03.09.2014 Views

Iana Sudo MEDICALIZAÇÃO DAS MULHERES - Instituto de ...

Iana Sudo MEDICALIZAÇÃO DAS MULHERES - Instituto de ...

Iana Sudo MEDICALIZAÇÃO DAS MULHERES - Instituto de ...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

parto e aleitamento materno eram os principais tópicos <strong>de</strong>sses tratados médicos (COSTA,<br />

1979; NUNES, 1982; DEL PRIORE, 1995; ROHDEN, 2001; VIEIRA, 2002).<br />

2.1.1 Intervenção da Lógica Médica nos Saberes das Mulheres<br />

É neste contexto, que o aleitamento materno adquire uma função especial para que<br />

a medicina se apropriasse dos saberes das mulheres (DONZELOT, 1986) e contribuísse<br />

para fazer acreditar que era na amamentação que as mães mo<strong>de</strong>lariam os corpos dos seus<br />

filhos, se reconhecendo neles (DEL PRIORE, 1995).<br />

Para isso, a medicina utilizou-se <strong>de</strong> uma tentativa <strong>de</strong> relativizar e discriminar os<br />

saberes e conhecimentos das “comadres” em relação aos seus corpos e suas doenças (Ibid.),<br />

que praticariam, nas palavras <strong>de</strong> Boltanski (1984) um “exercício ilegal” da medicina. Isto<br />

significa dizer que os médicos acreditavam serem os únicos representantes legais da<br />

medicina e os únicos investidos <strong>de</strong> direito para a sua prática.<br />

O autor (1984) prossegue afirmando que os médicos estão constantemente se<br />

<strong>de</strong>frontando com essas práticas leigas da medicina. A medicina oficial estava sempre em<br />

oposição à “medicina popular”. Boltanski (1984) <strong>de</strong>monstra que a história da medicina é<br />

uma história <strong>de</strong> confrontos constantes contra os preconceitos médicos do público, das<br />

práticas médicas populares, com o intuito <strong>de</strong> reforçar a autorida<strong>de</strong> médica e assim assegurar<br />

o seu monopólio diante <strong>de</strong>sse conhecimento.<br />

Berriot-Salvadore (1991) expõe que o médico, com seu conhecimento oficializado,<br />

passou a se <strong>de</strong>stacar pelo seu papel, tanto <strong>de</strong> educador quanto <strong>de</strong> guardião da moral e dos<br />

costumes, sendo esse controle o eixo da medicalização, <strong>de</strong> modo a inserir a sexualida<strong>de</strong> e a<br />

reprodução feminina. Apoiado num saber <strong>de</strong> caráter <strong>de</strong> cientificida<strong>de</strong>, formula normas para<br />

que a socieda<strong>de</strong> obe<strong>de</strong>ça, nascendo, então “uma crescente oficialização da medicina pelo<br />

Estado” (ROHDEN, 2001, p. 24), tornando-se os especialistas da socieda<strong>de</strong>,<br />

diagnosticando os problemas sociais e suas soluções que consi<strong>de</strong>ram mais a<strong>de</strong>quadas<br />

(Ibid.).

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!