Iana Sudo MEDICALIZAÃÃO DAS MULHERES - Instituto de ...
Iana Sudo MEDICALIZAÃÃO DAS MULHERES - Instituto de ...
Iana Sudo MEDICALIZAÃÃO DAS MULHERES - Instituto de ...
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
passar do tempo, seja por ativida<strong>de</strong>s junto à imprensa, por suas participações políticas ou<br />
por sua inserção na vida cultural, lançando um novo olhar para a socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> sua época.<br />
Aumentam-se, <strong>de</strong>ssa forma, os temas aos quais os médicos tentam dar conta, acerca dos<br />
fenômenos sociais, tornando-se cada vez mais especialistas em variados temas (ROHDEN,<br />
2001).<br />
A figura do médico passa, agora, a <strong>de</strong>stacar-se no ambiente social, através <strong>de</strong> uma<br />
nova posição que passa a ocupar na socieda<strong>de</strong>, gerada por uma nova idéia dos benefícios<br />
gerados pela medicina na vida da população. Apoiado num discurso <strong>de</strong> veracida<strong>de</strong><br />
científica, eles passam a ser a voz da sabedoria, da eficácia e da verda<strong>de</strong>, sendo suas<br />
normas incontestáveis pelos pacientes, passando a serem dotados <strong>de</strong> po<strong>de</strong>res normativos<br />
(Ibid.).<br />
Este discurso médico através <strong>de</strong> uma disciplinarização, <strong>de</strong> uma naturalização do<br />
corpo feminino, é o que Foucault (1985) <strong>de</strong>nominou <strong>de</strong> “po<strong>de</strong>r normalizador”, cuja função<br />
é a<strong>de</strong>strar e criar formas <strong>de</strong> comportamento e <strong>de</strong> indivíduos, regulando sua sexualida<strong>de</strong> e os<br />
aspectos morais. É esse “bio-po<strong>de</strong>r” que intervém e controla o corpo, <strong>de</strong> modo a torná-lo<br />
produtivo, propondo-se a gerir a vida da população, em particular das mulheres, a partir da<br />
construção <strong>de</strong> um discurso legítimo sobre a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> feminina, baseada em suas<br />
características biológicas.<br />
Os séculos XVII e XVIII foram <strong>de</strong>cisivos para um projeto <strong>de</strong> normatização dos<br />
comportamentos e dos corpos das mulheres, no século XIX (DEL PRIORE, 1989, 1995).<br />
Assim, a medicina, ao produzir um conhecimento sobre a mulher, inaugurou novas áreas <strong>de</strong><br />
saber, caracterizando-se por uma nova forma <strong>de</strong> dominação sobre as mulheres, que se<br />
efetuaria diretamente sobre elas e seus corpos, disciplinando-os, produzindo um tipo<br />
feminino necessário à manutenção do projeto social da mulher enquanto mãe (NUNES,<br />
1982), ao legitimar e justificar o lugar consignado à mulher como sua vocação “natural” - a<br />
maternida<strong>de</strong> (BERRIOT-SALVADORE, 1991).