Iana Sudo MEDICALIZAÇÃO DAS MULHERES - Instituto de ...

3.2 O ATO DE AMAMENTAR NO BRASIL
“É tão maravilhoso, é tão natural assim, do parto
você ir pra amamentação, é uma coisa que não dá
pra imaginar você não querer isso. E eu acho que
poucas mulheres não querem amamentar”
(Tereza Seiblitz , atriz). 25
A amamentação no Brasil colonial, como acentua Nunes (1982), era realizada pelas
amas-de-leite, que eram as escravas dos senhores ou alugadas pelas famílias brancas. Neste
período, a criança era ignorada, não tinha importância física e sentimental, não era
merecedora da mesma atenção reservada aos adultos, não sendo alvo de carinho e afeto por
parte dos pais. Ela também era desprezada pela religião, pois era vista como fruto da
concupiscência humana. Sua função era apenas a do sinal de pureza e inocência, sendo
venerada na forma de anjo (COSTA, 1979).
Essas “mães-pretas” eram consideradas, inclusive, como as mulheres mais bem
capacitadas para alimentarem os bebês, devido à sua compleição física. Costa (1979)
explica que as famílias abastadas recorreriam às amas-de-leite como uma tentativa de
proteger a vida dos filhos, sem sacrificar a vida sexual do casal, uma vez que se acreditava
que manter relações sexuais durante aquele período poderia estragar o leite. A
amamentação também era deixada de lado em favor das diversões, da sociabilidade urbana,
assim como acontecia nas famílias européias.
Embora a Lei do Ventre Livre (1871) assegurasse que todas as mães, livres ou
escravas, amamentassem seus filhos até que eles completassem três anos de idade
(MATTOSO, 1996), Lima e Venâncio (1996) assinalam que essa lei não era respeitada. A
prática de se alugar escravas como amas ocasionava uma desintegração da família dessas
mulheres. Essas “mães pretas” tinham, em sua grande maioria, seus filhos arrancados pelos
25 Programa Mãe & Cia: bebê, parte II. Canal de televisão GNT/NET, Rio de Janeiro. 01 out. 2001.