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Iana Sudo MEDICALIZAÇÃO DAS MULHERES - Instituto de ...

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oa realização do papel <strong>de</strong> mãe através da amamentação” (PRYOR, 1981, p. 126). Se as<br />

características biológicas permitem a mulher procriar e amamentar, elas, no entanto, não<br />

fazem nascer na mulher esse instinto materno que é relacionado a elas.<br />

Mesmo utilizando o discurso <strong>de</strong> que a amamentação é “uma prática <strong>de</strong>terminada<br />

biológica e culturalmente”, e que a mulher po<strong>de</strong> optar em amamentar ou não, a mensagem<br />

que se transmite e se reforça é <strong>de</strong> que amamentar é um ato natural, sempre associado ao<br />

biológico, ao instintivo.<br />

“(...) é necessário que o bebê sugue e que a mãe esteja tranqüila, confiante e com<br />

disponibilida<strong>de</strong> para o bebê” (SECRETARIA Municipal <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>, 2001, p. 13).<br />

“É preciso <strong>de</strong>ixar que mãe e bebê se sintam, se reconheçam e fortaleçam seu vínculo.<br />

O mais importante é mantê-los juntos, aconchegados, <strong>de</strong> maneira a garantir a<br />

amamentação sob livre <strong>de</strong>manda, isto é, que o bebê sugue sempre que quiser e por<br />

quanto tempo quiser” (Ibid., p. 14).<br />

E dos benefícios do aleitamento materno:<br />

“O leite materno é o alimento perfeito para o bebê. O aleitamento é fundamental para<br />

o melhor crescimento e <strong>de</strong>senvolvimento da criança por suas proprieda<strong>de</strong>s<br />

nutricionais, imunológicas e por favorecer um forte vinculo mãe-filho” (Ibid., p. 15).<br />

Nos discursos e nas campanhas, revelam-se representações <strong>de</strong> mulher como um “ser<br />

da natureza”.<br />

Quando eu tive a Laura e comecei a amamentar, e teve uma campanha no meio, que<br />

eu vi a médica falando na televisão “porque é melhor pro seu filho, as mulheres têm<br />

que ter consciência”, eu comecei a gargalhar. Aí, eu falei assim “ah, isso é uma<br />

piada”, porque, enten<strong>de</strong>u, pra mim a campanha era diferente. Eu falei: “essa<br />

campanha é um absurdo”, porque fica todo mundo falando como se fosse óbvio,<br />

natural, automático, sabe, é uma coisa que é assim, “a mulher que não faz é porque<br />

ela não tem consciência” (Nina). 42<br />

42 Relato obtido durante meu trabalho <strong>de</strong> campo.

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