03.09.2014 Views

Iana Sudo MEDICALIZAÇÃO DAS MULHERES - Instituto de ...

Iana Sudo MEDICALIZAÇÃO DAS MULHERES - Instituto de ...

Iana Sudo MEDICALIZAÇÃO DAS MULHERES - Instituto de ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

exames <strong>de</strong> virginda<strong>de</strong> e chegavam a ensinar aos casais normas quanto ao que se era<br />

esperado pela Igreja em termos <strong>de</strong> práticas sexuais, e cuidavam das doenças femininas.<br />

Passa-se, então, a exigir a presença <strong>de</strong> cirurgiões para assistir as parteiras durante o<br />

parto, e foi no século XVIII que os estudantes <strong>de</strong> medicina passaram a freqüentar as<br />

maternida<strong>de</strong>s nas cida<strong>de</strong>s européias. Como era <strong>de</strong> se esperar, houve uma competição entre<br />

cirurgiões e parteiras, numa tentativa, por ambas as categorias, <strong>de</strong> <strong>de</strong>ter o domínio da<br />

prática da obstetrícia (VIEIRA, 2002a), iniciando uma exclusão das mulheres a essa<br />

linguagem técnica e ao seu saber.<br />

Os médicos foram ganhando terreno nessa prática, consolidando seus<br />

conhecimentos e legitimados, sobretudo pelas inovações <strong>de</strong> técnicas cirúrgicas, anestésicos<br />

e a assepsia, contribuindo também para a diminuição do índice <strong>de</strong> mortalida<strong>de</strong>, o que<br />

contribuiu para a aceitação dos hospitais pela socieda<strong>de</strong> (VIEIRA, 2002a). Outro aspecto<br />

importante para a conquista médica foi a utilização <strong>de</strong> instrumentos. O Fórceps, <strong>de</strong> uso<br />

exclusivo dos cirurgiões, passa a ser utilizado em 1730 e os parteiros-médicos começam a<br />

ter o seu prestígio em ascensão (ROHDEN, 2001).<br />

A imagem das parteiras per<strong>de</strong> em credibilida<strong>de</strong> para os parteiros-homens, que, no<br />

<strong>de</strong>correr do século XVIII, ganham a batalha contra elas, e parteiros franceses como<br />

Bau<strong>de</strong>locque, Viar<strong>de</strong>l, Portal, Levret, Petit, conforme aponta Roh<strong>de</strong>n (2001), têm<br />

reconhecimento internacional. Países como Holanda e Alemanha também passam a<br />

apresentar um gran<strong>de</strong> salto no <strong>de</strong>senvolvimento da obstetrícia, e os médicos passam a ter<br />

seus conhecimentos consolidados e legitimados nesta área, excluindo as mulheres <strong>de</strong> terem<br />

acesso a esses novos saberes e <strong>de</strong>senvolvimentos técnicos. É neste contexto, que os<br />

médicos foram ganhando terreno e acabaram por consolidar uma hegemonia na prática da<br />

obstetrícia (VIEIRA, 2002a).<br />

O corpo da mulher, enfim, torna-se uma prática exclusiva <strong>de</strong> competência dos<br />

médicos. Esses médicos, como André Du Laurens, passam a escrever não só sobre a<br />

geração humana, mas a <strong>de</strong>finir a função <strong>de</strong> cada um dos sexos na natureza e na socieda<strong>de</strong>.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!