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Madan Parque de Ciência - Mundo Universitário

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4| 3 ABRIL 2006<br />

[ vinte valores ]<br />

Era Uma Vez<br />

Um Homem<br />

A brincar a brincar, já lá vão 35 anos <strong>de</strong> carreira. Olha<br />

para trás com nostalgia ou acha que só o futuro é que é<br />

relevante?<br />

Não costumo fazer muito essas contas e sou mesmo um<br />

pouco displicente em relação a efeméri<strong>de</strong>s. Não acho mal<br />

que sejam comemoradas, mas não é aquilo que me move.<br />

Mesmo o termo carreira é-me um bocadinho estranho. Quanto<br />

muito, posso datar quando gravei o meu primeiro disco,<br />

mas o termo carreira pressupõe algo <strong>de</strong> planeado a longo<br />

prazo, coisa que nunca fiz. Aconteceram muitas coisas na<br />

minha vida a nível profissional e pessoal, principalmente<br />

quando fiz os primeiros discos, mas nunca houve gran<strong>de</strong>s<br />

planos. Tudo o que me aconteceu foi importante, seja para<br />

o bem ou seja para o mal, mas nada planeado.<br />

É indubitavelmente um dos monstros sagrados<br />

da música mo<strong>de</strong>rna portuguesa, mas não<br />

aceita esse papel sem reservas. Num ano em<br />

que perfaz uns extraordinários 35 anos <strong>de</strong><br />

carreira, o MU falou com Sérgio Godinho:<br />

homem <strong>de</strong> canções, <strong>de</strong> palavras e <strong>de</strong> palco.<br />

|<br />

«<br />

POR DIOGO TORGAL FERREIRA | DTORGAL@MUNDOUNIVERSITARIO.PT |<br />

A política nunca<br />

me fascinou»<br />

Neste mês comemoram-se 32 anos após o 25 <strong>de</strong> Abril.<br />

Acha que a revolução tomou o sentido certo? Como vê<br />

a socieda<strong>de</strong> portuguesa actual?<br />

Acho que foi sem dúvida uma data charneira, que mudou<br />

o país estruturalmente. Na época, saí do país aos 20 anos<br />

e, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> nove anos fora, quando regressei, encontrei<br />

um Portugal em liberda<strong>de</strong>. Nestas coisas não há fórmulas<br />

mágicas e teve <strong>de</strong> haver um processo <strong>de</strong> consolidação<br />

<strong>de</strong> uma <strong>de</strong>mocracia, não só formal mas também material,<br />

que fez com que muitas das expectativas tivessem<br />

sido concretizadas a passo <strong>de</strong> caracol. Mesmo assim,<br />

acho que, se olharmos para o Portugal <strong>de</strong>ssa altura, comparando<br />

com o <strong>de</strong> hoje, houve passos muito positivos e<br />

evi<strong>de</strong>ntes melhorias. Houve coisas que andaram muito<br />

mais <strong>de</strong>vagar do que o que seria <strong>de</strong>sejável, mas sem dúvida<br />

que é um país diferente.<br />

Acha que os primeiros anos da sua carreira são indissociáveis<br />

<strong>de</strong> tudo o que se passou nesses tempos?<br />

Isso talvez seja mais patente nos meus dois discos feitos<br />

exactamente logo a seguir ao 25 <strong>de</strong> Abril. Foi um período<br />

em que a política entrava pelo quotidiano a <strong>de</strong>ntro. O<br />

À Queima Roupa (1974) e o De Pequenino Se Torce o<br />

Pepino (1976) são discos em que há a tradução <strong>de</strong>sse<br />

quotidiano eminentemente politizado. Isso acabou por ser<br />

natural porque sempre reflecti algo do que se estava a<br />

passar na época. Mas o meu olhar é múltiplo. Tenho canções<br />

com personagens que invento e que têm mais ou<br />

menos substrato político ou social, mas também tenho<br />

canções com olhares e interrogações mais filosóficas,<br />

tenho canções <strong>de</strong> amor, enfim, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> sempre que escrevi<br />

<strong>de</strong> tudo.<br />

A sua música sempre teve gran<strong>de</strong> carga política. E como<br />

cidadão, continua activo? A política fascina-o?<br />

Não! A política nunca me fascinou (risos). Não recuso é a<br />

política. Acho que é uma activida<strong>de</strong> que tem <strong>de</strong> ser feita para<br />

as coisas melhorarem. Tem <strong>de</strong> existir. Aquele hábito <strong>de</strong> dizer<br />

mal dos políticos em geral e dizer que são todos uns chulos<br />

é um discurso rançoso. Isso é reduzir tudo ao mesmo e, no<br />

fim <strong>de</strong> contas, é uma forma <strong>de</strong> burrice. Mas não sou <strong>de</strong> maneira<br />

alguma um animal político, nem a política é o meu foco

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