Iana Sudo MEDICALIZAÇÃO DAS MULHERES - Instituto de ...

assim, eu não tinha muita coragem, porque eu via os bons resultados, porque ele era muito
pequeno, e ele começou a ganhar peso muito rápido e ficar fortinho e tal, então aquilo me
motivava a continuar. Mas na verdade, assim, se ele não tivesse ganhado peso, tal, qualquer
desculpa que eu tivesse, eu acho que eu, talvez, tivesse usado pra parar.
I: Você acha que a sua profissão também contribuiu pra você manter...
J: Claro. Pra eu já manter esse pensamento, de tá motivada pra amamentar, achava
importante. Mas assim, até algumas pessoas falavam: “- ah, mas você não precisa dar
sempre, você pode ir dando outra coisa, e continuar dando, porque aí você tá ainda
transmitindo os anticorpos”, mas eu tinha essa idéia de que eu ia amamentar mesmo
exclusivamente. E, assim, como eu tive uma licença (a maternidade) grande, eu não tive só
quatro meses, eu tive sete. Eu tirei um mês antes, eu tive os seis meses pra ficar com ele em
casa e fazer isso, apesar de eu tá no mestrado, ter que sair pras aulas, mas eu tirava o leite,
armazenava. Ele, na verdade, não mamou, aliás, pouco antes dos seis meses, uma semana
antes, eu já comecei a dar um alimento pra ver se ele ia adaptar, porque eu ia trabalhar na
semana seguinte, eu já tive que começar. Mas, era assim, uma papinha de fruta que eu dava
de manhã, o resto era peito o tempo todo.
I: E você teve apoio familiar durante o período em que você amamentou?
J: Tive, assim, né, as pessoas viam aquilo e ficavam assim: a minha mãe, por exemplo, ela
foi de uma geração que ela não amamentava, ela não achava importante isso, e a geração
era aquela geração Nestlé, não dava muita importância a isso, então ela mesmo falava: “aí,
pra que isso (de dar o peito com dor)”, não sei o que, mas no final ela foi vendo o resultado,
eu acho que ela também achou bom eu tá amamentando; e o meu marido apoiava, mas ele
também ficava naquela: “ai não, mas se tá tão ruim assim, eu vou tirar, porque...”, tinha
vezes que eu chorava, assim, na hora...
I: Amamentava chorando?
J: Não, eu chorava na hora que ele chorava, “ai meu Deus”. Mas na hora, assim, não. Na
hora eu ficava assim...Teve uma vez que ele foi pegar que eu tirei a cabeça dele, assim, na
hora de tanto medo de ele me machucar e tal, mas depois, assim. E depois dos três meses
realmente passa completamente, já não é mais nada, entendeu, é uma coisa super natural.
Aí já não incomoda mais. A única coisa que tem é que você tem que tá disponível, né,
ainda mais no caso dele que mamava muito. Então eu não podia fazer nada: eu não podia
sair, eu não podia, praticamente assim, se eu saisse, eu tinha que levar, então você fica
muito presa à criança, mas mesmo assim eu acho que compensou bastante.
I: E sem esse apoio, você teria amamentado?
J: Teria.
I: Já que você teve também esse tempo todo pra ficar exclusivamente com ele, se você
não tivesse tido, você acha que (???)?
J: Eu acho que talvez, assim, eu ia amamentar, de qualquer jeito, aí talvez eu tivesse
introduzido alguma coisa. Mas assim, eu amamentaria de qualquer forma, mesmo que todo
mundo me falasse pra não fazer, eu tinha isso, que eu ia amamentar mesmo. Mas, vamos
dizer, se eu tivesse que voltar a trabalhar, aí não ia dar, porque apesar de eu Ter muito leite,
eu armazenava muito leite e tal, apesar disso, eu acho que não ia dar vazão pra trabalhar
fora, e pela quantidade que ele mamava, que era um absurdo, era muito grande a
quantidade, mas, assim, se eu tivesse como tirar o leite. E também teve uma coisa, porque
eu peguei aquela bomba manual pra tirar o leite com aquilo...