20 VALORES Na Guiné-Bissau, no meio do pessoal local, em 2005
Peru, 2007 Hora de relaxar, Guiné-Bissau 2005 Terra do Fogo 2006 Guiné-Bissau 2005 NUMA INICIATIVA DE UM MOTARD E DE UM FOTÓGRAFO AMANTES DE VIAGENS aventura Até ao Fim do Mundo, uma aventura de Pólo a Pólo CV de viajante ANO: 2005 Trajecto: Lisboa – Dakar – Bissau Orçamento: cerca de 2000 euros (incluindo regresso das motos e avião) O PROJECTO NASCEU EM 2002. PRETENDE LIGAR O PONTO MAIS A NORTE DO CONTINENTE EUROPEU (CABO NORTE NA NORUEGA), AO PONTO MAIS A SUL DO CONTINENTE AMERICANO (CAPE HORN, NA ARGENTINA). É UMA VIAGEM REALIZADA DE MOTO EM VÁRIAS ETAPAS, COM O ÚNICO OBJECTIVO DE CUMPRIR O MÁXIMO DE TRAJECTO POR TERRA. ERAS CAPAZ DE FAZÊ-LO? » Raquel Ramos rramos@mundouniversitario.pt Quantas e quantas vezes vemos fotos e vídeos de paisagens idílicas que nos fazem pensar: «Se me saísse o Euromilhões...» Este maldito jogo da sorte influencia o teu futuro? Os portugueses são, na Europa, os que mais gastam em apostas e depois é comum virem à praça pública dizer que estão com falta de dinheiro. Então e aqueles que viajam constantemente para sítios inóspitos, será que a sorte grande lhes sai todas as semanas? «GASTAR O MENOS POSSÍVEL» Carlos Azevedo, 35 anos, fotógrafo de profissão, é o cabecilha do projecto ‘Até ao Fim do Mundo, uma aventura de Pólo a Pólo’. Um parêntesis para explicar o conceito de ‘Fim do Mundo’. Se bem se lembram, no tempo dos Descobrimentos, foi da ponta sudoeste de Portugal (geograficamente o sítio mais ocidental a sul da Europa) que os navegadores portugueses partiram. Iam verificar se a Terra era chata, se caíriam num abismo quando chegassem ao fim do mar, ou se, pelo contrário, descobririam o ‘Novo Mundo’. Com um espírito empreendedor e corajoso, Carlos Azevedo, talvez imbuído Situações caricatas... Como em todas as viagens, há sempre o lado caricato. Fica aqui o relato de um deles: «nós, portugueses, sempre tivemos receio de África por causa da guerra colonial e alguma consciência pesada com tudo o que aconteceu. Aliás, o meu pai chegou a combater na Guiné. Por isso, queríamos perceber o porquê de termos andado em conflito com os guineenses. Na fronteira com a Guiné (que era só uma corrente e três militares) foi muito engraçado porque trataram-nos como reis. O facto de sermos portugueses foi uma vantagem e até nos deixaram entrar sem o passaporte carimbado. Durante uns bons 25 km não vimos vivalma até chegarmos a uma aldeia, com o seu serviço alfandegário. Saiu de lá um homem (a alta autoridade da aldeia) que ainda vinha a abotoar a camisa (e provavelmente seria a melhor roupa que ele tinha) e perguntou: «Vocês estiveram na tropa?» A resposta foi negativa e nas nossas cabeças vieram aquelas ideias preconcebidas. Ao que ele voltou a dizer: «Então vocês não sabem cantar o hino?». O hino da Guiné não, mas o nosso sim. E lá começou a cantar e nós também, claro. E ficou surpreso por nós também sabermos cantá-lo. E ainda disse «este é o nosso hino (o português)». ...e o perigo sempre presente! «Em termos de perigos estamos muito bem informados das zonas de risco, mas há regras que temos de cumprir: não viajar de noite, procurar não ser hostil e evitarmos ao máximo ir a grandes cidades porque as motos chamam muita a atenção. E nesses países de terceiro mundo só é assaltado quem mostra todos os seus luxos (chapeuzinho, relógio, roupa de marca) e isso não acontece connosco.» por estas características dos navegadores portugueses (que tanta falta fazem nos dias de hoje), decidiu ir ao ‘Fim do Mundo’ de moto. «A organização das viagens é feita por mim e trato de tudo para ir sozinho. Eu não tenho dúvidas se vou, não fico à espera de ninguém, não procuro saber opiniões de ninguém», diz com firmeza. Agências de viagens é mentira e o número limite de pessoas para o acompanhar são quatro. Porquê? «Mais de 4 pessoas não, e têm que ser próximas. Mais que isso, toda a logística torna-se complicada e assim a proximidade entre as pessoas é sempre maior», justifica. «O orçamento varia de pessoa para pessoa e a nossa forma de viajar é sempre a mesma: procuramos gastar o menos possível.» POUPAR PARA <strong>VIAJAR</strong> Carlos Azevedo dá a conhecer alguns pormenores para uma viagem sem gastos exorbitantes. «Acampar em vez de ficarmos em hotéis. Depois, nos países para onde temos viajado não praticam preços proibitivos – tanto em África como na América do Sul.» Assim, «procuramos ter uma experiência real do que é o país (restaurantes, tascas locais) e raramente ficamos num hotel, só quando é mesmo necessário. Muitas vezes ficamos em casa de amigos que conhecemos pelo caminho, ou que fazemos através do blogue [www.ateoafimdomundo.ne t e fica a conhecer os restantes companheiros de viagem]». Por que razão é que o português viaja tão pouco? Será por uma questão monetária? Não. Será porque é um país pobre? Não. É tudo uma questão de correr riscos e uma falta de curiosidade pela vida. Dá-se primazia à segurança, ao conforto e o importante é viver bem. O fotógrafo Carlos Azevedo não quer chegar aos 40 anos careca e barrigudo. «As pessoas Feios, porcos e maus? É isto que pensas dos homens das motos? Pois bem, os motards bem que tentam desmistificar este terrível estereótipo, mas a verdade é que as motos não granjeiam muita fama junto da população em geral. Excesso de velocidade, sempre aquela mania irritante de quererem ultrapassar tudo e todos (e ainda apitam para os deixarmos passar, fiquem na fila!) e ainda por cima têm a fama de andarem com as “boazonas” (deve ser dos cavalos... da moto). O ruído dos tubos de escape também não ajuda, e quando se juntam é beber álcool até... pegar na moto novamente e fazer umas corridas valentes. Depois quando têm um acidente a valer, é vê-los (e ouvi-los) a chamarem pela querida mãezinha. Não é verdade? Então manifestem-se! ligam demasiado à carreira, preocupam-se com pormenores e casam com bancos e dívidas». Garante ANO 2006 Trajecto: Rio de Janeiro – Patagónia – Ushuaia (Terra do Fogo) – Chile (Deserto do Atacama) – Rio de Janeiro Orçamento: cerca de 3500 euros (com motos emprestadas por uns amigos brasileiros) ANO 2007 Trajecto: Venezuela (Caracas) – Amazónia – Peru (Machu Pichu e Lago Titicaca) – Bolívia (La Paz) – Pantanal – Brasil (Rio de Janeiro) DURAÇÃO MÉDIA DAS VIAGENS: 50 a 55 dias. PRÓXIMO TRAJECTO “Noobai” que em crioulo significa “Nós vamos”. Consiste atravessar Africa, num oito. que é «uma pessoa diferente neste momento do que era há quatro anos. Sinto-me à vontade em qualquer lado e não me consigo imaginar sem ter vivido este tipo de experiências». E dá a receita: «Avançar sem medos, já que não é uma questão de ter ou não dinheiro, porque não sou uma pessoa rica, longe disso. Não tenho luxos, mas tenho o luxo de fazer viagens como estas.» [3 11 MAR 2008] [28 JAN 2008] 11