03.09.2014 Views

Iana Sudo MEDICALIZAÇÃO DAS MULHERES - Instituto de ...

Iana Sudo MEDICALIZAÇÃO DAS MULHERES - Instituto de ...

Iana Sudo MEDICALIZAÇÃO DAS MULHERES - Instituto de ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Esse processo <strong>de</strong> medicalizar o corpo feminino teve sua origem no século XVI, com o<br />

surgimento do que viria a ser uma nova disciplina médica, a obstetrícia, cuja finalida<strong>de</strong> era<br />

legitimar o po<strong>de</strong>r médico, a partir da expansão da assistência médica à gravi<strong>de</strong>z e ao parto.<br />

Contudo, foi no século XIX que o processo <strong>de</strong> medicalização se consolidou, embasada,<br />

principalmente, pelos discursos científicos que exaltavam a maternida<strong>de</strong> (VIEIRA, 2002a).<br />

Aumentou-se, assim, a pressão para a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ditar normas morais e públicas<br />

a respeito das condutas e caráter que a mulher <strong>de</strong>veria ter para ser uma boa mãe e preservar<br />

a harmonia do casal - agora não bastava que ela fosse apenas honesta, era preciso que ela<br />

tivesse um espírito equilibrado, sólido e sutil. Daí necessários os conselhos para ditar o que<br />

os especialistas consi<strong>de</strong>ravam certo ou errado em relação às atitu<strong>de</strong>s das mulheres<br />

(BERRIOT-SALVADORE, 1991).<br />

Segundo Vieira (2002a), a concepção <strong>de</strong> medicalização está particularmente<br />

associada a aspectos biológicos relacionados à reprodução humana que ocorrem nos corpos<br />

das mulheres, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> sua capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> gestar, parir, culminando com a amamentação. A<br />

autora prossegue afirmando que, sob o pretexto <strong>de</strong> controlar a natalida<strong>de</strong> e a mortalida<strong>de</strong>, a<br />

medicina passou a se apropriar daqueles corpos, a partir <strong>de</strong> uma noção <strong>de</strong> uma existência <strong>de</strong><br />

uma natureza biológica predominante na condição feminina:<br />

“Ao elaborar idéias que, através <strong>de</strong> uma racionalida<strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rna e científica,<br />

visam ao entendimento e conseqüente intervenção nesse corpo como estratégia social.<br />

A via para medicalizar o corpo feminino vai ser a questão da reprodução” (VIEIRA,<br />

2002a, p. 49).<br />

Por consi<strong>de</strong>rar a “natureza” feminina essencialmente maternal e reprodutiva, o<br />

discurso, que fundamenta a medicalização, enten<strong>de</strong> a sexualida<strong>de</strong> feminina como<br />

<strong>de</strong>terminada por essas qualificações. Surge então, por contraste, a imagem das mulheres<br />

‘<strong>de</strong>generadas’ e das mães ‘<strong>de</strong>snaturadas’, aquelas que se <strong>de</strong>sviam da norma estipulada.<br />

Clavreul (1984) anuncia como o discurso médico é um discurso normativo, cuja or<strong>de</strong>m se<br />

impõe por si mesma. Essa or<strong>de</strong>m estaria presente em todas os aspectos da vida das<br />

mulheres, começando pelo nascimento, exames pré-natais, e terminando com a morte<br />

através da ‘verificação’ na autópsia.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!