03.09.2014 Views

Iana Sudo MEDICALIZAÇÃO DAS MULHERES - Instituto de ...

Iana Sudo MEDICALIZAÇÃO DAS MULHERES - Instituto de ...

Iana Sudo MEDICALIZAÇÃO DAS MULHERES - Instituto de ...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

2 MEDICALIZAÇÃO DO CORPO DA MULHER<br />

2.1 A CONSTRUÇÃO SOCIAL DO CORPO DA MULHER<br />

“- Aqui (no Posto <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> <strong>de</strong> Trancoso/ BA), a gente<br />

(os médicos) manda (amamentar) mesmo. Tem que dar<br />

<strong>de</strong> mamar, tem que amamentar. A gente dá duro nelas<br />

(nas mães); tem que dar”<br />

(Marina, 41 anos, Psicóloga). 16<br />

As formas <strong>de</strong> ser homem e mulher têm-se incluído no que se po<strong>de</strong> <strong>de</strong>nominar <strong>de</strong><br />

“formações históricas”, ou seja, <strong>de</strong>vem ser circunstanciadas ao espaço e ao tempo em que<br />

se manifestam, <strong>de</strong>finindo-se como construções sociais e históricas particulares <strong>de</strong> sujeitos<br />

femininos e masculinos.<br />

Na Ida<strong>de</strong> Média, a anatomia feminina era ignorada e interpretada como uma falha<br />

da natureza. O corpo da mulher era caracterizado como uma introversão do corpo<br />

masculino, inacabado e <strong>de</strong>feituoso (BERRIOT-SALVADORE, 1991; LAQUEUR, 2001):<br />

“A mulher, <strong>de</strong> humor mais frio e úmido, possui órgãos espermáticos mais frios e<br />

mais moles do que os do homem, e uma vez que o frio, como admitem os físicos,<br />

contrai e aperta, esses órgãos mantêm-se internos, como uma flor que, por falta <strong>de</strong><br />

sol, jamais conseguiria <strong>de</strong>sabrochar” (BERRIOT-SALVADORE, 1991, p. 414).<br />

Essa teoria dos humores serviu para justificar uma certa visão da natureza feminina,<br />

frágil e instável. A suposta fria umida<strong>de</strong> não permitiria, segundo o discurso científico,<br />

associá-la a razão, tal como o era consi<strong>de</strong>rado o homem e que justificava o acesso <strong>de</strong>stes às<br />

letras e às ciências.<br />

Durante o século XVI, este pensamento da mulher, enquanto um sexo inacabado,<br />

sofre uma mudança a partir do questionamento <strong>de</strong> que, se elas foram criadas para gestar e<br />

parir, elas não po<strong>de</strong>riam ser entendidas como uma falha da natureza (Ibid.). A <strong>de</strong>scrição<br />

anatômica do corpo interno e externo das mulheres faz com que elas passem a ser vistas<br />

16 Relato obtido durante o meu trabalho <strong>de</strong> campo. Neste caso, Marina reproduz um discurso que ouviu <strong>de</strong> um<br />

médico.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!