Iana Sudo MEDICALIZAÇÃO DAS MULHERES - Instituto de ...

chamavam de “sua delicada missão e cumprir, assim, os desígnios da natureza”
(BERRIOT-SALVADORE, 1991, p. 450).
Del Priore (1995) também acrescenta que essa ascensão do discurso médico foi
possível graças a uma preocupação com o “ordenamento demográfico”, onde a maternidade
irir suprir as necessidades de “um Estado que relacionava aumento de produção com
aumento de braços” (Ibid., p. 334).
Deste modo, pensar o nascimento da obstetrícia e da ginecologia é pensá-las como
práticas intervencionistas sobre o corpo da mulher, o que contribuiu para a consolidação da
apropriação médica sobre esse corpo, tornando-o seu objeto de estudo. Outro aspecto
importante é que essas especialidades médicas legitimaram um novo discurso sobre o papel
das mulheres no exercício da sexualidade e na reprodução (VIERIA, 2002a). Esse
apoderamento só foi possível graças às inovações técnicas de intervenção e pelo
desenvolvimento de conhecimento cirúrgico, que tem seu começo no final do século XVIII
e se estende por todo o século XIX (ROHDEN, 2001; VEIRA, 2002).
Um outro aspecto que ganhou uma maior preocupação no processo da gestação e da
gravidez foram os cuidados pré-natais, no fim do século XIX, com o surgimento da ciência
da puericultura, cujo objetivo era de “um gerenciamento médico da natalidade e dos
primeiros cuidados com a infância” (ROHDEN, 2001, p. 50).
A importância da infância, segundo Perrot (1991), é que ela também é lugar de
saberes, tornando-se, desta maneira, um objeto de disputa de poderes. Destacam-se o
esforço conjunto da medicina, da psicologia e do direito. Ficava evidente, então, que o filho
não pertencia apenas aos pais. Ele também era o futuro da nação e da raça, produtor,
reprodutor, cidadão e soldado do amanhã. Por conseguinte, entre ele e a família,
principalmente quando esta era pobre e tida como incapaz, existiam desde filantropos,
médicos, estadistas com a pretensão de protegê-lo, educá-lo e discipliná-lo.