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Iana Sudo MEDICALIZAÇÃO DAS MULHERES - Instituto de ...

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CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />

Em 1995, durante uma entrevista concedida ao Jornal do Brasil, Rosiska Darcy <strong>de</strong><br />

Oliveira, então presi<strong>de</strong>nte do Conselho Nacional dos Direitos da Mulher e atual presi<strong>de</strong>nte<br />

do Centro <strong>de</strong> Li<strong>de</strong>rança da Mulher (Celim), chamou atenção para o fato <strong>de</strong> que na<br />

socieda<strong>de</strong> contemporânea vivenciamos uma maior intervenção no comportamento das<br />

mulheres, em comparação com o que se observa em relação aos homens. Isto refletiria um<br />

mundo, que para ela, é em gran<strong>de</strong> parte androcêntrico.<br />

Se as características biológicas da mulher ainda <strong>de</strong>sempenham na sua história um<br />

importante papel na construção <strong>de</strong> sua i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>, pensar a questão da medicalização do<br />

corpo feminino é pensar numa cultura que se preten<strong>de</strong> superar, parafraseando D’Ávila Neto<br />

(1994), a “i<strong>de</strong>ntificação com o grupo dominante”, já que a mulher é o lado dominado, e o<br />

dominado ten<strong>de</strong> a assumir o ponto <strong>de</strong> vista do dominante principalmente através daquilo<br />

que Bourdieu (1999) chama <strong>de</strong> “efeito do <strong>de</strong>stino”, é repensar nosso mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>senvolvimento, é pensar num mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> cultura mais equilibrado social e sexualmente,<br />

ou como apontou Vasconcelos (1997, p. 28) “mudar toda a estrutura sexossocial inserida<br />

em um sistema econômico-político patriarcal”. A amamentação, elaborada como uma<br />

concepção cultural, também está inserida nesta questão <strong>de</strong> divisão sexual <strong>de</strong> trabalho, do<br />

po<strong>de</strong>r, da política, do saber.<br />

Acredito, <strong>de</strong>ste modo, que pensar a questão da medicalização do corpo feminino<br />

através do caso da amamentação é pensar os dilemas e os impasses do sistema oci<strong>de</strong>ntal<br />

industrial on<strong>de</strong> a mulher ainda enfrenta a incompatibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> conciliar as imposições<br />

relativas ao seu papel social tradicional, como o <strong>de</strong> mãe que inclui a função <strong>de</strong> nutriz, que<br />

“é uma fadiga mais exaustiva que a da gravi<strong>de</strong>z” (BEAUVOIR, 1980, p. 274) função que a<br />

fixa no espaço privado, com as obrigações que <strong>de</strong>sempenham no espaço público.<br />

Assim, para escapar <strong>de</strong> se enredar nas <strong>de</strong>svantagens, <strong>de</strong>ve olhar para padrões sociais<br />

que afetam a mulher com olhos críticos, para que não sucumba, sem questionar, as<br />

“prescrições sociais” estabelecidas para ela. As conquistas femininas liberaram a mulher,<br />

mas não garantiram a igualda<strong>de</strong> entre os sexos no lar ou no trabalho e os dilemas e os

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