Iana Sudo MEDICALIZAÇÃO DAS MULHERES - Instituto de ...

assim minha, ela é muito, ela falou assim: “- minha filha, não”, ela falou: “- você não tá
legal!”. Mas as outras pessoas, assim, é muito aquela coisa: “ai, é assim mesmo e tudo”,
ela: “não, eu vou te passar uma vitamininha”, meu marido tinha ido, minha sogra também,
ela falou: “- olha, ajuda ela”, sabe, ela falou assim: “- olha, ajuda ela. Deixa ela só com essa
menina, e vocês vão fazer as coisas”, assim, porque ela teve uma coisa muito companheira
comigo, ela falou assim: “- não, eu vou te passar uma vitamina, você vai tomar duas vezes
ao dia, não tem problema nenhum, toma essa vitamina. Eu quero que você desca, vai tomar
uma coca-cola na esquina todo dia”, eu tenho cachorra, ela: “pega sua cachorra, sai sozinha,
dá uma volta no quarteirão”. São coisas pequenas mas que tem muito mais efeito do que
alguém vir com aquele discurso todo pronto, entendeu. Porque é um pouco isso: você quer
às vezes respirar, você só quer respirar, só quer sair daquela coisa um pouco. E, às vezes,
você não encontra, porque o discurso técnico, esse discurso: “olha, o seu filho vai ser mais
saudável”; “olha, você tá fazendo isso, mas tá fazendo isso pro futuro dela. Ela não vai ter
doença, ela não vai ter não sei o que”, então, como é que você pára e dá uma mamadeira
quando você tem tudo isso na cabeça? Me diz como é que se faz isso? eu não podia. Eu
olhava praquela mamadeira, ela ficou lá. A Clara na verdade não tomou uma mamadeira
durante os cinco meses, porque mesmo quando eu liguei e pedi, e tinha o leite, eu não tive
coragem, por isso, isso, eu queria, mas eu tenho que tentar, porque no fundo eu acho assim,
é o melhor que eu posso fazer por ela. Esse jogo, entendeu, essa culpa, misturada com essa
necessidade, eu acho que é uma coisa que precisa ser conversada. Isso foi o que eu mais
senti vontade de falar disso, de ter alguém pra falar disso, e alguém falar assim: “- ai
Nina...”, teve uma amiga também da faculdade, isso foi muito bom, foi me visitar, mas a
Clara já tinha oito meses, eu já tinha passado tudo isso. mas ela teve lá, mas ela me ajudou
numa outra coisa. Ela foi muito importante, porque ela me falou assim, a gente conversou
disso tudo, ela falou assim: “- ah, Nina, porque eu não tava aqui, que é difícil mesmo”,
porque ela teve uma filha prematura, então, ela falou: “- criei uma ligação com ela, assim,
desesperada, foi uma coisa, que eu não conseguia, não queria parar de amamentar, porque
ela tinha sido prematura, então eu vivi aquele drama também. E foi muito difícil na hora de
desmamar, foi muito difícil pra ela pegar uma mamadeira, pra ela comer”, então, ela falou
assim pra mim: “- começa a dar uma mamadeira pra essa garota”, porque a Vitóra, aí, nessa
altura do campeonato, cadê que ela tomava um suco na mamadeira? Entendeu, ela começou
a comer, mas ela começou a comer na colher. A Clara começou a comer papinha logo, tudo
era na colher, porque o bico ela não pegava. Tanto que ela começou a usar mamadeira (???)
muito cedo, ainda bem que surgiu essa antivazamento, porque senão eu tinha que ficar
dando suquinho na colher, porque ela não queria segurar a borracha, entendeu, já era o
negócio de eu não tá esperta, eu perdi um pouco a medida daquilo, e aí essa minha amiga
falou assim: “- Não faz isso não, começa a dar mamadeira, deixa as teorias pra lá, do que
tão te falando, dá um leite pra ela morninho, coloca uma farinha láctea, coloca alguma
coisa, vê o que quê tem na praça de moderno”, porque ela já teve filho há muito tempo, “- e
dá pra essa menina, porque, senão, a hora que você quiser desmamar, ou você tirar aquela
mamadeira da noite, como é que vai ser Nina?”, aí eu não tinha parado pra pensar, aí eu
falei “é”, aí, eu fui rapidinho, comprei uma mamadeira que já era dessas e comecei a tentar,
e, realmente, no início, a Clara não pegava nem por um decreto...
I: Isso, ela já tava com quantos meses?
N: Sete pra oito meses. E aí eu já tava podendo sair um pouqinho, e realmente, era um
problema, por que: quem vai dar a mamadeira, porque aí era assim, durante o dia ela comia,
o peito só complementar, mas à noite eu sempre dava o peito pra ela dormir. Então, ela me