de transição, que serviam como estações de passagem, e de extermínio,<br />
usados, principal ou exclusivamente, para assassinatos em massa. Outra forma de eliminação<br />
de vítimas eram as marchas: levavam-se prisioneiros, sob intenso frio e neve, a caminhadas<br />
desumanas infindáveis, que atravessavam países, com o objetivo de torturá-los e assassiná-los.<br />
A destruição em massa de judeus foi realizada pelos nazistas, sobretudo, em enormes campos<br />
de extermínio na Polônia, o país com a maior população judaica, compondo uma verdadeira<br />
indústria de morte. Chelmno, o primeiro campo de extermínio, começou a operar em<br />
dezembro de 1941; nele, judeus e ciganos eram assassinados por envenenamento em furgões<br />
com canos de escapamento que soltavam gás para dentro dos veículos nos quais eles eram<br />
amontoados. Em 1942, os nazistas edificaram os campos de extermínio de Belzec, Sobibor e<br />
Treblinka para matar ainda mais sistematicamente os judeus e suas outras vítimas.<br />
Durante o Holocausto, os prisioneiros eram identificados com triângulos costurados nas<br />
roupas. As cores definiam a espécie de “acusação” a eles imposta pelo nazismo:<br />
• amarelo: judeus – dois triângulos sobrepostos, para formar<br />
a estrela de davi, com a palavra “Jude” (judeu) inscrita;<br />
• vermelho: dissidentes políticos, incluindo comunistas;<br />
• verde: criminosos comuns;<br />
• púrpura: testemunhas de Jeová;<br />
• azul: imigrantes;<br />
• castanho: ciganos roma e sinti;<br />
• negro: lésbicas e antissociais (alcoólatras e indolentes);<br />
• rosa: homossexuais.<br />
Posteriormente, nos campos de extermínio surgiram as câmaras de gás, cujo objetivo era<br />
tornar o processo de assassinato em massa mais eficiente, rápido e menos pessoal para os<br />
executores. Nelas, imensos espaços fechados que recebiam gás letal, pessoas eram amontoadas<br />
para morrer por asfixia. Somente no campo de Birkenau existiam quatro câmaras de gás,<br />
dentro do complexo de Auschwitz. Para descrever essa perseguição violentíssima, cunhou-<br />
-se, depois da Segunda Guerra Mundial, o termo “genocídio”. A Itália, sob o fascismo, também<br />
promulgou leis raciais, a partir de 1938, perseguindo e matando judeus.<br />
O ANTISSEMITISMO A PARTIR DO SÉCULO XIX E O HOLOCAUSTO<br />
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SOLUÇÃO PARA A PAZ<br />
Raul Hilberg, um dos mais importantes historiadores do Holocausto, identificou nele<br />
quatro etapas:<br />
1. Identificação/definição – Produziam-se<br />
listas de judeus, e estes eram identificados<br />
e discriminados; vários direitos<br />
civis lhes eram negados.<br />
2. Discriminação econômica e separação<br />
– Instalavam-se os judeus identificados<br />
em guetos em precárias condições e<br />
sem acesso à Justiça.<br />
3. Concentração – Milhares de acusados<br />
eram levados aos campos.<br />
4. Extermínio<br />
Os guetos eram locais imundos onde os judeus ficavam confinados e morriam de inanição<br />
e doenças; os que sobreviviam eram amontoados em vagões de carga que os transportavam<br />
até os campos de concentração e extermínio. Lá chegando, eram despojados de<br />
tudo: roupas, cabelos, que eram raspados, nomes, porque passavam a ser identificados por<br />
números, em geral marcados com ferro quente na pele; tudo para que perdessem a identidade<br />
individual e coletiva. Todos os direitos civis e políticos lhes eram negados. Esquecer<br />
seu número de identificação, por exemplo, podia ser motivo de fuzilamento, contam sobreviventes<br />
do Holocausto. Primo Levi, um deles, indaga, em seu livro É Isto um Homem?, como<br />
seres humanos puderam fazer isso com outros seres humanos.<br />
Após a derrota de Hitler, quando todos souberam dos horrores a que fora submetido o<br />
povo judeu, ganhou força, no mundo inteiro, a ideia de que os judeus tinham direito legítimo<br />
a um território no qual pudessem reconstruir seu Estado. Finalmente, em 1948, a ONU<br />
definiu que esse Estado seria na Palestina.<br />
Em memória das vítimas do Holocausto, foi inaugurada, em 2005, no Museu do Holocausto,<br />
em Jerusalém, a Galeria dos Nomes. Nela encontram-se milhares de registros<br />
das histórias das pessoas que viveram na época. Há relatos provenientes de cadernos, fotos<br />
de família e também muitos itens pessoais de judeus de quando estavam em campos de<br />
concentração.<br />
O crime de genocídio<br />
O conceito de “crime de genocídio”, expressão cunhada em 1943 pelo polonês Raphael<br />
Lemkin, foi adotado pela Convenção da ONU aprovada, em Paris, em 9 de dezembro de<br />
1948, entrando em vigor em 12 de janeiro de 1951, após a ratificação por 22 países. O<br />
Brasil o fez em 15 de abril do ano seguinte, promulgando-o com o Decreto 30.822, de 6<br />
de maio de 1952.<br />
38<br />
PAZ - Book AF.indb 38 01.06.09 15:01:55
ENTENDENDO O ORIENTE MÉDIO<br />
4<br />
A palavra “genocídio” designa, em Direito Internacional, o maior crime contra os direitos<br />
humanos, “um crime que ataca um direito fundamental de qualquer ser humano: o direito<br />
de ser diferente. Professar uma religião diferente, pertencer a uma outra raça, etnia ou grupo<br />
nacional, defender ideias políticas contrárias ou ter uma cultura diversa são os motivos que<br />
levam um grupo a querer exterminar outro”, segundo a Convenção da ONU. A prática do<br />
crime de genocídio percorreu, infelizmente, toda a história da humanidade, numa alusão<br />
direta a quanto é particularmente difícil à espécie humana desenvolver a tolerância.<br />
São tidos como genocídios os crimes provocados pelos seguintes motivos, previstos no<br />
Direito Internacional:<br />
• nacionais;<br />
• étnicos;<br />
• raciais;<br />
• religiosos.<br />
A mesma convenção determinou a investigação dos crimes de genocídio caso sejam<br />
cometidos com a intenção de destruir totalmente ou em parte um grupo nacional, étnico,<br />
racial ou religioso, utilizando-se dos seguintes meios:<br />
• o assassinato;<br />
• os atentados graves à integridade física e mental;<br />
• a submissão intencional de membros do grupo a condições de existência que levam a sua<br />
destruição física total ou parcial;<br />
• as medidas visando a impedir os nascimentos dentro do grupo;<br />
• a transferência forçada de crianças de um grupo para o outro.<br />
Ruanda e Bósnia, entre outros países, já tiveram julgamentos internacionais e mais de<br />
vinte condenações por genocídio. Quem julga os crimes de genocídio é o Tribunal Penal<br />
Internacional, e da denúncia de genocídio devem constar: a acusação criminal, as razões<br />
históricas para essa denúncia, as provas do crime cometido, o nome dos responsáveis e acusados<br />
e a jurisdição do Tribunal Penal Internacional envolvida no caso.<br />
Muitos extermínios aconteceram na trajetória da humanidade. Recordemos alguns exemplos<br />
dessa infeliz história:<br />
• morte, no Brasil, de cerca de 5 milhões de índios pela colonização portuguesa e de 10<br />
milhões pela colonização espanhola e inglesa;<br />
• extermínio de mais de 200 mil aborígines na Austrália, depois de sua colonização;<br />
• morte de 200 mil hutus, bantos do Burundi, em 1972, e de mais 600 mil em oito anos<br />
pelos tútsis;<br />
• chacina, em Ruanda, de cerca de 1 milhão de tútsis, hutus moderados e minoria twa,<br />
constituída por pigmeus, pelos radicais hutus que dominavam as Forças Armadas, em<br />
1994;<br />
• entre 1975 e 1979, extermínio, pelo Khmer Vermelho, exército liderado por Pol Pot, de<br />
2 milhões de habitantes no Camboja (25% da população);<br />
• morte de 1,5 milhão de armênios na Primeira Guerra Mundial;<br />
• assassinato de 300 mil membros de minorias no Kosovo, entre 1991 e 1999.<br />
O ANTISSEMITISMO A PARTIR DO SÉCULO XIX E O HOLOCAUSTO<br />
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SOLUÇÃO PARA A PAZ<br />
Um dos piores crimes contra os direitos humanos nos dias atuais acontece na região<br />
de Darfur, no oeste do Sudão. O conflito surgiu da oposição entre os janjawid, milicianos<br />
recrutados entre os baggara, tribos nômades africanas de língua árabe e religião muçulmana,<br />
e os povos não árabes da área. O governo sudanês, apesar de negar publicamente seu<br />
apoio ao movimento janjawid, é o maior fornecedor de armas e assistência para esse grupo e<br />
compartilha seus ataques. O conflito causou a morte de milhões de pessoas e deixou outras<br />
desabrigadas.<br />
A mídia descreve o conflito como um caso de “limpeza étnica” e de “genocídio”, embora<br />
o Conselho das Nações Unidas ainda não o tenha considerado genocídio. Um dos motivos<br />
para essa demora é o fato de a China ser grande parceira comercial do governo sudanês e<br />
defender o país em todos os fóruns internacionais que tratam do tema. Várias indicações de<br />
intervenção militar internacional propostas pela ONU foram rejeitadas por veto chinês.<br />
Em julho de 2008, a Corte Criminal Internacional (CCI), por meio do procurador do Tribunal<br />
Penal Internacional, o argentino Luis Moreno Ocampo, solicitou aos juízes que emitissem<br />
um mandado de prisão contra o chefe de Estado do Sudão pelos crimes cometidos na<br />
região de Darfur. Omar al-Bashir, o acusado, rejeitou todas as acusações. O promotor da CCI<br />
desenvolve investigações no momento em quatro países africanos: República Democrática<br />
do Congo, Uganda, Sudão e República Centro-Africana. Até agora requereu doze ordens de<br />
prisão e prossegue buscando sete suspeitos foragidos.<br />
Luis Moreno Ocampo declarou, por ocasião de sua eleição como primeiro procurador<br />
do Tribunal Penal Internacional pela Assembleia da ONU, em Nova York, em 22 de abril de<br />
2003: “Eu espero profundamente que os horrores que a humanidade sofreu durante o século<br />
XX sirvam-nos como uma dolorosa lição, e que a criação do Tribunal Penal Internacional<br />
nos auxilie a prevenir que essas atrocidades sejam repetidas no futuro”.<br />
Para que seu desejo, e também de todos que trabalham pela paz, se torne realidade, é<br />
preciso vencer as raízes da intolerância e do preconceito.<br />
40<br />
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ENTENDENDO O ORIENTE MÉDIO<br />
4<br />
Árabes e islâmicos em geral mortos após<br />
a Segunda Guerra Mundial<br />
Conflito<br />
N.º de mortos<br />
Afeganistão versus Rússia 1.200.000<br />
Chechênia versus Rússia 200.000<br />
Afeganistão – guerra civil 1.000.000<br />
Argélia – independência 750.000<br />
Argélia – pós-independência 100.000<br />
Bangladesh 1.600.000<br />
Bósnia 150.000<br />
Indonésia 400.000<br />
Irã 800.000<br />
Iraque 1.700.000<br />
Líbano 130.000<br />
Somália – guerra civil 400.000<br />
Sudão – Darfur 2.600.000<br />
Timor Leste 150.000<br />
Iêmen 125.000<br />
Total 11.305.000<br />
Fonte: Maariv; números geralmente aceitos pelas partes envolvidas.<br />
Árabes e outras etnias muçulmanas matando-se entre si totalizam 8,5 milhões de mortos em<br />
disputas de cunho político, territorial (petróleo), religioso (seitas islâmicas, tais como xiitas versus<br />
sunitas) e racial (contra negros muçulmanos).<br />
O antissemitismo contemporâneo<br />
Nos anos 1980, o antissemitismo, especialmente nos Estados Unidos, na Europa e na<br />
Rússia, voltou a crescer. Muitos movimentos que evocam a possibilidade de reconstruir o<br />
ideal ariano se revestem de uma força renovadora: avaliações estimam em cerca de 450 mil<br />
o número de pessoas que leem literatura produzida pelos movimentos racista, revisionista<br />
e neonazista, apenas nos Estados Unidos. Desse montante, em torno de 25 mil, em 1995,<br />
eram considerados “membros militantes radicais”, observados por órgãos governamentais<br />
por práticas de ódio racial. Os crimes que envolvem ódio racial, apenas nos Estados Unidos,<br />
crescem cerca de 8 mil casos por ano.<br />
Na Espanha, especialistas da Guarda Civil estimam em pelo menos 10 mil os jovens cadastrados<br />
em grupos ultradireitistas e neonazistas; apenas a organização Sangre y Honor,<br />
uma das mais radicais, afirma possuir mais de 50 mil simpatizantes. Bandas neonazistas<br />
ilegais, como Hammerskin, Blood and Honour e Volksfront (também denominada Frente<br />
Popular), atraem multidões de jovens em seus shows, nos quais postulam a supremacia da<br />
raça branca, a veneração a Adolf Hitler e o ódio explícito aos judeus, negros, imigrantes e<br />
homossexuais. O neonazismo cresce, de maneira preocupante, segundo a ONU, no Leste<br />
Europeu, na Rússia, no Japão e na África do Sul.<br />
O ANTISSEMITISMO A PARTIR DO SÉCULO XIX E O HOLOCAUSTO<br />
41<br />
PAZ - Book AF.indb 41 01.06.09 15:01:55
SOLUÇÃO PARA A PAZ<br />
No Brasil, crimes de ódio racial ainda são precariamente resumidos em dados específicos,<br />
muitas vezes assinalados apenas como lesão corporal, injúria ou até homicídio e não<br />
enfatizados como crimes de racismo, embora a Constituição brasileira de 1988 o defina<br />
como imprescritível e inafiançável. Ainda assim, as estatísticas dos movimentos antirracistas<br />
apontam para o fato de que pelo menos 150 mil pessoas sejam simpatizantes do movimento<br />
racista, cerca de um terço delas apenas no Estado de Santa Catarina. Há grupos neonazistas<br />
organizados em São Paulo, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Paraná, Brasília e Belo Horizonte.<br />
No país, há centenas de casos de agressões a negros e judeus, principalmente relacionadas<br />
com esses grupos. Investigações contra eles são realizadas pelo Ministério Público<br />
Federal e por Delegacias de Intolerância Racial. Em 2008, foram presos seis integrantes do<br />
grupo Carecas do ABC, e seguem investigações a respeito do Front 88, do White Power São<br />
Paulo e dos Sulistas SS.<br />
Aproveitando o surgimento e a expansão de novas formas de comunicação, especialmente<br />
as que nascem da internet, como sites, blogs, listas de discussão, canais de IRC e fóruns,<br />
o neonazismo tem crescido de maneira intensa, infelizmente. Nos grupos, duas características<br />
se destacam: o “negacionismo” (chamado por seus defensores de “revisionismo”),<br />
que identifica o discurso direcionado para invalidar a veracidade histórica do Holocausto,<br />
a perseguição e morte dos judeus, o número de mortos, enfim, que pretende uma revisão<br />
da história, a partir dos agentes nazistas; e o cultivo de símbolos nazistas, com especial ênfase<br />
a seus aspectos do paganismo nórdico. Há mais de 15 mil sites neonazistas em língua<br />
espanhola, inglesa e portuguesa. Os subversivos grupos neonazistas preferem a internet por<br />
dois motivos principais: o formato da rede garante anonimato e a extensão permite alcançar<br />
milhares de pessoas ao mesmo tempo, num período muito menor do que o necessário por<br />
outro veículo, o que amplia essa forma de sociabilização. A tentativa desses grupos, em sua<br />
propaganda de ódio, é retomar símbolos, mitos e propostas jurídicas, religiosas e políticas<br />
do nacional-socialismo, valendo-se do negacionismo para tentar se livrar do retrato de destruição<br />
que a presença deste deixou na história. Desse modo, pretendem eles, segundo afirmam,<br />
“proteger a raça ariana”, que estaria correndo perigo iminente, da “contaminação”<br />
por religiões “naturais” (como o judaísmo e o cristianismo), por casamentos inter-raciais,<br />
por adoção de crianças negras em famílias brancas, pela divulgação de heróis e esportistas<br />
negros e homossexuais. Seu objetivo é divulgar um ódio enorme contra todas as minorias.<br />
Paralelamente, surgem também grupos islâmicos radicais que negam o Holocausto. Fazem<br />
isso por motivação política, para tentar negar aos judeus o direito a seu Estado. Um<br />
dos piores exemplos é o presidente do Irã, o ultraconservador Mahmoud Ahmadinejad, que<br />
afirma, repetidas vezes, que o Holocausto é um mito. Isso causa enorme sofrimento a todos<br />
os que perderam milhões de parentes na tragédia que o Holocausto, de fato, foi. E choca<br />
toda a humanidade que tal defesa seja feita em nome do ódio. Em momentos de conflitos no<br />
<strong>Oriente</strong> Médio, infelizmente, multiplicam-se ataques a cemitérios judaicos e sinagogas por<br />
todo o mundo. Exemplos dessa triste prática são os ataques a sinagogas francesas e, aqui na<br />
América do Sul, na Venezuela, a invasão à principal sinagoga de Caracas por quinze pessoas<br />
armadas, que picharam em suas paredes mensagens de ódio e juramentos de morte, em janeiro<br />
de 2009, e, no Brasil, ataques a sinagogas e pichações em Campinas (SP), Santo André<br />
(SP) e Santa Maria (RS), entre outros. É preciso defender a humanidade desses radicais.<br />
42<br />
PAZ - Book AF.indb 42 01.06.09 15:01:55
ENTENDENDO O ORIENTE MÉDIO<br />
4<br />
Bibliografia sugerida<br />
1. História dos judeus europeus<br />
1.1. Os judeus e a modernidade europeia: a visão sociológica de Victor Karady<br />
ADORNO, Theodor Wiesengrund; HORKHEIMER, Max. Dialética do Esclarecimento – Fragmentos<br />
filosóficos. Rio de Janeiro: Zahar, 1985.<br />
______. “Freudian theory and the pattern of fascist propaganda”. In: ARATO, Andrew; GEB-<br />
HARDT, Eike (Ed.). The Essential Frankfurt School Reader. New York: Continuum, 1951, p. 118-<br />
37.<br />
______. The Authoritarian Personality. New York: Harper & Brothers, 1950.<br />
1.2. Os judeus e a formação do Estado-Nação: Hannah Arendt<br />
ARENDT, Hannah. “Antissemitismo”. In: As Origens do Totalitarismo. São Paulo: Cia. das Letras,<br />
1990.<br />
BORGES, Hans. Uma História do Povo Judeu. São Paulo: Sêfer, 1999.<br />
KARADY, Victor. Los Judíos en la Modernidad Europea – Experiencia de la violencia y utopía.<br />
Madrid: Siglo XXI, 2000.<br />
2. Holocausto<br />
ARENDT, Hannah. Eichmenn em Jerusalém – Um relato sobre a banalidade do mal. São Paulo:<br />
Cia. das Letras, 2000.<br />
BAUMAN, Zymunt. “Singularidade e normalidade do Holocausto”; “Pedindo a colaboração das<br />
vítimas”. In: Modernidade e Holocausto. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998.<br />
3. A questão judaica<br />
ARENDT, Hannah: “Só permanece a língua materna”. In: A Dignidade na Política. Rio de Janeiro:<br />
Relume Dumará, 1993.<br />
CANETTI, Elias. A Língua Absolvida. São Paulo: Cia. das Letras, 1992.<br />
ELIAS, Norbert. “Entrevista biográfica com Norbert Elias” (por A. J. Heerma van Voss e A. van<br />
Stolk); “Notas sobre os judeus como participantes de uma relação estabelecidos-outsiders”. In:<br />
Norbert Elias por Ele Mesmo. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001.<br />
HOBSBAWM, Eric. Tempos Interessantes. São Paulo: Cia. das Letras, 2002.<br />
KLEMPERER, Victor. Os Diários de Victor Klemperer – Testemunho clandestino de um judeu na<br />
Alemanha nazista. São Paulo: Cia. das Letras, 2000.<br />
SCHOLEM, Gershom. De Berlim a Jerusalém. São Paulo: Perspectiva, 1991.<br />
4. Interpretando o antissemitismo<br />
ADORNO, Theodor Wiesengrund; HORKHEIMER, Max. “Elementos do antissemitismo”. In: Dialética<br />
do Esclarecimento. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1985.<br />
ARENDT, Hannah: “Antissemitismo”. In: As Origens do Totalitarismo. São Paulo: Cia. das Letras,<br />
1990.<br />
CONTE, Édouard; ESSNER, Cornelia. A Demanda da Raça – Uma antropologia do nazismo. Lisboa:<br />
Instituto Piaget, 1998.<br />
DIAS, Adriana. “Ciberracismo, entre o ódio e a militância”. In: Tercera edición del Congreso<br />
Online del Observatorio para la CiberSociedad bajo el Título Conocimiento Abierto, Sociedad<br />
Libre. Anais… Barcelona, 2003.<br />
______. Links de Ódio – Uma etnografia do racismo na internet. Monografia (Conclusão de Curso<br />
em Ciências Sociais), Universidade de Campinas, 2005.<br />
O ANTISSEMITISMO A PARTIR DO SÉCULO XIX E O HOLOCAUSTO<br />
43<br />
PAZ - Book AF.indb 43 01.06.09 15:01:55
SOLUÇÃO PARA A PAZ<br />
_____. Os Anacronautas do Teutonismo Virtual – Uma etnografia do neonazismo na internet.<br />
Dissertação (Mestrado), Universidade de Campinas, 2007.<br />
KLEMPERER, Victor. LTI. La Lengua del Tercer Reich – Apuntes de un filólogo. Barcelona: Minúscula,<br />
2001.<br />
POLIAKOV, Léon. A Europa Suicida: 1870-1933 – História do antissemitismo IV. São Paulo: Perspectiva,<br />
1985.<br />
_____. O Mito Ariano. São Paulo: Perspectiva, 1974.<br />
SARTRE, Jean-Paul. A Questão Judaica. São Paulo: Ática, 1995.<br />
5. Biografias<br />
LEVI, Primo. É Isto um Homem?. Rio de Janeiro: Rocco, 2000.<br />
_____. Os Afogados e os Sobreviventes. São Paulo: Paz e Terra, 1990.<br />
SEMPRUM, Jorge. A Escrita ou a Vida. São Paulo: Cia. das Letras, 1995.<br />
6. O conflito atual<br />
BARD, Mitchell G. Mitos e Fatos – A verdade sobre o conflito árabe-israelense. São Paulo: Sêfer,<br />
2004. Disponível em: http://www.scribd.com/doc/4902428/MITOS-E-FATOS-Mitchell-G-Bard.<br />
Filmes<br />
O Pianista. Direção: Roman Polanski. Inglaterra/Polônia, 2002. 148 min.<br />
Sunshine – O despertar de um século. Direção: István Szabó. Alemanha/Áustria/Canadá/Hungria,<br />
1999. 180 min.<br />
Sites<br />
Em português:<br />
http://ensinandodesiao.org.br/anussim/index.php?option=com_content&task=view&id=33&Ite<br />
mid=27<br />
http://etnografianovirtual.blogspot.com<br />
http://netjudaica.blogspot.com<br />
http://www.bnai-brith.com.br<br />
http://www.jornalalef.com.br<br />
http://www.pletz.com<br />
http://www.ushmm.org/museum/exhibit/focus/portuguese (Museu do Holocausto)<br />
http://www.visaojudaica.com.br<br />
Em inglês:<br />
http://www.adl.org<br />
http://www.bnaibrith.org<br />
http://www.icc-cpi.int/library/about/officialjournal/Rome_Statute_English.pdf<br />
Adriana Dias Doutoranda em Antropologia Social pela Universidade de Campinas, membro da Associação Brasileira<br />
de Antropologia e da Latin American Jewish Studies Association.<br />
44<br />
PAZ - Book AF.indb 44 01.06.09 15:01:55
5<br />
A INDEPENDÊNCIA DO ESTADO<br />
DE ISRAEL CONTEMPORÂNEO E<br />
SUA REALIDADE HOJE<br />
CAPÍTULO<br />
A formação do atual Estado de Israel<br />
O retorno à condição de uma nação<br />
independente aconteceu quando<br />
o Estado de Israel foi proclamado<br />
em 14 de maio de 1948, de acordo<br />
com o Plano de Partilha da ONU de<br />
1947. Assim que nasceu o Estado<br />
de Israel contemporâneo, as forças<br />
militares de diversos países da região<br />
(Egito, Jordânia, Síria, Líbano<br />
e Iraque) invadiram o território israelense.<br />
Para garantir a sobrevivência<br />
e soberania recém-readquiridas,<br />
Israel reagiu ao ataque, no episódio<br />
que ficou conhecido como Guerra<br />
da Independência de Israel.<br />
Essa guerra durou quinze meses, e<br />
em suas batalhas morreram cerca de<br />
6 mil israelenses (aproximadamente<br />
1% da população judaica no país na<br />
época). Após diversas negociações,<br />
conduzidas pela ONU, os invasores<br />
(exceto o Iraque, que não negocia<br />
com Israel até os dias atuais) estabeleceram<br />
um acordo a respeito das<br />
terras da região: a planície costeira, a<br />
Lia Bergmann, Gisele Valdstein e Claudio Silberberg<br />
Península do Sinai, regiões da Judeia e Samaria.<br />
Galileia e todo o Negev ficariam sob soberania israelense; a Judeia e a Samaria (a<br />
margem ocidental), sob domínio da Jordânia; a Faixa de Gaza, sob administração<br />
egípcia; a cidade de Jerusalém ficou dividida, cabendo à Jordânia o controle da<br />
parte oriental, incluindo a Cidade Velha, e a Israel o setor ocidental.<br />
Entre 1948 e 1952, aconteceu a imigração em massa dos judeus da Europa e<br />
dos países árabes para Israel e, ao celebrar seu décimo aniversário, a população<br />
do país ultrapassava os 2 milhões de habitantes.<br />
Em outubro de 1956, concretizou-se uma aliança militar tripartite entre o<br />
Egito, a Síria e a Jordânia, o que fez com que, novamente, se evidenciasse a ameaça<br />
à existência de Israel. O líder egípcio Gamal Abdel Nasser desejava a total<br />
nacionalização do Canal de Suez, que era estratégico, como única passagem para<br />
o Mar Vermelho e possibilidade de irrigação do Deserto do Negev. No curso de<br />
uma campanha militar de oito dias (Campanha do Sinai), envolvendo ingleses e<br />
45<br />
PAZ - Book AF.indb 45 01.06.09 15:01:55
SOLUÇÃO PARA A PAZ<br />
franceses, os israelenses ocuparam a Faixa de Gaza e toda a Península do Sinai, detendo-se<br />
a 16 km a leste do Canal de Suez. Novos acordos foram realizados, para que a região fosse<br />
devolvida gradativamente.<br />
Em 1967, o Egito violou acordos alcançados após a Campanha do Sinai de 1956, solicitando<br />
à ONU que retirasse as tropas internacionais e deslocando todo o poderio de seu exército para<br />
as fronteiras com Israel, restaurando o bloqueio do Estreito de Tirã. Israel utilizou seu direito<br />
inerente de autodefesa e realizou um ataque preventivo contra o Egito, no sul (5 de junho de<br />
1967), seguido por um contra-ataque à Jordânia, no leste, e pela expulsão das forças sírias<br />
entrincheiradas nas Colinas de Golã, ao norte. Depois dos seis dias de combates, as antigas linhas<br />
de cessar-fogo tinham sido substituídas por novas; a Judeia, a Samaria, Gaza, a Península<br />
do Sinai e as Colinas de Golã estavam agora sob o controle de Israel. Jerusalém, que estivera<br />
dividida entre Israel e Jordânia desde 1949, foi reunificada sob a autoridade israelense.<br />
Depois da Guerra dos Seis Dias, houve outras batalhas na região, sempre provocadas por<br />
grupos que não reconhecem o direito dos judeus de ter seu Estado.<br />
Em 1973, o Egito e a Síria lançaram a Guerra do Yom Kippur, assim chamada porque o<br />
Egito tomou de surpresa as tropas israelenses acantonadas no Sinai, na margem do Canal de<br />
Suez, no dia mais sagrado da tradição judaica, o Dia do Perdão – Yom Kippur. Israel, após<br />
sofrer grandes baixas, reagiu e retomou as regiões perdidas, inclusive o Golã, na fronteira<br />
com a Síria, e chegou a poucos quilômetros do Cairo e de Damasco, quando um novo cessar-fogo,<br />
com a intervenção da ONU, foi assinado.<br />
Em novembro de 1977, o presidente do Egito, Anwar Sadat, fez uma viagem histórica a<br />
Jerusalém, a convite do primeiro-ministro israelense, Menachem Begin, iniciando a consolidação<br />
de um processo formal de reconhecimento e de paz.<br />
46<br />
PAZ - Book AF.indb 46 01.06.09 15:01:56
ENTENDENDO O ORIENTE MÉDIO<br />
5<br />
Quando, em novembro de 1978, foram negociados os acordos de Camp David 1 , definiram-se<br />
as linhas gerais para uma paz abrangente no <strong>Oriente</strong> Médio e uma proposta de<br />
autogoverno para os palestinos. Os dois acordos de paz de Camp David foram assinados por<br />
Anwar Sadat e por Menachem Begin e formaram um só tratado. Em suas disposições havia a<br />
definição da busca de uma solução pacífica de controvérsias, a extinção de boicotes econômicos<br />
e a definição de direitos de passagem.<br />
A OLP (criada em 1964, a Organização para a Libertação da Palestina deveria ter como<br />
objetivo a criação de um Estado palestino), cujo principal líder foi o egípcio Yasser Arafat,<br />
promoveu, durante as décadas de 1970 e 1980, muitos conflitos contra Israel. Um dos mais<br />
importantes aconteceu depois da guerra civil que se deu no Líbano entre a minoria cristã<br />
e os muçulmanos. A OLP de Yasser Arafat utilizou a anarquia no país e ampliou os ataques<br />
contra Israel, usando o território libanês como abrigo. Como era necessário se defender<br />
desses ataques, Israel invadiu o Líbano em junho de 1982 e cercou Beirute (lugar do quartel-general<br />
da OLP).<br />
Posteriormente, em 9 de dezembro de 1987, eclodiu uma revolta (denominada Revolta<br />
das Pedras) em todos os territórios ocupados e nos setores árabes de Jerusalém. Essa rebelião<br />
ficou conhecida como Intifada. A população civil palestina participou da revolta atirando<br />
pedras contra os militares israelenses, em especial no campo de refugiados de Jabaliyah, no<br />
extremo norte da Faixa de Gaza.<br />
Em 1993, Israel e a Autoridade Nacional Palestina assinaram os acordos de Oslo, nos<br />
quais definiram um compromisso de estabelecimento de um processo de paz a ser atingido<br />
ao longo de alguns anos de entendimentos progressivos.<br />
Desde 1994, parte da Palestina está sob a administração da Autoridade Nacional Palestina,<br />
como resultado dos acordos. No entanto, estes não puderam se concretizar: Arafat e seus dirigidos<br />
empreenderam vários atentados terroristas ou foram coniventes com eles. A educação<br />
aplicada às novas gerações palestinas promove o ódio a Israel e aos judeus, assim como o<br />
valor de agir como mártir da causa que objetiva destruir o Estado de Israel. Nos mapas utilizados<br />
nos programas escolares, o Estado de Israel não existe e o território palestino se estende<br />
do Rio Jordão ao Mar Mediterrâneo. A mídia palestina sempre desenvolveu grandes manifestações<br />
contra o direito de Israel de existir. Infelizmente, Arafat, no ano 2000, na segunda parte<br />
dos acordos de Camp David, não aceitou a proposta de paz intermediada pelo presidente dos<br />
Estados Unidos, Bill Clinton, e abandonou seu compromisso de repudiar o terrorismo.<br />
Novos conflitos<br />
Em 27 de setembro de 2000, um atentado palestino provocou a morte de um colono<br />
judeu na vila de Netzarim, na Faixa de Gaza. Era o começo de várias manifestações de ódio<br />
na região, que por fim deram início a uma segunda revolta, com muitas vítimas, conhecida<br />
como Segunda Intifada. Os episódios de violência se reproduziram constantemente, e, em<br />
15 de fevereiro de 2006, quando foi feito um levantamento pela ONU, o número de mortos<br />
chegava a 4.995, dos quais 3.858 eram palestinos e 1.022, israelenses.<br />
1 Receberam esse nome por conta do local das negociações, todas realizadas na casa de campo do presidente dos<br />
Estados Unidos em Maryland, denominada Camp David.<br />
A INDEPENDÊNCIA DO ESTADO DE ISRAEL CONTEMPORÂNEO E SUA REALIDADE HOJE<br />
47<br />
PAZ - Book AF.indb 47 01.06.09 15:01:56
SOLUÇÃO PARA A PAZ<br />
Durante as últimas décadas, muitos grupos radicais dividiram a direção política dos<br />
palestinos, desde o Fatah, que é uma organização política e militar, fundada por Yasser<br />
Arafat e Khalil al-Wazir (Abu Jihad), juntamente com a criação da OLP, até o Hamas.<br />
Os membros do Fatah defendiam, no início, a luta armada para expulsar os israelenses.<br />
Posteriormente, reconheceram o direito de existência do Estado de Israel. Após muitas<br />
denúncias de corrupção, o Fatah foi derrotado pelo Hamas, nas eleições de 2006, quando<br />
conquistou a maioria das cadeiras do Parlamento. Os grupos armados palestinos, Hamas<br />
e Fatah, se envolveram, então, em grandes confrontos violentos. Israel, Estados Unidos e<br />
União Europeia consideram o Hamas uma organização terrorista.<br />
O Hamas, que não reconhece o direito de Israel de existir, declarou que não abandonará<br />
as armas. Muitos analistas políticos defendem a ideia de que a imensa frustração com<br />
o papel do Fatah nos últimos anos e os inúmeros casos de corrupção (desvio das verbas<br />
recebidas de organizações internacionais, muitas vezes, para contas pessoais dos líderes<br />
do movimento) revoltaram a população empobrecida dos territórios palestinos. Isso explicaria,<br />
segundo os analistas, a vitória do Hamas, muito mais que o apoio a seus preceitos<br />
fundamentalistas.<br />
Israel retirou todas as suas colônias da Faixa de Gaza, entregando-a à Autoridade Nacional<br />
Palestina (ANP) em busca da paz, que não veio. Como resultado, a população civil das cidades<br />
israelenses próximas à fronteira, como Sderot, Ashkelon e Ashdot, entre outras, ficou<br />
sob fogo constante de foguetes disparados por militantes do Hamas a partir de bases móveis<br />
na Faixa de Gaza, por vezes localizadas no telhado de casas de família. Houve dias em que<br />
mais de cem foguetes foram lançados após o Hamas ter lutado contra seus irmãos palestinos<br />
da Fatah, à qual pertence o presidente da Autoridade Nacional Palestina, expulsando-os e<br />
assumindo o total controle sobre a Faixa de Gaza.<br />
É preciso lembrar que o Estado de Israel é menor do que o Estado de Sergipe, que ao<br />
longo dos anos o alcance e o poder de destruição dos foguetes lançados pelos liderados do<br />
Hamas vêm aumentando e que, a cada foguete lançado contra Israel, o Irã paga determinado<br />
valor, pois todos esses fatores incentivam a continuidade do terrorismo.<br />
A vida de crianças, jovens, adultos e idosos se vê ameaçada diariamente sob constante<br />
terror. Ao final de 2008 e início de 2009, Israel realizou uma operação em Gaza para destruir<br />
bases de lançamento, arsenais de armas e túneis por onde estas eram contrabandeadas<br />
a partir do Egito. Infelizmente, o Hamas usou escudos humanos, infiltrando armamento e<br />
terroristas em mesquitas, escolas, hospitais e em meio à população civil, colocando-a deliberadamente<br />
sob risco. No entanto, ao contrário do que foi divulgado pela mídia, embora<br />
depois desmentido, mesmo sem as manchetes e o destaque das notícias iniciais, nenhuma<br />
escola da ONU foi atingida pelos israelenses.<br />
48<br />
PAZ - Book AF.indb 48 01.06.09 15:01:56
ENTENDENDO O ORIENTE MÉDIO<br />
5<br />
Israel: uma democracia no <strong>Oriente</strong> Médio<br />
Lia Bergmann<br />
Introdução<br />
Em sessenta e um anos, o Estado de Israel transformou os desertos e pântanos em terras<br />
férteis, tornando-se grande exportador de flores e frutas; absorveu milhões de imigrantes<br />
sem recursos, dando-lhes estabilidade, educação gratuita de alto nível, sistema de saúde<br />
pública, gerando uma das economias mais desenvolvidas do mundo, criando avançadas<br />
tecnologias nas diversas áreas do conhecimento, como medicina, informática, agricultura,<br />
meio ambiente, entre outras, sendo um exemplo para o mundo. Essa realidade não se vê<br />
nos jornais.<br />
Estrutura política<br />
O Estado de Israel é uma democracia parlamentarista, com os poderes Legislativo, Executivo<br />
e Judiciário. As instituições do Estado incluem a Presidência e o Knesset (Parlamento),<br />
o governo (gabinete de ministros) e o Judiciário. O sistema se baseia na separação dos três<br />
poderes e o braço executivo (governo) está sujeito à confiança do braço legislativo (Knesset),<br />
que tem o poder de depor o primeiro-ministro, e a independência do Judiciário é garantida<br />
por lei. O Knesset possui 120 deputados. Seu nome e número baseiam-se na antiga Haguedolá<br />
(Grande Assembleia), órgão representativo judaico convocado em Jerusalém pela primeira<br />
vez no século V a.C.<br />
Todos os cidadãos israelenses – judeus, árabes, cristãos, drusos, entre outros – podem ser<br />
eleitos para o Parlamento, que tem contado, ao longo de sua história, com partidos, deputados<br />
e até mesmo ministros e embaixadores árabes israelenses.<br />
Meninas beduínas diante de um computador<br />
distribuído pelo programa “Um computador<br />
para cada criança”.<br />
Sociedade pluralista<br />
A natureza da sociedade israelense é pluralista.<br />
Sua população é formada por diferentes<br />
etnias, religiões e culturas. Dos 7,1 milhões<br />
de habitantes, 75,8% são judeus, 19,9% árabes<br />
(em sua maioria muçulmanos) e os 4,3%<br />
restantes dividem-se entre drusos, circassianos<br />
e outros, como os beduínos, que habitam<br />
o Deserto do Negev. Os idiomas falados<br />
no país são o hebraico (oficial), o árabe e o<br />
inglês.<br />
A INDEPENDÊNCIA DO ESTADO DE ISRAEL CONTEMPORÂNEO E SUA REALIDADE HOJE<br />
49<br />
PAZ - Book AF.indb 49 01.06.09 15:01:56
SOLUÇÃO PARA A PAZ<br />
Imigração judaica: porto seguro<br />
Israel foi estabelecido como pátria do povo judeu, como um porto seguro para um povo<br />
alvo de diversas perseguições religiosas, políticas e raciais no decorrer da história. Tem por<br />
base ser um Estado permanentemente aberto à imigração judaica, para que os judeus perseguidos,<br />
como aconteceu no Holocausto nazista, tenham para onde ir. Nesse sentido, tem<br />
absorvido centenas de judeus, incluindo etíopes, nas últimas décadas.<br />
Liberdade religiosa e de expressão<br />
A liberdade de expressão e de imprensa é garantida por lei. Israel escolheu deliberadamente<br />
adotar os princípios de liberdade, igualdade e proteção aos direitos humanos a todos<br />
os indivíduos dentro de suas fronteiras, sem distinção de religião, etnia, sexo ou cultura. A<br />
visão estabelecida na Declaração de Independência de Israel, promulgada em 1948, constitui<br />
os fundamentos do caráter de Israel, os princípios de acordo com os quais o Estado<br />
é governado, outorgando liberdade a todos os cidadãos. A liberdade religiosa é um direito<br />
garantido. Cada comunidade religiosa é livre por lei e na prática para seguir suas tradições.<br />
Os locais sagrados de todas as religiões são preservados, o que não aconteceu quando Jerusalém,<br />
cidade santa para judeus, cristãos e muçulmanos, esteve dividida sob o domínio da<br />
Jordânia, de 1948 a 1967.<br />
Igualdade de gênero, direitos<br />
das crianças e adolescentes<br />
Em 1951, o Parlamento aprovou a Lei de<br />
Igualdade de Direitos da Mulher, que vem<br />
ocupando cargos proeminentes nas instituições<br />
democráticas de Israel, desde a primeira-ministra<br />
Golda Meir (1969-1974)<br />
até Tzipi Livni, vice-primeira-ministra e<br />
ministra de Relações Exteriores até o início<br />
de 2009. As leis de proteção às crianças começaram<br />
a ser promulgadas em 1954 e têm<br />
sido aprimoradas até a atualidade. Existe até<br />
mesmo a Lei dos Direitos do Aluno.<br />
Igreja do Santo Sepulcro: peregrinação<br />
constante.<br />
50<br />
PAZ - Book AF.indb 50 01.06.09 15:01:57
ENTENDENDO O ORIENTE MÉDIO<br />
5<br />
Direitos ao cuidado maternal e ao bem-estar da criança<br />
Os direitos ao cuidado maternal e ao bem-estar da criança, também incorporados pela<br />
legislação israelense, são garantidos pelo sistema de saúde e serviços médicos altamente desenvolvidos.<br />
Há clínicas gerenciadas pelo governo para a mãe e para a criança em todo o país,<br />
como parte dos serviços de saúde pública. A eficiência desse sistema se comprova pelos dados<br />
de vacinação: entre 91% e 96% de todos os segmentos da população estão vacinados.<br />
Educação gratuita<br />
Desde 1949, o ensino é obrigatório dos 6 aos 16 anos, sendo gratuito até os 18. A taxa de<br />
analfabetismo é a menor de todo o <strong>Oriente</strong> Médio: 2,9%. O Brasil tem hoje 11,4% de analfabetos,<br />
isso sem contar os analfabetos funcionais, que não têm os conhecimentos mínimos<br />
necessários para exercer sua plena cidadania.<br />
O índice de desenvolvimento humano (IDH) em Israel é de 0,932 e a renda per capita, de<br />
20.170 dólares.<br />
Saúde<br />
O sistema de saúde pública de Israel fornece ampla rede de serviços, incluindo hospitais,<br />
a todos os residentes no país. O investimento em pesquisa e desenvolvimento (P&D) tem<br />
como resultado uma medicina de ponta com tecnologia e procedimentos entre os mais<br />
avançados do mundo, como hospitais, clínicas e centros de medicina preventiva e de reabilitação,<br />
e cirurgias de cérebro, medula óssea e transplantes. A Maguem David Adom é o<br />
serviço de emergência médica, equivalente à Cruz Vermelha.<br />
O kibutz e o moshav<br />
Estrutura social e econômica única no mundo, o kibutz é uma comunidade igualitária, no<br />
início predominantemente agrícola, criada pelos pioneiros no começo do século XX. Nos<br />
primeiros anos foi fundamental para o estabelecimento dos milhares de imigrantes no país.<br />
Depois passou a englobar indústrias e empresas de serviços. O moshav tem a mesma filosofia<br />
de trabalho coletivo do kibutz, mas no início os filhos ficavam em uma casa separada nos<br />
kibutzim, o que não acontecia nos moshavim desde sua criação, nos anos 1920.<br />
A INDEPENDÊNCIA DO ESTADO DE ISRAEL CONTEMPORÂNEO E SUA REALIDADE HOJE<br />
51<br />
PAZ - Book AF.indb 51 01.06.09 15:01:57
SOLUÇÃO PARA A PAZ<br />
Agricultura e meio ambiente<br />
Israel possui convênios com a África, ajudando o continente a combater a desertificação,<br />
e fornece especial atenção às tecnologias alternativas para geração de energia e aos cuidados<br />
com o meio ambiente. Com largos desertos e poucas fontes de água, desenvolveu uma agricultura<br />
pujante e aplica os mais avançados métodos para o cultivo e a agroindústria.<br />
Turismo<br />
O turismo é uma importante fonte de renda e de emprego para Israel e cresce a cada ano.<br />
O turismo religioso, também de brasileiros que visitam os lugares sagrados para cristãos e<br />
judeus, tem registrado aumentos consecutivos. Entre as belezas naturais encontra-se o Mar<br />
Morto, o mais baixo do mundo. Uma completa infraestrutura hoteleira e de transportes está<br />
à disposição dos visitantes.<br />
Costa do Mediterrâneo.<br />
Mar Vermelho na cidade de Eilat.<br />
Tel-Aviv – Jafa.<br />
52<br />
PAZ - Book AF.indb 52 01.06.09 15:01:57
ENTENDENDO O ORIENTE MÉDIO<br />
5<br />
Israel – educação, ciência e tecnologia<br />
Gisele Valdstein e Claudio Silberberg<br />
“A pesquisa científi ca e suas conquistas deixaram de ser mero objetivo<br />
intelectual abstrato [...] são fator central na vida de todo povo civilizado.”<br />
Investimento contínuo em educação e pesquisa:<br />
buscando desenvolver produtos de excelência<br />
1870 – Criação da Escola Mikve Israel, primeira<br />
instituição de pesquisa agrícola. Tornou-se<br />
posteriormente o Instituto Volcani,<br />
hoje principal instituição de pesquisa e desenvolvimento<br />
agrícola em Israel. Atualmente<br />
Israel exporta tecnologia de irrigação para<br />
diversos países, entre eles o Brasil, possibilitando<br />
aumento da produção agrícola com<br />
gerenciamento de recursos hídricos.<br />
1901 – Estabelecimento, em Jerusalém, da<br />
Teva Pharmaceutical Industries Ltda., pioneira<br />
no desenvolvimento de medicamentos genéricos,<br />
hoje com mais de 20 filiais em todo<br />
o mundo.<br />
1924 – Inauguração do Instituto de Tecnologia<br />
Technion, em Haifa.<br />
1925 – Início das atividades da Universidade<br />
Hebraica de Jerusalém, período em que se<br />
formaram as bases para o Hospital Hadassah,<br />
uma das mais importantes instituições de<br />
pesquisa médica de Israel.<br />
David Ben-Gurion, primeiro chefe de governo<br />
do Estado de Israel contemporâneo (1948).<br />
1934 – Centro de Pesquisa Daniel Sieff, fundado em Rehovot, que, posteriormente, em<br />
1949, se tornou o Instituto Weizmann de Ciências.<br />
2009 – Atualmente existem oito universidades reconhecidas pelo governo, incluindo as<br />
acima citadas: Universidade de Tel-Aviv, Universidade de Haifa, Universidade Bar-Illan, Universidade<br />
Ben-Gurion do Negev, Universidade Aberta de Israel. Juntas, produzem um dos<br />
maiores índices de graduação e publicações científicas per capita do mundo.<br />
A INDEPENDÊNCIA DO ESTADO DE ISRAEL CONTEMPORÂNEO E SUA REALIDADE HOJE<br />
53<br />
PAZ - Book AF.indb 53 01.06.09 15:02:00
SOLUÇÃO PARA A PAZ<br />
Ciência e tecnologia<br />
Prioridade de governo desde a criação do Estado de Israel para enfrentar a falta de recursos<br />
naturais e a hostilidade dos países vizinhos, a área de ciência e tecnologia é a principal<br />
ferramenta para o crescimento nacional, criando mecanismos para estimular a atuação da<br />
iniciativa privada de forma competitiva. Hoje, destaca-se nos setores de alta tecnologia, aviônica,<br />
telecomunicações, manufatura, equipamentos médicos eletrônicos e de fibra óptica.<br />
A indústria de alta tecnologia de Israel responde por 12% do produto interno bruto (PIB)<br />
e por mais de 80% das exportações. Israel é o segundo país, depois dos Estados Unidos, com<br />
empresas negociadas na Nasdaq (Bolsa de Tecnologia de Nova York).<br />
1950 – Início das atividades da IBM Corporation em Israel, desenvolvendo aplicações computadorizadas<br />
para as áreas de medicina, agricultura, irrigação e elaboração de modelos para<br />
políticas em fertilização.<br />
– Primeira unidade da General Electric (GE).<br />
1964 – Motorola Israel Ltda., que emprega atualmente 4 mil funcionários espalhados em<br />
cinco centros de desenvolvimento de tecnologia para sistemas de comunicação móvel.<br />
1974 – Intel Israel – microprocessadores e componentes de memória para computador.<br />
1981 – Rad Data Communications Ltda. – sistemas sofisticados de comunicação sem fio.<br />
1989 – Microsoft Corporation, primeira subsidiária fora dos Estados Unidos.<br />
1994 – 3G.COM Technologies – alta tecnologia de comunicação de dados.<br />
2006 – Alcatel-Lucent de Israel – hardware, software e serviços de ponta em telecomunicações.<br />
1981 a 2009 – Mais de 160 companhias de biotecnologia em atividade.<br />
2009 – Cerca de 173 empresas de alta tecnologia em telecomunicações.<br />
54<br />
PAZ - Book AF.indb 54 01.06.09 15:02:00
ENTENDENDO O ORIENTE MÉDIO<br />
5<br />
Alguns exemplos da criatividade israelense na prática<br />
A M-Systems foi pioneira no desenvolvimento de memória<br />
flash DiskOnKey e DiskOnChip (conhecidos como<br />
pen drive e chip de memória), permitindo a ágil transferência,<br />
transporte e armazenamento de informações.<br />
Israel é o pioneiro na tecnologia de<br />
armazenamento portátil de memória<br />
(pen drive) e em chips de memória.<br />
A GE Healthcare Israel lançou o primeiro equipamento<br />
miniaturizado de ultrassom cardíaco portátil do mundo.<br />
O scanner de tomografia computadorizada Philips Brilliance<br />
faz um diagnóstico abrangente do paciente em poucos<br />
instantes, nas salas de emergência, onde cada segundo é<br />
vital.<br />
Equipamento portátil de ultrassom<br />
cardíaco.<br />
A empresa israelense Lumus Optical criou os vídeo-óculos<br />
PD2, para assistir a programas de TV e vídeos em<br />
qualquer lugar.<br />
Vídeo-óculos, para assistir a seu filme<br />
preferido onde quer que esteja.<br />
A telefonia pioneira pelo protocolo IP foi lançada pela Vocaltec (VOIP, sigla em<br />
inglês de transmissão de voz por internet – ex.: Skype).<br />
A tecnologia de compressão de arquivos ZIP foi desenvolvida por dois professores<br />
do Instituto de Tecnologia Technion, de Haifa. Permite, por exemplo, comprimir<br />
grande quantidade de imagens sem nenhuma perda de qualidade ou integridade,<br />
facilitando seu arquivamento e envio.<br />
A INDEPENDÊNCIA DO ESTADO DE ISRAEL CONTEMPORÂNEO E SUA REALIDADE HOJE<br />
55<br />
PAZ - Book AF.indb 55 01.06.09 15:02:00
SOLUÇÃO PARA A PAZ<br />
A pílula endoscópica com microcâmera foi lançada pela<br />
Given Imaging, que permite visualizar todo o trato digestivo.<br />
Pílula endoscópica com microcâmera.<br />
A ferramenta ICQ, do AOL Instant Messenger, foi desenvolvida, em 1996, por quatro<br />
jovens israelenses.<br />
Os microprocessadores Centrino e Pentium-4 Dotan foram<br />
desenvolvidos pela Intel Israel.<br />
Microprocessador Centrino, usado<br />
também em notebooks.<br />
A Keter Plastic, empresa israelense com 23 fábricas espalhadas pelo mundo, é considerada<br />
a maior empresa de produtos de plástico da Europa.<br />
Dois professores do Instituto de Tecnologia Technion ganharam o Prêmio Nobel de<br />
Química, em 2004. Seu trabalho de identificação da proteína Ubiquitin é uma inovação<br />
nas pesquisas do câncer, doenças degenerativas do cérebro e muitas outras.<br />
56<br />
PAZ - Book AF.indb 56 01.06.09 15:02:01
ENTENDENDO O ORIENTE MÉDIO<br />
5<br />
Universidade Hebraica de Jerusalém.<br />
Instituto de Tecnologia Technion.<br />
Universidade de Haifa.<br />
Intel – microprocessadores.<br />
A INDEPENDÊNCIA DO ESTADO DE ISRAEL CONTEMPORÂNEO E SUA REALIDADE HOJE<br />
57<br />
PAZ - Book AF.indb 57 01.06.09 15:02:01
SOLUÇÃO PARA A PAZ<br />
Israel – História e desenvolvimento por um mundo melhor<br />
Bibliografia sugerida<br />
Revista Notícias de Israel.<br />
Sites<br />
http://www.mfa.gov.il/MFA – Ministério das Relações Exteriores de Israel<br />
http://www.mfa.gov.il/MFA/Visual+Media/General+Videos.htm (vídeos do tipo “você sabia?”)<br />
http://www.science.co.il/Computer Science.asp<br />
http://www.israel21c.com<br />
Lia Bergmann Formada em História pela Universidade de São Paulo e jornalista com pós-graduação pela Faculdade<br />
Cásper Líbero, Lia Bergmann é assessora de comunicação e de direitos humanos da B’nai B’rith do Brasil.<br />
Gisele Valdstein Fonoaudióloga, foi presidente da B’nai B’rith de São Paulo.<br />
Claudio Silberberg Administrador e membro da B’nai B’rith.<br />
58<br />
PAZ - Book AF.indb 58 01.06.09 15:02:01
6<br />
OS JUDEUS NOS PRINCIPAIS<br />
PAÍSES DA LIGA ÁRABE 1<br />
Tounée Rosset<br />
CAPÍTULO<br />
Entre 1948 e 1968, cerca de 850 mil judeus foram forçados a abandonar alguns<br />
países da Liga Árabe, onde viveram por vários séculos, expulsos ou fugindo de condições<br />
de discriminação e intolerância. Deixando todos os seus pertences para trás,<br />
essa multidão teve de recomeçar a vida em países como Israel, França e Brasil.<br />
Até hoje essa história é pouco conhecida pela comunidade internacional. Por<br />
isso, mais de quarenta entidades judaicas lançaram, em novembro de 2006, a Campanha<br />
Internacional por Direitos e Reparação, para os judeus dos países árabes.<br />
O êxodo silencioso<br />
Dos 848 mil judeus que moravam nos países da Liga em 1948, restavam apenas<br />
7.800 em 2001.<br />
Quantidade de judeus nos países da Liga Árabe por ano<br />
Países 1948 1958 1968 1976 2001<br />
Líbano 5.000 6.000 3.000 400 100<br />
Síria 30.000 5.000 4.000 4.500 100<br />
Líbia 38.000 3.750 100 40 0<br />
Iêmen 55.000 3.500 500 500 200<br />
Egito 75.000 40.000 1.000 400 100<br />
Tunísia 105.000 80.000 10.000 7.000 1.500<br />
Iraque 135.000 6.000 2.500 350 100<br />
Argélia 140.000 130.000 1.500 1.000 0<br />
Marrocos 265.000 200.000 50.000 18.000 5.700<br />
Total 848.000 474.250 72.600 32.190 7.800<br />
Comparação entre a situação dos árabes em Israel<br />
e a dos judeus nos países da Liga Árabe<br />
Em 1948, havia algo entre 600 mil e 950 mil árabes no território que passou a<br />
integrar o Estado de Israel. Na Guerra da Independência, aproximadamente 156 mil<br />
desses palestinos permaneceram em Israel, enquanto os demais deixaram o país.<br />
Os árabes que permaneceram em Israel e seus descendentes hoje são mais de<br />
1,4 milhão e possuem cidadania israelense. Ou seja, a população árabe palestina<br />
residente em Israel aumentou quase 900% de 1948 até hoje e goza de plenos<br />
direitos, inclusive elegendo deputados. Os árabes com cidadania israelense são<br />
20% da população de Israel.<br />
1 Este capítulo é uma versão ampliada e adaptada por Tounée Rosset do texto publicado em www.<br />
judeusdospaisesarabes.com.br, incorporando também sugestões de Abraham Goldstein e dos autores<br />
dos diversos textos desta obra.<br />
59<br />
PAZ - Book AF.indb 59 01.06.09 15:02:02
SOLUÇÃO PARA A PAZ<br />
Por sua vez, a população palestina residente na Faixa de Gaza e na Cisjordânia hoje é de<br />
mais de 4 milhões de pessoas, sem contar os 4,5 milhões a 5 milhões de palestinos que<br />
vivem em outros lugares além de Israel e territórios palestinos. Esse número é muito maior<br />
do que o de palestinos que viviam em toda a Terra de Israel antes da criação do Estado de<br />
Israel.<br />
Isso significa que, ao contrário do que pessoas mal-intencionadas dizem, não existe genocídio<br />
generalizado contra palestinos. A verdade é que tanto em Gaza e na Cisjordânia<br />
como no próprio território de Israel a população palestina tem se multiplicado, e muito.<br />
Situação muito diferente ocorreu nos países da Liga Árabe, onde a população judaica foi<br />
expulsa ou teve de fugir da violência e da discriminação: dos 848 mil judeus que moravam<br />
em países como Líbano, Síria, Líbia, Iêmen, Egito, Tunísia, Iraque, Argélia e Marrocos, 840<br />
mil haviam saído até o ano 2001, ou seja, só sobrou menos de 1%.<br />
O gráfico a seguir compara a evolução da população de palestinos vivendo em Israel<br />
desde o final da Guerra da Independência até hoje, possuindo cidadania israelense, com a<br />
situação dos judeus em nove países da Liga Árabe, onde têm sido tratados como dhimmis.<br />
Evolução da população árabe em Israel e da população judaica<br />
em nove países da Liga Árabe<br />
Situação das comunidades judaicas nos países<br />
da Liga Árabe<br />
Os judeus vivem no <strong>Oriente</strong> Médio, no norte da África e na região do Golfo há vários<br />
séculos. Houve presença ininterrupta de grandes comunidades judaicas no <strong>Oriente</strong> Médio<br />
desde tempos remotos, mais de 2.500 anos antes do nascimento dos Estados árabes<br />
modernos.<br />
60<br />
PAZ - Book AF.indb 60 01.06.09 15:02:02
ENTENDENDO O ORIENTE MÉDIO<br />
6<br />
Após a conquista da região pelos muçulmanos, os judeus passaram a ser considerados<br />
cidadãos de segunda classe, mas a eles foram dadas, durante determinado período, liberdade<br />
religiosa e oportunidades educacionais, profissionais e de trabalho, embora limitadas.<br />
Isso mudou no século XX, quando ocorreu um padrão de perseguição consistente e<br />
difundido e violações em massa dos direitos humanos das minorias judaicas em países da<br />
Liga Árabe. Decretos e legislações oficiais aprovados pelos regimes árabes negaram direitos<br />
humanos e civis aos judeus e a outras minorias; suas propriedades foram desapropriadas;<br />
foram privados de sua cidadania e de seu sustento. Os judeus eram frequentemente vítimas<br />
de assassinato, prisões e detenções arbitrárias, tortura e expulsões.<br />
Com a declaração do Estado de Israel, em 1948, o status dos judeus nos países árabes<br />
piorou drasticamente à medida que muitos desses países apoiavam a guerra ou a declaravam<br />
contra Israel. Os judeus foram, então, expulsos dos países onde residiam havia anos e tornaram-se<br />
reféns políticos do conflito árabe-israelense.<br />
Os judeus residentes em países da Liga Árabe passaram a ser atacados física e legalmente<br />
pelos governos e pela população de modo geral. Na Síria, por causa das perseguições antijudaicas<br />
em Alepo, em 1947, dos 10 mil judeus da cidade, 7 mil fugiram do terror. No Iraque,<br />
o “sionismo” tornou-se crime capital. Mais de 70 judeus foram assassinados por bombas<br />
na região judaica do Cairo, no Egito. Depois de os franceses terem desocupado a Argélia, as<br />
autoridades emitiram uma variedade de decretos antijudaicos que induziram os quase 160<br />
mil judeus a fugir prontamente do país. Após a Resolução da Assembleia Geral das Nações<br />
Unidas sobre a partilha da Palestina, em 1947, amotinadores muçulmanos deram início a<br />
perseguições sanguinárias em Áden, no Iêmen, que acabaram causando a morte de 82 judeus.<br />
Em diversos países os judeus foram expulsos ou tiveram sua cidadania revogada (por<br />
exemplo, na Líbia). Inúmeros judeus fugiram de dez países da Liga Árabe. Eles se tornaram<br />
refugiados em uma região predominantemente hostil aos judeus.<br />
As restrições sancionadas pelo Estado, frequentemente associadas à violência e repressão,<br />
forçaram um deslocamento em massa dos judeus. Resultado: mais de 850 mil judeus foram<br />
expulsos das terras em que eles e seus ancestrais viveram por várias gerações.<br />
Dhimmis<br />
Durante muitos séculos, membros de várias etnias, entre elas judeus, mas também gregos<br />
e armênios, viveram dentro do Império Otomano, sob uma denominação que lhes determinava<br />
um lugar à parte no mundo social: dhimmis (em árabe, protegidos). Esses grupos eram<br />
submetidos a uma tributação especial (jizya), ao uso de uma rodela de cor amarela no peito<br />
e outros sinais distintivos, além de outras formas de discriminação.<br />
Os judeus mais afetados foram os do Marrocos, do Iêmen e da Pérsia: eram sujeitos a<br />
graves humilhações, expropriação de bens, julgamentos injustos, assassinatos etc.<br />
Mas, no geral, em troca do pagamento da jizya, os judeus, que estavam acostumados a<br />
sobreviver a situações adversas, após séculos de perseguições dos impérios Romano e Bizantino,<br />
viram nas conquistas islâmicas apenas uma substituição de poder.<br />
A conversão voluntária ao islamismo foi muito rara; os judeus conseguiram preservar a<br />
fé em todas as terras muçulmanas.<br />
OS JUDEUS NOS PRINCIPAIS PAÍSES DA LIGA ÁRABE<br />
61<br />
PAZ - Book AF.indb 61 01.06.09 15:02:02
SOLUÇÃO PARA A PAZ<br />
EGITO<br />
Os judeus têm vivido no Egito desde os<br />
tempos bíblicos. As tribos israelitas mudaram-se<br />
durante o reinado do faraó egípcio<br />
Amenhotep IV (1375-1358 a.C.). Ao longo<br />
dos anos, os judeus buscaram abrigo e habitaram<br />
o Egito. Em 1897, havia mais de<br />
25 mil judeus no Egito, a maior parte deles<br />
concentrada nas cidades do Cairo e de<br />
Alexandria. Em 1937, a população alcançou<br />
63.500 judeus.<br />
Na década de 1940, com o crescimento<br />
do nacionalismo egípcio e os esforços do Bar-mitzva de gêmeos – Cairo, Egito, 1930.<br />
movimento sionista para recriar um lar nacional<br />
judaico na Terra de Israel, as atividades antijudaicas começaram a surgir com mais intensidade.<br />
Em 1945, as agitações começaram: dez judeus foram mortos, 350 ficaram feridos<br />
e uma sinagoga, um hospital judeu e um lar para idosos foram incendiados. Após o sucesso<br />
do movimento sionista em estabelecer o Estado de Israel, medidas violentas e repressoras<br />
vindas do governo e dos cidadãos egípcios tiveram início em meados de 1948. Bombas foram<br />
colocadas em um quarteirão judaico, matando mais de setenta pessoas e ferindo cerca<br />
de duzentas. As agitações nos meses que se seguiram resultaram em várias outras mortes.<br />
Dois mil judeus foram presos e muitos tiveram suas propriedades confiscadas.<br />
Em 1956, o governo egípcio usou a Campanha do Sinai como pretexto para expulsar<br />
aproximadamente 25 mil judeus egípcios do país e confiscar suas propriedades. A eles foi<br />
permitido levar apenas uma mala e uma pequena quantidade de dinheiro, e todos foram<br />
obrigados a assinar documentos “doando” suas propriedades ao governo egípcio. Aproximadamente<br />
outros mil judeus foram presos ou mandados para campos de concentração.<br />
Em 23 de novembro de 1956, um manifesto, assinado pelo ministro de Assuntos Religiosos<br />
e lido em voz alta nas mesquitas de todo o Egito, declarava que “todos os judeus<br />
são sionistas e inimigos do Estado” e prometia que todos seriam, em breve, expulsos<br />
(Associated Press, 26/11/1956; New York World-Telegram, 29/11/1956).<br />
Em 1957, a população judaica no Egito já tinha caído para 15 mil. Em 1967, depois da<br />
Guerra dos Seis Dias, houve nova onda de perseguições, e a comunidade judaica diminuiu<br />
para 2.500. Na década de 1970, após ser dada aos judeus remanescentes a permissão de<br />
deixar o país, a comunidade reduziu-se a algumas poucas famílias.<br />
Os direitos dos judeus foram finalmente recuperados em 1979, depois que o presidente<br />
egípcio Anwar Sadat assinou o primeiro acordo de Camp David com Israel. Somente então<br />
foi permitido à comunidade estabelecer laços com Israel e com a coletividade judaica no<br />
mundo. Os quase duzentos judeus deixados no Egito são agora idosos, e a comunidade<br />
judaica do país, outrora orgulhosa e crescente, está praticamente extinta.<br />
62<br />
PAZ - Book AF.indb 62 01.06.09 15:02:02
ENTENDENDO O ORIENTE MÉDIO<br />
6<br />
IRAQUE<br />
Iraque é a designação moderna para o<br />
país estabelecido com as antigas Babilônia e<br />
Assíria e a parte sul da Turquia após a Primeira<br />
Guerra Mundial. É o lugar da mais antiga<br />
diáspora judaica, a de história contínua mais<br />
longa, uma faixa de tempo de 2.670 anos.<br />
No século III, os judeus prosperaram no<br />
que era então a Babilônia por 1.200 anos antes<br />
da conquista muçulmana, em 634 d.C.<br />
Sob o domínio dos muçulmanos, a situação<br />
da comunidade judaica tornou-se instável.<br />
Enquanto alguns judeus possuíam altos<br />
cargos de governo ou prosperavam com o<br />
comércio e as trocas, outros eram submetidos<br />
a taxas especiais e restrições em suas atividades profissionais. Sob o controle britânico,<br />
que começou em 1927, os judeus iam bem economicamente, mas esse progresso cessou<br />
quando o Iraque conquistou sua independência, em 1932.<br />
Comerciantes judeus de Bagdá.<br />
Cerimônia em memória de Menahem Salah<br />
Daniel, líder da comunidade judaica de Bagdá.<br />
Em junho de 1941, o golpe de Rashid Ali, de apoio aos nazistas e inspirado pelo Mufti,<br />
iniciou uma série de manifestações e perseguições em Bagdá. Multidões de iraquianos armados<br />
assassinaram 180 judeus e feriram mil.<br />
Insurreições adicionais com manifestações antijudaicas ocorreram entre 1946 e 1949.<br />
Após o estabelecimento de Israel, em 1948, o sionismo tornou-se crime capital.<br />
OS JUDEUS NOS PRINCIPAIS PAÍSES DA LIGA ÁRABE<br />
63<br />
PAZ - Book AF.indb 63 01.06.09 15:02:02
SOLUÇÃO PARA A PAZ<br />
Em 1950, foi permitido aos judeus iraquianos deixarem o país em um ano caso desistissem<br />
de sua cidadania. Um ano mais tarde, no entanto, as propriedades dos judeus que<br />
emigraram foram congeladas e restrições econômicas foram impostas aos que permaneceram<br />
no país. De 1949 a 1951, 104 mil judeus foram expulsos do Iraque na Operação Ezra<br />
e Nehemiah e 20 mil retirados clandestinamente pelo Irã. Assim, uma comunidade que<br />
chegara a 150 mil pessoas em 1947 rapidamente se reduziu a 6 mil depois de 1951.<br />
Em 1952, o governo do Iraque proibiu a imigração de judeus. Com a ascensão de facções<br />
rivais do partido Ba’ath em 1963, restrições adicionais foram impostas aos judeus iraquianos<br />
remanescentes. A venda de propriedades foi proibida e todos os judeus foram forçados<br />
a carregar cartões de identidade amarelos. As perseguições continuaram, especialmente após<br />
a Guerra dos Seis Dias, em 1967, quando muitos dos 3 mil judeus restantes foram presos<br />
e demitidos de seus empregos. Nessa época, medidas mais repressoras surgiram: propriedades<br />
judaicas foram tomadas; contas bancárias foram congeladas; judeus perderam cargos<br />
públicos; lojas foram fechadas; licenças comerciais foram canceladas; telefones foram desligados.<br />
Os judeus passaram a viver em prisão domiciliar por longos períodos ou restritos às<br />
próprias cidades.<br />
As perseguições chegaram ao limite máximo no final de 1968. Grupos de judeus eram<br />
presos sob a alegação de descobertas de “grupos de espiões” compostos por empresários<br />
judeus. Catorze homens, onze deles judeus, foram sentenciados à morte em julgamentos<br />
encenados e, em 27 de janeiro de 1969, enforcados em praças públicas de Bagdá; outros<br />
morreram sob tortura.<br />
Em resposta às pressões internacionais, o governo de Bagdá silenciosamente permitiu<br />
que a maior parte dos judeus restantes emigrasse no início da década de 1970, mesmo enquanto<br />
outras restrições eram mantidas. Em 1973, os judeus iraquianos estavam, na maioria,<br />
velhos demais para sair do país e foram pressionados pelo governo a entregar títulos,<br />
sem compensações, de propriedades judaicas no valor de mais de 200 milhões de dólares<br />
(The New York Times, 18/2/1973).<br />
Atualmente, cerca de 60 judeus permanecem em Bagdá. O que fora um dia uma comunidade<br />
crescente de judeus no Iraque hoje encontra-se extinta (Associated Press, 28/3/1998).<br />
64<br />
PAZ - Book AF.indb 64 01.06.09 15:02:03
ENTENDENDO O ORIENTE MÉDIO<br />
6<br />
LÍBIA<br />
A comunidade judaica da Líbia tem suas<br />
origens ao século III a.C. Na época da ocupação<br />
italiana, em 1911, havia apenas 21 mil<br />
judeus no país, a maior parte em Trípoli.<br />
No final da década de 1930, leis antijudaicas<br />
foram gradualmente reforçadas, e os<br />
judeus foram submetidos a repressões terríveis.<br />
Ainda assim, em 1941, eles respondiam<br />
por um quarto da população de Trípoli e<br />
mantinham 44 sinagogas.<br />
Em 1942, os alemães ocuparam o bairro<br />
judeu e tornaram tudo muito difícil para os<br />
judeus na Líbia, e as condições não melhoraram<br />
após a liberação. Durante a ocupação<br />
britânica, o crescimento do nacionalismo<br />
árabe e do fervor antijudaico foram as principais<br />
razões por trás de uma série de perseguições,<br />
a pior das quais, em novembro de<br />
1945, resultou no massacre de 140 judeus<br />
em Trípoli e regiões próximas e na destruição<br />
de cinco sinagogas (Howard Sachar, A<br />
History of Israel).<br />
O estabelecimento do Estado de Israel levou<br />
muitos judeus a deixar o país. Em junho<br />
de 1948, em protesto contra o novo Estado,<br />
manifestantes assassinaram 12 judeus e destruíram<br />
cerca de 280 de seus lares. Ainda que<br />
a emigração fosse ilegal, mais de 3 mil judeus<br />
conseguiram fugir para Israel. Entre 1949,<br />
quando os ingleses legalizaram a emigração,<br />
e 1951, ano em que a Líbia conquistou a<br />
independência e se tornou membro da Liga<br />
Árabe, demonstrações hostis e manifestações<br />
antijudaicas causaram a partida de cerca de<br />
30 mil judeus para o norte do país (Norman<br />
Stillman, The Jews of Arab Lands in Modern Times).<br />
Bairro dos judeus em Trípoli.<br />
Família judia da Líbia.<br />
OS JUDEUS NOS PRINCIPAIS PAÍSES DA LIGA ÁRABE<br />
65<br />
PAZ - Book AF.indb 65 01.06.09 15:02:03
SOLUÇÃO PARA A PAZ<br />
ARGÉLIA<br />
No século XIV, com a deterioração das condições<br />
na Espanha, muitos judeus espanhóis<br />
mudaram-se para a Argélia. Após a ocupação<br />
francesa do país, em 1830, os judeus gradualmente<br />
receberam a cidadania francesa.<br />
Em 1934, os muçulmanos, incitados por<br />
eventos ocorridos na Alemanha nazista, se<br />
agitaram em Constantina, matando 25 judeus<br />
e ferindo muitos outros. Antes de 1962,<br />
havia 60 comunidades judaicas, cada uma<br />
mantendo os próprios rabinos, sinagogas e<br />
instituições educacionais. Depois da independência<br />
da Argélia, em 1962, o governo<br />
argelino atormentou a comunidade judaica e privou os judeus de seus direitos econômicos,<br />
resultando na emigração de quase 130 mil judeus argelinos para a França e, desde 1948, de<br />
25.681 para Israel.<br />
A independência da Argélia foi o evento-<br />
-chave na expulsão da comunidade judaica.<br />
Como consequência do desejo do governo<br />
e dos argelinos de juntarem-se à onda de<br />
nacionalismo e pan-arabismo que varria o<br />
norte da África, os judeus não mais se sentiam<br />
bem-vindos após a partida francesa. O<br />
Código de Nacionalidade Argelino de 1963<br />
deixou isso bem claro, dando a cidadania<br />
argelina como direito apenas àqueles cujos<br />
Família celebrando o Seder de Pessach<br />
– Oran, 1930.<br />
Professores e rabinos da Escola Etz Haim<br />
– Oran, 1927.<br />
pais e avôs paternos possuíssem algum status<br />
pessoal muçulmano na Argélia. Em outras<br />
palavras, ainda que a Frente Libertadora Nacional na Argélia fosse conhecida pelo slogan<br />
“Um Estado secular democrático”, ela seguia critérios religiosos rígidos ao dar a cidadania,<br />
fortificando assim sentimentos antijudeus e anti-Israel no país.<br />
66<br />
PAZ - Book AF.indb 66 01.06.09 15:02:03
ENTENDENDO O ORIENTE MÉDIO<br />
6<br />
TUNÍSIA<br />
As primeiras evidências documentadas de judeus vivendo onde é hoje a Tunísia vêm de<br />
antes do ano 200. Após a conquista árabe da Tunísia no século VII, os judeus viviam em condições<br />
satisfatórias, apesar de algumas medidas discriminatórias, como taxas.<br />
Em 1948, a comunidade judaica na Tunísia chegava a 105 mil pessoas, com 65 mil vivendo<br />
somente em Túnis. Depois que a Tunísia conquistou sua independência, em 1956, uma<br />
série de decretos antijudaicos foi promulgada. Em 1958, o conselho da comunidade judaica<br />
na Tunísia foi abolido pelo governo, e sinagogas, cemitérios e bairros judaicos antigos foram<br />
destruídos sob a alegação de “renovação urbana”.<br />
Em condições similares às dos judeus na Argélia, a ascensão do nacionalismo tunisiano<br />
levou a legislações antijudaicas e, em 1961, grande número de judeus deixou o país. A situação<br />
de instabilidade crescente fez com que mais de 40 mil judeus tunisianos emigrassem<br />
para Israel. Em 1967, a população judaica caiu para 20 mil.<br />
Durante a Guerra dos Seis Dias, os judeus foram atacados em agitações árabes, e várias<br />
sinagogas e lojas foram queimadas. O governo denunciou a violência e apelou à população<br />
judaica para que ficasse; ainda assim, não proibiu os judeus de deixarem o país. Logo depois,<br />
7 mil judeus emigraram para a França.<br />
Mesmo em 1982 houve ataques a judeus em cidades como Zarzis e Ben Guardane. Hoje,<br />
cerca de 2 mil judeus vivem na Tunísia.<br />
SÍRIA<br />
Os judeus têm vivido na Síria desde os tempos bíblicos, e a história da comunidade é<br />
mesclada à história dos judeus na Terra de Israel. A população judaica aumentou significativamente<br />
após a expulsão dos judeus da Espanha, em 1942. Através das gerações, as principais<br />
comunidades judaicas encontravam-se em Damasco e Alepo.<br />
Em 1943, a comunidade judaica na Síria possuía 30 mil membros, a maioria distribuída<br />
entre Alepo (17 mil) e Damasco (11 mil). Em 1945, em uma tentativa de impedir esforços<br />
para estabelecer um lar nacional judaico, o governo restringiu a emigração para Israel, e<br />
propriedades judaicas foram queimadas e saqueadas. Perseguições antijudaicas começaram<br />
a acontecer em Alepo em 1947, fazendo com que 7 mil dos 10 mil judeus que ali viviam<br />
fugissem por medo. O governo então congelou as contas bancárias e confiscou as propriedades<br />
dos que permaneceram no país.<br />
Logo após a independência de Israel, uma política de discriminação econômica na Síria<br />
foi posta em prática contra os judeus. Virtualmente, todos os cidadãos judeus civis empregados<br />
pelo governo sírio foram demitidos. A liberdade de movimentos foi praticamente<br />
abolida e postos especiais de fronteira foram estabelecidos para controlar o movimento dos<br />
judeus (The New York Times, 16/5/1948).<br />
Em 1949, os bancos receberam instruções para congelar as contas dos judeus e confiscar<br />
todos os seus pertences. Ao longo dos anos que se seguiram, o padrão contínuo de estrangulamento<br />
político e econômico fez com que um total de 15 mil judeus deixasse a Síria,<br />
emigrando para os Estados Unidos e para Israel.<br />
OS JUDEUS NOS PRINCIPAIS PAÍSES DA LIGA ÁRABE<br />
67<br />
PAZ - Book AF.indb 67 01.06.09 15:02:03
SOLUÇÃO PARA A PAZ<br />
IÊMEN<br />
Os judeus do Iêmen têm várias lendas relacionadas<br />
com sua chegada ao país; a mais<br />
conhecida delas diz que chegaram antes da<br />
destruição do Primeiro Templo. A primeira<br />
evidência histórica de sua presença no Iêmen<br />
data do século III.<br />
Os judeus começaram a deixar o Iêmen<br />
por volta de 1880, quando aproximadamente<br />
2.500 rumaram para Jerusalém e Jafa. Mas<br />
foi após a Primeira Guerra Mundial, quando<br />
o Iêmen se tornou independente, que o<br />
sentimento antijudaico no país transformou<br />
a emigração em uma necessidade. Leis antissemitas,<br />
que tinham ficado esquecidas por Família iemenita estudando hebraico.<br />
anos, foram trazidas à tona. Em um tribunal,<br />
as evidências de um judeu não eram aceitas diante das evidências de um muçulmano.<br />
Em 1922, o governo do Iêmen reintroduziu uma antiga lei islâmica que exigia que órfãos<br />
judeus menores de 12 anos fossem convertidos ao islamismo. Quando um judeu decidia<br />
emigrar, ele deveria deixar todas as suas posses. Apesar disso, entre 1923 e 1945, um<br />
total de 17 mil judeus iemenitas deixou o país e foi para a Palestina.<br />
Após a Segunda Guerra Mundial, milhares de outros judeus iemenitas queriam migrar<br />
para a Palestina, mas o Livro Branco dos britânicos ainda estava em vigor, e aqueles que deixassem<br />
o Iêmen acabariam em morros abarrotados de gente em Áden, onde revoltas graves<br />
aconteceram em 1947, depois que as Nações Unidas decidiram pela Partilha da Palestina<br />
em um estado judaico e um estado árabe. Muitos judeus foram mortos, e o bairro judeu foi<br />
completamente incendiado. Apenas em setembro de 1948 as autoridades britânicas em Áden<br />
permitiram que os refugiados fossem para Israel.<br />
Em 1947, após a decisão pela Partilha, revoltosos muçulmanos deram início a uma sangrenta<br />
perseguição em Áden que matou 82 judeus e destruiu centenas de casas judias. A<br />
comunidade judaica em Áden, que contava com 8 mil pessoas em 1948, foi forçada a fugir.<br />
Até 1959, mais de 3 mil já haviam chegado a Israel. Muitos fugiram para os Estados Unidos<br />
e Inglaterra. Atualmente não há judeus remanescentes em Áden.<br />
Na época da fundação de Israel, a comunidade judaica no Iêmen estava economicamente<br />
paralisada, já que a maioria das lojas e negócios judaicos foi destruída. Essa situação cada<br />
vez mais perigosa levou à emigração de toda a comunidade judaica iemenita – quase 50 mil<br />
Judeus – entre junho de 1949 e setembro de 1950, na chamada Operação Tapete Mágico.<br />
Uma emigração em menor escala foi permitida até 1962, quando uma guerra civil trouxe<br />
um final abrupto ao êxodo judaico.<br />
68<br />
PAZ - Book AF.indb 68 01.06.09 15:02:03
ENTENDENDO O ORIENTE MÉDIO<br />
6<br />
MARROCOS<br />
Os judeus apareceram pela primeira vez<br />
no Marrocos há mais de dois milênios, viajando<br />
em parceria com negociantes fenícios.<br />
A primeira colonização dos judeus ocorreu<br />
em 568 a.C., quando Nabucodonosor destruiu<br />
Jerusalém.<br />
Por volta de 1948, essa antiga comunidade<br />
judaica, a maior no norte da África,<br />
contava com 265 mil pessoas. Em junho de<br />
1948, após a constituição do Estado de Israel,<br />
manifestações sanguinárias em Oujda<br />
e Djerada mataram 44 judeus e deixaram<br />
outros feridos. No mesmo ano, um boicote<br />
econômico não oficial foi incitado contra os<br />
judeus marroquinos.<br />
A emigração para Israel começou com a<br />
iniciativa de pequenos grupos que lá chegaram<br />
na época de sua independência. Entretanto,<br />
a maior emigração, que levou mais de<br />
250 mil judeus marroquinos para Israel, foi<br />
induzida por medidas antijudaicas executadas<br />
em resposta à constituição do Estado de<br />
Israel. Em 4 de junho de 1949, ocorreram<br />
manifestações no norte do Marrocos, matando<br />
e ferindo dezenas de judeus. Logo depois,<br />
os judeus começaram a deixar o país.<br />
Entre 1955 e 1957, mais de 70 mil judeus<br />
marroquinos chegaram a Israel. Em 1956, o<br />
Marrocos declarou sua independência, e a<br />
emigração de judeus para Israel foi suspensa.<br />
Em 1959, atividades sionistas tornaram-se<br />
ilegais no país. Durante esses anos, mais de<br />
30 mil judeus fugiram para a França e para<br />
as Américas. Em 1963, a proibição da emigração<br />
para Israel foi revogada, levando mais<br />
de 100 mil para a costa.<br />
Hoje, a comunidade judaica do Marrocos<br />
é menos de 10% de seu tamanho original.<br />
Dos 17 mil judeus que restam, dois terços<br />
vivem em Casablanca.<br />
Menino celebrando seu Bar-mitzva a caminho<br />
da sinagoga com seus familiares e amigos<br />
– Fez, Marrocos, 1940.<br />
Mulheres judias em festa com músicos.<br />
OS JUDEUS NOS PRINCIPAIS PAÍSES DA LIGA ÁRABE<br />
69<br />
PAZ - Book AF.indb 69 01.06.09 15:02:03
SOLUÇÃO PARA A PAZ<br />
LÍBANO<br />
Os judeus têm vivido no Líbano desde os tempos antigos. O rei Herodes, o Grande, no<br />
século I, manteve a comunidade judaica em Beirute.<br />
Durante a primeira metade do século XX, a comunidade judaica desenvolveu-se amplamente<br />
por causa da imigração da Grécia, da Turquia e, depois, da Síria e do Iraque. Em<br />
meados dos anos 1950, aproximadamente 7 mil judeus viviam em Beirute. Em comparação<br />
com os países islâmicos, as regras árabe-cristãs, características da estrutura política do país,<br />
conduziam uma política de relativa tolerância à população judaica. Todavia, por estarem tão<br />
próximos do “Estado inimigo” Israel, os judeus libaneses se sentiram inseguros e, em 1967,<br />
decidiram emigrar para a França, Israel, Itália, Inglaterra e América do Sul.<br />
Em 1974, 1.800 judeus permaneciam no Líbano, a maioria concentrada em Beirute. A<br />
guerra civil muçulmano-cristã destruiu o bairro judeu, danificando muitos lares, negócios<br />
e sinagogas. A maior parte dos judeus libaneses restantes emigrou em 1976, temendo que a<br />
presença da Síria no Líbano impedisse sua liberdade de partir. Hoje, um número estimado<br />
de 150 judeus permanece no Líbano.<br />
Sites<br />
http://www.judeusdospaisesarabes.com.br (em português)<br />
http://en.wikipedia.org/wiki/Dhimmi (em inglês)<br />
Tounée Rosset Formada em Ciências Econômicas pela USP, é membro da Loja Horácio Lafer e foi presidente da<br />
B’nai B’rith de São Paulo. Atualmente faz parte da Comissão de Direitos Humanos da B’nai B’rith.<br />
70<br />
PAZ - Book AF.indb 70 01.06.09 15:02:03
7<br />
SOLUÇÃO PARA A PAZ: DOIS<br />
ESTADOS PARA DOIS POVOS<br />
Eric Calderoni<br />
CAPÍTULO<br />
Dezenas de projetos já foram propostos para o conflito entre Israel e seus<br />
vizinhos. Entre os mais famosos estão a Partilha da Palestina, aprovada pela ONU<br />
em 1947, o Road Map (cuja tradução mais comum é “mapa da estrada”, mas<br />
também poderia ser “caminho para a paz”), os acordos de Oslo, a proposta da<br />
Arábia Saudita, a iniciativa árabe e o acordo de Genebra. Cada partido político ou<br />
facção da região ou governo de outro país do restante do mundo tem sua filosofia<br />
e suas opiniões, que mudam com o decorrer do tempo. No entanto, diante de<br />
tanta diversidade, é possível agrupar as propostas que são mais frequentemente<br />
defendidas hoje em dia em três grandes grupos:<br />
A) Solução de dois Estados para dois povos.<br />
B) Proposta de um Estado para dois povos.<br />
C) Projetos de um Estado para um povo.<br />
Quando se fala em apoiar os palestinos ou a “causa palestina”, muitas pessoas<br />
logo concordam, pois se trata de um povo sofrido. Contudo, é importante saber de<br />
que “causa” estão falando e para o que exatamente estão pedindo seu apoio, ou seja,<br />
qual encaminhamento para o conflito a pessoa está promovendo: a solução de dois<br />
Estados para dois povos, que pode levar à paz; um projeto inviável de um Estado<br />
binacional; ou um projeto extremista de um único Estado para somente um povo?<br />
Passamos agora a comentar cada um desses grupos de propostas.<br />
A) Solução de dois Estados para dois<br />
povos: a solução para a paz<br />
Na solução de dois Estados para dois povos, coexistiriam, lado a lado, dois<br />
países. Um deles seria o Estado de Israel, que manteria maioria judaica; o outro,<br />
um Estado palestino, que abrigaria, em sua maioria, famílias árabes que habitam<br />
a região desde antes da constituição do Estado de Israel.<br />
Esses dois países então poderiam viver em paz, exercendo relações diplomáticas<br />
e comerciais. Livres de ataques terroristas, teriam fronteiras abertas para a<br />
circulação de pessoas e mercadorias, assim como ocorria antes da Segunda Intifada,<br />
entre Gaza, Cisjordânia e Estado de Israel.<br />
71<br />
PAZ - Book AF.indb 71 01.06.09 15:02:03
SOLUÇÃO PARA A PAZ<br />
A solução de dois Estados para dois povos<br />
respeita as necessidades nacionais tanto<br />
dos judeus, que, em razão do antissemitismo<br />
histórico, desejam e necessitam que exista<br />
no mundo pelo menos um país de maioria<br />
judaica, como da população árabe daquela<br />
região.<br />
A solução de dois Estados para dois povos<br />
foi adotada em 1947 pela Organização<br />
das Nações Unidas (ONU), que determinou<br />
a Partilha da Palestina, ou seja, justamente a<br />
divisão do território para a constituição de<br />
um Estado judeu e de outro país árabe na região,<br />
que seria o Estado palestino. Por aquela<br />
resolução da ONU, Jerusalém ficaria sob jurisdição<br />
internacional. A solução para a paz<br />
consiste justamente em aceitar os princípios<br />
gerais daquilo que já foi decidido há mais de<br />
sessenta anos.<br />
A Partilha da Palestina, contudo, não foi<br />
aceita pelos países árabes, que exigiam ficar<br />
com 100% do território. Uma coalizão<br />
árabe atacou Israel assim que os britânicos<br />
deixaram a região com a intenção de destruir<br />
Israel, que no entanto venceu a guerra e<br />
assim conseguiu sobreviver. Ao término do<br />
conflito, que ficou conhecido como Guerra<br />
Resolução da ONU pela Partilha da Palestina<br />
(1947).<br />
Fonte: Revista Shalom, 356 (VIII), 13/2/2006.<br />
da Independência de Israel, os países da Liga Árabe Egito e Jordânia ocuparam os territórios<br />
da Faixa de Gaza e da Cisjordânia, respectivamente, situação que se manteve<br />
entre 1948 e 1967, e decidiram não criar neles o Estado palestino. É por isso que não<br />
foi criado o Estado palestino já naquela época: por falta de interesse dos próprios países<br />
árabes vizinhos.<br />
Hoje, o governo de Israel e o partido palestino Fatah, bem como a maioria dos países<br />
do mundo, apoiam uma solução de dois Estados para dois povos na região. Essa solução foi<br />
aceita nos acordos de Oslo, assinados em 1993 e em 1995 entre Israel e a Organização para<br />
a Libertação da Palestina (OLP), e reiterada na Conferência de Anápolis, em 2007, tanto pelo<br />
governo de Israel como pela Autoridade Nacional Palestina (ANP).<br />
72<br />
PAZ - Book AF.indb 72 01.06.09 15:02:03
ENTENDENDO O ORIENTE MÉDIO<br />
7<br />
Foto: Carla Regina Calderoni<br />
O autor do presente capítulo ostenta bandeiras de Israel e da Palestina pela convivência<br />
pacífica entre os povos em uma solução de dois Estados para dois povos – Memorial da América<br />
Latina, São Paulo (SP), 18/1/2009.<br />
Para a implementação da solução de dois Estados para dois povos, seria necessário definir<br />
as fronteiras exatas. Quanto a isso, sempre haveria motivos para discordâncias. Em primeiro<br />
lugar, teria de se acertar uma base, que, no Road Map, defendido pelo chamado “quarteto”<br />
(comissão composta por representantes dos Estados Unidos, da União Europeia, da Rússia e<br />
da ONU), são as fronteiras de antes da guerra de 1967. Definida a base, passar-se-ia a discutir<br />
as exceções. Não mais se tomaria como base as fronteiras que haviam sido planejadas em<br />
1947, mas sim as que ficaram depois da Guerra da Independência, que são mais ou menos<br />
as mesmas que separam hoje em dia judeus e palestinos. 1<br />
Outra questão referente às fronteiras diz respeito às colônias judaicas na Cisjordânia, que<br />
teriam de ser entregues aos palestinos ou então ter seu território negociado em troca de<br />
compensação territorial em outro local ou compensação de outra espécie com que as partes<br />
concordassem. A Figura 1 apresenta uma solução de dois Estados para dois povos, com as<br />
prováveis fronteiras que teriam.<br />
1 A Resolução 242 da ONU, de 22/11/1967, estabelece o retorno às fronteiras de antes da Guerra dos Seis Dias,<br />
como ficou conhecida a guerra travada em 1967.<br />
SOLUÇÃO PARA A PAZ: DOIS ESTADOS PARA DOIS POVOS<br />
73<br />
PAZ - Book AF.indb 73 01.06.09 15:02:05
SOLUÇÃO PARA A PAZ<br />
Figura 1 – Solução de dois Estados<br />
para dois povos<br />
Montagem sobre mapa fornecido pela<br />
Embaixada de Israel à Revista Shalom.<br />
Os palestinos que hoje habitam a Faixa<br />
de Gaza e a Cisjordânia manter-se-iam<br />
onde estão e aqueles que moram em campos<br />
de refugiados nos países vizinhos seriam<br />
transferidos para o território palestino. Os<br />
palestinos que vivem em outros países teriam<br />
como opção emigrar para o Estado<br />
palestino.<br />
Poderia haver compensação financeira aos<br />
palestinos que perderam suas casas durante<br />
o período de construção do Estado de Israel,<br />
mas não haveria o direito de retornarem aos<br />
locais onde habitavam naquela época. Restaria<br />
ver daí se, em contrapartida, também<br />
teriam direito a compensações os mais de<br />
840 mil judeus que viviam nos países da Liga<br />
Árabe que perderam o que tinham quando<br />
foram expulsos ou tiveram de fugir.<br />
As Colinas de Golã, território militarmente<br />
estratégico, pois pode servir de barreira<br />
natural ou de plataforma para artilharia, que<br />
foram conquistadas da Síria por Israel na<br />
Guerra dos Seis Dias em 1967, provavelmente<br />
seriam devolvidas à Síria em troca de sua<br />
aceitação dessa solução e de seu compromisso<br />
em não atacar Israel.<br />
A solução de dois Estados para dois povos,<br />
baseada nas fronteiras anteriores a 1967, é defendida<br />
por Israel e, atualmente, também pelo<br />
partido palestino Fatah e pela Autoridade Nacional<br />
Palestina (cujo presidente, Mahmoud<br />
Abbas, pertence ao Fatah).<br />
Na solução de dois Estados para dois povos,<br />
tal como aqui exposta, Israel permaneceria<br />
como o único país de maioria judaica<br />
do mundo, enquanto seria constituído na<br />
Faixa de Gaza e na Cisjordânia o 46.º país<br />
de maioria muçulmana.<br />
Uma questão que precisaria ser melhor<br />
detalhada na solução de dois Estados para<br />
dois povos diz respeito à descontinuidade<br />
territorial do Estado palestino a ser criado,<br />
pois hoje a Faixa de Gaza e a Cisjordânia não<br />
têm ligação sem passar por dentro de Israel.<br />
Soluções possíveis para o problema da descontinuidade<br />
territorial poderiam envolver<br />
rodovias e ferrovias especiais, sob autoridade<br />
palestina, para ligarem Gaza e Cisjordânia.<br />
Uma das propostas seria a construção de<br />
um túnel semelhante ao Eurotúnel, que liga<br />
Londres a Paris, que manteria a separação<br />
com Israel mais rígida; outras propostas dão<br />
preferência a obras de superfície por serem<br />
mais baratas e de mais fácil integração com a<br />
malha viária israelense.<br />
Mais uma questão que se coloca é a da segurança<br />
do Estado de Israel em relação ao que<br />
aconteceria se palestinos baseados no território<br />
palestino continuassem atacando Israel e<br />
as autoridades palestinas não fossem eficientes<br />
(ou não tivessem empenho) para impedir.<br />
74<br />
PAZ - Book AF.indb 74 01.06.09 15:02:16
ENTENDENDO O ORIENTE MÉDIO<br />
7<br />
Ainda outra questão é o status de Jerusalém, que é a cidade mais sagrada para o judaísmo<br />
e também é sagrada para o Islã (a terceira cidade mais sagrada depois de Meca e Medina).<br />
Alguns alegam que Jerusalém deveria ficar sob jurisdição internacional, mas Israel considera<br />
que isso não é necessário, pois sempre garantiu aos judeus, aos muçulmanos e aos cristãos<br />
o livre acesso a seus locais sagrados.<br />
Por fim, a questão mais fundamental envolvida na solução de dois Estados diz respeito ao<br />
direito de retorno palestino. Abordaremos essa questão logo após a explicação e análise da<br />
proposta de criação de um Estado para dois povos, que nos ajudará a entendê-la.<br />
B) Proposta da criação de um único Estado para<br />
dois povos (Estado binacional)<br />
Na proposta da criação de um único Estado para dois povos, ou seja, um Estado binacional,<br />
judeus e palestinos viveriam em um mesmo país.<br />
Essa proposta foi defendida pelo grupo palestino Fatah de 1974 a 1988, como forma de garantir<br />
pleno direito de retorno aos palestinos que foram deslocados no contexto da criação do Estado<br />
de Israel. A proposta recebe até hoje apoio de alguns intelectuais e de grupos extremistas.<br />
Para quem vive no Brasil, um país multiétnico com tradição de convivência relativamente<br />
pacífica e tolerante entre pessoas de diferentes etnias, religiões etc., é simples, às vezes, simpatizar<br />
com a ideia, à primeira vista.<br />
A ideia de que judeus e palestinos poderiam se respeitar plenamente, sob o mesmo Estado,<br />
sem qualquer forma de distinção, tem forte apelo emotivo. O cantor John Lennon, dos<br />
Beatles, compôs em 1971 a música “Imagine”. A letra tem uma passagem que, livremente<br />
traduzida, diz: “Imagine que não existam países. Não é difícil. Nenhuma causa pela qual matar<br />
ou pela qual sacrificar a própria vida. E tampouco exista qualquer religião. Imagine todas<br />
as pessoas vivendo a vida em paz. Você pode dizer que eu sou um sonhador, mas eu não sou<br />
o único. Espero que algum dia você se junte a nós. Daí o mundo será unido”.<br />
A letra da música faz sentido, e pouca gente discorda que seria maravilhoso morarmos<br />
num mundo tão unido assim. Todavia, infelizmente, para que o sonho de John Lennon possa<br />
se tornar realidade, se é que algum dia poderá, sua concretização precisaria ser buscada lenta<br />
e gradualmente e enfrentaria muitos problemas práticos ligados à realidade atual.<br />
Não há registro de que duas nacionalidades diferentes, com valores religiosos e culturais<br />
distintos, tenham conseguido compartilhar um mesmo território e estabelecido um governo<br />
unificado estável e democrático.<br />
Existem no mundo diversas experiências nas quais a separação de um país em dois ou<br />
mais foi a única capaz de produzir a paz, quando os Estados bi ou multinacionais estavam<br />
promovendo conflitos étnicos ou tinham potencial para o conflito.<br />
Durante a independência, a Índia, que também era domínio britânico, foi dividida em<br />
dois territórios, ficando a atual Índia, de maioria hindu, separada do Paquistão, de maioria<br />
muçulmana. Não quer dizer que a relação entre os vizinhos seja sempre pacífica, mas, pelo<br />
menos, não há constante guerra civil. Atualmente, o maior conflito entre Índia e Paquistão é<br />
justamente pela disputa da Caxemira, região de maioria muçulmana que ficou sob controle indiano.<br />
Quando se tenta juntar povos diferentes que não desejam ficar juntos, a tendência é a de<br />
conflito, a menos que haja uma ditadura muito poderosa que os possa manter unidos à força.<br />
SOLUÇÃO PARA A PAZ: DOIS ESTADOS PARA DOIS POVOS<br />
75<br />
PAZ - Book AF.indb 75 01.06.09 15:02:18
SOLUÇÃO PARA A PAZ<br />
Na Iugoslávia ocorreu um dos maiores massacres étnicos da história da humanidade na<br />
década de 1990, quando a Sérvia tinha como objetivo tentar manter unida uma região onde<br />
a maioria queria se separar, até que se obteve a paz pela solução de dividi-la em vários países<br />
(Sérvia, Croácia, Eslovênia, Bósnia-Herzegovina, Macedônia, Montenegro e Kosovo). Em<br />
âmbito menor, municípios emancipam-se, mas continuam ligados um ao outro em relações<br />
comerciais e com liberdade de ir e vir entre eles.<br />
O Líbano é um país onde o conflito entre árabes cristãos e árabes muçulmanos leva a<br />
assassinatos de líderes políticos, entre outros problemas.<br />
Outra questão que fica é: sim, no universo imaginário de John Lennon não deveriam<br />
existir fronteiras, mas por que começar justamente com Israel, o único país judeu do mundo,<br />
que tem uma população tão pequena em relação à de seus vizinhos?<br />
A primeira iniciativa de superar as fronteiras com o livre deslocamento dos cidadãos de<br />
várias etnias e religiões tem ocorrido na União Europeia, formada por países que, por séculos,<br />
se enfrentaram. Hoje, após aprender duramente com a devastação da Segunda Guerra<br />
Mundial (1939-1945), e sem lançamento de foguetes e educação pelo ódio, muito esforço<br />
vem sendo feito para superar o desafio cultural das fronteiras. Todavia, franceses, ingleses,<br />
alemães, italianos, espanhóis, portugueses e outros não deixam de promover e manter suas<br />
culturas históricas e seus valores, sem alteração de seu território e fronteiras nacionais.<br />
A função da existência do Estado de Israel é justamente a de representar a autodeterminação<br />
do povo judeu, bem como servir de abrigo e proteger todos os judeus que estejam<br />
sendo perseguidos em outras partes do mundo (além de ameaçados em Israel, por exemplo,<br />
por mísseis e atentados suicidas). Assim, antes de passar a cogitar um Estado para dois povos,<br />
seria necessário construir, de fato, as condições de paz, acabando com as perseguições<br />
étnicas. Daí, sim, quem sabe, as fronteiras perderão parte de seu sentido.<br />
A realidade da perseguição aos judeus é extremamente concreta tanto no passado longínquo<br />
e no passado recente como atualmente. Há pouco mais de apenas sessenta anos, ou<br />
seja, ainda existindo pessoas para contar a história, séculos de perseguições aos judeus na<br />
Europa (e em outros lugares), que haviam tomado a forma de pogroms (massacres), culminaram<br />
num genocídio contra os judeus sem paralelo na história da humanidade, envolvendo<br />
um sistema industrial de extermínio, sem que os judeus representassem qualquer ameaça<br />
aos genocidas, não os tendo atacado, não promovendo guerras, não disputando território.<br />
Esse foi o Holocausto.<br />
Israel foi criado justamente pelo ideal do sionismo, que objetiva existir, no mundo, pelo<br />
menos um país judeu, na Terra de Israel, que possa apoiar, proteger e abrigar os judeus<br />
que venham a ser perseguidos em outros países. Por exemplo, Israel resgatou da Etiópia os<br />
falashas, judeus negros que estavam passando por situação difícil. Ofereceu uma nova oportunidade<br />
aos judeus da antiga União Soviética de viverem com sua identidade judaica. Que<br />
Estado no mundo dará abrigo aos judeus se o antissemitismo continuar agravando-se na<br />
Venezuela, onde as sinagogas são depredadas e pichadas com frases como “Fora, judeus”?<br />
O presidente e a imprensa ligada ao governo reivindicam a “dissolução do Estado de Israel”<br />
e ao mesmo tempo culpam os judeus venezuelanos por muitos dos males que ocorrem no<br />
país, propondo boicotes contra os judeus que lá vivem.<br />
Temos episódios contínuos de discriminação e expulsão de judeus dos países árabes. Estamos<br />
diante de um país como o Irã, que nega que o Holocausto tenha existido e propaga<br />
mentiras conspiratórias contra os judeus, ao mesmo tempo que constrói sua bomba atô-<br />
76<br />
PAZ - Book AF.indb 76 01.06.09 15:02:18
ENTENDENDO O ORIENTE MÉDIO<br />
7<br />
mica. Em diversos países, inclusive no Brasil, tem havido alguns atos de vandalismo contra<br />
sinagogas, como em Santo André, Várzea Paulista e Campinas em 2006 e em Passo Fundo<br />
em 2009. Antes de pensar em descaracterizar a existência de um lar nacional judaico, seria<br />
necessário acabar com esse tipo de discriminação e intolerância. Se o Estado de Israel<br />
contemporâneo existisse de forma independente antes, não teriam perecido 6 milhões de<br />
judeus na Europa durante o Holocausto.<br />
A grande maioria dos judeus é contrária à solução de um Estado para dois povos em<br />
Israel por, em termos práticos, isso acabar implicando a destruição do Estado de Israel, por<br />
meio da chamada “bomba demográfica”.<br />
É que não existe nenhum genocídio ocorrendo na região, muito ao contrário: há grande<br />
crescimento da população palestina, maior do que o crescimento da população israelense.<br />
Somando a população palestina residente em Gaza (1,5 milhão de pessoas), na Cisjordânia<br />
(2,5 milhões), palestinos espalhados pelo mundo, sobretudo em países vizinhos (entre 4,5<br />
milhões e 5 milhões), com a população de palestinos cidadãos de Israel (1,4 milhão), totalizam-se<br />
cerca de 10 milhões de palestinos, o que é maior do que a população de judeus<br />
israelenses (5,4 milhões) 2 .<br />
População de Israel<br />
(setembro de 2006)<br />
Judeus 5.393.400 (76%)<br />
Árabes muçulmanos 1.267.200 (18%)<br />
Árabes cristãos 149.100 (2%)<br />
Outros 310.000 (4%)<br />
TOTAL 7.166.700 (100%)<br />
Fonte: Israeli CBS 2007.<br />
População palestina (2004)<br />
Cisjordânia 2.517.047 (24,5%)<br />
Faixa de Gaza 1.499.369 (14,5%)<br />
Árabes israelenses (cidadãos 1.436.300 (14%)<br />
de Israel)<br />
Países árabes 4.350.685 (42%)<br />
Outros países 542.708 (5%)<br />
TOTAL 10.346.109 (100%)<br />
Fonte: PCBS, Mid-year 2004 estimates, Statistical Abstract,<br />
n. 6, 2005.<br />
Além disso, os casais palestinos têm mais filhos em média do que os casais judeus de Israel.<br />
O crescimento médio da população de judeus israelenses tem sido de 1,5% ao ano, e a<br />
dos árabes israelenses, 2,6%. 3 Assim, a diferença populacional (maior para o lado palestino)<br />
aumenta a cada ano.<br />
Portanto, um Estado binacional teria maioria palestina e não judaica. Não existiria nenhum<br />
país com maioria judaica no mundo, e teríamos o 46.º país com maioria muçulmana.<br />
Os judeus ficariam sem pátria, seriam um povo que não desfrutaria de seu direito à autodeterminação.<br />
2 Note que a população total de Israel é menor do que a da cidade de São Paulo, que é de aproximadamente 11<br />
milhões de habitantes, sem contar a população da Grande São Paulo.<br />
3 Veja as fontes dos dados no site da Sociedade Acadêmica Palestina para o Estudo de Assuntos Internacionais:<br />
http://www.passia.org/palestine_facts/pdf/pdf2008/Population.pdf.<br />
SOLUÇÃO PARA A PAZ: DOIS ESTADOS PARA DOIS POVOS<br />
77<br />
PAZ - Book AF.indb 77 01.06.09 15:02:18
SOLUÇÃO PARA A PAZ<br />
Na Figura 2a está representada a ideologia<br />
que prega que um único Estado binacional<br />
não seria nem judaico nem árabe, possibilitando<br />
a convivência pacífica e a prosperidade<br />
de ambos os povos.<br />
Figura 2a – Descrição utópica do<br />
Estado binacional<br />
Já na Figura 2b abaixo está representado<br />
que, na prática, esse seria apenas mais um<br />
país de maioria árabe como tantos outros<br />
que existem, deixando os judeus sem nenhum<br />
país no mundo de maioria judaica e<br />
promovendo conflitos internos entre a maioria<br />
árabe e a minoria judaica no país.<br />
Figura 2b – Realidade prática de<br />
um Estado erroneamente chamado<br />
de “binacional”<br />
Diante da quantidade de conflitos envolvendo muçulmanos hoje no mundo, diante do<br />
crescente aumento da porcentagem de fundamentalistas entre os muçulmanos e diante do fato<br />
de o Hamas ter sido eleito pelos palestinos, não há razão que permita assegurar aos judeus que<br />
a maioria árabe-muçulmana de seu país binacional não votaria em leis prejudiciais à minoria<br />
judaica e muito menos que daria plena garantia de segurança aos judeus de todo o mundo<br />
contra eventuais perseguições.<br />
A não aceitação da solução de um único Estado binacional não implica discriminação;<br />
significa apenas a crença de que cada um deva ter sua independência. Por exemplo, é como<br />
defender que cada família tenha a própria casa, que seja seu lar; isso não quer dizer que as<br />
78<br />
PAZ - Book AF.indb 78 01.06.09 15:02:18
ENTENDENDO O ORIENTE MÉDIO<br />
7<br />
famílias não possam conviver bem entre si nas praças do bairro, que os vizinhos não possam<br />
se dar bem, e até é provável que um vizinho seja bem-vindo na casa do outro para uma<br />
celebração ou que se ajudem mutuamente em caso de necessidade.<br />
A ideia de um Estado de maioria judaica em Israel não significa que o país seja intolerante<br />
com as demais culturas. Embora evoque também aspectos ligados à religiosidade, a<br />
Declaração de Independência justifica o Estado de Israel não em função da religião, mas sim<br />
evocando o direito de autodeterminação, comum a todos os povos. 4<br />
Israel inclui e acolhe todas as crenças, etnias e orientações sexuais, como no Brasil, independentemente<br />
de cada cidadão ser ou não mais ou menos religioso e da religião que ele<br />
siga ou não siga. No Brasil, alguns feriados de importância para o cristianismo são respeitados,<br />
em tribunais e câmaras de vereadores se afixam crucifixos e a festa junina recebe o<br />
nome de um santo, São João. Isso não faz do Brasil um país religioso nem muito menos um<br />
país racista, independentemente de poder existir racismo por outros motivos e de muitas<br />
pessoas serem contrárias mesmo a essas pequenas ligações entre Estado e religião.<br />
O Estado de Israel, embora respeite o dia semanal do descanso (Shabat) e algumas regras<br />
sobre alimentação e as festas religiosas judaicas, é um país que garante plena liberdade religiosa<br />
e de culto, diferentemente de alguns países muçulmanos (nem todos), que impõem<br />
a Sharia (lei islâmica).<br />
4 Seguem trechos da Declaração de Independência de Israel:<br />
“A terra de Israel é o local de origem do povo judeu. Aqui a sua identidade espiritual, política e religiosa foi moldada.<br />
Aqui eles primeiro atingiram a formação de um Estado, criaram valores culturais de significância nacional<br />
e universal e deram ao mundo o eterno Livro dos Livros. Depois de serem forçosamente exilados de sua terra, o<br />
povo conservou consigo sua fé durante sua Dispersão e nunca deixou de rezar e sonhar com o retorno para sua<br />
terra e com a restauração, lá, de sua liberdade política.<br />
[...]<br />
Este é o direito natural de o povo judeu ser mestre de seu próprio destino, como todas as outras nações, em seu<br />
próprio Estado soberano.<br />
[...] por virtude de nossos direitos naturais e históricos e pela força da resolução da Assembleia Geral das Nações<br />
Unidas, aqui declaramos o estabelecimento do Estado judeu em Eretz-Israel, a ser conhecido como Estado de<br />
Israel.<br />
O Estado de Israel [...] patrocinará o desenvolvimento do país para o benefício de todos os seus habitantes; será<br />
baseado na liberdade, justiça e paz como imaginado pelos profetas de Israel; garantirá liberdade de religião, consciência,<br />
língua, educação e cultura; respeitará os lugares sagrados de todas as religiões; e será fiel aos princípios<br />
da Ata das Nações Unidas.<br />
O Estado de Israel está preparado para cooperar com agências e representantes das Nações Unidas a implementar<br />
a resolução da Assembleia Geral de 29 de novembro de 1947 [...].<br />
[...]<br />
Nós fazemos um apelo – em meio ao duro ataque lançado contra nós há meses – aos habitantes árabes do Estado<br />
de Israel para manter a paz e participar da construção do Estado na base de igual e completa cidadania e através<br />
de representação em todas as suas instituições provisórias e permanentes.<br />
Nós estendemos nossa mão a todos os Estados vizinhos e seus povos, numa oferta de paz e boa vizinhança, e<br />
apelamos a eles para o estabelecimento de laços de cooperação e ajuda mútua com o soberano povo judeu, estabelecido<br />
em sua própria terra. O Estado de Israel está preparado para fazer a sua parte em um esforço comum<br />
para o desenvolvimento de todo o <strong>Oriente</strong> Médio.<br />
[...]”<br />
SOLUÇÃO PARA A PAZ: DOIS ESTADOS PARA DOIS POVOS<br />
79<br />
PAZ - Book AF.indb 79 01.06.09 15:02:21
SOLUÇÃO PARA A PAZ<br />
Presença da religião na Constituição de países cujo maior<br />
grupo religioso é o muçulmano<br />
Da mesma forma que no Brasil, em Israel as minorias integram-se à vida nacional com<br />
todos os direitos. Israel abriga ampla minoria de 20% da população com cidadania israelense<br />
sendo árabe. Esses árabes com cidadania israelense pertencem às famílias que permaneceram<br />
em território israelense no contexto de criação do Estado de Israel e seus descendentes.<br />
Um quinto, ou seja, 20% dos cidadãos de Israel, é árabe, e a bancada árabe no Parlamento,<br />
bastante volumosa, influencia com grande peso as decisões.<br />
Em termos comparativos, existem 45 países do mundo com maioria muçulmana; em<br />
35 deles mais de 80% da população é muçulmana, atingindo mais de 95% em 21. Em<br />
boa parte desses países, os judeus são ou perseguidos ou tolerados como dhimmis, ou seja,<br />
cidadãos de segunda classe com menos direitos e mais deveres do que os muçulmanos.<br />
Além de Israel, não existe nenhum país no mundo que chegue sequer a 2% de população<br />
judaica.<br />
A ideia de um Estado binacional hoje não recebe apoio de nenhuma parcela significativa<br />
nem da população judaica nem da palestina. Quase sempre a proposta de um único Estado<br />
para dois povos é defendida somente por pessoas que não vivem lá, pois quem vive lá não<br />
quer isso. A proposta de um único Estado para dois povos não é colocada nem pela coalizão<br />
do governo de Israel, nem por nenhum dos principais partidos políticos palestinos, que são<br />
o Fatah e o Hamas, nem pelos grupos extremistas de nenhum dos dois lados, nem pelos<br />
países árabes. No entanto, a ideia de um único Estado para os dois povos circula com certa<br />
frequência no Brasil.<br />
80<br />
PAZ - Book AF.indb 80 01.06.09 15:02:21
ENTENDENDO O ORIENTE MÉDIO<br />
7<br />
A reivindicação de um direito de retorno palestino:<br />
grande entrave para a paz<br />
O chamado “direito de retorno” palestino consiste na reivindicação de que Israel deveria<br />
permitir o retorno de todos os palestinos que deixaram o território de Israel durante seu<br />
processo de independência, concedendo-lhes cidadania israelense.<br />
O direito de retorno equivaleria à solução de um Estado binacional, caso fosse criado apenas<br />
um Estado na Terra de Israel, o que já seria injusto, pelas razões expostas anteriormente.<br />
No entanto, para aumentar a injustiça, muitos grupos alegam que se deveriam criar dois<br />
Estados: um deles seria exclusivamente palestino e o outro, Israel, concederia direito de<br />
retorno aos palestinos. Ou seja, trata-se de um projeto de dois Estados no qual, além de ser<br />
criado um Estado palestino, o Estado de Israel se tornaria binacional.<br />
É muito importante frisar que a ideia do direito de retorno na solução de dois Estados<br />
não consiste no direito dos palestinos de retornarem ao Estado palestino, mas sim dos palestinos<br />
de retornarem ao Estado de Israel. Por isso, alguns críticos chamam essa proposta de<br />
“um Estado e meio” para os palestinos, que ficariam com 100% do próprio Estado e ainda<br />
compartilhariam do Estado vizinho.<br />
Outra questão a considerar é o direito de retorno ou de compensação para os judeus que<br />
foram expulsos de países da Liga Árabe, totalizando, na época, cerca de 840 mil pessoas 5 . O<br />
retorno desses judeus, mesmo se aceitassem, não alteraria o perfil das sociedades dos países<br />
de sua origem nem de seus sistemas de governo existentes.<br />
Indo ainda mais fundo, no entanto, devemos nos lembrar da demografia. Assim, chamar<br />
essa solução de “um Estado e meio” seria ainda irreal, pois suporia condições de igualdade<br />
entre judeus e palestinos no Estado de Israel. Pelo que já foi apresentado, todavia, ficou claro<br />
que seria provável que em pouco tempo o Estado de Israel se tornasse também um país de<br />
maioria palestina.<br />
Portanto, seria “dois Estados de maioria palestina” a expressão que melhor descreveria<br />
as consequências práticas do projeto de dois Estados com direito de retorno palestino ao<br />
Estado de Israel.<br />
A reivindicação do direito de retorno dos palestinos ao Estado de Israel é um seriíssimo entrave<br />
à paz, pois isso eliminaria a ideia de partilha, descaracterizando o Estado de Israel como<br />
lar nacional judaico. Na proposta de um Estado palestino mais um Estado de Israel descaracterizado<br />
pelo direito de retorno palestino a seu território, a definição de Israel como Estado<br />
judeu e democrático ficaria impossível, uma vez que os palestinos seriam maioria da população,<br />
de tal forma que o Estado só poderia se manter judaico se deixasse de ser democrático, o<br />
que seria inconcebível, deixando, assim, de ser judaico. Os palestinos ficariam, portanto, com<br />
dois Estados para seu povo.<br />
A solução coerente com a filosofia de dois Estados para dois povos inclui frequentemente<br />
indenizações para os palestinos que perderam suas casas. Com essa indenização, eles poderiam<br />
construir uma bela casa e prosperar no país palestino, mas não teriam o direito de retornar ao<br />
local original que habitavam no passado caso este passasse a pertencer ao Estado de Israel.<br />
5 http://www.judeusdospaisesarabes.com.br.<br />
SOLUÇÃO PARA A PAZ: DOIS ESTADOS PARA DOIS POVOS<br />
81<br />
PAZ - Book AF.indb 81 01.06.09 15:02:22
SOLUÇÃO PARA A PAZ<br />
É muito importante estarmos atentos a esse “detalhe”. Alguns grupos árabes dizem que<br />
“reconhecem, sim”, o direito de existir de Israel e a solução de dois Estados. No entanto,<br />
muitos deles reivindicam o direito de retorno dos palestinos ao território israelense, com<br />
cidadania israelense; portanto, seu reconhecimento do direito de existir de Israel é apenas<br />
fachada, já que, se concedido o direito de retorno tal como eles reivindicam, seu projeto<br />
implica manter somente Estados de maioria árabe-muçulmana no <strong>Oriente</strong> Médio.<br />
As negociações entre Israel e a Autoridade Nacional Palestina-ANP fracassaram no ano<br />
2000 principalmente pelo fato de os palestinos terem insistido em seu direito de retorno ao<br />
território de Israel (embora tenha havido também outras razões), apesar de 95% das solicitações<br />
territoriais terem sido aceitas por Israel.<br />
De 1993 a 1995, o líder da Organização para a Libertação da Palestina-OLP, Yasser Arafat,<br />
firmou com Israel os acordos de Oslo, reconhecendo o direito de existir de Israel e aceitando<br />
uma solução com dois Estados. Como decorrência desses acordos, houve cinco anos de<br />
relativa paz entre palestinos e israelenses e a construção dos alicerces do Estado palestino,<br />
com a fundação da Autoridade Nacional Palestina (espécie de presidência da república palestina<br />
que estava ainda sendo criada) e a transferência gradual do controle dos territórios<br />
palestinos para ela.<br />
No entanto, em 2000, na hora de detalhar como funcionaria a solução de dois Estados,<br />
Arafat, na época presidente da ANP, insistiu no direito de retorno dos palestinos ao Estado<br />
judeu, destruindo, assim, o processo de paz e levando a uma nova onda de conflitos (chamada<br />
de Segunda Intifada), e, em razão dessa sua insistência, até hoje não pôde ser criado o<br />
Estado palestino, que melhoraria muito a vida dos palestinos. 6<br />
Apenas na Conferência de Anápolis, realizada em 2007 com a presença do Brasil, após o<br />
falecimento de Arafat, a Autoridade Nacional Palestina aceitou conversar sobre a possibilidade<br />
de concordar com a existência de Israel com maioria judaica convivendo em paz ao lado<br />
do Estado palestino, ou seja, aceitou conversar sobre a possibilidade de trocar o direito de<br />
retorno por alguma forma de compensação.<br />
No entanto, não há ainda consenso tranquilo sobre a questão, proliferando documentários,<br />
cartazes, cartas e documentos em que palestinos continuam insistindo no direito de<br />
retorno ao Estado de Israel, com cidadania israelense e não palestina.<br />
6 Veja histórico detalhado da busca de Israel pela paz no livro A Busca de Israel pela Paz, disponível gratuitamente em:<br />
http://www.ajc.org/atf/cf/%7B42D75369-D582-4380-8395-D25925B85EAF%7D/A_Busca_de_Israel_pela_<br />
Paz_2007.<br />
82<br />
PAZ - Book AF.indb 82 01.06.09 15:02:22
ENTENDENDO O ORIENTE MÉDIO<br />
7<br />
A Figura 3a mostra a aparência mais superficial<br />
da divisão entre dois Estados com<br />
direito de retorno palestino a Israel. Nessa<br />
representação ingênua, Israel é desenhado<br />
como se fosse continuar como Estado judeu.<br />
Essa figura é idêntica à Figura 1, exceto pelo<br />
ponto de interrogação na legenda.<br />
Figura 3a – Projeto de dois Estados<br />
A Figura 3b mostra que no projeto de<br />
retorno palestino a Israel, Israel tornar-se-ia<br />
um Estado binacional, enquanto os palestinos<br />
teriam um Estado somente deles constituído<br />
na Faixa de Gaza e na Cisjordânia.<br />
Figura 3b – Projeto de dois Estados<br />
com direito de retorno dos<br />
palestinos a Israel – versão otimista<br />
SOLUÇÃO PARA A PAZ: DOIS ESTADOS PARA DOIS POVOS<br />
83<br />
PAZ - Book AF.indb 83 01.06.09 15:02:22
SOLUÇÃO PARA A PAZ<br />
Por fim, a Figura 3c revela as consequências<br />
práticas do projeto de constituição de<br />
dois Estados com direito de retorno dos palestinos<br />
a Israel. O nome “Israel” não aparece<br />
no mapa nem na legenda, pois provavelmente<br />
seria trocado pela maioria árabe do país.<br />
Figura 3c – Consequência do<br />
projeto de dois Estados com direito<br />
de retorno dos palestinos a Israel<br />
Projeto de três Estados<br />
Existe uma proposta, hoje em desuso,<br />
conhecida como “solução de três Estados”,<br />
que dá conta da descontinuidade territorial,<br />
propondo que Gaza fique controlada pelo<br />
Egito, e a Cisjordânia, pela Jordânia, que são<br />
países árabes, tendo a Jordânia sido criada<br />
em 1946, ou seja, mais ou menos na mesma<br />
época que Israel, ficando com 70% do<br />
território que correspondia à Palestina, sob<br />
Mandato Britânico.<br />
Note-se que, nessa solução, os três Estados<br />
seriam Israel, Jordânia e Egito, isto é, não<br />
se criaria um Estado palestino. A chamada<br />
“solução de três Estados”, hoje muito pouco<br />
aceita por qualquer grupo, considera que<br />
não existiria um povo palestino, mas sim<br />
que, em vez disso, sua identidade seria simplesmente<br />
árabe, não importando em qual<br />
Estado os palestinos ficariam, desde que fosse<br />
um Estado árabe, ou seja, um Estado árabe<br />
não necessariamente apenas palestino, e não<br />
necessariamente o mesmo Estado incluiria<br />
tanto a Faixa de Gaza como a Cisjordânia.<br />
A solução de três Estados fazia mais sentido<br />
algumas décadas atrás, lembrando que foi<br />
a Jordânia, e não Israel, que ocupou a Cisjordânia<br />
entre 1949 e 1967, e que foi o Egito e<br />
não Israel que ocupou Gaza durante aqueles<br />
mesmos anos. Se Jordânia e Egito tivessem<br />
tido interesse, ou se houvesse reivindicação<br />
dos palestinos nesse sentido naquela época, o<br />
Estado palestino poderia ter sido criado pelo<br />
Egito e pela Jordânia a qualquer tempo.<br />
Hoje em dia, a situação é inversa: não parece<br />
haver interesse do Egito e da Jordânia de<br />
receberem como cidadãos os palestinos da<br />
Faixa de Gaza e da Cisjordânia, e existe um<br />
movimento organizado entre os palestinos<br />
pela criação de um Estado palestino. Por essas<br />
razões, atualmente muito pouco se ouve<br />
falar dessa proposta de anexar Gaza ao Egito<br />
e a Cisjordânia à Jordânia.<br />
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PAZ - Book AF.indb 84 01.06.09 15:02:26
ENTENDENDO O ORIENTE MÉDIO<br />
7<br />
Outra solução de três Estados – um deles um Estado de maioria judaica (Israel) e dois<br />
Estados palestinos independentes, um em Gaza e outro na Cisjordânia – apenas começou a<br />
ser colocada publicamente em 2009, quando o Fatah acusou o Hamas de querer promover<br />
um separatismo na Palestina, ou seja, tornar Gaza e Cisjordânia independentes uma da outra,<br />
de tal forma que o Hamas ficasse com o controle sobre a Faixa de Gaza e o Fatah com o<br />
controle sobre a Cisjordânia, perenizando o que vem ocorrendo.<br />
Hoje o Fatah governa na Cisjordânia e o Hamas, em Gaza. Tal divisão resultou do acordo de<br />
paz entre os dois partidos posterior à onda de violência causada pelo Hamas, que perseguiu a<br />
oposição assim que venceu as últimas eleições, em 2005. O presidente da Autoridade Nacional<br />
Palestina, Mahmoud Abbas, do Fatah, afirma que não aceita qualquer separatismo 7 .<br />
C) Projetos de um Estado para somente um povo<br />
As soluções de um Estado para somente um dos povos apenas podem ser realizadas por<br />
meio de uma guerra total e não de negociações pacíficas, pois implicam que o outro povo<br />
interessado no mesmo território seja eliminado ou expulso.<br />
Essas soluções são defendidas por radicais extremistas dos dois lados, geralmente motivados<br />
por um fundamentalismo religioso, mas em alguns casos também por pessoas não<br />
muito religiosas. Do lado israelense, existem radicais que têm uma interpretação fundamentalista<br />
da Torá (cinco livros de Moisés, do Antigo Testamento), considerando que toda a Terra<br />
de Israel foi prometida por Deus ao povo hebreu. Eles utilizam a expressão “Grande Israel”<br />
para designar o território que consideram deveria ser o do Estado de Israel, que englobaria<br />
também a Cisjordânia e a Faixa de Gaza.<br />
É preciso não perder de vista as dimensões reais dos territórios em questão. O Estado de<br />
Israel tem hoje 20.700 km 2 , sendo menor do que o Estado de Sergipe, e pode ser percorrido<br />
de ponta a ponta em nove horas, de carro, sendo circundado por países árabes, com mais<br />
de 7 milhões de km 2 .<br />
Portanto, para os judeus europeus do século XIX e início do XX, era compreensível o<br />
pensamento sobre a Grande Israel, pois não conheciam bem quem habitava a região, muitos<br />
acreditando que ela era pouco habitada e não estava ainda dividida da forma como o foi a<br />
partir da Primeira Guerra Mundial, de tal modo que não existia uma identidade palestina<br />
como foi se formando no processo de separação entre os países árabes da região. Ou seja,<br />
uma divisão da terra em países árabes ou país árabe e país judeu justificaria que o minúsculo<br />
Israel, mesmo que “Grande” ainda sendo pequeno, pudesse ficar para um povo, enquanto<br />
todo o resto do <strong>Oriente</strong> Médio ficaria sob controle árabe.<br />
Já hoje em dia o pensamento sobre a Grande Israel perde adesão entre a grande maioria dos<br />
judeus, tanto por razões pacifistas negociais históricas, baseadas no princípio de abrir mão de<br />
terras em troca de paz, como já ocorreu com a Jordânia e o Egito, quanto pelo fato de não se<br />
desejar incorporar uma maioria não judaica com cidadania israelense, nem se desejar criar<br />
cidadãos de segunda classe (algo análogo, por exemplo, aos dhimmis do mundo muçulmano).<br />
Como os palestinos são discriminados pelos países árabes vizinhos, não sendo aceitos por eles<br />
em seu território com cidadania, a solução real é que venham a constituir o próprio Estado.<br />
7 Veja notícia da denúncia do Fatah de que o Hamas deseja promover separatismo na Palestina em:<br />
http://www.estadao.com.br/internacional/not_int311272,0.htm.<br />
SOLUÇÃO PARA A PAZ: DOIS ESTADOS PARA DOIS POVOS<br />
85<br />
PAZ - Book AF.indb 85 01.06.09 15:02:28
SOLUÇÃO PARA A PAZ<br />
O fato é que tais radicais hoje são ínfima minoria em Israel. Desde a Declaração de Independência,<br />
Israel já afirmou seu compromisso com a Partilha da Palestina. Nos acordos de<br />
Oslo, a intenção de promover dois Estados para dois povos foi reafirmada, e Israel começou<br />
a tomar os passos nessa direção. Em 2005, como forma de promover a paz, Israel decidiu<br />
entregar a Faixa de Gaza ao controle palestino, desmantelando todas as colônias israelenses<br />
que haviam sido estabelecidas nela.<br />
O problema foi que, assim que Israel tomou essas medidas em favor da constituição do<br />
Estado palestino, a população palestina elegeu o partido Hamas, que tem como bandeira<br />
de luta a destruição do Estado de Israel, ou seja, fundar um Estado islâmico em toda a Terra<br />
de Israel. Assim que empossado, o Hamas começou a perseguir, prender, torturar e matar<br />
membros do partido de oposição Fatah pelo fato de ele ser atualmente favorável a firmar a<br />
paz com Israel por meio de uma solução de dois Estados para dois povos. Israel estabeleceu<br />
um bloqueio econômico e logístico para impedir que armas e dinheiro chegassem ao<br />
Hamas, enquanto este constantemente lançava, contra o sul de Israel, mísseis cada vez mais<br />
sofisticados, de maior alcance.<br />
Grupos terroristas fundamentalistas como o Hamas, o Hezbollah e a Jihad Islâmica são<br />
os mais famosos na luta pela criação de um Estado islâmico em toda a Terra de Israel. O Irã,<br />
país que financia esses grupos terroristas, também defende a destruição do Estado de Israel<br />
e faz propaganda para afirmar que não houve matanças de judeus durante a Segunda Guerra<br />
Mundial.<br />
As trágicas incursões das Forças de Defesa de Israel ao Líbano em 2006 e à Faixa de Gaza<br />
na virada de 2008 para 2009 foram necessárias para combater, respectivamente, o Hezbollah<br />
e o Hamas, que havia anos estavam lançando mísseis contra a população civil em<br />
Israel. Grupos como esses atrapalham as negociações entre os palestinos que desejam a paz e<br />
Israel, impedindo a criação do Estado palestino que reconheça a legitimidade da existência<br />
de Israel como Estado judeu.<br />
Além disso, mentem, distorcem e obscurecem ao se fazerem de vítimas perante a imprensa.<br />
Durante a incursão ao Líbano, dezenas de fotos de supostas atrocidades que teriam<br />
sido cometidas por Israel foram lançadas na mídia, o que um mês depois começou a se<br />
revelar falso 8 . Em 2008, Israel foi acusado de bombardear uma escola da ONU em Gaza, e<br />
novamente um mês depois a ONU confirmou que nunca existiu tal ataque 9 ; já o Hamas,<br />
sim, roubou alimentos da ajuda humanitária da ONU 10 . O Hamas mantém os palestinos<br />
na miséria, como forma de conseguir apoio ao oferecer uma alternativa radical e distribuir<br />
cestas básicas para o povo.<br />
A luta desses grupos não é apenas contra Israel e contra os judeus, mas também contra<br />
todas as pessoas que não seguem a religião islâmica de maneira estrita. Os grupos fundamentalistas<br />
islâmicos são contrários ao estilo de vida “ocidental”, desejando instalar a Sharia<br />
(lei muçulmana), e cultuam o suicídio como forma de atingir seus objetivos políticos<br />
e encontrar lugar no paraíso pós-morte. Grupos fundamentalistas islâmicos promoveram<br />
um atentado a bomba na Argentina, derrubaram prédios comerciais com aviões nos Estados<br />
Unidos (o famoso “11 de Setembro”), explodiram o metrô lotado de passageiros em Ma-<br />
8 Veja exemplos de fotos falsas usadas na mídia para exagerar e distorcer fatos sobre os contra-ataques israelenses<br />
contra grupos extremistas islâmicos que usam civis como escudos humanos em: http://www.maozisrael.com.<br />
br/shira/especial/Informativo_Setembro.pdf.<br />
9 http://www.haaretz.com/hasen/spages/1061189.html.<br />
10 http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2009/02/090204_gaza_consfisco_rc.shtml.<br />
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PAZ - Book AF.indb 86 01.06.09 15:02:28
ENTENDENDO O ORIENTE MÉDIO<br />
7<br />
dri, na Espanha, e mataram dezenas de inocentes em ações em Mumbai, na Índia, em 2008,<br />
apenas para dar alguns exemplos. Será que o Brasil será alvo? Há denúncias de que existe em<br />
operação um campo de treinamento terrorista na região da Tríplice Fronteira para promover<br />
atentados sobretudo no Brasil e na Argentina. Cabe aos governos da região tomarem as medidas<br />
em tempo, investigando e atuando para evitar ações terroristas islâmicas.<br />
Observe o contraste entre a Declaração de Independência de Israel, citada em nota de<br />
rodapé, e a carta constitutiva (estatuto) do Hamas, cujo artigo 7.º dispõe: “O dia do juízo<br />
final não virá até que os muçulmanos lutem contra os judeus (matando os judeus), quando<br />
os judeus se esconderão atrás de pedras e árvores. As pedras e árvores dirão ó, muçulmanos,<br />
ó Abdullah, tem um judeu atrás de mim, venha e mate-o...”.<br />
Infelizmente, existem fanáticos no mundo inteiro que defendem a destruição do Estado<br />
de Israel. Alguns deles são muçulmanos fundamentalistas; outros, grupos socialistas com<br />
uma interpretação equivocada da situação, que pensam que apoiar os interesses do fundamentalismo<br />
islâmico contribuiria para o enfraquecimento do sistema capitalista global.<br />
A existência de tantas pessoas contra Israel e contra os judeus somente reforça a necessidade<br />
de um lar nacional judaico que possa servir de abrigo e proteção contra as pessoas que<br />
odeiam e desejam destruir os judeus e/ou impedi-los de realizar seus direitos humanos,<br />
como o direito à autodeterminação.<br />
Veja, por exemplo, foto de uma manifestação realizada no Masp, em São Paulo, em 11 de<br />
janeiro de 2009, na qual militantes árabes e grupos políticos extremistas brasileiros reivindicam<br />
a destruição do Estado de Israel queimando bandeiras do país, em:<br />
http://noticias.uol.com.br/album/090111protestos_album.jhtm?abrefoto=14.<br />
SOLUÇÃO PARA A PAZ: DOIS ESTADOS PARA DOIS POVOS<br />
87<br />
PAZ - Book AF.indb 87 01.06.09 15:02:28
SOLUÇÃO PARA A PAZ<br />
A importância da educação<br />
Muito do extremismo que causa o conflito na região do <strong>Oriente</strong> Médio tem origem na<br />
educação, pela qual se transmite o ódio às novas gerações. A constituição de dois Estados para<br />
dois povos é condição necessária para a paz, mas<br />
não suficiente. Podem bem existir dois Estados<br />
sob constante tensão, como foi o relacionamento<br />
entre Israel e seus vizinhos árabes até<br />
pelo menos 1978. Outra condição necessária<br />
para a paz é que se eduquem as crianças para<br />
cultivá-la. Com a divisão territorial em dois<br />
Estados que respeitem cada um o modo de ser<br />
de seus respectivos povos e uma educação para<br />
a paz, teremos as condições suficientes para o<br />
desenvolvimento de uma paz duradoura.<br />
Os princípios judaico-cristãos pregam a<br />
valorização da vida e o amor ao próximo. No<br />
entanto, segundo interpretações literais do<br />
Corão, o livro sagrado muçulmano, é dever<br />
de todo muçulmano lutar pelo que chamam<br />
de “guerra santa” (jihad, em árabe), que é o<br />
esforço por converter o mundo todo ao Islã e<br />
matar quem não aceitar se converter. Existem<br />
também interpretações do Corão que veem<br />
nele uma mensagem de amor e harmonia com<br />
outros povos, mas têm crescido os adeptos da<br />
interpretação que vê no livro um chamado para<br />
a guerra total. Grupos como o Hamas, o Hezbollah<br />
e a Jihad Islâmica utilizam-se de escudos<br />
humanos nas guerras, ou seja, escondem-se<br />
em meio à população civil para causar o maior<br />
número de notícias na mídia sobre mortes de<br />
palestinos e treinam terroristas para cometer<br />
atentados suicidas. Muitas crianças palestinas<br />
são desde cedo doutrinadas a odiar Israel e os<br />
judeus e a realizar treinamentos militares 11 .<br />
11 Veja vídeo sobre treinamento das crianças palestinas pelo Hamas em:<br />
http://www.youtube.com/watch?v=TkwthDpeZWk.<br />
88<br />
PAZ - Book AF.indb 88 01.06.09 15:02:28
ENTENDENDO O ORIENTE MÉDIO<br />
7<br />
O ratinho Farfour ensina às crianças que se deve atirar com metralhadoras contra Israel e os<br />
judeus, no episódio número 103 do programa Os Pioneiros do Amanhã, exibido na emissora<br />
Al-Aqsa, a TV do Hamas.<br />
O Hamas, partido político palestino, classificado como organização terrorista, que causou<br />
a incursão de Israel em Gaza, possui um canal de televisão em que exibe programas<br />
infantis, além de usar a internet e uma revista na Grã-Bretanha, para ensinar às crianças o<br />
ódio aos judeus e glorificar o terrorismo com ataques suicidas. Em um desses programas,<br />
chamado Os Pioneiros do Amanhã, o personagem Farfour, um ratinho muito semelhante ao Mickey<br />
Mouse, ensina à criançada que se deve morrer combatendo os judeus como forma de<br />
obter o paraíso após a morte para si e para toda a família do suicida.<br />
Em Israel, algumas iniciativas educacionais reúnem crianças judias e palestinas para que<br />
cresçam em paz. Esse é o caminho que deve ser incentivado.<br />
No Brasil, é muito importante promover uma educação em prol da tolerância e amizade<br />
entre os dois povos, sendo imprescindível transmitir informações corretas sobre a realidade<br />
e a história.<br />
SOLUÇÃO PARA A PAZ: DOIS ESTADOS PARA DOIS POVOS<br />
89<br />
PAZ - Book AF.indb 89 01.06.09 15:02:30
SOLUÇÃO PARA A PAZ<br />
O exemplo brasileiro<br />
Judeus e árabes tradicionalmente se deram bem no Brasil, sejam os árabes cristãos, sejam<br />
muçulmanos. Aqui, é comum a amizade entre pessoas dessas duas origens, motivo pelo qual se<br />
costuma dizer que o Brasil dá ao mundo um exemplo de tolerância, convivência e amizade.<br />
Representantes das comunidades judaica e muçulmana enfatizam a necessidade de não<br />
“importar o conflito”, isto é, trazer a violência para dentro do país.<br />
No Brasil, líderes de várias religiões publicaram em janeiro de 2009 uma nova declaração<br />
pela paz:<br />
LÍDERES RELIGIOSOS REAFIRMAM<br />
COMPROMISSO COM A PAZ<br />
Preocupados com a crescente escalada do conflito no <strong>Oriente</strong> Médio, nós,<br />
líderes religiosos, unimo-nos para pedir o estabelecimento e a manutenção da<br />
paz na região.<br />
Reafirmamos nossa opção pelo diálogo entre as partes como caminho para a<br />
solução do conflito.<br />
No Brasil, os representantes das diferentes comunidades contam com um canal<br />
permanentemente aberto de conversação. Desejamos que a relação fraterna entre<br />
povos de diferentes credos e culturas que se desenvolveu com mais intensidade<br />
nas últimas décadas em solo brasileiro se fortaleça, cada vez mais, e sirva de<br />
inspiração para outras sociedades ameaçadas em sua convivência pacífica.<br />
Com desejos de Paz, Salam e Shalom!<br />
Dom Raymundo Damasceno Assis – Presidente do Conselho Episcopal<br />
Latino-Americano<br />
Padre José Bizon – Casa da Reconciliação<br />
Armando Hussein Saleh – Xeque Missionário pela Paz Mundial<br />
Bayram Dagdeviren – Comunidade Turca no Brasil<br />
Ruben Sternschein e Michel Schlesinger – Rabinos da Congregação<br />
Israelita Paulista<br />
Monja Coen – Comunidade Zen Budista<br />
Reverendo Gustavo Alberto C. Pinto – Monge Budista da Tradição Terra Pura<br />
Iya Sandra Epega – Sacerdotisa da Tradição de Orixá<br />
No entanto, infelizmente, há motivos para preocupação, pois recentemente alguns grupos<br />
que se dizem “pró-palestinos”, em vez de reivindicar a construção de um Estado palestino<br />
que conviva em paz com Israel, têm pregado o ódio contra Israel e os judeus no Brasil.<br />
Além de divulgarem fatos distorcidos e fazerem demonstrações com cartazes com frases em<br />
favor da violência, eles vêm praticando vandalismos contra sinagogas (templo religioso judaico),<br />
como os que ocorreram em Campinas e Santo André em 2006 e em Passo Fundo em<br />
2009. Traz grande perigo o campo de treinamento de terroristas que foi montado na região<br />
da Tríplice Fronteira, para promover ataques principalmente no Brasil e na Argentina.<br />
90<br />
PAZ - Book AF.indb 90 01.06.09 15:02:30
ENTENDENDO O ORIENTE MÉDIO<br />
7<br />
Bibliografia sugerida<br />
Livros<br />
BARD, Mitchell G. Mitos e Fatos – A verdade sobre o conflito árabe-israelense. São Paulo: Sêfer,<br />
2004. Disponível em: http://www.scribd.com/doc/4902428/MITOS-E-FATOS-Mitchell-G-Bard.<br />
COMITÊ JUDAICO AMERICANO. A Busca de Israel pela Paz, 2007. Disponível gratuitamente em:<br />
http://www.ajc.org/atf/cf/%7B42D75369-D582-4380-8395-D25925B85EAF%7D/A_Busca_de_<br />
Israel_pela_Paz_2007.pdf.<br />
DERSHOWITZ, Alan. Em Defesa de Israel. São Paulo: Nobel, 2004.<br />
GODGRUB, Franklin Winston. O Antissionismo: de esquerda, direita, liberal, islâmico. São Paulo:<br />
Samizdat, 2008.<br />
KAMEL, Ali. Sobre o Islã – A afinidade entre muçulmanos, judeus e cristãos e as origens do<br />
terrorismo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2007.<br />
Filme<br />
A Lista de Schindler. Direção: Steven Spielberg. Estados Unidos, 1993. 195 min.<br />
Dossiê sobre fotos falsificadas veiculadas durante a incursão de Israel ao Líbano em 2006<br />
SORKO-RAM, Shira. “Fotos do Líbano: uma grande farsa montada”. Maoz Israel, Elul-Tishrei<br />
5766-5767, 2006. Disponível gratuitamente em: http://www.maozisrael.com.br/shira/especial/<br />
Informativo_Setembro.pdf.<br />
Artigo em espanhol<br />
DÉS, Mihály. “El antisemitismo posmoderno”. Lateral Revista de Cultura, n. 107, nov.<br />
2003. Disponível gratuitamente em: http://www.circulolateral.com/revista/revista/editorial/<br />
107antisemitismo.html.<br />
Revista semanal<br />
Revista Shalom (http://www.revistashalom.com.br)<br />
Sites<br />
Em português:<br />
http://blogandodeisrael.blogspot.com<br />
http://etnografianovirtual.blogspot.com<br />
http://namiradohamas.blogspot.com<br />
http://netjudaica.blogspot.com<br />
http://veja.abril.com.br/blogs/reinaldo<br />
http://www.bnai-brith.com.br<br />
http://www.deolhonamidia.org.br<br />
http://www.jornalalef.com.br<br />
http://www.owurman.com/blog<br />
http://www.pletz.com<br />
http://www.visaojudaica.com.br<br />
Em inglês:<br />
http://jta.org<br />
http://www.adl.org<br />
http://www.bnaibrith.org<br />
http://www.imra.org.il<br />
http://www.israelnationanews.com<br />
http://www.israelpolitik.org<br />
http://www.jpost.com<br />
http://www.pmw.org.il<br />
http://www.wiesenthal.com<br />
http://www.youtube.com/user/idfnadesk<br />
Eric Calderoni Doutor em Psicologia Social, é diretor de projetos do Instituto Brasil Ambiente, professor da<br />
Universidade Anhembi-Morumbi, pesquisador do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Trabalho e Ação Social<br />
da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e membro da Comissão Nacional de Direitos Humanos da<br />
Associação Benefi cente e Cultural B’nai B’rith do Brasil. Colaboraram para a confecção deste capítulo o coordenador<br />
e os demais autores desta obra, além de Wolf Ejzenberg, Daniel Douek e José Calderoni, que contribuíram para<br />
a revisão de versões anteriores do texto. Agradecimento especial a Roberta Zrycki pela assistência administrativa.<br />
SOLUÇÃO PARA A PAZ: DOIS ESTADOS PARA DOIS POVOS<br />
91<br />
PAZ - Book AF.indb 91 01.06.09 15:02:30
8<br />
LINHA DO TEMPO: TERRA DE<br />
ISRAEL E PRINCIPAIS EVENTOS<br />
MUNDIAIS<br />
Lia Bergmann<br />
CAPÍTULO<br />
Séculos XVII-VI a.C. – Época bíblica<br />
Século XVII a.C.<br />
O patriarca do povo judeu, Abraão, cria o monoteísmo, crença em um Deus único,<br />
e se estabelece na Terra de Israel. A fome força os israelitas a emigrar para o Egito.<br />
Século XIII a.C.<br />
Êxodo dos israelitas (hebreus ou judeus), que deixam o Egito, conduzidos por<br />
Moisés, e vagam no deserto durante quarenta anos.<br />
Moisés recebe os Dez Mandamentos, no Monte Sinai.<br />
Século XIII-XII a.C.<br />
Os israelitas retornam à Terra de Israel.<br />
1020 a.C.<br />
A monarquia judaica é estabelecida; Saul é o primeiro rei.<br />
1000 a.C.<br />
Jerusalém torna-se a capital do Reino de David.<br />
960 a.C.<br />
O Primeiro Templo, centro nacional e espiritual do povo judeu, é construído em<br />
Jerusalém pelo rei Salomão.<br />
930 a.C.<br />
Divisão do reino: Judá e Israel.<br />
722-720 a.C.<br />
O Reino de Israel é destruído pelos assírios; dez tribos exiladas (as “Dez Tribos Perdidas”).<br />
586 a.C.<br />
O Reino de Judá é conquistado pela Babilônia. Jerusalém e o Primeiro Templo são<br />
destruídos; maioria dos judeus exilada e escravizada.<br />
92<br />
PAZ - Book AF.indb 92 01.06.09 15:02:30
536-142 a.C. – Períodos persa e helenístico<br />
538-515 a.C.<br />
Muitos judeus retornam da Babilônia; o Templo é reconstruído.<br />
332 a.C.<br />
Alexandre Magno conquista o país; domínio helenístico.<br />
166-160 a.C.<br />
Revolta dos macabeus (Hasmoneus) contra as restrições à prática do judaísmo e a profanação<br />
do Templo.<br />
142-129 a.C.<br />
Autonomia judaica sob a liderança dos Hasmoneus.<br />
129-63 a.C.<br />
Independência judaica sob a monarquia dos Hasmoneus.<br />
63 a.C.<br />
Jerusalém é capturada pelo general romano Pompeu.<br />
63 a.C.-313 d.c. – Domínio romano<br />
37 a.C.-4 d.C.<br />
O rei Herodes, vassalo romano, governa a Terra de Israel. O Templo de Jerusalém é reformado.<br />
20-33<br />
Jesus de Nazaré prega o que mais tarde viria a ser o cristianismo.<br />
66<br />
Revolta dos judeus contra Roma.<br />
70<br />
Destruição de Jerusalém e do Segundo Templo. Início da Diáspora, dispersão dos judeus pelo<br />
mundo.<br />
73<br />
Queda do último bastião da resistência judaica, em Massada.<br />
LINHA DO TEMPO<br />
93<br />
PAZ - Book AF.indb 93 01.06.09 15:02:30
SOLUÇÃO PARA A PAZ<br />
132-135<br />
Revolta de Bar Kochba contra os romanos.<br />
135<br />
O imperador romano Adriano muda o nome da Judeia (a terra dos judeus, de Judá) para Palestina.<br />
313-636 – Domínio bizantino<br />
614<br />
Invasão persa.<br />
636-1099 – Domínio árabe<br />
691<br />
O Domo da Rocha é construído em Jerusalém pelo califa Abd el-Malik no local dos Templos<br />
(Primeiro e Segundo).<br />
1099-1291 – Domínio cruzado (Reino latino de<br />
Jerusalém)<br />
1291-1516 – Domínio mameluco<br />
1492<br />
Expulsão dos judeus da Espanha.<br />
1536<br />
Início da Inquisição em Portugal.<br />
1517-1917 – Domínio otomano<br />
1859<br />
Extinção do Tribunal do Santo Ofício, pondo fim à Inquisição, que vigorou por mais de trezentos<br />
anos na Europa, perseguindo judeus e cristãos novos, inclusive no Brasil.<br />
94<br />
PAZ - Book AF.indb 94 01.06.09 15:02:30
ENTENDENDO O ORIENTE MÉDIO<br />
8<br />
1860<br />
Primeiro bairro construído fora dos muros de Jerusalém.<br />
1882-1903<br />
Primeira Aliá (imigração para Israel, em grande escala), principalmente da Rússia.<br />
1897<br />
Primeiro Congresso Sionista, reunido por Theodor Herzl em Basileia, Suíça; fundação da<br />
Organização Sionista.<br />
1904-1914<br />
Segunda Aliá, principalmente da Rússia e Polônia.<br />
1909<br />
Fundação de Degânia, o primeiro kibutz (comunidade agrícola de idelogia socialista), e<br />
de Tel-Aviv, a primeira cidade moderna completamente judaica.<br />
1914-1918<br />
Primeira Guerra Mundial.<br />
1917<br />
Quatrocentos anos de domínio otomano chegam ao fim com a conquista britânica; Lord<br />
Balfour, ministro de Relações Exteriores britânico, declara o apoio ao estabelecimento de<br />
“um lar nacional judaico na Palestina”.<br />
1918-1948 – Domínio britânico<br />
1919-1923<br />
Terceira Aliá, principalmente da Rússia.<br />
1920<br />
Fundação da Histadrut (Federação Geral dos Trabalhadores) na Terra de Israel.<br />
A comunidade judaica cria o Vaad Leumi (Conselho Nacional) para dirigir seus assuntos<br />
internos.<br />
1921<br />
Fundação do primeiro moshav (comunidade agrícola), Nahalal.<br />
1922<br />
A Liga das Nações confia à Grã-Bretanha o Mandato sobre a Palestina (Terra de Israel); três<br />
quartos da área são entregues à Transjordânia (atual Jordânia), deixando apenas um quarto para<br />
o Lar Nacional Judaico.<br />
Criação da Agência Judaica, representante da comunidade judaica diante das autoridades<br />
do Mandato.<br />
LINHA DO TEMPO<br />
95<br />
PAZ - Book AF.indb 95 01.06.09 15:02:30
SOLUÇÃO PARA A PAZ<br />
1924<br />
Fundação do Technion, o primeiro instituto de tecnologia de Israel.<br />
1924-1932<br />
Quarta Aliá, principalmente da Polônia.<br />
1925<br />
Inauguração da Universidade Hebraica de Jerusalém, no Monte Scopus.<br />
1929<br />
Massacre dos judeus de Hebron por militantes árabes.<br />
Quinta Aliá, principalmente da Alemanha.<br />
1932<br />
Independência da Arábia Saudita e do Iraque.<br />
1935<br />
A Pérsia passa a ser chamada de Irã.<br />
1936-1939<br />
Distúrbios antijudaicos na Palestina instigados por militantes árabes.<br />
1939<br />
O Livro Branco britânico limita drasticamente a imigração judaica.<br />
1939-1945<br />
Segunda Guerra Mundial; Holocausto na Europa, com a morte de 6 milhões de judeus pelo<br />
nazismo, que perseguiu e assassinou também testemunhas de Jeová, ciganos, homossexuais,<br />
presos políticos, deficientes, considerados “inferiores”.<br />
1944<br />
Formação da Brigada Judaica, como parte das forças britânicas que lutam contra o nazismo<br />
na Segunda Guerra Mundial.<br />
1945<br />
Independência do Líbano. A República Libanesa havia sido criada em 1926.<br />
1946<br />
Criação do Reino Hashemita da Transjordânia, denominado em 1950 de Jordânia.<br />
Independência da Síria.<br />
1947<br />
A ONU propõe o estabelecimento de dois Estados, um árabe e outro judeu, o que ficou<br />
conhecido como a Partilha da Palestina.<br />
96<br />
PAZ - Book AF.indb 96 01.06.09 15:02:30
ENTENDENDO O ORIENTE MÉDIO<br />
8<br />
1948<br />
Fim do Mandato Britânico e proclamação do Estado de Israel (14 de maio).<br />
Invasão de Israel por cinco exércitos árabes (15 de maio).<br />
Guerra da Independência (maio de 1948-julho de 1949).<br />
Criação das Forças de Defesa de Israel (FDI).<br />
1949<br />
Assinatura de acordos de armistício com Egito, Jordânia, Síria e Líbano.<br />
Jerusalém é dividida, sob domínio de Israel e da Jordânia.<br />
Eleição do primeiro Knesset (Parlamento).<br />
Israel é aceito como o 59.º membro da ONU.<br />
1948-1952<br />
Imigração em massa da Europa e dos países árabes.<br />
1951<br />
Independência da Líbia.<br />
1956<br />
Campanha do Sinai.<br />
Independência do Sudão.<br />
1961<br />
Independência do Kuwait.<br />
1962<br />
Adolf Eichmann é julgado e executado em Israel por sua participação no Holocausto.<br />
1964<br />
Completado o Conduto Nacional, para trazer água do Lago Kineret, no norte, ao sul semiárido.<br />
1967<br />
Guerra dos Seis Dias; reunificação de Jerusalém.<br />
1968-1970<br />
Guerra de Desgaste do Egito contra Israel.<br />
1973<br />
Guerra do Yom Kippur.<br />
1975<br />
Israel torna-se membro associado do Mercado Comum Europeu.<br />
1977<br />
O Likud forma o governo após as eleições para o Knesset; fim de 30 anos de governo trabalhista.<br />
Visita do presidente egípcio Anwar Sadat a Jerusalém.<br />
LINHA DO TEMPO<br />
97<br />
PAZ - Book AF.indb 97 01.06.09 15:02:30
SOLUÇÃO PARA A PAZ<br />
1978<br />
Os acordos de Camp David apresentam as linhas gerais para uma paz abrangente no <strong>Oriente</strong><br />
Médio e uma proposta de autogoverno para os palestinos.<br />
1979<br />
Assinatura do Tratado de Paz Israel-Egito. O primeiro-ministro Menachem Begin e o presidente<br />
Anwar Sadat são agraciados com o Prêmio Nobel da Paz.<br />
1979<br />
O aiatolá Khomeini promove a Revolução Islâmica no Irã, que passa a se chamar República Islâmica<br />
do Irã<br />
1981<br />
A Força Aérea israelense destrói o reator atômico do Iraque pouco antes de sua entrada em<br />
operação.<br />
1982<br />
Completam-se as três etapas de retirada de Israel da Península do Sinai.<br />
A Operação Paz para a Galileia expulsa do Líbano os terroristas da OLP (Organização para a<br />
Libertação da Palestina).<br />
1984<br />
Formado um governo de unidade nacional (Likud e Trabalhista) após as eleições. Operação<br />
Moisés: imigração dos judeus da Etiópia.<br />
1985<br />
Assinado o Acordo de Livre Comércio com os Estados Unidos.<br />
1987<br />
Distúrbios violentos e generalizados (Intifada) irrompem nas áreas administradas por Israel.<br />
1988<br />
Governo do Likud após as eleições.<br />
1989<br />
Israel propõe uma iniciativa de paz de quatro pontos.<br />
Início da imigração em massa dos judeus da antiga União Soviética.<br />
1990<br />
Unificação do Iêmen.<br />
1991<br />
Israel é atacado por mísseis Scud do Iraque durante a Guerra do Golfo.<br />
Reúne-se em Madri a Conferência de Paz para o <strong>Oriente</strong> Médio.<br />
A Operação Salomão traz a Israel, por via aérea, mais judeus da Etiópia.<br />
98<br />
PAZ - Book AF.indb 98 01.06.09 15:02:30
ENTENDENDO O ORIENTE MÉDIO<br />
8<br />
1992<br />
Estabelecimento de relações diplomáticas com a China e a Índia.<br />
1993<br />
Israel e a OLP, representante do povo palestino, assinam a Declaração de Princípios sobre<br />
os procedimentos do autogoverno interino para os palestinos.<br />
Entre 1993 e 1995, nasce a Autoridade Nacional Palestina (ANP), chefiada por Yasser Arafat.<br />
1994<br />
Implementação do autogoverno palestino na Faixa de Gaza e na região de Jericó.<br />
Plenas relações diplomáticas com a Santa Sé.<br />
Marrocos e Tunísia estabelecem escritórios de representação de interesses.<br />
Assinatura do Tratado de Paz Israel-Jordânia.<br />
Yitzhak Rabin, Shimon Peres e Yasser Arafat são agraciados com o Prêmio Nobel da Paz.<br />
1995<br />
Ampliação do autogoverno palestino implementado na Margem Ocidental (Cisjordânia)<br />
e na Faixa de Gaza; eleição do Conselho Palestino.<br />
Assinatura dos segundos acordos de Oslo, pelo primeiro-ministro de Israel, Yitzhak Rabin, e pelo<br />
presidente da OLP, Yasser Arafat, testemunhado pelo presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton.<br />
Assassinato de Yitzhak Rabin, num comício em prol da paz. Shimon Peres torna-se o primeiro-<br />
-ministro de Israel.<br />
1996<br />
Escalada do terrorismo árabe fundamentalista contra Israel.<br />
Operação Vinhas da Ira, em retaliação aos ataques terroristas do Hezbollah ao norte de Israel.<br />
O partido de direita Likud sobe ao poder após as eleições para o Knesset.<br />
1997<br />
Assinatura do Protocolo de Hebron entre Israel e a Autoridade Palestina.<br />
2000<br />
Visita do papa João Paulo II a Israel.<br />
Início da Segunda Intifada.<br />
Recrudescimento dos ataques terroristas em Israel, atingindo ônibus, escolas, restaurantes, entre<br />
outros.<br />
Século XXI<br />
2001<br />
Em fevereiro, Ariel Sharon assume como primeiro-ministro de Israel, pelo Likud.<br />
2002<br />
Apresentação do Road Map (“mapa da estrada”), proposta de paz feita pelo “quarteto” –<br />
Estados Unidos, União Europeia, Rússia e ONU –, com vários passos para a criação de um<br />
Estado palestino independente.<br />
LINHA DO TEMPO<br />
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PAZ - Book AF.indb 99 01.06.09 15:02:31
SOLUÇÃO PARA A PAZ<br />
2004<br />
Morte de Yasser Arafat, presidente da ANP. Assume Mahmoud Abbas, do mesmo partido de<br />
Arafat, Fatah (antiga OLP).<br />
2005<br />
O grupo terrorista Hamas (Movimento de Resistência Islâmico), que não aceita a existência do<br />
Estado de Israel, ganha as eleições da ANP e Ismail Haniyeh assume como primeiro-ministro.<br />
Abbas continua sendo presidente.<br />
Fundação do partido Kadima (de centro) por Ariel Sharon, em Israel.<br />
Decretada a Lei de Implementação do Plano de Retirada, para remover todas as colônias israelenses<br />
da Faixa de Gaza e quatro no norte da Cisjordânia. Em 12 de setembro, não há mais nenhum<br />
judeu na Faixa de Gaza. A saída unilateral é vista como forma de chegar mais rapidamente<br />
à paz com os palestinos.<br />
2006<br />
Ariel Sharon sofre um derrame cerebral (AVC) e entra em coma.<br />
Ehud Olmert assume como primeiro-ministro de Israel.<br />
Sequestro de soldados israelenses pelo Hamas e pelo Hezbollah, que invadiu o território israelense.<br />
Israel lança operação no Líbano para diminuir capacidade de fogo do Hezbollah, que atua em<br />
meio aos civis.<br />
2007<br />
Crescente tensão entre partidários do Fatah e do Hamas leva à criação de um governo de coalizão<br />
da Autoridade Nacional Palestina, na Cisjordânia e em Gaza. O Hamas assume o controle de<br />
Gaza, após luta com o Fatah, impondo um governo fundamentalista sunita.<br />
Realizada a Conferência de Anápolis, reunindo Estados Unidos, o governo de Israel e a Autoridade<br />
Palestina. O Brasil participa do encontro.<br />
2008<br />
Trégua de seis meses com o Hamas faz com que o lançamento de foguetes contra civis ao sul<br />
de Israel diminua.<br />
2008-2009<br />
Depois de oito anos de ataques ininterruptos de mísseis por palestinos ao sul de Israel, que recrudescem<br />
com o domínio da Faixa de Gaza pelo Hamas, Israel lança uma ofensiva contra Gaza,<br />
para neutralizar a ação do Hamas contra civis israelenses no sul do país.<br />
2009<br />
O Partido Likud assume o governo em Israel.<br />
Lia Bergmann Formada em História pela Universidade de São Paulo e jornalista com pós-graduação pela Faculdade<br />
Cásper Líbero, Lia Bergmann é assessora de comunicação e de direitos humanos da B’nai B’rith do Brasil.<br />
100<br />
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Apoio<br />
Fundação ARYMAX<br />
Boris e Bella Wainstein<br />
Raul Hacker<br />
Loja Bertie Levi<br />
Hanus Klinger<br />
Loja David Ben Gurion<br />
Loja Yehuda Halevi<br />
Salomon Katz<br />
Dr. Ronaldo Golcman<br />
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Associação Beneficente e Cultural<br />
B´nai B´rith do Brasil<br />
2009<br />
www.bnai-brith.org.br<br />
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