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Iana Sudo MEDICALIZAÇÃO DAS MULHERES - Instituto de ...

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Na verda<strong>de</strong>, eu não posso nem dizer, porque eu acho que eu só suportei tudo isso (o<br />

sofrimento), porque eu acreditava nisso: isso é o melhor pra ela. Então, eu acho que<br />

tem um nível, realmente, <strong>de</strong> quando você tem um filho, <strong>de</strong> superação, on<strong>de</strong> a tua<br />

relação com você mesmo e com o outro, ela muda, enten<strong>de</strong>u. Eu acho que isso não é<br />

<strong>de</strong>sculpa pra você largar. Esse é o meu ponto, acho assim: pra mim, aquilo era<br />

importante (Nina).<br />

E aí, no final das contas, eu nem fiz (o complemento alimentar), porque aí eu fiquei<br />

com isso na cabeça <strong>de</strong> que eu tinha que vencer aquilo, que você vê como é que a<br />

coisa é tão complicada, que por mais que eu tenha pedido a ela, na hora, eu falei:<br />

“não, eu tenho que agüentar!” (Nina).<br />

Sarti (2001) aponta que os significados acerca da experiência da dor, mesmo a<br />

física, estaria inscrita em um universo simbólico, sendo, portanto, uma construção sóciocultural<br />

relacionada com a posição que o indivíduo ocupa na socieda<strong>de</strong>.<br />

Ainda dói muito, mas na primeira vez ela (sua segunda filha) mamou das 1h30 até às<br />

7h. Já não agüentava mais <strong>de</strong> dor. A gente tem que ter força <strong>de</strong> vonta<strong>de</strong> e calma<br />

(Manuela, reunião do dia 26 nov. 2002).<br />

Valeu, claro, vale (passar pelas dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> amamentar). No final você fica, sabe,<br />

feliz quando ela vai pesar, né, e você vê que ela engordou, né, você vê ela bem, as<br />

pessoas falando: “- não, ela tá tão bem, tá gordinha”, não sei o quê, aí isso vale todo<br />

esse (sofrimento) e, engraçado: mãe é...você esquece com uma rapi<strong>de</strong>z muito gran<strong>de</strong>,<br />

enten<strong>de</strong>u (Luiza)<br />

Através das análises, foi possível observar que suportar a dor durante a fase pósparto,<br />

pelas mulheres, se inscreveria no que Sarti (2001) <strong>de</strong>nominou <strong>de</strong> uma experiência<br />

pautada pelo lugar social ocupado pelo sujeito em questão, e <strong>de</strong>terminaria a reação do outro<br />

em face da sua dor. Se, para a mãe é um <strong>de</strong>ver passar por esta experiência e continuar<br />

amamentando, para o marido não faz sentido que sua mulher continue com este sofrimento<br />

físico. Dentro <strong>de</strong>sta perspectiva, a dor envolvida no ato <strong>de</strong> amamentar seria vivenciada<br />

como uma função social da mulher como mãe:<br />

Então, eu chorava pra amamentar, eu uivava <strong>de</strong> dor, enten<strong>de</strong>u. E aí, o meu marido<br />

ficava: “- meu Deu do céu, Luiza, isto não é normal, pelo amor <strong>de</strong> Deus, então pára<br />

com essa história <strong>de</strong> amamentar, vamos ver não sei o quê...”, e eu não querendo parar,

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