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Iana Sudo MEDICALIZAÇÃO DAS MULHERES - Instituto de ...

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O autor analisa que o nascimento <strong>de</strong>sta mãe higiênica <strong>de</strong>u-se a partir <strong>de</strong> dois<br />

movimentos: a emancipação feminina do po<strong>de</strong>r patriarcal e a normatização da mulher pelo<br />

po<strong>de</strong>r médico. Nesse processo da mãe higiênica, foi importante a relação construída entre o<br />

aleitamento mercenário, fator principal pela mortalida<strong>de</strong> infantil. Com base nesse<br />

pensamento, a amamentação começa a aparecer como forma medicalizada do pensamento<br />

<strong>de</strong> impor, à mulher, o seu papel exclusivo <strong>de</strong> mãe.<br />

É com base nessa visão, portanto, que se <strong>de</strong>senvolve o novo “casal higiênico”, que<br />

também terá, como resultado <strong>de</strong>ssas regras higiênicas, a formação da família amorosa.<br />

Agora, o amor também é utilizado em favor das regras <strong>de</strong> higienização do casal, como a<br />

criação e a regulação dos novos papéis sociais do casal, no casamento, e pela função <strong>de</strong><br />

mãe e pai, on<strong>de</strong> o cuidar dos filhos passa agora a ser um fator regido pelo amor e pela<br />

responsabilida<strong>de</strong>, e não mais uma obrigação (COSTA, 1979).<br />

No século XIX, como mostra o autor, o amor <strong>de</strong> mãe torna-se indissociável do ato <strong>de</strong><br />

amamentar: sem amamentação, não havia amor, portanto, a mãe que não amamentava era<br />

consi<strong>de</strong>rada uma mãe <strong>de</strong>snaturada. Esse comportamento era associado ao novo<br />

comportamento social da mulher. Por trás <strong>de</strong>ssa pressão higienista em favor da<br />

amamentação, Costa (1979) afirma que, embora <strong>de</strong>stacassem o papel da mãe como<br />

essencial para a proteção à vida das crianças, estava também em jogo a ênfase em se<br />

regular a vida da mulher. Nesta perspectiva, a mulher que não amamentasse isentava-se,<br />

automaticamente, <strong>de</strong> uma ocupação indispensável à re<strong>de</strong>finição <strong>de</strong> seu lugar no universo<br />

disciplinar.<br />

A questão fundamental era fazer com que as mulheres passassem a amamentar e<br />

acreditar que essa tarefa era útil e absorvente, uma maneira <strong>de</strong> levá-las a preencherem o<br />

tempo livre, <strong>de</strong> que agora dispunham, livrando-as, <strong>de</strong>ste modo, dos possíveis perigos do<br />

ócio e dos passatempos nefastos à moral e aos bons costumes familiares. Desta maneira,<br />

interrompiam uma possível concorrência com o homem, já que a sua libertação do<br />

patriarcado colonial gerou um sentimento <strong>de</strong> in<strong>de</strong>pendência feminina (Ibid.).

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