03.09.2014 Views

Iana Sudo MEDICALIZAÇÃO DAS MULHERES - Instituto de ...

Iana Sudo MEDICALIZAÇÃO DAS MULHERES - Instituto de ...

Iana Sudo MEDICALIZAÇÃO DAS MULHERES - Instituto de ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

2.1.3 Ginecologia<br />

Essa nova especificida<strong>de</strong> médica, legitimada no século XIX, como “um campo <strong>de</strong><br />

intervenção sobre a mulher que ultrapassa em muito o simples cuidado dos órgãos<br />

reprodutivos” (ROHDEN, 2001, p. 48), tem, como objeto <strong>de</strong> estudo, a sexualida<strong>de</strong> e a<br />

reprodução feminina. O interesse no estudo das mulheres só foi possível graças às<br />

inovações técnicas como a assepsia, a anti-assepsia, a anestesia no campo da área médica e<br />

<strong>de</strong>senvolvimentos científicos como a <strong>de</strong>scoberta do raio X , princípios da pasteurização etc,<br />

ocasionando uma nova mudança na mentalida<strong>de</strong> dos médicos. A ginecologia baseava-se<br />

nas experiências clínicas e da capacida<strong>de</strong> do médico em analisar e <strong>de</strong>duzir os problemas,<br />

nasceu como um campo específico da área cirúrgica, com uma visão particular da natureza<br />

feminina e como uma prática especializada nessa natureza (Ibid.).<br />

Del Priore (1995) esclarece que o útero passa a ter um papel central, tornando-se um<br />

órgão essencial nesse processo <strong>de</strong> normatização da mulher. A presença <strong>de</strong>sse útero,<br />

juntamente com a exaltação <strong>de</strong> sua função fisiológica, a procriação, era o suficiente para<br />

explicar que em função <strong>de</strong>le, as mulheres eram dotadas <strong>de</strong> um instinto materno e uma moral<br />

relacionada à maternida<strong>de</strong>, fato que não ocorria com os homens.<br />

Berriot-Salvadore (1991) afirma que a mulher passou a existir em função específica<br />

daquele órgão essencial, <strong>de</strong>tentor <strong>de</strong> toda a feminilida<strong>de</strong>, para fazê-lo funcionar. É a partir<br />

da presença e da especificida<strong>de</strong> do útero que se constrói uma i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> para as mulheres e<br />

a explicação da presença <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminadas características fisiológicas e psicológicas. Sai a<br />

teoria dos humores, para entrar em cena a teoria da “irascibilida<strong>de</strong> do útero”, para explicar<br />

a inferiorida<strong>de</strong> “natural” das mulheres na socieda<strong>de</strong>, o que se iniciou no fim do século<br />

XVII e perdurou durante todo o século XIX.<br />

Roh<strong>de</strong>n (2001) aponta que o nascimento da ginecologia veio legitimar ainda mais o<br />

papel social das mulheres voltado para as ativida<strong>de</strong>s no âmbito privado da família, como<br />

mães e esposas e “na crença <strong>de</strong> que o sexo e a reprodução são mais fundamentais para a<br />

natureza da mulher do que para a do homem” (p. 38). A ginecologia tinha como principais

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!