Iana Sudo MEDICALIZAÇÃO DAS MULHERES - Instituto de ...

processo de amamentação, tornando esse discurso, um discurso autorizado, capaz de
orientar com “segurança” a mãe e toda a família, ao longo da gravidez e no período pósparto,
acabando por desapropriar o corpo feminino ao produzir um controle disciplinador
sobre o ele.
Para atender este objetivo, escolhi a ONG Amigas do Peito para campo empírico de
investigação, por acreditar que esta constitui um espaço público onde se radicam
representações sociais. Realizei também entrevistas semi-estruturadas a partir de um roteiro
com mães que vivenciaram dificuldades ao longo do ato de amamentar. Paralelamente, fiz
uma análise bibliográfica a respeito do tema proposto.
Deste modo, propor um estudo sobre a medicalização do corpo feminino implica
abordar uma discussão centrada nas diferenças entre os sexos que não prescindiria a
história e sua dimensão social, pois conforma salientaram Laqueur (2001) e Foucault
(2003), o sexo foi “inventado”. Sob essa égide de análise, Laqueur (2001) romperia com as
teorias naturalistas, analisando os discursos dos anatomistas e dos fisiologistas sobre os
corpos, ao demonstrar que, ao longo da história da humanidade ocidental, o corpo feminino
tenha sido regulado através de normas.
Para Vieira (2002a), as relações de gênero são construções sociais, apresentando-se
de maneiras diversas nas diferentes culturas e contextos históricos, onde:
“A idéia de natureza feminina baseia-se em fatos biológicos que ocorrem no corpo da
mulher – a capacidade de gestar, parir e amamentar. Na medida em que essa
determinação biológica parece justificar plenamente as questões sociais que
envolvem este corpo é que ela passa a ser dominante, como explicação legítima e
única sobre estes fenômenos. Daí decorrem idéias sobre a maternidade, instinto
maternal e divisão sexual do trabalho como ‘atributos naturais e essenciais’ à divisão
de gênero na sociedade” (Ibid., p. 68).