Iana Sudo MEDICALIZAÃÃO DAS MULHERES - Instituto de ...
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chamou atenção “claro!”, enten<strong>de</strong>u, e aí eu comecei, e ela não queria mesmo, tomava dois<br />
<strong>de</strong>dos, não sei o que, e muda <strong>de</strong> mama<strong>de</strong>ira, e muda <strong>de</strong> marca, que ela falou: “- vai<br />
mudando, vai tentantdo”, e eu fiquei com aquilo na cabeça, porque aí eu falei: “não, agora<br />
tá na hora <strong>de</strong> eu ter uma outra atitu<strong>de</strong>, parar com isso”, e foi assim que ela foi pegando,<br />
enten<strong>de</strong>u, e aí ela não queria, não queria, teve resistência, resistência, até que ela pegou.<br />
Então, eu acho que tudo isso, eu acho que você não sabe, enten<strong>de</strong>u. Outra coisa, ela pra<br />
comer comida sólida, ela tá me dando problema até hoje. Isso tem a ver com a<br />
amamentação também por quê? Porque eu comecei a dar papinha, hoje eu sei, mas naquela<br />
época, sabe, “não, dá assim, senão vai engasgar, não faz assim”, algumas pessoas mais<br />
velhas, a diarista, por exemplo, que trabalha em casa, ela falou assim: “- faz isso não Nina,<br />
começa a dar esse negócio mais amassado”, imagina, ela vai engasgar. Não tem nada a ver,<br />
se a médica falou, sabe, tudo você vive um problema. Hoje, eu faria tudo diferente. Hoje eu<br />
faria diferente. A Clara ia mamar no peito, mas ela ia mamar seu suquinho <strong>de</strong> laranja na<br />
mama<strong>de</strong>ira, eu ia forçar, eu não ia admitir assim: “ah, não aceita, não dá, porque ela vai<br />
(???)<br />
I: Mas você faria quanto tempo <strong>de</strong> amamentação exclusiva?<br />
N: Eu acho difícil te falar isso, mas, hoje, com a vida que eu tenho, pensando, eu tentaria<br />
dar aqueles quatro meses, eu me proporia.<br />
I: Mesmo com as dificulda<strong>de</strong>s?<br />
N: Mas eu acho que é diferente, porque hoje eu tenho uma outra cabeça, eu acho assim, se<br />
o bicho pegasse, eu já sei o remedinho que eu tomaria natural, se o bicho pegasse, eu ia dar<br />
uma mama<strong>de</strong>irinha porque eu não ia ficar com tantas culpas, enten<strong>de</strong>u, sabe aquela coisa<br />
assim, que você, eu sei agora, eu enten<strong>de</strong>, eu vi como foi o processo, não é tudo aquilo, não<br />
é daquele jeito, não é aquele <strong>de</strong>sespero todo. Então, eu me proporia a dar? Me proproria do<br />
mesmo jeito, agora, se a coisa ficasse ruim, eu não teria escrúpulos em dar uma<br />
mama<strong>de</strong>irinha que ela não ia per<strong>de</strong>r o peito, sabe, que ela não ia ficar mais magrinhinha e<br />
nem mais pobre por isso. Hoje eu penso assim, mas que eu ia me propor a dar o peito, isso<br />
eu ia, isso eu acho uma coisa importante, hoje eu faria isso, só que eu acho que eu faria isso<br />
hoje com menos culpa, com mais informação, eu acho que eu não ia, sabe, com aquela<br />
ansieda<strong>de</strong> que você tem, que parece que teu filho é um pedaço, aquela coisa, a tua vida,<br />
tudo parece que vai morrer, tudo parece que vai acabar ali, sabe. Se você fizer aquilo ali vai<br />
estragar tudo. Não é assim, sabe, mas é o peso <strong>de</strong> uma experiência que te cobra muito, <strong>de</strong><br />
ser essa mãe, sabe, essa mãe que abre mão <strong>de</strong> tudo, e que fica feliz e que tá bem, e que<br />
supera tudo.<br />
I: Seus médicos também te cobraram isso? Antes, quando você tava grávida, o<br />
discurso <strong>de</strong>les pra você era “tem que amamentar”, como é que era?<br />
N: A médica (ginecologista) falava, mas ela nunca teve um discurso, eu acho que ela é uma<br />
pessoa <strong>de</strong> muito bom senso, ela nunca teve um discurso, ela: “- vai preparando, vai se<br />
cuidando, toma um solzinho”, mas ela <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> falar: “- não fica espremendo o peito toda<br />
hora, todo dia”, ela mesma falava assim: “- não entra nessa”, ela não é, sabe, assim,<br />
ortodoxa, engajada, ela é uma pessoa assim, que ela ia me orientando...<br />
I: Mas ela não impôs que você tinha que amamentar exclusivamente até os seis meses?<br />
N: Não, não falou. Minha ginecologista não falou. A pediatra não. A pediatra, sim. Depois<br />
que eu tive a Clara, a pediatra falava assim: “- vamos continuar com esse peito, hein!”, toda<br />
consulta era aquilo “Nina, mais um mês”.