03.09.2014 Views

Iana Sudo MEDICALIZAÇÃO DAS MULHERES - Instituto de ...

Iana Sudo MEDICALIZAÇÃO DAS MULHERES - Instituto de ...

Iana Sudo MEDICALIZAÇÃO DAS MULHERES - Instituto de ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

as cartilhas (2001) distribuídas em escolas municipais, com o propósito <strong>de</strong> promover a<br />

amamentação, reproduzem da mesma maneira o discurso promovido por Lineu, no século<br />

XVIII:<br />

“Como um ato natural e instintivo dos mamíferos, é durante a gestação que o<br />

corpo da mulher se prepara para a produção do leite materno” (SECRETARIA<br />

Municipal <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>, 2001, p. 12).<br />

Logo, Schiebinger (1998) conclui que:<br />

“O vínculo entre mãe e filho criado pelo aleitamento materno foi i<strong>de</strong>alizado<br />

como o cimento da socieda<strong>de</strong> civil, promovendo o amor dos filhos pelas mães,<br />

fazendo os maridos retornarem a suas esposas. Imaginava-se que as crianças bebiam,<br />

junto com o leite materno, seu caráter nobre, seu amor e sua virtu<strong>de</strong>” (p. 238).<br />

2.1.4 Obstetrícia<br />

Ao se exigir que mulheres saudáveis amamentassem seus próprios bebês, autoras<br />

como Del Priore (1989, 1995, 1997), Roh<strong>de</strong>n (2001) e Vieira (2002a) chamam atenção para<br />

um fato novo na reestruturação da reprodução no século XIX: a legitimação da obstetrícia<br />

como uma especialida<strong>de</strong> médica, que substituiu a prática <strong>de</strong> partejar, ativida<strong>de</strong> que<br />

pertencia exclusivamente às mulheres-parteiras que, com um saber próprio e em suas<br />

experiências acerca <strong>de</strong>ssa ativida<strong>de</strong>, dominavam tal prática até então. Vieira (2002a)<br />

informa, no entanto, que as raízes da obstetrícia localizam-se três séculos antes <strong>de</strong> se<br />

institucionalizar o parto, no século XIX, e oficializá-la e legitimá-la como uma<br />

especialida<strong>de</strong> médica.<br />

As autoras Vieira (2002a) e Del Priore (1995, 1997) esclarecem que muitas<br />

mulheres-parteiras foram perseguidas, tanto na Europa quanto no Brasil, por possuírem um<br />

saber e um conhecimento específico acerca do corpo da mulher que escapavam ao controle<br />

dos médicos e da Igreja. Somava-se a isso o fato <strong>de</strong> serem mulheres. “Pelas curas informais<br />

era possível vencer queixas insuperáveis” (DEL PRIORE, 1995, p. 236), essas doutoras<br />

sem títulos foram rotuladas e consi<strong>de</strong>radas perigosas e malditas, tidas como uma

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!