03.09.2014 Views

Iana Sudo MEDICALIZAÇÃO DAS MULHERES - Instituto de ...

Iana Sudo MEDICALIZAÇÃO DAS MULHERES - Instituto de ...

Iana Sudo MEDICALIZAÇÃO DAS MULHERES - Instituto de ...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Alencastro (1997) comenta que era comum a divulgação <strong>de</strong> obras escritas<br />

especificamente para parteiras, sobre a prática <strong>de</strong> partejar, numa escrita que era classificada<br />

<strong>de</strong> “linguagem familiar”, como a do médico cearense Joaquim Alves Ribeiro, <strong>de</strong> 1861.<br />

Assim, aos poucos, a medicina conseguiu transformar o parto num saber médico, com<br />

a hospitalização do parto e da criação das maternida<strong>de</strong>s, e as mulheres passam a ter acesso<br />

ao ensino médico no Brasil, no final do século XIX, voltando a realizar partos, agora como<br />

médicas, influenciadas não mais por um saber das mulheres, mas por um saber científico<br />

(VIEIRA, 2002).<br />

Desta forma, a obstetrícia, como explica a autora, <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser aquele conhecimento<br />

antes dominado pelas mulheres, e torna-se uma especialida<strong>de</strong> particularmente masculina.<br />

No século XX, as “curiosas” foram extintas e substituídas por parteiras certificadas por<br />

autorida<strong>de</strong> oficial que passaram a ser chamadas <strong>de</strong> “diplomadas” (LESSA, 1951).<br />

As obras <strong>de</strong> obstetrícia, como as <strong>de</strong> Laurent Joubert ou Jacques Guillemeau, do<br />

século XVI, contêm vibrantes <strong>de</strong>fesas do aleitamento materno, exaltando que seria através<br />

do leite que a criança herdaria a saú<strong>de</strong> e os costumes, isto é, o caráter <strong>de</strong> quem a<br />

amamentava; sendo assim, os conselhos eram <strong>de</strong> que a mulher só seria completamente mãe<br />

se amamentasse. Por isso, eles utilizavam o argumento <strong>de</strong> que, para ser mãe, era<br />

imprescindível amamentar seu filho e sendo por ele recompensada (BERRIOT-<br />

SALVADORE, 1991).<br />

De acordo com este pensamento, acreditava-se ser razoável impor, a essa mãe-nutriz,<br />

portanto, uma higiene alimentar e uma disciplina <strong>de</strong> vida, educá-la <strong>de</strong> modo que ela tivesse<br />

um comportamento disciplinado, normatizado, mo<strong>de</strong>rando os excessos, a fim <strong>de</strong> não<br />

comprometer o futuro <strong>de</strong> um cidadão sadio. A função materna passou a adquirir um valor<br />

educativo insubstituível (Ibid.).<br />

Portanto, ao se falar <strong>de</strong> uma medicina para a mulher, está se falando em uma<br />

medicina que, no século XVI, estava preocupada muito mais em normatizar o que eles

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!