Iana Sudo MEDICALIZAÇÃO DAS MULHERES - Instituto de ...

científicas no espaço social desde o final do século XVIII, com os adventos do progresso
científico. Esse valor incontestável dos formulados científicos, segundo o autor (1997),
ganhou esse caráter por estar “(...) acima das diferenças de perspectivas e de interesses dos
diversos grupos sociais em confronto numa sociedade complexa” (Ibid., p. 8).
A ciência adquire, portanto, um valor de universalidade com um caráter de discurso
de autoridade que pode supostamente elaborar enunciados sobre “a natureza, o universo e a
ordem humana” (BIRMAN, 1997, p. 8) acima de qualquer suspeita, de questionamentos, e
servindo de fundamento aos argumentos políticos e sociais para quem fala dele ou que se
apóiam nesse discurso, a partir do momento que passam a circular no campo social.
O discurso médico, assim como os discurso jurídicos e teológicos, influenciam os
comportamentos sociais, não só por ditar normas e regras calcadas num discurso científicas,
supostamente neutras e objetivas, mas porque reproduz valores ideológicos que regem as
mentalidades. Esse discurso vai compor um retrato moral e intelectual da mulher, tentando
demonstrar que comportamentos como ciúme, fraqueza, são inevitáveis e necessários às
mulheres. Dessa forma, a inferioridade no qual a mulher foi colocada passa a ser justificada
e legitimada pela natureza (BERRIOT-SALVADORE, 1991).
Rohden (2001) põe em evidencia que o discurso da ciência, especificamente o da
medicina, ganha maior prestígio porque as diferenças entre homens e mulheres passam a
ser evidenciadas não mais pelo gênero, como na Grécia Antiga, mas pelo sexo, pela
biologia. Cabe, portanto, aos médicos, fornecer bases, dados que legitimem essas
diferenças, tornando-as inquestionáveis, ao fornecer supostas provas irrefutáveis, seja
através da realização do exame anatômico, este feito com mais rigor, ou através de um
aumento das práticas das autópsias.
A base para se pensar e explicar a diferença social entre os dois sexos passa a ser
fornecida pela biologia, diferença que fora naturalmente dado a cada um dos sexos
biológicos, postulados pela natureza e confirmada pela ciência, sendo a medicina o seu
principal veículo de divulgação, que ganha cada vez mais credibilidade e inserção, com o