03.09.2014 Views

Iana Sudo MEDICALIZAÇÃO DAS MULHERES - Instituto de ...

Iana Sudo MEDICALIZAÇÃO DAS MULHERES - Instituto de ...

Iana Sudo MEDICALIZAÇÃO DAS MULHERES - Instituto de ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

assim uma vida paralela, enten<strong>de</strong>u. Eu fico vivendo ali, só elas<br />

(Luiza).<br />

Primeiro porque você per<strong>de</strong> quase a sua personalida<strong>de</strong>, você vive em função da<br />

criança (Beatriz).<br />

A única coisa que tem é que você tem que tá disponível, né, ainda mais no caso <strong>de</strong>le<br />

que mamava muito. Então eu não podia fazer nada: eu não podia sair, eu não podia,<br />

praticamente assim, se eu saisse, eu tinha que levar, então você fica muito presa à<br />

criança, mas mesmo assim eu acho que compensou bastante (Júlia).<br />

Esse mo<strong>de</strong>lo i<strong>de</strong>al <strong>de</strong> mãe foi em parte criado e reproduzido através da construção <strong>de</strong><br />

um discurso médico, respaldado pelo seu caráter <strong>de</strong> ciência, que impôs às mulheres a<br />

responsabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cuidarem da vida e da saú<strong>de</strong> dos filhos, incluindo nisso a função <strong>de</strong><br />

amamentar. Embora, muitas mulheres entrevistas e observadas durante o trabalho <strong>de</strong> campo<br />

continuem associando a maternida<strong>de</strong> com o amor, elas acreditam que a amamentação não<br />

seria a única maneira <strong>de</strong> expressar a sua atenção com seu filho:<br />

Aí que eu acho legal a gente falar: “olha, você po<strong>de</strong> ser mãe, pra ser uma mãe legal,<br />

você não tem que amamentar, sabe. Mãe é uma coisa que engloba muito mais coisa<br />

do que isso. Eu posso muito bem ser uma mãe maravilhosa, enten<strong>de</strong>u, que ser mãe é<br />

amor é amor, amamentação é apenas uma das formas <strong>de</strong> amor”. Mas, você tem<br />

muitas outras formas <strong>de</strong> amor (Beatriz).<br />

Então, é melhor ela dar uma mama<strong>de</strong>ira ou um copo, sei lá o que, bem dado e <strong>de</strong><br />

repente junto ao peito, com carinho, com contato, do que ela dar um peito agoniado,<br />

com <strong>de</strong>sprazer (Marina).<br />

É interessante acrescentar, conforme <strong>de</strong>stacou Rocha-Coutinho (1992), que ao mesmo<br />

tempo em que a mulher assegurou sua inserção no mercado <strong>de</strong> trabalho, a socieda<strong>de</strong> não<br />

dispensa a ela o encargo <strong>de</strong> cuidar da casa e da criação dos filhos, ativida<strong>de</strong>s encaradas<br />

ainda como tipicamente femininas. Assim, caberia, à mãe, a função <strong>de</strong> assegurar o bom<br />

<strong>de</strong>senvolvimento físico e psicológico <strong>de</strong> seus filhos:<br />

Mas eu acho que ali, a mulher, naquele dilema, sair <strong>de</strong> casa, vem cansada, tem que<br />

fazer comida, tem que não sei o que, você ainda falar assim: “ôpa, per aí, que agora<br />

eu vou amamentar”, sabe, isso é tudo muito bonito, tá tudo muito legal, mas a prática<br />

não é essa (Nina).

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!