Madan Parque de Ciência - Mundo Universitário
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6 3 ABRIL 2006<br />
[ po<strong>de</strong>r à palavra ]<br />
VIDA MALVADA<br />
DIÁRIO DE UM ESTUDANTE<br />
Tânia Ribeiro<br />
Licenciada em Estudos Portugueses, a frequentar<br />
o mestrado na Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Sorbonne, em Paris<br />
ignnisemparis@yahoo.fr<br />
O início <strong>de</strong> uma revolução?<br />
Há muito que é um lugar-comum.<br />
Diz-se que em Portugal ninguém<br />
lê e que há níveis <strong>de</strong> iliteracia do<br />
tamanho da dívida externa argentina.<br />
Que a televisão isto, que a<br />
playstation aquilo.<br />
Pois eu <strong>de</strong>scobri uma das possíveis<br />
soluções. Quando entrei na<br />
universida<strong>de</strong> e me mu<strong>de</strong>i para<br />
Lisboa, por razões pessoais (leia-<br />
-se baunilha, pilim, pasta... dinheiro)<br />
<strong>de</strong>ixei <strong>de</strong> ter carro à disposição.<br />
A carta passou a ser um documento<br />
<strong>de</strong>corativo na minha carteira,<br />
apenas utilizado quando companheiros<br />
da <strong>de</strong>sgraceira nocturna<br />
se revelam manifestamente em<br />
pior estado do que eu para conduzir<br />
– diga-se <strong>de</strong>s<strong>de</strong> já que só muito<br />
raramente tal acontece. Ora, para<br />
me <strong>de</strong>slocar e cumprir a minha<br />
rotina diária, tenho <strong>de</strong> percorrer 62<br />
paragens <strong>de</strong> transportes públicos,<br />
52 <strong>de</strong> autocarro e 10 <strong>de</strong> metro. É<br />
um verda<strong>de</strong>iro banho <strong>de</strong> humilda<strong>de</strong><br />
que requer um diligente espírito<br />
<strong>de</strong> missionário. Como é natural, há<br />
que ocupar todos estes tempos<br />
mortos e, para isso, nada mais<br />
saudável do que fazê-lo através da<br />
nobre arte da leitura. Des<strong>de</strong> que<br />
cá cheguei, e por causa da necessida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> me <strong>de</strong>slocar <strong>de</strong> transportes<br />
públicos, tenho lido que<br />
nem um monge... um verda<strong>de</strong>iro<br />
São Tomás <strong>de</strong> Aquino. Mamo<br />
umas 40 páginas por dia e acabo<br />
livros como quem come bolachas.<br />
São uns atrás dos outros: Camus,<br />
Dostoievsky, Amado, Bukowski,<br />
marcha tudo. Retire-se, pois, a<br />
carta a uma boa porção <strong>de</strong> cidadãos<br />
(por sorteio seria uma boa<br />
hipótese) e os níveis <strong>de</strong> leitura<br />
com certeza subiriam para patamares<br />
<strong>de</strong>centes. Como plus, toda<br />
esta pedagogia retiraria um monte<br />
<strong>de</strong> perigosos das estradas das<br />
cida<strong>de</strong>s portuguesas, o trânsito<br />
diminuía e po<strong>de</strong>ríamos discutir<br />
Saramago com a pessoa sentada<br />
ao nosso lado no eléctrico.<br />
Gustavo Serra<br />
gserra@mundouniversitario.pt<br />
http://vidamalvadadiario<strong>de</strong>umestudante.blogspot.com<br />
Uma chuva incessante marcou esta<br />
longa jornada <strong>de</strong> greve geral. Para os<br />
manifestantes, e tendo em conta o<br />
mau tempo, foi um sucesso. Consta<br />
mesmo que a a<strong>de</strong>são ao encontro<br />
ultrapassou os números do soalheiro<br />
18 <strong>de</strong> Março.<br />
Foi num cortejo ao longo das ruas da<br />
capital (repetido em muitas outras<br />
localida<strong>de</strong>s do país), que os protestantes<br />
usaram o seu direito à expressão,<br />
exigindo a retirada <strong>de</strong> uma lei – o<br />
polémico CPE – que julgam precária,<br />
amorfa e <strong>de</strong>srespeitosa. O hino comunista<br />
– A Luta Final – ouviu-se do início<br />
ao fim da manifestação e inesperadamente<br />
<strong>de</strong>parei-me com uma<br />
Place d'Italie envolta em ban<strong>de</strong>iras do<br />
Tem sido uma participante assídua nas manifestações<br />
parisienses contra o Contrato <strong>de</strong><br />
Primeiro Emprego (CPE). Esteve na jornada<br />
<strong>de</strong> protesto que <strong>de</strong>correu na última terça-feira<br />
e partilhou com o MU as sensações recolhidas.<br />
Palavras e imagens, em primeira mão.<br />
revolucionário argentino,<br />
Che Guevara.<br />
Preconizarão os franceses uma revolução?<br />
Não sei respon<strong>de</strong>r... Só sei<br />
que, naquela tar<strong>de</strong>, Paris foi invadida<br />
por universitários, estudantes, sindicalistas,<br />
professores, novos, velhos,<br />
pais, filhos, reformados, trabalhadores,<br />
nacionais, estrangeiros (aliás, até<br />
os cidadãos ilegais fizeram questão<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>nunciar a sua situação). Em<br />
suma, como diria o nosso Zeca Afonso,<br />
«o povo saiu a rua num dia<br />
assim».<br />
Quanto a confrontos com a<br />
polícia, começaram por volta<br />
das 17h30, quando um grupo<br />
<strong>de</strong> jovens partiu a vitrina<br />
<strong>de</strong> uma loja. Às 20 horas, na<br />
Place <strong>de</strong> Republique (on<strong>de</strong><br />
terminava o cortejo),<br />
enquanto garrafas e pedras eram<br />
lançadas por alguns manifestantes,<br />
as autorida<strong>de</strong>s usavam gás lacrimogéneo<br />
e jactos <strong>de</strong> água.<br />
No final da noite, os sindicatos anunciavam<br />
2,71 milhões <strong>de</strong> pessoas em<br />
protesto por toda a França. A polícia,<br />
mais comedida, falava <strong>de</strong> 1,05 milhões.<br />
Até nos territórios do além-mar<br />
– ilhas da Reunião, Guadalupe e Martinica<br />
– os estudantes anti-CPE saíram<br />
à rua, em proporções bastante<br />
significativas.<br />
po<strong>de</strong>rpalavra@mundouniversitario.pt<br />
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