03.09.2014 Views

Iana Sudo MEDICALIZAÇÃO DAS MULHERES - Instituto de ...

Iana Sudo MEDICALIZAÇÃO DAS MULHERES - Instituto de ...

Iana Sudo MEDICALIZAÇÃO DAS MULHERES - Instituto de ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Mas, hoje, se eu encontrasse alguém numa situação assim, eu não tenho dúvida: “não faz<br />

isso”; “vai beber e amamentar, então, não amamenta, não faz isso, porque aí eu acho que<br />

você tem que assumir. Porque se você quer continuar dando o peito, então...”, enten<strong>de</strong>u, aí,<br />

tem que assumir isso, aí não po<strong>de</strong> beber, não po<strong>de</strong>. Po<strong>de</strong> beber, assim, quando você já tiver<br />

mais lá pra frente, hoje você não amamenta, toma um chope, enten<strong>de</strong>u. Aquilo não é<br />

alimentação da criança, porque você tem que ter consciência, isso eu acho que você tem<br />

que ter, fazer por fazer também, como eu vejo algumas pessoas, né, tô com a criança no<br />

bar, tá no peito, tá fumando, tá bebendo, isso eu acho que é o fim da picada, pra mim não<br />

tem sentido uma coisa <strong>de</strong>ssa.<br />

I: Ela teria que escolher: ou dar o peito...?<br />

N: Ela tem que escolher.<br />

I: Aí ela po<strong>de</strong> escolher?<br />

N: Ela po<strong>de</strong> escolher. Ela po<strong>de</strong> escolher. Aí, eu acho que a mama<strong>de</strong>ira é muito mais<br />

saudável, enten<strong>de</strong>u, do que uma mãe toda intoxicada, eu acho que, porque esse discurso,<br />

“porque aí o seu filho vai ser saudável”, mas ele não po<strong>de</strong> ser saudável <strong>de</strong>sse jeito, enten<strong>de</strong>,<br />

eu penso assim, foram conclusões que eu cheguei, então eu acho que no segundo filho, se é<br />

que eu tivesse, que eu já não penso em ter, mas eu acho que se eu tivesse, eu acho que ia ser<br />

muito melhor. Eu tenho essa ilusão, muito embora, eu fiquei com trauma do início, eu<br />

tenho medo <strong>de</strong> um início daquele. Quem me garante que eu não vou ter aquilo tudo <strong>de</strong><br />

novo? Porque, sabe uma coisa que eu fiquei pensando, tipo assim: “será que não é físico,<br />

químico, esse negócio <strong>de</strong>sse hormônio também?”, que a médica falava isso pra mim, que o<br />

discurso médico, a médica falava assim: “- não Nina, porque você tomou muito hormônio,<br />

<strong>de</strong>pois sai a criança, pára <strong>de</strong> produzir aquelas coisas todas no teu corpo”, eu disse “ai, será<br />

que não é?” Então, né, e você com cabeça <strong>de</strong> antropóloga, começa a questionar, a dizer:<br />

“não, isso é cultura”, porque eu acho que isso também teve um peso na história, porque eu<br />

falava assim: “pô, não é a cultura? Não é a socieda<strong>de</strong>? Então por que quê eu tô sentindo<br />

isso? sabe, tô sentindo angústia, meu coração tá batendo. Ah, isso é porque a socieda<strong>de</strong> diz<br />

que te tem que ser assim, porque aí a antropologia vai dizer “não, mas é porque você tá<br />

preparada pra sentir tudo isso, porque a socieda<strong>de</strong> é quem cria essa expectativa. Então,<br />

você, na verda<strong>de</strong>, tá vivendo um mito que existe, tem socieda<strong>de</strong>s que não existem”. Eu<br />

dizia isso tudo pra mim, no meio daquilo tudo, eu jogava a antropologia na minha cabeça<br />

também, sabe, eu me apoiava em tudo, “não, índio vai pro mato, tem filho, cadê a<br />

<strong>de</strong>pressão pós-parto, cadê que fica nervosa, que liga pra ginecologista? Que frescura, então<br />

a socieda<strong>de</strong>”. Eu, tudo eu me...eu me <strong>de</strong>bati com tudo, enten<strong>de</strong>u. Aí tinha dias que eu ficava<br />

com raiva da antropologia, eu dizia: “mas isso não serve pra porra nenhuma, eu tomei, <strong>de</strong>ve<br />

ser hormônio, gente, <strong>de</strong>ve ser, alguém tem que me dar algum remédio”. Enten<strong>de</strong>u, então eu<br />

acho, talvez a mulher intelectualizada tenha mais problemas com tudo isso, que ela<br />

racionaliza, e ela quer se apoiar nas teorias. E eu acho que tem uma dimensão <strong>de</strong> natureza<br />

que escapa (???), sabe, tem uma dimensão <strong>de</strong> natureza, das modificações que seu corpo<br />

passa que são naturais, em última instância, eu acho que tem isso. claro que tá lá a cultura,<br />

claro que tá lá a tua educação, claro que tá lá todo aquele processo pedagógico dos nove<br />

meses, <strong>de</strong> como ser mãe, <strong>de</strong> como conceber, <strong>de</strong> como tratar, mas, o diabo do negócio, é que<br />

quando chega ali, teu corpo mudou muito. Realmente, você tem que ter uma mudança<br />

hormonal, isso existe, não adianta, querer, enten<strong>de</strong>u, escapar disso. Claro que cada<br />

socieda<strong>de</strong> recebe <strong>de</strong> um jeito, cada mulher recebe <strong>de</strong> um jeito, cada família, cada classe<br />

social, mas tem uma dimensão <strong>de</strong> natureza, <strong>de</strong> química disso tudo, que pesa, pesa na<br />

balança. Seu corpo tá diferente, você olha no espelho, você tem um peito enorme, seu peito

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!