Iana Sudo MEDICALIZAÇÃO DAS MULHERES - Instituto de ...

campanhas de aleitamento materno promovidas por sanitaristas franceses, contra-atacando
a idéia de que este ato era repugnante.
“O discurso médico passa a enaltecer o cuidado do filho pela própria mãe,
condenando o uso de amas-de-leite. Assim como na Europa, o aleitamento era tido
não só como um momento de estreitar as relações físicas e afetivas entre mães e
filhos, como um elemento responsável para formar o caráter do mesmo. A mãe que
não amamentava era considerada uma mãe inadequada” (DEL PRIORE, 1995, p.
322).
Foi nessa época que se consolidou essa nova percepção da criança como uma
criatura para amar e ser amada, e não apenas como um indivíduo que assegurava o ciclo de
vida. Essa mudança impôs um cuidado exclusivo por parte das mães na manutenção da
saúde de seus filhos, onde a amamentação materna assumiu papel central nesta função
(ARIÈS, 1981).
É o tempo do progresso da vida privada, do sentimento de intimidade doméstica, da
valorização da vida da criança e das severas críticas exercidas pelos moralistas à
amamentação das nutrizes. Não se dará mais um seio estranho ao filho, mas o leite dessa
mulher armazenado num biberão. 24 O aleitamento materno, agora, passa a ser investido de
uma valorização afetiva (KNIBIEHLER, 1991).
A amamentação no peito torna-se, desta maneira, uma função exclusiva da mãe e
um hábito. Isto não significa dizer que a figura da ama-de-leite tenha sido eliminada do
ambiente doméstico. É neste cenário que os médicos conseguem se apoderar de relação
mulher-bebê. A quantidade e a qualidade do leite e suas relações de volume que a criança
necessita, em diferentes fases da vida, passam a ser estudados pela medicina (Ibid.).
24 Primeiro modelo de mamadeira.